UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA EDUARDO DE PAULA AZZINI IMPLICAÇÕES DA DEFICIÊNCIA VISUAL NA ESTABILIDADE E EQUILÍBRIO CORPORAL Campinas 2010 EDUARDO DE PAULA AZZINI IMPLICAÇÕES DA DEFICIÊNCIA VISUAL NA ESTABILIDADE E EQUILÍBRIO CORPORAL Trabalho de Conclusão de Curso Especialização apresentado à Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas para obtenção do título de Especialista em Atividade Motora Adaptada. Orientador: Prof. Dr. Edison Duarte Campinas 2010 EDUARDO DE PAULA AZZINI IMPLICAÇÕES DA DEFICIÊNCIA VISUAL NA ESTABILIDADE E EQUILÍBRIO CORPORAL Este exemplar corresponde à redação final do Trabalho de Conclusão de Curso Especialização defendido por Eduardo de Paula Azzini aprovado pela Comissão julgadora em: ___/___/___. Nome Completo do orientador Prof. Dr. Edison Duarte Prof.Dr. José Irineu Gorla Daniel Zonzini Voltam Campinas 2010 Dedicatória Dedico este Trabalho aos meus queridos alunos da Instituição Avistar, que hoje fazem parte de minha carreira e com os quais reaprendi o significado da palavra “Ver”. Agradecimentos Agradeço em especial a minha família: meu pai Roberto, minha mãe Vera, irmã Dani e a querida Terezinha, que são os verdadeiros pilares de minha vida, os quais amo com toda força, que sem dúvida são os que trazem sentido a minha vida, que tomo como exemplo e sigo com afinco seus ensinamentos. Amo vocês mais que tudo. Agradeço a todos os professores que passaram pelo curso de Especialização que trouxeram muito conhecimento e dedicação durante este período. Agradeço imensamente ao professor Edison Duarte, que acreditou neste trabalho, que iluminou meu caminho e que transformou esta idéia em realidade. Por fim, reafirmo toda minha gratidão aos alunos da ONG Avistar que me trouxeram até aqui, que se dedicam todos os dias e me proporcionam momentos incríveis e de muita descoberta durante nosso trabalho. MUITO OBRIGADO A TODOS! AZZINI, Eduardo de P. Implicações da Deficiência Visual na Estabilidade e Equilíbrio Corporal. 2010. 35f. Trabalho de Conclusão de Curso Especialização-Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. RESUMO Neste estudo analisamos alguns conceitos que permeiam a pessoa com deficiência visual, bem como aspectos pertinentes a seu desenvolvimento motor. Discutimos as variáveis envolvidas na habilidade de manter-se em equilíbrio, e ainda a manutenção da estabilidade corporal em pessoas que perderam a visão ao longo de suas vidas e desse modo tratamos sobre as possibilidades, implicações e conseqüências que a falha no sistema visual acarreta nestas habilidades motoras em particular. Para atingirmos nossos objetivos, utilizamos a pesquisa bibliográfica nas seguintes bases de dados: Creusp, Scopus, Science Direct Sports Discus, Medline, Lilacs, Scielo e ainda o acervo bibliográfico da Unicamp encontrado na base Acervus, entre outras. Nestas bases foram selecionados os idiomas inglês e português utilizando as palavras-chave bases do nosso estudo. Através da análise e organização dos materiais encontrados na pesquisa e selecionados para este trabalho, salientamos duas habilidades motoras básicas: Equilíbrio e Estabilidade Corporal. Com os resultados obtidos em nossa pesquisa bibliográfica o conteúdo foi organizado, resumido e discutido para que conseguíssemos ponderar e entender as implicações que a deficiência pode causar no aspecto motor no indivíduo com algum tipo de deficiência visual. Palavras-Chaves: cegueira, deficiência visual, cego, equilíbrio, estabilidade AZZINI, Eduardo de P. Implications of Visual Impairment in Balance and Body Stability. 2010. 35f. Trabalho de Conclusão de Curso Especialização-Faculdade de Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2010. ABSTRACT In this study we examine some concepts that permeate visual impaired individuals, as well as relevant aspects of their motor development. We discuss the variables involved in the ability of staying in balance, as well as in the maintenance of body stability in people who have lost their vision throughout their lives. Thereby we discuss the possibilities, implications and consequences that the failure in the visual system causes in these motor skills. To achieve our goals, we used the following bibliographic databases: Creusp, Scopus, Science Direct Sports Discus, Medline, Lilacs, and Scielo, as well as the Unicamp bibliographic collection found at Acervus base, among others. To perform the search on these databases, we selected the languages English and Portuguese and used the basic keywords of our study. The selected material was analyzed and organized so that we could emphasize two basic motor skills: Balance and Body Stability. Furthermore, the content of the bibliographic research has been organized, summarized and discussed so that we could consider and understand the implications that the deficiency can cause in the motor aspect of individuals with some type of visual impairment. Keywords: blindness, visual impairment, blind, balance, stability LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS B Blind EMG Eletromiográfico FEF Faculdade de Educação Física HRV Variabilidade da Freqüência Cardíaca IBSA Associação Internacional de Esportes para Cegos ONG Organização Não-Governamental SNC Sistema Nervoso Central SOT Teste de Organização Sensorial UNESP Universidade Estadual de São Paulo UNICAMP Universidade Estadual de Campinas USP Universidade de São Paulo SUMÁRIO 1. Introdução......................................................................................................................... 10 2. Metodologia........................................................................................................ 13 3. Desenvolvimento Motor................................................................................................... 15 3.1 Equilíbrio.......................................................................................................... 16 4. Deficiência Visual............................................................................................... 19 5. Deficiência Visual e Equilíbrio...................................................................................... 22 6. Resumo dos Artigos.......................................................................................................... 23 6.1 Artigo 1............................................................................................................ 24 6.2 Artigo 2............................................................................................................ 25 6.3 Artigo 3............................................................................................................. 27 6.4 Artigo 4............................................................................................................ 29 7. Discussão............................................................................................................ 31 8. Considerações Finais...................................................................................................... 33 Referências Bibliográficas.................................................................................................. 34 10 1. Introdução A busca incessante pela perfeição está cada vez mais introduzida no imaginário das pessoas. Seja qual for o seu anseio, os seres humanos de hoje têm a necessidade de ultrapassar os seus limites, cruzarem as diversas barreiras que surgem em seu dia a dia e ainda, competir com o próximo, superá-los, mostrar seu poder perante a sociedade usando todos os recursos disponíveis. Desse modo, caracterizamos o nosso próprio corpo como uma importante ferramenta nesta corrida, demonstramos através dele nossa imagem, nossos pensamentos, nossa cultura desde as simples tarefas do cotidiano até os movimentos mais complexos que possamos apresentar. Todavia, alguns exageros são cometidos nesta competição, algumas de nossas necessidades corporais mais básicas são esquecidas ou ignoradas, movimentos corriqueiros são desprezados na procura da perfeição. Padrões culturais, atividades sociais, (pré) conceitos enraizados no ambiente que vivemos são cada vez mais fortes e excludentes em nosso circulo de vida, assim, fica explicito que, ao tratarmos de pessoas com alguma diferença, seja física ou de qualquer ordem que se possa apresentar, a exclusão se torna evidente. Com isso, as pessoas vão ao encontro de novas descobertas corporais, novas formas de movimentar e expressar as diversas possibilidades que o corpo humano é capaz de demonstrar. Desse modo, observamos que cada corpo humano é único e conquista seu espaço, suas características de movimento a cada experiência vivida. Por isso, os sentidos devem ser usados em conjunto com todas as ações, sentimentos e demais funcionalidades do corpo sem qualquer divisão ou separação. Notamos que pessoas com deficiência visual estão cada vez mais presentes e precisam recuperar a autonomia, independência, confiança para sair as ruas, para experimentar novas maneiras de realizar suas tarefas, de movimentar o seu corpo intencionalmente e com propriedade em qualquer ambiente. A potencialidade do corpo e a capacidade neurológica do homem de controlar, modificar, estruturar formas de movimento em seu ambiente podem expressar muitas maneiras de contornar 11 uma deficiência, portanto “... respeitar e acreditar nas diversas possibilidades que os sistemas vivos possuem para estarem presentes no mundo” (PORTO, 2005: p.67). Neste estudo, vamos discutir uma das capacidades físicas do corpo humano para compreender os mecanismos de funcionamento de algumas estruturas que auxiliam o corpo na função do equilíbrio e da estabilidade corporal. Com isso, faremos nosso estudo visando o entendimento do corpo humano vidente para assim caracterizarmos o individuo cego e as disfunções que a deficiência acarreta nesta capacidade física. JUSTIFICATIVA Quando ocorrem algumas transformações e aparecem novas características em um corpo ao longo de sua vida, surgem novos mecanismos corporais para contornar uma carência ou deficiência do corpo, mudando sua maneira de vivenciar as experiências corporais, alterando assim seu modo de vida temos a idéia de que este indivíduo deixará de contemplar todas as variações de sua corporeidade. A presença de pessoas com deficiência nos diversos ambientes sociais vem aumentando muito, exigindo mudanças de atitudes e comportamentos sobre as mesmas, modificando o papel destes seres humanos e incluindo-os ativamente na sociedade. No trabalho de atividades motoras para pessoas com deficiência visual percebemos que a maior dificuldade para a realização dos exercícios é a defasagem em uma das capacidades físicas humanas, o equilíbrio. Sendo assim, surge a necessidade de compreendermos o funcionamento neurológico desta capacidade física no corpo humano, para conseguirmos entender o que ocorre com este ser ao apresentar deficiência visual e com isso impulsionar futuros estudos destas implicações para que possamos construir e aprimorar aulas específicas que ajude essa população a melhorar suas condições motoras. Nossa participação em um projeto de extensão da Universidade Metodista de Piracicaba, que atendia pessoas com deficiência visual, nos trouxe dúvidas e nos fez refletir e dar inicio ao estudo em Atividade Motora Adaptada; nessa vivência tivemos contato com os mais variados tipos de usos do corpo, notamos que as pessoas cegas podem realizar movimentos de acordo com suas possibilidades e condicionamento corporal, aprendemos que todos nós apresentamos dificuldades em algum aspecto de nossa vida, que qualquer um de nós está sujeito a falhas, erros 12 e ainda assim podemos nos transformar, aprender e adaptar nosso corpo às dificuldades que podem aparecer. Desse modo, através da Educação Física podemos tornar a pessoa com deficiência visual mais independente, autônoma e atuante em qualquer que seja seu ambiente de trabalho e convivência social. OBJETIVO Este estudo tem como objetivo compreender os mecanismos e as estruturas que atuam no corpo humano para facilitar e auxiliar a manutenção da estabilidade e equilíbrio corporal, entender o ser humano na condição de cegueira e as implicações que a deficiência visual acarreta no equilíbrio e ainda, evidenciar artigos sobre o referido tema e preparar um material de referência para aprofundarmos o estudo nesta área. 13 2. Metodologia Neste trabalho faremos uma pesquisa bibliográfica onde vamos relacionar os estudos de vários autores e conforme Thomas, Nelson e Silverman (2007) afirmam é necessário localizar e sintetizar a literatura mais relevante sobre o tema e assim desenvolver uma maneira geral de explicar e relacionar os estudos já publicados. Desta maneira utilizaremos fontes primárias que abrangem fontes de dados e estudos originais como teses e dissertações, e ainda fontes secundárias como livros, textos e enciclopédias relacionadas à área de estudo, fazendo uso de todo o acervo de bibliotecas da Unicamp, USP e UNESP e todo material disponível em bases de dados digitais, sejam elas abertas ou conveniadas a instituição. Concentramos nossa pesquisa em grandes bases de dados como Creusp, que engloba as universidades do estado de São Paulo, Scopus, Science Direct Sports Discus, Medline, Lilacs, Scielo, entre outras que estão indexadas a estas, também utilizamos todo o acervo bibliográfico da Unicamp encontrado na base Acervus, que disponibiliza o acesso as publicações de todas as faculdades desta universidade. Assim, centralizamos as buscas entre os anos de 1999 a 2009 para que alcancemos as referências mais recentes sobre o referido tema. Para isso, buscamos palavras-chave em inglês e português que nos levasse as publicações sobre determinado tema. Relacionando e cruzando as palavras para um melhor refinamento de nossa pesquisa. Com isso, tivemos as seguintes palavras em português: cegueira, deficiência visual, cego, equilíbrio, estabilidade; e em inglês utilizamos: blind, blindness, visual impairment, balance, equilibrium. Após a obtenção do material, para desenvolvermos a revisão da literatura se fez necessário adequarmos e compilarmos este material ao nosso assunto para que pudéssemos atingir o nosso tema com as produções mais pertinentes na obtenção das respostas que queríamos encontrar, como esclarecem Thomas, Nelson e Silverman (2007). De acordo com Lovo (2006) após o levantamento bibliográfico devemos passar para a leitura informativa que consiste de algumas fases para melhor agrupar as informações, assim neste trabalho faremos a leitura seletiva, para escolher os melhores textos de acordo com o tema; leitura crítica na qual estudaremos os textos para escolher as idéias principais entre os autores e 14 faremos também uma leitura interpretativa para relacionar os pontos na busca da solução do problema proposto. Com a coleta de todo o material e a organização estrutural do trabalho faremos a divisão dos tópicos entre as palavras-chave para podermos elucidar as idéias dos autores, analisar e fazer uso do pensamento crítico para alcançarmos as soluções desejadas e fazer uma reflexão sobre o assunto, como confirmam Thomas, Nelson e Silverman (2007) quando dizem que este tipo de técnica sobre temas ou tópicos permite a síntese de descobertas relevantes e transforma a leitura das revisões muito interessante. Durante está pesquisa faremos uma análise dos trabalhos selecionados, apresentando-os de uma forma que evidencie os motivos da seleção, a busca de informações para contemplar a relação entre o equilíbrio e as disfunções que a deficiência visual pode causar nesta capacidade física humana, apresentará também os resultados obtidos nas buscas em todas as bases de dados para que assim possamos refletir e discutir sobre as respostas encontradas atestando nas considerações finais a importância do estudo e as relações corporais com uma determinada deficiência. 15 3. Desenvolvimento Motor Os diversos mecanismos que compõem e auxiliam no desenvolvimento motor do ser humano, conforme Gallahue e Ozmun (2005) nos mostram se iniciam durante a fase da primeira infância onde aparecem as primeiras ações de movimento do indivíduo. Conforme ele nos mostra em seu modelo descritivo bidimensional de desenvolvimento motor há três categorias de movimento: estabilidade, locomoção e manipulação; estas divididas em algumas fases: reflexa, rudimentar, fundamental e especializada. Ao estudarmos o desenvolvimento motor humano devemos ficar atentos as diversas mudanças que acontecem no movimento do ser humano ao decorrer de sua vida, também devemos observar como são produzidos e controlados tais movimentos e como adquirimos as habilidades motoras necessárias e quais fatores auxiliam no processo de execução eficiente dos movimentos (TANI, 2005 p.19) Nosso trabalho será voltado ao equilíbrio do corpo humano, assim temos a estabilidade definida por Gallahue (2005) como sendo a mais básica das três categorias do movimento, pois qualquer movimento voluntário envolve algum elemento de estabilidade. Podemos então estudar o conceito de estabilidade como sendo um alicerce importante na busca do equilíbrio: “Estabilidade é a capacidade de perceber uma mudança na relação das partes do corpo, que alteram o equilíbrio do individuo, assim como a capacidade para ajustar-se rapidamente e com exatidão a estas mudanças com movimentos compensatórios apropriados.” (Gallahue e Donnelly, 2008: p.417) Desse modo, podemos salientar que um dos processos que nos diferencia de outros seres vivos é a condição ereta do corpo humano e a complexidade de nossas ações motoras conforme Tani (2005) nos evidencia dizendo que a capacidade de atingir estados complexos de organização são características fundamentais dos sistemas vivos. Portanto, notamos que a estabilização do corpo, a busca pelo equilíbrio para locomoção em pé é de fato uma importante característica dos humanos e parte essencial 16 para o desenvolvimento motor. Assim, Gallahue (2005) enfatiza que ao adquirirmos a postura ereta, em pé, marcamos um ponto decisivo no desenvolvimento da estabilidade, indicando assim controle da musculatura e da ação da gravidade que restringia os movimentos; posteriormente desenvolvem-se habilidades básicas para que as pessoas possam movimentar-se pelo ambiente. Com isso, observamos que a locomoção está intimamente relacionada ao equilíbrio e que ambas as tarefas desenvolvimentistas da fase rudimentar em questão devem ser dominadas para assim ocorram os primeiros movimentos do caminhar. 3.1. EQUILÍBRIO Para iniciarmos nosso estudo do equilíbrio, primeiramente vamos compreender algumas estruturas neurológicas que auxiliam o desempenho dessa função, como Mosqueira (2000) relata que além de todo o sistema muscular e biomecânico envolvido na distribuição do peso corporal existem também algumas funções neurofisiológicas que estão diretamente ligadas na manutenção do equilíbrio. Dentre estas funções o autor destaca o aparelho vestibular que através do movimento da cabeça aciona algumas células que ativam o Sistema Nervoso Central (S.N.C.) acionando mecanismos que estabelecem o equilíbrio; outro dispositivo importante destacado por Mosqueira (2000) é o sistema de propriocepção onde são estimuladas ou inibidas contrações musculares, e ainda, também informa ao corpo humano sua posição em relação ao espaço que ocupa. Ainda nas funções neurológicas, temos o cerebelo que exerce papel fundamental nas funções de equilíbrio e coordenação dos movimentos. Portanto, Machado (2002) coloca como principais funções do cerebelo: manutenção do equilíbrio e da postura, controle do tônus muscular, controle dos movimentos voluntários e aprendizagem motora. Como vimos, o autor afirma ainda que algumas estruturas que compõe o cerebelo são responsáveis pela contração correta dos músculos axiais e proximais dos membros, para que haja manutenção do equilíbrio e a postura, mesmo em deslocamento. As vias aferentes vestibulares e auditivas através do nervo craniano vestíbulo-coclear também têm relação com o equilíbrio postural como afirma Bankoff (2002). O cerebelo está conectado diretamente ao aparelho vestibular regulando todos os movimentos corporais. 17 Ao ressaltarmos a importância do equilíbrio nas funções motoras dos seres humanos vamos elucidar também as forças físicas que atuam sobre o corpo humano na manutenção da postura ereta. Dessa maneira, três fatores estão envolvidos de acordo com Gallahue (2005): centro de gravidade, que muda de acordo com a direção do movimento; linha de gravidade, que é a linha imaginária desde o centro de gravidade ao centro da Terra; e a base de apoio, que constitui a parte do corpo que está em contato com a superfície de apoio. Portanto, podemos dizer que “o corpo permanece em equilíbrio quando o centro de gravidade e a linha de gravidade passam pela base de apoio.” (GALLAHUE, 2005: p.94). Sendo assim, podemos dizer também que quanto maior a base de apoio e mais próximo o centro de gravidade desta base maior é a estabilidade corporal. Para conservar o equilíbrio e a postura se faz necessário a interação de alguns fatores neurológicos e biomecânicos entre eles: sinergias de reação músculo-postural, sistema visual, vestibular e somato-sensorial, sistemas adaptativos, força muscular, amplitude de movimento das articulações e morfologia corporal (WOOLLACOTT e SHUMWAY-COOK, 1990 apud GALLAHUE, 2005 p.459). Como este trabalho envolve o sistema visual, que vamos posteriormente discutir, devemos de imediato salientar a importância da visão na manutenção do equilíbrio, assim Lee e Aronson (1978) apud Schimidt e Wrisberg (2010) nos coloca “[...] que o equilíbrio é fortemente afetado pelas informações visuais apresentadas aos observadores.” De acordo com seus experimentos, os movimentos de algumas paredes em torno de um observador faziam com que este, oscilasse no sentido oposto do movimento, gerando informações de fluxos ópticos que são interpretadas pelo sistema motor como movimento da cabeça dos mesmos, significando desequilíbrio do corpo e a necessidade de uma compensação postural. As condições que o corpo humano exige para manutenção do equilíbrio também podem se adaptar e se transformar ao longo do tempo. Vimos que Gallahue (2005) coloca que com o avanço da idade o equilíbrio e o controle postural tornam-se deficitários, a partir da diminuição do ritmo de ativação de grupos musculares envolvidos no equilíbrio, da perda gradativa do sistema visual, vestibular e somato-sensorial, ainda a diminuição da força de alguns músculos específicos, a diminuição da amplitude de algumas articulações 18 e ainda alguns elementos morfológicos que variam com o tempo como distribuição do peso corporal, altura, centro de massa e tamanho dos pés. Para continuarmos definindo o termo equilíbrio vejamos um esquema que Gallahue e Donnelly (2008) definem como capacidades fundamentais de estabilidade para o aumento e conservação do equilíbrio de uma pessoa, entre elas destacam-se os movimentos axiais, onde o eixo corporal gira em torno de um ponto fixo; os saltos que são as projeções forçadas do corpo no espaço; e por fim os apoios que são formas de equilíbrio, estáticas ou dinâmicas, onde o indivíduo posiciona o seu corpo de forma incomum ou invertida para a manutenção do equilibrium corporal. Para os autores, “Equilíbrio é comumente definido como a capacidade de manter o equilibrium do individuo em relação à força da gravidade, em uma postura estática, ou durante a execução de uma atividade dinâmica.” (Gallahue e Donnelly, 2008: p.419). Com isso, dividimos o equilíbrio em duas vertentes e definimos de acordo com estes autores em: Estático, que se entende por qualquer atividade estacionária, onde o centro de gravidade permanece imóvel e a linha de gravidade se fixe dentro da base de apoio, ou seja, o corpo deve permanecer apoiado verticalmente sobre um espaço móvel ou não; Dinâmico, que é o controle corporal conforme seus movimentos no espaço, ou seja, mudança constante do centro de gravidade. 19 4. Deficiência Visual Ao falarmos de pessoas com alguma deficiência devemos estabelecer alguns termos para nortear nosso estudo. Primeiramente, vamos elucidar o conceito de deficiência: “Deficiência refere-se a qualquer perda ou anormalidade da estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, podendo resultar numa limitação ou incapacidade no desempenho normal de uma determinada atividade que, dependendo da idade, sexo, fatores sociais e culturais, pode se constituir em uma deficiência” (MEC, 2002). Desse modo devemos conceituar e compreender a pessoa com deficiência que apresenta alguma falha ou carência em seu corpo: “O termo pessoas deficientes refere-se a qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrencia de uma deficiencia congênita ou não, em suas capacidades físicas ou mentais” (ONU, 1975 apud MOSQUEIRA, 2000: p.16). Mosqueira (2000) nos diz que deficiência visual é a total ou parcial falta da visão que faz com que a pessoa necessite de recursos, instrumentos específicos para desempenhar atividades do seu dia a dia. Silva (1999) refere-se a deficiência visual como a incapacidade de captar ou interpretar os estímulos visuais do meio ambiente. Portanto, a pessoa com deficiência visual encontra dificuldades de estabelecer uma convivência harmoniosa com tudo o que está em sua volta. A pessoa cega tem a necessidade de programar, educar o seu corpo sem o auxilio da visão, estabelecer o seu desenvolvimento motor a partir dos outros sentidos remanescentes, e ainda, conviver com as pessoas que estão a sua volta. A deficiência visual pode ser classificada de diversas maneiras Silva (1999) nos mostra em seus estudos que a classificação é feita de acordo com a capacidade visual de cada indivíduo abrangendo a acuidade visual, visão binocular, campo visual, visão de cores e adaptação as diferenças de luz. A partir disso temos dois tipos de classes visuais: 20 “Segundo a Organização Mundial de Saúde a deficiência visual apresenta-se dividida em duas classes visuais, sendo elas definidas a partir de sua capacidade funcional: cegueira, apresentando-se como aquela com acuidade visual inferior a 3/60 metros e campo visual inferior a 10 graus, ambos no melhor olho de correção; baixa visão corresponde a acuidade visual entre 3/60 e 6/18 metros no melhor olho com acuidade visual e utilizando melhor correção oftalmológica” (OMS, 2005 apud MATSUI, 2007: p.21). Observamos que também existem outras nomenclaturas para a classificação funcional da pessoa com deficiência visual, corroboramos a titulo de conhecimento o que adota Silva (1999) determinando como classificação legal aquela que permite à pessoa direitos previstos pela lei para que está possa obter condições e adaptações no cumprimento de sua cidadania. A classificação educacional que também divide em dois grupos distintos, onde é considerado cego a pessoa que necessita de recursos específicos, como o sistema Braile, aparelhos de áudio ou qualquer outro aparelho especial para ingressar no processo educacional regular, e baixa visão é aquele individuo que possui uma limitação no sistema visual que lhe permite participar do processo educativo utilizando de recursos adicionais como lupas e material didático impressos em letras maiores, no entanto não se faz necessário o uso do sistema Braile. E por fim, temos a classificação esportiva que Silva (1999) discorre como sendo definida pela International Blind Sports Association (IBSA) e dividida em 3 categorias: B1, B2 e B3 ( Sendo a sigla B de blind, termo usado para cego na língua inglesa). Deste modo, dividimos as categorias em masculino e feminino, e submetemos os atletas a exame oftalmológico e avaliação esportiva especializada onde são definidos como: B1, indivíduos que podem apresentar percepção luminosa, porém não são capazes de reconhecer a forma de uma mão a qualquer distancia ou direção; B2, aqueles que apresentam a incapacidade de reconhecer a forma de uma mão até a acuidade de 2/60 metros e/ou campo visual inferior a 5 graus; B3, aquele que está entre a acuidade visual de 2/60 metros até 6/60 metros e/ou um campo visual entre 5 e 20 graus. Portanto, verificamos que cada uma delas tem o seu objetivo e tomaremos a funcional como norteadoras de nosso trabalho. Para completarmos as informações acerca da pessoa com deficiência visual devemos reconhecer que a cegueira pode ser congênita ou adquirida. Mosqueira (2000) diz que a cegueira congênita se apresenta quando a criança nasce sem resíduos visuais, ou ainda perde a visão até os 21 três anos de idade, pois até este momento a criança ainda não grava imagens e não forma conceitos. Como nossa experiência profissional se dá com pessoas cegas adquiridas, ou seja, que ficaram cegas durante a fase adulta de suas vidas e que possuem uma memória visual, lembram de como era o mundo e tudo a sua volta, vamos nos basear nas informações necessárias para elucidar os problemas de equilíbrio a partir destes corpos que um dia possuíam o sentido da visão. No transcorrer de nosso trabalho, desenvolvendo atividades motoras com pessoas com deficiência visual, notamos algumas características físicas que estes indivíduos apresentam em decorrência da falta de visão. A postura, a forma de andar e os movimentos corporais foram modificados ao longo do tempo como conseqüência da incapacidade de utilização do sistema visual. Porto (2005) salienta que essas mudanças ocorrem nas pessoas que não possuem o sentido da visão para estabelecer contato com o mundo a sua volta, criando e recriando ações, experimentando e vivenciando coisas, buscando novas formas de organizar-se e coordenar-se, e ainda aprimorar as relações com os demais seres humanos. Desta maneira, podemos observar que a pessoa que apresenta alguma deficiência visual nos mostra que existem outras maneiras de “ver” o mundo, que existem outras possibilidades de ter contato com seu ambiente, de perceber o que está a sua volta. Portanto, reafirmamos importância do sistema visual refletindo sobre a afirmação que Silva (1999) faz dizendo que a “visão é o órgão dos sentidos mais utilizado para o desenvolvimento e aprendizagem do ser humano”. Todavia, não é único sentido capaz de captar informações visto que uma pessoa que apresenta algum tipo de deficiência visual busca através de outros órgãos sensoriais e outros estímulos corporais subsídios adequados para compreensão e desenvolvimento nos mais amplos seguimentos de sua vida. 22 5. Deficiência Visual e Equilíbrio Vimos que o sistema visual e um conjunto de ações musculares são pontos importantes na manutenção do equilíbrio e da estabilidade do corpo humano: “Vários grupos musculares, tanto na parte inferior como na parte superior do corpo, podem ser necessários para manter postura ereta controlada ou para regular suavemente o equilíbrio em varias situações motoras. O sistema visual fornece informações valiosas sobre a posição do corpo em relação ao ambiente [...]” (GALLAHUE, 2005: p.460). Desse modo percebemos que a pessoa com deficiência visual pode apresentar dificuldades para manter-se em equilíbrio, prejudicando assim outras importantes habilidades motoras como andar, saltitar, correr entre outras que necessitem da estabilidade e dos estímulos visuais para serem desenvolvidas, como afiram Mosqueira (2000). A falta da visão acarreta ainda algumas dificuldades para o bom desenvolvimento da postura de uma pessoa, prejudicando também a percepção que o individuo com deficiência visual tem do seu próprio corpo, dessa maneira Mosqueira (2000) nos mostra alguns exemplos de posturas adotadas por esses indivíduos como: marcha, com pequena amplitude de passos; arrasto dos pés durante o caminhar; ombros e cabeça voltados para frente; pouca amplitude da coluna vertebral, entre outras, que dificultam o desenvolvimento da estabilidade e equilíbrio da pessoa com deficiência visual. Assim, o ser humano com algum tipo de deficiência pode não conseguir se igualar, no aspecto motor, às pessoas com suas funções normais, porém não podemos dizer que seja uma deficiência no movimento ou no controle motor e sim apenas uma diferença de execução como Gimenez e Manoel in Tani (2005) nos afirma dizendo que os diferentes padrões encontrados no comportamento motor da pessoa com deficiência não podem ser considerados patológicos e sim, uma característica adaptativa na produção do movimento. Com isso, ou autores salientam ainda que o ser humano é capaz de suprir a falta de alguma estrutura, mais especificamente o individuo com deficiência visual privado das informações visuais sustentam o seu controle postural nos sistemas vestibular e somatossensorial; 23 para corroborar e entender que a pessoa com algum tipo de deficiência visual pode apresentar dificuldades no aspecto motor mas é capaz de conseguir se adaptar e transformar os mecanismos motores para que operam de acordo com suas possibilidades Gimenez e Manoel in Tani (2005) nos explicam que é possível identificar uma grande capacidade de adaptação do individuo com deficiência, o sistema nervoso do ser humano possui uma plasticidade capaz de desencadear processos de reorganização e adaptação do comportamento motor. De tal modo, observamos que o sistema visual é de suma importância, e essa ausência da visão vai alterar o desenvolvimento postural e a manutenção do equilíbrio como diz Boudet apud Seabra Jr (1995), porém Gimenez e Manoel afirmam que na ausência de uma fonte de informação sensorial os indivíduos com deficiência recorrem a outras fontes e recriam condições para solucionar seus problemas motores. Deste modo, trazemos a tona à importância da intervenção profissional junto a essa população, bem como, a continuidade do estudo voltado ao individuo com deficiência e suas possibilidades. 24 6. Resumo de Artigos Neste capitulo, apresentaremos resumos de 4 artigos encontrados nas bases de dados citadas em nossa metodologia. Utilizaremos estes textos como fundamentação para a discussão do referido tema salientando-os pelo maior numero de informações relevantes ao nosso estudo, observando as idéias destes autores e o cruzamento das palavras-chaves definidas em nosso estudo. 6.1 Artigo 1 - O IMPACTO DA PERDA DA VISÃO SOBRE A ESTABILIDADE POSTURAL E ESTRATÉGIAS DE EQUILÍBRIO EM INDIVÍDUOS COM PERDA DE VISÃO PROFUNDA. RAY, Christopher T. et al. The impact of vision loss on postural stability and balance strategies in individuals with profound vision loss. Gait & Posture, Dallas, v. 28, p.58-61, 01 jul. 2008. Este artigo busca compreender os fatores que levam um indivíduo com deficiência visual a perder a estabilidade corporal, modificando as estratégias de equilíbrio, para que os riscos de quedas diminuam e haja uma melhor compreensão destes fatores para a elaboração de programas que auxiliem esta população. Os indivíduos com deficiência visual potencializam a utilização de outros sistemas como o vestibular e o sensoriomotor para a manutenção do equilíbrio, com isso empregam diferentes estratégias para estabelecer e ajustar sua posição no espaço. De acordo com o presente artigo, a diminuição do equilíbrio ocorre na pessoa com deficiência ou ausência de uma resposta visual do ambiente, pois se está já está na fase adulta a falta da visão acarreta numa barreira para sua independência e entre outras conseqüências, agrava-se o medo de cair; já em crianças que nasceram com deficiência visual o maior impedimento ocorre pela falta de estímulos visuais, falta de oportunidades para o desenvolvimento normal desta criança, atrasando sua maturação, modificando seus padrões de movimento e fragilizando seu tônus muscular. O estudo aplicou e avaliou o teste de organização sensorial (SOT) de 46 pessoas, divididas em dois grupos, sendo um grupo de 23 pessoas videntes, com idades entre 20 e 55 anos e outro grupo de 23 pessoas com acuidade visual menor 20/200 pés, sendo que destes 23 deficientes visuais, 17 tinham percepção de luz, 3 deles com acuidade visual de 20/600 e menos 25 que 5 graus de campo visual e ainda, outros 3 indivíduos com campo visual até 20 graus e acuidade entre 20/600 e 20/200 pés. Salientamos ainda que os participantes com deficiência visual apresentavam variações em grau e etiologia da deficiência e idade que perderam a visão; pareados através do sexo e idade com as pessoas videntes. O teste excluiu pessoas que tivessem anomalias no sistema periférico ou vestibular, ou ainda experiências de quedas nos últimos 6 meses. Este tipo de teste através do sistema Neurocom Equitest, consiste em avaliar, em 6 diferentes situações, quais combinações de fatores e quais entradas sensoriais foram utilizadas para a manutenção da estabilidade postural, utilizando uma plataforma de força que mede a intensidade da pressão vertical que cada indivíduo gera para se manter em equilíbrio e fixar sua base de apoio. O SOT é utilizado em vários tipos de população para avaliar a resposta e a adaptação de cada pessoa, avaliando as habilidades e limitações de equilíbrio durante uma variação sensorial. O avaliador alterna as informações sensoriais visuais, vestibulares e somatossensoriais em precisas e comprometidas para que o indivíduo consiga manter o equilíbrio nas 6 diferentes situações. A pontuação do teste representa a capacidade do individuo em manter o equilíbrio postural durante as 6 condições apresentadas e ainda verificar e quantificar os movimentos dos tornozelos e quadril e quias estratégias foram utilizadas na situação de instabilidade. Os resultados obtidos neste experimento confirmam que o equilíbrio é afetado pela falta de visão e que por conseqüência disso as pessoas com deficiência visual usam a estratégia do quadril para manutenção da estabilidade corporal, podemos concluir também que este tipo de estratégia pode ocasionar maior quantidade de quedas em terrenos instáveis, e ainda que a perda de visão profunda não pode ser compensada totalmente. 6.2 Artigo 2 - QUAIS FATORES SÃO RESPONSÁVEIS PELOS DESVIOS NUMA CAMINHADA? TOUSSAINT, Yann et al. What are the factors responsible for the deviation in stepping on the spot? Neuroscience Letters, Paris, n.435, p.60-64, 11 abr. 2008. O presente estudo mostra quais são os fatores que fazem com que a pessoa com algum impedimento visual desvie seus passos durante uma caminhada, corrobora a idéia de que é muito difícil manter uma linha à frente sem o auxilio da visão. O objetivo deste artigo é quantificar o desvio lateral e determinar quais fatores acarretam neste desvio. Neste trabalho, foi utilizado o 26 teste de Fukuda, que consiste num teste clínico destinado a analisar os distúrbios vestíbuloespinhal, porém este foi modificado com a construção de um dispositivo que controle fatores experimentais, de referencia e controle postural, permitindo quantificar o desvio. Neste experimento a população foi de 25 adultos, com idades entre 19 e 33 anos, sendo que 7 homens e 18 mulheres, divididos em destros e canhotos. Todos foram vendados e puderam realizar um ensaio no equipamento. O teste consistia em pisar segurando uma barra de rolagem vertical fixa na parede. Foram feitos testes em 4 condições diferentes com duração de 1 minuto: normal, onde o individuo deveria caminhar segurando a barra mantendo o maxilar relaxado e sem imposição da força de pressão do mecanismo; ritmo imposto, os candidatos deveriam dar passadas no ritmo imposto pelos avaliadores; tarefa dupla consistia em falar a maior quantidade de nomes a cada passo para ver o papel dos fatores de atenção no grau de desvio e pescoço dobrado onde os sujeitos foram informados que deveriam manter o pescoço dobrado para baixo no plano sagital, com o queixo perto do peito. Desse modo, o artigo apresenta como resultado um desvio para um dos lados em todos os participantes, ou seja, fica quase que impossível caminhar em linha reta sem que haja uma mínima mudança. Todavia, nos confirma que uma mudança de informações recebidas pelo sistema vestibular ou uma resposta proprioceptiva diferente na região do pescoço pode ocasionar um aumento no desvio lateral durante uma caminhada. O artigo afirma ainda que o desvio da linha reta durante a caminhada ocorrido neste teste não é resultado de um desequilíbrio postural. 27 6.3 Artigo 3 - IMAGEM MOTORA EM INDIVÍDUOS CEGOS: A INFLUÊNCIA DA EXPERIENCIA VISUAL PRÉVIA. IMBIRIBA, Luís Aureliano et al. Motor imagery in blind subjects: The influence of the. Neuroscience Letters, Rio de Janeiro, v. 400, n., p.181-185, 29 maio 2006. Neste artigo podemos observar as mudanças funcionais ocorridas no cérebro de indivíduos que ficaram cegos durante a vida e as diversas mudanças neurológicas nas áreas de córtex visual. O estudo dividiu os participantes em três grupos: videntes, cegueira congênita e cegueira tardia. Com o intuito de analisar qual a importância da experiência visual, ou seja, a memória visual que as pessoas com deficiência visual adquirida possuem e como usam essas experiências no decorrer de suas vidas, o presente artigo comparou os padrões de ativação na área do córtex visual nestes três grupos e assim ficou constatado que não há diferença de desempenho e sim maneiras e estratégias diferentes para realização de determinadas tarefas. Pessoas com cegueira tardia e pessoas videntes utilizam a experiência visual de forma acentuada e os colocam como pessoas que ainda utilizam a percepção visual de alguma forma, enquanto que as pessoas com cegueira precoce baseiam suas experiências no toque e na percepção sinestésica. O artigo mostra ainda que a coordenação motora é drasticamente afetada pela existência e duração de experiência visual prévia, todavia não afirma que a cegueira pode afetar os movimentos. Dessa forma, a hipótese de que a modulação de oscilação do corpo observada durante a simulação mental dessa tarefa deve ser suscetível ao aparecimento da cegueira, o objetivo desse estudo é comparar as mudanças estabilométricas, eletromiográficas (EMG) e a variabilidade da freqüência cardíaca (HRV), induzidas por uma tarefa de simulação mental em indivíduos com início de cegueira precoce ou tardia, por meio de análise discriminante. E assim supor que, na absoluta falta de visão, as representações corporais seriam principalmente cinestésicas. Em indivíduos com cegueira tardia, a adição do componente visual no planejamento e execução de movimentos poderia levar à representações visuais-cinestésicas do corpo. Portanto, de acordo com a idéia de que a falta de visão precoce afeta as representações corporais, porém indivíduos videntes e cegos tardios consideraram mais difícil julgar a ordem temporal de dois estímulos táteis. Em indivíduos dotados de visão isso se deve ao importante 28 papel da visão no planejamento motor e execução motora. Nesse caso, o estímulo tátil precisa ser remapeado em coordenadas externas definidas, o que demora mais a ser alcançado quando há conflito com códigos corporais, determinados principalmente por informações somatosensoriais e proprioceptivas. Em indivíduos com cegueira precoce esse conflito parece não existir. Conclui-se através deste artigo que análises discriminantes permitiram constatar diferenças psicológicas em indivíduos cegos durante tarefa de estimulação mental que envolve o ajuste corporal, refletindo o efeito de experiências visuais prévias. No entanto, pela amostragem estatística do artigo ser relativamente pequena, essa estimativa pode ser muito otimista. Estudos futuros poderão ser conduzidos para que se entenda melhor como a falta de informação sensorial interfere na representação mental dos movimentos. 29 6.4 Artigo 4 - SISTEMAS DE REAÇÕES POSTURAIS AUTOMÁTICAS EM INDIVÍDUOS COM CEGUEIRA CONGÊNITA TOTAL. NAKATA, Hideo; YABE, Kyonosuke. Automatic postural response systems in individuals with congenital. Gait & Posture, Nagoya, v. 14, n., p.36-43, 01 jul. 2001. Neste estudo examinaram-se os efeitos da falta de visão congênita e as reações posturais automáticas em uma plataforma durante deslocamento. As reações posturais foram induzidas por quatro tipos de perturbações que consistiam em translações para frente e para trás, e rotações dos dedos dos pés para cima e para baixo. Nove cegos congênitos e nove adultos com visão foram analisados. Os sinais EMG foram registrados de quatro músculos na perna direita, e o tempo de reação aos estímulos gerados pelo deslocamento de plataforma foi medido pelo aperto de um botão manual. Para avaliar a habilidade de controle de equilíbrio postural, os valores da raiz quadrada média (RMS) das oscilações ântero-posteriores foram calculados antes, durante e depois da indução das perturbações. A amplitude do EMG no músculo gastrocnêmio de indivíduos cegos foi menor que a dos indivíduos com visão de olhos fechados. Nas respostas às perturbações aos músculos da extremidade inferior, nenhuma diferença significativa foi encontrada entre indivíduos cegos e com visão. Os indivíduos cegos tiveram reações significativamente mais rápidas aos estímulos somatosensórios desencadeados pelo deslocamento da plataforma, mas nas rotações dos dedos do pé nenhuma diferença significativa foi encontrada entre cegos e pessoas com visão. A diferença nas latências de EMG e do tempo de reação entre os dois grupos sugere que a cegueira congenita não afeta o reflexo de estiramento espinhal, mas pode afetar um ato volitivo mediado pelo córtex motor. Também não observamos diferenças significativas nos valores RMS de oscilação postural entre cegos e pessoas com visão de olhos fechados e abertos, apesar dos cegos terem oscilado mais do que os indivíduos com visão de olhos abertos depois das translações para trás. Resultados sugerem que a habilidade do controle do equilíbrio postural durante as perturbações não foi afetado pela perda da visão no nascimento. As conclusões encontradas neste estudo sugerem que a cegueira congenita não teve efeito sobre as respostas automáticas postural ao deslocamento da plataforma. Não houve diferenças significativas entre os indivíduos cegos e pessoas videntes no padrão de atividade EMG, EMG de latências iniciais, e oscilações posturais durante os movimentos. Os sistemas 30 automáticos de resposta postural em seres humanos são pensados para ser duro como fios. Por outro lado, os indivíduos cegos mostraram tempos de reação mais rápidos a estímulos gerados pelo deslocamentos da plataforma, em comparação à dos indivíduos com visão. Isso pode ser atribuído à elevada dependência de entrada de estímulos somatossensoriais no ambiente. 31 7. Discussão De acordo com nossos estudos, vamos analisar as possíveis conseqüências da deficiência visual na estabilidade corporal e equilíbrio do individuo. A partir de nosso trabalho com pessoas que apresentam cegueira total adquirida. Sabemos que a habilidade motora do equilíbrio tem como um dos seus importantes componentes o sistema visual, além do sistema vestibular, do sistema muscular e biomecânico como enfatiza Mosqueira (2000), entre outros já descritos neste estudo. Assim, o ser humano tem a estabilidade corporal e a posição ereta durante o caminhar como um diferencial entre os seres vivos como afirma Gallahue (2005). Essa característica nos torna capazes de dominar a força da gravidade, de nos locomover com eficiência e ainda desenvolver tantas outras habilidades que necessitam do equilíbrio corporal. Todo nosso levantamento bibliográfico teve como objetivo conhecer e relacionar idéias de vários autores referentes às questões da estabilidade e do equilíbrio, estabelecendo uma relação dessa habilidade motora em pessoas com deficiência visual. Com isso, buscamos em várias fontes de dados que promovessem uma base teórica que fundamentasse nossa experiência no campo de trabalho. Salientamos que também fez parte deste estudo conhecer algumas características de desenvolvimento motor, aprofundarmos e apresentarmos informações pertinentes ao individuo em sua totalidade para podermos traçar uma linha paralela que nos desse uma visão um pouco mais abrangente em relação a pessoa com deficiência visual. Traçamos ainda pontos pertinentes do individuo cego, suas classificações e características para que assim colocássemos dados que nos mostrasse ligações entre a perda da visão e a falta de equilíbrio. Observamos em nossa pesquisa que o individuo que apresenta algum tipo de deficiência visual pode sofrer danos no equilíbrio corporal como afirma Ray et al (2008) dizendo que a ausência de resposta visual sobre um ambiente pode acarretar um medo de cair excessivo e ainda tornar a pessoa dependente, modificando seus padrões de movimento e fragilizando seu tônus muscular. Portanto, evidenciamos que a falta do sistema visual corrobora a idéia que tivemos em nossos trabalhos com esta população especifica de que a decorrente falta de equilíbrio e controle postural é um dos problemas que o profissional de Educação Física deve enfrentar ao ministrar 32 aulas para pessoas com deficiência visual. O medo de se locomover de um ponto ao outro, sem obter as informações visuais, transforma o modo de vida da pessoa que adquiriu algum tipo de deficiência visual, mudando as características posturais e o seu modo de manter-se em pé. A partir disso, a pessoa deve ser orientada e passar por devidos treinamentos e vivências que possam auxiliá-la na busca da melhora da qualidade de vida e na reorganização das habilidades motoras conforme Ray et al (2008) salienta que a pessoa com deficiência visual busca estratégias como a do movimento do quadril para a manutenção do equilíbrio. As constantes variações corporais que passamos ao longo da vida é fator comum e inerente a todos os seres vivos, porém quando enfrentamos um impedimento ou ausência de algum sentido sensorial o corpo humano logo trata de suprir, contornar essa falha e reorganizar o organismo de modo que possamos continuar a viver como nos mostra Toussaint et al (2008) em seu artigo comprovando que uma mudança nos tipos de informações sensoriais que recebemos pode ocasionar uma transformação na resposta proprioceptiva e dessa maneira ocorrer mudanças corporais que levem o individuo a mudar seu comportamento motor. Como o nosso estudo está pautado em pessoas com deficiência visual adquirida, os seja que perderam o sentido de visão já na fase adultas buscamos referências que ratificasse a idéia de que o equilíbrio é afetado pela falta de visão, portanto é importante diferenciar nosso estudo de outros que tenham como população participante pessoas com deficiência visual congênita já que pudemos constatar com Nakata e Yabe (2001) que pessoas com cegueira congênita não apresentam oscilação postural e perda do controle do equilíbrio, já que este tipo de população nunca obteve informações visuais e, portanto desenvolveram o sistema motor e a estabilidade corporal sem o sentido da visão. Desta forma, devemos ainda apontar como fator importante neste estudo o imagem motora do indivíduo que perdeu a visão, assim a pessoa que adquiriu a cegueira ainda associa imagens previamente estabelecidas para desenvolver algum tipo de habilidade motora e Imbiriba et al (2006) explica que esse tipo de associação pode acarretar mudanças na coordenação motora. Portanto, devemos dar continuidade a esse estudo e aprofundarmos ainda mais para que possamos compreender melhor as implicações que a deficiência visual pode ocasionar na estabilidade corporal de uma pessoa. 33 8. Considerações Finais A partir deste estudo conseguimos reunir informações e uma base teórica que nos leve a um melhor entendimento a cerca da pessoa com deficiência visual e as implicações que acarretam no seu desempenho motor e nas habilidades motoras de estabilidade e equilíbrio. Desta forma, nos motivamos ainda mais a dar continuidade em nossa pesquisa para que possamos desenvolver melhorias em nossa atividade como profissional de Educação Física na área de Atividade Motora Adaptada. Observamos estudos complementares que fundamentaram nossa experiência prática abrangendo nosso conhecimento e destacando novas formas e idéias que contribuam para o desenvolvimento motor da pessoa com deficiência visual. Com isso, renovamos nosso intuito de pesquisar e reunir uma gama de informações que possam nos ajudar em nosso futuro acadêmico. Através deste estudo, pudemos concluir que a deficiência visual pode ocasionar desvios no comportamento motor, variações na forma de locomoção e controle postural, modificando a estabilidade e alterando o equilíbrio corporal. Por outro lado, devemos salientar que a partir deste ponto surgem novas estratégias para contornar essa falha sensorial de um individuo, reorganizando e reeducando o corpo na busca de uma nova estrutura de movimento. Desse modo, nosso estudo corrobora a idéia de que uma intervenção mais aprimorada se faz necessária para que o sujeito com deficiência visual consiga sua independência e autonomia, realize as tarefas do seu cotidiano de forma plena e consciente, e ainda, que o profissional de Educação Física forneça subsídios e promova atividades que aprimorem as habilidades motoras básicas e melhorem as condições de vida das pessoas com algum tipo de impedimento visual. 34 Referências Bibliográficas ALMEIDA, José J.G.; CONDE, Antonio J.M. Metodologia aplicada ao deficiente visual: In: Curso de Capacitação de Professores multiplicadores em Educação Física adaptada. Brasília: MEC/SEESP, 2002. BANKOFF, Paula C. 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