MUSEU DESIGN MUSEOLOGIA DO DESIGN V5 CINCO VEZES MAIS VELOZ Susana Gonzaga texto e fotografia* Ricardo Miranda desenho O desenvolvimento da indústria nacional e a inacessibilidade económica do operariado ao automóvel, nos anos 60 do Estado Novo, justificaram o desenvolvimento de motorizadas com maior autonomia e velocidade. 1. V5 racing, 50cc, motor Sachs a 5 velocidades, 1973? 2. anúncio V5, revista Mundo Motorizado, 1971 * texto adaptado da dissertação Motociclos Portugueses: “Um olhar do design sobre 50 anos de produção”, UA, 2006. Embora o standard português apresente motor a 2 tempos de 50cc, e caixa de 5 vel., foram desenvolvidos modelos com cilindradas superiores (100cc) e caixa com 6 velocidades; volante rebaixado ao nível do depósito; maior capacidade de refrigeração; suspensões Em 1964, a revista Mundo hidráulicas. Motorizado noticia a feira internacional de bicicletas e motocicletas de Colónia (IFMA), onde a V5 sport terá brilhado entre os diversos produtos portugueses aí apresentados, tendo “merecido as melhores referências da imprensa alemã da especialidade, ao ponto do stand português ter sido o mais visitado do certame”. V5 sport, SIS-Sachs , 50 cc, 1965 O paradigma turístico da velocípede familiar, evoluía para modelos desportivos, mais velozes; a V5 com motorização Sis-Sachs de cinco velocidades (de pé), atingia 120 km/h sobre estradas de paralelo. Desenhada pelo Engº António Quadros, a primeira versão comercial foi lançada em 1965, distinguindo-se como a máquina mais potente e mais rápida da sua geração. A V5 foi o mais longo sucesso entre as motorizadas portuguesas, mantendo-se em produção durante 20 anos e evoluindo em diversas fases, constituindo o primeiro caso nacional de perfeita associação entre modelo e marca. A S.I.S foi fundada por Joaquim Simões Costa no início dos anos 50 em Cantanhede. A parceria com a empresa alemã Fitchel & Sachs começou pouco depois da fundação da SIS, quando esta empresa conseguiu a concessão da licença de produção dos motores alemães no nosso país, oferecendo uma elevada fiabilidade técnica aos seus produtos. Tendo sido exportada, constituiu seguramente o mais importante produto da marca Sis-Sachs, pelo recurso a motores mais potentes e rotativos, exigindo maior capacidade de refrigeração (cilindros mais volumosos), caixa de velocidades mais curtas, mas também melhores suspensões hidráulicas (de maior curso à frente). A tampa lateral da caixa de ferramentas em elipse branca com “v5” a negro, contrasta com o vermelho do depósito, evocando a chapa de numeração dos protótipos de corrida. A ideia de liberdade que este objecto transmitia era assegurada pela autonomia de deslocação individual a velocidades insuperáveis, nas mais adversas circunstâncias. O incremento da velocidade, obrigou a baixar o centro de gravidade do veículo, ganhar solidez na estrutura e perder resistência aerodinâmica. O condutor deita-se sobre o depósito, estendo-se sobre o segundo lugar do selim, os punhos da direcção baixam compactando a unidade homem-máquina, e as curvas passam a ser descritas pela inclinação do corpo, esgotando-se uma após outra as cinco velocidades, em estridentes sequências de elevada rotação.