1º Ten Al ADRIANO SEBASTIÃO MURUCCI DA FONSECA
A IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO PRECOCE
DE DEFICIÊNCIA VISUAL
EM AMBIENTES DE ENSINO
RIO DE JANEIRO
2008
F676i
Fonseca, Adriano Sebastião Murucci.
A importância da identificação precoce de deficiência visual em
ambientes de ensino /. – Adriano Sebastião Murucci da Fonseca. - Rio de
Janeiro, 2008.
28 f.; 30 cm.
Orientador: Daniel Almeida de Oliveira
Trabalho de Conclusão de Curso (especialização) –
Escola de Saúde do Exército, Programa de Pós-Graduação em
Aplicações Complementares às Ciências Militares.
Referências: f. 26-28.
1. Deficiência visual - Educação. 2. Prevenção da cegueira. I. Oliveira,
Daniel Almeida de. II. Escola de Saúde do Exército. III. Título.
1º Ten Al ADRIANO SEBASTIÃO MURUCCI DA FONSECA
A IMPORTÂNCIA DA IDENTIFICAÇÃO PRECOCE
DE DEFICIÊNCIA VISUAL
EM AMBIENTES DE ENSINO
Trabalho de conclusão de curso apresentado à
Escola de Saúde do Exército, como requisito
parcial para aprovação no Curso de Formação de
Oficiais do Serviço de Saúde, especialização em
Aplicações Complementares às Ciências Militares.
ORIENTADOR: DANIEL A. DE OLIVEIRA
RIO DE JANEIRO
2008
RESUMO
Nesta monografia é discutida a importância da identificação precoce de deficiência
visual e anormalidade ocular e dos seus fatores de risco em ambiente escolar.
Fatores relacionados a esta identificação são explanados, como o treinamento de
professores e demais profissionais envolvidos. O papel do oftalmologista também é
enfatizado. Orientações práticas sobre o treinamento para detecção também são
discutidas. Orientações atualizadas de como conseguir tal identificação são
apresentadas. O principal objetivo da prevenção em oftalmologia em ambiente
escolar é garantir o desenvolvimento pleno das potencialidades da criança.
Palavras-chave: Deficiência visual. Escolares. Prevenção da cegueira.
ABSTRACT
In this monograph is discussed the importance of early identification of visual
impairment and eye abnormalities and their risk factors, in the school environment.
Factors related to the identification are described as the training of teachers and
other professionals involved. The role of the ophthalmologist is also emphasized.
Guidance on training for detection are also discussed. Updated guidelines on how to
achieve such identification is presented. The main goal of prevention in
ophthalmology in the school environment is to ensure the full development of
potentialities of the child.
Keywords: Visual disabilities. School children. Prevention of blindness.
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Indicações
para
referendamento
de
crianças para exame
Oftalmológico Pediátrico ........................................................................................
15
TABELA 2 - Exames de triagem para crianças segundo a Academia Americana
de Oftalmologia ......................................................................................................
22
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................
07
2 A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO .................................................................
09
3 PAPEL DO OFTALMOLOGISTA
NA
AÇÃO
GLOBAL
PARA
A
PREVENÇÃO DA CEGUEIRA............................................................................
13
4 PAPEL DO PROFESSOR DA ESCOLA DE 1º GRAU NA PREVENÇÃO DA
CEGUEIRA .........................................................................................................
17
5 PREVENÇÃO DA CEGUEIRA: RECURSOS A SEREM MOBILIZADOS .........
18
6 ORIENTAÇÃO BÁSICA PARA A DETECÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS VISUAIS
21
7 INSTRUÇÕES PARA EXAME DA ACUIDADE VISUAL ...................................
24
8 CONCLUSÃO .....................................................................................................
25
REFERÊNCIAS...................................................................................................... 26
1 INTRODUÇÃO
A visão é o sentido responsável pela aquisição de cerca de 80% (oitenta por
cento) do conhecimento humano. Qualquer deficiência neste órgão visual
prejudicará o desenvolvimento das aptidões intelectuais e psicomotoras interferindo
na vida escolar e profissional do indivíduo. A cegueira, no sentido profissional ou
social, refere-se à visão inferior a 10% (20/200 na escala de Snellen) no olho de
melhor visão. Há, entretanto, indivíduos que não podem ser incluídos como cegos,
estando situados entre os cegos e os “videntes”: são os amblíopes, cuja educação e
tratamento seguem normas para as quais estamos parcialmente despreparados
(LOPES et al., 2002).
A ambliopia (amblys=débil; opsis=visão) é caracterizada como uma baixa
acuidade visual corrigida não totalmente atribuída a uma anormalidade estrutural do
olho. A baixa de visão seria num olho organicamente perfeito, em que o mais
acurado exame oftalmológico e dos meios de transparência nada revelaria que a
justificasse. O sistema visual da criança ao nascimento pode ser considerado
imaturo, devendo passar por um processo de maturação. A maturação visual é
processo progressivo desde o nascimento a aproximadamente seis anos de idade,
período em que os estímulos visuais (luz e forma) constituem a condição “sine qua
non” para efetivação. Privado os olhos desses estímulos fisiologicamente dirigidos à
função visual – nessa época vulnerável – ela estaciona ou mesmo regride, por vezes
apresentando graus extremos de baixa visual periférica. Se a ambliopia é descoberta
em idade de pré-escolar, há uma chance muito grande de recuperação visual,
embora tratamentos medicamentosos associados à oclusão têm-se mostrado
eficazes para tratamento em crianças maiores e mesmos em adultos (PROCIANOY
et al., 2004).
Cerca de 20% das crianças em idade escolar apresentam algum transtorno
de visão, logo, as perturbações oculares assumem papéis relevantes no ensino, pois
uma boa acuidade visual e o desenvolvimento da visão binocular são essenciais
para bom desenvolvimento psicossensorial da criança (COUTO JR. et al., 2007).
O tratamento (oclusão, óculos, levodopa, cirurgia) deve ser orientado pelo
oftalmologista, e iniciado o mais cedo possível, pois o sucesso é limitado se esses
cuidados forem tomados tardiamente (depois dos seis anos). (PROCIANOY et al.,
2004)
No presente trabalho procurou-se dissertar sobre a importância da
identificação precoce de deficiência visual e anormalidade ocular e seus fatores de
risco em ambiente escolar.
2 A IMPORTÂNCIA DA PREVENÇÃO
O termo prevenção significa aqui “vir antes ou preceder”. Coincide com o
significado de prevenir encontrado nos dicionários: “-Antecipar, preceder, tornar
impossível por meio de uma providência precoce”. Tal prevenção exige uma ação
antecipada, baseada no conhecimento da história natural, a fim de tornar impossível
o progresso posterior da doença (COUTO JR., 2007).
Pratica a medicina preventiva todo aquele que utiliza o conhecimento, para
promover a saúde e a qualidade de vida, evitar a doença e a invalidez e prolongar a
vida. A prevenção envolve três níveis fundamentais (TEMPORINI, 1993):
A - Prevenção Primária: promoção da saúde, proteção específica (período prépatogênico);
B - Prevenção Secundária: diagnóstico precoce e tratamento imediato da
incapacidade;
C - Prevenção Terciária: reabilitação.
De acordo com uma estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), há
quase 36,9 milhões de cegos no mundo. Aproximadamente dois terços destes cegos
são por causas preveníveis e cerca de 1,4 milhões tem menos que quinze anos de
idade. De 70 a 80% das crianças portadoras de cegueira morrem durante os
primeiros anos de vida, em conseqüência de doenças associadas ao seu
comprometimento visual
(BRITO et al., 2000). Os países em desenvolvimento
contribuem com quase a totalidade dos casos de cegueira potencialmente evitáveis.
A baixa visão apresenta uma prevalência cinco a sete vezes maior nos países
pobres, se comparados aos ricos e mais de 90% dos casos de cegueira em menores
de 16 anos são nos pobres. Há, pela citada estimativa da OMS (ALBUQUERQUE,
2003), na região geográfica compreendida pelo Brasil, Barbados e Paraguai, quase
1,4 milhões de cegos e 7,6 milhões de pessoas com baixa visão. No Brasil, existem
98 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, dos quais 80 milhões
não têm acesso a qualquer tratamento (BRITO et al., 2000).
Dados internacionais registram que perto de 25% dos escolares matriculados
apresentam perturbações visuais significativas, demonstrando a importância do
estudo das alterações oculares na infância e sua prevenção.
Para o combate da cegueira é necessário o conhecimento sobre a
prevalência e o fator causal, que variam conforme condições geográficas e sócioeconômicas. O Brasil, pela suas dimensões continentais e diferenças econômicas e
culturais nos diversos estados, demanda avaliação ampla para o estabelecimento de
programas de prevenção das causas de comprometimento visual infantil. Quanto
mais tardio é o diagnóstico das alterações oculares da infância, pior é o prognóstico
e mais graves são as seqüelas (KARA-JOSÉ, 1984).
Estudos de morbidades realizados no Rio de Janeiro pela Secretaria
Municipal de Saúde e dados de outros estados apontam os problemas
oftalmológicos como a terceira causa mais freqüente de problemas de saúde entre
escolares, onde se observam as relações problemas oftalmológicos / rendimento
escolar. Assim, fica claro a necessidade de um programa de assistência
oftalmológica sanitária tendo como objetivo básico desenvolver atividades
educativas, preventivas e curativas (CONSTANTI et al., 1988).
As principais condições oculares na criança, segundo a Academia Americana
de Oftalmologia são: a catarata congênita, com 0,06% de prevalência; a retinopatia
da prematuridade, com 52% de incidência nos recém-nascidos com menor que 750
g ao nascimento, 32% nos com 750 a 800 gramas e 15% nos de 1000 a 1250
gramas; glaucoma congênito, com 0,01% de prevalência; retinoblastoma, com
0,005% de incidência em crianças menores que 15 anos; estrabismo, com 4% de
prevalência; ambliopia, com 2 a 3% de prevalência; e ametropias, com prevalências
em crianças de 5 a 17 anos de 9% de miopia, 13% de hipermetropia e 28% de
astigmatismo.
A prevalência da ambliopia varia de 1 a 5% na literatura. Scarpi, em 1977,
relatou uma prevalência em estudantes de São Paulo de 4,07%. Schimiti relatou em
Ibiporã uma prevalência de 1,76%. Couto Jr., nas favelas do Alto da Boa Vista
encontrou prevalência de 2,00%. Lopes, em 2002, encontrou 3,6% em alunos de
escolas estaduais e 5,9% em alunos de escolas particulares da cidade de Londrina.
Beer, para São Caetano, relatou uma prevalência hipotética de 2,8%.
A maior parte dos trabalhos referem uma prevalência de estrabismo em
populações gerais de 1 a 4%. Macchiaverni, em 1979, encontrou em Paulínea a
prevalência de 1,58%. Schimiti, em 2001, encontrou em Ibiporã, 0,84%. Couto Jr.,
em 2001, encontrou-se 1,72% de prevalência nas favelas do Alto da Boa Vista.
Lopes, em 2002, achou em Londrina, 0,46% em alunos de escolas estaduais e 2,4%
das escolas particulares. Beer, em 2003, encontrou em São Caetano do Sul, 1,78%.
Garcia, em 2004, encontrou, nos estudantes de Natal, 2,9%. Os dados da literatura
sobre prevalência de ametropias são variáveis, desde 2,4%, 3,50%, 3,6%, 4,56%, a
até 14,11%.
Prevenção da cegueira é formação de mentalidade, que envolve a
participação de todas as pessoas e todas as áreas profissionais. A criança depois do
nascimento, através de estímulos ambientais, desenvolve plenamente o sentido da
visão.
O retardo no tratamento das crianças portadoras de ambliopia, piora
seriamente o prognóstico visual, principalmente na associação ambliopia e
estrabismo. Com diagnóstico e tratamento precoces, a ambliopia é reversível na
maior parte dos casos. Porém, a maioria se apresenta para tratamento após a idade
de seis anos, quando o mesmo é menos eficaz e a aceitação da terapêutica é mais
difícil (BECHARA et al, 1987).
Consegue-se a correção da ambliopia em criança de 4 anos, com tratamento
adequado, em torno de 84% dos casos, num período de 12 meses. Para se atingir a
prevenção da ambliopia, a acuidade visual pode ser avaliada satisfatoriamente em
crianças de 3 a 4 anos de idade por educadores previamente orientados (BEER et
al., 2003).
Segundo Piaget, a criança cega tem quatro anos de atraso no processo de
aprendizagem em relação à criança que enxerga. A maior causa de insucesso no
tratamento é o desinteresse familiar e o diagnóstico tardio. Portanto, para a
prevenção da ambliopia é fundamental o diagnóstico precoce, bem como
campanhas de educação e orientação pública. A investigação em exame de massa
de problemas oculares em crianças por meio de oftalmologistas mostra-se muito
dispendiosa e mesmo inexeqüível em saúde pública. Uma das alternativas viáveis é
a triagem por pessoal não-médico, treinado e supervisionado em populações de
crianças, desde o ingresso na escola, para posterior avaliação por oftalmologistas.
No processo de prevenção da cegueira, deve haver a integração entre a família, os
profissionais de saúde e os de educação.
3 PAPEL DO OFTALMOLOGISTA NA AÇÃO GLOBAL PARA A PREVENÇÃO DA
CEGUEIRA
O papel tradicional do oftalmologista na prevenção da cegueira tem sido o de
fazer diagnóstico, indicar e executar o tratamento das doenças oculares. No entanto,
igualmente importante às atividades secundárias e terciárias da prevenção, são as
atividades primárias (TEMPORINI,1993).
Para isto o oftalmologista deve:
1 – informar professores, pais e responsáveis por crianças, da importância do
tratamento precoce da ambliopia;
2 – Promover palestras dentre os profissionais da área de educação e as
comunidades em geral (associações de bairro, unidades de saúde da família,
igrejas, etc.) de como detectar grosseiramente a deficiência visual;
3 – informar outros profissionais da área de saúde dos métodos de prevenção
acessíveis aos mesmos:
3.1 – Método de Credê para prevenção de infecção ocular no recémnascido;
3.2 – Informar os pediatras e neonatologistas de importância do teste do
olhinho
para
diagnóstico
precoce
de
catarata
congênita
e
do
retinoblastoma;
3.3 – Informar os auxiliares de enfermagem e enfermeiros do risco de
retinopatia da prematuridade no excesso de oxigênio em crianças recémnascidas, quando do seu tratamento no berçário;
4 – Desenvolver trabalhos de pesquisa, clínica, laboratorial e epidemiológica
com a finalidade de subsidiar ações de prevenção primária e secundária.
5 – Informar aos que prestam cuidados às crianças as principais indicações
para referendamento para exame oftalmológico completo, segundo a
Academia Americana de Oftalmologia (vide tabela 1).
É ainda rara a menção na literatura nacional da realização de
levantamentos em populações escolares para determinar a prevalência de
vícios de refração. Por sua vez o conhecimento de sua prevalência em
escolares é de grande importância para:
1 – Planejar programas específicos de saúde pública;
2 – Estabelecer a evolução de estado refracional por meio de estudos
longitudinais e prospectivos;
3 – Subsidiar a investigação de fatores que possivelmente influenciam a
evolução das ametropias com a idade;
4 – Projetar a necessidade de correção óptica da população.
Tabela 1: Indicações para referendamento de crianças para exame oftalmológico
pediátrico
Indicação
Exemplos Específicos
Fatores de risco (problemas - Prematuridade (peso ao nascer menor que 1500 g ou
de saúde gerais, doenças idade gestacional menor que 30 semanas)
sistêmicas,
ou
uso
de - Retinopatia da prematuridade
medicamentos associados à - Crescimento intra-uterino retardado
doença ocular).
- Complicações perinatais ( avaliadas ao nascimento e
aos 6 meses)
- Doenças neurológicas ou retardo no desenvolvimento
neuropsicomotor
- Artrite idiopática juvenil
- Doença tireoidiana
- Fenda palatina e outras anormalidades craniofaciais
- Diabetes mellitus (5 anos após o diagnóstico)
- Síndromes sistêmicas com manifestações oculares
- Terapia sistêmica crônica com corticosteróide e outros
medicamentos que causem problemas oculares
- Suspeita de abuso infantil
História familiar de condições - Retinoblastoma
que
causam
ou
são - Catarata congênita
associadas com problemas - Glaucoma congênito
oculares e da visão
- Distrofia e degeneração retiniana
- Estrabismo
- Ambliopia
- Uso de óculos em idade precoce
- Anemia falciforme
- Síndromes sistêmicas com associação ocular
- História de cegueira infantil não relacionada a trauma
em parentes próximos
Sinais e sintomas de
- Fixação ocular deficiente
- Reflexo luminoso anormal (incluindo reflexo corneano e
reflexo vermelho)
problema ocular por história - Pupilas anormais ou irregulares
ou observação de membros - Alteração no tamanho e coloração dos olhos
familiares
- Ptose palpebral
- Caroços ou inchaço em volta do olho
- Anormalidades no alinhamento e no movimento ocular
- Nistagmo
- Lacrimejamento e secreção ocular
- Olho vermelho persistente ou recorrente
- Fotofobia
- Olhos semi-serrados
- Cabeça inclinada persistente
- Problemas no aprendizado
Fonte: American Academy of Ophthalmology Pediatric Ophthalmology/Strabismus Panel. Preferred
Practice Pattern Guidelines. Pediatric Eye Evaluations. San Francisco, CA: American Academy of
Ophthalmology; 2007.
4 PAPEL DO PROFESSOR DA ESCOLA DE 1º GRAU na prevenção da cegueira
A escola é agente transformador por excelência, é, sem dúvida, a primeira
instituição de educação formal que atua preventivamente, integrando a família e
comunidade na solução dos problemas de saúde geral (KARA-JOSÉ et al., 1984).
Até a idade escolar, a maioria das deficiências visuais passa despercebida
aos pais e seus familiares, mesmo porque, entre nós, não se tem o hábito de
exames periódicos de saúde, só se procurando o médico em casos de doenças já
estabelecidas. E muitos pais não aceitam que seus filhos possam ter algum
problema, necessitando de correção. Repelem também as recomendações feitas.
No lar, a criança não tem noção do quanto deve enxergar ou, então, não apura
maior esforço visual.
Somente ao entrar para a escola é que lhe exigem um esforço maior,
possibilitando as manifestações dos problemas já existentes, entre eles os visuais.
Por sua vez, o exame de saúde inicial descobre, em tempo útil para a correção
antecipada, problemas que a criança traz, muitas vezes, desde o nascimento. Na
área oftalmológica as deficiências são facilmente identificadas, uma vez que a
criança demonstra, quase que nos primeiros momentos de vida escolar, a
dificuldade em distinguir os objetos a certa distância e, mesmo após o domínio das
primeiras letras, de ler as palavras escritas no quadro (COUTO JR.,2007).
Cabe, portanto, ao professor além de realizar o trabalho supramencionado,
captar recursos da comunidade, orientar os pais, melhorar as condições físicas da
sala de aula, ministrar conteúdo de saúde focalizando os aspectos de higiene e de
alimentação, prevenir acidentes, orientar os alunos que necessitam usar óculos
sobre os cuidados que devem ter com os mesmos. A visão é um direito e só quem já
viu alguém recuperá-la é que pode entender a profundidade humana desse direito
(TEMPORINI, 1993).
5 PREVENÇÃO DA CEGUEIRA – RECURSOS A SEREM MOBILIZADOS
Sendo a prevenção da cegueira um problema médico-social é evidente que
não deve ser motivo de preocupação somente dos consultórios médicos e dos
congressistas de oftalmologia. Não só oftalmologistas tem a responsabilidades de
prevenção da cegueira e assim os médicos de uma maneira geral: demais
profissionais de saúde, assistente-sociais, professores e educadores, industriais,
líderes comunitários e sobre tudo o governo. A prevenção da cegueira inclui, desde
a limitação de qualquer tipo de risco para os olhos (acidentes de trabalho, acidentes
eventuais), a doença hereditária de caráter oftalmológico, doenças oculares
congênitas. Basicamente os recursos a serem mobilizados:
A . Conhecimento preliminar básico das doenças oftalmológicas e de como
identificá-las;
B. Recursos humanos: médicos, profissionais para-médicos (ortoptistas,
enfermeiros, psicólogos), educadores, líderes comunitários, etc;
C . Recursos materiais;
Na seleção dos recursos humanos e na formação do conhecimento
oftalmológico básico dispõe o oftalmologista de palestras e debates enfatizando a
importância da saúde visual dos escolares, salientando o aspecto preventivo do
projeto, além de ensinamentos, e de como proceder com exame de acuidade visual
(AV), exame externo dos olhos e o problema do alinhamento dos olhos.
Torna-se fundamental a realização de palestras de esclarecimento quanto à
importância de visão, de prevenção e de noções de oftalmologia e doenças externas
além do teste de Acuidade Visual.
As principais causas de alterações oculares: ametropias e perda visual, são
hereditárias. As causas congênitas, de anomalias do desenvolvimento, desnutrição e
infecção estão assim distribuídas:
-
0 a 3 anos: catarata, glaucoma e retinopatia congênita;
-
4 a 6 anos: ambliopia refracional, catarata congênita e trauma ocular;
-
idade escolar: ametropia, alteração da motilidade e outros problemas
oculares tais como: inflamação e acidentes oculares.
Para a devida prevenção das diversas doenças enumeradas anteriormente,
dispõe-se dos seguintes meios:
A) Doenças Hereditárias: prevenção – aconselhamento genético;
B) Doenças Congênitas: prevenção – exame pré-nupcial, controle pré-natal;
C) Doenças da Infância: prevenção – controle pediátrico, assistência dentária,
assistência adequada nos berçários, exame do recém-nascido, teste do
reflexo-vermelho, check-up oftalmológico nas fases pré-escolar e escolar,
com ajuda de profissionais da área de educação;
As principais causas de baixa de Acuidade Visual são:
-
Ametropias;
-
Opacidade corneanas;
-
Catarata;
-
Transtornos retinianos;
-
Atrofia óptica;
-
Glaucoma;
-
Atrofia do globo ocular.
Os sinais de alerta para Deficiência Visual são:
-
Estrabismos;
-
Nistagmo;
-
Leucocoria e leucoma;
-
Ptose palpebral;
-
Lacrimejamento com ou sem secreção;
-
Hiperemia;
-
Microftalmia;
-
Buftalmia;
-
Proptose.
Os principais sintomas de Deficiência Visual de acordo com faixas etárias
são:
- 1 a 5 anos :
desinteresse por objetos coloridos;
não identificar semelhanças e diferenças;
queda freqüente contra obstáculos;
não diferenciação de desníveis.
- 6 anos:
diminuição da acuidade visual para longe;
diminuição de adaptação escolar;
semicerrar as pálpebras para melhor ver;
aproximar texto de leitura;
torcicolo para leitura;
queixa de astenopia: cefaléia freqüente relacionada à leitura,
desinteresse por atividades visuais, tontura, sonolência após leitura.
Portanto a observação contínua e racional, pelos familiares e educadores, do
comportamento das crianças através dos sinais e sintomas anteriormente
enumerados contribuirão sobremaneira para a detecção das deficiências visuais.
Finalizando gostaríamos de apresentar algumas sugestões, no que se
referem à aplicação dos testes e à necessidade de estabelecer melhor tempo,
forneça um resultado mais acurado.
Devemos, no entanto, sempre lembrar que a observação dos sinais e
sintomas é tão importante quanto o teste de Acuidade Visual, pois principalmente em
crianças e jovens, podemos ter o teste de Acuidade Visual normal em portadores de
algumas ametropias devido ao mecanismo de acomodação.
6 ORIENTAÇÃO BÁSICA PARA A DETECÇÃO DAS DEFICIÊNCIAS VISUAIS
A triagem através da medida da acuidade visual pela tabela de Snellen é um
método de fácil aplicação e de baixo custo (SCHIMITI et al., 2001). A sua utilização
por pessoal treinado deveria ser amplamente estimulada, principalmente em
associação ao exame externo com lupa e lanterna, em populações mais
susceptíveis, como as crianças menores e as que não contam com serviço
oftalmológico. Tal prática mostra-se bastante eficaz para a identificação precoce das
afecções oculares e para permitir medidas preventivas e terapêuticas precoces e
eficazes (LOPES et al., 2000).
A crescente necessidade dos oftalmologistas em conhecer a acuidade visual
de criança abaixo de 5 anos de idade originou em inúmeras pesquisas a busca de
um método conveniente de triagem de indivíduos nesta faixa etária.
A Academia Americana de Oftalmologia sugere fazer o teste para aferição da
acuidade visual com figuras, letras, “E”, símbolos de Lea, ou outros métodos
similares, de acordo com a idade e compreensão da criança.
A mesma Academia apresenta uma sugestão de triagem para as crianças,
apresentado na tabela 2.
Tabela 2: Exames de triagem para crianças segundo a Academia Americana de
Oftalmologia.
Idade
Método
Indicação para avaliação
oftalmológica
Nascimento aos
Reflexo Vermelho
3 meses
Ausência, branco, fraco, opacidade
ou assimetria
Inspeção externa
Anormalidades estruturais
Exame pupilar
Formato
assimétrico,
irregular,
reação
tamanho
pobre
ou
assimétrica
3 a 6 meses
Fixação e seguimento
(aproximadamente)
Ausência de fixação e seguimento
em criança cooperativa
Reflexo Vermelho
Ausência, branco, fraco, opacidade
ou assimetria
Inspeção externa
Anormalidades estruturais
Exame pupilar
Formato
assimétrico,
irregular,
reação
tamanho
pobre
ou
assimétrica
6 a 12 meses e até
Fixação e seguimento
Ausência de fixação e seguimento
que criança possa
Oclusão alternada
Assimetria ocular
cooperar verbalmente
Reflexo corneano
Assimetria
para a acuidade visual
Reflexo Vermelho
Ausência, branco, fraco, opacidade
ou assimetria
Inspeção externa
Anormalidades estruturais
Exame pupilar
Formato
assimétrico,
irregular,
reação
tamanho
pobre
ou
assimétrica
3 e 4 anos
Acuidade
(aproximadamente)
(monocular)
Reflexo
teste
visual 20/50 ou pior ou 2 linhas de
diferença entre um olho e outro
corneano/ Assimetria
da
nos
cobertura oculares de refixação
(cover-uncover)
movimentos
3 e 4 anos
Reflexo Vermelho
(aproximadamente)
Ausência, branco, fraco, opacidade
ou assimetria
Inspeção externa
Anormalidades estruturais
Exame pupilar
Formato
assimétrico,
irregular,
reação
tamanho
pobre
ou
assimétrica
5 anos
Acuidade
(aproximadamente)
(monocular)
visual 20/40 ou pior ou 2 linhas de
diferença entre um olho e outro
Todos os outros teste
indicados para idade
de 3 e 4 anos
A cada 1 a 2 anos
Acuidade
após 5 anos
(monocular)
visual 20/30 ou pior ou 2 linhas de
diferença entre um olho e outro
Todos os outros teste
indicados para idade
de 3 e 4 anos
Fonte: American Academy of Ophthalmology Pediatric Ophthalmology/Strabismus Panel. Preferred
Practice Pattern Guidelines. Pediatric Eye Evaluations. San Francisco, CA: American Academy of
Ophthalmology; 2007.
7 INSTRUÇÕES PARA EXAME DA ACUIDADE VISUAL
1º - O examinado ficará sentado em uma cadeira numa distância de 6 metros
entre seus olhos e os optotipos (mínimo tolerável de 5 metros).
2º - A sala deve ser bem iluminada, estando o examinado de costas para a
luz.
3º - O exame em cada olho deve ser feito em separado, tapando-se o outro
olho com um ocluso com elástico.
4º - Anotam-se os resultados escrevendo: A.V. – OD____/ OE____; e ao lado
o menor optotipo observado a seis metros (preferencialmente).
Tratando-se de crianças, ensina-se previamente o que e como deve
responder. Pede-se que digam (ou façam gestos com a mão ou o braço) para onde
estão voltados às pontas dos dedos, ou se ensina o nome dos desenhos ou dos
símbolos. Não se deve cansá-las mostrando símbolos em excesso, uma vez que os
objetivos do exame é saber qual a menor linha de optotipos que pode ser
distinguida.
Deve-se usar referencialmente optotipos de visão linear, pois uma das
características principais da ambliopia é a dificuldade de separação de letras. Assim
o teste fornecerá resultados mais significativos do que aquele teste utilizando-se
letra por letra.
8 CONCLUSÃO
Uma vez tendo sido dissertado sobre a detecção das deficiências visuais na
infância, deve-se enfatizar que é necessário esforço mútuo entre médicos
especializados, outros profissionais de saúde, professores e outros educadores,
engenheiros sanitários, empresários, e todo o povo em geral, para que se concretize
a prevenção das doenças, em especial das oftalmológicas. Somente de tal forma é
que se conseguirá um desenvolvimento adequado das potencialidades das crianças.
REFERÊNCIAS
ABRAHAMSSON, M; FABIAN, G; SJÖSTRAND, J. Refraction changes in children
developing convergent or divergent strabismus. Br J Ophthalmol. 1992; 76(12):
723-7.
ALBUQUERQUE, RC; ALVES, JGB. Afecções oculares prevalentes em crianças de
baixa renda atendidas em um serviço oftalmológico na cidade do Recife – PE, Brasil.
Arq Bras Oftalmol 2003; 66:831-4.
American Academy of Ophthalmology Pediatric Ophthalmology/Strabismus Panel.
Preferred Practice Pattern Guidelines. Pediatric Eye Evaluations. San Francisco, CA:
American Academy of Ophthalmology; 2007. Disponível em: http://www.aao.org/ppp.
BECHARA, SJ; KARA-JOSÉ, Newton. Detecção e tratamento de pacientes
amblíopes na cidade de São Paulo, SP (Brasil). Rev Saúde Pública. 1987; 21(4):
326-30.
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