UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Programa de Pós-Graduação em Agronomia
Tese
Contaminação química e microbiológica na cadeia produtiva do
pêssego: contribuição à análise de risco.
Evandro Pedro Schneider
Pelotas, 2012.
Evandro Pedro Schneider
Engenheiro Agrônomo, MSc
Contaminação química e microbiológica na cadeia produtiva do
pêssego: contribuição à análise de risco.
Tese apresentada ao Programa de Pós
Graduação
em
Agronomia
da
Universidade Federal de Pelotas, como
requisito parcial à obtenção do título de
Doutor
em
Ciências
(área
de
concentração: Fruticultura de Clima
Temperado).
Orientador: José Carlos Fachinello, Dr.
Pelotas, 2012
Banca examinadora:
José Carlos Fachinello – Engenheiro Agrônomo, Dr., Universidade Federal de
Pelotas (FAEM/UFPel). (Orientador)
Cesar Valmor Rombaldi - Engenheiro Agrônomo, Dr., Universidade Federal de
Pelotas (FAEM/UFPel).
Debora Leitzke Betemps - Engenheira Agrônoma, Dra., Universidade Federal
da Fronteira Sul (UFFS/Laranjeiras do Sul).
Jair Costa Nachtigal - Engenheiro Agrônomo, Dr., Embrapa Clima Temperado
(EMBRAPA/CPACT).
Marcelo Barbosa Malgarim - Engenheiro Agrônomo, Dr., Universidade Federal
de Pelotas (FAEM/UFPel).
Dedicatória
A toda minha família, em especial aos meus pais e irmãos, a minha
namorada Andréia Cristina Bender e sua família, que deram apoio
incondicional e motivaram esta caminhada.
Agradecimentos
À Universidade Federal de Pelotas, pela oportunidade de realizar o
curso de Pós-Graduação em Agronomia e ao Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pela concessão da bolsa de
estudos.
Ao orientador Dr. José Carlos Fachinello, pela confiança depositada, ao
apoio técnico, científico, recomendações e a cordialidade com que sempre me
recebeu e também pela liberdade de ação que permitiu que este trabalho
contribuísse para o meu desenvolvimento pessoal.
Agradecimento especial aos professores que atuaram no Programa de
Pós Graduação em Agronomia da UFPel, pesquisadores da Embrapa Clima
Temperado, profissionais da Emater, estudantes e professores da Universidade
Federal da Fronteira Sul. Cada um teve sua contribuição à construção deste
trabalho, bem como para minha formação profissional.
Em especial aos estagiários, bolsistas e colegas de pós-graduação,
com os quais pude contar durante todo o andamento deste projeto, e outros
tantos que fizeram parte da formação da minha consciência crítica e formação
intelectual, sem os quais a realização desta tese não seria possível.
Aos colegas e amigos da fruticultura, e de tantos departamentos que
em algum momento participaram desta caminhada.
A todos eles deixo aqui o meu agradecimento sincero.
Resumo
SCHNEIDER, Evandro Pedro. Contaminação química e microbiológica na
cadeia produtiva do pêssego: contribuição à análise de risco. 2012. 110f.
Tese - Programa de Pós Graduação em Agronomia. Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas-RS.
Identificar o risco potencial de contaminação no sistema de produção de
pêssegos se faz necessário para construção da consciência crítica sobre o
assunto, bem como para o aperfeiçoamento dos programas de controle da
cadeia produtiva como a Produção Integrada de Frutas. Frente a este
problema, se propõe identificar o perfil dos agricultores, seu nível atual de
contaminação e monitorar a cadeia persícola, no que diz respeito à presença
de resíduos de agrotóxicos e contaminação microbiológica, com o objetivo de
identificar as vulnerabilidades e situações de risco relacionadas ao uso de
agrotóxicos e à contaminação microbiológica na cadeia produtiva de pêssegos,
na região de Pelotas, RS. Como método de trabalho foram aplicados
questionários, coletado sangue de produtores (análise biológica), coletadas
amostras de frutos e água durante duas safras consecutivas (2010/11 e
2011/12) em 25 unidades produtivas. De acordo com o diagnóstico realizado, a
baixa escolaridade, a utilização de equipamentos mal calibrados, somado à
assistência técnica insatisfatória, constituem-se vulnerabilidades associadas ao
uso inadequado de agrotóxicos. A água utilizada nas propriedades rurais
apresenta contaminação microbiológica e por agrotóxicos. De acordo com as
percentagens de incumprimentos dos Limites Máximos de Resíduos e ao uso
indevido de agrotóxicos não autorizados para a cultura, conclui-se que os frutos
de pessegueiro e as conservas (85,7%), não são totalmente seguros em
termos de resíduos de agrotóxicos, demandando ações de conscientização e
monitoramento do sistema de produção de pêssegos.
Palavras-chave: Prunus persica (L.) Batsch, pesticidas, produção integrada,
exposição ocupacional e colinesterases.
Abstract
SCHNEIDER, Pedro Evandro. Contaminação química e microbiológica na
cadeia produtiva do pêssego: contribuição à análise de risco. 2012. 110f.
Tese - Programa de Pós Graduação em Agronomia. Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas-RS.
Identifying contamination potential risk in the peach production system is
necessary to the construction of critical consciousness about the topic, as well
as to the improvement of problem control in the productive chain such as
Integrated Production of Fruits. From this issue, it is proposed to identify and
supervise the farmers profile, their current level of contamination and monitor
the peach chain, related to the presence of pesticides residues and
microbiological contamination, in order to identify the vulnerabilities and risk
situations connected to the use of pesticides and microbiological contamination
in the peach productive chain, in the region of Pelotas, RS. As work
methodology it was applied questionnaires, blood collected from producers
(biological analyze), sample of fruits and water were collected during two
consecutives harvests (2010/11 and 2011/12) in 25 productive farms. According
to the diagnosis made, the lower education, the use of badly calibrated
equipments, added to the insufficient technical assistance, constitute
vulnerabilities related to the inadequate use of pesticides. The water used in the
rural properties presents not only microbiological but also pesticide
contamination. According to the percentages of unacomplishment of Maximum
Limits of Residues and the inadequate use of pesticides non-authorized to the
culture, it is concluded that the peach fruits and preserving (85,7%), are not
totally safe by pesticides residues, demanding actions of conscientization and
supervising of peach system production.
Key-words: Prunus persica (L.) Batsch, pesticides, integrated production,
ocupacional exposição and cholinesterase’s.
Lista de Figuras
Figura 01. Distribuição das amostras segundo a presença ou ausência de
resíduos de agrotóxicos. Projeto de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos – PARA (ANVISA, 2010). ............................ 21
Figura 02. Perfil etário dos persicultores pertencentes à amostra estudada.
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012............................................................. 47
Figura 03. Percentagem dos agricultores que se declaram praticantes da
Produção Integrada de Pêssegos (PIP). FAEM/UFPel, Pelotas-RS,
2012. ........................................................................................................ 49
Figura 04. Equipamento utilizado na aplicação de agrotóxicos; aplicador costal
(manual), canhão de ar (turbina) ou barra de pulverização (“caneta”) –
(tratorizado). FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012. ..................................... 50
Figura 05. Última calibração do pulverizador utilizado na aplicação de
agrotóxicos. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012........................................ 51
Figura 06. Histórico de sintomas associados a intoxicações por agrotóxicos,
relatados pela amostra estudada. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012..... 53
Figura 07. Atividade colinesterásica eritrocitária em sangue total com EDTA.
*Valor de referência AChE: 2,77 a 5,57. FAEM/UFPel, Pelotas-RS,
2012. ........................................................................................................ 54
Figura 08. Frequência de contaminação por agrotóxicos em frutos de
pessegueiro, em função do ingrediente ativo e da safra (2010/11 e
2011/12). FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012. ........................................... 67
Figura 9. Concentração de resíduos de agrotóxicos em frutos de pessegueiro,
em função da safra e do contaminante (2010/11 e 2011/12).
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012............................................................. 70
Figura 10. Concentração residual de agrotóxicos (independente do ingrediente
ativo)
em
frutos
de
pessegueiro,
safra
2010/11
e
2011/12.
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012............................................................. 70
Figura 11. Número de amostras de pêssego com resíduos de agrotóxicos e
resultados insatisfatórios, safra 2010/11 e 2011/12. FAEM/UFPel,
Pelotas-RS, 2012. ................................................................................... 71
Figura 12. Resíduos de agrotóxicos detectados na água, número de amostras
contaminadas por ingrediente ativo, safra 2010/11 e 2011/12.
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012............................................................. 74
Figura 13. Concentração residual de agrotóxicos na água utilizada no sistema
de produção do pessegueiro, por unidade de produção e safra
(2010/11 e 2011/12). FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012. ........................ 74
Figura 14. Número de amostras de água com presença de agrotóxicos acima
do Valor
Máximo
Permito (VMP),
safra 2010/11
e
2011/12.
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012............................................................. 75
Figura 15. Contaminação média da água e dos frutos de pessegueiro,
frequência, concentração residual e respectiva taxa de redução, safra
2010/11 e 2011/12. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012............................ 76
Figura 16. Contaminação global das amostras de água e frutos, frequência,
concentração e percentagem de redução da contaminação por
agrotóxicos, safra 2010/11 e 2011/12. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
................................................................................................................. 77
Figura 17. Resíduos de agrotóxicos (Dimethoate) em conservas de pêssego,
de quatorze empresas processadoras da região de Pelotas, safra
2010/11 e 2011/12. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012............................ 78
Figura 18. Contaminação microbiológica da água por Coliformes Totais (safra
2010/11) FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012. ............................................ 79
Figura
19.
Contaminação
microbiológica
da
água
por
Coliformes
Termotolerantes (safra 2010/11 e 2011/12) FAEM/UFPel, Pelotas-RS,
2012. ........................................................................................................ 80
Figura 20. Contaminação microbiológica dos frutos de pessegueiro por
Coliformes Termotolerantes e Coliformes Totais (safra 2010/11 e
2011/12). FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012. ........................................... 81
Lista de tabelas
Tabela 01. Classes toxicológicas dos agrotóxicos com base na DL50. ............ 24
Tabela 02. Valores Máximos Permitidos (VMP) para resíduos de agrotóxicos
na água. Ministério da Saúde. Portaria MS nº 518, de 25 de março de
2004. ........................................................................................................ 26
Tabela 03. Relação entre tipos de exposição a agrotóxicos e sinais e sintomas
clínicos presentes. (BRASIL. 1997)........................................................ 30
Tabela 04. Estudos epidemiológicos entre trabalhadores rurais brasileiros
sobre intoxicações por agrotóxicos. (FARIA et al., 2007). .................... 31
Tabela 05. Padrão microbiológico de potabilidade da água para consumo
humano. (BRASIL, 2004). ....................................................................... 34
Tabela 06. Disponibilidade de abastecedor, origem da água e utilização para o
consumo. FAEM/UFPel, Pelotas/RS, 2012. ........................................... 52
Tabela 07. O nome comum, a marca comercial, o ingrediente ativo, a classe, a
classificação toxicológica e ambiental dos resíduos encontrados nas
amostras de fruto. FAEM/UFPel, Pelotas/RS, 2012. ............................. 57
Tabela 08. Limite Máximo de Resíduos em frutos de pessegueiro de acordo
com as normativas do Brasil, do Codex Alimentarius, da União
Européia,
dos
Estados
Unidos
da
América
e
da
Argentina.
FAEM/UFPel, Pelotas/RS, 2012. ............................................................ 69
Sumário
Resumo... ............................................................................................................... 5
Abstract ................................................................................................................. 6
Lista de Figuras .................................................................................................... 7
Lista de Tabelas.................................................................................................. 10
1. TÍTULO. ............................................................................................................ 13
2. APRESENTAÇÃO ........................................................................................... 13
3. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13
4. ANTECEDENTES E JUSTIFICATIVAS ......................................................... 18
5. OBJETIVOS ..................................................................................................... 39
5.1 Objetivo geral .................................................................................... 39
5.2 Objetivos específicos ........................................................................ 39
6. HIPÓTESE ....................................................................................................... 40
7. MATERIAL E MÉTODOS ................................................................................ 40
7.1 Seleção da amostra .......................................................................... 41
7.2 Caracterização da exposição ocupacional ...................................... 43
7.3 Análise de sangue............................................................................. 44
7.4 Frutas utilizadas para análise ........................................................... 44
7.5 Água utilizada para análise............................................................... 45
7.6 Análise de resíduos de agrotóxicos ................................................. 46
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 47
8.1 Principais características da amostra estudada .............................. 47
8.2 Exposição ocupacional ..................................................................... 49
8.3 Resíduos de agrotóxicos nas frutas in natura e processados ........ 56
8.4 Resíduos de agrotóxicos na água .................................................... 73
8.5 Contaminação microbiológica .......................................................... 78
9. CONCLUSÕES ................................................................................................ 82
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 83
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 85
ANEXOS ............................................................................................................... 97
APÊNDICE .........................................................................................................106
13
1. TÍTULO
Contaminação química e microbiológica na cadeia produtiva do
pêssego: contribuição à análise de risco.
2. APRESENTAÇÃO
Este trabalho foi realizado na Universidade Federal de Pelotas, sob
orientação do professor, doutor José Carlos Fachinello. A tese desenvolvida é
parte das exigências para obtenção do título de Doutor em Ciências do
estudante Evandro Pedro Schneider, pertencente ao Programa de PósGraduação em Agronomia, área de concentração Fruticultura de Clima
Temperado, da Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel, Universidade Federal
de Pelotas.
3. INTRODUÇÃO
A fruticultura tem recebido destaque especial no Brasil e no mundo,
informações sobre a associação entre o consumo de frutas e a redução do
risco de doenças, somada à preocupação cada vez maior com a saúde,
alcançada através de uma nutrição equilibrada, sem a ingestão de fármacos,
levam a população a incluir no cardápio o consumo de frutas.
O aumento na demanda de frutas também pode ser motivado por uma
série de outros fatores como o aumento do poder aquisitivo da população,
disponibilidade da maior parte das frutas durante o ano todo, capacidade de
conservação e aproveitamento em subprodutos. O que pode se considerar
consenso é que o consumo tende a aumentar e as alterações na dieta
14
alimentar farão com que a demanda de produção de frutas venha a ser cada
vez maior em quantidade, mais exigente em qualidade e diversidade.
O Brasil é um dos maiores produtores mundiais de frutas (FAO, 2011)
e apresenta condições de solo, clima, disponibilidade da área agrícola e mão
de obra para expandir sua produção. No que se refere ao consumo per capita,
o brasileiro consome menos da metade do que os espanhóis e italianos,
mostrando a larga margem de expansão de consumo de um mercado nacional
de mais de 190 milhões de consumidores, justificando a necessidade do
incremento de produtividade nas regiões produtoras e necessidade de
expansão da área plantada.
Devido a sua condição quase que continental, o país apresenta zonas
características de clima tropical, subtropical e temperado, com regimes de
precipitação que vão da aridez a condição de alta umidade com as mais
variadas formações de relevo e fertilidade do solo, apresenta condições para
produção de laranja, banana, uva, maçã, coco e mais de uma centena de frutas
nativas e exóticas, tendo a produção de pêssegos uma representativa
participação tanto em área plantada quanto no consumo.
O espaço rural da Região Sul do Rio Grande do Sul, que tem como
pólo o município de Pelotas, concentra um significativo contingente de
fruticultores responsáveis pela maior parte da oferta de pêssegos destinados
ao processamento industrial e a fruticultura tem sido vista como uma das
atividades fundamentais para a fixação e ampliação do trabalho e renda. A
tradição, o conhecimento de práticas culturais, o mercado e as condições
climáticas adequadas têm favorecido o crescimento da atividade frutícola. A
persicultura continua tendo a preferência dos produtores que encontram nas
indústrias da região e no mercado in natura o destino final do seu produto
(TIMM et al., 2007).
Para os agricultores de Pelotas e demais municípios da Zona Sul a
cultura do pessegueiro destaca-se por sua importância econômica e social,
pois
com
uma
estrutura
fundiária
baseada
em
minifúndios
e
com
disponibilidade de mão de obra familiar, estes encontram na fruticultura uma
alternativa de diversificação da matriz produtiva, absorção da mão de obra
familiar e geração de renda em pequenas áreas (MADAIL et al., 2007).
15
Para produção de frutos de qualidade é necessário que o pessegueiro
se desenvolva sob algumas condições meteorológicas específicas, pois estas
podem influenciar, não só nas características físico químicas do fruto, mas
também sobre o estabelecimento de doenças, e segundo Fachinello et al.
(2003), a região sul é caracterizada pela alta precipitação pluviométrica, acima
de 1500 mm ano-1, acompanhada de elevada umidade relativa do ar, com
ventos fortes durante a primavera e verão, o que favorece o estabelecimento
de doenças.
Como tática de manejo, para redução dos níveis populacionais de
pragas e a incidência de doenças, o método químico, de maneira geral, tem
sido amplamente empregado pelos agricultores (SALLES, 1998). Com o uso
generalizado de agrotóxicos, problemas começaram a ser percebidos e
diagnosticados, tais como o efeito em organismos não visados, ocorrência de
resíduos em alimentos, a contaminação do solo e das águas, além da
intoxicação dos trabalhadores rurais (CAMPANHOLA e BETTIOL, 2003).
Os agrotóxicos são agentes constituídos por uma grande variedade de
compostos químicos ou biológicos, desenvolvidos para matar, exterminar,
combater, repelir a vida, além de controlarem processos específicos, como os
reguladores do crescimento (ANVISA, 2002). Normalmente, têm ação sobre a
constituição física e a saúde do ser humano, além de se apresentarem como
importantes contaminantes ambientais e das populações de animais a estes
ambientes relacionados (PERES et al., 2005).
Para reduzir os danos causados por pragas os produtores fazem
constantes aplicações de inseticidas de forma sequencial e preventiva
(BOTTON et al., 2001), sem observar os diferentes ciclos das cultivares e a
população da praga. Este tipo de manejo pode prejudicar a entomofauna
benéfica, contaminar o ambiente e colocar em risco a saúde humana, sendo
que muitas vezes, não é respeitado o período de carência dos produtos
fitossanitários (BOTTON et al., 2005).
De acordo com Arias et al. (2007), os principais contaminantes de
origem agrícola são os resíduos de fertilizantes e os agrotóxicos. Estes
produtos quando aplicados sobre os campos de cultivo podem atingir corpos de
água e córregos diretamente, através de água da chuva e da irrigação, ou
indiretamente através da percolação no solo, chegando aos lençóis freáticos,
16
ou ainda pela volatilização dos compostos. Segundo Arantes et al. (2008),
produtos como o Glifosato, reduz a atividade microbiana dos solos podendo em
longo prazo prejudicar a produção.
Os agrotóxicos, além de cumprir papel inicial de controlar pragas,
doenças e plantas daninhas, apresentam externalidades negativas como
oferecer risco à saúde humana e ao ambiente, o uso constante e
frequentemente incorreto destes agentes tóxicos causa contaminação do solo,
da atmosfera das águas, dos alimentos e consequentemente alteração da
dinâmica natural do ecossistema afetado.
Caldas e Souza (2000), em avaliação do risco da ingestão de resíduos
de pesticidas na dieta brasileira, concluem que os agrotóxicos mesmo que
utilizados de modo adequado deixam resíduos nos substratos alimentares, cujo
significado depende do quanto eles estão presentes no alimento, com
possibilidade de causar danos à saúde do trabalhador rural e do consumidor
com implicação econômica, sendo o Brasil extremamente dependente da
receita produzida pelos produtos agrícolas.
Estudos preliminares mostraram que existem ainda riscos para o
consumidor devido ao uso de agrotóxicos não recomendados, uso de água
imprópria em pulverizações e manuseio de frutas com alta contaminação
microbiológica e com sérios riscos de segurança alimentar. Reconhecer os
condicionantes sociais, culturais e econômicos presentes no processo
produtivo é uma necessidade para minimizar os danos à saúde e ao ambiente
decorrente do uso de agrotóxicos (PERES et al., 2003).
O valor nutricional e a segurança do alimento do ponto de vista da
qualidade microbiológica e da presença de contaminantes químicos ganham
cada vez mais importância por estarem relacionados à saúde do consumidor,
cada vez mais exigente. Os fatores de risco são potencializados quando
analisada a exposição dos agricultores que se mostram mais vulneráveis, pois
mantém contato direto com os agentes contaminantes durante as diversas
etapas do sistema de produção até o consumo.
Identificar os pontos de contaminação e o risco potencial de
contaminação do sistema de produção atual se faz necessário para a
construção de uma consciência crítica sobre o assunto, bem como para
17
aperfeiçoamento dos programas de controle na cadeia produtiva como a
Produção Integrada de Frutas.
Desta forma, através do presente projeto, se propõe identificar o perfil
dos agricultores, seu nível atual de contaminação e monitorar a cadeia
persícola, no que diz respeito à presença de resíduos de agrotóxicos e
contaminação microbiológica nas frutas e na água utilizada, com objetivo de
identificar as vulnerabilidades e situações de risco relacionadas ao uso de
agrotóxicos e a contaminação microbiológica na cadeia produtiva de pêssegos,
na região de Pelotas, RS.
18
4. ANTECEDENTES E JUSTIFICATIVAS
4.1 Fruticultura
O Brasil apresenta condições de solo e clima favoráveis ao
desenvolvimento da fruticultura, combinando a disponibilidade de terras e mão
de obra, além disso, o cultivo de espécies perenes, como são a maioria das
plantas frutíferas, permite a ocupação de solos considerados inadequados à
atividade agrícola convencional, contribuindo assim, com um sistema mais
conservacionista (NATALE, 2003), que deve vir a ser estimulado.
O país é o terceiro maior produtor mundial de frutas, com colheita em
torno de 40 milhões de toneladas ao ano, mas participa com apenas 2% do
comércio global do setor, o que demonstra o forte consumo interno (ANUÁRIO
BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 2010).
A área plantada com plantas frutíferas no Brasil está distribuída em
1.034.708 ha com frutas tropicais, 928.552 ha com frutas subtropicais e
151.732 ha com espécies de clima temperado (FACHINELLO et al., 2011),
tendo ainda grande capacidade de expansão, seja através da ampliação da
fronteira agrícola ou pelo aumento da produtividade das áreas de produção.
As mudanças comportamentais dos consumidores, no que se refere ao
consumo de alimentos, têm sido responsáveis pelo incremento do mercado de
frutas, esse crescimento tem induzido uma expansão na produção. A demanda
por frutas também está aliada à elevação da renda dos consumidores, à
urbanização e a melhores níveis de informação e educação (IBRAF, 2008).
A tendência é que mais pessoas passem a se preocupar com a saúde
e o bem estar, ampliando o consumo de frutas, isso pode proporcionar
aumento na produção e exportação mundial, principalmente dos países
produtores do Hemisfério Sul, que abastecem os do Norte quando esses estão
em entressafra (VITTI e BOTEON, 2008).
19
No que se refere ao cultivo do pessegueiro e nectarineira, a produção
mundial atingiu 18 milhões de toneladas em 2008. Segundo os dados da FAO
(2011), em 2009 a produção nacional foi de 216.236 toneladas em 19.102
hectares.
A cultura do pessegueiro possui relevante importância para o Estado
do Rio Grande do Sul, que produz anualmente 140,7 mil toneladas de pêssego
(FACHINELLO et al., 2011) e tem como pólo o município de Pelotas, que
concentra um significativo contingente de fruticultores responsáveis pela maior
parte da oferta de pêssegos destinados ao processamento industrial.
4.2 Agrotóxicos
Para atender a demanda crescente de alimentos em geral os
agricultores foram e têm sido estimulados a utilizar um sistema de produção de
alto consumo de fertilizantes e agrotóxicos, aliados à utilização intensiva do
solo como forma a obter a máxima rentabilidade econômica no menor tempo.
No entanto, com o foco no aumento da produtividade e garantia da produção,
através da utilização continuada e muitas vezes indiscriminada de agrotóxicos,
o sistema de produção convencional gera situações de risco. Este sistema de
produção
começa
a
mostrar
suas
fragilidades
que
se
apresentam
principalmente na forma da contaminação do ecossistema, e colocando em
risco os agricultores que se expõe cotidianamente aos agentes químicos e
consumidores através da alimentação com presença de resíduos.
O uso dos agentes tóxicos na agricultura remonta ao início de sua
atividade onde elementos como o enxofre, cobre, sal, mercúrio e arsênico
foram utilizados no controle de pragas. No entanto a indústria de agrotóxicos,
em nível mundial, surgiu após a Primeira Guerra Mundial e se intensificou com
as descobertas decorrentes da Segunda Guerra Mundial, relativas ao
conhecimento sobre os compostos químicos diversos. Segundo o Sistema de
Informações Sobre Agrotóxicos (SAI), já em 2006 estavam registrados 398
ingredientes ativos e 1.002 produtos formulados no Brasil (ANVISA, 2006).
A introdução oficial de agrotóxicos organosintéticos no Brasil ocorreu
em 1943, quando chegaram as primeiras amostras do inseticida “DDT”
20
(inseticida clorado) (SPADOTTO et al., 2004). As primeiras unidades produtivas
de agrotóxicos datam de meados da década de 1940, mas somente após 1975
com a instituição do Programa Nacional dos Defensivos Agrícolas que o país
buscou internalizar a produção, num instante de industrialização da agricultura
nacional (TERRA e PELAEZ, 2009).
A partir disto com a modernização da agricultura, e formação dos
complexos agroindustriais o país tornou-se um dos principais mercados
consumidores de agrotóxicos no mundo sendo este, diretamente relacionado
ao comportamento da produção agrícola nacional e ao número de intoxicações.
A importação de agrotóxicos cresceu 236% entre 2000 e 2007, de acordo com
dados da ANVISA (2010), o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do
mundo e tem o maior mercado destes produtos com 107 empresas autorizadas
para registro de seus compostos químicos, respondendo por 16% do mercado
mundial.
Além dos perigos aos seres humanos, nos aspectos ocupacionais,
alimentares e de saúde pública, sabe-se que a introdução de agrotóxicos no
ambiente pode provocar efeitos indesejáveis, tendo como consequência
mudanças no funcionamento do ecossistema afetado (SPADOTTO et al.,
2004). Em nível mundial, o primeiro alerta sobre os danos que os pesticidas
poderiam provocar foi dado através do livro intitulado “Primavera Silenciosa”
(Silent Spring) de Rachel Carson. A autora detalha efeitos adversos da
utilização de pesticidas, em especial à associação entre a aplicação do “DDT”
e a extinção de várias espécies, por causas decorrentes da bioacumulação na
cadeia trófica, iniciando o debate acerca das implicações da atividade humana
sobre o ambiente.
O uso de agrotóxicos no Brasil é considerado alto e preocupante,
alimentos possuem taxas mais elevadas que o permitido por lei, o meio
ambiente, o solo, os lençóis freáticos e os rios vêm sendo contaminados
(PERES et al., 2007). Com a evolução dos conhecimentos sobre os efeitos e
mecanismos de ação dos agrotóxicos somados ao acesso à informação por
parte da população em geral, as preocupações chegaram à esfera do consumo
alimentar e existe uma forte consciência do perigo que podem representar os
resíduos de agrotóxicos presentes nos alimentos (WITHFORD et al., 2007).
21
O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos
(PARA), da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), originou-se no
Projeto de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, iniciado em
2001. Suas atividades têm por objetivos principais a promoção da saúde
através do consumo de alimentos de qualidade e a prevenção das doenças
crônicas não transmissíveis secundárias à ingestão cotidiana de quantidades
perigosas de agrotóxicos (ANVISA, 2010).
De acordo com o último relatório de atividades (ANVISA, 2010) no
balanço geral das 2.488 amostras, dos dezoito alimentos monitorados (abacaxi,
alface, arroz, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, feijão, laranja, maçã,
mamão, manga, morango, pepino, pimentão, repolho e tomate) em todas as
culturas analisadas foram detectados resíduos de agrotóxicos.
Na avaliação global, em 37% das amostras, não foram detectados
resíduos; 35% apresentaram resíduos abaixo do Limite Máximo de Resíduos
(LMR) estabelecido por lei; e 28% foram consideradas insatisfatórias por
apresentarem resíduos de produtos não autorizados ou, autorizados, mas
acima do LMR (Figura 01).
Figura 01. Distribuição das amostras segundo a presença ou ausência de
resíduos de agrotóxicos. Projeto de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos – PARA (ANVISA, 2010).
Resultados obtidos por Gebara et al. (2008), avaliando a presença de
resíduos de agrotóxicos em diversas frutas comercializadas no CEAGESP
22
(Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) entre 2003 e
2005, em banana, maçã, pêssego, pêra, laranja, mamão, entre outras,
mostraram que 73,4% das amostras não continham resíduos detectáveis entre
127 ingredientes ativos, e 19,7% continham resíduos que violaram a legislação
brasileira;
parte
continha
resíduos
não
autorizados
para
a
cultura.
Demonstrando a necessidade de melhoria na proteção dos cultivos e utilização
dos produtos indicados e minimizando o risco para a saúde associados com a
produção e consumo de alimentos.
Alguns autores afirmam que a real situação da contaminação dos
alimentos frescos por resíduos de agrotóxicos encontra-se mascarada por uma
pequena parcela de defensivos não autorizados utilizados em algumas culturas
(GORENSTEIN, 2000), sendo considerada amostra insatisfatória independente
da quantidade de resíduo detectado. Em vista disso, é de grande importância a
conscientização dos produtores, por parte dos técnicos e órgãos competentes,
de que é imprescindível o uso somente de produtos registrados para a cultura,
necessitando estar sempre atualizados, em função de reavaliações periódicas
dos princípios ativos autorizados, e pela diferença nas exigências entre países
(Tabela 08).
De acordo com Deschamps et al. (2001), a presença de resíduos de
agroquímicos pode se manifestar no ambiente, tanto no período de utilização,
como até mesmo após cessar a sua aplicação, este resíduo no meio ambiente
prejudica além de humanos e animais, a microflora, microfauna e peixes
presentes. Exemplos desta contaminação foram identificados em estudos
realizados por Marchesan et al. (2010) que determinaram valores de resíduos
de 2,4-D na água dos rios Vacacaí e Vacacaí-Mirim na ordem de 03 a 3,4 µg/L,
Grützmacher et al. (2008) encontraram resíduos de carbofuran, quinclorac,
clomazone e fipronil, nas águas do Canal São Gonçalo e do Rio Piratini.
Carter (2000) encontrou, para a classe de herbicidas, perdas, com
relação à quantidade aplicada, de menos de 0,001% até 0,25% por
carreamento superficial e de menos de 1% até 5% por lixiviação, e cita que,
dados preliminares de monitoramento a campo no Brasil, têm mostrado que,
das quantidades de agrotóxicos aplicados, até 2% a 3% são perdidos
adsorvidos às partículas de solo carreado e até cerca de 1% é perdido em
solução na água escoada superficialmente.
23
A Lei de Agrotóxicos e Afins Nº 7.802 de 11 de julho de 1989,
estabelece que os agrotóxicos possam ser utilizados no país somente se forem
registrados em órgão federal competente, de acordo com as diretrizes e
exigências dos órgãos responsáveis pelos setores da saúde, do meio ambiente
e da agricultura. Neste sentido, o Decreto nº 4.074, de 04 de janeiro de 2002,
que regulamentou a Lei, estabelece as competências para os três órgãos
envolvidos no registro de agrotóxicos: Ministério da Saúde (MS), Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e Ministério do Meio Ambiente,
através do IBAMA (ANVISA, 2002).
O Ministério da Saúde por meio da ANVISA (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) é o responsável, dentre outras competências, pela
avaliação e classificação toxicológica de agrotóxicos, e junto com o MAPA
(Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento), no âmbito de suas
respectivas áreas de competência, pelo monitoramento dos resíduos de
agrotóxicos e afins em produtos de origem vegetal. A ANVISA também deve
estabelecer o limite máximo de resíduos (LMR) e o intervalo de segurança de
cada ingrediente ativo de agrotóxico para cada cultura agrícola (ANVISA, 2008;
2010).
Conforme estabelecido pela Instrução Normativa nº. 84/1996 do
IBAMA, a classificação de periculosidade ambiental baseia-se nos parâmetros
transporte, persistência, bioacumulação, toxicidade a diversos organismos e
potencial mutagênico, teratogênico e carcinogênico, obedecendo a seguinte
classificação (IBAMA, 1996): Classe I - Produto altamente perigoso; Classe II Produto muito perigoso; Classe III - Produto perigoso; e Classe IV - Produto
pouco perigoso.
A toxicidade dos agrotóxicos é expressa em valores referentes à Dose
Média Letal (DL50), por via oral, representada por miligramas do ingrediente
ativo do produto por quilograma de peso vivo, necessários para matar 50% da
população de ratos ou de outro animal teste (Tabela 01). A DL50 é usada para
estabelecer as medidas de segurança a serem seguidas para reduzir os riscos
que o produto pode apresentar à saúde humana, sendo esta uma informação
orientadora obrigatória nas embalagens dos agrotóxicos (REIMCHE et al.,
2008).
24
Tabela 01. Classes toxicológicas dos agrotóxicos com base na DL50.
Classe
I
Classificação
Extremamente tóxico
DL50 (mg/kg) em ratos
Líquida (oral) = ou <20
Cor da faixa
(rótulo)
Vermelho vivo
Sólido (oral) = ou < 5
Líquida (dérmica) = ou < 40
Sólido (dérmica) = ou <10
II
Altamente tóxico
Líquida (oral) >20 até 200
Amarelo intenso
Sólido (oral) >5 até 50
Líquida (dérmica) >40 até 400
Sólido (dérmica) >10 até 100
III
Medianamente tóxico
Líquida (oral) >200 até 2000
Azul intenso
Sólido (oral) >50 até 500
Líquida (dérmica) >400 até 4000
Sólido (dérmica) >100 até 1000
IV
Pouco tóxico
Líquida (oral) >2000
Verde intenso
Sólido (oral) >500
Líquida (dérmica) >4000
Sólido (dérmica) >1000
Fonte: Elaborado pelo autor, adaptado de ANVISA (2010).
Embora a utilização dos agrotóxicos tenha proporcionado o aumento
da produtividade agrícola, mesmo em condições desfavoráveis, em larga
escala de cultivo, possibilitando a produção de alimentos a um custo menor, é
preciso citar que o uso indiscriminado desses produtos pode trazer prejuízos à
saúde humana e ao meio ambiente (DOMINGUES et al., 2004). Estudos
acerca do potencial de contaminação de moléculas orgânicas, em suas mais
distintas esferas, são ainda incipientes, uma vez que tais pesquisas exigem
técnicas especializadas, além de apresentarem custo elevado, envolvendo o
uso de elementos marcados e sofisticada instrumentação analítica (PIRES et
al., 2003).
Segundo Bortoluzzi et al. (2006), o impacto da atividade humana sobre
um território pode ser facilmente avaliado através do diagnóstico da qualidade
das águas superficiais. Neste sentido, a avaliação de parâmetros como
moléculas de agrotóxicos em águas de microbacia hidrográfica auxilia na
determinação do nível de poluição, subsidiando a sua identificação e origem,
permitindo a elaboração de estratégias adequadas de manejo (RHEINHEIMER
et al., 2003).
25
Ademais, fatores pedoclimáticos, como alta pluviometria, presença de
solos rasos e arenosos e com declividade acentuada, podem potencializar a
ação do homem na transferência de poluentes dos sistemas terrestres aos
aquáticos (SPONGBERG e MARTIN-HAYDEN, 1997). Estas características
potencializadoras da contaminação encontram-se presentes em maior ou
menor grau na região de estudo.
Há constante preocupação com a qualidade da água dos mananciais
hídricos, visto que estão entre os recursos do ambiente que apresentam maior
vulnerabilidade em relação a agrotóxicos de forma geral (COSTA et al., 2008;
MARCHESAN et al., 2010), no entanto existem poucas referências em relação
aos limites tolerados de agrotóxicos em cursos de água. Para a União
Européia, a concentração máxima é 0,1µg L -1 para cada agrotóxico e 0,5 µg L-1
para o total de agrotóxicos em águas destinadas ao consumo humano,
independente de sua toxicidade (COUNCIL DIRECTIVE, 1980).
No Brasil os Valores Máximos Permitidos (VMP) para resíduos de
agrotóxicos na água são definidos em função do padrão de potabilidade, em
portaria que estabelece os procedimentos para controle e vigilância da
qualidade da água para consumo humano (Tabela 02) (BRASIL, 2004). No
entanto, seus valores, além de menos restritivos, quando comparados aos
utilizados pela União Européia, abrangem uma pequena parcela dos
componentes atualmente utilizados no país.
26
Tabela 02. Valores Máximos Permitidos (VMP) para resíduos de agrotóxicos
na água. Ministério da Saúde. Portaria MS nº 518, de 25 de março de
2004.
AGROTÓXICOS
Alcaclor
Aldrin e Dieldrin
Atrazina
Bentazona
Clordano (isômeros)
2,4 D
DDT (isômeros)
Endossulfan
Endrin
Glifosato
Heptacloro e Heptacloro epóxido
Hexaclorobenzeno
Lindano (BHC)
Metolacloro
Metoxicloro
Molinato
Pendimetamina
Pentaclorofenol
Permetrina
Propanil
Simazina
Trifluralina
Unidade
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
µg/L
VMP(1)
20
0,03
2
300
0,2
30
2
20
0,6
500
0,03
1
2
10
20
6
20
9
20
20
2
20
NOTAS: (1) Valor Máximo Permitido. Fonte: Ministério da Saúde.
De acordo com Barriuso et al., (1996) em estudo sobre as
transformações e dissipação dos pesticidas, concluiram que cerca de 20% das
quantidades dos agrotóxicos usados como tratamento profilático de plantas,
podem alcançar as águas superficiais. Em especial, com o uso indiscriminado
de insumos fertilizantes e agrotóxicos, o manejo do solo fora de sua aptidão
agrícola, aliado à falta de consciência da população na proteção do solo e das
vertentes, aumenta a probabilidade de poluição ambiental (RHEINHEIMER et
al., 2003; 2006).
Os riscos da contaminação, mais que entidades físicas independentes,
estão intimamente relacionados às formas através das quais estas populações
se relacionam com os perigos existentes, processos estes fortemente
enviesados por determinantes de ordens social, cultural e econômica (PERES
27
et al., 2005). Estes autores afirmam que o conhecimento destes determinantes
é essencial ao entendimento do problema, responsável pela morte de milhares
de pessoas – e o adoecimento de milhões – em todo o mundo, razão pela qual
o objeto do estudo da contaminação humana e ambiental por agrotóxicos é
extremamente complexo.
O monitoramento da presença de resíduos em alimentos, na água e a
sua ingestão diária pela população, estão recebendo atenção especial em
diversos países como a China (CHEN et al., 2011), a Espanha (BERRADA et
al., 2010), o Canadá (SOLLA et al., 2012), Estados Unidos da América
(JURASKE et al., 2009), no entanto existem complicadores, de ordem
metodológica, analítica e estrutural, que contribuem para a imprecisão dos
dados disponíveis sobre intoxicações e contaminações por agrotóxicos, em
todo o mundo, dificultando iniciativas de intervenção o processo de formulação
de políticas públicas específicas.
A avaliação de risco definida como “o uso de bases reais para definir
os efeitos à saúde da exposição de indivíduos ou populações a material
perigoso ou situação de perigo”, de acordo com o Conselho Nacional de
Pesquisa dos Estados Unidos da América (NATIONAL RESEARCH COUNCIL,
1983), se faz necessária para estabelecer um estudo exploratório do tema nas
condições reais do sistema produtivo do pessegueiro.
4.3 Exposição ocupacional
Devido à ampla utilização de agrotóxicos nas diversas culturas de
importância econômica, realidade presente na maioria dos fruticultores
comerciais, denota que a população está invariavelmente exposta ao risco de
contaminação, demandando a identificação da condição atual de exposição e
contaminação. A elevada utilização de agrotóxicos, sem os devidos cuidados,
tem contribuído em muito para o aumento das intoxicações ocupacionais,
sendo, atualmente, um dos principais problemas de saúde pública no meio
rural brasileiro (FIOCRUZ/SINITOX, 2009).
Apesar da grande importância das atividades agrícolas, há pouco
interesse no estudo de aspectos da saúde e segurança na agricultura, há um
28
interesse maior em desenvolver tecnologias para o aumento da produção
agropecuária, geralmente sem levar em consideração os impactos à saúde e à
segurança do trabalhador (FRANK et al., 2004).
Os trabalhadores agrícolas correm um grande risco de intoxicação,
devido ao contato intenso com agrotóxicos concentrados (RAINBIRD e O´NEIL,
1995), a pele é o órgão mais exposto durante as pulverizações e o contato
pode ocorrer durante a elaboração das caldas ou ainda durante o manuseio,
limpeza do equipamento de pulverização e no descarte de embalagens vazias
(SPIEWAK, 2001), sua lavagem de modo inapropriado também contribui para
contaminação do ambiente em que o agricultor desenvolve suas atividades
(ALMUSSA e SCHMIDT, 2009).
O monitoramento constante do impacto da utilização de agrotóxicos na
saúde humana e no meio ambiente é um objetivo a ser alcançado (PERES;
MOREIRA, 2003). Para Domingues et al., (2004), a diminuição dos riscos está
atrelada à prospecção de novas tecnologias e da busca constante da
divulgação das informações, da maneira mais honesta, isenta e completa
possível.
A falta de informação por parte dos trabalhadores rurais quanto ao
risco a que estão expostos quando manipulam agrotóxicos, deve-se na maior
parte das vezes à baixa escolaridade, que dificulta ou mesmo impossibilita o
acesso às informações de extrema importância para a sua segurança e dos
envolvidos direta e indiretamente com a atividade agrícola (DOMINGUES et al.,
2004; PERES et al., 2005; PIRES et al., 2005; SCHMIDT e GODINHO, 2006).
Além da análise da atividade laboral, pode-se lançar mão de estudos
complementares para identificar a contaminação humana, as enzimas
colinesterases são marcadores biológicos da exposição aguda ou subcrônica a
pesticidas organofosforados e carbamatos. Níveis reduzidos de sua atividade
refletem alterações geradas por doenças orgânicas ou por ação de agentes
agressores externos. Os resultados destes exames toxicológicos devem ser
interpretados como indicadores de sobreexposição aos pesticidas, e devem ser
considerados em conjunto com a avaliação clínica para o diagnóstico de
intoxicação e estabelecimento de relação de causa e efeito (COYE et al., 1987;
AMES et al., 1995).
29
A legislação brasileira (Norma Regulamentadora Nº 7) estabelece que
todos os trabalhadores rurais devem realizar exames médicos ocupacionais,
incluindo a avaliação dos riscos químicos, como os agrotóxicos. Para os
inseticidas organofosforados e carbamatos, são exigidas dosagens de
colinesterase plasmática e/ou eritrocitária, sendo considerado como valor de
referência a atividade pré-ocupacional (BRASIL, 1978).
A acetilcolinesterase (AChE) é a enzima responsável pela hidrólise da
acetilcolina em colina e acetato nas sinapses colinérgicas após a transmissão
do impulso nervoso (PEAKALL, 1992), pelo que é fundamental para a
sobrevivência dos animais. Quando o resultado da atividade enzimática for
menor que 30% do valor de referência, o exame deve ser repetido; se for
confirmado este valor, o indivíduo é considerado possivelmente contaminado.
Considerando-se que os níveis basais da colinesterase sofrem variações de
uma pessoa para outra, é importante realizar o teste basal (pré-exposição)
antecipadamente nas pessoas que irão ter contato com agrotóxicos (MOREIRA
et al., 2002). Porém, em boa parte dos casos, principalmente na agricultura
familiar, os trabalhadores crescem e vivem no local de trabalho, sendo
impossível
definir
os
limites
geográficos
ou temporais
da exposição
ocupacional (FARIA et al., 2007).
Entre os inúmeros efeitos crônicos sobre a saúde humana, são
descritas
câncer,
alterações imunológicas, genéticas, malformações
efeitos
deletérios
sobre
o
sistema
nervoso,
congênitas,
hematopoiético,
respiratório, cardiovascular, geniturinário, gastrintestinal, hepático, reprodutivo,
endócrino, pele e olhos, além de alterações hematológicas e reações alérgicas
a estas drogas (LERDA e MASIERO, 1990; BRASIL, 1997; SOLOMON, 2000;
COLOSSO et al., 2003; ALAVANJA et al., 2004;).
De acordo com o Manual de Vigilância da Saúde da população exposto
a Agrotóxicos (BRASIL, 1997), alguns sintomas clínicos podem ser utilizados
como referência para estabelecer o nível de exposição e o risco associado
(Tabela 03).
30
Tabela 03. Relação entre tipos de exposição a agrotóxicos e sinais e sintomas
clínicos presentes.
Sinais
Sintomas
agudos
Sintomas
crônicos
Exposição única ou por
período curto
Náuseas; cefaléia; tontura;
vômito; parestesias;
fasciculação muscular;
desorientação; dificuldade
respiratória; coma; morte.
Paresia e paralisia reversível;
ação neurotóxica retardada
irreversível; pancitopenia.
Exposição continuada por longo período
Hemorragias; hipersensibilidade;
teratogênese e morte fetal.
Lesão cerebral irreversível; tumores
malignos; atrofia testicular; esterilidade
masculina; alterações comportamentais;
neurites periféricas; dermatites de
contato; formação de cataratas; atrofia de
nervo ótico; lesões hepáticas etc.
Fonte: BRASIL, 1997.
Considerando estudos sobre intoxicações com estimativas baseadas
na informação obtida através de entrevistas ao trabalhador e/ou exames
laboratoriais de sangue, encontrou-se uma grande variação na prevalência de
intoxicações e dosagem das colinesterases, tendo em comum à presença de
intoxicações e/ou sintomas diversos, dificultando o estabelecimento de um
padrão para quantificar e classificar a exposição aos agrotóxicos (Tabela 03).
A revisão das publicações brasileiras no período de 2001 a 2004,
realizada por Faria et al. (2007) aponta um crescimento quantitativo e
qualitativo dos estudos nesta área, com vários tipos de abordagens que
incluem estudos ambientais, sobre contaminação alimentar ou estudos
qualitativos investigando a percepção dos trabalhadores em relação aos
agrotóxicos.
31
Tabela 04. Estudos epidemiológicos entre trabalhadores rurais brasileiros
sobre intoxicações por agrotóxicos.
AUTOR/ANO LOCAL POPULAÇÃO
Etges,
RS
285
2001
fumicultores.
Oliveira e
Silva,
2001
RJ
55 aplicadores
de pesticidas e
50 controles.
Moreira,
2002
RJ
101 adultos e
76 crianças e
adolescentes.
Soares,
2003
MG
1064 tb rurais amostra não
aleatória.
Araújo,
2000
PE
186 tb produtores de
tomate.
Castro,
2005
RJ
Delgado,
2004
RJ
40 agricultores
92,5% das
propriedades
usavam
agrotóxicos.
55 agricultores
proprietários.
INTOXICAÇÕES
20% relataram
intoxicação, 2,5%
redução de BChE e
AChE dentro do
normal.
45% com sinais de
intoxicação, 3,6%
redução de BChE e
41,8 % redução de
AChE.
Adultos: 48% com
sintomas, 11%
redução AChEe 12%
da BChE. Crianças:
34% sintomas, AChE
normal, 17%
redução BChE.
36% redução de
75% da BChE, 14%
redução > 30% da
BChE.
26% já tiveram
intoxicações na área
de tomate industrial
e 13% no tomate de
mesa.
22,5% já tiveram
intoxicação.
FATORES ASSOCIADOS
Aumento
de
problemas
neuropsiquiátricos.
Pouca
conscientização sobre os
riscos/passividade.
Baixa escolaridade aumenta
risco. 11% das intoxicações
eram devidas a fatores
socioeconômicos.
62% dos adultos e 39% dos
adolescentes não usavam
EPI. Fatores associados:
sexo feminino, exposição em
idade precoce.
Não usar proteção/receber
orientação só do vendedor.
64% não usavam EPI nem
outras medidas de proteção.
Destino
inadequado
das
embalagens.
85% não usavam EPI. Pouca
conscientização sobre os
riscos
dos
produtos,
considerados inevitáveis.
62% já "passaram
Fatores: uso de produtos
mal" usando
classe 1 e 92% não usavam
agrotóxicos
nenhum EPI.
Faria,
RS
1379
2% tiveram
Grupos mais expostos: usar >
2004
agricultores
intoxicações em 12
10 dias/mês, aplicar agrot. em
familiares.
meses. 12% em
+ de uma propriedade, realgum momento da
entrada pós aplicação.
vida.
Obs.: Acetilcolinesterase eritrocitária - AChE; Butirilcolinesterase Plasmática - BChE ;
Propriedade - prop; Trabalhador - tb; Agrotóxicos - agrot; Equipamento de Proteção Individual
– EPI. Adapatado de FARIA et al. (2007).
Nos
anos
seguintes
as
informações
sobre
contaminação
de
agricultores continuaram evidenciando o risco, sendo que Araújo et al. (2007),
em estudo sobre a exposição dos agricultores aos agrotóxicos com 102
trabalhadores rurais, comparando à atividade enzimática da amostra com um
grupo controle (não exposto a agrotóxicos), verificaram que a colinesterase
eritrocitária encontrava-se reduzida em 12,8% dos trabalhadores, com sinais
sugestivos de intoxicação.
32
Em estudo recente, Faria et al. (2008), ao pesquisar 290 agricultores
em 235 estabelecimentos rurais produtores de pêssego na região de Bento
Gonçalves- RS registraram que, 3,8% dos agricultores apresentaram sintomas
de intoxicação nos últimos 12 meses e 19,4%, em algum momento da vida. No
mesmo estudo, segundo o critério proposto pela Organização Mundial de
Saúde, 11% foram classificados como casos prováveis de intoxicação aguda, e
2,9% apresentavam a atividade da colinesterase reduzida em mais de 20%.
Lima et al. (2008) realizaram um diagnóstico da exposição ocupacional
aos agrotóxicos na região de Pelotas, baseado em entrevistas espontâneas de
135 agricultores, identificaram que a atividade é desenvolvida em pequenas
propriedades, com mão de obra familiar; e os agrotóxicos são adquiridos sem
receituário agronômico, se destacando o uso do fungicida Carbendazin e o
inseticida Perfection, ambos não registrados para a cultura do pessegueiro.
A relevância do tema e o contingente de trabalhadores expostos são
um estímulo à pesquisa, fatores potencializados em um período em que ações
de implantação dos sistemas de produção integrada de frutas e indicação de
procedência do pessegueiro se apresentam.
4.4 Contaminação microbiológica
As boas práticas agrícolas são indispensáveis para a obtenção de uma
matéria prima de
qualidade,
principalmente do
ponto
de
vista
das
contaminações por produtos químicos e de natureza microbiológica. As
principais fontes de contaminação microbiológica são: uso inadequado de
esterco não curtido na adubação, a água de irrigação contaminada e as mãos
de manipuladores não adequadamente lavadas e limpas (CENCI, 2006).
Com o aumento do consumo de produtos frescos em busca da saúde,
tem-se maior atenção para a contaminação microbiológica, pois os alimentos in
natura estão sendo reconhecidos como emergentes veículos causadores
doenças de origem alimentar (HAVELAAR et al., 2010). A crescente
preocupação com a contaminação microbiológica de produtos frescos e de sua
relação com doenças transmitidas pelos alimentos tem sido indicada por vários
estudos de vigilância (JOHNSTON et al., 2006; LITTLE e GILLESPIE, 2008),
33
estes demonstram os desafios futuros relacionados à microbiologia dos
alimentos.
A Resolução RDC nº 12 (BRASIL, 2001) prevê padrões microbiológicos
para hortaliças e frutos frescos, in natura, preparadas (descascadas,
selecionadas ou fracionadas), sanificadas, refrigeradas ou congeladas, para o
consumo direto, com ausência em 25g para Salmonella sp. e máximo de 100
NMP.g-1 (NMP-Número Mais Provável) para Coliformes a 45°C.
A contaminação biológica pode ocorrer facilmente durante a etapa da
colheita quando o trabalhador entra em contato direto com o produto, além
disso, o ambiente físico é difícil de ser controlado e oferece muitas fontes
potenciais de contaminação, tais como o solo, a água, o ar, as mãos, os
recipientes (CENCI, 2006).
A água que se destina à irrigação de hortaliças que são consumidas
cruas e de frutas que sejam ingeridas cruas sem remoção de película, segundo
resolução do CONAMA n° 357, de março 2005, deve apresentar características
da classe um ou dois, não podendo exceder o limite de 200 e 1000 Coliformes
Termotolerantes por 100 mililitros, respectivamente.
A norma de qualidade da água destinada ao consumo humano,
estabelecida pela Portaria n.º 518, de 25 de março de 2004, estabelece como
padrão microbiológico para potabilidade da água, à ausência de Coliformes
Termotolerantes em 100 mL (Tabela 05) e define:
- Coliformes Totais (bactérias do grupo coliforme) - bacilos gramnegativos, aeróbios ou anaeróbios facultativos, não formadores de esporos,
oxidase-negativos, capazes de desenvolver na presença de sais biliares ou
agentes tensoativos que fermentam a lactose com produção de ácido, gás e
aldeído a 35,0 ± 0,5oC em 24-48 horas, e que podem apresentar atividade da
enzima ß-galactosidase. A maioria das bactérias do grupo coliforme pertence
aos gêneros Escherichia, Citrobacter, Klebsiella e Enterobacter, embora vários
outros gêneros e espécies pertençam ao grupo;
- Coliformes Termotolerantes - subgrupo das bactérias do grupo
coliforme que fermentam a lactose a 44,5 ± 0,2oC em 24 horas; tendo como
principal representante a Escherichia coli, de origem exclusivamente fecal,
considerada o mais específico indicador de contaminação fecal recente e de
eventual presença de organismos patogênicos (BRASIL, 2004).
34
Tabela 05. Padrão microbiológico de potabilidade da água para
consumo humano.
Água para consumo humano (2)
VMP (1)
Escherichia coli ou Coliformes
Termotolerantes (3)
Ausência em 100mL.
Água na saída do tratamento
VMP (1)
Coliformes Totais
Água tratada no sistema de distribuição
Ausência em 100mL.
VMP (1)
Escherichia coli ou Coliformes
Termotolerantes (3)
Coliformes Totais
Ausência em 100mL.
Sistemas que analisam 40 ou mais amostras por
mês: Ausência em 100ml em 95% das amostras
examinadas no mês;
Sistemas que analisam menos de 40 amostras por
mês: Apenas uma amostra poderá apresentar
mensalmente resultado positivo em 100 mL.
NOTAS: (1) Valor Máximo Permitido
(2) água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes individuais
como poços, minas, nascentes, dente outras.
(3) a detecção de Escherichia coli deve ser preferencialmente adotada. (BRASIL, 2004).
A redução da contaminação microbiana é importante já que ela diminui
a deterioração, melhorando a aparência e o valor nutritivo dos produtos
(CENCI, 2006). Durante e após a colheita, ocorrem muitas situações favoráveis
à contaminação e crescimento dos microorganismos, algumas dessas incluem
o manuseio inadequado, a contaminação cruzada, a temperatura inadequada,
provocando aumento na velocidade de respiração do produto e produção de
calor.
Contaminações
das
águas
destinadas
para
irrigação
e
para
higienização pessoal, de utensílios e superfícies, como microrganismos
patogênicos, podem comprometer a qualidade e a aceitação das frutas, pois
esta pode ser portadora de diversos microrganismos e bactérias entéricas, tais
como Salmonella spp. e Escherichia coli (LOPEZ et al., 2001; BAERT et al.,
2008). Utilização de água adequada e práticas higiênicas e sanitárias durante o
processo de produção, colheita, classificação e transporte têm um papel crítico
na minimização do potencial de contaminação microbiana.
35
4.5 Produção Integrada de Frutas
O mercado mundial, além da qualidade externa das frutas, passou a
exigir controle e registro sobre todo o sistema de produção, incluindo análises
de resíduos de agrotóxicos nas frutas e estudos sobre impacto ambiental da
atividade, ou seja, é necessário que se tenha rastreabilidade de toda a cadeia
produtiva (SANSAVINI, 1995; 2002; DECKERS, 2000), assegurando ao
consumidor transparência do sistema e do processo de produção.
A Produção Integrada de Frutas (PIF) é apontada como alternativa
para a produção de frutas de qualidade, pois utiliza práticas de manejo do solo
e da planta de forma integrada, procurando equacionar problemas através de
uma visão multidisciplinar e não na aplicação de práticas isoladas, como ocorre
com a agricultura convencional (FACHINELLO et al., 2001; 2003). Tibola et al.
(2007) citam que, entre as justificativas para a implantação da Produção
Integrada de Pêssego (PIP), está à ampliação da orientação dos agricultores
quanto ao manejo integrado de insetos praga e doenças, assim como quanto à
tecnologia de aplicação de agrotóxicos.
Este sistema de produção visa integrar técnicas como o monitoramento
de pragas, a análise foliar e de solo e utilização de estratégias como o controle
biológico e o controle sobre o tipo e o número de aplicações de agrotóxicos,
com foco em obter produtos com qualidade, passíveis de rastreabilidade e
oriundos de um processo produtivo eficiente, para esse fim, é priorizada a
redução do impacto ambiental e a melhoria na qualidade de vida das pessoas
envolvidas na atividade (TIBOLA et al., 2005).
O surgimento da PIF ocorreu efetivamente nos anos 70 (FACHINELLO,
1999; DECKERS, 2000), como uma extensão do “Manejo Integrado de Pragas”
(MIP) atendendo a necessidade de reduzir o uso de agroquímicos e de
preservar o ambiente.
36
Em 1989 estabeleceu-se um regulamento para PIF e este foi aceito e
reconhecido pela Organização Internacional de Controle Biológico (IOBC), que
define este sistema como;
“A produção econômica de frutas de alta qualidade, priorizando
o uso de métodos ecologicamente seguros que minimizam as
aplicações de agroquímicos, evitando os efeitos secundários
negativos desses produtos, o que promove a preservação do
meio ambiente e da saúde humana”.
[...] este regulamento norteia toda a base do sistema até os dias atuais
(SANHUEZA, 1999).
A primeira produção nacional de frutas, de acordo com o sistema de
Produção Integrada (PI) ocorreu em 1998, com a maçã nos municípios de
Vacaria, estado do Rio Grande do Sul e Fraiburgo, estado de Santa Catarina
(SANHUEZA, 2000). Já a Produção Integrada de Pêssego (PIP) iniciou no Rio
Grande do Sul em 1999 (FACHINELLO, 2001).
Segundo Kowata et al. (2011), atualmente, os trabalhos realizados com
a PIP estão direcionados aos aspectos técnicos, como a diferença entre a
intensidade de doenças
entre os sistemas integrado e convencional
(CHALLIOL et al., 2006; MAY-DE MIO et al., 2008), produtividade e
economicidade (FACHINELLO et al., 2005; 2011). Outros são os trabalhos
referentes à conformidade da PIP nas propriedades rurais e a aceitabilidade do
sistema por parte dos produtores (TIBOLA et al., 2007; KOWATA et al., 2011),
não tendo sido citadas avaliações relativas à contaminação residual na água,
na fruta e as condições de saúde dos trabalhadores.
Em análise da PIP no Paraná, Kowata et al. (2011) citam como pontos
de estrangulamento observados para adoção do sistema: a) a falta de um
técnico responsável fixo inteirado das normas da produção integrada; b)
ausência de benfeitorias obrigatórias na produção integrada, como abastecedor
e empacotadora; c) falta de treinamento dos produtores e funcionários.
Silva et al. (2011), ao analisar a massificação do sistema PIP, apontam
como fatores limitantes a sua implementação: a) pouco conhecimento sobre as
normas; b) a restrita lista de agrotóxicos registrados para utilização pela
cultura; c) e a falta de diferenciação e remuneração do pêssego produzido sob
as normas da Produção Integrada (PI). Os mesmos autores citam como pontos
positivos a identificação do aumento do interesse sobre a PIP por parte dos
37
produtores, com destaque para a identificação dos benefícios ambientais e de
proteção do produtor e a redução do uso de insumos externos (especialmente
agrotóxicos) e de operações de manejo do solo.
É importante salientar que neste sistema de produção (PIF) os
agrotóxicos fazem parte de uma estratégia de manejo integrado, sendo
utilizados em conjunto com o controle biológico, com a rotação de culturas e o
manejo de pragas. Porém, de maneira geral, os agrotóxicos são utilizados
como único método de controle, causando um impacto ambiental maior que o
desejado (LUCHINI, 2000). Além do risco inerente à toxidade do produto, a
vulnerabilidade de um indivíduo a um determinado agravo é determinada por
uma série de circunstâncias. Estas podem ser ordenadas em três ordens de
fatores (AYRES, 1997):
1) Fatores que dependem diretamente das
ações individuais,
configurando o comportamento do indivíduo, a partir de um determinado grau
de consciência que ele manifesta;
2) Que dizem respeito às ações comandadas pelo poder público,
iniciativa privada e agências da sociedade civil, no sentido de diminuir as
chances de ocorrência do agravo, e
3) Um conjunto de fatores sociais, que dizem respeito à estrutura
disponível de acesso a informações, financiamentos, serviços, bens culturais,
liberdade de expressão, etc.
Keifer (2000), em estudo sobre mudanças comportamentais a partir de
ações de conscientização em relação aos procedimentos de aplicação,
acondicionamento, preparo da calda, utilização de equipamentos de proteção
individual (EPI) e monitoramento biológico, identificou redução significativa no
risco de exposição à contaminação por agrotóxicos e alteração nos
procedimentos adotados no sistema de produção, após ações de identificação
de risco potencial
e orientações
sobre procedimentos
de aplicação,
comprovando a importância e utilidade do monitoramento.
Como etapa integrante e consequente da avaliação de risco ambiental,
o monitoramento pode ser ferramenta importante no gerenciamento de risco e
pode também ser planejado e executado em três fases: identificação do
problema; análise do risco; e caracterização do risco (SPADOTTO et al., 2004).
38
A legislação nacional trata da necessidade de comprovação da
eficiência agronômica, e das garantias da minimização dos perigos ao ser
humano (seja de caráter ocupacional, alimentar ou de saúde pública) e das
ameaças ao meio ambiente provenientes dos agrotóxicos. No entanto, é
necessário o monitoramento de uso nas condições do sistema de produção,
que é influenciado pelo nível de instrução do aplicador, pelos equipamentos
utilizados, bem como condições do ecossistema.
Organismos internacionais, responsáveis pelos estudos de impactos
ambientais, fundamentados na relação direta entre avaliação de risco por
substâncias químicas e o estabelecimento de regulamentos para tomada de
decisões em nível governamental, vêm estabelecendo programas que vis am
proteger a saúde humana e os efeitos indesejáveis ao ambiente (FINIZIO e
VILLA, 2002). Estudos de avaliação de risco fornecem resultados preliminares
que podem ser utilizados na tomada de decisões referentes ao seu
gerenciamento, levando em consideração valores sociais e culturais, realidades
econômicas e ecológicas.
O cultivo de pêssegos necessita uma série de atividades, que inclui
desde a manutenção do pomar, passando pela colheita, e o processamento
nas indústrias, até chegar à mesa do consumidor. No entanto, até o momento
não se tem um diagnóstico completo sobre a cultura, os trabalhos até então
realizados evidenciam a necessidade de maior detalhamento na caracterização
do perfil do persicultor, integrado às informações de contaminação ambiental,
dando atenção à saúde do trabalhador e diagnosticando as possíveis
contaminações dos frutos.
As informações geradas neste trabalho possibilitarão compreender os
riscos associados ao sistema de produção de pêssegos no que se refere à
contaminação, e referência para estabelecimento de ações práticas de
conscientização, podendo ser utilizado como referencial científico para
avaliação de risco em sistemas de Produção Integrada de Pêssegos.
39
5. OBJETIVOS
5.1 Objetivo geral
Avaliar a vulnerabilidade e o risco associados à contaminação das
frutas in natura e subprodutos de pêssegos quanto aos resíduos de agrotóxicos
e contaminação microbiológica na região de Pelotas/RS.
5.2 Objetivos específicos
- Caracterizar o perfil socioeconômico dos persicultores;
- Realizar um diagnóstico de exposição ocupacional aos agrotóxicos;
- Quantificar a atividade da enzima aceticolinesterase no sangue dos
agricultores;
- Quantificar a presença de resíduos de agrotóxicos nas frutas in
natura e processadas;
- Identificar a utilização de agrotóxicos sem registro nos órgãos
competentes;
- Quantificar a presença de resíduos de agrotóxicos na água utilizada
pelos agricultores nas atividades produtivas;
- Quantificar a contaminação microbiológica nos frutos in natura;
40
6. HIPÓTESE
O sistema de produção do pessegueiro apresenta vulnerabilidades e
situações de risco relacionadas à contaminação química e microbiológica do
ambiente, do produtor e do alimento.
7. MATERIAL E MÉTODOS
O procedimento adotado para delinear o estudo do risco de
contaminação e exposição aos agrotóxicos e a contaminação microbiológica na
cadeia produtiva do pessegueiro foi baseada na proposta da Organização
Mundial da Saúde (OMS), recomendada para investigação no campo da
Toxicologia Ocupacional (WHO; 1987) e adaptada para o projeto em questão,
sendo incluídos os seguintes procedimentos:
a) Aplicação
de questionário
para identificação da
exposição
ocupacional;
b) Levantamento de sinais e sintomas sugestivos de intoxicação por
agrotóxicos;
c) Coleta de amostras de sangue dos produtores, para mensuração
dos níveis de atividade da acetilcolinesterase eritrocitária;
d) Análise da presença de resíduos em frutos, água e conservas de
pêssego.
Sendo este um estudo exploratório-descritivo e qualitativo, utilizando
informações das entrevistas confrontadas com a análise direta do ambiente,
onde
se
busca
descrever
a
situação
atual
vulnerabilidades no sistema produtivo do pessegueiro.
e
identificar
possíveis
41
7.1 Seleção da amostra
O estudo foi realizado com uma amostra composta por 25 unidades
produtivas, sendo uma a estação experimental da Universidade Federal de
Pelotas, Campus Capão do Leão, e mais 24 agricultores no município de
Pelotas, Rio Grande do Sul, mais especificamente na principal colônia
produtora de pêssegos para processamento do País.
Como etapa preliminar, foi empregado o cadastro de agricultores que
participaram do projeto de implantação do sistema de Produção Integrada de
Frutas (PIF), estes fizeram parte da amostra, os demais participantes foram
selecionados a partir de uma série de critérios pré-estabelecidos sendo estes;
- Ser agricultor familiar (área de até quatro módulos fiscais);
- Desenvolver pessoalmente e com a sua família as atividades ligadas
ao processo produtivo;
- Exercer como atividade principal a fruticultura;
- Estar localizado no interior do município de Pelotas, especificamente
entre os municípios de Morro Redondo, Canguçu e Arroio do Padre,
participantes da mesma microbacia hidrográfica BH 04- Bacia Pelotas (Anexo
01). A localização de cada unidade produtiva foi georreferenciada com o auxílio
de um localizador por satélite (Global Positioning System - GPS).
De acordo com o método adotado, não objetiva-se fazer um
levantamento da importância da fruticultura na região, bem como as
informações obtidas não compreendem uma base de dados com foco no
detalhamento da atividade, sendo assim não se trabalha com amostras
totalmente aleatórias (utilizadas com objetivo de assegurar representatividade).
Foram utilizadas amostras dirigidas ao público alvo (fruticultores familiares
tradicionais) onde se pretende identificar a diversidade de produtores e
compreender as demandas unificantes para o processo de desenvolvimento
sustentado do setor, sendo um estudo de múltiplos casos.
42
Os indivíduos selecionados foram convidados a participar de maneira
voluntária e receberam orientação sobre os objetivos do projeto bem como
procedimentos, riscos e benefícios conforme termo de consentimento aprovado
no comitê de ética da Universidade Federal de Pelotas (Apêndice 01). Todos
os convidados atenderam ao convite para responder o questionário de
exposição ocupacional, disponibilizaram amostras de frutas e água. Os
mesmos foram convidados a coletar amostra de sangue para estudo
bioquímico, junto ao Hospital Escola UFPel/FAO com adesão voluntária de 21
trabalhadores.
As entrevistas foram realizadas entre dezembro de 2010 e janeiro de
2011, na mesma ocasião foram coletadas amostras de fruto e água relativas à
safra 2010/11, sendo repetida a coleta de mostras na safra 2011/12 no mesmo
período. Todos os agricultores (n: 21) coletaram amostra de sangue entre
janeiro e fevereiro de 2011, período que coincide com o final da aplicação de
agrotóxicos da safra 2010/11. A realização desta avaliação foi previamente
aprovada no conselho de ética da Universidade Federal de Pelotas, em
Novembro de 2010.
O estudo da permanência dos resíduos de agrotóxicos em conservas
de pêssego foi realizado a partir de amostras adquiridas no mercado local,
buscando analisar as principais indústrias processadoras da fruta na região.
Foram avaliadas amostras de 13 (treze) empresas responsáveis pelo
enlatamento de aproximadamente 95% do total de pêssegos em calda.
As conservas selecionadas para análise foram processadas entre os
meses de dezembro e janeiro para ambas as safras, tendo sido avaliadas
amostras de pêssego em calda, apresentadas em metades, acondicionadas
em latas de metal, uma das marcas foi analisada também em relação à polpa
concentrada de pêssego 30/32º Brix. Uma das marcas foi avaliada somente na
safra 2010/11 devido à indisponibilidade de amostras na safra 2011/12.
43
7.2 Caracterização da exposição ocupacional
Foram aplicados questionários semi estruturados em agricultores do
município de Pelotas-RS (24 famílias), através de entrevistas “in loco” para a
coleta de dados primários, buscando entrevistar todos os agricultores ligados
ao projeto de Produção Integrada de Pêssegos (PIP).
Para traçar o perfil do aplicador, foram coletadas informações contendo
questões que podem ser subdivididas em seis grupos.
- Características do entrevistado: sexo, idade, nível de escolaridade e
relação sociais;
- Dados da propriedade rural onde o trabalhador exerce sua atividade:
área cultivada, variedade e número de plantas cultivadas;
- Principais culturas ou atividades geradoras de renda;
- Informações sobre o cultivo;
- Orientações técnicas e produtos mais utilizados;
- Exposição ocupacional, utilização de equipamento de proteção
individual e histórico de intoxicações.
Os entrevistados foram informados sobre o tema e os compromissos
éticos da pesquisa, sendo que o consentimento verbal dos entrevistados foi um
requisito para a realização da entrevista. As entrevistas foram realizadas no
local de trabalho (pomar) e duraram em média 60 minutos.
As informações geradas foram agregadas de forma a estabelecer a
tipologia dos produtores e sistemas de produção.
44
7.3 Análise de sangue
A contaminação sanguínea foi estimada de forma indireta através da
análise da atividade enzimática da Acetilcolinesterase Eritrocitária (AChE). A
coleta e o exame foram realizados pelo Hospital Escola da Fundação de Apoio
Universitário - FAO.
A metodologia utilizada foi desenvolvida e validada pelo Álvaro Centro
de Análises e Pesquisas Clínicas, através do método colorimétrico com
acetilcolina após hemólise em meio hipotônico, em sangue total com EDTA.
Foi estimada a ação tóxica dos organofosforados e carbamatos que se
caracteriza pela inibição de enzimas, especialmente as acetilcolinesterases,
causando o acúmulo da acetilcolina nas sinapses nervosas e desencadeando
uma série de efeitos parassimpaticomiméticos. A redução da atividade da
enzimática (AChE) em 30% em relação ao período pré-exposição ou abaixo do
valor de referência (2,77 U/mL), combinados ao exame sintomatológico foram
considerados indicadores de contaminação por agrotóxicos nos noventa dias
anteriores a coleta de sangue.
7.4 Frutas utilizadas para análise
Foram coletadas amostras de frutas para as análises multiresíduo de
agrotóxicos e contaminação microbiológica em cada uma das 25 unidades
estudadas, durante o período da colheita, mais especificamente variedades
tardias (maturação entre dezembro e janeiro), na safra 2010/11 e 2011/12.
Com o auxílio de luvas, foram coletadas duas amostras de dois
quilogramas (aproximadamente 25 frutos) de pêssego, no momento da
colheita. Estas foram colocadas em saco plástico transparente, com feixe
45
hermético, devidamente etiquetado e acondicionado em caixa de isopor
contendo gelo.
Uma das amostras foi imediatamente encaminhada para o laboratório
de análise multiresíduo (resíduos de agrotóxicos), para identificar os princípios
ativos que permanecem na polpa. A segunda amostra foi utilizada como
contraprova no primeiro ano (2010/11) e para avaliação da contaminação
microbiológica dos frutos na segunda safra (2011/12) quando foi analisada
quanto ao número mais provável de Coliformes Fecais e Coliformes Totais.
7.5 Água utilizada para análise
As coletas de água foram realizadas nos pontos de captação de cada
uma das 25 propriedades, no período que coincide com o final da aplicação de
agrotóxicos (entre dezembro e janeiro em ambas as safras), obtendo-se
prioritariamente amostras que representavam a contaminação nos pontos de
captação de água utilizada na aplicação de agrotóxicos, sendo o ponto de
coleta dependente da realidade de cada local, dando preferência a seguinte
ordem: abastecedor – mangueira utilizada no abastecimento do pulverizador –
fonte – açude - riacho.
As amostras de dois litros de água foram coletadas diretamente em
frascos de vidro de cor âmbar (1L cada), acondicionadas em uma caixa térmica
com gelo e encaminhadas para a análise no Laboratório de Análise de
Resíduos.
No primeiro ano de avaliação (safra 2010/11), foram coletadas também
duas amostras de 100 ml e enviadas para análise na Universidade Federal do
Rio Grande - FURG, onde foi realisada avaliação microbiológica através da
determinação da contaminação por Coliformes Totais e Fecais conforme tabela
do número mais provável (NMP.g-1).
No segundo ano (safra 2011/12), as amostras de 100 ml de água foram
enviadas para a empresa Bioensaios, onde a contaminação microbiológica foi
analisada quanto à presença de Coliformes Totais e ao número mais provável
de Coliformes Fecais.
46
Determinação do NMP.g-1 de Coliformes Totais e Escherichia Coli
foram realizadas pelo método de substrato enzimático, na faixa: 1 a 2419,6
NMP.g-1 (Standard Methods For The Examination Of Water And Wastewater
(SMEWW) 21º ed. 2005, Método: 9223 A e B). A determinação de Coliformes
Termotolerantes (Presença e Ausência) foi realizada pelo método SMEWW
9221E (Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater, 21st
Edition 2005).
7.6 Análise de resíduos de agrotóxicos
A análise residual de agrotóxicos foi realizada em Laboratório oficial
credenciado
pelo
Programa
Nacional
de
Controle
de
Resíduos
e
Contaminantes (PNCRC/VEGETAL), conforme Instrução Normativa Nº 21, de
30 de junho de 2009, denominado BIOENSAIOS - análises e consultoria
ambiental.
As técnicas utilizadas incluem a Cromatografia Gasosa com Detecção
Espectrométrica de Massa (GC-MS) e a cromatografia líquida acoplada à
espectrometria de massa sequencial (LC-MS/MS). Foi realizada a quantificação
de resíduos através do método multiresíduo de análise química, MiniMultiresidue-Method (QuEChERS) (ANASTASSIADES et al., 2003).
Sendo avaliados 224 parâmetros para contaminação de frutos frescos
ou processados e 447 parâmetros para contaminação de água (Anexo 02).
47
8. RESULTADOS E DISCUSSÃO
8.1 Principais características da amostra estudada
Os dados obtidos nas entrevistas resultaram na caracterização do
agricultor ligado à atividade frutícola, a média de idade entre os entrevistados
foi de 41,52 anos com variação de 24 a 63 (Figura 03). Lima et al. (2008)
estudaram o perfil dos produtores de Pelotas e classificaram os entrevistados
segundo a faixa etária, no qual 37% tinham até 40 anos e 51,15% tinham entre
41 e 60 anos.
Desta forma, não se confirma uma característica marcante em outros
estudos sobre o meio rural, que é o envelhecimento da população do campo
conforme citado por Froehlich et al. (2011), que identificam um êxodo seletivo
com masculinização e envelhecimento da população rural na região central do
Rio grande do Sul.
* Os nomes dos agricultores foram substituídos por algarismos numéricos de um a vinte e cinco.
Figura 02. Perfil etário dos persicultores pertencentes à amostra estudada.
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
Já a escolaridade pode ser considerada baixa, 66% cursaram apenas o
primeiro grau incompleto (menos de oito anos) e 12,5% tem o primeiro grau
48
completo (oito anos), podendo significar dificuldades para a compreensão das
bulas dos agrotóxicos, bem como para o registro das aplicações e o controle
necessário para a rastreabilidade do processo produtivo. O perfil dos
persicultores na região de Bento Gonçalves, segundo estudo de Faria et al.
(2008) apresentou características similares aos que compuseram a amostra
estudada, com idade média de 38,5 anos, e escolaridade média de 6,8 anos.
No entanto, 39,7% dos agricultores tinham escolaridade igual ou superior ao
primeiro grau completo, sendo esta identificada como um fator diferencial entre
os grupos estudados.
A área média das propriedades pesquisadas é de 24,1 hectares (6,5 a
70 ha) sendo todas áreas próprias ou sociedades familiares, confirmando os
valores encontrados por Lima et al. (2008), onde 74% dos fruticultores são
proprietários de até 20 ha e 20% tem de 20 a 50 há. Também há concordância
com os estudos anteriores realizados por Fehlberg et al. (2001), nos quais a
média das propriedades na zona rural de Pelotas era de 19 ha, e com os dados
encontrados por Faria et al. (2008) tendo área média de 18,4 hectares para o
caso dos persicultores de Bento Gonçalves.
As famílias manejam em média 6200 plantas, tendo sido citadas 29
cultivares diferentes de pessegueiro, Silva et al. (2011) em estudo sobre a
apropriação tecnológica da PIP na região de Pelotas, descreve o uso de 24
cultivares com área média de 7,8 ha, destacando o grande número de
variedades implantadas. Tal diversidade é importante para redução da
alternância de produção, no entanto pode ser um dificultador para ações de
manejo adequado a cada cultivar, devido às diferenças relativas à época de
floração, desenvolvimento vegetativo, resistência a doenças sendo, em geral,
adotado o mesmo manejo para todas as cultivares independente de suas
particularidades.
No que se refere à adoção do Sistema de Produção Integrada de
Pêssegos (PIP), 52% dizem participar do grupo de produtores que aderem ao
“PIP” (apesar de não certificada), através da participação em atividades de
capacitação e adoção das normas estabelecidas, apenas um dos entrevistados
desconhece o sistema de produção (Figura 03). Silva et al. (2011) identificaram
elevado percentual de agricultores com informações acerca da PIP (95%), e
citam esta informação como evidência de que há difusão da informação,
49
indicando que as ações institucionais estão sendo eficientes no que tange à
popularização dos conceitos e conhecimento gerado.
Figura 03. Percentagem dos agricultores que se declaram praticantes da
Produção Integrada de Pêssegos (PIP). FAEM/UFPel, Pelotas-RS,
2012.
8.2 Exposição ocupacional
Os pulverizadores costais ainda são utilizados como equipamento
principal por 13% dos agricultores, e dos 87% restantes (atividade tratorizada)
29% utiliza mangueira com “caneta” (Figura 04), que somados aos que utilizam
equipamentos costais configuram 42% dos agricultores em condição de
vulnerabilidade, devido ao alto risco de contaminação durante a utilização
destes equipamentos para pulverização contínua em áreas de plantio
comercial.
Em Bento Gonçalves, a tecnologia de aplicação utilizada pelos
fruticultores é caracterizada pela utilização equipamento tratorizado por 86,8%
das unidades produtiva, destes 43,8% utiliza mangueira (“caneta”), 13,2%
realizam aplicação com pulverizador costal (FARIA et al., 2008), se
assemelhando significativamente com as informações encontradas.
50
Montado/autopropelido
“Caneta”/turbina
Figura 04. Equipamento utilizado na aplicação de agrotóxicos; aplicador costal
(manual), canhão de ar (turbina) ou barra de pulverização (“caneta”) –
(tratorizado). FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
Os equipamentos utilizados na aplicação dos agrotóxicos devem ser
calibrados periodicamente devido ao desgaste natural de alguns componentes,
como os bicos, ou em função de perda da calibração devido ao uso nas
condições de campo, no entanto apenas 35% dos entrevistados declaram ter
realizado calibração dos equipamentos no último ano, tendo sido orientados
por profissionais do SEBRAE, da EMATER, de vendedores ou por conta
própria após participar de cursos sobre o tema.
A tecnologia de aplicação não se resume a escolha do produto ou ao
ato de aplicação, sua eficiência é resultado da interação entre fatores como
praga, planta invasora, equipamento, manejo da planta e ambiente, onde se
busca o controle eficiente, com custo baixo e mínima contaminação ambiental.
Entretanto 35% dos agricultores (Figura 05) nunca realizaram calibração, fato
que pode contribuir para o uso de superdosagem, com aumento de risco de
contaminação ambiental.
51
Figura 05. Última calibração do pulverizador utilizado na aplicação de
agrotóxicos. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
O abastecimento e a limpeza dos equipamentos utilizados para
aplicação de agrotóxicos devem ser realizados em local próprio, para que os
resíduos não venham a poluir fontes e mananciais de água, sendo proibida a
captação de água diretamente em cursos de água com os equipamentos de
aplicação. No entanto 56% (14) dos entrevistados não dispõem de abastecedor
adequado, coletando diretamente na fonte de água, em cacimbas, açudes e
poços, sendo que em 40% (10) dos casos o ponto de abastecimento do
pulverizador também serve como fonte de água para o consumo (Tabela 06).
52
Tabela 06. Disponibilidade de abastecedor, origem da água e utilização para o
consumo. FAEM/UFPel, Pelotas/RS, 2012.
Agricultor
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Possui abastecedor
Sim
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Sim
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Não
Sim
Não
Sim
Sim
Não
Não
Sim
Não
Não
Sim
Sim
Água utilizada
Cacimba
Arroio
Cacimba
Cacimba
Fonte
Fonte
Fonte
Fonte
Poço
Cacimba
Poço
Açude
Fonte
Arroio
Arroio
Fonte
Cacimba
Cacimba
Cacimba
Cacimba
Cacimba
Açude
Cacimba
Cacimba
Poço
Consome a água
Não
Não
Sim
Sim*
Não
Sim
Não
Sim*
Sim*
Sim*
Sim*
Sim*
Sim*
Não
Não
Não
Sim
Sim
Sim*
Sim*
Sim
Não
Sim*
Não
Sim
*Unidades produtivas em que o ponto de abastecimento do pulverizador serve também como
fonte de água para o consumo.
Com a função básica de proteção do corpo do trabalhador rural, os
EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) são ferramentas de trabalho e seu
uso é obrigatório, 60% (15) dos entrevistados declaram utilizar EPI, no entanto
mesmo estes reconhecem não utilizá-lo de forma completa, e 40% citam utilizar
de forma combinada botas (14,6%), calça (11,42%), boné ou chapéu (14,5%)
luvas (2,8%), máscara (2,8%). Faria et al. (2008) relatam que 94% dos
agricultores usam sempre o EPI, estes também declaram não utilizar o
equipamento completo como o uso de máscara de proteção em 94% dos
casos.
Em estudo da conformidade na adoção das normas de produção
integrada de pêssego observaram-se variadas situações quanto à utilização de
53
equipamentos de proteção individual (EPI); porém, na maioria das situações, o
uso foi incorreto e/ou incompleto e falta de local apropriado para abastecimento
(TIBOLA et al., 2007). Também foi identificada a falta de rotina de aferição dos
equipamentos para aplicação de agrotóxicos, a qual, em muitos casos, nunca
foi realizada.
O uso de EPI (mesmo que incompleto) é difícil de ser confirmado,
sendo assim considera-se significativa a adesão de proteção em Bento
Gonçalves e baixa adesão do público estudado em Pelotas, contudo cabe
salientar que, para ambos os casos, os intervalos de reentrada no pomar (para
atividades de poda e raleio) não são respeitados tornando a exposição dérmica
um fator de alto risco para ambos os locais.
A confirmação da exposição ocupacional aos agrotóxicos se evidencia
ao analisar o histórico dos agricultores, tendo sido citados diferentes sintomas
como relacionados à contaminação aguda, inclusive com três casos de
internação hospitalar (Figura 06). Sintomas como problemas oculares, cefaléia,
tonteiras e problemas dermatológicos são citados como característicos.
Trabalhos realizados para avaliar os níveis de contaminação ocupacional por
agrotóxicos em áreas rurais brasileiras têm mostrado níveis de contaminação
humana que variam de 3 a 23% (GONZAGA et al., 1992; FARIA et al., 2000;
FARIA et al., 2006; ARAUJO et al., 2007; FARIA et al., 2008).
Figura 06. Histórico de sintomas associados a intoxicações por agrotóxicos,
relatados pela amostra estudada. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
54
Em associação aos sintomas relatados de intoxicação por agrotóxicos
foram
realizados
exames
laboratoriais
para
análise
da
atividade
colinesterásica, onde 9,5% (2) do total de exames realizados (21) evidenciaram
atividade da “AChE” no limite mínimo (Figura 07). O ponto de corte considerado
foi de 2,77 U/mL em sangue total com EDTA, de acordo com os valores de
referência indicados pelo laboratório, devido a impossibilidade de estabelecer
valores de referência baseados no período de pré-exposição aos agrotóxicos.
Atividade da AChE (Acetilcolinesterase Eritrocitária)
Atividade enzimática (U/mL)
Resultado*
5
4
4,01
3,74
3,15
3,35
3,67
3,95
3,96
3,73
3,62
3,26 3,12
3,18
2,77
3
3,95
3,69
3,58 3,68
4,25
3,57
3,22
2,76
2
1
-
-
-
-
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25
Paciente
Figura 07. Atividade colinesterásica eritrocitária em sangue total com EDTA.
*Valor de referência AChE: 2,77 a 5,57. FAEM/UFPel, Pelotas-RS,
2012.
A utilização de equipamentos inapropriados como o pulverizador costal
e/ou de alto risco como a mangueira com “caneta” (Figura 04) para a
pulverização frequente em áreas comerciais, combinado à falta de proteção
adequada da pele e das vias respiratórias, pode estar associada aos sintomas
de intoxicação descritos pelos agricultores (Figura 06) e à redução na atividade
da “AChE” (Figura 07).
O monitoramento de pragas permite a realização das pulverizações (e
a seleção dos produtos adequados) baseada no nível de dano econômico, para
que sua execução ocorra de forma eficiente é demandada orientação técnica e
acompanhamento dos agricultores. Cerca de 25% dos entrevistados dizem não
receber nenhuma orientação técnica para o uso de agrotóxicos, fato
identificado em trabalhos que citam a falta de assistência técnica entre os
motivos da não aderência ao sistema de PIP (SILVA et al., 2011).
Foram citadas apenas cinco empresas como fornecedoras dos
agrotóxicos utilizados (Agropel Ltda., Semear Comércio e Representações de
55
Produtos
Agropecuários
Ltda.,
Plantécnica
Soluções
Agrícolas
Ltda.,
Agroplanta-Comércio e Representações Ltda., Agro Müller Produtos Agrícolas
Ltda.). Estas empresas contam com uma equipe técnica insuficiente para o
atendimento e orientação a campo conforme demanda o manejo integrado de
pragas. No total são sete engenheiros agrônomos citados como responsáveis
pela assistência técnica e visitação de propriedades, sendo que algumas
realizam somente atendimento de balcão, Lima et al. (2008) também
identificaram que a aquisição dos agrotóxicos é feita junto às lojas
credenciadas, porém, sem receituário agronômico.
Entre os agrotóxicos utilizados no controle de pragas, doenças e
plantas concorrentes, destaca-se a utilização de produtos não registrados para
a cultura do pessegueiro, fato já identificado em outros trabalhos, como em
Lima et al. (2008) onde o Carbendazin é utilizado por 88,2% dos entrevistados
e o inseticida Perfekthion usado por 64,5%. Na amostra estudada os
agrotóxicos mais citados de acordo com a classe foram:
Inseticidas:
Malathion
(malationa-organofosforado),
Perfektion
(dimetoato-organofosforado) não recomendado para a cultura, Agritoato
(dimetoato-organofosforado)
não
recomendado
para
a
cultura,
Decis
(deltametrina-piretróide).
Fungicidas:
Folicur
(tebuconazol-triazol),
Manzate
(mancozebe
alquilenobis-ditiocarbamato), Derosal (carbendazin (benzimidazol) + tiram
(dimetilditiocarbamato)) não recomendado para a cultura.
Herbicidas: Roundup (glifosato-glicina substituída), Glifosato (glifosatoglicina substituída), Trop (glifosato-glicina substituída).
56
8.3 Resíduos de agrotóxicos nas frutas in natura e processadas
O número total de ingredientes ativos encontrados nas amostras de
frutas in natura, coletadas durante as duas safras (2010/11 e 2011/12) foi de
treze (Figura 08), oito inseticidas e cinco fungicidas, dos quais quatro
elementos encontrados não são permitidos para a cultura e somente seis
permitidos na PIP, conforme segue (Grafia internacional):
- Carbendazin – Fungicida – Não permitido para cultura;
- Cyproconazole – Fungicida – Permitido na PIP;
- Difenoconazole – Fungicida – Permitido para cultura;
- Dimethoate – Inseticida/acaricida – Não permitido para a cultura;
- Dithiocarbamates - Fungicida – Permitido na PIP;
- Famoxadone – Fungicida – Permitido para cultura;
- Lambda cyhalothrin – Inseticida - Não permitido para a cultura;
- Malaoxon (metabólito de Malathion) – Inseticida – Permitido na PIP;
- Malathion – Inseticida – Permitido na PIP;
- Phosmet – Inseticida – Permitido na PIP;
- Thiophanate methyl - Fungicida – Permitido para cultura;
- Tebuconazole – Fungicida – Permitido na PIP;
- Trifloxystrobin - Fungicida - Não permitido para a cultura.
Obs.: Os dithiocarbamates constituem um grupo de fungicidas que são
determinados analiticamente por um metabolito comum, por isso não é possível
determinar qual substância em particular foi aplicada. Desta forma, os
resultados referem-se ao conjunto dos ditiocarbamatos.
Na Tabela 07, estão agrupadas informações relativas à classificação
toxicológica e ambiental, bem como à classe e às marcas comerciais
associadas a cada ingrediente ativo detectado na amostra analisada.
57
Tabela 07. O nome comum, a marca comercial, o ingrediente ativo, a classe, a classificação toxicológica e ambiental dos resíduos
encontrados nas amostras de fruto. FAEM/UFPel, Pelotas/RS, 2012.
Nome Comum
Marca Comercial
CYPROCONAZOLE Adante
Alto 100
Aproach Prima
Artea
Burgon
Cypress 400 EC
Fagot
Priori-Xtra
Sphere Max
Verdadero 20 GR
Verdadero 600
DIFENOCONAZOLE Amistartop
Ingrediente Ativo
(Grupo Químico)
ciproconazol (triazol) + tiametoxam
(neonicotinóide)
ciproconazol (triazol)
ciproconazol (triazol) + picoxistrobina
(estrobilurina)
ciproconazol (triazol) + propiconazol
(triazol)
ciproconazol (triazol) + propiconazol
(triazol)
ciproconazol (triazol) + difenoconazol
(triazol)
ciproconazol (triazol) + trifloxistrobina
(estrobilurina)
azoxistrobina (estrobilurina) +
ciproconazol (triazol)
ciproconazol (triazol) + trifloxistrobina
(estrobilurina)
ciproconazol (triazol) + tiametoxam
(neonicotinóide)
ciproconazol (triazol) + tiametoxam
(neonicotinóide)
azoxistrobina (estrobilurina) +
difenoconazol (triazol)
Classe
Classificação Classificação
toxicológica
ambiental
fungicida
III
II
fungicida
fungicida
III
III
II
II
fungicida
I
II
fungicida
I
II
fungicida
I
II
fungicida
I
II
fungicida
III
II
fungicida
III
II
fungicida
IV
II
inseticida
III
II
fungicida
III
II
58
Celest XL
DIMETHOATE
FAMOXADONE
MALATHION
difenoconazol (triazol) + fludioxonil
(fenilpirrol)
Cypress 400 EC
ciproconazol (triazol) + difenoconazol
(triazol)
Difenohelm
difenoconazol (triazol)
Flare
difenoconazol (triazol)
Prisma
difenoconazol (triazol)
Score
difenoconazol (triazol)
Spectro
difenoconazol (triazol)
Taspa
difenoconazol (triazol) + propiconazol
(triazol)
Agritoato 400
dimetoato (organofosforado)
Dimetoato CE
dimetoato (organofosforado)
Dimetoato 500 EC Nortox dimetoato (organofosforado)
Dimexion
dimetoato (organofosforado)
Perfekthion
dimetoato (organofosforado)
Tiomet 400 CE
dimetoato (organofosforado)
Equation
cimoxanil (acetamida) + famoxadona
(oxazolidinadiona)
Graster
famoxadona (oxazolidinadiona) +
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
Midas BR
famoxadona (oxazolidinadiona) +
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
Expurgran
malationa (organofosforado)
Formidion Pó
malationa (organofosforado)
Malathion Prentiss
malationa (organofosforado)
Malathion UL Cheminova malationa (organofosforado)
fungicida
III
III
fungicida
I
II
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
I
I
I
I
III
I
II
II
II
II
II
II
acaricida
inseticida
inseticida
inseticida
inseticida
inseticida
fungicida
II
I
I
I
I
I
III
II
II
II
II
II
II
II
fungicida
I
II
fungicida
I
II
inseticida
inseticida
inseticida
inseticida
IV
III
III
III
III
III
III
II
59
PHOSMET
TEBUCONAZOLE
Malathion 1000 EC
Cheminova
Malathion 20
Malathion 440 EW
Malathion 500 CE Sultox
Imidan 500WP
Alterne
Array 200EC
Constant
Egan
Elite
Folicur EC
Folicur PM
Folicur 200 EC
Horizon duo
Icarus 250 EC
Konazol 200 EC
Nativo
Odim 430 SC
Orius 250 EC
Raxil FS
Rival 200 EC
Riza 200 EC
Solist 430 SC
Systemic
Tacora 250 EW
Tebuco Nortox
Tebuconazole norox
malationa (organofosforado)
inseticida
I
II
malationa (organofosforado)
malationa (organofosforado)
malationa (organofosforado)
fosmete (organofosforado)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
inseticida
inseticida
inseticida
inseticida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
III
III
III
I
III
I
III
I
III
III
III
III
I
I
I
III
III
III
II
I
I
III
I
I
I
I
III
II
III
III
II
II
I
II
II
III
II
II
II
II
II
III
III
III
II
II
III
II
II
II
II
60
Tebuconazole norox 200
EC
Tebuconazole terragro
Tebfort
Tebuhelm
Tebuzim 250 SC
THIOPHANATE
METHYL
Tebuzol 200 EC
Triade
Brisa WG
Capo WG
Celeiro
Cercobin 500 SC
Cercobin 700 WP
Cerconil SC
Cerconil WP
Certeza
Dithiobin 780 WP
tebuconazol (triazol)
fungicida
I
II
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
carbendazim (benzimidazol) +
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
tebuconazol (triazol)
clorotalonil (isoftalonitrila) + tiofanatometílico (benzimidazol (precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
flutriafol (triazol) + tiofanato-metílico
(benzimidazol (precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
clorotalonil (isoftalonitrila) + tiofanatometílico (benzimidazol (precursor de))
clorotalonil (isoftalonitrila) + tiofanatometílico (benzimidazol (precursor de))
fluazinam (fenilpiridinilamina) +
tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato)) + tiofanato-metílico
(benzimidazol (precursor de))
fungicida
fungicida
fungicida
fungicida
I
I
I
III
II
II
II
II
fungicida
fungicida
fungicida
I
III
I
II
II
II
fungicida
I
III
fungicida
III
III
fungicida
II
III
fungicida
I
II
fungicida
III
II
fungicida
I
II
fungicida
I
II
fungicida
III
II
61
Estrela 500 C
Fianco SC
Fiera WG
Fungiscan 700 WP
Impacto duo
Metiltiofan
Mofotil
Pomme
Protectin
Spring WG
Support
Support WG
Tidy 700
Tiofanato Sanachem 500
SC
Tiofanil
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
flutriafol (triazol) + tiofanato-metílico
(benzimidazol (precursor de))
tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
tiofanato-metílico (benzimidazol)
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
clorotalonil (isoftalonitrila) + tiofanatometílico (benzimidazol (precursor de))
fungicida
III
III
fungicida
IV
III
fungicida
I
III
fungicida
IV
III
fungicida
III
III
fungicida
III
III
fungicida
III
III
fungicida
III
III
fungicida
III
III
fungicida
I
III
fungicida
fungicida
IV
I
III
III
fungicida
IV
II
fungicida
IV
III
fungicida
I
II
62
Vincitore WG
Viper 500 SC
Viper 700
TRIFLOXYSTROBIN Fagot
Flint 500 WG
Fox
Nativo
Sphere Max
Stratego 250 EC
METIRAM
Cabrio Top
Polyram DF
PROPINEB
Antrocol 700 WP
Positrom Duo
MANCOZEB
Academic
Acrobat MZ
clorotalonil (isoftalonitrila) + tiofanatometílico (benzimidazol (precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
Tiofanato-metílico (benzimidazol
(precursor de))
ciproconazol (triazol) + trifloxistrobina
(estrobilurina)
trifloxistrobina (estrobilurina)
Protioconazol (Triazolinthione) +
trifloxistrobina (estrobilurina)
tebuconazol (triazol) + trifloxistrobina
(estrobilurina)
ciproconazol (triazol) + trifloxistrobina
(estrobilurina)
propiconazol (triazol) + trifloxistrobina
(estrobilurina)
metiram (alquilenobis (ditiocarbamato))
+ piraclostrobina (estrobilurina)
metiram (alquilenobis
(ditiocarbamato))
propinebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
iprovalicarbe (carbamato) + propinebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
cimoxanil (acetamida) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
dimetomorfe (morfolina) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
fungicida
I
II
fungicida
IV
III
fungicida
IV
III
fungicida
I
II
fungicida
fungicida
III
I
II
II
fungicida
III
II
fungicida
III
II
fungicida
II
II
fungicida
III
II
fungicida
III
III
fungicida
II
IV
fungicida
III
II
fungicida
II
III
fungicida
II
II
63
Cimox WP Helm
Cuprozeb
Curathane
Curathane SC
Curzate BR
Dithane NT
Dithane NT WG
Dithane WG NT
Dithiobin 780 WP
Eleve
Emzeb 800 WP
Fortuna 800 WP
Galben-M
Graster
cimoxanil (acetamida) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato)) + oxicloreto de cobre
(inorgânico)
cimoxanil (acetamida) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
cimoxanil (acetamida) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
cimoxanil (acetamida) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato)) + tiofanato-metílico
(benzimidazol)
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
benalaxil (acilalaninato) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
famoxadona (oxazolidinadiona) +
mancozebe (alquilenobis
fungicida
I
III
fungicida
IV
II
fungicida
III
III
fungicida
III
III
fungicida
III
III
fungicida
I
II
fungicida
I
III
fungicida
I
III
fungicida
III
II
fungicida
II
III
fungicida
I
I
fungicida
III
III
fungicida
I
II
fungicida
I
II
64
Mancozeb BR
Mancozeb Sipcam
Manzate WG
Manzate 800
Micene
Midas BR
Penncozeb WG
Penncozeb 800 WP
Persist SC
Ridomil Gold MZ
Space
Stimo
Stimo WP
ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
cimoxanil (acetamida) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
famoxadona (oxazolidinadiona) +
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
cimoxanil (acetamida) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato)) + zoxamida
(benzamida)
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato)) + zoxamida
(benzamida)
fungicida
II
II
fungicida
III
II
fungicida
I
II
fungicida
I
II
fungicida
II
III
fungicida
I
II
fungicida
I
III
fungicida
IV
III
fungicida
III
III
fungicida
III
II
fungicida
III
III
fungicida
I
II
fungicida
III
II
65
Tairel M
Trecatol
Triziman WG
Unizeb 800 WP
Vondozeb 800 WP
THIRAM
Anchor SC
Derosal Plus
Rhodiauram SC
Vitavax Thiram 200 SC
Vitavax-Thiram WP
LAMBDA
Actelliclambda
Ampligo
Brasão
Eforia
Engeo Pleno
Karate Zeon 250 CS
Karate Zeon 50 CS
benalaxil (acilalaninato) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
benalaxil (acilalaninato) + mancozebe
(alquilenobis (ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
mancozebe (alquilenobis
(ditiocarbamato))
carboxina (carboxanilida) + tiram
(dimetilditiocarbamato)
carbendazim (benzimidazol) + tiram
(dimetilditiocarbamato)
tiram (dimetilditiocarbamato)
carboxina (carboxanilida) + tiram
(dimetilditiocarbamato)
carboxina (carboxanilida) + tiram
(dimetilditiocarbamato)
lambda-cialotrina (piretróide)
chlorantraniliprole (antranilamida) +
lambda-cialotrina (piretróide)
lambda-cialotrina (piretróide)
lambda-cialotrina (piretróide) +
tiametoxam (neonicotinóide)
lambda-cialotrina (piretróide) +
tiametoxam (neonicotinóide)
lambda-cialotrina (piretróide)
lambda-cialotrina (piretróide)
fungicida
I
II
fungicida
I
II
fungicida
IV
III
fungicida
I
III
fungicida
I
III
fungicida
III
II
fungicida
III
II
fungicida
fungicida
III
I
I
II
fungicida
III
II
inseticida
inseticida
III
II
II
I
inseticida
inseticida
II
III
II
I
inseticida
III
I
inseticida
inseticida
III
III
I
II
66
Lambda Cialotrina CCAB
50 EC
Platinum Neo
lambda-cialotrina (piretróide)
lambda-cialotrina (piretróide) +
tiametoxam (neonicotinóide)
Toreg 50 EC
lambda-cialotrina (piretróide)
Trinca
lambda-cialotrina (piretróide)
Trinca caps
lambda-cialotrina (piretróide)
Elaborado pelo autor, baseado em Agrofit/MAPA Brasília, março de 2012.
inseticida
II
II
inseticida
III
I
inseticida
inseticida
inseticida
I
II
II
I
II
I
67
O número máximo encontrado em uma única amostra foi de seis
ingredientes ativos; Dimethoate (0,48 mg/kg), Dithiocarbamates (0,05 mg/kg),
Famoxadone (0,06 mg/kg), Malathion (0,07 mg/kg), Phosmet (0,68 mg/kg),
Tebuconazole (0,04 mg/kg), e considerando as duas safras analisadas todas
as unidades produtivas estudadas apresentaram frutos com resíduos para, pelo
menos, um dos parâmetros analisados.
Na safra 2010/11 os parâmetros que prevaleceram nas amostras
quanto à frequência de detecção foram o Dimethoate (19 amostras
contaminadas),
o
Tebuconazole
e
os
Dithiocarbamates
(9
amostras
contaminadas). Na safra seguinte (2011/12) o Tebuconazole aumentou a
frequência de detecção (9 para 17) e o Phosmet passou de três detecções para
12, tendo uma redução significativa na presença de Dithiocarbamates e
Dimethoate (Figura 08).
Resíduos de agrotóxicos em frutos de pessegueiro
19
17
15
Detecções
12
9
10
9
6
2010/11
1
Tebuconazole
Phosmet
Malathion
Trifloxystrobin
Dithiocarbamates
2
1
Dimethoate
3
Difenoconazole
2
0
T. methyl
1
Famoxadone
Malaoxon
0
Lambda cyhalothrin
1
Cyproconazole
1
Carbendazin
Dimethoate
Tebuconazole
Phosmet
T. methyl
2
3
Dithiocarbamates
1
3
Malathion
1
3
Difenoconazole
1
Famoxadone
Malaoxon
1
Lambda cyhalothrin
0
Cyproconazole
0
0
Carbendazin
5
Trifloxystrobin
Frequência
20
2011/12
Safra e contaminante
Figura 08. Frequência de contaminação por agrotóxicos em frutos de
pessegueiro, em função do ingrediente ativo e da safra (2010/11 e
2011/12). FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
Possivelmente a configuração descrita (Figura 08) seja devido a dois
fatores principais, o primeiro de ordem ecológica identificada através da
discussão realisada com os agricultores participantes da amostra, onde durante
a segunda safra 2011/12, foi citada uma redução significativa na presença de
mosca das frutas (Anastrepha fraterculus e Ceratitis capitata), fato que ajuda a
justificar a redução no uso dos inseticidas à base de Dimethoate.
68
O
segundo
fator
é
a
combinação
das
ações
de
orientação/conscientização dos agricultores, realizada por instituições como
UFPel, EMBRAPA, EMATER, SEBRAE e demais órgão parceiros, associado
às informações de resíduos encontrados na primeira safra avaliada (todos os
agricultores foram informados dos resultados da primeira safra) fazendo com
que este inseticida fosse substituído pelo Phosmet (Permitido na PIP). Em
consequência disso, o número de detecções de resíduos deste passou de três
para doze amostras, demonstrando que somente a substituição de formulações
pode não ser suficiente para garantir a ausência de resíduos.
A substituição de produtos pode ser identificada também em relação
aos fungicidas (Figura 08), nos quais ocorreu redução na frequência de
detecção de Dithiocarbamates de nove para duas amostras, e aumento na
detecção de Tebuconazole (9 para 17), no entanto, para a classe dos
fungicidas os resíduos são possivelmente de produtos registrados para a
cultura necessitando uma análise a partir da concentração da substância
contaminante.
Valor da concentração média de todos os agrotóxicos encontrados em
amostras contaminadas foi de 0,73 mg/kg na safra 2010/11, com frequência
média de 2,08 ingredientes ativo em cada amostra analisada, tendo 72% das
unidades produtivas com dois ou mais resíduos presentes na amostra. Deste
modo revelando-se um dado preocupante, tanto pela frequência (pois os
parâmetros de LMR aceito são estabelecidos para a presença um ingrediente
ativo) quanto pela concentração (quando baseados nas normas mais restritivas
para cada País (Tabela 08)). Na safra 2011/12 os valores foram reduzidos para
0,41mg/kg (menos 44%) e 1,88 ingredientes ativo por amostra analizada
(menos 9,6%), com 64% das amostras com dois ou mais contaminantes
(menos 11%).
69
Tabela 08. Limite Máximo de Resíduos em frutos de pessegueiro de acordo
com as normativas do Brasil, do Codex Alimentarius, da União
Européia,
dos
Estados
Unidos
da
América
e
da
Argentina.
FAEM/UFPel, Pelotas/RS, 2012.
LIMITE MÁXIMO DE RESÍDUOS (LMR)
PARÂMETROS
Brasil
CODEX
UE
Carbendazin
NPC
Cyproconazole
0,10
Difenoconazole 1, 2
2,00
0,50
0,50
Dimethoate
NPC
0,50
Dithiocarbamates-maneb, mancozeb,
2,00
metiram, propineb, thiram, zira'
Famoxadone
0,30
0,05
Lambda cyhalothrin
NPC
0,50
0,20
Malathion
6,00
1,00
0,02
Phosmet
3,00
10,00
0,05
Tebuconazole
0,10
1,00
1,00
Thiophanate methyl
NPC
3,00
1,00
Trifloxystrobin
NPC
3,00
1,00
EUA
2,50
-
AR
0,50
-
-
-
0,50
8,00
10,00
1,00
3,00
2,00
0,10
0,50
5,00
0,50
1,00
0,50
*NPC - Não Permitido para a Cultura.
A representação detalhada da concentração de cada elemento
contaminante (Figura
09)
reforça
a descrição
já realizada
sobre
o
comportamento geral da presença de agrotóxicos em frutos de pessegueiro,
sendo identificada redução na frequência de contaminação por Dimethoate e
Dithiocarbamates (Figura 08).
Referente à concentração, ocorreu alteração de 10,58 mg/kg para 0,25
mg/kg (Dimethoate) e de 2,12 mg/kg para 0,23 mg/kg (Dithiocarbamates), com
o aumento significativo da presença do Phosmet (0,89 mg/kg para 3,98 mg/kg)
e do Tebuconazole (3,02 mg/kg para 3,51 mg/kg) (Figura 09).
70
Concentração de resíduos de agrotóxicos em frutos de pessegueiro
12
10,58
Resíduos
Concentração (mg/kg)
10
8
6
3,98
4
3,02
3,51
0
0,08 0,46
0,06 0,17
0
0,33
Malathion
2
Malaoxon
2,12
0,89
0,19 0,38 0,11
0
0,39 0,25 0,23 0,27
1,12
0
0,1 0,26
0,02
Safra e contaminante
2010/11
Trifloxystrobin
Thiophanate methyl
Phosmet
Tebuconazole
Malaoxon
Malathion
Lambda cyhalothrin
Famoxadone
Dimethoate
Dithiocarbamates
Cyproconazole
Difenoconazole
Carbendazin
Trifloxystrobin
Thiophanate methyl
Phosmet
Tebuconazole
Lambda cyhalothrin
Famoxadone
Dimethoate
Dithiocarbamates
Cyproconazole
Difenoconazole
Carbendazin
0
2011/12
Figura 9. Concentração de resíduos de agrotóxicos em frutos de pessegueiro,
em função da safra e do contaminante (2010/11 e 2011/12).
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
Analisando o risco potencial de contaminação pelo consumo de frutos
com resíduos de agrotóxicos, independente do princípio ativo, identifica-se que
na safra 2010/11(Figura 10), apenas duas amostras (8%) não apresentaram
resíduos, e em oito amostras (32%) foram detectados valores superiores a 1,0
mg/kg. Na safra 2011/12 o número de amostras sem contaminação aumentou
para quatro (16%) e as amostras com contaminação superior a 1,0 mg/kg
reduziu para três (12%).
Residuos detectados em frutos de pessegueiro
Concentração residual (mg/kg)
2,5
2,19
2
Safra 2010/11
1,86
1,72
Safra 2011/12
1,38
1,21
1,17
1,14 1,15
1,5
1
0,5
0
1,251,22
1,07
0,910,94
0,83
0,73
0,65
0,54
0,43
0,360,38
0,26
0,15
0,080,13
0 0,030,04
0,86
0,74
0,670,64
0,6
0,5 0,450,45
0,4 0,37
0,29
0,190,16
0,120,120,070,07
0
0
0
0
0
0
12
16
24
1
21
25
6
23
9
17
8
22
5
1
10
13
2
17
18
12
15
3
16
8
11
25
Unidade produtiva
Figura 10. Concentração residual de agrotóxicos (independente do ingrediente
ativo)
em
frutos
de
pessegueiro,
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
safra
2010/11
e
2011/12.
71
De acordo com as normativas estabelecidas relativas ao Limite Máximo
de Resíduos permitido para a cultura do pessegueiro (Tabela 08), na safra
2010/11 foram identificados cinco parâmetros (Dimethoate, Tebuconazole,
Lambda cyhalothim, Thiophanate Methyl e Trifloxystrobin), em condição
insatisfatória (Figura 11). Na safra 2011/12 foram identificados cinco
parâmetros novamente (Dimethoate, Tebuconazole, Thiophanate Methyl,
Trifloxystrobin e Carbendazin), o que levou a classificação da amostra como
insatisfatória para o consumo, por exceder o LMR (para produtos registrados),
ou pela presença (quando não permitida para a cultura do pessegueiro).
A partir da análise de 25 amostras por safra, em 2010/11 foram
identificadas 26 infrações aos limites estabelecidos pela legislação brasileira,
na safra seguinte (2011/12), ocorreu redução para 18 infrações (30,8% de
redução), ressalta-se que uma amostra pode apresentar infração para mais de
um parâmetro (Figura 11). Os resultados indicam uma condição de risco para o
consumo dos frutos nas condições encontradas, salienta-se que os padrões
exigidos para exportação podem gerar uma nova classificação para as
amostras em estudo, em muitos casos segundo um padrão ainda mais
restritivo que a legislação nacional.
Figura 11. Número de amostras de pêssego com resíduos de agrotóxicos e
resultados insatisfatórios, safra 2010/11 e 2011/12. FAEM/UFPel,
Pelotas-RS, 2012.
Devido à impossibilidade de fazer uma caracterização do risco de
ingestão de pesticidas através dos resíduos presentes nos alimentos,
(informação importante para o consumidor e para ações de saúde pública)
72
dada à ausência de dados relativos ao consumo, a taxa de infrações ao LMR
pode, pelos menos, indicar que substâncias devem ser incluídas em um estudo
mais detalhado, com dados precisos e completos, com vistas a orientar
práticas agrícolas no sentido de diminuir o risco para o consumidor.
Considerando as unidades produtivas analisadas a realidade referente
ao número de amostras insatisfatórias chama atenção, das 25 amostras
testadas na safra 2010/11, 84% (21) foram consideradas acima do Limite
Máximo de Resíduos ou com presença de resíduos de ingrediente ativo não
registrado para a cultura (amostra insatisfatória). Cabe ressaltar que uma das
amostras em condição satisfatória foi amostra de referência coletada da
estação experimental da UFPel, sendo assim, somente três produtores tiveram
seus frutos considerados adequados ao consumo. O principal parâmetro
determinante para a condenação das amostras foi à presença do resíduo de
Dimethoate (elemento não permitido para a cultura) presente em 19 amostras
(Figura 11).
Na safra 2011/12, 13 unidades produtivas (52%) apresentaram
amostras insatisfatórias, e 12 amostras (considerando a amostra de referência)
foram classificadas como adequadas. Novamente se confirma uma redução
significativa (menos 38%) na contaminação dos frutos, na comparação entre
safras, apesar da constatação de que mais da metade das amostras ainda é
insatisfatória.
O principal parâmetro determinante para a condenação das
amostras na segunda safra foi a presença do resíduo de Tebuconazole
(Permitido para a cultura até 0,10 mg/kg), presente em concentração acima do
LMR em 13 amostras analisadas, na safra anterior este parâmetro havia
excedido o LMR em apenas quatro amostras.
Desta forma, o risco de intoxicação associado ao consumo destes
alimentos é real. É preciso levar em consideração que os LMR não constituem
limites exclusivamente toxicológicos, o que pode significar que nem todas as
infrações verificadas representam um risco real, outro fato é a detecção de
produtos não recomendados para a cultura, que, independente da presença em
concentrações baixas, são consideradas amostras insatisfatórias.
Apesar de o risco agudo parecer ser reduzido, devido a quantidade de
ingestão necessária para causar intoxicação, o fato de terem sido detectados
73
resíduos de diferentes ingredientes ativos gera exposição continuada e
combinada a múltiplos resíduos podendo originar efeitos de toxicidade crônica
(BOOBIS et al., 2008; REFFSTRUP et al., 2010). Assim, pode-se afirmar que a
contaminação crônica é um risco real, no entanto, pouco conhecido e difícil de
mensurar.
Ainda não foram totalmente esclarecidos quais os efeitos a nível
toxicológico associados com a ingestão simultânea de resíduos de vários
agrotóxicos, a possível existência de sinergismos pode aumentar a toxicidade
ou causar efeitos secundários não conhecidos, devido à associação de
resíduos que considerados individualmente não representariam risco.
8.4 Resíduos de agrotóxicos na água
Os Valores Máximos Permitidos (VMP) para resíduos de agrotóxicos
na água são definidos em função do padrão de potabilidade (Tabela 02), para
consumo humano (BRASIL, 2004), no entanto seus valores, além de menos
restritivos aos utilizados pela União Européia, abrangem uma pequena parcela
dos componentes atualmente utilizados no país. Sendo assim, a classificação
quanto ao risco de contaminação da água foi realizada baseada no padrão
estabelecido pela União Européia (concentração máxima é 0,1µg L-1 para cada
agrotóxico e 0,5 µg L-1 para o total de agrotóxicos).
O número total de ingredientes ativos encontrados nas amostras de
água coletadas durante as safras 2010/11 e 2011/12 foi de dezesseis (Figura
12) sendo os parâmetros detectados os seguintes: Ametrina, Atrazina,
Clomazona, Clorpirifós, Diazinona, Dimethoate, Diuron, Etion, Fentoato,
Malathion, Metidation, Oxadiazona, Pendimetalina, Pirimifós metílico, Simazina,
Tebuconazole.
Assim como ocorrido em relação à contaminação residual dos frutos, a
água apresentou uma frequência de amostras contaminadas significativamente
superior no primeiro ano de avaliação (safra 2010/11), o total de detecções foi
de 36 (considerando os treze parâmetros), ressalta-se que uma amostra pode
apresentar contaminação por mais de um parâmetro. No segundo ano as
74
detecções foram reduzidas para três, totalizando uma redução de 91,7% entre
os anos estudados (Tabela 13).
Elementos contaminantes da água utilizada no processo produtivo
5
5
Detecções
4
3
2
2
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
0
Simazina
0
Tebuconazole
0
Pirimifós metílico
1
Oxadiazona
1
Pendimetalina
1
Etion
1
Diuron
1
Metidation
2
1
Diazinona
2
1
Dimethoate
2
Clorpirifós
2
2
Atrazina
3
Clomazona
4
Ametrina
Frequência
6
Safra e Ingrediente ativo
Malathion
Fentoato
Simazina
Tebuconazole
Pirimifós metílico
Oxadiazona
Pendimetalina
Malathion
2010/11
Metidation
Etion
Fentoato
Diuron
Diazinona
Dimethoate
Clorpirifós
Atrazina
Clomazona
Ametrina
0
2011/12
Figura 12. Resíduos de agrotóxicos detectados na água, número de amostras
contaminadas por ingrediente ativo, safra 2010/11 e 2011/12.
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
A concentração residual de agrotóxicos na água (Figura 13) foi superior
ao padrão recomendado pela União Européia (0,5 µg L-1 para o total de
agrotóxicos) em três amostras analisadas (todas na safra 2010/11), sendo
estas classificadas como impróprias para o consumo e potenciais causadoras
de dano ao ambiente.
Figura 13. Concentração residual de agrotóxicos na água utilizada no sistema
de produção do pessegueiro, por unidade de produção e safra
(2010/11 e 2011/12). FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
A frequência total de parâmetros detectados acima do Valor Máximo
Permitido (VMP) para a água foi de vinte, sendo todos concentrados na
75
primeira safra (Figura 14). Os elementos contaminantes encontrados acima do
VMP foram onze, sendo estes: Ametrina (2), Atrazina (2), Clomazona (2),
Dimethoate (2), Diuron (2), Fentoato (2), Metidation (2), Oxadiazona (2),
Pirimifós metílico (2), Simazina (2), Tebuconazole (2), ressalta-se que uma
amostra pode apresentar mais de um contaminante (Figura 14).
Figura 14. Número de amostras de água com presença de agrotóxicos acima
do Valor
Máximo
Permito (VMP),
safra
2010/11
e
2011/12.
FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
Em análise agregada da contaminação detectada na água e frutos,
identifica-se uma redução significativa na frequência e na quantidade de
resíduos presentes nas amostras. Na safra 2010/11, 36 amostras de água
apresentaram resíduo de agrotóxico, na safra seguinte três (3) detecções
caracterizaram a amostra, redução de 91,6% (Figura 15). Em relação à
concentração dos resíduos, o efeito da redução foi de 99,7% onde, passou de
14,43 mg/kg para 0,03 mg/kg. A contaminação da água não pode ser atribuída
exclusivamente ao sistema de produção do pessegueiro, apesar da presença
de elementos contaminantes citados pelos agricultores como de uso frequente
e pela identificação dos mesmos nas amostras de fruto, devido a fatores como
a mobilidade da água no ambiente.
A redução na presença e concentração de contaminantes na água
ainda
demanda
estudo
específico,
levando
em
consideração
as
76
particularidades
de cada agrotóxico (atividade específica, persistência,
metabolismo), no entanto, após o resultado do primeiro ano vários agricultores
substituíram os produtos utilizados e realizaram limpeza dos locais de captação
de água nas unidades produtivas em que foram encontrados resíduos na
primeira avaliação. Para Domingues et al. (2004), a diminuição dos riscos está
atrelada a busca e divulgação de informações, da maneira mais honesta, isenta
e completa possível, fato que pode ser confirmado pela diferença entre as
safras, que ocorreu devido à influência dos resultados do primeiro ano de
avaliação, sobre o uso de agrotóxico por parte dos agricultores na segunda
safra.
A detecção de contaminação também teve redução da primeira para a
segunda safra quando analisados os frutos, onde a frequência passou de 52
para 47 (-9,6%) e a concentração da contaminação foi de 18,28 mg/kg para
10,24mg/kg (-43,9%). Apesar de menos marcante a redução encontrada na
contaminação dos frutos, sua importância é significativa devido ao foco do
trabalho, que pretende identificar a contaminação resultante das ações
desenvolvidas no processo produtivo do pessegueiro (Figura 15).
Frequência e concentração (mg/kg)
Contaminação média da água e dos frutos
99,7
Frequência
91,6
100
Resíduos (mg/kg)
90
80
70
52
60
50
40
30
20
47
43,9
36
18,28
14,43
10,24
3
10
9,6
0,03
0
2010/11
2011/12
Redução %
2010/11
Água
2011/12
Redução %
Fruto
Safra e produto analisado
Figura 15. Contaminação média da água e dos frutos de pessegueiro,
frequência, concentração residual e respectiva taxa de redução, safra
2010/11 e 2011/12. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
77
Considerando o risco global de contaminação por agrotóxicos na
cadeia produtiva do pessegueiro, foram agregados os dados relativos à
presença de contaminação na água e nas frutas (Figura 16), fica evidenciado o
risco associado ao sistema de produção em curso, haja vista que na primeira
safra foi identificada alta frequência de amostras contaminadas (88), com uma
concentração residual total de 32,7 mg/kg. Apesar da significativa redução
tanto da frequência (-43,18%) quanto da concentração de elementos
contaminantes
(-67,62%),
os
valores
ainda
evidenciam
contaminação
ambiental e risco de ingestão de agrotóxicos.
Contaminação global das amostras
Frequência
88
Frequência e concentração (mg/kg)
Resíduos (mg/kg)
90
- 67,62%
80
70
50
60
- 43,18 %
50
32,71
40
30
10,27
20
10
0
2010/11
2011/12
Redução
Safra e taxa de redução da contaminação
Figura 16. Contaminação global das amostras de água e frutos, frequência,
concentração e percentagem de redução da contaminação por
agrotóxicos, safra 2010/11 e 2011/12. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
A confirmação do risco de ingestão de resíduos de agrotóxicos foi
realizada através da análise de conservas, entre as quatorze empresas
processadoras analisados, apenas duas não apresentaram resíduos de
Dimethoate, a concentração residual variou de 0,02 a 0,59 mg/kg, no entanto a
substância não esta autorizada para uso na cultura do pessegueiro, tornando
insatisfatórias doze amostras 85,7% (Figura 17).
Para a presença de resíduos em frutos processados novamente a
diferença entre as safras é marcante, na safra 2011/12 não foi detectada
nenhuma amostra com resíduos (Figura 17). Reforçando o entendimento de
que o conhecimento sobre as vulnerabilidades associadas ao uso de
78
agrotóxicos e a articulação de ações entre entidades de assistência, tem papel
determinante na redução de risco de contaminação na cadeia produtiva do
pessegueiro.
Resíduo de Dimethoate mg/kg
Resíduos detectados em conservas de pêssego
0,59
0,6
Safra 2010/11
Safra 2011/12
0,5
0,4
0,3
0,17
0,2
0,13
0,12
0,09
0,1
0
0,02
0
0 0
0
0,02
0
0,07
0
0
0
0,02
0
0
0,02
0
0 0
0,02
0,03
0
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
Empresas analisadas
Figura 17. Resíduos de agrotóxicos (Dimethoate) em conservas de pêssego,
de quatorze empresas processadoras da região de Pelotas, safra
2010/11 e 2011/12. FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
8.5 Contaminação microbiológica
A utilização de água adequada e práticas higiênicas e sanitárias
durante o processo de produção têm papel importante na minimização do
potencial de contaminação microbiana e redução do risco para o consumo de
frutas frescas. Inclusive a água que se destina à irrigação de frutas que são
ingeridas cruas sem remoção de película, segundo resolução do CONAMA n°
357, de março 2005, deve apresentar características da classe um ou dois, não
podendo exceder o limite de 200 e 1000 Coliformes Termotolerantes por 100
mililitros, respectivamente.
A água utilizada nas práticas de limpeza de caixas (utilizadas na
colheita), dos locais de armazenamento e na aplicação direta de sobre os
frutos em pulverizações pode ser um veículo de contaminação. A presença de
coliformes nem sempre indica a obrigatoriedade de existência de agentes
patogênicos e, consequentemente, a ocorrência de doenças, assim, a
presença de coliformes, em determinadas concentrações, deve ser encarada
79
como um sinal de alerta, indicando a possibilidade de poluição ou
contaminação fecal.
Os dados obtidos pela análise das amostras de água coletadas
mostraram o elevado índice de Coliformes Totais em três amostras (12%), com
presença de mais de mil coliformes por cem mililitros. Mais oito amostras (32%)
foram consideradas indicadoras de poluição, devido à concentração acima de
200 Coliformes Totais. No total 44% das amostras de água apresentam-se
como potenciais veiculadoras de agentes patogênicos, sendo seu uso não
indicado na irrigação, pulverização, higienização de frutos, ou para o consumo,
realidade presente em 64% das unidades produtivas estudadas (Figura 18).
Contaminação da água por Coliformes Totais (safra 2010/11)
Contagem NMP. g-1
Contaminação
6000
5000
4000
3000
2000
1000
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Unidade de produção
Figura 18. Contaminação microbiológica da água por Coliformes Totais (safra
2010/11) FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
De acordo com a classificação estabelecida pelo CONAMA (2005),
para contaminação por Coliformes Termotolerantes, na safra 2010/11 (Figura
19), três amostras (12%) foram consideradas inapropriadas para utilização no
sistema produtivo do pessegueiro, em função da presença de 200 Coliformes
Termotolerantes por 100 mililitros, na safra 2011/12 todas as amostras estavam
dentro dos padrões estabelecidos pelo CONAMA para irrigação e uso na
produção de frutas.
80
Contaminação da água por Coliformes Termotolerantes
Contagem NMP.g-1
200
180
160
2010/11
140
2011/12
120
100
80
60
40
20
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
Unidade de produção
Figura
19. Contaminação microbiológica da água por Coliformes
Termotolerantes (safra 2010/11 e 2011/12) FAEM/UFPel, Pelotas-RS,
2012.
A Resolução RDC nº 12 (BRASIL, 2001) prevê padrões microbiológicos
para hortaliças e frutas frescas, in natura, preparadas (descascadas,
selecionadas ou fracionadas), refrigeradas ou congeladas, para o consumo
direto, com máximo de 100 NMP.g-1 para Coliformes Fecais. Segundo esta
classificação, a análise da contaminação microbiológica de frutas demonstrou
que todas as amostras se encontram satisfatórias, apenas uma das amostras
apresentou um valor de 23 NMP.g-1 (Figura 20), indicando que as frutas desta
amostra tiveram contato direto e/ou indireto com fezes, representando risco
para o consumo.
Embora não existam informações na legislação brasileira quanto aos
limites de contagens toleradas para Coliformes Totais, as análises foram
realizadas considerando-se que os resultados positivos indicam as más
condições higiênicas do produto e a contagem acima de 2000 NMP.g-1 para
cada 100ml foi considerada de risco para o consumo in natura. Com esta
classificação, seis amostras (25% das analisadas) foram insatisfatórias,
demandando atenção especial a este requisito (Figura 20).
81
Figura 20. Contaminação microbiológica dos frutos de pessegueiro por
Coliformes Termotolerantes e Coliformes Totais (safra 2010/11 e
2011/12). FAEM/UFPel, Pelotas-RS, 2012.
82
9. CONCLUSÕES
Com base nos resultados obtidos foram identificadas vulnerabilidades
no sistema produtivo do pessegueiro, com presença de contaminação
microbiológica e por agrotóxicos.
- A escolaridade baixa, a utilização de equipamentos inadequados e
mal calibrados, somado a assistência técnica insuficiente, constituem-se
vulnerabilidades associadas ao uso inadequado de agrotóxicos;
- A quantificação da atividade da enzima aceticolinesterase no sangue,
os sintomas de intoxicação descritos pelos agricultores, o histórico de uso de
agrotóxicos não recomendados e falta de utilização de EPI’s, levam a concluir
que uma parcela significativa dos agricultores se encontra exposta a
contaminação por agrotóxicos;
- De acordo com as percentagens de não atendimento dos Limites
Máximos de Resíduos e ao uso indevido de agrotóxicos não autorizados para a
cultura, leva a concluir que os frutos de pessegueiro e as conservas, não são
totalmente seguros em termos de resíduos de agrotóxicos.
- A água utilizada nas propriedades rurais apresenta contaminação
microbiológica e por agrotóxicos;
-
Os
frutos
in
natura
apresentam
significativa
contaminação
microbiológica, os resultados positivos indicam as más condições higiênicas do
produto;
- Salienta-se uma significativa redução na contaminação entre as
safras, com substituição de produtos não autorizados para a cultura, no entanto
ainda existe risco de ingestão de frutos em condições insatisfatórias.
83
10. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante a execução deste trabalho, foi possível identificar algumas
fragilidades na cadeia produtiva do pessegueiro, como a falta de interação
entre as indústrias processadoras, as empresas de comércio de produtos
agropecuários e os agricultores e a utilização frequente de produtos não
recomendados para a cultura, fato que ocorre devido à convergência de
interesse dos três setores, dois interessados na garantia da produção e outro
em busca da comercialização dos seus produtos.
Ações de conscientização estão se mostrando eficientes na redução da
contaminação e na substituição de produtos, no entanto a adoção do manejo
integrado de pragas, associado às boas práticas de manejo e ao registro das
atividades com foco na rastreabilidade e na garantia da conformidade,
conforme propõe a Produção Integrada de Pêssegos, parece demandante de
ações articuladas entre os três setores.
A identificação das vulnerabilidades relacionadas à contaminação
toxicológica e microbiológica na cadeia produtiva do pessegueiro apresenta-se
como ferramenta de grande importância para que as agências reguladoras
estabeleçam planos de monitoramento, para que as empresas processadoras
desenvolvam projetos de controle de qualidade e para que os produtores
protejam sua saúde e do ambiente, com produção de frutos de qualidade e
sem risco de contaminação.
A superação das vulnerabilidades encontradas e das condições de
risco depende diretamente das ações individuais dos agricultores. No entanto,
é necessário um determinado grau de consciência sobre o risco a que se está
exposto, além das vantagens potencias da adoção de um sistema de produção
mais eficiente. Para isto, ações de monitoramento e divulgação da condição
ambiental, do trabalhador e do alimento, devem ser constantes e coordenadas
84
pelo poder público, de forma a subsidiar com informações reais e atuais os
atores sociais e entidades da sociedade civil responsáveis por organizar a
integração entre os setores da persicultura.
85
11. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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98
ANEXO 01
BH 04- Bacia Pelotas
99
ANEXO 02
100
101
102
103
104
105
106
107
APÊNDICE 01
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E PRÉ-INFORMADO
“VULNERABILIDADES E SITUAÇÕES DE RISCO RELACIONADAS AO USO
DE AGROTÓXICOS E A CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA NA CADEIA
PRODUTIVA DO PESSEGUEIRO.”
Investigador responsável: Doutorando Evandro Pedro Schneider
Orientador : José Carlos Fachinello
Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel - UFPEL
Este é um convite para você participar voluntariamente do projeto de pesquisa
“Vulnerabilidade e situações de risco relacionadas ao uso de agrotóxicos e
a contaminação microbiológica na cadeia produtiva do pessegueiro”. Por
favor, leia com atenção as informações abaixo antes de dar ou não seu
consentimento para participar deste estudo. Se houver qualquer dúvida sobre o
estudo ou sobre este documento, pergunte ao pesquisador com quem você está
conversando neste momento.
• OBJETIVO DO ESTUDO
O objetivo desse estudo é identificar os pontos de contaminação da cadeia
produtiva do pessegueiro, bem como avaliar o nível atual de contaminação das
águas, dos frutos e das pessoas envolvidas na produção, com objetivo de obter
informações necessárias para a implantação de sistemas de produção integrada
de frutas.
• PROCEDIMENTOS
Se você participar deste estudo, será aplicado um questionário, colhida uma
amostra de água, de solo e de frutos da sua propriedade e será convidado a
realizar um exame de sangue para verificar os níveis contaminação sanguínea
causada por exposição a agrotóxicos.
108
• RISCOS
Não há riscos previstos nesta etapa do estudo, sendo que o único desconforto
poderá ser a retirada da amostra de sangue.
• BENEFÍCIOS
O conhecimento adquirido com esse estudo poderá contribuir para a
elaboração de métodos mais eficientes de produção de frutas e identificará os
pontos de maior risco de contaminação.
Os resultados das análises serão devolvidos ao participante e em caso de
contaminação será dada a devida orientação para a superação do problema.
• PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA
A sua participação neste estudo é voluntária. Mesmo que você decida
participar, terá plena e total liberdade para desistir do estudo a qualquer
momento, sem que isso acarrete qualquer prejuízo para você.
• CUSTOS E COMPENSAÇÕES
Você não pagará nada para participar desse estudo. Você não será pago por
estar no estudo.
• ESCLARECIMENTO DE DÚVIDAS
Você pode e deve fazer todas as perguntas que julgar necessárias antes de
concordar em participar do estudo.
• PERGUNTAS OU PROBLEMAS
Caso você tenha alguma pergunta ou problema quanto a esse estudo, contatar
o Prof. Dr. José Carlos Fachinello, Telefone: (53)32757002 ou Evandro Pedro
Schneider no telefone: (53)8139-4772 na Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel
–LAB-AGRO- UFPel.
• IDENTIFICAÇÃO
A sua identificação será mantida confidencial. Os resultados do estudo serão
publicados sem revelar a sua identidade.
109
• EQUIPE DE PESQUISADORES
Os pesquisadores envolvidos nesse projeto são:
Pesquisador responsável: Prof. Dr. José Carlos Fachinello
Pesquisador executor: MSc. Evandro Pedro Schneider
Pesquisadores auxiliares: Simone Padilha Galarça, Débora Leitzke
Betemps, Marcos Prezotto, Luciane Both Hass e Aloir Pretto.
Diante do exposto acima eu, ________________________________________
abaixo assinado, declaro que fui esclarecido sobre os objetivos do presente
estudo, sobre os desconfortos que poderei sofrer, assim como sobre os
benefícios que poderão dele resultar. Concedo meu acordo de participação de
livre e espontânea vontade. Foi-me assegurado o direito de abandonar o estudo
a qualquer momento, se eu assim o desejar. Declaro também não possuir
nenhum
grau
de
dependência
profissional
ou
educacional
com
os
pesquisadores envolvidos nesse projeto (ou seja, os pesquisadores desse
projeto não podem me prejudicar de modo algum no trabalho ou nos estudos),
não me sentindo pressionado de nenhum modo a participar dessa pesquisa.
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