UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA
EDUARDO DE PAULA AZZINI
IMPLICAÇÕES DA DEFICIÊNCIA
VISUAL NA ESTABILIDADE E
EQUILÍBRIO CORPORAL
Campinas
2010
EDUARDO DE PAULA AZZINI
IMPLICAÇÕES DA DEFICIÊNCIA
VISUAL NA ESTABILIDADE E
EQUILÍBRIO CORPORAL
Trabalho de Conclusão de Curso
Especialização apresentado à Faculdade
de Educação Física da Universidade
Estadual de Campinas para obtenção do
título de Especialista em Atividade Motora
Adaptada.
Orientador: Prof. Dr. Edison Duarte
Campinas
2010
EDUARDO DE PAULA AZZINI
IMPLICAÇÕES DA DEFICIÊNCIA VISUAL
NA ESTABILIDADE E EQUILÍBRIO
CORPORAL
Este exemplar corresponde à redação
final do Trabalho de Conclusão de Curso
Especialização defendido por Eduardo de
Paula Azzini aprovado pela Comissão
julgadora em: ___/___/___.
Nome Completo do orientador
Prof. Dr. Edison Duarte
Prof.Dr. José Irineu Gorla
Daniel Zonzini Voltam
Campinas
2010
Dedicatória
Dedico este Trabalho aos meus queridos alunos da
Instituição Avistar, que hoje fazem parte de minha
carreira e com os quais reaprendi o significado da
palavra “Ver”.
Agradecimentos
Agradeço em especial a minha família: meu pai Roberto, minha mãe Vera, irmã
Dani e a querida Terezinha, que são os verdadeiros pilares de minha vida, os quais
amo com toda força, que sem dúvida são os que trazem sentido a minha vida, que
tomo como exemplo e sigo com afinco seus ensinamentos. Amo vocês mais que tudo.
Agradeço a todos os professores que passaram pelo curso de Especialização
que trouxeram muito conhecimento e dedicação durante este período.
Agradeço imensamente ao professor Edison Duarte, que acreditou neste
trabalho, que iluminou meu caminho e que transformou esta idéia em realidade.
Por fim, reafirmo toda minha gratidão aos alunos da ONG Avistar que me
trouxeram até aqui, que se dedicam todos os dias e me proporcionam momentos
incríveis e de muita descoberta durante nosso trabalho.
MUITO OBRIGADO A TODOS!
AZZINI, Eduardo de P. Implicações da Deficiência Visual na Estabilidade e Equilíbrio
Corporal. 2010. 35f. Trabalho de Conclusão de Curso Especialização-Faculdade de Educação
Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.
RESUMO
Neste estudo analisamos alguns conceitos que permeiam a pessoa com deficiência visual, bem
como aspectos pertinentes a seu desenvolvimento motor. Discutimos as variáveis envolvidas na
habilidade de manter-se em equilíbrio, e ainda a manutenção da estabilidade corporal em
pessoas que perderam a visão ao longo de suas vidas e desse modo tratamos sobre as
possibilidades, implicações e conseqüências que a falha no sistema visual acarreta nestas
habilidades motoras em particular. Para atingirmos nossos objetivos, utilizamos a pesquisa
bibliográfica nas seguintes bases de dados: Creusp, Scopus, Science Direct Sports Discus,
Medline, Lilacs, Scielo e ainda o acervo bibliográfico da Unicamp encontrado na base Acervus,
entre outras. Nestas bases foram selecionados os idiomas inglês e português utilizando as
palavras-chave bases do nosso estudo. Através da análise e organização dos materiais
encontrados na pesquisa e selecionados para este trabalho, salientamos duas habilidades motoras
básicas: Equilíbrio e Estabilidade Corporal. Com os resultados obtidos em nossa pesquisa
bibliográfica o conteúdo foi organizado, resumido e discutido para que conseguíssemos
ponderar e entender as implicações que a deficiência pode causar no aspecto motor no indivíduo
com algum tipo de deficiência visual.
Palavras-Chaves: cegueira, deficiência visual, cego, equilíbrio, estabilidade
AZZINI, Eduardo de P. Implications of Visual Impairment in Balance and Body Stability.
2010. 35f. Trabalho de Conclusão de Curso Especialização-Faculdade de Educação Física.
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010.
ABSTRACT
In this study we examine some concepts that permeate visual impaired individuals, as well as
relevant aspects of their motor development. We discuss the variables involved in the ability of
staying in balance, as well as in the maintenance of body stability in people who have lost their
vision throughout their lives. Thereby we discuss the possibilities, implications and
consequences that the failure in the visual system causes in these motor skills. To achieve our
goals, we used the following bibliographic databases: Creusp, Scopus, Science Direct Sports
Discus, Medline, Lilacs, and Scielo, as well as the Unicamp bibliographic collection found at
Acervus base, among others. To perform the search on these databases, we selected the
languages English and Portuguese and used the basic keywords of our study. The selected
material was analyzed and organized so that we could emphasize two basic motor skills:
Balance and Body Stability. Furthermore, the content of the bibliographic research has been
organized, summarized and discussed so that we could consider and understand the implications
that the deficiency can cause in the motor aspect of individuals with some type of visual
impairment.
Keywords: blindness, visual impairment, blind, balance, stability
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
B
Blind
EMG
Eletromiográfico
FEF
Faculdade de Educação Física
HRV
Variabilidade da Freqüência Cardíaca
IBSA
Associação Internacional de Esportes para Cegos
ONG
Organização Não-Governamental
SNC
Sistema Nervoso Central
SOT
Teste de Organização Sensorial
UNESP
Universidade Estadual de São Paulo
UNICAMP
Universidade Estadual de Campinas
USP
Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
1. Introdução.........................................................................................................................
10
2. Metodologia........................................................................................................
13
3. Desenvolvimento Motor...................................................................................................
15
3.1 Equilíbrio..........................................................................................................
16
4. Deficiência Visual...............................................................................................
19
5. Deficiência Visual e Equilíbrio......................................................................................
22
6. Resumo dos Artigos..........................................................................................................
23
6.1 Artigo 1............................................................................................................
24
6.2 Artigo 2............................................................................................................
25
6.3 Artigo 3.............................................................................................................
27
6.4 Artigo 4............................................................................................................
29
7. Discussão............................................................................................................
31
8. Considerações Finais......................................................................................................
33
Referências Bibliográficas..................................................................................................
34
10
1. Introdução
A busca incessante pela perfeição está cada vez mais introduzida no imaginário das
pessoas. Seja qual for o seu anseio, os seres humanos de hoje têm a necessidade de ultrapassar os
seus limites, cruzarem as diversas barreiras que surgem em seu dia a dia e ainda, competir com o
próximo, superá-los, mostrar seu poder perante a sociedade usando todos os recursos disponíveis.
Desse modo, caracterizamos o nosso próprio corpo como uma importante ferramenta nesta
corrida, demonstramos através dele nossa imagem, nossos pensamentos, nossa cultura desde as
simples tarefas do cotidiano até os movimentos mais complexos que possamos apresentar.
Todavia, alguns exageros são cometidos nesta competição, algumas de nossas
necessidades corporais mais básicas são esquecidas ou ignoradas, movimentos corriqueiros são
desprezados na procura da perfeição.
Padrões culturais, atividades sociais, (pré) conceitos enraizados no ambiente que vivemos
são cada vez mais fortes e excludentes em nosso circulo de vida, assim, fica explicito que, ao
tratarmos de pessoas com alguma diferença, seja física ou de qualquer ordem que se possa
apresentar, a exclusão se torna evidente. Com isso, as pessoas vão ao encontro de novas
descobertas corporais, novas formas de movimentar e expressar as diversas possibilidades que o
corpo humano é capaz de demonstrar.
Desse modo, observamos que cada corpo humano é único e conquista seu espaço, suas
características de movimento a cada experiência vivida. Por isso, os sentidos devem ser usados
em conjunto com todas as ações, sentimentos e demais funcionalidades do corpo sem qualquer
divisão ou separação. Notamos que pessoas com deficiência visual estão cada vez mais presentes
e precisam recuperar a autonomia, independência, confiança para sair as ruas, para experimentar
novas maneiras de realizar suas tarefas, de movimentar o seu corpo intencionalmente e com
propriedade em qualquer ambiente.
A potencialidade do corpo e a capacidade neurológica do homem de controlar, modificar,
estruturar formas de movimento em seu ambiente podem expressar muitas maneiras de contornar
11
uma deficiência, portanto “... respeitar e acreditar nas diversas possibilidades que os sistemas
vivos possuem para estarem presentes no mundo” (PORTO, 2005: p.67).
Neste estudo, vamos discutir uma das capacidades físicas do corpo humano para
compreender os mecanismos de funcionamento de algumas estruturas que auxiliam o corpo na
função do equilíbrio e da estabilidade corporal. Com isso, faremos nosso estudo visando o
entendimento do corpo humano vidente para assim caracterizarmos o individuo cego e as
disfunções que a deficiência acarreta nesta capacidade física.
JUSTIFICATIVA
Quando ocorrem algumas transformações e aparecem novas características em um corpo
ao longo de sua vida, surgem novos mecanismos corporais para contornar uma carência ou
deficiência do corpo, mudando sua maneira de vivenciar as experiências corporais, alterando
assim seu modo de vida temos a idéia de que este indivíduo deixará de contemplar todas as
variações de sua corporeidade.
A presença de pessoas com deficiência nos diversos ambientes sociais vem aumentando
muito, exigindo mudanças de atitudes e comportamentos sobre as mesmas, modificando o papel
destes seres humanos e incluindo-os ativamente na sociedade.
No trabalho de atividades motoras para pessoas com deficiência visual percebemos que a
maior dificuldade para a realização dos exercícios é a defasagem em uma das capacidades físicas
humanas, o equilíbrio. Sendo assim, surge a necessidade de compreendermos o funcionamento
neurológico desta capacidade física no corpo humano, para conseguirmos entender o que ocorre
com este ser ao apresentar deficiência visual e com isso impulsionar futuros estudos destas
implicações para que possamos construir e aprimorar aulas específicas que ajude essa população
a melhorar suas condições motoras.
Nossa participação em um projeto de extensão da Universidade Metodista de Piracicaba,
que atendia pessoas com deficiência visual, nos trouxe dúvidas e nos fez refletir e dar inicio ao
estudo em Atividade Motora Adaptada; nessa vivência tivemos contato com os mais variados
tipos de usos do corpo, notamos que as pessoas cegas podem realizar movimentos de acordo com
suas possibilidades e condicionamento corporal, aprendemos que todos nós apresentamos
dificuldades em algum aspecto de nossa vida, que qualquer um de nós está sujeito a falhas, erros
12
e ainda assim podemos nos transformar, aprender e adaptar nosso corpo às dificuldades que
podem aparecer.
Desse modo, através da Educação Física podemos tornar a pessoa com deficiência visual
mais independente, autônoma e atuante em qualquer que seja seu ambiente de trabalho e
convivência social.
OBJETIVO
Este estudo tem como objetivo compreender os mecanismos e as estruturas que atuam no
corpo humano para facilitar e auxiliar a manutenção da estabilidade e equilíbrio corporal,
entender o ser humano na condição de cegueira e as implicações que a deficiência visual acarreta
no equilíbrio e ainda, evidenciar artigos sobre o referido tema e preparar um material de
referência para aprofundarmos o estudo nesta área.
13
2. Metodologia
Neste trabalho faremos uma pesquisa bibliográfica onde vamos relacionar os estudos de
vários autores e conforme Thomas, Nelson e Silverman (2007) afirmam é necessário localizar e
sintetizar a literatura mais relevante sobre o tema e assim desenvolver uma maneira geral de
explicar e relacionar os estudos já publicados.
Desta maneira utilizaremos fontes primárias que abrangem fontes de dados e estudos
originais como teses e dissertações, e ainda fontes secundárias como livros, textos e enciclopédias
relacionadas à área de estudo, fazendo uso de todo o acervo de bibliotecas da Unicamp, USP e
UNESP e todo material disponível em bases de dados digitais, sejam elas abertas ou conveniadas
a instituição.
Concentramos nossa pesquisa em grandes bases de dados como Creusp, que engloba as
universidades do estado de São Paulo, Scopus, Science Direct Sports Discus, Medline, Lilacs,
Scielo, entre outras que estão indexadas a estas, também utilizamos todo o acervo bibliográfico
da Unicamp encontrado na base Acervus, que disponibiliza o acesso as publicações de todas as
faculdades desta universidade. Assim, centralizamos as buscas entre os anos de 1999 a 2009 para
que alcancemos as referências mais recentes sobre o referido tema.
Para isso, buscamos palavras-chave em inglês e português que nos levasse as publicações
sobre determinado tema. Relacionando e cruzando as palavras para um melhor refinamento de
nossa pesquisa. Com isso, tivemos as seguintes palavras em português: cegueira, deficiência
visual, cego, equilíbrio, estabilidade; e em inglês utilizamos: blind, blindness, visual impairment,
balance, equilibrium.
Após a obtenção do material, para desenvolvermos a revisão da literatura se fez
necessário adequarmos e compilarmos este material ao nosso assunto para que pudéssemos
atingir o nosso tema com as produções mais pertinentes na obtenção das respostas que queríamos
encontrar, como esclarecem Thomas, Nelson e Silverman (2007).
De acordo com Lovo (2006) após o levantamento bibliográfico devemos passar para a
leitura informativa que consiste de algumas fases para melhor agrupar as informações, assim
neste trabalho faremos a leitura seletiva, para escolher os melhores textos de acordo com o tema;
leitura crítica na qual estudaremos os textos para escolher as idéias principais entre os autores e
14
faremos também uma leitura interpretativa para relacionar os pontos na busca da solução do
problema proposto.
Com a coleta de todo o material e a organização estrutural do trabalho faremos a divisão
dos tópicos entre as palavras-chave para podermos elucidar as idéias dos autores, analisar e fazer
uso do pensamento crítico para alcançarmos as soluções desejadas e fazer uma reflexão sobre o
assunto, como confirmam Thomas, Nelson e Silverman (2007) quando dizem que este tipo de
técnica sobre temas ou tópicos permite a síntese de descobertas relevantes e transforma a leitura
das revisões muito interessante.
Durante está pesquisa faremos uma análise dos trabalhos selecionados, apresentando-os
de uma forma que evidencie os motivos da seleção, a busca de informações para contemplar a
relação entre o equilíbrio e as disfunções que a deficiência visual pode causar nesta capacidade
física humana, apresentará também os resultados obtidos nas buscas em todas as bases de dados
para que assim possamos refletir e discutir sobre as respostas encontradas atestando nas
considerações finais a importância do estudo e as relações corporais com uma determinada
deficiência.
15
3. Desenvolvimento Motor
Os diversos mecanismos que compõem e auxiliam no desenvolvimento motor do
ser humano, conforme Gallahue e Ozmun (2005) nos mostram se iniciam durante a fase
da primeira infância onde aparecem as primeiras ações de movimento do indivíduo.
Conforme ele nos mostra em seu modelo descritivo bidimensional de desenvolvimento
motor há três categorias de movimento: estabilidade, locomoção e manipulação; estas
divididas em algumas fases: reflexa, rudimentar, fundamental e especializada.
Ao estudarmos o desenvolvimento motor humano devemos ficar atentos as
diversas mudanças que acontecem no movimento do ser humano ao decorrer de sua vida,
também devemos observar como são produzidos e controlados tais movimentos e como
adquirimos as habilidades motoras necessárias e quais fatores auxiliam no processo de
execução eficiente dos movimentos (TANI, 2005 p.19)
Nosso trabalho será voltado ao equilíbrio do corpo humano, assim temos a
estabilidade definida por Gallahue (2005) como sendo a mais básica das três categorias do
movimento, pois qualquer movimento voluntário envolve algum elemento de estabilidade.
Podemos então estudar o conceito de estabilidade como sendo um alicerce importante na
busca do equilíbrio:
“Estabilidade é a capacidade de perceber uma mudança na relação das partes do
corpo, que alteram o equilíbrio do individuo, assim como a capacidade para
ajustar-se rapidamente e com exatidão a estas mudanças com movimentos
compensatórios apropriados.” (Gallahue e Donnelly, 2008: p.417)
Desse modo, podemos salientar que um dos processos que nos diferencia de outros
seres vivos é a condição ereta do corpo humano e a complexidade de nossas ações
motoras conforme Tani (2005) nos evidencia dizendo que a capacidade de atingir estados
complexos de organização são características fundamentais dos sistemas vivos.
Portanto, notamos que a estabilização do corpo, a busca pelo equilíbrio para
locomoção em pé é de fato uma importante característica dos humanos e parte essencial
16
para o desenvolvimento motor. Assim, Gallahue (2005) enfatiza que ao adquirirmos a
postura ereta, em pé, marcamos um ponto decisivo no desenvolvimento da estabilidade,
indicando assim controle da musculatura e da ação da gravidade que restringia os
movimentos; posteriormente desenvolvem-se habilidades básicas para que as pessoas
possam movimentar-se pelo ambiente. Com isso, observamos que a locomoção está
intimamente relacionada ao equilíbrio e que ambas as tarefas desenvolvimentistas da fase
rudimentar em questão devem ser dominadas para assim ocorram os primeiros
movimentos do caminhar.
3.1.
EQUILÍBRIO
Para iniciarmos nosso estudo do equilíbrio, primeiramente vamos compreender
algumas estruturas neurológicas que auxiliam o desempenho dessa função, como
Mosqueira (2000) relata que além de todo o sistema muscular e biomecânico envolvido na
distribuição do peso corporal existem também algumas funções neurofisiológicas que
estão diretamente ligadas na manutenção do equilíbrio. Dentre estas funções o autor
destaca o aparelho vestibular que através do movimento da cabeça aciona algumas células
que ativam o Sistema Nervoso Central (S.N.C.) acionando mecanismos que estabelecem o
equilíbrio; outro dispositivo importante destacado por Mosqueira (2000) é o sistema de
propriocepção onde são estimuladas ou inibidas contrações musculares, e ainda, também
informa ao corpo humano sua posição em relação ao espaço que ocupa.
Ainda nas funções neurológicas, temos o cerebelo que exerce papel fundamental
nas funções de equilíbrio e coordenação dos movimentos. Portanto, Machado (2002)
coloca como principais funções do cerebelo: manutenção do equilíbrio e da postura,
controle do tônus muscular, controle dos movimentos voluntários e aprendizagem motora.
Como vimos, o autor afirma ainda que algumas estruturas que compõe o cerebelo são
responsáveis pela contração correta dos músculos axiais e proximais dos membros, para
que haja manutenção do equilíbrio e a postura, mesmo em deslocamento. As vias
aferentes vestibulares e auditivas através do nervo craniano vestíbulo-coclear também têm
relação com o equilíbrio postural como afirma Bankoff (2002). O cerebelo está conectado
diretamente ao aparelho vestibular regulando todos os movimentos corporais.
17
Ao ressaltarmos a importância do equilíbrio nas funções motoras dos seres
humanos vamos elucidar também as forças físicas que atuam sobre o corpo humano na
manutenção da postura ereta. Dessa maneira, três fatores estão envolvidos de acordo com
Gallahue (2005): centro de gravidade, que muda de acordo com a direção do movimento;
linha de gravidade, que é a linha imaginária desde o centro de gravidade ao centro da
Terra; e a base de apoio, que constitui a parte do corpo que está em contato com a
superfície de apoio. Portanto, podemos dizer que “o corpo permanece em equilíbrio
quando o centro de gravidade e a linha de gravidade passam pela base de apoio.”
(GALLAHUE, 2005: p.94). Sendo assim, podemos dizer também que quanto maior a base
de apoio e mais próximo o centro de gravidade desta base maior é a estabilidade corporal.
Para conservar o equilíbrio e a postura se faz necessário a interação de alguns
fatores neurológicos e biomecânicos entre eles: sinergias de reação músculo-postural,
sistema visual, vestibular e somato-sensorial, sistemas adaptativos, força muscular,
amplitude de movimento das articulações e morfologia corporal (WOOLLACOTT e
SHUMWAY-COOK, 1990 apud GALLAHUE, 2005 p.459).
Como este trabalho envolve o sistema visual, que vamos posteriormente discutir,
devemos de imediato salientar a importância da visão na manutenção do equilíbrio, assim
Lee e Aronson (1978) apud Schimidt e Wrisberg (2010) nos coloca “[...] que o equilíbrio
é fortemente afetado pelas informações visuais apresentadas aos observadores.” De
acordo com seus experimentos, os movimentos de algumas paredes em torno de um
observador faziam com que este, oscilasse no sentido oposto do movimento, gerando
informações de fluxos ópticos que são interpretadas pelo sistema motor como movimento
da cabeça dos mesmos, significando desequilíbrio do corpo e a necessidade de uma
compensação postural.
As condições que o corpo humano exige para manutenção do equilíbrio também
podem se adaptar e se transformar ao longo do tempo. Vimos que Gallahue (2005) coloca
que com o avanço da idade o equilíbrio e o controle postural tornam-se deficitários, a
partir da diminuição do ritmo de ativação de grupos musculares envolvidos no equilíbrio,
da perda gradativa do sistema visual, vestibular e somato-sensorial, ainda a diminuição da
força de alguns músculos específicos, a diminuição da amplitude de algumas articulações
18
e ainda alguns elementos morfológicos que variam com o tempo como distribuição do
peso corporal, altura, centro de massa e tamanho dos pés.
Para continuarmos definindo o termo equilíbrio vejamos um esquema que
Gallahue e Donnelly (2008) definem como capacidades fundamentais de estabilidade para
o aumento e conservação do equilíbrio de uma pessoa, entre elas destacam-se os
movimentos axiais, onde o eixo corporal gira em torno de um ponto fixo; os saltos que
são as projeções forçadas do corpo no espaço; e por fim os apoios que são formas de
equilíbrio, estáticas ou dinâmicas, onde o indivíduo posiciona o seu corpo de forma
incomum ou invertida para a manutenção do equilibrium corporal. Para os autores,
“Equilíbrio é comumente definido como a capacidade de manter o equilibrium do
individuo em relação à força da gravidade, em uma postura estática, ou durante a
execução de uma atividade dinâmica.” (Gallahue e Donnelly, 2008: p.419). Com isso,
dividimos o equilíbrio em duas vertentes e definimos de acordo com estes autores em:
Estático, que se entende por qualquer atividade estacionária, onde o centro de gravidade
permanece imóvel e a linha de gravidade se fixe dentro da base de apoio, ou seja, o corpo
deve permanecer apoiado verticalmente sobre um espaço móvel ou não; Dinâmico, que é
o controle corporal conforme seus movimentos no espaço, ou seja, mudança constante do
centro de gravidade.
19
4. Deficiência Visual
Ao falarmos de pessoas com alguma deficiência devemos estabelecer alguns termos para
nortear nosso estudo. Primeiramente, vamos elucidar o conceito de deficiência:
“Deficiência refere-se a qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função
psicológica, fisiológica ou anatômica, podendo resultar numa limitação ou
incapacidade no desempenho normal de uma determinada atividade que,
dependendo da idade, sexo, fatores sociais e culturais, pode se constituir em uma
deficiência” (MEC, 2002).
Desse modo devemos conceituar e compreender a pessoa com deficiência que apresenta alguma
falha ou carência em seu corpo:
“O termo pessoas deficientes refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por
si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social
normal, em decorrencia de uma deficiencia congênita ou não, em suas
capacidades físicas ou mentais” (ONU, 1975 apud MOSQUEIRA, 2000: p.16).
Mosqueira (2000) nos diz que deficiência visual é a total ou parcial falta da visão que faz
com que a pessoa necessite de recursos, instrumentos específicos para desempenhar atividades do
seu dia a dia. Silva (1999) refere-se a deficiência visual como a incapacidade de captar ou
interpretar os estímulos visuais do meio ambiente.
Portanto, a pessoa com deficiência visual encontra dificuldades de estabelecer uma
convivência harmoniosa com tudo o que está em sua volta. A pessoa cega tem a necessidade de
programar, educar o seu corpo sem o auxilio da visão, estabelecer o seu desenvolvimento motor a
partir dos outros sentidos remanescentes, e ainda, conviver com as pessoas que estão a sua volta.
A deficiência visual pode ser classificada de diversas maneiras Silva (1999) nos mostra
em seus estudos que a classificação é feita de acordo com a capacidade visual de cada indivíduo
abrangendo a acuidade visual, visão binocular, campo visual, visão de cores e adaptação as
diferenças de luz. A partir disso temos dois tipos de classes visuais:
20
“Segundo a Organização Mundial de Saúde a deficiência visual apresenta-se
dividida em duas classes visuais, sendo elas definidas a partir de sua capacidade
funcional: cegueira, apresentando-se como aquela com acuidade visual inferior a
3/60 metros e campo visual inferior a 10 graus, ambos no melhor olho de
correção; baixa visão corresponde a acuidade visual entre 3/60 e 6/18 metros no
melhor olho com acuidade visual e utilizando melhor correção oftalmológica”
(OMS, 2005 apud MATSUI, 2007: p.21).
Observamos que também existem outras nomenclaturas para a classificação funcional da
pessoa com deficiência visual, corroboramos a titulo de conhecimento o que adota Silva (1999)
determinando como classificação legal aquela que permite à pessoa direitos previstos pela lei
para que está possa obter condições e adaptações no cumprimento de sua cidadania. A
classificação educacional que também divide em dois grupos distintos, onde é considerado cego a
pessoa que necessita de recursos específicos, como o sistema Braile, aparelhos de áudio ou
qualquer outro aparelho especial para ingressar no processo educacional regular, e baixa visão é
aquele individuo que possui uma limitação no sistema visual que lhe permite participar do
processo educativo utilizando de recursos adicionais como lupas e material didático impressos
em letras maiores, no entanto não se faz necessário o uso do sistema Braile. E por fim, temos a
classificação esportiva que Silva (1999) discorre como sendo definida pela International Blind
Sports Association (IBSA) e dividida em 3 categorias: B1, B2 e B3 ( Sendo a sigla B de blind,
termo usado para cego na língua inglesa). Deste modo, dividimos as categorias em masculino e
feminino, e submetemos os atletas a exame oftalmológico e avaliação esportiva especializada
onde são definidos como: B1, indivíduos que podem apresentar percepção luminosa, porém não
são capazes de reconhecer a forma de uma mão a qualquer distancia ou direção; B2, aqueles que
apresentam a incapacidade de reconhecer a forma de uma mão até a acuidade de 2/60 metros e/ou
campo visual inferior a 5 graus; B3, aquele que está entre a acuidade visual de 2/60 metros até
6/60 metros e/ou um campo visual entre 5 e 20 graus. Portanto, verificamos que cada uma delas
tem o seu objetivo e tomaremos a funcional como norteadoras de nosso trabalho.
Para completarmos as informações acerca da pessoa com deficiência visual devemos
reconhecer que a cegueira pode ser congênita ou adquirida. Mosqueira (2000) diz que a cegueira
congênita se apresenta quando a criança nasce sem resíduos visuais, ou ainda perde a visão até os
21
três anos de idade, pois até este momento a criança ainda não grava imagens e não forma
conceitos.
Como nossa experiência profissional se dá com pessoas cegas adquiridas, ou seja, que
ficaram cegas durante a fase adulta de suas vidas e que possuem uma memória visual, lembram
de como era o mundo e tudo a sua volta, vamos nos basear nas informações necessárias para
elucidar os problemas de equilíbrio a partir destes corpos que um dia possuíam o sentido da
visão.
No transcorrer de nosso trabalho, desenvolvendo atividades motoras com pessoas com
deficiência visual, notamos algumas características físicas que estes indivíduos apresentam em
decorrência da falta de visão. A postura, a forma de andar e os movimentos corporais foram
modificados ao longo do tempo como conseqüência da incapacidade de utilização do sistema
visual. Porto (2005) salienta que essas mudanças ocorrem nas pessoas que não possuem o sentido
da visão para estabelecer contato com o mundo a sua volta, criando e recriando ações,
experimentando e vivenciando coisas, buscando novas formas de organizar-se e coordenar-se, e
ainda aprimorar as relações com os demais seres humanos. Desta maneira, podemos observar que
a pessoa que apresenta alguma deficiência visual nos mostra que existem outras maneiras de
“ver” o mundo, que existem outras possibilidades de ter contato com seu ambiente, de perceber o
que está a sua volta.
Portanto, reafirmamos importância do sistema visual refletindo sobre a afirmação que
Silva (1999) faz dizendo que a “visão é o órgão dos sentidos mais utilizado para o
desenvolvimento e aprendizagem do ser humano”. Todavia, não é único sentido capaz de captar
informações visto que uma pessoa que apresenta algum tipo de deficiência visual busca através
de outros órgãos sensoriais e outros estímulos corporais subsídios adequados para compreensão e
desenvolvimento nos mais amplos seguimentos de sua vida.
22
5. Deficiência Visual e Equilíbrio
Vimos que o sistema visual e um conjunto de ações musculares são pontos importantes na
manutenção do equilíbrio e da estabilidade do corpo humano:
“Vários grupos musculares, tanto na parte inferior como na parte superior do
corpo, podem ser necessários para manter postura ereta controlada ou para
regular suavemente o equilíbrio em varias situações motoras. O sistema visual
fornece informações valiosas sobre a posição do corpo em relação ao ambiente
[...]” (GALLAHUE, 2005: p.460).
Desse modo percebemos que a pessoa com deficiência visual pode apresentar dificuldades
para manter-se em equilíbrio, prejudicando assim outras importantes habilidades motoras como
andar, saltitar, correr entre outras que necessitem da estabilidade e dos estímulos visuais para
serem desenvolvidas, como afiram Mosqueira (2000).
A falta da visão acarreta ainda algumas dificuldades para o bom desenvolvimento da
postura de uma pessoa, prejudicando também a percepção que o individuo com deficiência visual
tem do seu próprio corpo, dessa maneira Mosqueira (2000) nos mostra alguns exemplos de
posturas adotadas por esses indivíduos como: marcha, com pequena amplitude de passos; arrasto
dos pés durante o caminhar; ombros e cabeça voltados para frente; pouca amplitude da coluna
vertebral, entre outras, que dificultam o desenvolvimento da estabilidade e equilíbrio da pessoa
com deficiência visual.
Assim, o ser humano com algum tipo de deficiência pode não conseguir se igualar, no
aspecto motor, às pessoas com suas funções normais, porém não podemos dizer que seja uma
deficiência no movimento ou no controle motor e sim apenas uma diferença de execução como
Gimenez e Manoel in Tani (2005) nos afirma dizendo que os diferentes padrões encontrados no
comportamento motor da pessoa com deficiência não podem ser considerados patológicos e sim,
uma característica adaptativa na produção do movimento.
Com isso, ou autores salientam ainda que o ser humano é capaz de suprir a falta de
alguma estrutura, mais especificamente o individuo com deficiência visual privado das
informações visuais sustentam o seu controle postural nos sistemas vestibular e somatossensorial;
23
para corroborar e entender que a pessoa com algum tipo de deficiência visual pode apresentar
dificuldades no aspecto motor mas é capaz de conseguir se adaptar e transformar os mecanismos
motores para que operam de acordo com suas possibilidades Gimenez e Manoel in Tani (2005)
nos explicam que é possível identificar uma grande capacidade de adaptação do individuo com
deficiência, o sistema nervoso do ser humano possui uma plasticidade capaz de desencadear
processos de reorganização e adaptação do comportamento motor.
De tal modo, observamos que o sistema visual é de suma importância, e essa ausência da
visão vai alterar o desenvolvimento postural e a manutenção do equilíbrio como diz Boudet apud
Seabra Jr (1995), porém Gimenez e Manoel afirmam que na ausência de uma fonte de
informação sensorial os indivíduos com deficiência recorrem a outras fontes e recriam condições
para solucionar seus problemas motores. Deste modo, trazemos a tona à importância da
intervenção profissional junto a essa população, bem como, a continuidade do estudo voltado ao
individuo com deficiência e suas possibilidades.
24
6. Resumo de Artigos
Neste capitulo, apresentaremos resumos de 4 artigos encontrados nas bases de dados citadas
em nossa metodologia. Utilizaremos estes textos como fundamentação para a discussão do
referido tema salientando-os pelo maior numero de informações relevantes ao nosso estudo,
observando as idéias destes autores e o cruzamento das palavras-chaves definidas em nosso
estudo.
6.1 Artigo 1 - O IMPACTO DA PERDA DA VISÃO SOBRE A ESTABILIDADE
POSTURAL E ESTRATÉGIAS DE EQUILÍBRIO EM INDIVÍDUOS COM PERDA DE
VISÃO PROFUNDA.
RAY, Christopher T. et al. The impact of vision loss on postural stability and balance strategies
in individuals with profound vision loss. Gait & Posture, Dallas, v. 28, p.58-61, 01 jul. 2008.
Este artigo busca compreender os fatores que levam um indivíduo com deficiência visual
a perder a estabilidade corporal, modificando as estratégias de equilíbrio, para que os riscos de
quedas diminuam e haja uma melhor compreensão destes fatores para a elaboração de programas
que auxiliem esta população. Os indivíduos com deficiência visual potencializam a utilização de
outros sistemas como o vestibular e o sensoriomotor para a manutenção do equilíbrio, com isso
empregam diferentes estratégias para estabelecer e ajustar sua posição no espaço. De acordo com
o presente artigo, a diminuição do equilíbrio ocorre na pessoa com deficiência ou ausência de
uma resposta visual do ambiente, pois se está já está na fase adulta a falta da visão acarreta numa
barreira para sua independência e entre outras conseqüências, agrava-se o medo de cair; já em
crianças que nasceram com deficiência visual o maior impedimento ocorre pela falta de estímulos
visuais, falta de oportunidades para o desenvolvimento normal desta criança, atrasando sua
maturação, modificando seus padrões de movimento e fragilizando seu tônus muscular.
O estudo aplicou e avaliou o teste de organização sensorial (SOT) de 46 pessoas,
divididas em dois grupos, sendo um grupo de 23 pessoas videntes, com idades entre 20 e 55 anos
e outro grupo de 23 pessoas com acuidade visual menor 20/200 pés, sendo que destes 23
deficientes visuais, 17 tinham percepção de luz, 3 deles com acuidade visual de 20/600 e menos
25
que 5 graus de campo visual e ainda, outros 3 indivíduos com campo visual até 20 graus e
acuidade entre 20/600 e 20/200 pés. Salientamos ainda que os participantes com deficiência
visual apresentavam variações em grau e etiologia da deficiência e idade que perderam a visão;
pareados através do sexo e idade com as pessoas videntes. O teste excluiu pessoas que tivessem
anomalias no sistema periférico ou vestibular, ou ainda experiências de quedas nos últimos 6
meses. Este tipo de teste através do sistema Neurocom Equitest, consiste em avaliar, em 6
diferentes situações, quais combinações de fatores e quais entradas sensoriais foram utilizadas
para a manutenção da estabilidade postural, utilizando uma plataforma de força que mede a
intensidade da pressão vertical que cada indivíduo gera para se manter em equilíbrio e fixar sua
base de apoio. O SOT é utilizado em vários tipos de população para avaliar a resposta e a
adaptação de cada pessoa, avaliando as habilidades e limitações de equilíbrio durante uma
variação sensorial. O avaliador alterna as informações sensoriais visuais, vestibulares e
somatossensoriais em precisas e comprometidas para que o indivíduo consiga manter o equilíbrio
nas 6 diferentes situações. A pontuação do teste representa a capacidade do individuo em manter
o equilíbrio postural durante as 6 condições apresentadas e ainda verificar e quantificar os
movimentos dos tornozelos e quadril e quias estratégias foram utilizadas
na situação de
instabilidade. Os resultados obtidos neste experimento confirmam que o equilíbrio é afetado pela
falta de visão e que por conseqüência disso as pessoas com deficiência visual usam a estratégia
do quadril para manutenção da estabilidade corporal, podemos concluir também que este tipo de
estratégia pode ocasionar maior quantidade de quedas em terrenos instáveis, e ainda que a perda
de visão profunda não pode ser compensada totalmente.
6.2 Artigo 2 - QUAIS FATORES SÃO RESPONSÁVEIS PELOS DESVIOS
NUMA CAMINHADA?
TOUSSAINT, Yann et al. What are the factors responsible for the deviation in stepping on the
spot? Neuroscience Letters, Paris, n.435, p.60-64, 11 abr. 2008.
O presente estudo mostra quais são os fatores que fazem com que a pessoa com algum
impedimento visual desvie seus passos durante uma caminhada, corrobora a idéia de que é muito
difícil manter uma linha à frente sem o auxilio da visão. O objetivo deste artigo é quantificar o
desvio lateral e determinar quais fatores acarretam neste desvio. Neste trabalho, foi utilizado o
26
teste de Fukuda, que consiste num teste clínico destinado a analisar os distúrbios vestíbuloespinhal, porém este foi modificado com a construção de um dispositivo que controle fatores
experimentais, de referencia e controle postural, permitindo quantificar o desvio. Neste
experimento a população foi de 25 adultos, com idades entre 19 e 33 anos, sendo que 7 homens e
18 mulheres, divididos em destros e canhotos. Todos foram vendados e puderam realizar um
ensaio no equipamento. O teste consistia em pisar segurando uma barra de rolagem vertical fixa
na parede. Foram feitos testes em 4 condições diferentes com duração de 1 minuto: normal, onde
o individuo deveria caminhar segurando a barra mantendo o maxilar relaxado e sem imposição da
força de pressão do mecanismo; ritmo imposto, os candidatos deveriam dar passadas no ritmo
imposto pelos avaliadores; tarefa dupla consistia em falar a maior quantidade de nomes a cada
passo para ver o papel dos fatores de atenção no grau de desvio e pescoço dobrado onde os
sujeitos foram informados que deveriam manter o pescoço dobrado para baixo no plano sagital,
com o queixo perto do peito.
Desse modo, o artigo apresenta como resultado um desvio para um dos lados em todos os
participantes, ou seja, fica quase que impossível caminhar em linha reta sem que haja uma
mínima mudança. Todavia, nos confirma que uma mudança de informações recebidas pelo
sistema vestibular ou uma resposta proprioceptiva diferente na região do pescoço pode ocasionar
um aumento no desvio lateral durante uma caminhada. O artigo afirma ainda que o desvio da
linha reta durante a caminhada ocorrido neste teste não é resultado de um desequilíbrio postural.
27
6.3 Artigo 3 - IMAGEM MOTORA EM INDIVÍDUOS CEGOS: A INFLUÊNCIA
DA EXPERIENCIA VISUAL PRÉVIA.
IMBIRIBA, Luís Aureliano et al. Motor imagery in blind subjects: The influence of the.
Neuroscience Letters, Rio de Janeiro, v. 400, n., p.181-185, 29 maio 2006.
Neste artigo podemos observar as mudanças funcionais ocorridas no cérebro de
indivíduos que ficaram cegos durante a vida e as diversas mudanças neurológicas nas áreas de
córtex visual. O estudo dividiu os participantes em três grupos: videntes, cegueira congênita e
cegueira tardia.
Com o intuito de analisar qual a importância da experiência visual, ou seja, a memória
visual que as pessoas com deficiência visual adquirida possuem e como usam essas experiências
no decorrer de suas vidas, o presente artigo comparou os padrões de ativação na área do córtex
visual nestes três grupos e assim ficou constatado que não há diferença de desempenho e sim
maneiras e estratégias diferentes para realização de determinadas tarefas.
Pessoas com cegueira tardia e pessoas videntes utilizam a experiência visual de forma
acentuada e os colocam como pessoas que ainda utilizam a percepção visual de alguma forma,
enquanto que as pessoas com cegueira precoce baseiam suas experiências no toque e na
percepção sinestésica. O artigo mostra ainda que a coordenação motora é drasticamente afetada
pela existência e duração de experiência visual prévia, todavia não afirma que a cegueira pode
afetar os movimentos.
Dessa forma, a hipótese de que a modulação de oscilação do corpo observada durante a
simulação mental dessa tarefa deve ser suscetível ao aparecimento da cegueira, o objetivo desse
estudo é comparar as mudanças estabilométricas, eletromiográficas (EMG) e a variabilidade da
freqüência cardíaca (HRV), induzidas por uma tarefa de simulação mental em indivíduos com
início de cegueira precoce ou tardia, por meio de análise discriminante. E assim supor que, na
absoluta falta de visão, as representações corporais seriam principalmente cinestésicas. Em
indivíduos com cegueira tardia, a adição do componente visual no planejamento e execução de
movimentos poderia levar à representações visuais-cinestésicas do corpo.
Portanto, de acordo com a idéia de que a falta de visão precoce afeta as representações
corporais, porém indivíduos videntes e cegos tardios consideraram mais difícil julgar a ordem
temporal de dois estímulos táteis. Em indivíduos dotados de visão isso se deve ao importante
28
papel da visão no planejamento motor e execução motora. Nesse caso, o estímulo tátil precisa ser
remapeado em coordenadas externas definidas, o que demora mais a ser alcançado quando há
conflito com códigos corporais, determinados principalmente por informações somatosensoriais e
proprioceptivas. Em indivíduos com cegueira precoce esse conflito parece não existir.
Conclui-se através deste artigo que análises discriminantes permitiram constatar
diferenças psicológicas em indivíduos cegos durante tarefa de estimulação mental que envolve o
ajuste corporal, refletindo o efeito de experiências visuais prévias. No entanto, pela amostragem
estatística do artigo ser relativamente pequena, essa estimativa pode ser muito otimista. Estudos
futuros poderão ser conduzidos para que se entenda melhor como a falta de informação sensorial
interfere na representação mental dos movimentos.
29
6.4 Artigo 4 - SISTEMAS DE REAÇÕES POSTURAIS AUTOMÁTICAS EM
INDIVÍDUOS COM CEGUEIRA CONGÊNITA TOTAL.
NAKATA, Hideo; YABE, Kyonosuke. Automatic postural response systems in individuals with
congenital. Gait & Posture, Nagoya, v. 14, n., p.36-43, 01 jul. 2001.
Neste estudo examinaram-se os efeitos da falta de visão congênita e as reações posturais
automáticas em uma plataforma durante deslocamento. As reações posturais foram induzidas por
quatro tipos de perturbações que consistiam em translações para frente e para trás, e rotações dos
dedos dos pés para cima e para baixo. Nove cegos congênitos e nove adultos com visão foram
analisados. Os sinais EMG foram registrados de quatro músculos na perna direita, e o tempo de
reação aos estímulos gerados pelo deslocamento de plataforma foi medido pelo aperto de um
botão manual. Para avaliar a habilidade de controle de equilíbrio postural, os valores da raiz
quadrada média (RMS) das oscilações ântero-posteriores foram calculados antes, durante e
depois da indução das perturbações. A amplitude do EMG no músculo gastrocnêmio de
indivíduos cegos foi menor que a dos indivíduos com visão de olhos fechados. Nas respostas às
perturbações aos músculos da extremidade inferior, nenhuma diferença significativa foi
encontrada entre indivíduos cegos e com visão.
Os indivíduos cegos tiveram reações significativamente mais rápidas aos estímulos
somatosensórios desencadeados pelo deslocamento da plataforma, mas nas rotações dos dedos do
pé nenhuma diferença significativa foi encontrada entre cegos e pessoas com visão. A diferença
nas latências de EMG e do tempo de reação entre os dois grupos sugere que a cegueira congenita
não afeta o reflexo de estiramento espinhal, mas pode afetar um ato volitivo mediado pelo córtex
motor. Também não observamos diferenças significativas nos valores RMS de oscilação postural
entre cegos e pessoas com visão de olhos fechados e abertos, apesar dos cegos terem oscilado
mais do que os indivíduos com visão de olhos abertos depois das translações para trás.
Resultados sugerem que a habilidade do controle do equilíbrio postural durante as perturbações
não foi afetado pela perda da visão no nascimento.
As conclusões encontradas neste estudo sugerem que a cegueira congenita não teve efeito
sobre as respostas automáticas postural ao deslocamento da plataforma. Não houve
diferenças significativas entre os indivíduos cegos e pessoas videntes no padrão de atividade
EMG, EMG de latências iniciais, e oscilações posturais durante os movimentos. Os sistemas
30
automáticos de resposta postural em seres humanos são pensados para ser duro como fios. Por
outro lado, os indivíduos cegos mostraram tempos de reação mais rápidos a estímulos gerados
pelo deslocamentos da plataforma, em comparação à dos indivíduos com visão. Isso pode ser
atribuído à elevada dependência de entrada de estímulos somatossensoriais no ambiente.
31
7. Discussão
De acordo com nossos estudos, vamos analisar as possíveis conseqüências da deficiência
visual na estabilidade corporal e equilíbrio do individuo. A partir de nosso trabalho com pessoas
que apresentam cegueira total adquirida.
Sabemos que a habilidade motora do equilíbrio tem como um dos seus importantes
componentes o sistema visual, além do sistema vestibular, do sistema muscular e biomecânico
como enfatiza Mosqueira (2000), entre outros já descritos neste estudo. Assim, o ser humano tem
a estabilidade corporal e a posição ereta durante o caminhar como um diferencial entre os seres
vivos como afirma Gallahue (2005). Essa característica nos torna capazes de dominar a força da
gravidade, de nos locomover com eficiência e ainda desenvolver tantas outras habilidades que
necessitam do equilíbrio corporal.
Todo nosso levantamento bibliográfico teve como objetivo conhecer e relacionar idéias de
vários autores referentes às questões da estabilidade e do equilíbrio, estabelecendo uma relação
dessa habilidade motora em pessoas com deficiência visual. Com isso, buscamos em várias fontes
de dados que promovessem uma base teórica que fundamentasse nossa experiência no campo de
trabalho.
Salientamos que também fez parte deste estudo conhecer algumas características de
desenvolvimento motor, aprofundarmos e apresentarmos informações pertinentes ao individuo
em sua totalidade para podermos traçar uma linha paralela que nos desse uma visão um pouco
mais abrangente em relação a pessoa com deficiência visual. Traçamos ainda pontos pertinentes
do individuo cego, suas classificações e características para que assim colocássemos dados que
nos mostrasse ligações entre a perda da visão e a falta de equilíbrio.
Observamos em nossa pesquisa que o individuo que apresenta algum tipo de deficiência
visual pode sofrer danos no equilíbrio corporal como afirma Ray et al (2008) dizendo que a
ausência de resposta visual sobre um ambiente pode acarretar um medo de cair excessivo e ainda
tornar a pessoa dependente, modificando seus padrões de movimento e fragilizando seu tônus
muscular. Portanto, evidenciamos que a falta do sistema visual corrobora a idéia que tivemos em
nossos trabalhos com esta população especifica de que a decorrente falta de equilíbrio e controle
postural é um dos problemas que o profissional de Educação Física deve enfrentar ao ministrar
32
aulas para pessoas com deficiência visual. O medo de se locomover de um ponto ao outro, sem
obter as informações visuais, transforma o modo de vida da pessoa que adquiriu algum tipo de
deficiência visual, mudando as características posturais e o seu modo de manter-se em pé. A
partir disso, a pessoa deve ser orientada e passar por devidos treinamentos e vivências que
possam auxiliá-la na busca da melhora da qualidade de vida e na reorganização das habilidades
motoras conforme Ray et al (2008) salienta que a pessoa com deficiência visual busca estratégias
como a do movimento do quadril para a manutenção do equilíbrio.
As constantes variações corporais que passamos ao longo da vida é fator comum e
inerente a todos os seres vivos, porém quando enfrentamos um impedimento ou ausência de
algum sentido sensorial o corpo humano logo trata de suprir, contornar essa falha e reorganizar o
organismo de modo que possamos continuar a viver como nos mostra Toussaint et al (2008) em
seu artigo comprovando que uma mudança nos tipos de informações sensoriais que recebemos
pode ocasionar uma transformação na resposta proprioceptiva e dessa maneira ocorrer mudanças
corporais que levem o individuo a mudar seu comportamento motor.
Como o nosso estudo está pautado em pessoas com deficiência visual adquirida, os seja
que perderam o sentido de visão já na fase adultas buscamos referências que ratificasse a idéia de
que o equilíbrio é afetado pela falta de visão, portanto é importante diferenciar nosso estudo de
outros que tenham como população participante pessoas com deficiência visual congênita já que
pudemos constatar com Nakata e Yabe (2001) que pessoas com cegueira congênita não
apresentam oscilação postural e perda do controle do equilíbrio, já que este tipo de população
nunca obteve informações visuais e, portanto desenvolveram o sistema motor e a estabilidade
corporal sem o sentido da visão.
Desta forma, devemos ainda apontar como fator importante neste estudo o imagem
motora do indivíduo que perdeu a visão, assim a pessoa que adquiriu a cegueira ainda associa
imagens previamente estabelecidas para desenvolver algum tipo de habilidade motora e Imbiriba
et al (2006) explica que esse tipo de associação pode acarretar mudanças na coordenação motora.
Portanto, devemos dar continuidade a esse estudo e aprofundarmos ainda mais para que
possamos compreender melhor as implicações que a deficiência visual pode ocasionar na
estabilidade corporal de uma pessoa.
33
8. Considerações Finais
A partir deste estudo conseguimos reunir informações e uma base teórica que nos leve a
um melhor entendimento a cerca da pessoa com deficiência visual e as implicações que acarretam
no seu desempenho motor e nas habilidades motoras de estabilidade e equilíbrio. Desta forma,
nos motivamos ainda mais a dar continuidade em nossa pesquisa para que possamos desenvolver
melhorias em nossa atividade como profissional de Educação Física na área de Atividade Motora
Adaptada.
Observamos estudos complementares que fundamentaram nossa experiência prática
abrangendo nosso conhecimento e destacando novas formas e idéias que contribuam para o
desenvolvimento motor da pessoa com deficiência visual. Com isso, renovamos nosso intuito de
pesquisar e reunir uma gama de informações que possam nos ajudar em nosso futuro acadêmico.
Através deste estudo, pudemos concluir que a deficiência visual pode ocasionar desvios
no comportamento motor, variações na forma de locomoção e controle postural, modificando a
estabilidade e alterando o equilíbrio corporal. Por outro lado, devemos salientar que a partir deste
ponto surgem novas estratégias para contornar essa falha sensorial de um individuo,
reorganizando e reeducando o corpo na busca de uma nova estrutura de movimento. Desse modo,
nosso estudo corrobora a idéia de que uma intervenção mais aprimorada se faz necessária para
que o sujeito com deficiência visual consiga sua independência e autonomia, realize as tarefas do
seu cotidiano de forma plena e consciente, e ainda, que o profissional de Educação Física forneça
subsídios e promova atividades que aprimorem as habilidades motoras básicas e melhorem as
condições de vida das pessoas com algum tipo de impedimento visual.
34
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