Comunicação VIII Colóquio LEPSI
O DECLÍNIO DOS SABERES E O MERCADO DO GOZO: A PSICANÁLISE
NA EDUCAÇÃO
TÍTULO: A problemática da Formação de Professores no âmbito dos trabalhos
publicados no Brasil sobre Psicanálise e Educação1.
AUTORAS:
Delia María Carmen De Césaris - Psicanalista – Doutoranda em Psicologia Escolar e
do Desenvolvimento Humano – USP - Membro do LEPSI/USP ([email protected])
Odana Palhares - Dra em Psicologia Educacional – Membro do LEPSI/USP
([email protected])
RESUMO
Este trabalho propõe analisar a problemática da formação de professores, na produção
acadêmica dos últimos vinte anos no Brasil, no âmbito da psicanálise e da educação,
tendo em conta quatro vertentes: a) a leitura psicanalítica do processo de formação do
professor; b) a formação em psicanálise de profissionais da área de educação; c) a
leitura psicanalítica da formação de formadores e d) espaços de escuta psicanalítica de
professores em serviço.
As profundas transformações do mundo atual e as expectativas de formação das novas
gerações precisam de sujeitos autônomos, participativos, em consonância com a
diversidade cultural e os direitos individuais, por tanto, a elaboração teórico-conceitual
no campo da formação de professores e educadores sociais, demanda da dimensão
subjetiva como condição sine qua non na consecução de qualquer projeto educacional.
Para tal fim, a psicanálise se constitui no suporte teórico que permite o resgate da
subjetividade nos contextos sócio educativos, levando em consideração a complexidade
do sujeito-professor e do sujeito-educador social.
PESQUISA EAPE - FORMAÇÃO
Na pesquisa, realizada sob a coordenação da Dra Maria Cristina Kupfer, sobre o
Estado da Arte em Psicanálise e Educação (EAPE) foram analisados 275 trabalhos, dos
quais recuperamos 25 que abordam questões relacionadas com a formação no campo da
educação e suas possíveis interseções com a psicanálise.
Antes de analisar os trabalhos que abordam o eixo temático da formação,
consideramos oportuno fazer uma referência ao que se entende por este termo. Para isso
recorreremos ao trabalho de Christian Ingo Dunker A questão do sujeito: Construção,
Constituição e Formação2 (2002), quem, ao comparar esses três conceitos, lembra que o
termo formação (Bildung) designa genericamente o trabalho de apropriação da cultura e
cultivo de si. Bildung contém o radical Bild que literalmente significa imagem. Supõese que este termo derive da mística medieval e da idéia cristã do homem como imagem
e semelhança de Deus. No romantismo alemão fala-se, no contexto político de formação
do estado nacional, de formação de um povo pela via de uma língua comum, sobretudo
definindo educação e cultura opostas ao conceito de civilização. “A formação não é uma
meta a ser atingida, mas um percurso, um caminho, uma experiência a ser realizada”
(Dunker, 2002). Este termo assume o estatuto de conceito na Fenomenologia do
Espírito de Hegel. Formação é o nome de um momento histórico na trajetória da
constituição do espírito. Momento em que a consciência realiza o fato de que a cultura
que está diante de si simultaneamente a aliena. Mas, também, época adolescente em que
cada homem se engaja em um trabalho de cultivo de si, situação na que coloca em
questão sua própria educação, em uma luta pela liberdade. Esse processo não é apenas
um processo contínuo de acumulação de repertório e domínio técnico, mas “um
autodilaceramento, um esforço por tornar seu o que se herdou, para reconhecer-se como
formado e formante da cultura e, também, por se fazer reconhecer através dela”.
Dunker (2002) afirma que o caráter dialético da noção de formação, sua
implantação histórica e sua extensão simbólica conformam uma totalidade complexa,
que inclui as ideias de agente, processo e produto.
A tal efeito, lembra que o destino desta questão na psicanálise é incerto, pois
Freud não acreditava em um ideal de formação, já que o incluía entre as ilusões
humanas, enfatizando os limites da educabilidade e do autodomínio. Isto seria contrário
à figura cordata, erudita e enriquecida em sua experiência que se almeja do sujeito
engajado na formação. Desta maneira, o ideal freudiano estaria mais próximo do
despojamento e da renúncia do que da soma fecunda de experiências edificantes, fonte
de enaltecimento narcísico. Para Dunker (2002) a questão pode ser revisitada desde o
ponto de vista metapsicológico ao aludir à formação do eu em suas relações com os
objetos da cultura a partir da noção do funcionamento imaginário do eu e a diacronia
simbólica da alteridade. O eu, redobrando-se em seus objetos pode reencontrar-se na
imagem refletida que eles lhe devolvem. Por sua parte, Lacan fala da função do eu,
segundo uma lógica formativa. Haveria a possibilidade de separar a formação como
processo educativo particular do espírito, da formação como lógica da alteridade,
centrada na identificação (Dunker, 2002). Freud opõe a experiência analítica e a
experiência da formação no sentido de Bildung, prática cultural educativa. Faltaria,
segundo Dunker (2002), às perspectivas centradas na formação, um programa crítico
sobre o sujeito, vertente que parece ser contemplada nos trabalhos encontrados na
pesquisa sobre o estado da arte em Psicanálise e Educação no Brasil.
Para abordar a temática própria desses trabalhos consideramos que podemos
pensá-los segundo quatro vertentes: a) a leitura psicanalítica do processo de formação
do professor; b) a formação em psicanálise de profissionais da área de educação; c) a
leitura psicanalítica da formação de formadores e d) espaços de escuta psicanalítica de
professores em serviço.
No caso a) teríamos uma aproximação psicanalítica para estudar e analisar o
processo que acontece na relação ensinante – aprendente durante a formação em
pedagogia, bem como a relação formando – objeto de conhecimento; no caso b)
teríamos a inclusão de conteúdos acadêmicos com fundamentação psicanalítica na grade
curricular de formação em educação e a eventual psicanálise dos formandos, no caso c)
teríamos a possibilidade de aplicar os conhecimentos que provêm da psicanálise para
estudar e analisar o processo de formação de futuros formadores em pedagogia, e no
caso d) contemplaria a transmissão da psicanálise a educadores/professores em
atividade docente.
Na vertente (a): “leitura psicanalítica do processo de formação do professor”
encontramos trabalhos que se referem à severa dificuldade na produção textual por parte
de futuros alfabetizadores, graduandos em Pedagogia buscaram-se balizas na
psicanálise, sobretudo nos estudos da angústia empreendidos por Freud e Lacan. Ao
respeito, sustenta-se a hipótese de que há um receio por parte do sujeito em desvelar-se
através do suporte (escrita textual) e que a inibição decorra disto. Questionou-se
também se determinados textos, que sugerem ausência do sujeito, são resultado de uma
leitura assídua que, ao invés de gerar escrita sublimatória, funciona apenas para
importar discurso alheio, poupando as próprias formas de o sujeito ver o mundo e as
diferenças sexuais. Propôs-se que uma abordagem que autorize o subjetivo, resulta
numa particular transferência e sublimação de forma que a leitura se configura em
autoria podendo fazer, por acréscimo, efeito de relançamento na escritura.
Frente às profundas transformações do mundo atual e às expectativas de
formação das novas gerações garantindo-lhes a condição de sujeitos autônomos,
participativos, em consonância aos apelos das sociedades democráticas que valorizam a
diversidade cultural e os direitos individuais, se apresenta a contribuição da elaboração
teórico-conceitual no campo da formação de professores e educadores sociais,
reiterando que a dimensão subjetiva é condição si ne qua non para a consecução de
qualquer projeto educacional, contando com a psicanálise como aporte teórico para o
resgate do sujeito e das condições humanizadoras, democráticas e participativas na
educação, levando em consideração a complexidade do sujeito professor e do sujeito
educador social.
Em relação à interseção entre Psicanálise e Educação e a problemática do
fracasso escolar, considerando que sua etiologia é indecidível e a tensão sofrida pela
criança diante da demanda do tecido social - família, escola e Estado -, com seus
parâmetros políticos/éticos, é vivenciada por ela através da figura do professor e do
diretor da escola. Portanto, a posição tomada pelo educador, frente aos impasses
educativos, terá função facilitadora ou impeditiva na transmissão do saber. Para
trabalhar a tensão entre o impossível e o necessário da educação, utilizamos a via lógica
da incompletude, do não-todo, da contingência, a fim de verificarmos a suposição de
que o sintoma fracasso escolar emerge como resposta ao ideal educativo fomentado pelo
Outro da cultura contemporânea, em sua visada política e ética. Propõe-se trabalhar
teórica e praticamente na interseção entre psicanálise e educação através de "grupos
borromeanos de reflexão", tanto com professores quanto com diretores de escola, como
contribuição para que o educador, responsabilizando-se por sua tarefa, encontre suas
próprias saídas frente aos impasses que a educação impõe.
Outro dos trabalhos tem como objetivo discutir o tema formação de profissionais
- criança sujeito no âmbito da educação, a partir de questões que emergiram durante
pesquisa de campo sobre o laço social na educação inclusiva. Procurando mais na
invenção do cotidiano escolar, possíveis saídas para os freqüentes impasses advindos da
relação entre as crianças, e entre a escola e os serviços especializados, tentando a
constituição
de
práticas
educativas
mais
autorais,
nas
quais
o
sujeito
professor/professora poderia ter mais chance de se reconhecer como autor.
Outro dos artigos propõe-se, a través da memória, a produção uma nova relação
com o vivido, desencadeando um processo pelo qual, parafraseando o pensamento
freudiano, possa fazer as pazes com a criança que está dentro dele, ou seja, em meio às
vicissitudes de sua formação supor o Ser infante no Ser professor.
Em uma pesquisa realizada com professores da rede pública do ensino
fundamental e médio, em Brasília, apontou-se a possibilidade de estabelecer uma
relação entre a subjetividade, a história de vida pessoal e escolar do professor e sua
prática docente. Nos relatos sobre o ciclo de vida profissional foi possível o
entendimento de que o aperfeiçoamento profissional do professor integra aspectos
pessoais e culturais na sua evolução e, aliados às experiências de vida e profissionais,
repercutem na forma de ensinar e de conduzir o ato educativo. Assim, o reconhecimento
da importância da subjetividade como um dispositivo na formação de professores é
pertinente, como instrumento privilegiado de reflexão e de ação.
Na vertente (b): “a formação em psicanálise de profissionais da área de
educação” Os trabalhos têm como critério a inclusão de conteúdos acadêmicos com
fundamentação psicanalítica na grade curricular de formação em educação e a eventual
análise dos formandos.
Se o ideal de formação foi incluído por Freud entre as ilusões humanas, o ideal
pedagógico não deixa de ser uma ilusão. Como destacado acima, Freud enfatizou os
limites da educação, e a impossibilidade é o denominador comum entre a psicanálise e a
educação, como destacado por Voltolini (2007). Essa impossibilidade diz respeito a
ausência de controle dessas profissões junto a governar. A relação transferencial
existente entre psicanálise e educação é antiga, e hoje já se encontra superada a
descrença de que a psicanálise teria algo a dizer à educação.
Na perspectiva desta vertente encontramos trabalhos que problematizam a
distinção entre ensino e transmissão tratando de um ensino particular da psicanálise na
Universidade de São Paulo, endereçado a educadores em formação. Inicialmente
pontua: é possível ensinar algo da psicanálise fora das instituições psicanalíticas; a
psicanálise para educadores não é outra que não a própria psicanálise, pois esta é uma
só; é possível ensinar algo e não toda a psicanálise, implicando aí toda a inteligência
psicanalítica, e com isso revigorar a própria psicanálise no embate com outros saberes.
Além disso, há algo que escapa ao inventário do ensinado, e precisamente aí se encontra
o valor da transmissão.
Outros discutem a questão da transmissão da psicanálise aos educadores
tomando como viés a relação transferencial da psicanálise com a educação. Nessa
perspectiva a educação é tomada como um fato inconveniente para a psicanálise. A
inconveniência passa pela questão da transmissão. Para transmitir a psicanálise a
educadores, a primeira não deve ceder à tentação de querer estes últimos na posição
analítica. Voltolini (2007), consoante com a psicanálise, diz que “...é no campo da ética
que psicanálise e educação parecem ter um encontro mais fértil, não para deplorarem
juntas a miséria que compartilham, mas para pensarem no inventivo que o impossível
exige”. E alerta: “A tarefa de inventar face ao impossível precisa ser contínua, é avessa
a modelos ideais”.
A questão ética é o tema de trabalho que afirma que a formação de professores
não pode estar centrada apenas nos aspectos técnicos, didáticos, instrumentais e
racionais, ligados ao exercício de um saber-fazer profissional. Ela demanda, ao
contrário, ser orientada por um princípio ético capaz de sustentar o professor na
incômoda posição daquele que exerce, conforme apontado por Freud (1925) um métier
impossível. Essa questão se coloca por levar em conta que a vida pessoal e profissional
do professor se imbricam mutuamente e determinam seus modos de ser e estar na
profissão. Nessa mesma direção, há trabalhos que mostram que o inconsciente do
formador, e não só do ser em formação, é obstáculo poderoso e pista preciosa numa
formação, afirmando que a formação é um trabalho “de parto” e convidando o formador
a dialogar com essas forças, e não a tentar calar essas vozes com teorias adultas e
objetivantes.
Estabelecendo uma distinção entre transmissão e ensino, e demarcando a
diferença radical entre a formação do analista e a formação de educadores, ainda que
estes se deixem afetar transferencialmente pela psicanálise em extensão, ou seja, na sua
dimensão de ensino, inserida em cursos de formação, nas Universidades ou instituições
afins, conclui-se que a transmissão da psicanálise a educadores pode acontecer pelo
dispositivo da relação transferencial, somente quando um analista ocupa o lugar de
Mestre Não-todo, transmitindo a castração, e como educador respondendo ao desejo do
Outro, se implicando no ato educativo e nas suas possibilidades de realização, ou, como
disse Lacan (1966), colocando aí algo de si.
A implicação no ato educativo também é o tema de pesquisa que não perguntou
sobre o fracasso na educação, e sim sobre o sucesso de professores possíveis de
adolescentes. Entender as relações entre os campos da psicanálise, educação e
adolescência, refletindo sobre o sucesso escolar possível na educação de adolescentes,
levou a apreender aquilo que foi definido como uma ‘especial posição subjetiva na
transmissão’.
O trabalho junto a professores não se restringe ao ensino de algo da psicanálise.
Pode ser estendido a um grupo de professores que demandam suporte ao acolhimento
que fazem das crianças com DGD. A prática do grupo Ponte, na Associação Lugar de
Vida, tem se mostrado fecunda pois dando “...ênfase ao fazer-dizer” tem promovido
mudanças nas práticas pedagógicas e possibilitado a inclusão dessas crianças. Um outro
trabalho destaca que não se trata de uma transmissão nem melhor nem pior, mas apenas
“bem dita”, a propósito da ética que move a psicanálise.
Na vertente (c): “a leitura psicanalítica da formação de formadores” nos
deparamos com uma pesquisa teórica de fundamentação psicanalítica, que tenciona
demonstrar que a especificidade e a legitimidade do ensino da psicanálise a educadores,
a qual oferece condições para o resgate do sentido atualmente perdido da educação.
Parte da análise crítica do discurso pedagógico, como aquele que mantém a instituição
educativa suspensa na ilusão, que se manifesta na certeza da existência de um domínio
que garanta o “bem fazer”. Apoiada na lógica do discurso universitário, a pedagogia
atual, compreende a educação como aplicação dos princípios científicos que permitem o
controle da aprendizagem, dentro de um racionalismo-cientificista, resistente à idéia de
não saber inerente à relação do sujeito com o desejo, noção revelada pela psicanálise.
Desejo que sempre se revela après coup, fora da ideia clássica de controle e
previsão. O “problema” da Educação passa pela palavra e pelo fato de que o sujeito
está, por princípio, implicado em todo ato. A “verdade” da palavra, então, permite
compreender a natureza da impossibilidade estrutural que a psicanálise descortina: a
fala mediada pelo Outro. Desta maneira, os educadores extrairiam duas contribuições da
experiência com a teoria freudiana: um conhecimento sobre a constituição infantil e
sobre si mesmos. A tese apresenta um panorama dos atuais paradigmas na formação de
educadores, tomando o discurso pedagógico como instância que arbitra sobre os vários
rumos que a educação tem tomado, dentre eles a pesquisa e a formação. Questiona-se
sobre a legitimidade de seu ensino na universidade, território privilegiado do
desenvolvimento e da transmissão da ciência, especificamente na formação dos
educadores; apresenta um panorama dos modelos de mestria no contexto da psicanálise,
partindo da delimitação do estilo de Freud, fundamentando a implicação da relação
estabelecida com o conhecimento a ser transmitido, produzindo estilos particulares
naqueles que se revestem de responsabilidade pela transmissão; dedica-se ao trajeto
percorrido pela conexão psicanálise-educação, até a compreensão da proposta freudiana
de uma educação para a realidade, enfatizando a especificidade e a fertilidade da
transmissão da psicanálise na formação de educadores que, uma vez atravessados pelo
saber psicanalítico, podem conceber a noção de estilo, de singularidade na relação com
o conhecimento.
O formador também é um sujeito que enfrenta dificuldades, que se submete a
riscos, que se encontra dividido entre seus medos e seus desejos, submetido à sua
inteligência e sua intuição e é vítima de seus contrastes. O trabalho focaliza no
formador, investigando suas ações e questionamentos no interior dos cursos de
formação continuada, especialmente no que se refere ao enfrentamento de seus
impasses. Privilegiando os aspectos da subjetividade dos formadores, tenta compreender
em que medida essas ações e questionamentos, explícita e implicitamente, podem
influenciar a prática dos formadores e gerar impacto sobre os professores em formação.
Este trabalho, sustenta a tese de que o questionamento das posições subjetivas dos
sujeitos, por meio da prática de uma reflexão mais profunda e perturbadora, revela-se
mais promissora para se alcançar mudanças satisfatórias na prática docente.
Também encontramos no conjunto dos trabalhos analisados, uma pesquisa
durante a qual se empreendeu o desafio de estabelecer relações entre os campos da
psicanálise, educação e adolescência, a través da escuta de professores indicados pelos
alunos e coordenadores, considerados como 'bons professores de adolescentes', visando
apreender deles aquilo que ao final deste trabalho definiu como uma 'especial posição
subjetiva na transmissão'.
Na vertente (d): “espaços de escuta psicanalítica de professores em serviço”
encontramos umapesquisa teórica que, partindo da análise crítica do discurso
pedagógico que mantém a ilusão educativa da existência de um domínio que garanta o
‘bem fazer’, procurou demonstrar que a especificidade e a legitimidade do ensino da
psicanálise a educadores repousa nas condições que vem oferecer para o resgate do
sentido atualmente perdido da educação.
A resistência à aceitação da impossibilidade no campo educativo reclama a
renúncia à idéia clássica de controle e previsão. Essa resistência em relação a
psicanálise, no ambiente universitário, principalmente na formação dos educadores,
apresenta um panorama dos modelos de mestria, partindo da delimitação do estilo de
Freud, fundamentando a implicação da relação estabelecida com o conhecimento a ser
transmitido,
produzindo
estilos
particulares
naqueles
que
se
revestem
de
responsabilidade pela transmissão.
Essa pesquisa nos mostra a fertilidade da transmissão da psicanálise na formação
de educadores, os quais, uma vez atravessados pelo saber psicanalítico, podem conceber
a noção de estilo, de singularidade na relação com o conhecimento.
Outro trabalho discute o tema da psicanálise aplicada segundo Freud e Lacan,
apresentando um relato de experiência de trabalho que consiste numa prática de escuta
em grupo aos professores de uma escola pública de educação infantil. Partindo do
princípio de que o que se aplica da psicanálise é o desejo do analista, a aplicação é uma
conseqüência possível da implicação do praticante com a causa da psicanálise em sua
formação. Neste sentido, tal aplicação só se revelaria em sua qualidade analítica num
tempo posterior ao seu desenvolvimento.
Diante de uma demanda de intervenção, foi feita uma oferta de escuta em grupo
aos professores de uma escola pública de educação infantil. Para a leitura dessa
intervenção foi proposta uma escansão do percurso realizado em três tempos: o
delineamento da demanda, o tratamento dado em resposta e seus possíveis efeitos. Tal
dispositivo pode ser pensado como uma possibilidade de formação para o trabalho com
a criança sujeito.
CONCLUSÃO
A impossibilidade da educação se pauta na existência do inconsciente e na
impossibilidade mesma de controle sobre o ato educativo, bem como na falta do objeto
de satisfação que se ajuste a esse ideal.
As profundas transformações do mundo atual e as expectativas de formação das novas
gerações precisam de sujeitos autônomos, participativos, em consonância com a
diversidade cultural e os direitos individuais, por tanto, a elaboração teórico-conceitual
no campo da formação de professores e educadores sociais, demanda da dimensão
subjetiva como condição si ne qua non na consecução de qualquer projeto educacional.
Para tal fim, a psicanálise se constitui no suporte teórico que permite o resgate da
subjetividade nos contextos sócio educativos, levando em consideração a complexidade
do sujeito-professor e do sujeito-educador social.
1
Trabalhos consultados da pesquisa EAPE para a elaboração da presente análise:
Archangelo Guimarães, Ana (1999). O amor e o ódio na vida do professor: passado e presente na busca de elos perdidos – Tese de
doutorado – UNICAMP. Campinas, São Paulo, Brasil.
Sartore Laurito, Anna Rita (2007). Escrita e angústia, investigação sob a perspectiva psicanalítica, do impedimento da escritura
como fenômeno da ordem do sujeito do inconsciente - Tese de doutorado – USP. São Paulo, Brasil.
Monteiro, Elisabete Aparecida (2005). Sobre uma especificidade do ensino da psicanálise na universidade: a formação de
educadores - Tese de doutorado – USP – São Paulo, Brasil.
Altarugio, Maria Helena (2007). A posição subjetiva do formador na condução do processo reflesivo de professores de ciencias Tese de doutorado – USP – São Paulo, Brasil.
Junqueira Grandino, Patrícia (2004). A dimensão relacional na educação: análise de uma experiência formativa entre professores e
educadores sociais - Tese de doutorado – USP – São Paulo, Brasil.
Pinto Cohen, Ruth Helena (2004). Uma questão entre psicanálise e educação: sobre a etiologia do fracasso escolar - Tese de
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Lajonquière, Leandro de (2007). De um ensino da psicanálise e ao balanço da transmissão – Anais VI Colóquio LEPSI – IP/
FEUSP - São Paulo, Brasil.
Bartolozzi Bastos, Marise (2007). Transmissão da psicanálise a educadores: quando a circulação da palavra implica um saber
dizer - Anais VI Colóquio LEPSI – IP/ FEUSP - São Paulo, Brasil.
Voltolini, Rinaldo (2007). A Educação como fato “inconveniente” para a Psicanálise - Anais VI Colóquio LEPSI – IP/ FEUSP -.
Conte de Almeida, Sandra (2007). Transmissão da psicanálise a educadores: do ideal pedagógico ao real da trans(missão)
educativa - Anais 6to Colóquio LEPSI – IP/ FEUSP - São Paulo, Brasil.
Conte de Almeida, Sandra (2001). Psicanálise e Educação: revendo algumas observações e hipóteses a respeito de uma
(im)possível conexão - Anais III Colóquio LEPSI – IP/ FEUSP - São Paulo, Brasil.
Conte de Almeida, Sandra (2009). Desafios na formação clínica de professores: entre o cuidado, o ensino e a transmissão - Anais
VII Colóquio LEPSI – IP/ FEUSP - São Paulo, Brasil.
Rahme, Mônica (2009). Formação de professores e criança sujeito: a invenção de uma prática - Anais VII Colóquio LEPSI – IP/
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Conte de Almeida, Sandra 1999. Psicanálise e educação: entre a transmissão e o ensino, algumas questões e impasses - Anais I
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Sarmanho Paulol, Thais; Conte de Almeida, Sandra: Formação de professores: subjetividade e práticas docentes – Universidade
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Rondas Speller, Maria Augusta (2004). Psicanálise e Educação: caminhos cruzáveis – Plano - Brasil.
2
Dunker, Christian I. L. A questão do sujeito: construção, constituição e formação. In: Uma Psicologia que se Interroga – Ensaios.
Christian I. L. Dunker e Maria C. Passos (Org.) – São Paulo, Edicon, 2002.
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