UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICA JANE TAGARRO CORRÊA FERREIRA Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Avaliação Neuropsicológica das Funções Frontais em Crianças e Adolescentes Antes e Após Tratamento com Metilfenidato Tese de Doutorado em Ciências Fisiológicas Orientadora Profa. Dra ESTER MIYUKI NAKAMURA PALACIOS Co-orientador Prof. Dr. ORLANDO FRANCISCO AMODEO BUENO VITÓRIA 2006 JANE TAGARRO CORRÊA FERREIRA Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Avaliação Neuropsicológica das Funções Frontais em Crianças e Adolescentes Antes e Após Tratamento com Metilfenidato Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutor em Ciências Fisiológicas. Orientadora: Profª. Drª. Ester Miyuki Nakamura-Palacios. VITÓRIA 2006 JANE TAGARRO CORRÊA FERREIRA Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH): Avaliação Neuropsicológica das Funções Frontais em Crianças e Adolescentes Antes e Após Tratamento com Metilfenidato Tese submetida ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para a obtenção do grau de Doutora em Ciências Fisiológicas. Aprovado em 26 de Maio de 2006. COMISSÃO EXAMINADORA __________________________________________________ Prof. Dr. Erasmo Barbante Casela, USP-SP ___________________________________________________ Prof. Dr. Orlando Francisco Amodeo Bueno, UNIFESP-SP (Co-orientador) ___________________________________________________ Prof. Dr. Renan Barros Domingues, EMESCAM-ES ___________________________________________________ Prof. Dr. José Guilherme Pinheiro Pires, UFES-ES ___________________________________________________ Profa. Dra. Ester Miyuki Nakamura Palacios Orientadora, UFES-ES ___________________________________________________ Prof. Dr. José Geraldo Mill Coordenador do PPGCF-CCS-UFES Aos meus pais, ao meu esposo, Ronaldo e aos meus filhos, Rafael, Ranier e Ramon, que me impulsionam em vencer desafios. AGRADECIMENTOS A conclusão desse trabalho resultou da colaboração de várias pessoas que direta ou indiretamente contribuiram para sua realização. A todas elas os meus agradecimentos, Mas, em especial à Profa Dra Ester Miyuki N. Palácios, pelo apoio constante, compreensão, tolerância, orientações e incentivo, Aos professores, funcionários e alunos do Programa de pós-graduação em Ciências Fisiológicas e à equipe do laboratório de neuropsicofarmacologia pela grande amizade e apoio, Aos colegas do departamento de Pediatria da Universidade Federal do Espírito Santo que possibilitaram o afastamento de minhas atividades, A toda equipe do ambulatório de pediatria do HUCAM e em especial aos colegas que do Programa de atendimento a crianças com TDAH, Aos amigos que me apoiaram, Às minhas cunhadas, pelo apoio, confiança e equilíbrio transmitidos nos momentos difíceis, Às crianças com TDAH e À minha família, esposo e filhos pelo apoio constante e por compreenderem os momentos de ausência. LISTA DE TABELAS Tabela 1 Critérios diagnósticos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) segundo o DSM-IV.................................30 Tabela 2 Síntese dos testes neuropsicológicos empregados na avaliação das funções cognitivas................................................................77 Tabela 3 Características sócio-demográficas dos pacientes dos grupos controle e TDAH..........................................................................85 Tabela 4 Tipos de escola e procedência dos pacientes dos grupos controle e TDAH........................................................................................87 Tabela 5 Resultados dos exames laboratoriais em crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de TDAH..........................................88 Tabela 6 Resultados dos exames complementares em crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de TDAH....................89 Tabela 7 Efeitos colaterais em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH submetidas ao tratamento com o metilfenidato (MFD).....91 Tabela 8 Análise comparativa do fator Hiperatividade das escalas de Conners para pais e professores em crianças e/ou adolescentes com TDAH e controles.................................................................93 Tabela 9 Comparação dos tipos de TDAH com a freqüência de detecção ou não do distúrbio pelos pais ou professores pela aplicação das escalas de Conners.....................................................................95 Tabela 10 Análise comparativa dos sintomas de hiperatividade, desatenção e transtorno opositor e desafiador das escalas SNAP IV para pais e professores nas crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de TDAH...................................................................97 Tabela 11 Análise comparativa da Classificação obtida pela aplicação da escala SNAP IV para pais e professores em crianças e/ou adolescentes com TDAH e controles..........................................98 Tabela 12 Comparação dos tipos diagnósticos de TDAH com a freqüência de detecção ou não do distúrbio pelos pais ou professores pela aplicação da escala de SNAP IV.................................................99 Tabela 13 Comparação entre os grupos de crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de TDAH conforme classificação no RAVEN......................................................................................102 Tabela 14 Comparação, por categoria de idade, do desempenho do subteste de escrita do Teste de Desempenho Escolar (TDE) entre os grupos de crianças (7 a 11 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) controle e com diagnóstico de TDAH........................................105 Tabela 15 Comparação, por categoria de idade, do desempenho do subteste de aritmética do Teste de Desempenho Escolar (TDE) entre os grupos de crianças (7 a 11 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) controle e com diagnóstico de TDAH........................................106 Tabela 16 Comparação, por categoria de idade, do desempenho do subteste de leitura do Teste de Desempenho Escolar (TDE) entre os grupos de crianças (7 a 14 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) controle e com diagnóstico de TDAH........................................107 Tabela 17 Comparação, por categoria de idade, do desempenho total do Teste de Desempenho Escolar (TDE) entre os grupos de crianças (7 a 14 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) controle e com diagnóstico de TDAH.........................................................109 Tabela 18 Total de erros cometidos na repetição de pseudopalavras dos grupos controle e TDAH............................................................115 Tabela 19 Comparação dos erros cometidos em três segmentos de linhas do teste d2 entre os grupos de crianças e adolescentes controle e com TDAH.................................................................................135 Tabela 20 Análise comparativa do desempenho do teste de dígitos em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato.................................145 Tabela Análise comparativa do desempenho da repetição de pseudopalavras (BCPR) das crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato..............................................................................148 21 Tabela 22 Análise comparativa do desempenho do teste de Blocos de Corsi em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato........................153 Tabela 23 Análise comparativa do desempenho do teste de cartões sortidos de Wisconsin em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato.........................................................................................156 Tabela 24 Análise comparativa do desempenho (tempo em segundos e erros) do teste Trilhas A e B em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato..............................................................................159 Tabela 25 Análise comparativa do total de substituições de dígitos por símbolos e de acertos no teste de Códigos B em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato....................................................162 Tabela 26 Análise comparativa do total de substituições de símbolos para dígitos e de acertos no teste de substituição símbolo-dígito em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato.................................165 Tabela 27 Análise comparativa do desempenho do teste de atenção visuoespacial computadorizado (TAVIS 3 R) em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato....................................................168 Tabela 28 Análise comparativa do desempenho do teste d2 em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato....................................................172 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1 Modelo de memória operacional proposto por Baddeley............44 Figura 2 Porcentagem dos tipos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade TDAH...................................................................87 Figura 3 Classificação da inteligência global obtida pela aplicação das Matrizes Progressivas Coloridas de RAVEN em crianças e adolescentes do grupo controle e do grupo com diagnóstico de TDAH.........................................................................................101 Figura 4 Teste de Desempenho Escolar (TDE), desempenho total e escores por modalidades de escrita, aritimética e leitura, em crianças e adolescentes do grupo controle e do grupo com diagnóstico de TDAH.........................................................................................104 Figura 5 Desempenho do teste de dígitos (Digit Span) na ordem direta e inversa do grupo controle e do grupo com diagnóstico de TDAH.........................................................................................111 Figura 6 Total de pseudopalavras pronunciadas corretamente dos grupos controle e com diagnóstico de TDAH........................................113 Figura 7 Acertos por quantidade de sílabas nas pseudopalavras pronunciadas corretamente nos grupos controle e com diagnóstico de TDAH.........................................................................................114 Figura 8 Total de erros cometidos na repetição de pseudopalavras dos grupo controle e TDAH..............................................................115 Figura 9 Desempenho nos Blocos de Corsi na ordem direta e inversa dos grupos controle e TDAH............................................................117 Figura 10 Erros perseverativos (EP), erros não perseverativos (ENP) e total de erros (TE) cometidos no desempenho do teste de cartões sortidos de Wisconsin dos grups controle e TDAH...................118 Figura 11 Categorias atingidas e falhas de manter o “set” no desempenho do teste de cartões sortidos de Wisconsin dos grupos controle e TDAH.........................................................................................119 Figura 12 Tempo gasto (em segundos) para o desempenho do Teste de Trilhas em suas versões A e B dos grupos controle e TDAH....121 Figura 13 Erros cometidos no desempenho do Teste de Trilhas em suas versões A e B dos grupos controle e TDAH..............................122 Figura 14 Total de substituições realizadas e de substituições corretas (acertos) no desempenho do Teste de Código B dos grupos controle e TDAH........................................................................124 Figura 15 Total de substituições realizadas e de substituições corretas (acertos) no desempenho do Teste de substituição de símbolos por dígitos dos grupos controle e TDAH....................................125 Figura 16 Tempos Médio de Reação (TR) no teste de atenção visuo-espacial (TAVIS) dos grupos controle e TDAH........................................127 Figura 17 Erros de Omissão (EO) no teste de atenção visuo-espacial (TAVIS) dos grupos controle e TDAH.....................................................129 Figura 18 Erros por Ação (EA) no teste de atenção visuo-espacial (TAVIS) dos grupos controle e TDAH.....................................................130 Figura 19 Desempenho total, Total de acertos e Amplitude no teste dos grupos controle e TDAH............................................................132 Figura 20 Total de erros, Erros de omissão e Erros de adição no teste D2 dos grupos controle e TDAH.....................................................134 Figura 21 Número de palavras evocadas corretamente nas listas pares do Teste de Lista de Palavras pelos grupos controle e TDAH.......138 Figura 22 Número de palavras evocadas corretamente nas listas ímpares do Teste de Lista de Palavras pelos grupos controle e TDAH.......139 Figura 23 Número de palavras evocadas corretamente nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras pelos grupos controle e com diagnóstico de TDAH.........................................................140 Figura 24 Total de acertos nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras pelos grupos controle e com diagnóstico de TDAH....142 Figura 25 Tipos de erros (intrusão, repetição e perseveração) cometidos nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras pelos grupos controle com diagnóstico de TDAH...........................................143 Figura 26 Desempenho do teste de dígitos (Digit Span) na ordem direta (esquerda) e inversa (direita) em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.................................................146 Figura 27 Total de palavras pronunciadas corretamente e acertos por quantidade de sílabas nas pseudopalavras pronunciadas corretamente no desempenho do teste de pseudopalavras pelas crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.............150 Figura 28 Total de erros e tipos de erros cometidos no desempenho do teste de pseudopalavras pelas crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH.................................................................152 Figura 29 Desempenho do teste de Blocos de Corsi na ordem direta (esquerda) e inversa (direita) em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.................................................154 Figura 30 Desempenho do teste de cartões sortidos de Wisconsin em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.............157 Figura 31 Desempenho do teste de trilhas A e B em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.................................................160 Figura 32 Total de substituições e Número de acertos no teste de Códigos B (Substituição dígito-símbolo) em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.................................................163 Figura 33 Total de substituições e Número de acertos no teste de Substituição de símbolo para dígito em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato ................................................166 Figura 34 Tempo de Reação (TR) (A), Erros de Omissão (EO) (B) e Erros de Adição (EA) (C) nas três tarefas do teste de atenção visuoespacial (TAVIS 3 R) em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.................................................170 Figura 35 Desempenho, Total de Acertos e Amplitude de Oscilação (A) e Total de Erros, Erros de Omissão e de Adição (B) no teste d2 em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.............173 Figura 36 Distribuição de erros, por blocos de linhas, ao longo do desempenho no teste d2 em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH, antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato.................................................175 Figura 37 Número de palavras, em blocos de 3 seqüências, evocadas corretamente nas listas pares e impares do teste de Lista de Palavras em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH submetidas ao tratamento com metilfenidato por 6 meses.......177 Figura 38 Total de palavras recordadas corretamente nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras em crianças ou adolescentes com diagnóstico de TDAH submetidas ao tratamento com metilfenidato por 6 meses................................180 Figura 39 Tipos de erros (intrusão, repetição e perseveração) cometidos nas listas pares e impares do teste de Lista de Palavras em crianças ou adolescentes com diagnóstico de TDAH submetidos ao tratamento com metilfenidato por 6 meses................................181 Figura 40 Número de palavras, em blocos de 3 seqüências, evocadas corretamente nas listas pares e impares do teste de Lista de Palavras em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH avaliadas no início (0) aos 6 e 12 meses de tratamento com metilfenidato..............................................................................182 Figura 41 Total de palavras recordadas corretamente nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH avaliadas no início (0), aos 6 e 12 meses de tratamento com metilfenidato..................184 Figura 42 Tipos de erros (intrusão, repetição e perseveração) cometidos nas listas pares e impares do teste de Lista de Palavras em crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH avaliadas no início (0), aos 6 e 12 meses de tratamento com metilfenidato..................184 LISTA DE ABREVIATURAS ADHD = “Attention Deficit and Hyperactivity Disorder” ADR = Adrenalina ANOVA = Análise de Variância ASQ = “Abbreviated Symptom Questionaire” BENEMED = Benefícios em Medicamentos de Vitória, ES BCPR = Repetição de Pseudopalavras para Crianças Brasileiras CATRS-10 = “Conners Abbreviated Teacher Rating Scale” CCS = Centro de Ciências da Saúde CID-10 = Classificação Internacional de Doenças – 10ª. Edição CTRS-R = Forma revisada da Escala de Conners DSM II = Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, segunda edição DSM III= Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, terceira edição DSM IV = Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, quarta edição DA = Dopamina DAT-1 = transportador de dopamina DRD4 = gene do receptor D4 de dopamina D2 = receptor do tipo 2 dopaminérgico D3 = receptor do tipo 3 dopaminérgico D5 = receptor do tipo 5 dopaminérgico DβH = dopamina-beta-hidroxilase EEG = Eletrocardiograma ENT = Exame Neurológico Tradicional FACITEC = Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia do Município de Vitória FAESA = Faculdade de Administração do Espírito Santo FMUSP = Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo GAMA GT = gama glutamil-transferase 5-HT = Serotonina HUCAM = Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes HTR2A = genes do receptor 2A de serotonina MCP = Memória de Curto Prazo MFD = Metilfenidato MLP = Memória de Longo Prazo NA = Noradrenalina PET = Tomografia por Emissão de Pósitrons RAVEN = Matrizes Progressivas Coloridas de Ravenm (Teste de Inteligência) SNAP-IV = Escala de Swanson, Nolam e Pelham, versão IV TAVIS = Teste de Atenção Visuo-Espacial TDAH = Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade TDE = Teste de Desempenho Escolar TGO = transaminase glutâmico oxalacética TGP = Transaminase glutâmico pirúvida TOD = Transtorno Opositor Desafiador TSH = hormônio tireoestimulante T4 = tiroxina livre UFES = Universidade Federal do Espírito Santo WISC III – Wechsler Intteligence Scale for Children versão III SUMÁRIO RESUMO............................................................................................................... 18 ABSTRACT........................................................................................................... 20 1. INTRODUÇÃO.................................................................................................. 23 1.1 Histórico e Epidemiologia........................................................................... 23 1.2 O que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade?................. 25 1.3 Características Clínicas ............................................................................. 26 1.4 Critérios Diagnósticos pelo DSM-V............................................................ 29 1.5 Co-morbidades........................................................................................... 31 1.6 Etiologia...................................................................................................... 32 1.6.1 Fatores ambientais............................................................................. 32 1.6.2 Fatores genéticos............................................................................ ....33 1.7 Bases Neurobiológicas............................................................................... 1.7.1. Visão neuroquímica........................................................................... 1.7.2. Visão anátomo-funcional................................................................... 1.7.3. Visão neuromaturacional................................................................... 35 35 36 38 1.8. Córtex Pré-Frontal e TDAH...................................................................... 38 1.9. Neuropsicologia e TDAH.......................................................................... 40 1.9.1. Funções Executivas e Memória Operacional.................................... 41 1.9.2. Atenção............................................................................................. 44 1.10. Tratamento com Estimulantes................................................................ 45 1.10.1. Metilfenidato..................................................................................... 46 2. OBJETIVOS........................................................................................................ 50 2.1 Objetivos Gerais......................................................................................... 50 2.2 Objetivos Específicos................................................................................. 50 3. MATERIAL E MÉTODOS.................................................................................. 53 3.1. Delineamento da Pesquisa......................................................................... 53 3.2. Amostras.................................................................................................... 53 3.2.1. Grupos experimentais........................................................... .............53 3.2.2. Critérios de inclusão.......................................................................... 55 3.2.3. Critérios de exclusão......................................................................... 56 3.3. Procedimentos Diagnósticos..................................................................... 3.3.1 Na Unidade de Saúde ou no Consultório........................................... 3.3.2 Na escola............................................................................................ 3.3.3 Escala de CONNERS versão para pais............................................ 3.3.4. Escala de CONNERS versão para professores................................ 3.3.5. Escala SNAP- IV versão para pais e professores............................. 57 57 61 61 62 63 3.4. Avaliações Laboratoriais............................................................................ 63 3.5. Tratamento Farmacológico........................................................................ 64 3.6. Avaliação Neuropsicológica....................................................................... 65 3.7. Testes Neuropsicológicos.......................................................................... 66 3.7.1. Matrizes Progressivas Coloridas de Raven, escalas geral e especial (Raven, 1999)............................................................... .... 67 3.7.2. Teste de Desempenho Escolar (TDE)............................................... 68 3.7.3. Testes de avaliação da memória operacional,funções executivas, flexibilidade cognitiva, atenção e memória...................................... 68 3.7.3.1. Teste de Repetição de Dígitos em ordem direta e inversa...69 3.7.3.2. Teste brasileiro de repetição de pseudopalavras para crianças – BCPR................ ............................................... . 69 3.7.3.3. Blocos de Corsi ordem direta e inversa.................................70 3.7.3.4. Teste de Cartões de Wisconsin (WCST)...............................70 3.7.3.5. Teste de Construção de Trilhas – partes A e B....................71 3.7.3.6. Teste de substituição de dígitos para símbolos – CÓDIGO B.................................................................... .72 3.7.3.7. Teste de substituição de símbolos para dígitos................... 72 3.7.3.8. Teste de Atenção Visual – TAVIS 3 R ................................. 73 3.7.3.9. Teste de Cancelamento d2.................................................. 75 3.7.3.10. Teste de Recordação Livre de Palavras............................ 76 3.8. Protocolo Experimental..................................................... ........................ 78 3.9. Análise de Resultados............................................................................... 79 4. RESULTADOS.................................................................................................. 82 4.1. PARTE I – ANÁLISE ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES CONTROLE E COM DIAGNÓSTICO DE TDAH.................... 82 4.1.1 Constituição das amostras................................................................. 82 4.1.2 Características sócio-demográficas................................................... 84 4.1.3. Resultados dos Exames Complementares....................................... 88 4.1.4. Análise dos Efeitos Adversos do Metilfenidato.................................. 90 4.1.5. Comparação das escalas de avaliação do TDAH...............................91 4.1.5.1. Conners................................................................................ 92 4.1.5.2. Snap IV................................................................................ 96 4.1.6. Avaliação de desempenho escolar e inteligência global ................. 100 4.1.6.1. RAVEN................................................................................ 100 4.1.6.2. TDE..................................................................................... 103 4.1.7. Resultados da Avaliação Neuropsicológica......................................110 4.1.7.1.Teste de dígitos (“digit span”) ordem direta e inversa......... 110 4.1.7.2. Repetição de Pseudopalavras para crianças – BCPR........112 4.1.7.3. Blocos de Corsi ordem direta e inversa...............................116 4.1.7.4. Teste de Cartões de Wisconsin...........................................117 4.1.7.5. Teste de Trilhas A e B.........................................................120 4.1.7.6. Códigos B............................................................................123 4.1.7.7. Teste de substituição de símbolos para dígitos...................124 4.1.7.8. TAVIS 3 R............................................................................126 4.1.7.9. Teste de Cancelamento d2..................................................131 4.1.7.10. Teste de Recordação Livre de Palavras............................136 4.2 PARTE II – AVALIAÇÂO NEUROPSICOLÓGICA DO TRATAMENTO COM O METILFENIDATO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DIAGNÓSTICO DE TDAH..............144 4.2.1. Resultados da Avaliação Neuropsicológica......................................144 4.2.1.1. Teste de dígitos (“digit span”) ordem direta e inversa.........145 4.2.1.1.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................145 4.2.1.1.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................146 4.2.1.2. Repetição de Pseudopalavras para crianças – BCPR........147 4.2.1.2.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................147 4.2.1.2.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................149 4.2.1.3. Blocos de Corsi ordem direta e inversa...............................153 4.2.1.3.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................153 4.2.1.3.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................154 4.2.1.4. Teste de Cartões de Wisconsin...........................................155 4.2.1.4.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................155 4.2.1.4.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................156 4.2.1.5. Teste de Trilhas A e B.........................................................158 4.2.1.5.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................158 4.2.1.5.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................160 4.2.1.6. Códigos B............................................................................162 4.2.1.6.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................162 4.2.1.6.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................163 4.2.1.7. Teste de substituição de símbolos para dígitos...................164 4.2.1.7.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................164 4.2.1.7.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................165 4.2.1.8. TAVIS 3 R............................................................................167 4.2.1.8.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................167 4.2.1.8.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................169 4.2.1.9. Teste de Cancelamento d2..................................................171 4.2.1.9.1. Avaliação inicial e com 6 meses............................171 4.2.1.9.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses......................173 4.2.1.10. Teste de Recordação Livre de Palavras............................176 4.2.1.10.1. Avaliação inicial e com 6 meses..........................176 4.2.1.10.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses....................180 5. DISCUSSÃO......................................................................................................186 5.1. Características Gerais dos Grupos............................................................186 5.2. Exames Complementares................................................................... .....189 5.3. Efeitos Colaterais de Curto e Longo Prazo do MFD..................................190 5.4. Comparação das Escalas de Avaliação como Parte de uma Avaliação Diagnóstica...................................... .................... .................193 5.5. Avaliação Neuropsicológica no TDAH.......................................................194 5.5.1. Eficiência Intelectual..........................................................................194 5.5.2. Habilidades Acadêmicas: Leitura, Escrita e Aritmética.....................196 5.5.3. Atenção.............................................................................................199 5.5.3.1. Velocidade psicomotora.......................................................200 5.5.3.2. Sustentação, Seletividade e Alternância.............................202 5.5.4. Funções Executivas..........................................................................206 5.5.5. Memória Operacional........................................................................209 5.5.6. Memória de curto e longo prazo........................................................213 5.6. Efeitos do Metilfenidato sobre as Funções Cognitivas..............................218 5.6.1. Atenção.............................................................................................220 5.6.2. Funções Executivas..........................................................................223 5.6.3. Memória Operacional........................................................................224 5.6.4. Memória de curto e longo prazo........................................................226 5.7. Considerações Finais................................................................................228 6. CONCLUSÕES..................................................................................................230 7. REFERÊNCIAS.................................................................................................235 8. ANEXOS............................................................................................................248 RESUMO RESUMO Déficits neuropsicológicos já foram demonstrados no Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e usualmente estão associados a prejuízos acadêmicos e nos relacionamentos sociais. Este estudo investigou o efeito do tratamento por doze meses do metilfenidato (MFD) em crianças e adolescentes com TDAH em uma bateria neuropsicológica para avaliar o nível intelectual, desempenho escolar, e, sobretudo as funções frontais. Setenta crianças e adolescentes (7 a 14 anos), de ambos os sexos, procedentes de serviços de atendimento público ou privado e de escolas públicas ou privadas, triados através da Escala de “Swanson, Nolan and Pelham” (SNAP IV) e Escala Abreviada de Conners, e com diagnóstico de TDAH pelo DSM-IV, foram submetidos à avaliação neuropsicológica antes e após 6 e 12 meses de tratamento com MFD. Um grupo controle (n = 39) foi pareado por idade, escolaridade, classe socioeconômica e desenvolvimento puberal. A bateria neuropsicológica consistiu de: (1) Matrizes Progressivas Coloridas de Raven (eficiência intelectual); (2) Teste de Desempenho Escolar (TDE); (3) Teste de Repetição de Dígitos ordem direta e inversa;(4) Teste de Códigos B (WISC III); (5) Teste de substituição símbolo/dígitos; (6) Blocos de Corsi ordem direta e inversa; (7) Teste de Construção de Trilhas A e B; (8) Teste de Cartões de Wisconsin, (9) Teste de pseudopalavras para crianças brasileiras (BCPR); (10) Teste de Cancelamento d2; (11) TAVIS-3R; (12) Lista de Palavras. Na aplicação das escalas de Conners (fator hiperatividade) e SNAP-IV (sub-escalas desatenção e hiperatividade), foi observado que estas escalas são satisfatórias para a percepção das manifestações, especialmente pelos pais, e principalmente para os sintomas de hiperatividade e impulsividade, não sendo muito eficazes na detecção da desatenção. Houve, contudo, correlação positiva significativa entre os resultados dos pais e professores na escala de Conners, mas não para a escala SNAP-IV. Na comparação entre os grupos, o grupo TDAH apresentou déficits nas habilidades de leitura, escrita e aritmética comparado ao controle. Na avaliação neuropsicológica o grupo TDAH apresentou déficits de atenção seletiva, sustentada e alternada, déficits de funções executivas, memória operacional e comprometimento das memórias de curto e longo prazo comparado ao controle. Desta forma, o comprometimento do rendimento escolar poderia ser secundário às disfunções cognitivas observadas. No grupo TDAH o tratamento com o metilfenidato (MFD) foi iniciado após a primeira avaliação 18 RESUMO neuropsicológica, sendo administrado por via oral, nas doses de 0,6 a 0,9 mg/kg/dia conforme resposta terapêutica e tolerância medicamentosa, dividida em duas tomadas, durante doze meses. O tratamento com MFD por 6 e 12 meses reverteu os déficits de funções cognitivas atencionais, executivas, de memória operacional e de memória de curto e longo prazo. Portanto, a avaliação neuropsicológica das funções frontais se mostrou extremamente útil tanto no auxílio do diagnóstico quanto na avaliação cognitiva no seguimento clínico do tratamento farmacológico. 19 ABSTRACT ABSTRACT Neuropsychological deficits in Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD) have been related to impaired function in school, home and peer relationships. This study examined the effects of 12-month treatment with methylphenidate in children and adolescents with ADHD on frontal cognitive function assessed by neuropsychological tests. Seventy children and adolescents aging between 7 and 14 years old, of both sexes, coming either from public or private outpatient services or public or private schools, were selected through Swanson, Nolan and Pelham (SNAP IV) and Short version of Conners scales, and had ADHD diagnosed by DSM-IV scale. They were submitted to a neuropsychogical battery of tests at the beginning and after 6 or 12 months of methylphenidate treatment. A control group (n = 39) was paired for age, scholar degree, socioeconomic class and pubertal development. The neuropsychological battery consisted of: (1) Raven’s Colored Progressive Matrices (non verbal intelligence test); (2) Scholar Performance Test (TDE); (3) Digit Span, forward and backward order; 4) Code Test (WISC III); (5) Simbol/Digit Substitution Test; (6) Corsi Blocks, forward and backward order; (7) Trail Making A and B; (8) Wisconsin Sorting Card Test, (9) Brazilian Children’s Test of Pseudoword Repetition (BCPR); (10) d2 Canceling Test; (11) TAVIS-3R; (12) Free Recall Word List. Conners and SNAP IV scales were able to detect most of symptoms of hyperactivity or impulsivity, especially in parents scale, but they were not good in the detection of inattention manifestation. However, there was a significant positive correlation between parents and teacher’s scales for Conners but not for SNAP IV. TDAH group showed deficits in reading, writing and arithmetic skills as compared to control group. In the neuropsychological tests TDAH group showed significant deficits in attention in its selectivity, concentration and alternation, in executive functions, working memory and short- and long-term memory as compared to control group. Thus, the impaired school performance would be secondary to cognitive dysfunctions in this pathology. Treatment with methylphenidate was started in TDAH group right after the first neuropsychological evaluation. It was given orally at doses of 0.6 to 0.9 mg/kg/day, twice a day, according to the therapeutic response and tolerance. Treatment for 6 or 12 months reverted most of all deficits of cognitive functions such as attention, executive function, working memory and short- and longterm memory. Therefore, neuropsychological evaluation of frontal functions showed 20 ABSTRACT to be of importance in helping to diagnose ADHD and also in the clinical and cognitive follow-up of a pharmacological treatment in this pathology. 21 1. INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO 1. INTRODUÇÃO 1.1. Histórico e epidemiologia Na literatura médica as primeiras referências aos transtornos hipercinéticos ocorreram na metade do século XIX (Barkley, 1998). É importante salientar que a primeira descrição do transtorno em um jornal médico (Lancet) foi feita por um pediatra, George Still, em 1902 (Rohde e Halpern, 2004; NIMH, 2003; Morgan, 1999), que descreveu em 43 crianças comportamentos de agressão, desobediência, emotividade, desinibição, atenção contínua limitada e deficiência do comportamento governado por regras. Ele atribuiu estes comportamentos a um “defeito do controle moral”, o que significa uma limitação da capacidade do indivíduo de regular o comportamento baseado no conhecimento do que é certo, seja por falta de compreensão, motivação ou inibição. Ele considerou que esses comportamentos estariam de algum modo relacionados com a deficiência de atenção contínua, e que teriam uma origem neurológica (Morgan, 1999). De 1930 a 1960 esses sintomas foram relacionados a lesões cerebrais e mostravam semelhanças aos observados em animais e humanos com lesões frontais. Surgiu a designação de “lesão cerebral mínima”, modificada em 1962 para “disfunção cerebral mínima”, reconhecendo que as alterações características da síndrome relacionavam-se mais a disfunções em vias nervosas do que propriamente a lesões nas mesmas (Rohde e Halpern 2004). Desde então, vários trabalhos científicos sobre o transtorno têm sido publicados trazendo informações sobre a natureza, a etiologia, a evolução e o tratamento. No fim dos anos de 1930, descobriu-se que os medicamentos estimulantes melhoravam os sintomas da doença, marcando o início do tratamento farmacológico para os distúrbios comportamentais. Foi documentada a eficácia das anfetaminas em reduzir os comportamentos disruptivos e aumentar o desempenho acadêmico nos distúrbios comportamentais. O uso dos estimulantes tornou-se bem mais disseminado na década de 1960 e em 1970 foi considerado o tratamento de escolha para estas condições, persistindo até os dias atuais (Barkley, 1998). 23 INTRODUÇÃO A partir de 1960 os sintomas de excessiva atividade motora foram considerados primordiais e o DSM II (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, Segunda Edição) utilizou o termo “Reação Hipercinética” para descrever a síndrome (Benczik, 2002). A Classificação Internacional das Doenças, CID-9, manteve uma denominação semelhante – Síndrome Hipercinética. Em 1970 os pesquisadores Douglas et al, (apud Barkley, 1998, p. 12) consideraram o déficit na atenção como um elemento crucial, em vez de um fenômeno “associado” ao transtorno, e, foi chamado de Distúrbio de Déficit de Atenção. Posteriormente identificaram-se várias outras características, como respostas impulsivas, problemas na regulação dos impulsos, nas habilidades cognitivas, incluindo a memória e nos relacionamentos sociais (Barkley, 1998). O aumento crescente nas pesquisas continuou nos anos subseqüentes, fazendo desta patologia um dos distúrbios psiquiátricos da infância e adolescência melhor estudados. Iniciando a década de 1980 foi publicado o DSM-III (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, Terceira Edição) pela Sociedade Americana de Psiquiatria, sendo re-conceituado a partir do DSM II, e o nome Transtorno de Déficit de Atenção surgiu pela primeira vez. Essa nova definição deixava claro que o ponto central do problema era a dificuldade de manter a atenção (Phelan, 2005). Na revisão do DSM III em 1987 o transtorno foi classificado com base na presença ou ausência de impulsividade e hiperatividade (Barkley, 1997, 1998) e o nome do distúrbio foi modificado para Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Os sistemas classificatórios modernos utilizados em psiquiatria, CID-10 e DSM-IV, utilizam nomenclaturas diferentes (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade no DSM-IV e Transtornos Hipercinéticos na CID-10), entretanto, apresentam mais similaridades que diferenças nas diretrizes diagnósticas do transtorno (Rohde e Halpern, 2004). A prevalência do transtorno varia de acordo com a metodologia empregada (tipo de amostra, fontes de informações, critérios diagnósticos utilizados, idade) 24 INTRODUÇÃO (Dulcan, 1997). É o mais prevalente distúrbio comportamental da infância (Casey et al.; 1997, Paule et al., 2000), comprometendo 3 a 6% da população infantil em idade escolar (Ernst & Zametkin, 1998; Ballard et al., 1997; Wilson, 2000; Carlsson, 2001). Estudos nacionais utilizando os critérios diagnósticos do DSM-IV encontraram taxas de prevalência de 5,8% em crianças em idade escolar (Rohde et al., 2003), resultados esses compatíveis aos citados na literatura internacional. A prevalência do TDAH varia significativamente entre meninos e meninas, de 2:1 em estudos populacionais a 10:1 em estudos clínicos, de meninos afetados em relação às meninas (Barkley, 1998). A maior prevalência nos meninos provavelmente se deve ao fato das meninas apresentarem mais o TDAH com predomínio de desatenção e menos sintomas de conduta em comorbidade, incomodando menos aos familiares e à escola, e, portanto, sendo menos encaminhada para tratamento (Breton et al., 1999; apud Golfeto & Barbosa, 2003). Apesar destas diferenças de prevalência em relação ao gênero, estudos clínicos sugerem que meninos e meninas são similares na apresentação dos sintomas, muito embora os estudos epidemiológicos refiram que nas amostras populacionais as meninas manifestam comportamentos menos agressivos (Barkley, 1998). A relação entre meninos e meninas comprometidas conforme a classificação do TDAH é de 4:1 no subtipo Hiperativo/Impulsivo e 2:1 no tipo com predomínio de desatenção (Dulcan et al., 1997). 1.2. O que é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade? O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade ou TDAH é um transtorno de desenvolvimento do auto-controle que consiste em problemas com a atenção, com o controle do impulso e com o nível de atividade (Barkley, 1997; 2002). Esses problemas se refletem em prejuízos na vontade da criança em controlar seu próprio comportamento relativo à passagem do tempo, em ter em mente objetivos futuros e consequências (Barkley, 2002). É o transtorno psiquiátrico mais comum da infância e adolescência, sendo definido no DSM-IV como um distúrbio comportamental que consiste em um padrão 25 INTRODUÇÃO persistente de desatenção e/ou hiperatividade mais freqüente e grave do que aquele observado em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento, ocorrendo em múltiplos ambientes e causando grande comprometimento funcional, não atribuível primariamente a outros distúrbios (APA, 2000). Inicia-se na infância, prolonga-se na adolescência e vida adulta causando sérios prejuízos no funcionamento global dessas pessoas. As manifestações dos sintomas vão mudando em qualidade e intensidade ao longo do desenvolvimento, mas a maioria dos portadores continua a apresentar alguns sintomas na idade adulta. Estudos longitudinais indicam que 30 a 70% das crianças com TDAH continuam a apresentar sintomas na fase adulta (Casey et al., 1997; Ernst e Zametkin, 1998; Wilson, 2000; Biederman, 1998, apud Andrade, 2003). As características centrais do transtorno, desatenção, hiperatividade e impulsividade, cursam com grande heterogeneidade clínica (Roman et al., 2002) e afetam de modo adverso o desempenho acadêmico, os relacionamentos social e familiar, o ajustamento psicossocial e a vida profissional dos portadores (Phelan, 2005). 1.3. Características clínicas Independente dos sistemas classificatórios utilizados as crianças com TDAH são facilmente reconhecidas em clínicas, escolas e em casa (Rohde et al., 2001; Dulcan, 1997). Os sintomas de desatenção, hiperativivdade e impulsividade como sintomas isolados podem resultar de muitos problemas na vida de relação das crianças (com os pais e/ou colegas e amigos), de sistemas educacionais inadequados, ou estar associados a outros transtornos comumente encontrados na infância e adolescência. Portanto, para o diagnóstico de TDAH é importante considerar estes sintomas na história de vida da criança (Phelan, 2005; Rohde e Halpern, 2004; Goldstein e Goldstein, 2004). A apresentação clínica varia de acordo com o estágio do desenvolvimento. Em pré-escolares sintomas relacionados à hiperatividade/impulsividade são mais 26 INTRODUÇÃO freqüentes do que os sintomas de desatenção. Entretanto, deve ser lembrado que uma atividade motora mais intensa é característica dessa faixa etária sendo necessário comparar a intensidade dos sintomas e o seu conseqüente prejuízo funcional com o perfil de comportamento normal do desenvolvimento. Na adolescência os sintomas de hiperatividade tendem a diminuir, entretanto, os sintomas de desatenção e impulsividade permanecem de forma mais acentuada (Dulcan et al., 1997; Castellanos, 1997 apud Andrade, 2003). Comprometimentos nos adolescentes incluem desatenção, déficits no controle dos impulsos, desorganização, dificuldades em estabelecer prioridades e em usar estratégias na resolução de problemas, resultando em baixo rendimento escolar, baixa auto-estima, difícil relacionamento com os pares e desempenho profissional imprevisível (Phelan, 2005; Dulcan et al., 1997). Portanto, conhecimento do desenvolvimento normal da criança e o perfil de sintomas do TDAH na adolescência são essenciais no diagnóstico, uma vez que características normais do desenvolvimento podem ser interpretadas como sintomas do transtorno, exigindo cautela no diagnóstico, particularmente na idade pré-escolar. Segundo Rohde e Halpern (2004) são indícios da presença do transtorno: 1. A duração dos sintomas de desatenção e/ou hiperatividade – normalmente eles iniciam-se cedo, desde a idade pré-escolar, e persistem por períodos de vários meses de sintomatologia intensa; 2. Freqüência e intensidade – no diagnóstico é necessário a presença freqüente de seis ou mais sintomas de desatenção e/ou seis ou mais sintomas de hiperatividade/impulsividade (tabela 1); 3. Persistência dos sintomas em mais de um contexto ao longo do tempo – a presença dos sintomas devem ser identificadas em vários ambientes (na escola, em casa, durante as atividades de lazer), e permanecerem constantes ao longo do período avaliado (sintomas que ocorrem apenas em um ambiente e flutuações na sintomatologia com períodos assintomáticos, não são características de TDAH); 27 INTRODUÇÃO 4. Prejuízo clínico significativo – sintomas de hiperatividade/impulsividade sem prejuízo funcional podem significar mais estilos individuais de funcionamento e temperamento do que o transtorno propriamente dito; 5. Interpretação dos sintomas – é necessário não só a listagem dos sintomas (tabela 1) mas também o entendimento do seu significado (p. ex: é importante verificar se a criança não segue instruções porque não consegue manter a atenção durante uma explicação ou por um comportamento de oposição e desafio a pais e professores). Barkley em 1997 propôs um modelo de disfunções executivas para explicar o quadro clínico comportamental e os déficits cognitivos usualmente descritos no TDAH. Este modelo compreende cinco maiores funções executivas que habilitam o indivíduo no reconhecimento e controle de suas ações direcionadas a metas: (1) controle inibitório, (2) memória operacional não-verbal, (3) memória operacional verbal, (4) auto-regulação da emoção e motivação, e, (5) reconstituição (análise e síntese comportamentais) Segundo Barkley, dessas cinco funções executivas o controle inibitório é o mais deficiente no TDAH podendo trazer mais prejuízos sociais e psicológicos que as outras quatro funções executivas (Spencer, 2002). Crianças com TDAH apresentam uma diminuição na capacidade de inibição do comportamento e/ou do controle de impulsos, manifestados por dificuldades em conter suas respostas frente a uma situação e para pensar antes de agir. Normalmente são excessivas, falam alto, fazem comentários sem pensar e com freqüência monopolizam as conversações. A capacidade de parar, pensar, planejar e então agir, assim como a de sustentar a ação face a distrações é considerado problema crucial no TDAH. Este modelo defendido por Barkley explica os comportamentos de TDAH do tipo combinado e com predomínio de hiperatividade/impulsividade, mas não os tipos de TDAH com predomínio de desatenção. 28 INTRODUÇÃO Crianças com TDAH com predomínio de desatenção, segundo Barkley, mostram uma deficiência de atenção seletiva que não está relacionada aos problemas de inibição comportamental e auto-regulação (Phelan, 2005). 1.4. Critérios diagnósticos pelo DSM-IV Não existe um marcador biológico único e indiscutível para todos os casos de TDAH e o diagnóstico é eminentemente clínico, baseado em critérios clínicos claros e bem definidos provenientes de sistemas classificatórios como o DSM-IV (tabela 1) ou a CID-10 (Riesgo, 2004; APA, 2000). O DSM-IV propõe a necessidade de pelo menos seis sintomas de desatenção e/ou seis sintomas de hiperatividade/impulsividade para o diagnóstico de TDAH (Phelan, 2005; Rohde e Halpern, 2004; Barkley, 2002). Entretanto, no diagnóstico de adolescentes e adultos é recomendado não se restringir exclusivamente ao número de sintomas, mas considerar o grau de prejuízo no funcionamento global, uma vez que o prejuízo pode ocorrer mesmo com um número inferior de sintomas normalmente listados no DSM-IV (Rohde e Halpern, 2004; APA, 2000). O DSM-IV e a CID-10 incluem um critério de idade de início dos sintomas (antes de sete anos) para o diagnóstico do transtorno, entretanto sugere-se não descartar a possibilidade do diagnóstico em pacientes que apresentem sintomas causando prejuízo após os sete anos (Paule et al., 2000; Rodhe, Barbosa et al, 2000). O DSM-IV subdivide o TDAH conforme o predomínio dos sintomas em três tipos (APA, 1994; 2000): 1. TDAH com predomínio de sintomas de desatenção; 2. TDAH com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade; 3. TDAH combinado 29 INTRODUÇÃO Tabela 1 - Critérios diagnósticos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Distúrbios Mentais, Quarta Edição (DSM-IV). A. Ou (1) ou (2) (1) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de desatenção persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Desatenção: a) freqüentemente deixa de prestar atenção a detalhes ou comete erros por descuido em atividades escolares, de trabalho ou outras b) com freqüência tem dificuldades para manter atenção em tarefas ou atividades lúdicas c) com freqüência parece não escutar quando lhe dirigem a palavra d) com freqüência não segue instruções e não termina seus deveres escolares, tarefas domésticas ou deveres profissionais (não devido a comportamento de oposição ou incapacidade de compreender instruções) e) com freqüência tem dificuldade para organizar tarefas e atividades f) com freqüência evita, antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijam esforço mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) g) com freqüência perde coisas necessárias para tarefas ou atividades (por exemplo, brinquedos; tarefas escolares, lápis, livros ou outros materiais) h) é facilmente distraído por estímulos alheios às tarefas i) com freqüência apresenta esquecimento em atividades diárias (2) seis (ou mais) dos seguintes sintomas de hiperatividade persistiram por pelo menos 6 meses, em grau mal-adaptativo e inconsistente com o nível de desenvolvimento: Hiperatividade: a) freqüentemente agita as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira b) freqüentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outras situações nas quais se espera que permaneça sentado c) freqüentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é inapropriado (em adolescentes e adultos, pode estar limitado a sensações subjetivas de inquietação) d) com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazer e) está freqüentemente “a mil” ou muitas vezes age como se estivesse “a todo vapor” f) freqüentemente fala em demasia Impulsividade: g) freqüentemente dá respostas precipitadas antes de as perguntas terem sido completadas h) com freqüência tem dificuldade para aguardar a sua vez i) freqüentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros (por exemplo, intrometese em conversas ou brincadeiras) B. Alguns sintomas de hiperatividade/impulsividade ou desatenção que causaram prejuízo estavam presentes antes dos 7 anos de idade. C. Algum prejuízo causado pelos sintomas está presente em dois ou mais contextos (por exemplo, na escola [ou trabalho] e em casa). D. Deve haver claras evidências de prejuízo clinicamente significativo no funcionamento social, acadêmico ou ocupacional. E. Os sintomas não ocorrem exclusivamente durante o curso de um transtorno invasivo do desenvolvimento, esquizofrenia ou outro transtorno psicótico e não ser melhor explicados por outro transtorno mental (por exemplo, transtorno de humor, transtorno de ansiedade, transtorno dissociativo ou um transtorno da personalidade). 30 INTRODUÇÃO O tipo com predomínio dos sintomas de desatenção é mais freqüente no sexo feminino e parece apresentar juntamente com o tipo combinado taxa mais elevada de prejuízo acadêmico, o tipo com predomínio de sintomas de hiperatividade/impulsividade apresenta taxa mais elevada de impopularidade e de rejeição pelos colegas e o tipo combinado maior prejuízo funcional quando comparado aos dois outros grupos (Rohde et Biederman, 2000). Segundo Carlson e Mann (2000 apud Andrade et Gaião, 2003) a prevalência dos tipos de TDAH em amostras clínicas foi de 55% no tipo combinado e 27% no tipo com predomínio de desatenção. 1.5. Co-morbidades A presença do diagnóstico de TDAH não exclui outros diagnósticos, mas, de fato, aumenta a probabilidade de que outro distúrbio esteja presente (Morgan, 1999). Assim sendo, no diagnóstico de crianças com TDAH deve-se ter cautela para não descartar a existência de outros distúrbios associados. A prevalência elevada de co-morbidades no TDAH interfere na manifestação clínica do transtorno, dificulta o processo diagnóstico e afeta o prognóstico e o tratamento (Souza et Pinheiro, 2003). A taxa de co-morbidade é significativa em transtorno de conduta e transtorno opositor desafiador (30 a 50%), depressão (15 a 20%), transtornos de ansiedade (25%), transtornos do aprendizado (10 a 25%) e abuso e dependência de substâncias (9 a 40%) (Souza et Pinheiro, 2003; Rohde, 2002). A investigação de co-morbidades no TDAH pode ajudar a identificar subgrupos de pacientes que apresentem curso, prognóstico, fatores familiares e respostas diferenciadas de tratamento (Souza et al., 2001). 31 INTRODUÇÃO 1.6. Etiologia Apesar dos avanços nos últimos anos nas áreas de genética e neurofisiologia no TDAH os mecanismos biológicos envolvidos nesse transtorno continuam não esclarecidos (Levy et al., 2001). O TDAH não parece ter uma etiologia única e os estudos são consistentes com a hipótese multifatorial. Na verdade, como em outras condições psiquiátricas, parece ser causado pela combinação de fatores biológicos, genéticos e ambientais (Spencer et al., 2002). Entretanto, como estes componentes se combinam causando o TDAH ainda é desconhecido (Faraone & Biederman, 1998; Amen, 2001). Acredita-se que vários genes de pequeno efeito sejam responsáveis por uma vulnerabilidade (ou suscetibilidade) genética ao transtorno, à qual se somam diferentes agentes ambientais. Desta forrma, os sintomas do TDAH em um indivíduo, parecem depender de quais genes de suscetibilidade estão agindo, de quanto cada um deles contribui para a doença e da interação desses genes entre si e com o ambiente (Roman et al, 2003). Muitos estudos já tentaram definir quais seriam os subfenótipos com um componente genético maior e mais homogêneo, e aqueles com um componente ambiental maior (Faraone et al., 2000a). Nas últimas décadas, apesar do crescente reconhecimento da heterogeneidade do distúrbio e dos esforços nas pesquisas, houve poucas alterações no diagnóstico e tratamento. O clínico defronta-se com uma literatura crescente que, muitas vezes é contraditória, induzindo a uma confusão referente às melhores práticas de diagnóstico e tratamento. Cumpre lembrar, como já foi mencionado anteriormente, que ainda não existe um marcador biológico para o TDAH (Paule et al., 2000). 1.6.1. Fatores ambientais A maioria dos estudos sobre o envolvimento de possíveis agentes ambientais e o desenvolvimento do TDAH apenas evidenciaram uma associação 32 INTRODUÇÃO desses fatores, não sendo possível estabelecer uma relação direta de causa e efeito (Faraone e Biederman, 1998). A associação entre TDAH e complicações na gestação ou no parto tem sido abordada em vários estudos com resultados às vezes divergentes, mas a tendência é de se aceitar que complicações como (toxemia, eclâmpsia, pós-maturidade fetal, duração do parto, estresse fetal, baixo peso ao nascer, prematuridade, hemorragia pré-parto e má saúde materna) predisponham ao transtorno (Faraone e Biederman, 1998). Levy et al. (apud Roman et al., 2003) têm documentado que a exposição ao fumo e álcool na gravidez parece atuar como fator de risco para o desenvolvimento do TDAH. Segundo estes autores, outros fatores como danos cerebrais perinatais no lobo frontal podem afetar processos de atenção, motivação e planejamento, relacionando-se indiretamente com o transtorno. 1.6.2. Fatores genéticos Os estudos genéticos clássicos, que compreendem as pesquisas com famílias, gêmeos, com crianças adotadas e as análises de segregação, trouxeram contribuições importantes no esclarecimento da existência de um componente genético influenciando no transtorno (Dulcan, 1997). É por meio desse tipo de estudo que se confirma a existência de um componente genético detereminando ou influenciando uma característica e também permite estimar o tamanho do efeito desse componente no fenótipo e como ocorre a sua transmissão. Nos últimos anos os estudos de genética molecular no TDAH vêm despertando interesses crescentes, em que possíveis marcadores genéticos são investigados por intermédio de diferentes tipos de análises. Os principais alvos dessas pesquisas são genes que codificam componentes dos sistemas dopaminérgico, noradrenérgico e mais recentemente, serotonérgico, uma vez que estudos neurobiológicos sugerem fortemente a participação desses neurotransmissores na fisiopatologia da doença (Roman et al., 2002). 33 INTRODUÇÃO O sistema dopaminérgico tem sido o mais abordado na maioria dos estudos moleculares do TDAH. Os primeiros estudos conduzidos foram com o gene do transportador de dopamina (DAT1). O primeiro relato de associação do gene (DAT1) com a doença foi feito por Cook et al, 1995, que investigaram um polimorfismo de número variável de repetições em tandem (VNTR), localizado na região 3’ do gene. Pelo método de risco relativo de haplótipos (HRR), no qual, para determinado marcador compara-se a frequência dos alelos parentais transmitidos ao filho afetado com a frequência dos alelos parentais não transmitidos, foi detectada uma associação com o alelo de 480pb (pares de base), que corresponde a 10 cópias da unidade de repetição de 40 pb (alelo 10R) (Roman et al, 2002). Outro gene intensamente investigado no TDAH é o gene do receptor D4 de dopamina (DRD4), com resultados controversos em vários estudos. Praticamente todos os demais genes conhecidos do sistema dopaminérgico já foram objetos de estudos de associação com o TDAH, incluindo genes que codificam os receptores D2, D3 e D5, e genes de enzimas relacionadas ao metabolismo da dopamina (DA) (DiMaio et al., 2003). Poucos estudos foram realizados com genes do sistema noradrenérgico. Os estudos atuais concentram-se principalmente no gene que codifica a enzima dopamina-beta-hidroxilase (DβH). Genes dos receptores adrenérgicos também já foram investigados no TDAH (Arnsten, 2000). Recentemente estão sendo investigados os genes do receptor 2A de serotonina (HTR2A) e do transportador de serotonina com resultados promissores (Roman et al.; 2002). Portanto, o esclarecimento da etiologia do TDAH ainda está no início. Talvez devido à própria heterogeneidade genética e à alta complexidade clínica da doença. Mesmo, em relação à genética os resultados são contraditórios, e nenhum dos genes investigados, nem mesmo o DRD4 ou o DAT1, pode ser considerado como necessário ou suficiente ao desenvolvimento do transtorno. 34 INTRODUÇÃO 1.7. Bases neurobiológicas O TDAH atualmente é melhor compreendido com base em parâmetros comportamentais do que neurobiológicos propriamente dito. Dada a heterogeneidade de manifestações clínicas existentes é provável que o TDAH seja decorrente de mais de uma condição (Riesgo et al., 2004). Por isso é difícil determinar uma base neurobiológica única para o transtorno. Desta forma, as bases neurobiológicas do TDAH podem ser discutidas do ponto de vista neuromaturacional, anátomo-funcional (sistemas atencionais anterior e posterior) e neuroquímico, sendo estas tentativas de compreender a neurobiologia subjacente ao TDAH derivadas de estudos neuropsicológicos, de neuroimagem e de neurotransmissores. 1.7.1. Visão neuroquímica Os primeiros estudos sobre a neurobiologia do TDAH concentraram-se na neuroquímica. Alterações da função dopaminérgica e noradrenérgica foram consideradas centrais nos sintomas do TDAH porque (1) os sintomas de TDAH são tratados mais eficazmente por medicamentos que influenciam tais sistemas de neurotransmissores (Solanto, 1998; Greenhill et al., 1999) e (2) estudos em animais implicam o envolvimento desses neurotransmissores e as áreas cerebrais nos quais eles são fundamentais na neurobiologia do TDAH (Russel et al., 1995; Paule et al., 2000). As primeiras teorias neuroquímicas propostas para explicar o TDAH basearam-se no metabolismo das catecolaminas, visto que as regiões implicadas em sua fisiopatologia são primariamente inervadas por esses neurotrnsmissores (Solanto, 1998; Arnsten et al., 1996). A função dos neurotransmissores noradrenérgicos na gênese do TDAH foi amplamente revisada por Pliszka et al., 1996. Estes autores enfatizam a interação da noradrenalina (NA), adrenalina (ADR) e DA na modulação da atenção e no controle dos impulsos. Segundo eles alguns sintomas do TDAH teriam origem em 35 INTRODUÇÃO um excesso de NA no locus coeruleus, que alteraria as funções cognitivas relacionadas com a atenção. Essa função pode ser comprovada pela eficiência da clonidina, α2-agonista que diminui a taxa de descarga do locus coeruleus, em diminuir comportamentos disruptivos em crianças com TDAH (Solanto, 1998; Williams et al.,1999). A teoria dopaminérgica sugere que há uma disfunção no metabolismo da DA em algumas regiões cerebrais. Sua hipofunção (nas regiões corticais) seria responsável pelos déficits cognitivos e pelas disfunções executivas, enquanto a hiperfunção (nas áreas striatais) responderia pelos sintomas de hiperatividade e impulsividade (Castellanos, 1997 apud Szobot et al., 2003). A diminuição da desatenção com o uso do metilfenidato, o qual será abordado especificamente mais adiante, dá o suporte farmacológico para a teoria da hipofunção dopaminérgica no TDAH (Castellanos, 1997 apud Szobot et al., 2003; Solanto, 1998; Riesgo et al., 2004). Porém, o envolvimento do sistema dopaminérgico no TDAH parece ser mais complexo. Estudos em animais mostraram que a deficiência do transportador e dos receptores D1 e D3 de DA aumenta a atividade motora, enquanto a deficiência de receptores D3 e D4 reduz esta atividade. Além disso, os efeitos pré e pós-sinápticos dos estimulantes parecem ser diferentes conforme a região dopaminérgica considerada (Swanson et al., 1998 apud Szobot et al., 2003). Além do envolvimento da NA e DA no TDAH disfunções em outros sistemas de neurotransmissores estão sendo investigados. Estudos mais recentes dão suporte à participação da serotonina (5-HT) no TDAH (Fisher, 1998; Puumala & Sirvio, 1998). 1.7.2. Visão anátomo-funcional Uma das primeiras teorias anátomo-funcionais para explicar a neurobiologia do TDAH descrevia disfunções nas áreas frontais e em suas conexões subcorticais no sistema límbico. O TDAH era entendido como sendo resultante de uma deficiência no controle inibitório frontal sobre as estruturas límbicas (Riesgo, 2004). 36 INTRODUÇÃO No entanto, a teoria de um único sistema atencional, apesar de bem comprovada por vários estudos, pode explicar alguns, mas não todos os casos de TDAH. Estudos com tomografia por emissão de positrons (PET) em humanos combinados com estudos em outros primatas esclareceram os circuitos neurais envolvidos na atenção (Posner e Raichle, 1994 apud Nahas et al., 2004; Posner e Dehaene, 1994). Desta forma, o sistema visual atencional foi dividido em dois sistemas: um anterior, dopaminérgico envolvendo a região pré-frontal, cingulado anterior e ganglios da base, e outro posterior, noradrenérgico envolvendo o córtex parietal posterior, o colículo superior e o pulvinar. Os mecanismos envolvidos na atenção parecem depender do bom funcionamento dessas redes nervosas incluindo tanto as porções anteriores como as porções posteriores do sistema nervoso (Posner & Dehaene, 1990; 1994). O sistema atencional anterior desempenha uma função mais executiva (“atenção para a ação”), envolvido no recrutamento atencional para detecção de estímulos e controle das áreas cerebrais para o desempenho de tarefas cognitivas complexas (Nahas et al., 2004; Pliszka et al., 1996; Posner, 1994). A DA é um importante ativador, que “desliga” novas informações externas e prepara para ação motora. O sistema atencional posterior, também denominado de sistema de atenção perceptiva, é responsável por selecionar a localização de um estímulo específico entre muitos e por deslocar a atenção de um estímulo a outro (Posner e Dehaene, 1990), ou seja, está envolvido no processo de orientação da atenção (Nahas et al., 2004). O locus coeruleus, estrutura que parece estar envolvida neste sistema, também desempenha importante papel na atenção, sendo constituído basicamente de neurônios noradrenérgicos e se torna muito ativo em resposta a estímulos específicos (Pliszka et al., 1996). 37 INTRODUÇÃO Apesar da importância das funções dos dois sistemas atencionais na neurobiologia do TDAH, ainda são escassas as demonstrações diretas de suas relações recíprocas no transtorno (Levy e Farrow, 2001). 1.7.3. Visão neuromaturacional O processo neuromaturacional do encéfalo tem uma progressão pósteroanterior, ou seja, primeiro mieliniza os axônios da região da visão e por último mieliniza os das áreas anteriores. Por isso, do ponto de vista neuroevolutivo, é aceitável certo grau de hiperatividade em crianças sem distúrbios, até aproximadamente os 4 ou 5 anos, uma vez que a região pré-frontal, onde situa-se o “freio motor”, só completa seu ciclo mielinogenético nessa faixa etária (Riesgo, 2004). Concomitante ao amadurecimento observável à avaliação clínica ocorre também um amadurecimento eletrográfico. Admite-se que alguns eventos pré e pós-natais possam interferir no amadurecimento neurológico normal. Fatores ambientais como baixo peso ao nascer, a prematuridade, a exposição pré-natal ao álcool e fumo, podem estar associados a anormalidades do desenvolvimento dos circuitos fronto-estriatais no TDAH (Barkley, 1998; Riesgo et al., 2004; Fisher, 1998). Anormalidades do desenvolvimento foram identificadas no circuito frontoestriatal em crianças com TDAH usando medidas volumétricas qualitativas do núcleo caudado (Castellano et al.; 1994). 1.8. Córtex Pré-Frontal e TDAH O Córtex Pré-frontal (CPF) é crítico para o comportamento humano e animal. É uma das estruturas centrais dos circuitos frontais-subcorticais que provê uma base para se compreender as similaridades das alterações comportamentais associadas a diversas lesões anatômicas (Cummings, 1993; Tekin & Cummings, 2002). 38 INTRODUÇÃO Disfunções nos circuitos frontais-subcorticais estão associadas a várias síndromes neuro-comportamentais, incluindo desordens da função executiva, tais como: as doenças de Parkinson e Hungtinton, alterações da personalidade, distúrbios do humor como a mania e depressão; o distúrbio compulsivo-obsessivo, esquizofrenia, e, disfunções da atenção, como o TDAH. (Reading, 1991; Cummings, 1993; Arnsten, 1998; Fisher, 1998). O circuito pré-frontal dorsolateral está envolvido principalmente nas funções executivas. Disfunções neste circuito causam a síndrome disexecutiva. Evidências recentes têm considerado o TDAH como o protótipo de uma síndrome disexecutiva (Barkley, 1997). Baseados em dados clínicos e neuropsicológicos sugere-se que os circuitos órbitofrontal e o pré-frontal dorsolateral estariam comprometidos no TDAH (Tekin & Cummings, 2002; Casey et al., 1997). O CPF desempenha papel importante na atenção, particularmente no controle dos sistemas inibitórios (Casey et al., 1997), nas respostas executivas (Smith & Jonides, 1999), na atenção seletiva (Dias et al., 1996) e dividida (Godefroy & Rousseaux, 1996), sustentação da atenção (Granon et al., 1998) e também no planejamento e autocontrole (Barkley, 1997). Desta forma, diferentes sistemas neuronais relacionados ao CPF, incluindo o sistema dopaminérgico mesolimbocortical e o nigroestriatal já foram implicados no TDAH. O CPF também é importante no processamento de um tipo de memória transitória, a memória operacional, sendo que as bases anatômicas desta função cognitiva envolvem porções do córtex pré-frontal dorso lateral e áreas relacionadas ao córtex posterior (pós-central) no homem. A memória operacional é um tipo de memória temporária requerida na execução de tarefas rotineiras (Goldman-Rakic, 1992). É necessária em várias habilidades cognitivas, como leitura, aprendizado, compreensão e solução de problemas (Baddeley, 1983; 1997), e está ativa somente quando a ação está para ser executada, não sendo mais ativa após a conclusão da tarefa. É consenso geral que disfunções nos circuitos do CPF e estriado são centrais nos sintomas do TDAH, (Arnsten, 1998). Estas observações baseiam-se 39 INTRODUÇÃO primariamente na natureza dos sintomas no distúrbio; como o prejuízo nas funções executivas e atencionais, e a excessiva atividade motora, associados a lesões dos lobos frontais (CPF) e gânglios da base, respectivamente (Ernst e Zametkin, 1998; Russel, 2000). Várias evidências sugerem que a disfunção primária no TDAH está mais na falência da resposta inibitória (descrita como impulsividade) (Barkley, 1994) do que em outros problemas atencionais, estando o CPF e os circuitos frontoestriatais implicados nesta disfunção (Puumala & Sirvio, 1998). Técnicas avançadas de neuroimagem nos permitem avaliações tanto estruturais como funcionais do cérebro. Estes estudos têm demonstrado que o circuito frontoestriatal direito está particularmente envolvido na resposta inibitória, ou seja, na supressão de uma resposta atencional e comportamental a estímulos irrelevantes do ambiente interno e externo (Casey et al., 1997). Imagens por Ressonância Magnética do encéfalo evidenciaram redução anatômica do lobo frontal direito particularmente nas suas regiões superior, anterior e posterior em pacientes com TDAH (Ernst & Zmetkin, 1995; Papa et al., 1998). Estudos em animais já evidenciaram que lesões nas projeções dopaminérgicas mesocorticais para o CPF produzem distúrbios comportamentais similares aos observados no TDAH, como hiperatividade e prejuízo no desempenho em testes de alternância com retardo, podendo resultar de hiper-reação aos estímulos ambientais (déficit de atenção) ou de uma inabilidade em suprimir um comportamento motor (desinibição comportamental) (Russel et al., 1995; Smith & Jonides, 1999; Pliszka et al.;1996). 1.9. Neuropsicologia e TDAH O TDAH está associado a vários déficits neuropsicológicos, demonstrados em crianças, adolescentes e adultos que interferem com o seu adequado funcionamento e com sua adaptação às demandas sociais (Seidman et al., 1997; Schmitz et al., 2002). A presença de comorbidades com outros transtornos 40 INTRODUÇÃO neuropsiquiátricos, frequentemente associados ao TDAH, não parece ser determinante de tais déficits (Souza et al., 2001). Entretanto, segundo Lezak 1995, em indivíduos hígidos, esses fatores são considerados modificadores de desempenho em testes neuropsicológicos. Apesar das controvérsias existentes sobre a habilidade das medidas neuropsicológicas em prover a melhor compreensão dos mecanismos cerebrais envolvidos no TDAH, estas medidas possibilitam documentar diferenças clínicas encontradas entre pacientes com TDAH e normais no âmbito neuropsicológico. O exame neuropsicológico (ENP) do paciente com TDAH nos permite traçar o seu perfil cognitivo, identificando assim as funções cerebrais comprometidas e as preservadas, promover estratégias eficazes de intervenção terapêutica, estabelecer uma base para o seguimento clínico do caso e verificar a eficácia do tratamento farmacológico. Ele é essencial no TDAH em co-morbidade com transtorno de aprendizagem, pois, identifica eventuais dificuldades cognitivas que podem estar diretamente influenciando o desempenho acadêmico, como por exemplo, a dislexia. Na avaliação neuropsicológica do TDAH é importante a seleção de testes que além de abranger diferentes domínios cognitivos (eficiência intelectual, linguagem, memória, etc) contemplem mais minuciosamente as funções executivas e atencionais, sabidamente disfuncionais neste transtorno. 1.9.1. Funções Executivas e Memória Operacional As funções executivas compreendem uma classe de atividades que capacitam o indivíduo no desempenho de ações voluntárias orientadas para metas específicas (Fuster, 2000). Englobam processos responsáveis por focalizar, direcionar, regular, gerenciar e integrar funções cognitivas, emoções e comportamentos, visando à realização de tarefas simples e à solução ativa de problemas (Saboya et al., 2002). 41 INTRODUÇÃO As funções executivas abrangem subdomínios específicos do comportamento que incluem (Tekin & Cummings, 2002; Fuster, 2000; Saboya et al., 2002): (1) habilidades em resolver problemas complexos (tais como: aprender novas informações e usar criatividade) (2) planejamento (3) julgamento (4) intenção ou capacidade de gerar comportamentos intencionais (5) auto-regulação (flexibilidade para mudar comportamentos, ajustandoos conforme a meta) (6) comportamento direcionado a um objetivo (7) ordenação temporal de eventos externos e internos (8) uso de habilidades verbais no discurso (9) verificação do desempenho ao longo do tempo (10) inibir estímulos competitivos (11) antecipar conseqüências Essas funções vão amadurecendo à medida que a criança cresce até a idade adulta e são disfuncionais em várias doenças neuropsiquiátricas (Tekin & Cummings, 2002). Os substratos neurais das funções executivas correspondem aos circuitos frontais e suas conexões subcorticais e com o córtex posterior. De acordo com Goldman-Rakic (1992) a maioria, se não todos, os componentes da memória operacional são processados por diferentes circuitos no CPF. Em revisão recente, Seamans & Yang (2004) sugere que o CPF manipula os ítens em uma memória de curto-prazo para planejar, organizar, e manusear informações que são requeridas para gerar pensamentos ou ações futuras. Estes autores definiram o papel do CPF no processamento da memória operacional como sendo esta uma função que trabalha com memórias (“working with memory“) (Seamans & Yang, 2004). No modelo inicialmente proposto por Baddeley & Hitch, em 1974, a memória operacional compreenderia uma central executiva auxiliada por dois 42 INTRODUÇÃO sistemas de suporte responsáveis pelo arquivamento temporário da informação e manipulação de informações, um de natureza vísuo-espacial e outro de natureza fonológica. Posteriormente, para lidar com a associação entre as informações mantidas nos sistemas de suporte e promover sua integração com informações da memória de longa duração, Baddeley, em 2000, inseriu um quarto componente no modelo, denominado “buffer” episódico, que corresponderia a um sistema de capacidade limitada, capaz de juntar a informação provinda dos sistemas subsidiários (de outras modalidades sensoriais) e da memória de longo prazo, numa representação episódica unitária e tornando-se consciente (Santos, 2004; Helene & Xavier, 2003). O sistema mais importante da memória operacional é a central executiva, um sistema controlador da atenção e, possivelmente, da consciência, que não exibe especificidade modal, possuindo capacidade atencional limitada e sendo supostamente responsável pelo processamento de tarefas cognitivas (Baddeley, 1992). Parece ser responsável por selecionar estratégias, regular o fluxo de informações, processar e arquivar informações e integrar as informações provindas de diferentes fontes. Os outros dois sub-sistemas são específicos para modalidades diferentes de estímulos: a alça fonológica (codificando informações fonéticas) e o esboço vísuo-espacial (codificando informações visuais e espaciais), com capacidades limitadas, sendo subordinados à central executiva e por ela recrutados quando necessário. 43 INTRODUÇÃO Figura 1 – Modelo de memória operacional proposto por Baddeley. As áreas em branco representam os componentes atencionais e de retenção temporária de informação, e as áreas em cinza, os sistemas de retenção de longa duração. Extraído de Helene & Xavier, 2003. 1.9.2. Atenção Os mecanismos envolvidos na atenção parecem depender do funcionamento de uma rede nervosa que inclui tanto porções anteriores quanto porções posteriores do sistema nervoso (Posner, et al.; 1990; 2000; Coawn et al, 1997). Os sistemas atencionais são integrados e compreendem: (1) rede de atenção visual, (2) rede executiva e (3) rede de vigilância. Estudos em primatas revelaram a implicação de pelo menos três áreas encefálicas no controle do direcionamento da atenção para estímulos visuais: o córtex parietal posterior, os colículos superiores e o núcleo pulvinar do tálamo (Nahas et al., 2004). Resumidamente, nesta rede de atenção visual, o lobo parietal posterior desengajaria a atenção visual do foco presente, os colículos superiores promoveriam o movimento do foco atencional para o novo alvo e o pulvinar ajustaria o foco de processamento para uma área restrita do campo visual ou para um estímulo específico (Posner et al., 1994). Por outro lado, existem evidências de que áreas do lobo frontal médio, incluindo o giro cingulado anterior estão envolvidas na atenção, em uma rede 44 INTRODUÇÃO executiva. Essa estrutura nervosa recebe aferências dopaminérgicas da área tegmentar ventral, sendo conhecido que disfunções nessa projeção, como ocorre nos pacientes esquizofrênicos e parkinsonianos, resultam em alterações atencionais (Nahas et al., 2004). Por fim, a rede de vigilância é representada pelos lobos frontal e parietal direitos. O lobo frontal direito parece modular os níveis de alerta pela modulação dos níveis corticais de NA, já que drogas que prejudicam a transmissão noradrenérgica interferem na manutenção dos níveis de alerta. O locus coeruleus ativa por via noradrenérgica a rede de vigilância e, simultaneamente, o parietal, o pulvinar e o colículo (rede de atenção visual). A rede de vigilância serviria para manter a atenção para qualquer entrada (“input”) como sinal de alerta, e sua ativação torna o cingulado anterior hipofuncionante, diminuindo assim a atividade mental quando se aguarda sinais infreqüentes. Dentre as funções citadas por Baddeley (1997) para a central executiva, duas são de caráter eminentemente atencional: (1) a capacidade de coordenar o desempenho concomitante em duas tarefas separadas e (2) a capacidade de atender seletivamente a um estímulo, inibindo o efeito de outros (Nahas et al., 2004). Os problemas de atenção evidenciados em crianças com TDAH estão mais relacionados a sustentar a atenção, que segundo Barkley (2002), são secundários ao déficit no controle inibitório do comportamento. Além disso, observa-se diminuição do estado de alerta (Brendan, 2000; Fisher, 1998) e o processamento lento da informação resultando em um tempo e ritmo de respostas motoras deficientes (Morgan, 1999). 1.10. Tratamento com Estimulantes O uso de psicoestimulantes é largamente empregado no tratamento tanto de crianças e adolescentes quanto em adultos com TDAH. Após as observações iniciais de Charles Bradley, 1937 (Solanto, 1998), de que a anfetamina racêmica apresentava efeito terapêutico sobre o comportamento de crianças hiperativas, inúmeros estudos tem atestado a eficácia dos psicoestimulantes em melhorar os 45 INTRODUÇÃO sintomas centrais do TDAH. A literatura claramente apresenta como as medicações de primeira escolha no TDAH (Greenhill et al., 1999). Os psicoestimulantes aprovados pela U.S Food and Drug Administration (FDA) incluem o metilfenidato (MFD), a dextroanfetamina e a pemolina de magnésio (Spencer, 2003. No Brasil somente o MFD, disponível em formulações de liberação imediata (Ritalina®) e de liberação prolongada (Concerta®, Ritalina LA®) encontram-se disponíveis para uso clínico. Passaremos a descreve-lo como modelo de uso dos psicoestimulantes. 1.10.1. Metilfenidato O metilfenidato (MFD) é uma amina simpatomimética não-catecólica, dotada de um núcleo piperidínico, cujos efeitos centrais são mais relevantes que os efeitos periféricos ou “simpatomiméticos”. Apresenta rápida e excelente absorção por via oral (80%), cruza facilmente a barreira hemato-encefálica e é completamente depurada do plasma após 48 horas (Correia & Pastura, 2003). O MFD de liberação imediata, cujas doses terapêuticas situam-se na faixa de 0,3 a 1,0 mg/kg/dia (Correia Filho & Pastura, 2003), alcança concentrações plasmáticas máximas em 1 a 2 horas e tem uma meia-vida curta de 2 a 3 horas, requerendo deste modo, doses diárias múltiplas (Sadock & Sadock, 2002). No sangue, o MFD e seus metabólitos são distribuídos 43% nos eritrócitos e o restante livre no plasma, apresentando baixa ligação às proteínas plasmáticas (15%) (Correia& Pastura, 2003). A via predominante de biotransformação do MFD envolve sua oxidação e subseqüente desesterificação a ácido ritalínico, metabólito inativo que é excretado pelos rins, correspondendo a 80% da dose administrada. Após 48 horas de ingesta cerca de 98% do fármaco foi excretado pela urina e o restante pelas fezes. Quantidades insignificantes do fármaco inalterado são excretadas pelos rins (Correia& Pastura, 2003). 46 INTRODUÇÃO As formulações do MFD de liberação prolongada apresentam um perfil farmacocinético diferenciado, e tem o dobro da meia-vida efetiva do MFD de liberação imediata (Sadock & Sadock, 2002). Uma delas tem liberação em dois pulsos, mimetizando o esquema do MFD de ação imediata dado duas vezes ao dia. A outra (sistema OROS), com duração de efeito de 12 horas permite uma liberação constante, evitando variações na concentração plasmática. O MFD é um agente simpatomimético misto, o que significa que o mesmo é capaz tanto de agir como agonista em receptores adrenérgicos (efeito direto), como aumentar a liberação de catecolaminas (inclusive DA) armazenadas (efeito indireto). As evidências sugerem que o efeito direto é menos importante. Quanto ao efeito indireto, que parece ser predominante, este pode ser devido a duas ações do MFD: um efeito “tipo-tiramina” e um efeito inibitório sobre os mecanismos centrais de recaptação de NA e de DA (Solanto, 1998; Di Chiara, 1995; Arnsten, 1998; Barnett et al, 2001). Há controvérsias sobre qual destas ações do MFD contribui de forma mais decisiva para seus efeitos farmacológicos centrais. A visão dominante, de que a inibição do DAT seja o principal mecanismo de ação do MFD (Cooper et al, 1996; Stahl, 1996; Solanto, 1998), foi parcialmente abalada pela descoberta de que camundongos knock-out para ao gene do DAT, embora não respondam à cocaína, o fazem de forma atenuada ao MFD, sugerindo a participação de outros sistemas, provavelmente serotonérgicos, nos efeitos comportamentais do MFD (Quist & Kennedy, 2001). Os estudos mostram de maneira consistente que o MFD exerce efeito significativo sobre os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade, evidenciados através da observação direta do comportamento ou através de medidas quantitativas em testes padronizados (Morgan, 1999). Em geral, o MFD tem efeito positivo sobre o estado de alerta, atenção, coordenação motora, memória e a aprendizagem (Barkley, 1998), não estando ainda totalmente esclarecido o mecanismo de ação central pelo qual o MFD promove 47 INTRODUÇÃO simultaneamente redução na atividade motora e na impulsividade e melhora na atenção (Sadock & Sadock, 2002). Existe uma extensa literatura avaliando a eficácia e segurança do MFD no tratamento de crianças e adolescentes em idade escolar com TDAH. De um modo geral esses estudos demonstraram que cerca de 70% dos pacientes com TDAH apresentaram resposta favorável, com melhoras no desempenho escolar, na adaptação social e familiar e foram seguros após dois anos de uso (Greenhill, 1999; MTA, 1999). A experiência do estudo MTA 1999, que comparou por 14 meses quatro estratégias de tratamentos no controle dos sintomas do TDAH, ofereceu entre outras evidências, que o tratamento farmacológico com MFD é eficaz e superior à terapia comportamental no controle dos sintomas do TDAH. 48 2. OBJETIVOS OBJETIVOS 2. OBJETIVOS 2.1. Objetivo geral Examinar as funções cognitivas frontais, tais como memória operacional, atenção e funções executivas, e também a memória de curto e longo prazo, em crianças e adolescentes com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após tratamento farmacológico com metilfenidato. 2.2. Objetivos específicos • Comparar o desempenho em teste de inteligência não verbal de crianças e adolescentes com TDAH e controles pareados por idade, escolaridade, nível sócio-econômico e desenvolvimento puberal. • Comparar o desempenho escolar de crianças e adolescentes com TDAH e controles pareados por idade, escolaridade, nível sócio-econômico e desenvolvimento puberal. • Examinar, por intermédio de avaliação neuropsicológica, o desempenho de testes atencionais fonológicos e visuo-espaciais de crianças e adolescentes com o diagnóstico de TDAH comparadas a crianças e adolescentes controles pareados por idade, escolaridade, nível sócio-econômico e desenvolvimento puberal. • Examinar o desempenho da memória operacional de crianças e adolescentes com TDAH comparados ao desempenho de crianças e adolescentes controles pareados por idade, escolaridade, nível sócio-econômico e desenvolvimento puberal. • Examinar o perfil de desempenho de crianças e adolescentes com TDAH em curva de posição serial de listas de palavras comparados ao desempenho de 50 OBJETIVOS crianças e adolescentes controles pareados por idade, escolaridade, sócioeconômico e desenvolvimento puberal. • Comparar a utilização das escalas de Conners para pais e professores e a escala SNAP-IV para pais e professores no rastreamento clínico de crianças e adolescentes com TDAH. • Comparar os resultados do rastreamento clínico realizado pela aplicação das escalas para pais e professores de Conners e SNAP-IV com o diagnóstico realizado por meio do DSM-IV. • Examinar o efeito farmacológico do metilfenidato sobre as funções cognitivas frontais de atenção, memória operacional e funções executivas em crianças e adolescentes com o TDAH, avaliadas após tratamento por 6 e 12 meses. • Examinar o efeito farmacológico do metilfenidato sobre a memória de curto e longo-prazo em crianças e adolescentes com o TDAH, avaliadas após tratamento por 6 e 12 meses. 51 3. MATERIAL E MÉTODOS MATERIAL E MÉTODOS 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Delineamento da pesquisa Trata-se o presente estudo de um ensaio clínico, em crianças e adolescentes em idade escolar com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) provindas do atendimento de Ambulatório de Pediatria Especializada em Dificuldades Escolares do Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (HUCAM) do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), bem como de clínica particular especializada em atendimento também em dificuldades escolares, cuja avaliação neuropsicológica, composta por uma bateria extensa de testes cognitivos, foi inicialmente comparada ao de crianças e adolescentes pareadas quanto à idade, grau de escolaridade, nível sócio-econômico, origem geográfica, porém sem diagnóstico de TDAH, provindas de escolas de rede pública e privada do município de Vitória/ES. As crianças e adolescentes com diagnóstico firmado de TDAH, que preencheram os critérios de inclusão e não apresentaram indicadores para exclusão previamente estabelecidos, foram submetidas a tratamento com medicação preconizada para este transtorno da infância e adolescência, o Metilfenidato (MFD), por um período de 12 meses, sendo as mesmas avaliadas clinicamente e neuropsicologicamente aos 6 meses e ao final do tratamento de 12 meses. Este projeto de pesquisa foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciência da Saúde da Universidade Federal do Espírito Santo (Anexo I). 3.2. Amostras 3.2.1. Grupos experimentais Duas amostras foram constituídas para o presente estudo: 53 MATERIAL E MÉTODOS Grupo Controle: 39 crianças e adolescentes com idade entre 7 a 14 anos provenientes de busca ativa em escolas da rede pública e privada, de primeiro e segundo grau, do município de Vitória/ES, entrevistadas entre o período de 2002 a 2004. Grupo TDAH: 70 crianças e adolescentes com idade entre 7 a 14 anos procedentes de Serviços de Atendimento em Saúde Pública, em Ambulatório de Pediatria Especializada em Dificuldades Escolares do HUCAM/CBM/UFES, ou Privada, em ambulatório de Clínica Pediátrica também especializada em Dificuldades Escolares, ambas sob a responsabilidade da presente pesquisadora, com diagnóstico de TDAH, no período entre 2002 e 2004. Também foram incluídas neste grupo, crianças ou adolescentes oriundas de busca ativa em escolas da rede pública e privada, de primeiro e segundo grau, do município de Vitória/ES, também no período de 2002 a 2004, que preencheram critérios diagnósticos para TDAH. Cumpre mencionar que estas crianças e adolescentes não deveriam ter sido submetidas a tratamento farmacológico prévio. Em decorrência dos testes neuropsicológicos, que serão detalhados mais adiante, sofrerem influência da escolaridade e o seu desempenho ser diferente de acordo com a etapa do desenvolvimento cognitivo da criança, os sujeitos experimentais de ambos os grupos controle e TDAH foram ainda subdivididos em quatro subgrupos, sendo distribuídos de acordo com a faixa etária (7 a 11 ou 12 a 14 anos), nível de escolaridade e características sexuais secundárias de Tanner (Tanner, 1966; 1976). 1. Controle criança (7 – 11 anos) 2. Controle adolescente (12 – 14 anos) 3. TDAH criança (7 – 11 anos) 4. TDAH adolescente (12 – 14 anos) A constituição do grupo controle foi feita por pareamento por idade, sexo, escolaridade, nível intelectual e classes socioeconômicas, de crianças e 54 MATERIAL E MÉTODOS adolescentes com diagnóstico de TDAH procedentes de duas escolas públicas e duas privadas, ou seja, cada sujeito com TDAH foi pareado com um sujeito sem TDAH da mesma escola e com características semelhantes. Ressalte-se que a seleção das crianças e adolescentes do grupo controle também seguiu os mesmos critérios de inclusão e de exclusão, que serão descritos mais adiante, observados para as crianças do grupo TDAH. A seleção dos sujeitos nas escolas foi feita a partir de uma avaliação inicial com o professor, utilizando-se escalas específicas para evidenciar desordens de atenção como instrumentos de triagem para o TDAH (Barkley A. R., 1998). Os casos com suspeita de dificuldades de atenção eram encaminhados para avaliação diagnóstica nos ambulatórios da rede pública ou privada. O atendimento médico foi realizado no Ambulatório Pediátrico de Dificuldades Escolares do HUCAM/CBM/UFES, semanalmente, pela manhã e na clínica privada, à tarde, mediante encaminhamento médico. As avaliações neuropsicológicas foram feitas no ambulatório do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas, com uma freqüência de duas vezes por semana, sempre no período da tarde. Neste local e horário as salas de atendimento estavam totalmente disponíveis e com pouquíssimo fluxo de pessoal, requisitos indispensáveis para a avaliação neuropsicológica, sobretudo da atenção. Para participar do estudo os pacientes obedeceram a critérios de inclusão e exclusão, de forma que os grupos fossem os mais semelhantes possíveis. 3.2.2. Critérios de inclusão 1. Crianças e adolescentes, com idade entre 7 – 14 anos inclusive, de 1º e 2º graus de escolaridade, de ambos os sexos, atendidas em regime ambulatorial. 2. Diagnóstico firmado de TDAH, baseados em roteiro de entrevista proposta pelo Manual de Diagnóstico e Estatística de Doenças Mentais (DSM-IV) (American Psychiatric Association, 1994). 55 MATERIAL E MÉTODOS 3. Nível intelectual médio ou superior à média, avaliado pelo teste de RAVEN. 4. Exame neurológico tradicional (ENT) normal (Diament & Cypel, 2005). 5. Consentimento dos pais após as informações e concordância da criança em participar da pesquisa. 3.2.3. Critérios de exclusão Foram excluídos os pacientes com os estados fisiológicos ou condições médicas concomitantes a seguir: 1. Uso continuado de qualquer medicação psicotrópica nos últimos seis meses, inclusive o MFD. 2. História de intolerância ao MFD. 3. Doenças neurológicas. 4. Doenças médicas: cardiovasculares, endócrinas, hepáticas, renais, pulmonares, visuais e auditivas. 5. TDAH em comorbidades com: Transtorno do Humor Bipolar, Transtorno de Conduta, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Transtornos de Tiques, Ansiedade e Depressão. 6. Distúrbios da Aprendizagem. 7. Nível intelectual inferior à média, avaliado pelo teste de RAVEN. 8. ENT alterado. 9. Deficiência mental grave. 10. Graves distúrbios comportamentais. 11. Suspeita de interferência emocional por desestrutura familiar. 12. Suspeita de interferência pedagógica (ou seja, presença de critérios do DSMIV exclusivamente na entrevista com professores). 13. Trauma craniano com perda de consciência. 14. Abuso e dependência de substâncias. 15. Esquizofrenia. 16. Dificuldades significativas de nascimento e do neurodesenvolvimento. A maioria dos pacientes do grupo TDAH demonstrou disponibilidade para serem avaliados, e consideraram a avaliação neuropsicológica e o fornecimento 56 MATERIAL E MÉTODOS gratuito da medicação como fatores de motivação na pesquisa. A aderência inicial ao tratamento foi muito boa neste grupo, em torno de 99%. No grupo controle, muitas crianças e adolescentes não retornaram (70 crianças), por motivos diversos, como, incompatibilidade de horários das crianças ou dos pais para as avaliações, avaliações prolongadas e uma demanda muito grande de atendimento. Para contornar esta dificuldade, estabeleceu-se atendimento e horário individualizado conforme disponibilidade do pesquisador. 3.3. Procedimentos diagnósticos Conforme anteriormente mencionado, os pacientes encaminhados para a pesquisa foram previamente selecionados nos ambulatórios público ou privados de atendimento de saúde e nas escolas. O procedimento inicial incluiu informações e consentimento, sendo de caráter eliminatório. Foi elaborada uma carta de Informação à escola (Anexo II) e os pais que concordaram em participar da pesquisa assinavam o termo de consentimento (Anexo III). 3.3.1. Na Unidade de Saúde ou no Consultório O processo de avaliação diagnóstica envolveu, necessariamente, a coleta de dados com os pais (usualmente a mãe), a criança e o adolescente e com a escola. Todos os grupos experimentais passaram pelo mesmo processo de avaliação, ocorrendo em três estágios. 1º Estágio: Triagem Na triagem foram utilizadas, como instrumentos para medidas de desatenção e hiperatividade ou impulsividade, as escalas SNAP IV de Swanson et al. (2001) (Anexo IV) e de CONNERS, traduzidas e validadas nas versões para pais (Anexo V) e professores (Anexo VI) que serão descritas logo abaixo. 57 MATERIAL E MÉTODOS Estas escalas foram utilizadas para gerar pontuações em três subescalas: de atenção, de hiperatividade ou impulsividade e de conduta. Essas pontuações são decorrentes das observações diretas do comportamento da criança em casa ou na sala de aula. A escala de Swanson, Nolam e Pelham, em sua versão revisada (SNAP IV) utilizada neste estudo consistiu de 26 itens, incluindo os dezoitos sintomas de TDAH e oito sintomas do Transtorno Opositor Desafiador (TOD) especificados no DSM-IV, a de CONNERS de 42 e 40 itens, nas versões para pais e professores, respectivamente; relacionados aos comportamentos observados. Além da aplicação destas escalas, eram feitas análises do material escolar, quando necessário. A coleta de informações atuais ou passadas na escola foi feita através das observações do professor, resultados em testes de desempenho e registro de notas. 2º Estágio: Diagnóstico Foram coletadas informações sobre a história clínica e familiar da criança e do adolescente, através de entrevista com os pais ou responsáveis. Informações abrangentes sobre o estado geral de saúde, avaliação dos sistemas sensoriais, desenvolvimento neuropsicomotor, desenvolvimento cognitivo e o funcionamento escolar, predisposições familiares para distúrbios comportamentais, como depressão, ansiedade e hiperatividade, fatores de risco (tais como condições pré-natais a anormalidades físicas), coordenação motora deficiente, comportamento sócio-emocional e o relacionamento da criança no grupo familiar, foram coletados e analisados como ponto referencial no diagnóstico diferencial (Anexo VII). As preocupações dos pais foram comparadas com os critérios do DSM-IV para o TDAH, e com outros critérios do DSM-IV para investigar possíveis condições co-mórbidas, como, TOD, transtorno de conduta, depressão, transtorno obsessivo compulsivo, transtorno do humor bipolar e ansiedade. 58 MATERIAL E MÉTODOS Na suspeita de condições co-mórbidas consideradas de exclusão para o presente estudo, a criança ou adolescente era encaminhada para uma avaliação com o psiquiatra da infância e adolescência. Havendo a suspeita clínica de TDAH os critérios diagnósticos do DSM-IV eram aplicados para confirmação diagnóstica. Foi feita também uma entrevista com a criança ou adolescente, através de coleta direta de informações e observações do comportamento, avaliando sua visão sobre a presença dos sintomas da doença. Um dos objetivos desta entrevista foi o de excluir outros distúrbios como a psicose, determinar a disposição da criança ou adolescente para conversar, e obter o máximo possível de informações sobre como ela vê sua escola, sua casa e sua vida social, além de iniciar um bom relacionamento com ela, necessária à aderência ao tratamento. A seguir, foi realizado exame físico (Anexo VIII) completo e exame neurológico de rotina (ENT) (Anexo IX), com o objetivo de identificar alterações físicas e/ou neurológicas que pudessem mimetizar o TDAH ou comprometer o desempenho cognitivo. Nas consultas subseqüentes, foram realizadas avaliações intermediárias, que incluíram o exame dos sinais vitais, avaliação cárdio-pulmonar e abdominal, monitoração do crescimento ponderal e estatural, estado nutricional, e qualquer outra avaliação que o pesquisador julgasse apropriada, com base no estado clínico do paciente por ocasião da consulta. Todas as informações, resultados de exames e avaliações dos pacientes ficaram registrados em prontuário próprio do núcleo de pesquisa. 59 MATERIAL E MÉTODOS 3º Estágio: Diagnósticos complementares Avaliações complementares com outros profissionais e outras especialidades médicas foram necessárias. Inicialmente, uma avaliação das capacidades auditiva e visual foi realizada em todos os pacientes, já que déficits atentivos podem ocorrer na vigência de déficits sensoriais, além de serem imprescindíveis antes da avaliação neuropsicológica. Como já mencionado, o TDAH em comorbidades com doenças psiquiátricas mais prevalentes como Transtorno do humor bipolar, Transtorno de conduta, Transtorno obsessivo-compulsivo, Ansiedade e Depressão detectadas na entrevista com os pais ou com a criança foram acompanhados pelo psiquiatra da infância e adolescência. A avaliação psicopedagógica foi realizada nos casos de TDAH em comorbidade com transtornos da aprendizagem. A avaliação psicológica foi solicitada quando se observou que os sintomas apresentados eram conseqüentes a comportamentos reativos ou respostas à outra determinada situação. Todas as crianças ou adolescentes foram submetidos a exames laboratoriais de rotina que serão detalhadas a seguir com o objetivo de excluir patologias pré-existentes ou detectar anormalidades laboratoriais clinicamente significativas que interferissem na terapêutica farmacológica. Nos grupos estudados foram realizadas avaliações neuropsicológicas que, analisadas juntamente com o exame clínico, os critérios diagnósticos do DSM-IV e as escalas ou questionários para pais e professores, trouxeram benefícios ao processo diagnóstico. Ocorrendo discordâncias entre os diagnósticos encontrados nos estágios anteriores do processo, a prioridade será dada ao diagnóstico feito pela entrevista clínica (DSM-IV) (Rohde, 2002). 60 MATERIAL E MÉTODOS 3.3.2. Na escola A criança ou adolescente proveniente das escolas por intermédio de busca ativa passou por uma ordem inicial de avaliação diferente: 1. Contato com as escolas para exposição do projeto. 2. Aplicação, na escola, da versão para professores das escalas de avaliação (SNAP IV e CONNERS), para seleção de pacientes com o perfil desejado. 3. Reuniões com grupos de pais na escola, para informações sobre o estudo. 4. Aplicação individual, na própria escola, da versão para pais das escalas SNAP IV e CONNERS. 5. Encaminhamento dos pacientes selecionados, para coleta de informações do histórico médico e avaliação diagnóstica (critérios diagnósticos pelo DSMIV), na Unidade de Saúde (HUCAM) ou no consultório, seguindo a partir daí, a mesma seqüência das crianças admitidas por encaminhamento direto ao ambulatório, ou seja, 6. Avaliação especializada. 7. Coleta de exames laboratoriais. 8. Aplicação de testes neuropsicológicos. 3.3.3. Escala de CONNERS versão para pais Segundo Barkley, 1990, são usadas correntemente três versões da escala de Conners para pais: (1) a escala original de 93 itens de Conners, 1970; (2) a versão revisada de 48 itens Conners Parent Rating Scale-Revised, CPRS-R; de Goyette et al., 1978 e (3) a de 10 itens, “Abbreviated Symptom Questionnaire” ASQ, de Goyette et al., 1978. A escala revisada de 48 itens é útil na avaliação de distúrbios de conduta, distúrbios psicossomáticos, distúrbios de aprendizagem, impulsividade, hiperatividade, depressão e ansiedade. É aplicável a crianças e adolescentes em idades de 3 a 17 anos. Pesquisas recentes demonstram que é uma escala sensível também para a avaliação dos efeitos de drogas psicoestimulantes (Barkley, 1990). 61 MATERIAL E MÉTODOS No presente estudo foi empregado a versão brasileira da escala de Conners (Escala Abreviada de Conners), que foi validada por Barbosa e Gouveia em 1997 (Gaião & Barbosa, 2003). A escala índice de hiperatividade para os pais consta de 13 itens, e para os professores, de 17 itens. Cada item descreve uma característica da criança hiperativa, que os pais e professores devem avaliar. Para cada item existem quatro opções: 0 = nunca, 1 = às vezes, 2 = freqüentemente e 3 = sempre. A soma total de pontos para os pais é 39 e, para os professores, 51. O ponto de corte (cut-off) para os professores é 16, enquanto para os pais é 14 (Gaião & Barbosa, 2003; Rohde et al., 2003). 3.3.4. Escala de CONNERS versão para professores Segundo Barkley, 1990, existem pelo menos quatro versões da escala de Conners para professores em uso corrente: (1) a versão original de Conners (1969, 1973), (2) a forma revisada CTRS-R; de Goyette et al. (1978); (3) o “Abbreviated Symptom Questionaire” (ASQ), ou “Index” de Hiperatividade de Goyette et al. (1978); (4) “Iowa Conners Teacher Rating Scale” de Loney e Milich (1982) e (5) “Conners Abbreviated Teacher Rating Scale” (CATRS-10). Estas escalas variam primariamente conforme o número de itens em relação à escala original. Em 1978, a escala original de 39 itens foi reduzida para 28, produzindo a CTRS-R de Goyette et al. (1978) que é útil na avaliação de problemas de conduta e Hiperatividade, aplicável a crianças e adolescentes em idade de 3 a 17 anos. A escala original foi inicialmente desenvolvida para avaliar os efeitos de drogas psicoestimulantes em crianças hiperativas e diferenciar a criança hiperativa da que não apresenta hiperatividade. Os fatores avaliados incluem: hiperatividade, desordens de conduta, distúrbios emocionais, ansiedade, etc. (Barkley, 1990). Conforme mencionado acima, foi empregada neste estudo a versão brasileira da escala de Conners (Escala Abreviada de Conners), validada por Barbosa e Gouveia em 1997. O fator hiperatividade da escala de Conners para pais e Professores é considerado um instrumento capaz de quantificar a conduta hipercinética com confiabilidade, boa consistência interna e validade de constructo (Barbosa et al.,1997). 62 MATERIAL E MÉTODOS 3.3.5. Escala SNAP- IV versão para pais e professores A Escala SNAP-IV é uma revisão do questionário de Swanson, Nolam e Pelham (SNAP) conforme citado no (MTA Cooperative Group, 1999) Os itens são derivados dos critérios do DSM-IV (1994) para o TDAH, sendo distribuídos em duas subescalas: desatenção (itens de 1 – 9) e hiperatividade (itens de 10 – 18). Também foram incluídos do DSM-IV os critérios do Comportamento Opositor Desafiante (itens 19 – 26), muito comuns em crianças com TDAH. A escala SNAP-IV tem uma pontuação que varia de 0 a 3 pontos por itens, 0 = nunca, 1 = às vezes, 2 = freqüentemente e 3 = sempre. A soma total de pontos é efetuada em cada domínio específico: desatenção, hiperatividade/impulsividade e transtorno opositor desafiador (TOD), e divide-se o total de pontos pelo número de itens neste mesmo domínio. O escore em cada subescala é expressa, portanto, pela média. O ponto de corte (cut-off) em cada subescala correspondente para professores é: desatenção (2.56), hiperatividade/impulsividade (1.78) e TOD (1.38); e para pais é: desatenção (1.78), hiperatividade/impulsividade (1.44) e TOD (1.88). 3.4. Avaliações laboratoriais Os exames laboratoriais foram realizados no laboratório de análises clínicas do HUCAM e em laboratórios particulares. As seguintes avaliações laboratoriais foram executadas neste estudo: • Hematologia (contagem de eritrócitos, hemoglobina, hematócrito, contagem total e diferencial de leucócitos e contagem de plaquetas); • Bioquímica do sangue (glicose, transminase glutâmico oxalacética TGO, transaminase glutâmico pirúvica - TGP, fosfatase alcalina, gama glutamil-transferase – gama GT, bilirrubinas, creatinina, uréia); • Hormônios (tiroxina -T4 livre, hormônio tireoestimulante - TSH); • Urinálise; 63 MATERIAL E MÉTODOS • Exame Parasitológico de Fezes; • Eletrocardiograma (ECG) realizado obrigatoriamente nos pacientes com diagnóstico de TDAH e antecedentes cardiovasculares e naqueles com alterações cardiológicas ao exame físico; 3.5. Tratamento farmacológico O metilfenidato (MFD) na concentração de 10 mg por comprimido, produzido pelo laboratório NOVARTIS Biociências S. A., São Paulo, Brasil, e distribuído no estado do Espírito Santo pela BENEMED (Benefícios em Medicamentos, Vitória, E.S.), obtido com financiamento de projeto de pesquisa pelo Fundo de Apoio à Ciência e Tecnologia da Prefeitura Municipal de Vitória (FACITEC) foi fornecido gratuitamente àqueles pacientes atendidos no ambulatório público de Pediatria do HUCAM/UFES. Os pacientes atendidos na clínica privada fizeram a aquisição própria considerando a viabilidade financeira dos mesmos. No grupo TDAH o tratamento com o metilfenidato (MFD) foi iniciado após a primeira avaliação neuropsicológica que será descrita na sessão seguinte. O MFD foi administrado por via oral, nas doses de 0,6 a 0,9 mg/kg/dia conforme resposta terapêutica e tolerância medicamentosa, dividida em duas tomadas, após o café da manhã e almoço (Spencer, 2002; Correia e Pastura, 2003), durante doze meses. Foi concedida pausa terapêutica nos finais de semana, feriados e recesso escolar nos casos acompanhados de efeitos adversos como, tiques, cefaléia recorrente, anorexia com perda ponderal significativa, visando a aderência ao tratamento. O MFD foi iniciado na dose de 0,3 mg/kg/dia na primeira semana, 0,6 mg/kg/dia na segunda e 0,9 mg/kg/dia na terceira, a menos que efeitos adversos impedissem o aumento progressivo das doses. Cumpre mencionar que embora tenham ocorrido efeitos adversos ao MFD, não houve necessidade, entretanto, de suspensão do medicamento. 64 MATERIAL E MÉTODOS A dose ótima do MFD foi identificada pela análise dos efeitos clínicos e efeitos adversos, iniciando-se o tratamento com pequenas doses e aumentando gradualmente até a dose ideal. Uma vez determinada a dose individual eficaz e bem tolerada, que variou de 0,6 a 0,9 mg/kg/dia, a mesma foi mantida durante o tratamento, com ajustes periódicos, usando sempre as observações informadas (feedback) pelos pais e professores (Vitiello, 2001). Nas avaliações neuropsicológicas realizadas aos 6 e 12 meses, o MFD foi administrado ao paciente no próprio ambulatório noventa minutos antes da aplicação dos testes cognitivos. A dose média empregada do MFD foi de 0,3 a 0,45 mg/kg/dose, respeitando a dose máxima de 20 mg por administração. A aderência ao tratamento foi verificada nas consultas intermediárias, realizadas mensalmente, através de entrevistas com os pais e/ou responsáveis. Nestas ocasiões era mensurada a eficácia medicamentosa através da investigação sobre o controle dos sintomas centrais do TDAH: hiperatividade, impulsividade e desatenção com os pais, e indiretamente com os professores. 3.6. Avaliação neuropsicológica O exame neuropsicológico foi aplicado inicialmente nos dois grupos experimentais, controle e TDAH, visando o estabelecimento de uma linha de base para o acompanhamento evolutivo após a intervenção terapêutica no grupo TDAH. Utilizaram-se testes específicos para avaliar aspectos diversos de várias funções cognitivas, particularmente as frontais. No grupo TDAH, a avaliação neuropsicológica foi realizada antes, com seis e doze meses de tratamento com o MFD como foi descrito acima. O grupo controle foi submetido somente à avaliação neuropsicológica inicial. Cumpre mencionar que se pretendeu fazer as avaliações neuropsicológicas também do grupo controle em seguimento de 6 e 12 meses, porém mostrou-se absolutamente inviável visto o não retorno ou a completa indisponibilidade dos voluntários para as mesmas. 65 MATERIAL E MÉTODOS Como já foi mencionado, no dia da avaliação neuropsicológica das crianças ou adolescentes do grupo TDAH o medicamento (MFD) foi administrado ao paciente no próprio ambulatório, e procedia-se à avaliação noventa minutos após a sua ingestão, podendo estender-se por até 2 horas (Tannock et al., 1995). A aplicação dos testes foi feita em três ou quatro sessões, com duração média de 40 a 50 minutos, obedecendo a uma ordem que alternava tarefas verbais, gráficas ou de execução, conforme o tempo de realização de cada tarefa, para evitar a fadiga e comprometer o desempenho do teste. Os testes foram aplicados sem interrupção, no período da tarde, em ambiente silencioso e somente com a presença do examinando e do pesquisador. Entretanto, em muitas ocasiões foi necessário o reagendamento das avaliações, em função das dificuldades em introduzir na rotina de serviços públicos ambulatoriais a aplicação de baterias neuropsicológicas. 3.7. Testes neuropsicológicos Conforme sugere Lezak (1995), baterias flexíveis são propostas mais adequadas para detectar prejuízos. Assim, foi selecionado um conjunto de testes sensíveis para detectar possíveis alterações cognitivas, particularmente aquelas relacionadas a áreas frontais. A investigação dos níveis de funcionamento cognitivo foi feita através da avaliação do nível intelectual, do desempenho escolar: leitura, escrita e matemática, das funções executivas, em especial da memória operacional, das funções atencionais, funções motoras e da memória. A seleção dos testes baseou-se em dados da literatura, validados ou adaptados para a língua portuguesa, conforme serão detalhados e a seguir resumidos na tabela 2 (pág. 76). 66 MATERIAL E MÉTODOS 3.7.1. Matrizes Progressivas Coloridas de Raven, escalas geral e especial Trata-se de um teste de fácil aplicação, não requer limite de tempo para sua execução, linguagem ou habilidades acadêmicas para o seu sucesso. O teste das Matrizes Progressivas de Raven apresenta três escalas: Padrão (“Standard”), Colorida e Avançada. As Matrizes Progressivas Padrão são conhecidas no Brasil como Escala Geral. A Escala foi planejada para abranger todas as faixas do desenvolvimento intelectual, desde o momento em que a criança é capaz de compreender a idéia de encontrar o pedaço que falta para completar um desenho. Foi complementada posteriormente através do desenvolvimento das Séries Coloridas (Angelini et al., 1999) e Avançadas (Raven, 2001). Destina-se principalmente a sujeitos de 12 a 65 anos. É dividida em 5 séries, de 12 problemas cada: A, B, C, D e E. Cada série começa com um problema, tanto quanto possível, auto-evidente e desenvolve um tema que se torna progressivamente mais difícil (Angelini et al., 1999). As Matrizes Progressivas Coloridas são conhecidas no Brasil como Escala Especial. Esta Escala foi construída para avaliar em maior detalhe os processos intelectuais de crianças na faixa de 5 a 11 anos, deficientes mentais e pessoas idosas. É dividida em três séries: A, Ab e B, cada uma com 12 problemas. As séries A e B são as mesmas da Escala Padrão e a Ab é uma série intermediária entre essas duas (Angelini et al., 1999). Os problemas desta escala são impressos com fundo colorido vivo. As Matrizes Progressivas Avançadas destinam-se a sujeitos maiores de 11 anos, com inteligência superior à média, sendo mais utilizada para universitários. O teste das Matrizes Progressivas de Raven, escalas geral e especial, foi aplicado neste estudo, individualmente, para medir o nível de desenvolvimento das habilidades intelectuais da criança e do adolescente, sendo selecionadas as crianças ou adolescentes com nível intelectual médio ou superior à média, e sendo excluídas aquelas que apresentassem desempenho comprometido neste teste. 67 MATERIAL E MÉTODOS 3.7.2. Teste de Desempenho Escolar (TDE) O Teste de Desempenho Escolar (TDE) foi desenvolvido e fundamentado a partir da realidade escolar brasileira (Stein, 1994). O teste é indicado para a avaliação do desempenho de alunos em escolas, a fim de dimensionar quais áreas da aprendizagem apresentam eventuais dificuldades pedagógicas e/ou didáticas. O TDE é composto por três subtestes: de escrita, aritmética e leitura. Cada um dos subtestes apresenta uma escala de itens em ordem crescente de dificuldades, que são apresentadas ao examinando independente de sua série, uma vez que este pode interromper o subteste assim que os itens apresentados em determinado nível da escala forem impossíveis de serem resolvidos pelo examinando. O subteste Escrita é composto pela escrita do próprio nome e de palavras isoladas apresentadas sob a forma de ditado; no subteste Aritmética o examinando deve efetuar cálculos de operações aritméticas por escrito e solução oral de problemas; e na Leitura fazer o reconhecimento de palavras isoladas do contexto. O teste é destinado a alunos da 1ª a 6ª série do ensino fundamental, podendo ser utilizado com reservas para a 7ª e 8ª séries. Sua aplicação foi individual, e o tempo médio de duração foi de 30 a 40 minutos. 3.7.3. Testes de avaliação da memória operacional, funções executivas, flexibilidade cognitiva, atenção e memória. Foram selecionados testes para avaliar os componentes da memória operacional segundo o modelo de memória operacional proposto por Baddeley & Hitch (1974), e revisado por Baddeley em 2000. Os testes abaixo relacionados foram utilizados para avaliar a memória operacional em relação a seus diferentes componentes: alça fonológica, esboço vísuo-espacial e processos executivos. 68 MATERIAL E MÉTODOS 3.7.3.1. Teste de Repetição de Dígitos em ordem direta e inversa (“digit span forward”, “digit span backward”) O subteste Números (ou “Span” de dígitos) da bateria Wechsler de memória e inteligência (WISC – III E WAIS III) (1991), é largamente utilizado para medir a alça fonológica da memória operacional de retenção de curto prazo (Thornidike, Hagen e Sattler, 1986 apud Santos & De Mello, 2004). Compreendem dois testes diferentes, dígitos direto e inverso, aplicado oralmente, em duas diferentes etapas. Na primeira, dígitos em ordem direta, é apresentada uma seqüência de números que variam de 3 a 8 dígitos, sendo solicitado ao indivíduo que repita cada série, permitindo serem avaliadas a aprendizagem e memória, em conjunto com a habilidade em processos seqüenciais. Segundo Lezak (1995), a repetição de dígitos na ordem direta também avalia a eficiência atencional (i.e., liberdade de distratibilidade). Na segunda etapa, dígitos em ordem inversa, a seqüência de números varia de 2 a 8 dígitos e deve ser invocada inversamente. Este teste envolve processos cognitivos mais complexos. O entrevistado é avaliado segundo sua capacidade de inversão de seqüência, flexibilidade, tolerância ao estresse e concentração (Mäder et al., 2004). A invocação inversa dos dígitos possibilita a avaliação do componente Executivo Central da memória operacional (Thornidike, Hagen e Sattler, 1986 apud Santos & De Mello, 2004) 3.7.3.2. Teste brasileiro de repetição de pseudopalavras para crianças – BCPR O BCPR (Santos & Bueno, 1999) é a versão em língua portuguesa do “Children’s test of nonword repetition” (CNRep) (Gathercole et al.; 1994). O teste consiste de 40 pseudopalavras distribuídas em grupos de 10 itens por coluna, de 2, 3, 4, e 5 sílabas, apresentadas na mesma seqüência ao sujeito. O pesquisador pronuncia a palavra, tendo o cuidado para cobrir os lábios com uma folha de papel, evitando assim sua leitura labial e solicita à criança para repeti-la imediatamente. Os erros são classificados como de substituição, exclusão, inserção, transposição, lexicalização ou híbridos. Como a forma fonológica das pseudopalavras é 69 MATERIAL E MÉTODOS necessariamente não familiar à criança, ela depende da capacidade de seu sistema fonológico de memória para armazenar temporariamente e manter a seqüência fonológica e articulatória original (Gathercole,1995 apud Santos & Bueno, 1999). 3.7.3.3. Blocos de Corsi ordem direta e inversa Os Blocos de Corsi, descritos por B. Milner (1971) (Lezak, 1995), consistem de dez cubos randomicamente ordenados em um tabuleiro. O examinador bate levemente nos cubos numa seqüência programada e o examinando tenta repetir o procedimento na mesma ordem. O teste pode ser aplicado tanto na ordem direta quanto na inversa, em seqüências crescentes de complexidade, até o examinando alcançar o máximo de repetições dos cubos na localização espacial (Lezak, 1995). O teste envolve a apresentação de informação vísuo-espacial abstrata na recordação imediata e reconhecimento. É uma tarefa que avalia a amplitude vísuo-espacial atencional (ordem direta e inversa), o esboço vísuo-espacial da memória operacional (ordem direta) e processos executivos (ordem inversa) (Milner, 1971, apud Santos & De Mello, 2004). 3.7.3.4. Teste de Cartões de Wisconsin (WCST) Segundo Spreen & Strauss (1998) este teste foi desenvolvido por Berg & Grant (Berg, 1948; Garnt & Berg, 1948) para avaliar a habilidade de formar conceitos abstratos, de usar estratégias cognitivas em resposta a mudanças de contingências ambientais. É considerada uma medida de funções executivas que requer estratégias de planejamento, organização, comportamentos direcionados a metas, habilidade para modular uma resposta impulsiva e mudar de estratégias eficazes de aprendizagem (Heaton et al, 1993). O teste consiste de quatro cartões estímulo que são colocados em frente ao sujeito, o primeiro com um triângulo vermelho, o segundo com 2 estrelas verdes, o terceiro com 3 cruzes amarelas e o quarto com 4 círculos azuis. São dados ao sujeito dois baralhos com 64 cartões respostas em cada um, contendo figuras 70 MATERIAL E MÉTODOS similares às do cartão estímulo, variando na cor, forma geométrica e números. O sujeito é orientado a parear cada cartão do baralho com um dos quatros cartões estímulo, organizando-os em pilhas, abaixo deles, e aguardar a resposta do aplicador, se sua escolha foi correta ou errada. O sujeito usa a informação do aplicador e tenta parear um maior número possível de cartões corretamente. É requerido do sujeito classificar os cartões respostas inicialmente pela cor, e após 10 respostas consecutivas respondidas corretamente em cada categoria, o princípio é mudado para forma e depois para números, retornando mais uma vez para cor. O procedimento continua até o sujeito completar as seis categorias (cor, forma, números, cor, forma, números), ou antes, caso tenham sido esgotados os 128 cartões. Os escores do teste são analisados de acordo com: o número de categorias completadas, a porcentagem de erros, porcentagem de respostas perseverativas, porcentagem de respostas não-perseverativas e a capacidade em manter o “set” (meta). 3.7.3.5. Teste de Construção de Trilhas – partes A e B (Trail Making Test A e B, Army Individual Test Battery, 1944) O teste de construção de trilhas partes A e B é um teste de atenção visual, de velocidade psicomotora, destreza manual e de flexibilidade mental, largamente usado, de fácil aplicação e alta sensibilidade para identificar danos cerebrais. Este teste é originalmente parte da bateria de testes individuais da força armada americana (“Army Individual Test Battery”, 1944), e requer a ligação de 25 círculos, distribuídos randomicamente em uma folha de papel e numerados de 1 a 25, que devem ser conectados em ordem numérica crescente (Trilha A) (Lezak, 1995). A trilha B é composta de por 25 círculos numerados de 1 a 13 e por letras de A a L, que devem ser conectados alternando números e letras, em série ascendente (1 – A, 2 – B, 3 – C). O teste não é interrompido antes de seu final, não importando a dificuldade encontrada ou o número de erros cometidos. Tanto para o teste de trilhas A quanto o B, os escores registrados são o tempo expresso em segundos e o número de erros cometidos. Utilizam-se atualmente segundo Lezak (1995) os mesmos escores preconizados por Reitan (1985, 1988) ou seja, 40 e 90 71 MATERIAL E MÉTODOS segundos nas partes A e B, respectivamente. Spreen & Strauss (1998) apresentaram dados normativos para crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 15 anos. A parte B é mais complexa que a parte A, por tratar-se de tarefa cognitiva mais complexa, e também devido a um maior controle da velocidade motora e perceptual (Lezak, 1995). Os processos de mudanças de estratégias e de flexibilidade cognitiva avaliados na trilha B referem-se mais à função executiva, entretanto, também o componente de alternância atencional pode ser avaliado. 3.7.3.6. Teste de substituição de dígitos para símbolos – CÓDIGO B O subteste de substituição de dígitos para símbolos da bateria de inteligência para crianças WISC III (Wechsler, 1991) consiste de quatro fileiras contendo 100 pequenos quadrados em branco, cada um pareado com um número randomicamente alocado de 1 a 9. Acima destas fileiras está impresso uma legenda pareando cada número com diferentes símbolos. Após um treino nos primeiros sete quadrados, o examinando é orientado a preencher os quadrados em branco com símbolos que estão pareados com os números correspondentes, acima exposto na legenda, o mais rápido possível, em 120 segundos. Os escores são os números de quadrados preenchidos corretamente. Este teste avalia a destreza vísuo-motora, velocidade de resposta, atenção seletiva e sustentada, organização perceptual (Lezak, 1995). 3.7.3.7. Teste de substituição de símbolos para dígitos (“Symbol Digit Modalities Test”, SDMT). Este teste foi desenvolvido por Aaron Smith, 1982, como uma medida de avaliação de disfunção cerebral em crianças e adultos (Spreen & Strauss, 1998). É similar ao subteste de substituição de dígitos para símbolos do WISC III, mas reverte 72 MATERIAL E MÉTODOS a apresentação do material, ou seja, os símbolos são impressos e os números serão escritos pelo examinando. Também como no teste de substituição de dígitos para símbolos, o teste é aplicado em 120 segundos, fazendo a substituição do símbolo pelo número correspondente. O escore é o número de substituições corretas. Este teste permite mensurar primariamente o aspecto do rastreamento atencional e a varredura visual, a destreza vísuo-motora, atenção seletiva e sustentada e organização perceptual (Lezak, 1995). 3.7.3.8. Teste de Atenção Visual – TAVIS 3 R O TAVIS 3 R é um instrumento de avaliação da atenção de aplicação informatizada desenvolvido no Brasil, para crianças e adolescentes na faixa etária de 6 a 18 anos (Duchesne, Mattos & Farina, 1997). É composto de três tarefas independentes que se propõem a avaliar diferentes aspectos da atenção (como a seletividade, a alternância e a sustentação) (Duchesne, Mattos & Farina, 1997). O teste é iniciado com um treinamento prévio para o manuseio do controlador manual de jogos (“joystick”), que permitirá evidenciar desordens motoras que o examinando possa apresentar. Também são avaliadas a discriminação visual e a habilidade de leitura antes do início do teste, permitindo maior segurança na interpretação dos resultados. Além disso, antes de cada tarefa, um breve treinamento padronizado é realizado para diminuir o risco de um possível fator surpresa. A tarefa 1 consiste em fazer o examinando responder seletivamente a um estímulo-alvo, apresentado dentre vários estímulos distratores. Esta tarefa tipicamente envolve a apresentação de estímulos de forma seqüencial exigindo que o sujeito identifique um alvo entre vários outros estímulos distratores, respondendo exclusivamente a ele. A tarefa 1 obedece ao modelo de tarefas contínuas de cancelamento que têm sido usualmente empregadas para avaliação da atenção sustentada. Contudo, além da capacidade de sustentação da atenção, tais tarefas exigem varredura (“scanning”) visual, ou seja, a capacidade de seguir com os olhos 73 MATERIAL E MÉTODOS um conjunto de informações, bem como também a capacidade de seletividade visual. Na tarefa 2 o examinando deve prestar atenção e responder alternadamente a dois parâmetros diferentes: cor ou forma (para adolescentes); igual ou diferente (para crianças). A tarefa 2 envolve o aspecto da alternância da atenção, exigindo uma boa capacidade de mudar o foco de atenção entre conceitos diferentes (adolescentes) ou entre diferentes parâmetros de um mesmo conceito (crianças). A tarefa 3 requer que o examinando permaneça continuamente atento à tela do computador, por um longo período de tempo, e responda rapidamente ao aparecimento de um estímulo. Esta tarefa requer principalmente atenção sustentada, sendo uma tarefa de longa duração (10 minutos para adolescentes e 6 minutos para crianças). O TAVIS 3 utiliza as seguintes medidas para avaliar o desempenho do sujeito nas tarefas: Erros por Omissão (EO) - consistem na não detecção da ocorrência de um estímulo-alvo, deixando-se de responder a este ou respondendose de forma muito lenta; Tempo Médio de Reação (TR) - é o tempo que o sujeito leva para responder ao estímulo apresentado, correspondendo à média dos tempos de reação do sujeito aos estímulos-alvo (ao longo da tarefa); e Erros por Ação (EA) - consistem na emissão da resposta na ausência do estímulo-alvo, ou seja, apertar o botão do joystick quando não há um estímulo na tela (tarefa 3) ou frente ao aparecimento de um estímulo não-alvo (tarefas 1 e 2). De modo geral, um excesso de erros por ação nas tarefas pode indicar que o sujeito manifesta uma impulsividade, ou que fez o teste respondendo de forma aleatória. O tempo de reação é uma das medidas comportamentais da capacidade de processamento de informação, podendo estar representada em quaisquer dos níveis de atenção. Há pacientes com déficits atentivos capazes de se manter aparentemente “atentos” em uma tarefa, por longo período de tempo, mas sua precisão na detecção de sinais é freqüentemente reduzida e seu tempo de reação é maior do que o de sujeitos normais (Duchesne, Mattos & Farina, 1997). 74 MATERIAL E MÉTODOS 3.7.3.9. Teste de cancelamento d2 Segundo Spreen & Strauss (1998), este teste foi desenvolvido por Brickenkamp (1981), tratado e alterado por inúmeros outros autores, entre eles Whipple (1910), Toulouse e Piéron (1911), Meili (1961) e Zazzo (sem indicação de data). Sua aplicabilidade destina-se a faixa etária de 9 a 60 anos de idade, para o qual ele foi padronizado, podendo ser administrado individual ou coletivamente. Testes de cancelamento avaliam várias funções mentais (Lezak, 1995). A precisão de varredura visual, a ativação e inibição na rapidez de respostas, a atenção seletiva e a sustentada são requeridas. Tem sido caracterizado como um teste de atenção concentrada visual e de sustentação da atenção. O teste d2 é composto por 14 linhas com um total de 47 letras (d, p) em cada linha. O alvo é a letra d com duas marcas ou acima, ou abaixo ou uma marca acima e outra abaixo. Estímulos distratores são as letras p com uma a quatro marcas e as letras d com uma, três ou quatro marcas. A tarefa do examinando é marcar o maior número possível de estímulos alvo por linha. O limite de tempo por linha é de 20 segundos. O teste d2 oferece, além da possibilidade de uma observação qualitativa do comportamento, diversos resultados de desempenhos quantitativos independentes entre si (Brickenkamp, 1990). Fornece informações sobre a quantidade, a deficiência e os desvios de desempenho. Os números totais de sinais marcados, sem levar em conta se as marcações foram corretas ou erradas, é chamado de Resultado Bruto (RB). Subtraindo-se do Resultado Bruto (RB) o Total de Erros (TE), teremos o Resultado Líquido (RL), que nos fornece o total de sinais examinados corretamente. Dois tipos de erros podem ser registrados: erros de omissão (E1), que se referem às letras ds com duas marcas, esquecidas de marcar, e erros de adição (E2), correspondendo a cada letra d com menos ou mais de duas marcas, ou letras p marcadas. O Total de Erros (TE) é convertido na Porcentagem de Erros (E%). Finalmente, a diferença entre o desempenho máximo e mínimo, nas linhas do teste, dará a Amplitude de Oscilação (AO). Para RB, RL, E% e AO, existem normas em percentis, obtendo-se assim um perfil que caracteriza o desempenho do examinando. 75 MATERIAL E MÉTODOS 3.7.3.10. Teste de Recordação Livre de Palavras O teste consiste de 12 listas, cada uma com 15 palavras de uso cotidiano, distribuídas em listas pares e ímpares. As listas pares apresentavam relacionamento semântico nas posições 7 - 8 - 9, para avaliar se esta estratégia facilitava a memorização. As três primeiras palavras de cada lista representavam o efeito de “primazia”, enquanto que as três últimas palavras representavam o efeito de “recência”. O examinador fazia a leitura das palavras, lidas uma de cada vez em cada lista, e em seguida era solicitado ao examinando a recuperação livre de todas as palavras que ele lembrava. Procedia-se assim até efetuar a leitura das doze listas. Foram registradas as palavras evocadas corretamente, bem como as repetições, as perseverações e as inserções. O teste de Lista de Palavras é um instrumento amplamente usado na avaliação da memória de curto e longo prazo, podendo ser também observados os efeitos de “primazia” e “recência” (Lezak, 1995). 76 MATERIAL E MÉTODOS Tabela 2 – Síntese dos testes neuropsicológicos empregados na avaliação das funções cognitivas, sobretudo frontais, de crianças e adolescentes com diagnósticos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) comparados a controles pareados à amostra (Parte I) e comparados aos seus próprio desempenho após tratamento com metilfenidato por 6 ou 12 meses (Parte II). BATERIA NEUROPSICOLÓGICA TESTES FUNÇÕES POSSÍVEIS DE SEREM EXAMINADAS (Spreen e Strauss, 1998; Lezak, 1995) RAVEN (Matrizes Progressivas HABILIDADE INTELECTUAL Coloridas, escalas geral e especial) TDE DESEMPENHO ESCOLAR: Leitura, Escrita e Aritmética TESTE DE DÍGITOS Direto: MEMÓRIA OPERACIONAL (alça fonológica); ATENÇÃO (amplitude verbal) Inverso: FUNÇÃO EXECUTIVA (flexibilidade cognitiva); MEMÓRIA OPERACIONAL (executivo central); CONCENTRAÇÃO. Repetição de Pseudopalavras para MEMÓRIA OPERACIONAL (alça fonológica) crianças – BCPR BLOCOS DE CORSI Direto: MEMÓRIA OPERACIONAL (esboço vísuoespacial); ATENÇÃO (amplitude vísuo-espacial) Inverso: FUNÇÕES EXECUTIVAS Teste de Cartões de WISCONSIN FUNÇÕES EXECUTIVAS (estratégias de (WCST) planejamento, organização, comportamentos direcionados a metas, habilidade para modular uma resposta impulsiva e mudar de estratégias eficazes de aprendizagem), ATENÇÃO, MEMÓRIA OPERACIONAL TRILHAS A e B Trilha A: ATENÇÃO VISUAL; FUNÇÕES EXECUTIVAS (velocidade psicomotora, destreza manual e flexibilidade mental) Trilha B: FUNÇÃO EXECUTIVA (destreza vísuomotora; mudança de estratégias e flexibilidade cognitiva); ATENÇÃO ALTERNADA e DIVIDIDA CÓDIGOS B (Teste de substituição ATENÇÃO SELETIVA e SUSTENTADA; FUNÇÕES dígito/símbolo da bateria WISC) EXECUTIVAS (organização perceptual, destreza vísuo-motora, velocidade motora) Teste de substituição símbolo/dígito ATENÇÃO SELETIVA e SUSTENTADA; FUNÇÕES (SDMT) EXECUTIVAS (destreza vísuo-motora; organização perceptual, flexibilidade cognitiva) TAVIS 3 R PROCESSOS ATENCIONAIS VISUAIS 1a. tarefa: Tempo de Reação, Atenção Seletiva, Sustentada, e Controle Inibitório 2a. tarefa: Tempo de Reação, Atenção Alternada, Flexibilidade 3a. tarefa: Tempo de Reação; Atenção sustentada TESTE DE CANCELAMENTO d2 ATENÇÃO SELETIVA, SUSTENTADA E DIVIDIDA LISTA DE PALAVRAS MEMÓRIA de curto e longo prazo 77 MATERIAL E MÉTODOS 3.8. Protocolo experimental Cada criança previamente selecionada seguiu a seguinte seqüência: 1. Admissão por encaminhamento dos ambulatórios de Pediatria geral, Neurologia, Psiquiatria, Psicologia e das escolas municipais e particulares da Grande Vitória. 2. Avaliação médica inicial e global, para a coleta de dados e seleção dos pacientes com as características desejadas: hiperatividade, desatenção e impulsividade (DSM-IV). 3. Aplicação de escalas de avaliação comportamental, coleta de dados de desempenho escolar e entrevista com pais e professores dos pacientes com o perfil desejado. 4. Avaliação médica Otorrinolaringologia, especializada visando nos detectar ambulatórios os déficits de Oftalmologia sensoriais e secundários associados aos Déficits de Atenção. 5. Coleta de exames laboratoriais de rotina. 6. Aplicação de testes de inteligência (Raven). 7. Nesta etapa os pacientes são inseridos em dois grupos de pesquisa: grupo controle, composto por crianças sem diagnóstico de TDAH e grupo TDAH, com crianças com diagnóstico de TDAH que ainda não receberam tratamento farmacológico com MFD. Após a avaliação inicial, as crianças dos dois grupos foram submetidas a uma bateria de testes neuropsicológicos para avaliar a atenção, função frontal e memória. Os pacientes do grupo TDAH receberam a medicação por 12 meses. Uma vez estabelecida a dosagem e decorridos seis e doze meses de tratamento farmacológico, eles são examinados novamente nos testes neuropsicológicos. 8. Acompanhamento no ambulatório de Dificuldades escolares, orientações aos pais, intervenções na escola e no lar, psicoterapia de apoio, além do tratamento farmacológico foram instituídos em todos os casos. 78 MATERIAL E MÉTODOS 3.9. Análise de Resultados Os dados que caracterizam as amostras, dos exames laboratoriais e complementares, dos efeitos adversos do metilfenidato, e os resultados das aplicações dos testes de desempenho escolar e de inteligência foram apresentadas descritivamente pelas freqüências absolutas e relativa (percentuais) para os dados qualitativos (nominais ou ordinais) ou pelas suas médias e desvios padrões das médias (d.p.) quando intervalares (ou contínuos). As análises estatísticas, quando efetuadas, foram as do teste qui-quadrado (χ2) e teste “t” independente, para dados qualitativos e contínuos, respectivamente comparando-se os grupos controle e TDAH, em uma análise global, ou seja, das crianças e adolescentes (7 a 14 anos), ou por categorias de idade, ou seja, crianças (7 a 11 anos) e adolescentes (12 a 14 anos). Foram feitas análises das escalas de Conners e SNAP IV cujos dados foram apresentados por freqüências absolutas e relativas (percentuais) e foram feitas também comparações entre grupos controle e TDAH por testes qui-quadrado teste qui-quadrado (χ2) ou teste “t” independente, para dados qualitativos ou contínuos, respectivamente, em uma análise global ou por categorias de idade. Também foram feitas comparações adicionais, empregando-se testes qui-quadrado (χ2), entre os dados obtidos nas escalas de Conners e SNAP IV e o diagnóstico realizado aplicando-se o DSM-IV. As análises dos dados coletados nas avaliações neuropsicológicas foram realizadas de acordo com as características observadas nas duas partes do estudo: PARTE I – ANÁLISE ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES CONTROLE E COM DIAGNÓSTICO DE TDAH Para a comparação do desempenho obtido pelo grupo controle e o grupo TDAH, em uma análise global e também por categorias de idade, foram feitas análises inter-grupos (ou entre grupos) empregando teste t de Student bicaudal para amostras independentes. 79 MATERIAL E MÉTODOS Também foi empregada Análise de Variância (ANOVA) de três vias, sendo para medidas repetidas em dois dos fatores, seguida de teste de comparações múltiplas de Fisher LSD (teste t-protegido). Estas análises serão descritas detalhadamente quando os seus resultados forem apresentados em suas seções específicas. PARTE II – AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DO TRATAMENTO COM O METILFENIDATO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DIAGNÓSTICO DE TDAH As análises dos dados obtidos nas avaliações neuropsicológicas após tratamento com o metilfenidato foram subdivididos em dois momentos: 1) Inicial e após 6 meses de tratamento, sendo feitas comparações intragrupo empregando teste t de Student pareado (ou para medidas dependentes). Também foram empregadas ANOVAs de 3 vias para medidas repetidas seguidas de teste de Fisher LSD (test t-protegido). 2) Inicial, e após 6 e 12 meses de tratamento, sendo feitas comparações intra-grupos por meio de ANOVAs de 1 via para medidas repetidas seguidas de teste de comparações múltiplas de Tukey. ANOVAs de 3 vias para medidas repetidas seguidas de testes de Fisher LSD (teste t-protegido) também foram empregadas. Novamente, estas análises serão descritas detalhadamente quando os seus resultados forem apresentados em suas seções específicas. Para todas as análises foi considerado um nível de significância para P < 0,05. Os programas de estatística e gráficos “GB-Stat Professional Statistics & Graphics” versão 6.5, “GraphPad Prism” versão 4.0 e SPSS (“Statistical Package for Social Sciences”) versão 8.0 foram empregados para as análises estatísticas e confecções gráficas. 80 4. RESULTADOS RESULTADOS 4. RESULTADOS A análise dos resultados do presente estudo foi feita em duas partes. Na primeira parte comparou-se o desempenho cognitivo inter-grupos (grupo TDAH e controle), pareados por sexo, idade, escolaridade, classe social e características sexuais secundárias. Na segunda parte comparou-se o desempenho cognitivo intragrupo de indivíduos com diagnóstico de TDAH antes e após 6 e 12 meses de tratamento com MTF. 4.1. PARTE I – ANÁLISE ENTRE CRIANÇAS E ADOLESCENTES CONTROLE E COM DIAGNÓSTICO DE TDAH 4.1.1. Constituição das amostras Foram entrevistados 186 indivíduos com suspeita de diagnóstico de TDAH nas escolas e nos atendimentos ambulatoriais de saúde. Dos entrevistados 97 apresentaram diagnóstico positivo para TDAH e 116 foram excluídos durante as etapas iniciais da avaliação, quer por não preencherem os critérios de inclusão, quer por não terem comparecido ou completarem a avaliação, ou mesmo por se recusarem a participar do estudo. Dos sujeitos com diagnóstico para TDAH, 27 não preencheram os critérios de inclusão ou preencheram algum critério de exclusão, sendo, portanto, excluídos do estudo. Os 70 sujeitos restantes foram incluídos no grupo TDAH e foram submetidos ao tratamento com MFD por 12 meses e avaliação cognitiva antes (n = 70), com 6 (n = 48) e 12 meses de tratamento (n = 24). Houve uma redução na amostra para avaliação neuropsicológica aos 6 e 12 meses de tratamento farmacológico, pelo não comparecimento no tempo determinado ou mudança de domicílio (Fluxograma abaixo). Para participar do grupo controle foram inicialmente entrevistados 109 indivíduos, dos quais 70 foram excluídos e o grupo final foi composto por 39 indivíduos. Muitos não compareceram, outros recusaram a participar e alguns apresentaram anormalidades clínica (disacusia, erros de refração não corrigidos, talassemia, bócio) ou laboratorial (anemias, hormônios tireoidianos alterados) que impossibilitaram a sua inclusão no grupo. 82 RESULTADOS Fluxograma utilizado na composição das amostras Indivíduos entrevistados com suspeita de TDAH - 186 Diagnóstico positivo para TDAH97 89 foram excluídos Não preencheram critérios de inclusão: Outros diagnósticos: 40 Não compareceram: 26 Não completaram a avaliação: 18 Recusaram-se a participar do estudo: 05 27 excluídos Não preencheram critérios de inclusão: Idade superior a 14 anos: 03 Nível intelectual abaixo da média: 04 Preencheram critérios de exclusão: Co-morbidades com TDAH: 08 Anormalidades clínico-laboratoriais: 03 Uso de medicação associada: 03 Uso de MFD nos últimos 6 meses: 02 Abuso de substâncias: 01 Mudança de domicílio: 03 Avaliação cognitiva antes do tratamento com MFD - 70 Grupo TDAH - 70 Com 6 meses de tratamento com MFD- 48 Com 12 meses de tratamento com MFD - 24 Indivíduos entrevistados no Grupo controle: 109 70 excluídos Não compareceram: 35 Recusaram-se a participar do estudo: 17 Anormalidades clínicolaboratoriais: 10 Em uso de medicação psicoativa: 8 Grupo controle39 83 RESULTADOS Tentou-se realizar a avaliação cognitiva aos 6 meses nos sujeitos deste grupo controle, entretanto a mesma infelizmente tornou-se inviável em decorrência da baixa freqüência ou da não persistência à avaliação (Fluxograma acima). 4.1.2. Características sócio-demográficas Os indivíduos avaliados, divididos nos grupos TDAH (n = 70) e controle (n = 39) foram distribuídos por faixas etárias e mostraram características bastante similares relativas à idade, escolaridade, classe sócio-econômica e desenvolvimento puberal (Tab. 3). A única característica que foi diferente na distribuição entre grupos foi quanto ao gênero (Tab. 3). O grupo TDAH foi composto por 74,3% de indivíduos do sexo masculino e 25,7% do sexo feminino enquanto o controle por 56,4% e 43,6%, respectivamente. Quando analisamos por idade observamos um predomínio do sexo masculino nas duas faixas etárias, 7 a 12 anos e de 12 a 14 anos. Já no controle, nas idades de 12 a 14 anos prevaleceu o sexo feminino sobre o masculino (Tab. 3). A maior freqüência do sexo masculino no grupo TDAH se deve à maior prevalência desta patologia em crianças e adolescentes do sexo masculino, numa relação de 4:1 meninos comprometidos em relação às meninas. Conhecendo este dado tentamos manter esta proporção no grupo controle, entretanto, nos deparamos com limitações metodológicas inerentes ao desenho experimental do estudo. Os demais dados sócio-demográficos indicam uma idade média de 9,4 (± 2,2) anos para o grupo TDAH e de 9,8 (± 2,0) anos para o controle, não havendo diferenças estatisticamente significantes entre os dois grupos. A freqüência de distribuição por faixa etária foi semelhante nos dois grupos, sendo no grupo TDAH de 70% de 7 a 11 anos e de 30% de 12 a 14 anos e no controle de 71,8% e 28,2%, respectivamente (Tab. 3). A escolaridade média atingiu 3,4 (± 1,95) anos no grupo TDAH e 3,56 (± 2,1) anos no controle, não havendo diferenças de escolaridade entre os grupos estudados (Tab. 3). Nos dois grupos houve maior prevalência nas séries de 1ª a 5ª, com maior representatividade na 2ª e 3ª séries (Tab. 3). 84 RESULTADOS Tabela 3 – Características sócio-demográficas e sexuais (freqüências e porcentagens ou média e d.p.) das crianças e adolescentes do grupo controle e do grupo de crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Característica Grupos Valores de t Controle (n = 39) TDAH (n = 70) (test tindepedente) 9,8 (2,0) 9,4 (2,2) 0,693 Masculino Feminino 22 (56,4%) 17 (43,6%) 52 (74,3%) 18 (25,7%) 7 – 11 anos Masculino Feminino 28 (71,8%) 18 (64,3%) 10 (35,7%) 49 (70%) 37 (75,5%) 12 (24,5%) 12 – 14 anos Masculino Feminino 11 (28,2%) 4 (36,4%) 7 (63,6%) 21 (30%) 15 (71,4%) 6 (28,6%) Escolaridade média ( d.p.) 3,56 (2,1) 3,4 (1,95) Grau de instrução 1ª. Série 2ª. Série 3ª. Série 4ª. Série 7 (17,9%) 8 (20,5%) 7 (17,9%) 5 (12,8%) 12 (17,1%) 14 (20,0%) 14 (20,0%) 9 (12,9%) 4 (10,3%) 2 (5,1%) 5 (12,8%) 1 (2,6%) 9 (12,9%) 7 (10,0%) 3 (4,3%) 1 (1,4%) - 1 (1,4 %) 1 (2,6%) 11 (28,2%) 22 (56,4%) 5 (12,8%) 7 (10,0%) 27 (38,6%) 30 (42,9%) 6 (8,6%) 18 (46,2%) 2 (5,1%) 2 (5,1%) - 31 (44,3%) 9 (12,9%) 7 (10,0%) 3 (4,3%) 9 (23,1%) 1 (2,6%) 2 (5,1%) 5 (12,8%) - 7 (10,0%) 1 (1,4%) 1 (1,4%) 2 (2,9%) 6 (8,6%) 1 (1,4%) 2 (2,9%) Idade em média de anos (d.p.) p 0,49 Faixa etária Global 5ª. Série 6ª. Série 7ª. Série 8ª. Série 1º. Ano do 1º. grau ABIPEME A B C D 0,195 0,84 Tanner Masculino G1P1 G2P2 G3P3 G4P4 Feminino M1P1 M1P2 M2P1 M2P2 M3P3 M3P4 M4P4 85 RESULTADOS A classificação socioeconômica foi feita com base nos dados obtidos na Escala de Classificação Socioeconômica da ABIPEME, mostrando que 81,5% dos indivíduos do grupo TDAH e 84,6% dos controles pertencem às classes B e C, com maior representatividade na classe C nos dois grupos (Tab. 3), ou seja, ambos os grupos controle e TDAH foram constituídos de crianças ou adolescentes provenientes de famílias de regular para bom nível sócio-econômico. As características sexuais secundárias dos indivíduos foram feitas segundo os critérios classificatórios de Tanner (Tanner et al., 1966; 1976) para o desenvolvimento puberal masculino e feminino, mostrando que no estágio sexual G1P1 (fase pré-adolescência ou infantil) encontravam-se 44,3% dos meninos do grupo TDAH e 46,2% do grupo controle, enquanto que 10% das meninas no grupo TDAH e 23,1% no controle encontravam-se no estágio puberal correspondente M1P1 (fase pré-adolescência ou infantil) (Tab.3). Não houve diferenças significantes entre os grupos quanto às características sexuais secundárias. Também não foram identificadas diferenças no desenvolvimento puberal entre os grupos TDAH e controle quando eles foram comparados concomitantemente por sexo e categorias de idade. Em relação aos tipos de escolas nas quais as crianças estudavam 64,3% dos indivíduos no grupo TDAH foram provenientes de escolas particulares e 35,7% de escolas públicas (Tab. 4). Ocorreu uma inversão no grupo controle, sendo que 69,2% provinham de escolas públicas e 30,8% de particulares. Ainda podemos observar que a procedência dos indivíduos nos dois grupos foi predominantemente dos municípios de Vitória e Vila Velha, sendo que 63,9% dos componentes do grupo TDAH e 94,9% do controle foram oriundos destes municípios (Tab. 4). Segundo o Sistema Classificatório de Doenças Mentais, o DSM IV observouse que no grupo TDAH 48 (68,6%) indivíduos apresentaram o transtorno do subtipo combinado, 15 (21,4%) o subtipo desatento e 7 (10%) o subtipo Hiperativo e Impulsivo (Fig. 2). 86 RESULTADOS Tabela 4 – Tipos de escola e procedência (freqüências e porcentagens) de crianças e adolescentes do grupo controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Grupos Característica Tipos de escola Pública Particular Procedência Cariacica Vila Velha Vitória D. Martins N. Almeida Serra Sta Tereza Viana controle (n = 39) TDAH (n = 70) 27 (69,2%) 25 (35,7%) 12 (30,8%) 45 (64,3%) 1 (2,6%) 9 (23,1%) 28 (71,8%) - 10 (13,9%) 25 (34,7%) 21 (29,2%) 1 (1,4%) 1 (1,4%) 9 (12,5%) 2 (2,8%) 1 (1,4%) Quando o grupo TDAH foi analisado conforme sua distribuição por sexo e idade, encontramos o subtipo combinado como o mais prevalente nas duas faixas de idades tanto no sexo masculino quanto no feminino. grupo TDAH Porcentagem dos tipos de TDAH 100 75 69 50 25 21 10 0 Combinado Desatento Hiperativo/Impulsivo DSM-IV Figura 2 - Porcentagem dos tipos de diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças e adolescentes de acordo com o IV Manual de Estatística e Diagnóstico de Desordens Mentais (DSM-IV). 87 RESULTADOS 4.1.3. Resultados dos Exames Complementares A análise dos parâmetros clínicos laboratoriais selecionados foi feita para avaliar as condições físicas dos participantes, afastarem patologias que impossibilitassem sua inclusão na pesquisa e/ou causassem impedimento ao uso do MFD. Como pode ser observado na tabela 5, não foram observados alterações nos principais índices hematimétricos e/ou leucométricos nos dois grupos estudados. A análise bioquímica, entretanto, mostrou diferença estatística entre os grupos TDAH e controle em relação à glicemia (p = 0,001), porém, sem relevância clínica, uma vez que os limites médios nos dois grupos estão dentro da faixa da normalidade. Tabela 5 – Resultados dos exames laboratoriais (médias e d.p.) em crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e respectivas análises inter-grupos. Exame laboratorial Teste t-independente Grupos Controle (n = 31) TDAH (n = 67) 12,96 (0,98) 39,08 (2,62) 83,11 (5,67) 27,74 (2,02) 33,36 (0,75) 6695,33 (1433,14) 47,71 (7,63) 41,16 (8,09) 13,05 (0,89) 38,64 (2,93) 82,84 (4,89) 28,67 (5,89) 33,44 (1,11) 6583,03 (1903,87) 47,22 (10,41) 41,34 (9,48) - ns ns ns ns ns ns ns ns Glicemia de jejum 86,91 (7,79) 81,79 (6,70) t = 3,327 p = 0,001 T4 2,65 (3,35) 8,62 (24,69) - ns TSH 2,12 (0,99) 2,04 (1,05) - ns Hemograma Hemoglobina Hematócrito VCM HCM CHCM Leucócitos Neutrófilos Linfócitos VCM = volume corpuscular médio; HCM = hemoglobima corpuscular média; CHCM = concentração da hemoglobina corpuscular média; T4 = tiroxina; TSH = hormônio tireoestimulante O exame de urina tipo I (EAS) apresentou-se, em sua maioria, normal nos grupos TDAH (73,6%) e controle (71,8%), e o exame parasitológico de fezes (EPF) foi negativo em 65,3% dos indivíduos com TDAH e 64,1% dos controles. 88 RESULTADOS O exame audiológico evidenciou limiares auditivos dentro do padrão de normalidade nos indivíduos do grupo TDAH e controle que se submeteram a este exame (97,1 e 100%, respectivamente) (Tab. 6), com curva timpanométrica do tipo A nos dois grupos, TDAH (82,8%) e controle (89,7%), mostrando integridade das vias sensoriais auditivas periféricas (Tab. 6). O exame oftalmológico foi normal em 74,3% e 87,1% nos grupos TDAH e controle, respectivamente (Tab. 6). Os pacientes com exames de refração alterados foram orientados da necessidade de correção com lentes, sendo obrigatório o seu uso antes da avaliação neuropsicológica. Tabela 6 – Resultados (freqüências e porcentagens) de exames complementares em crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e respectivas análises inter-grupos. Exame complementar Grupos Controle (n = 39) TDAH (n = 70) Oftalmológico Normal Astigmatismo Hipermetropia Hipermetropia/astigmatismo Miopia Miopia/astigmatismo Erro de refração não caracterizado 34 (87,1%) 1 (2,6%) 1 (2,6%) 1 (2,6%) 1 (2,6%) 1 (2,6%) 52 (74,3%) 3 (4,3%) 5 (7,1%) 9 (12,8%) 1 (1,4%) - Exame audiológico Normal Em curso 39 (100%) - 68 (97,1%) 2(2,8%) Curva timpanométrica Curva tipo A bilateral Curva tipo C bilateral OD: A e OE: B OD: A e OE: C OD: C e OE:A Em curso 35 (89,7%) 2 (5,1%) 2 (5,1%) - 58 (82,8%) 3 (4,3%) 1 (1,4%) 4 (5,7%) 2 (2,9%) 2 (2,8%) ECG Normal Não fizeram 2 (5,1%) 37 (94,9%) 28 (40%) 42 (60%) OD: orelha direita;; OE: orelha esquerda; ECG: eletrocardiograma 89 RESULTADOS O ECG foi realizado em pequena porção da amostra com diagnóstico de TDAH devido a limitações inerentes à Unidade de Saúde, sendo obrigatório nos pacientes com alterações cardiovasculares ou com antecedentes de doenças cardiovasculares. O exame foi normal em 40% dos pacientes avaliados (Tab. 6). Portanto, as crianças e adolescentes selecionados para o estudo não apresentaram anormalidades clínicas e/ou laboratoriais que os impedissem de participar do mesmo. 4.1.4. Análise dos Efeitos Adversos do Metilfenidato O relato dos efeitos adversos ao MFD foi obtido nas consultas intermediárias através de interrogatórios com os pais e/ou cuidadores. Foram registrados os principais sintomas colaterais descritos para o MFD e sua tolerância individual. A maioria dos efeitos colaterais foi de leve intensidade, dosedependentes, transitórios e surgiram nos primeiros dias de tratamento. Na tabela 7 observamos que 48,6% dos indivíduos apresentaram algum tipo de efeito adverso ao MFD. Entretanto, nenhum deles os apresentou em grau de severidade suficiente para justificar a interrupção do tratamento. De uma maneira geral sua tolerabilidade foi considerada boa, mostrando-se seguro e eficaz em 12 meses de observação. Observa-se que a diminuição do apetite (37,5%), cefaléia (18,1%), dor abdominal (13,9%), perda de peso (11,1%) e náuseas (9,7%) foram os principais efeitos colaterais do MFD encontrados. Destacam-se também outros efeitos relacionados, que apareceram em freqüência menor conforme mostra a tabela 7. 90 RESULTADOS Tabela 7 – Efeitos colaterais (freqüências e porcentagens) relatados pelas crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) submetidas ao tratamento com o metilfenidato (MFD). Localização Tipos de manifestações Efeitos Colaterais Freqüência (%) Sim 35 (48,6%) Não 37 (51,4%) Cefaléia Dor abdominal Extremidades frias Palidez 13 (18,1%) 10 (13,9%) 1 (1,4%) 1 (1,4%) Sistema Digestivo Diminuição do apetite Perda de peso Náuseas Diarréia 27 (37,5%) 8 (11,1%) 7 (9,7%) 1 (1,4%) Sistema Nervoso Insônia Lipotimia Tiques motores Tremores 4 (5,6%) 3 (4,2%) 3 (4,2%) 3 (4,2%) Pele Alergia 1 (1,4%) Geral 4.1.5. Comparação das escalas de avaliação do TDAH A fim de examinar as possíveis diferenças nos resultados da escalas de Conners e Snap IV aplicadas com os pais e professores, de compará-las entre si e com a classificação obtida pelo do DSM – IV foram realizadas análises descritivas, análises de freqüência relativa e cruzamentos de dados, teste do qui-quadrado (χ2) e teste “t” independente. 91 RESULTADOS 4.1.5.1. Conners A versão brasileira da escala de Conners para pais e professores foi utilizada neste estudo para quantificar a conduta hipercinética através da análise do fator de hiperatividade da escala, para pais e professores. As pontuações foram obtidas somando-se os valores dos itens individuais em cada fator. Cumpre lembrar que a escala índice de hiperatividade para os pais consta de 13 itens, e para os professores, de 17 itens. A soma total de pontos para os pais é 39 e, para os professores, 51. Os resultados foram apresentados segundo a média de pontuação obtida em cada escala e de acordo com a classificação atribuída em função do somatório dos pontos, se, positiva ou negativa, conforme o ponto de corte correspondente já pré-estabelecido. A tabela 8 resume os resultados das médias obtidas nas escalas de Conners nas versões de pais e professores. Observam-se pontuações significativamente mais elevadas no grupo TDAH nas escalas para pais e professores quando comparados ao grupo controle (Tab. 8). Estes escores elevados observados no grupo TDAH podem oferecer evidências presuntivas de TDAH, sendo recursos adjuvantes úteis ao processo de diagnóstico. Os resultados da freqüência segundo a classificação nas escalas mostraram que 80,6% e 66,2% dos pacientes com TDAH apresentaram escala de Conners pais e professores positivas, respectivamente (Tab. 8). Foram observadas diferenças estatisticamente significantes na comparação entre os grupos TDAH e controle conforme a classificação obtida na escala de Conners para pais, na qual 80,6% dos pacientes com TDAH apresentaram-se positivos enquanto que apenas 8,1% do controle tiveram o mesmo resultado. Na avaliação dos pais, o percentual de negatividade foi de 91,9% no grupo controle e 19,4% no grupo TDAH (Tab. 8). 92 RESULTADOS Na avaliação dos professores a detecção positiva para os paciente com TDAH foi um pouco menor (66,2%) e um pouco maior para os controles (13,5%), porém a comparação entre os grupos foi estatisticamente significante (Tab. 8). Por outro lado, o índice de detecção de negatividade no grupo controle foi de 86,5% em contraste com 33,8% de negatividade no grupo TDAH. Tabela 8 - Análise comparativa do fator Hiperatividade das escalas de Conners para pais e professores em crianças e/ou adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e controles. Os dados são apresentados pela média e erro padrão da média (e.p.m.) para as pontuações em cada escala e freqüência (percentual %) para a classificação positiva ou negativa. Grupo controle Grupo TDAH N Media ± e.p.m N Media ± e.p.m t p Conners pais 37 6,37 ± 0,91 67 18,96 ± 0,97 8,66 < 0,001 Conners prof 37 7,18 ± 1,23 65 18,89 ± 1,25 6,23 < 0,001 N Freqüência (%) N Freqüência (%) χ2 P 50,56 39,84 11,11 < 0,001 < 0,001 = 0,001 27,77 21,85 5,49 < 0,001 < 0,001 = 0,019 Conners pais global 7 a 11 anos 12 a 14 anos Positivo 37 27 10 Conners prof global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 3 (8,1%) 3 (11,1%) 0 (0,0%) Positivo 37 27 10 5 (13,5%) 3 (11,1%) 2 (20%) Negativo 34 (91,9%) 24 (88,9 %) 10 (100%) Positivo 67 52 15 Negativo 32 (86,5%) 24 (88,9%) 8 (80%) 65 52 13 Negativo 54 (80,6%) 44 (84,6%) 10 (66,7%) 13 (19,4%) 8 (15,9%) 5 (33,3%) Positivo Negativo 43 (66,2%) 34 (66,7%) 9 (69,2%) 22 (33,8%) 17 (33,3%) 4 (30,8%) t = teste t de Student; χ2 = teste do qui-quadrado Portanto, na análise global, ou seja, na amostra de crianças e adolescentes como um todo, estes dados mostram que a escala de Conners detecta satisfatoriamente os sintomas do Transtorno, especialmente pelos pais, e apresenta- 93 RESULTADOS se também satisfatoriamente negativa quando os sintomas estão ausentes tanto para pais quanto para professores. A maior detecção de sintomas do transtorno no grupo TDAH pode ser vista também nas categorias de idade, havendo diferenças estatisticamente significantes na comparação entre os grupos (Tab. 8). Entretanto, observe-se que, de acordo com a escala, a percepção dos sintomas pelos pais parece ser mais efetiva em crianças (84,6%) do que em adolescentes (66,7%), enquanto que para os professores a percepção é similar, sendo de 66,7% para as crianças e de 69,2% para os adolescentes. Os percentuais de negatividade na ausência do transtorno também foram satisfatórias para as crianças (88,9%) ou adolescentes (80%) do grupo controle em ambas as escalas de pais e de professores (Tab. 8). Estes resultados indicam que as escalas de classificação de Conners tanto para pais quanto para professores são instrumentos eficazes na discriminação da presença ou ausência de manifestações do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Os resultados obtidos na aplicação da escala de Conners para pais correlacionou-se positiva e significativamente com os dados obtidos na aplicação da escala de Conners para professores (r de Pearson = 0,53; p < 0,001). Em outra análise destes dados foi feito um cruzamento dos subtipos de TDAH segundo o DSM-IV e os resultados das classificações obtidas na escala de Conners pais e professores que está apresentada na tabela 9. Nesta análise pode-se observar que a comparação dos subtipos de diagnósticos de TDAH e a classificação (positiva ou negativa) obtida pela aplicação da escala de Conners para pais foi estatisticamente significante na análise global e na análise na faixa etária de 7 a 11 anos, enquanto que para os professores foi estatisticamente significante na análise global e na faixa etária de 12 a 14 anos, 94 RESULTADOS sugerindo ter ocorrido uma distribuição das freqüências diferentes das esperadas nestas categorias. Tabela 9 – Comparação dos tipos diagnósticos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) com a freqüência de detecção ou não do distúrbio pelos pais ou professores pela aplicação das escalas de Conners. Os dados são apresentados pela freqüência (percentual %) para a classificação positiva ou negativa e os subtipos de TDAH. DSM-IV Conners Freqüência (%) dos subtipos de TDAH χ2 p Combinado Desatento H/I Positivo Negativo 43 (79,6%) 5 (38,5%) 5 (9,3%) 7 (53,8%) 6 (11,1%) 1 (7,7%) 14,22 = 0,001 Positivo Negativo 36 (81,8%) 3 (37,5%) 3 (6,8%) 4 (50%) 5 (11,4%) 1 (12,5%) 11,16 = 0,004 Positivo Negativo 7 (70%) 2 (40%) 2 (20%) 3 (60%) 1 (10%) 0 (0%) - ns Positivo Negativo 36 (83,7%) 11 (52,4%) 3 (7%) 7 (33,3%) 4 (9,3%) 3 (14,3%) 8,48 = 0,014 Positivo Negativo 28 (82,4%) 11 (64,7%) 2 (5,9%) 4 (23,5%) 4 (11,8%) 2 (11,8%) - ns Positivo Negativo 8 (88,9%) 0 (0%) 1 (11,1%) 3 (75%) 0 (0%) 1 (25%) 9,48 = 0,009 Pais Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos Professores Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos χ2 = teste do qui-quadrado; ns = não significante De fato, houve maior detecção positiva do tipo combinado em ambas as escalas para pais e professores tanto na análise global (79,6% e 83,7%, respectivamente) como nas categorias de idade de 7 a 11 anos (81,8% e 82,4%, respectivamente) ou 12 a 14 anos (70% e 88,9%, respectivamente). 95 RESULTADOS Por outro lado, as maiores falhas na detecção pela aplicação da escala de Conners para pais foram para o tipo desatento, tanto para a análise global (53,8%) quanto para as análises por categorias de idade de 7 a 11 anos (50%) ou 12 a 14 anos (60%), enquanto que para os professores foi para o tipo combinado na análise global (52,4%) e na categoria de 7 a 11 anos (64,7%), e do tipo desatento na categoria de 12 a 14 anos (75%). 4.1.5.2. SNAP IV A escala SNAP IV utilizada no estudo foi aplicada com os pais e professores para quantificar os sintomas de desatenção, hiperatividade/Impulsividade e transtorno opositor e desafiador (TOD). As pontuações foram obtidas somando-se os pontos em cada domínio específico e dividindo-se pelo número de itens neste mesmo domínio. O escore em cada sub-escala foi expresso, portanto, pela média obtida em cada sub-escala. De acordo com o escore obtido em cada sub-escala foi atribuída uma classificação positiva ou negativa, considerando-se o ponto de corte estabelecido em cada domínio. As médias de pontuações obtidas nas sub-escalas de desatenção, hiperatividade/Impulsividade e TOD da escala SNAP IV segundo as avaliações de pais e professores mostraram valores significativamente mais elevados no grupo TDAH comparado ao controle (Tab. 10). Os escores médios obtidos nas sub-escalas de desatenção e hiperatividade/impulsividade no grupo TDAH segundo as respostas dos pais ultrapassaram o nível de corte estabelecido no domínio específico, entretanto na opinião dos professores eles ficaram abaixo do ponto de corte. Para a sub-escala TOD os escores médios ficaram abaixo do ponto de corte tanto na opinião dos pais quanto dos professores. Tabela 10 - Análise comparativa dos sintomas de hiperatividade, desatenção e transtorno opositor e desafiador das escalas SNAP IV para pais e professores nas crianças e 96 RESULTADOS adolescentes controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Grupo controle Grupo TDAH t p N Media ± e.p.m N Media ± e.p.m Snap IV pais Hiperatividade 37 0,67 ± 0,07 70 1,78 ± 0,07 9,06 <0,001 Desatenção 37 0,52 ± 0,07 70 1,94 ± 0,05 15,16 <0,001 T. Opositor 37 0,51 ± 0,07 70 1,22 ± 0,06 6,62 <0,001 Snap IV professores Hiperatividade 38 0,35 ± 0,08 48 1,57 ± 0,13 7,09 <0,001 Desatenção 38 0,28 ± 0,05 48 1,66 ± 0,09 11,61 <0,001 T. Opositor 38 0,16 ± 0,04 46 0,79 ± 0,09 5,39 <0,001 t = teste t de Student Não foram observadas correlações significativas entre as avaliações feitas pelos pais e professores para os sintomas de hiperatividade e desatenção. Para o transtorno opositor e desafiador, no entanto, a correlação foi significativamente positiva (r de Pearson = 0,46, p < 0,001). Na escala SNAP IV pais foi encontrado 91,4% dos pacientes com TDAH com classificação positiva enquanto que na opinião dos professores 47,9% obtiveram a mesma classificação (Tab. 11). No grupo controle, segundo os pais e professores 91,9% e 97,3% foi classificado como negativos, respectivamente (Tab. 11). A distribuição destas freqüências foi significativamente diferente do esperado pela análise do qui-quadrado (Tab. 11) nas análises globais e também nas análises por categorias de idade para o Snap IV para pais e para a categoria de 7 a 11 anos para o SNAP IV para professores (Tab. 11). Tabela 11 - Análise comparativa da Classificação obtida pela aplicação da escala SNAP IV para pais e professores em crianças e/ou adolescentes com diagnóstico de Transtorno de 97 RESULTADOS Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e controles. Os dados são apresentados pela freqüência (percentual %) para a classificação positiva ou negativa. Grupo controle N Snap IV pais global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 37 27 10 Snap IV prof global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 37 27 10 Freqüência (%) Positivo Negativo 3 (8,1%) 2 (7,4%) 1 (10%) 34 (91,9%) 25 (92,6 %) 9 (90%) Positivo Negativo 1 (2,7%) 0 (0%) 1 (10%) 36 (97,3%) 27 (100%) 9 (90%) Grupo TDAH N 70 53 15 Freqüência (%) Positivo Negativo 64 (91,4%) 50 (94,3%) 14 (82,4%) 6 (8,6%) 3 (5,7%) 3 (17,6%) Positivo 48 38 10 23 (47,9%) 19 (50%) 4 (40%) χ2 p 71,79 59,42 13,35 < 0,001 < 0,001 < 0,001 21,08 19,07 - < 0,001 < 0,001 ns Negativo 25 (52,1%) 19 (50%) 6 (60%) χ2 = teste do qui-quadrado Observe-se que esta escala parece ser mais eficaz na detecção da negatividade no grupo controle pelos pais e professores (90 a 100%) tanto na análise global quanto por categorias de idade, enquanto que para a detecção dos sintomas do transtorno esta escala se mostrou bastante eficaz para a avaliação dos pais (82 a 94%), mas pobre para a avaliação dos professores (40 a 50%) tanto na análise global, quanto por categorias de idade, particularmente para os adolescentes (Tab. 11). Isto indica de um modo geral que os pais foram capazes de reconhecer melhor certos comportamentos da criança e/ou adolescente no contexto familiar, dentro dos limites aceitáveis e as expectativas para a idade e situação. Já os professores consideraram certos comportamentos como apropriados para uma determinada idade e tarefa na sala de aula, não discriminando adequadamente as alterações comportamentais do TDAH. A comparação entre os subtipos de TDAH pelo DSM–IV e a classificação de positividade pela escala de SNAP IV pais e professores está apresentada na tabela 12. Houve diferenças estatisticamente significantes para a distribuição das 98 RESULTADOS freqüências encontradas, principalmente na análise global e na faixa etária de 7 a 11 anos para a escala de pais. Tabela 12 – Comparação dos tipos diagnósticos do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) com a freqüência de detecção ou não do distúrbio pelos pais ou professores pela aplicação da escala de SNAP IV. Os dados são apresentados pela freqüência (percentual %) para a classificação positiva ou negativa e os subtipos de TDAH. DSM-IV Snap IV Freqüência (%) dos subtipos de TDAH χ2 p Combinado Desatento H/I Positivo Negativo 48 (75%) 0 (0%) 9 (14,1%) 6 (100%) 7 (10,9%) 0 (0%) 24,06 < 0,001 Positivo Negativo 39 (78%) 0 (0%) 5 (10%) 3 (100%) 6 (12%) 0 (0%) 17,88 < 0,001 Positivo Negativo 9 (64,3%) 0 (0%) 4 (28,6%) 3 (100%) 1 (7,1%) 0 (0%) - ns Positivo Negativo 18 (78,3%) 15 (60%) 2 (8,7%) 7 (28%) 3 (13%) 3 (12%) - ns Positivo Negativo 16 (84,2%) 12 (63,2%) 0 (0%) 5 (26,3%) 3 (15,8%) 2 (10,5%) 5,77 = 0,05 Positivo Negativo 2 (50%) 3 (50%) 2 (50%) 2 (33,3%) 0 (0%) 1 (16,7%) - ns Pais Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos Professores Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos χ2 = teste do qui-quadrado; ns = não significante Como pode ser ainda observado na tabela 12, semelhante ao que foi observado para a escala de Conners, houve maior detecção positiva do tipo combinado em ambas as escalas para pais e professores tanto na análise global 99 RESULTADOS (75% e 78,3, respectivamente) como nas categorias de idade de 7 a 11 anos (78% e 84,2, respectivamente) ou 12 a 14 anos (64,3% e 50%, respectivamente). Por outro lado, como também foi observado para o Conners, as maiores falhas na detecção foram para o tipo desatento (100%), tanto para a análise global quanto para as análises por categorias de idade, enquanto que para os professores foram grandes as falhas na detecção tanto do tipo combinado quanto do tipo desatento na análise global e também nas categorias de idade. Estas análises complementam a informação já encontrada anteriormente, sugerindo que a escala SNAP IV é satisfatória para a percepção dos sintomas pelos pais, mas não o é para a percepção dos professores. 4.1.6. Avaliação de desempenho escolar e inteligência global 4.1.6.1. RAVEN Com a possibilidade de verificar as possíveis diferenças nos resultados da aplicação do RAVEN, produzidas pelas variáveis que descrevem a amostra (idade, gênero e grupo estudado) foram realizados análises de freqüência relativa e cruzamentos de dados, teste do qui-quadrado (χ2) e teste “t” independente, conforme se apresenta adiante. Os resultados são apresentados de acordo com a pontuação total correspondente ao número de “acertos” e/ou escores agrupados e classificados como: Grau I, “intelectualmente superior”; Grau II, “acima da média na capacidade intelectual”, e, Grau III, ”intelectualmente médio”. Foram excluídos os indivíduos com classificação abaixo da média na capacidade intelectual e os intelectualmente deficientes. Foram feitas análises globais (amostra total de indivíduos de 7 a 14 anos de idade) inter-grupos, ou seja, entre grupos controle e TDAH, e, por categorias de idade (crianças: 7 a 11 anos, e, adolescentes: 12 a 14 anos). Também foram feitas 100 RESULTADOS análises entre os grupos controle e TDAH por categorias de idade e por gênero masculino e feminino. A figura 3 mostra a freqüência segundo a classificação no RAVEN dos grupos TDAH e controle, aqui representados por indivíduos de ambos os sexos e idades entre 7 a 14 anos. Os dois grupos apresentaram freqüências semelhantes com 87,1% (TDAH) e 87,2 (controle) sendo classificados nos Graus II e III. Não há diferenças significantes entre eles. grupo controle 100 grupo TDAH 75 50 49 38 25 13 0 Grau III RAVEN - classificação Grau II Grau I Porcentagem dos Escores no RAVEN Porcentagem dos Escores no RAVEN 100 75 60 50 25 27 13 0 Grau III Grau II Grau I RAVEN - classificação Figura 3 – Classificação (porcentagem) dos escores de inteligência global obtido pela aplicação das Matrizes Progressivas Coloridas de RAVEN em crianças e adolescentes do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Grau I = “intelectualmente superior”; Grau II = “acima da média na capacidade intelectual”, e, Grau III = ”intelectualmente médio”. Obs.: as crianças de ambos os grupos que foram classificadas abaixo do grau III foram excluídas do estudo. Na comparação da classificação no RAVEN, por categorias de idade entre os grupos TDAH e controle, foram encontradas diferenças significantes entre eles apenas para as idades de 7 a 11 anos (χ2 = 8,2; p = 0,017), sendo que 60,7% das crianças do grupo controle foram classificadas no grau II enquanto que 53,1% das crianças com TDAH foram classificadas em um grau inferior, o grau III (Tab. 13). Observe-se ainda que a maioria (78,6%) das crianças do grupo controle foi 101 RESULTADOS classificada nos graus superiores de desempenho (graus I e II) enquanto que a maioria (83,7%) das crianças do grupo TDAH foram classificadas nos graus II e III (Tab. 13). Tabela 13 – Comparação entre os grupos de crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Grau I = “intelectualmente superior”; Grau II = “acima da média na capacidade intelectual”, e, Grau III = ”intelectualmente médio” RAVEN - classificação categorias de idade 7 a 11 anos Grau III grupos controle TDAH Total 12 a 14 anos grupos controle TDAH Total Grau II Grau I Total 6 17 5 28 21,4% 60,7% 17,9% 100,0% 26 15 8 49 53,1% 30,6% 16,3% 100,0% 32 32 13 77 41,6% 41,6% 16,9% 100,0% 9 2 11 81,8% 18,2% 100,0% 16 4 1 21 76,2% 19,0% 4,8% 100,0% 25 6 1 32 78,1% 18,8% 3,1% 100,0% De um modo geral, o desempenho das crianças e adolescentes do sexo feminino foi bastante similar ao do sexo masculino tanto no grupo controle quanto no grupo TDAH, não havendo, portanto, uma discrepância substancial quanto ao gênero. Em síntese, as amostras dos grupos TDAH e controle foram compostas em sua maioria por indivíduos com capacidade intelectual média ou acima da média. Quando os dois grupos foram comparados por categoria de idades foram encontradas diferenças significativas quanto à capacidade intelectual na faixa etária de 7 a 11 anos, sendo que as crianças do grupo controle apresentaram nível 102 RESULTADOS intelectual mais elevado que o do grupo TDAH. Nas idades de 12 a 14 anos o nível intelectual dos dois grupos foram equivalentes. A despeito das pequenas diferenças encontradas, sobretudo entre as crianças do grupo controle e do grupo TDAH, todas as crianças e adolescentes foram consideradas aptas para o presente estudo. 4.1.6.2. TDE Para análise dos resultados foi adotada a classificação segundo o Escore Bruto obtido em cada subteste (Escrita, Aritmética e Leitura) e o Escore Bruto Total de todo TDE em: Inferior, Médio (Médio-superior e Médio-inferior) e Superior (Fig. 4). Estas análises têm como objetivo verificar se existem diferenças de desempenho entre os grupos estudados, entre os sexos e por categorias de idades em cada grupo. Comparou-se o resultado de desempenho no subteste Escrita entre os grupos TDAH e controle, e foi encontrado pior desempenho no grupo TDAH, onde 50% dos indivíduos apresentaram classificação inferior comparado a apenas 13% do grupo controle, enquanto que 43% dos indivíduos do grupo controle apresentaram desempenho médio-superior a superior contrastado com 17% no grupo TDAH (χ2 = 21,99, p < 0,001) (Fig. 4). A comparação entre os grupos por categorias de idade (Tab. 14) mostrou pior desempenho do grupo TDAH nas duas faixas etárias, de 7 a 11 anos (χ2 = 14,41, p = 0,006) e de 12 a 14 anos (χ2 = 8,88, p = 0,012) quando comparado ao desempenho do grupo controle, sendo que 46,9% das crianças (7 a 11 anos) e 57,1% dos adolescentes (12 a 14 anos) do grupo TDAH tiveram classificação inferior comparado a 11,1% e 18,2% no grupo controle, respectivamente. 103 RESULTADOS grupo TDAH grupo controle 100 Porcentagem dos Escores na ES CRITA Porcentagem dos Escores na ESCRITA 100 75 50 41 33 25 13 10 0 I M MS 75 50 50 30 25 10 0 I S TDE - ESCRITA Porcentagem dos Escores em Ar itmétrica Porcentagem dos Escores em A ritmética S 100 75 59 50 25 15 15 I M 0 MI MS 75 50 39 25 27 27 0 S I TDE - ARITMÉTICA M MI MS S TDE - ARITMÉTICA grupo TDAH grupo controle 100 Porcentagem dos Escores em Leitura 100 Porcentagem dos Escores em Leitu ra 7 MS grupo T DAH grupo controle 75 72 50 25 21 5 0 M MS 75 50 43 25 26 21 7 0 I S 50 49 31 8 TDE - TOTAL 8 M MS S Porcentagem dos Escores no TDE - TOTAL 75 I MI MS S grupo TDAH grupo controle 100 25 M T DE - LEIT URA TDE - LEITURA Porc entagem dos Es c ores no T DE - TOTAL MI TDE - ESCRITA 100 0 M 100 75 50 40 34 25 16 10 0 I M MS S TDE - TOTAL Figura 4 – Teste de Desempenho Escolar (TDE), desempenho total e escores por modalidades de escrita, aritimética e leitura, em crianças e adolescentes do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). 104 RESULTADOS Tabela 14 – Comparação, por categoria de idade, do desempenho do subteste de escrita do Teste de Desempenho Escolar (TDE) entre os grupos de crianças (7 a 11 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). ). I = inferior, M = médio, MI = médio inferior, MS = médio superior, S = superior. TDE - ESCRITA categorias de idade 7 a 11 anos I grupos controle TDAH Total 12 anos a 14 anos grupos controle TDAH Total M MI MS 3 12 11,1% 44,4% 23 13 2 46,9% 26,5% 26 25 34,2% 32,9% S 4 8 14,8% 29,6% 7 4 4,1% 14,3% 8,2% 2 11 12 2,6% 14,5% 15,8% 2 4 5 18,2% 36,4% 45,5% 12 8 1 57,1% 38,1% 4,8% 14 12 6 43,8% 37,5% 18,8% Considerando-se o gênero, não foram observadas diferenças significantes na comparação de desempenho entre sujeitos do sexo feminino e masculino nas duas categorias de idade. No subteste Aritmética foi encontrado na comparação entre os grupos um pior desempenho (classificação inferior) no grupo TDAH quando comparado ao controle (χ2 = 12,88, p = 0,012) (Fig. 4). Note-se que a maioria (59%) dos sujeitos do grupo controle apresentou desempenho classificado como superior neste subteste enquanto que a maioria (66%) do grupo TDAH apresentou desempenho inferior ou médio (Fig. 4). Na comparação por categorias de idade (Tab. 15) observa-se um pior desempenho no grupo TDAH (classificação inferior) na faixa etária de 7 a 11 anos (χ2= 13,13, p = 0,011), na qual a maioria 73,1% das crianças do grupo controle apresentaram desempenho superior em contraste com 30,6% do grupo TDAH, 105 RESULTADOS enquanto que a maioria (58,5%) deste grupo (TDAH) apresentou desempenho inferior ou médio. Nenhuma diferença entre os grupos foi encontrada nas idades de 12 a 14 anos. Tabela 15 – Comparação, por categoria de idade, do desempenho do subteste de aritmética do Teste de Desempenho Escolar (TDE) entre os grupos de crianças (7 a 11 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). I = inferior, M = médio, MI = médio inferior, MS = médio superior, S = superior. TDE - ARITMÉTICA categorias de idade 7 a 11 anos I grupos controle TDAH Total 12 a 14 anos grupos controle TDAH Total M MI MS S 1 4 1 1 19 3,8% 15,4% 3,8% 3,8% 73,1% 10 19 2 3 15 20,4% 38,8% 4,1% 6,1% 30,6% 11 23 3 4 34 14,7% 30,7% 4,0% 5,3% 45,3% 5 2 4 45,5% 18,2% 36,4% 9 8 4 42,9% 38,1% 19,0% 14 10 8 43,8% 31,3% 25,0% Curiosamente, em uma comparação de desempenho entre as faixas etárias, as crianças apresentaram melhor desempenho que os adolescentes no grupo controle neste subteste de aritmética. Esta diferença não foi vista para o grupo TDAH. Adicionalmente, o desempenho dos sujeitos do sexo masculino e feminino foi similar em ambas as categorias de idade. No subteste Leitura, o grupo TDAH apresentou desempenho inferior (χ2= 15,35, p = 0,004) em relação ao grupo controle (Fig. 4). A maioria (72%) dos sujeitos 106 RESULTADOS do grupo controle apresentou desempenho superior, sendo que uma boa parcela, porém proporcionalmente menor, dos sujeitos do grupo TDAH (43%) também apresentaram desempenho superior. Destaca-se, no entanto, que 26% dos sujeitos do grupo TDAH apresentaram desempenho inferior, não havendo sujeitos do grupo controle que tenham apresentado este nível de desempenho (Fig. 4). Quanto a comparação entre os grupos por categoria de idade, o subgrupo TDAH de 7 a 11 anos apresentou classificação inferior ao controle da mesma faixa etária (χ2= 12,92, p = 0,012) (Tab. 16). Novamente observa-se que a maioria (66,7%) das crianças do grupo controle enquanto que 34,7% das crianças do grupo TDAH apresentaram desempenho superior, e 28,6% das crianças do grupo TDAH apresentaram desempenho inferior, não havendo crianças do grupo controle com este desempenho (Tab. 16). Tabela 16 – Comparação, por categoria de idade, do desempenho do subteste de leitura do Teste de Desempenho Escolar (TDE) entre os grupos de crianças (7 a 14 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). I = inferior, M = médio, MI = médio inferior, MS = médio superior, S = superior. TDE - LEITURA categorias de idade 7 a 11 anos I grupos M controle MI MS 7 25,9% TDAH Total 12 a 14 anos grupos Total 18 7,4% 66,7% 14 11 2 5 17 28,6% 22,4% 4,1% 10,2% 34,7% 14 18 2 7 35 18,4% 23,7% 2,6% 9,2% 46,1% controle TDAH S 2 1 10 9,1% 90,9% 4 4 13 19,0% 19,0% 61,9% 4 5 23 12,5% 15,6% 71,9% 107 RESULTADOS Na faixa etária maior, apesar do grupo TDAH ter apresentado desempenho inferior em comparação ao controle, não houve diferenças estatisticamente significantes (Tab. 16). Não houve diferenças substanciais na comparação do desempenho das crianças e adolescentes do sexo masculino e feminino mesmo considerando-se as categorias de idade. Por fim, na análise do resultado total no TDE (Fig. 4), obtido pela somatória dos escores encontrados nos subtestes Escrita, Aritmética e Leitura, revelou que o grupo TDAH apresentou desempenho inferior quando comparado ao grupo controle (χ2= 19,56, p < 0,001), sendo que 40% dos indivíduos do grupo TDAH foram classificados como inferiores enquanto apenas 8% do grupo controle obteve esta classificação. Por outro lado, 49% dos sujeitos do grupo controle e apenas 16% do grupo TDAH apresentaram desempenho superior (Fig. 4). Considerando-se as categorias de idade, as crianças do grupo TDAH (7 a 11 anos) apresentaram desempenho inferior quando comparado às crianças do grupo controle (χ2= 16,87, p = 0,001) (Tab. 17). Observe-se que 57,5% das crianças do grupo controle, em contraste com 18,4% das crianças do grupo TDAH, apresentaram desempenho superior, e ainda, 32,7% das crianças do grupo TDAH apresentaram desempenho inferior, não havendo nenhuma criança do grupo controle com este nível de desempenho (Tab. 17). Entre os adolescentes também houve um pior desempenho do grupo TDAH, sendo que 57,1% deste grupo apresentou desempenho inferior comparado a 27,3% do grupo controle, mas não de forma estatisticamente significante. Considerando-se o gênero, não houve diferenças estatisticamente significantes na comparação do desempenho dos sexos masculino e feminino. Enfim, os resultados da avaliação de desempenho escolar mostram que, de um modo geral, o grupo TDAH apresentou um desempenho inferior ao do grupo controle, especialmente as crianças (faixa etária de 7 a 11 anos), não havendo 108 RESULTADOS diferenças quanto ao gênero. O desempenho mostrou-se comprometido no grupo TDAH em todas as modalidades examinadas, ou seja, escrita, aritmética e leitura. Tabela 17 – Comparação, por categoria de idade, do desempenho total do Teste de Desempenho Escolar (TDE) entre os grupos de crianças (7 a 14 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). I = inferior, M = médio, MS = médio superior, S = superior. TDE - TOTAL categorias de idade 7 a 11 anos I grupos TDAH Total 12 a 14 anos grupos M controle controle TDAH Total MS S 8 3 15 30,8% 11,5% 57,7% 16 17 7 9 32,7% 34,7% 14,3% 18,4% 16 25 10 24 21,3% 33,3% 13,3% 32,0% 3 4 4 27,3% 36,4% 36,4% 12 7 2 57,1% 33,3% 9,5% 15 11 6 46,9% 34,4% 18,8% Observe-se que a maioria (69,2%) (Tab. 4) dos indivíduos do grupo controle são provenientes de escolas públicas e a maioria dos indivíduos do grupo TDAH são provenientes de escolas particulares (64,3%) (Tab. 4), não havendo necessariamente uma equivalência nas bases da estrutura de ensino oferecidas pelas instituições destacadas no presente estudo. Tomados em conjunto, o desempenho escolar foi inferior nas crianças de 7 a 11 anos, nas quais a inteligência global apresentou-se menor comparado às crianças do grupo controle, porém mantendo-se no ou acima do desempenho médio. Os adolescentes também apresentaram uma certa queda no desempenho escolar e de sua inteligência global, mas não significativamente diferente dos adolescentes do 109 RESULTADOS grupo controle. Ainda assim, as crianças e adolescentes do grupo TDAH foram consideradas aptas para a realização da avaliação neuropsicológica, porém já sugerindo que este comprometimento principalmente no desempenho escolar poderia representar uma conseqüência de disfunções cognitivas já bem descritas nesta patologia. 4.1.7. Resultados da Avaliação Neuropsicológica 4.1.7.1.Teste de dígitos (“digit span”) ordem direta e inversa Os grupos TDAH e controle foram comparados de acordo com a pontuação média obtida nas ordens direta (armazenamento de informações) e inversa (processamento de informações complexas). Este teste permite avaliar a alça fonológica da memória operacional, o executivo central, flexibilidade cognitiva e a atenção auditiva (Lezak, 1995; Andrade, 2004). A média de pontuação atingida pelo grupo TDAH tanto nas seqüências da ordem direta e inversa foi significativamente menor comparado ao grupo controle (t = 4,058 e t = 3,626, respectivamente, p < 0, 001) (Fig. 5A), conseqüentemente o escore total também foi significativamente menor no grupo TDAH comparado ao controle (t = 4,666, p < 0,001). Comparando o desempenho entre os grupos por faixa etária de 7 a 11 anos, o grupo TDAH apresentou pontuação significativamente menor nas seqüências direta (t = 4,32, p < 0,001) e inversa (t = 3,09, p < 0,01) em relação ao controle (Fig. 5B). Na faixa etária de 12 a 14 anos também foi encontrado uma diminuição da pontuação no grupo TDAH especialmente na seqüência inversa t = 2,21, p < 0,05) comparados ao controle (Fig. 5B). 110 RESULTADOS A B Digit Span (crianças) Digit Span Média do escore ± e.p.m. controle TDAH 6 5 *** 4 Média do escore ± e.p.m. controle *** TDAH 6 5 *** 4 ** 3 2 1 0 3 Ordem Direta Ordem Inversa 2 1 Digit Span (adolescentes) 0 controle Ordem Inversa Média do escore ± e.p.m. Ordem Direta TDAH 6 5 * 4 3 2 1 0 Ordem Direta Ordem Inversa Figura 5 – Desempenho do teste de dígitos (Digit Span) na ordem direta e inversa global (A) e por categoria de idades (B) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05, ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. Portanto, o grupo TDAH apresentou significante comprometimento na evocação direta ou inversa dos dígitos, especialmente as crianças de 7 a 11 anos de idade, comparadas ao grupo controle. Os adolescentes (12 a 14 anos) apresentaram prejuízos menores, mas ainda assim com desempenho sempre menor comparado ao grupo controle, especialmente na evocação da ordem inversa dos dígitos. Estes resultados apontam para um comprometimento nas funções cognitivas atencionais, memória operacional em sua alça fonológica e processamento de informações nas crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH. Adicionalmente, em uma comparação entre as faixas etárias, os adolescentes apresentaram escores maiores comparados às crianças, em ambos os 111 RESULTADOS grupos controle e TDAH, sugerindo uma melhora no desempenho deste teste com o avançar da idade até a adolescência, o que está em conformidade com o desenvolvimento neuromaturacional e das funções cognitivas superiores infantis. 4.1.7.2. Repetição de Pseudopalavras para crianças - BCPR O teste de Repetição de Pseudopalavras para crianças Brasileiras (BCPR) é sensível para avaliar a alça fonológica da Memória Operacional e problemas na expressão verbal. Os resultados são apresentados de acordo com a média do número total de pseudopalavras pronunciadas corretamente (escore total = 40 pontos), pela média das pseudopalavras corretamente pronunciadas conforme seu comprimento (número de sílabas), pela média total dos erros e média de classificação dos erros. Foi feito estatística descritiva e teste t independente entre os grupos TDAH e controle por idades globais e por faixa etária. Na análise global, o total de acertos foi significativamente menor no grupo TDAH (t = 4,623, p < 0,001) comparado ao grupo controle (Fig. 6A). Esta diferença foi também encontrada na comparação por categorias de idade nas crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH (t = 4,354, p < 0,001) comparada às crianças da mesma faixa etária (Fig. 6B). Os adolescentes (12 a 14 anos) também apresentaram menos acertos, mas não de forma estatisticamente significante comparado ao grupo controle (Fig. 6B). Com relação à quantidade de sílabas contidas nas pseudopalavras observou-se que as crianças e adolescentes do grupo TDAH apresentaram maiores dificuldades na repetição das pseudopalavras com 3 (t = 2,0193, p < 0,05), 4 (t = 3,839, p < 0,001) e 5 (t = 2,156, p < 0,05) sílabas comparadas às crianças e adolescentes do grupo controle (Fig. 7A). 112 RESULTADOS B A *** 40 30 20 10 0 controle Total de Acertos (7 a 11 anos) Média de acertos ± e.p.m. Média de acertos ± e.p.m. Total de Acertos (7 a 14 anos) TDAH Grupos Total de Acertos (12 a 14 anos) *** 40 30 20 10 0 controle Grupos TDAH controle TDAH Grupos Figura 6 – Total de pseudopalavras pronunciadas corretamente na análise global (A) ou por categorias de idade (B) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. Estas diferenças se apresentaram na comparação por categorias de idade, porém sendo mais significativas para as crianças com TDAH na repetição das palavras com 3 (t = 1,992, p < 0,05) e 4 (t = 3,799, p < 0,001) sílabas comparadas às crianças do grupo controle (Fig. 7B), porém foi também significativa para as palavras com 5 sílabas para os adolescentes com TDAH comparado aos respectivos controles (t = 2,03, p < 0,05) (Fig. 7B). Estes resultados sugerem que o desempenho dos indivíduos com TDAH decai à medida que o comprimento das pseudopalavras aumenta de 3 para 5 sílabas. Este efeito também foi observado no grupo controle, porém de forma mais sutil. 113 RESULTADOS B A crianças (7 a 11 anos) controle TDAH TDAH * Média de acertos ± e.p.m. *** * 7.5 Média de acertos ± e.p.m. controle 10.0 * 10.0 global (7 a 14 anos) *** 7.5 5.0 2.5 0.0 5.0 2 sílabas 3 sílabas 4 sílabas 5 sílabas 2.5 adolescentes (12 a 14 anos) 0.0 2 sílabas 3 sílabas 4 sílabas 5 sílabas controle TDAH Média de acertos ± e.p.m. 10.0 * 7.5 5.0 2.5 0.0 2 sílabas 3 sílabas 4 sílabas 5 sílabas Figura 7 – Acertos por quantidade de sílabas nas pseudopalavras pronunciadas corretamente na análise global (A) ou por categorias de idade (B) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05, *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. Em relação aos erros cometidos durante a repetição de pseudopalavras o grupo TDAH apresentou significativamente maior número de erros (t = 4,62, p < 0,001) comparado ao grupo controle (Fig. 8A). Este comprometimento foi mais evidente na faixa etária de 7 a 11 anos no qual o número de erros cometidos pelo grupo TDAH foi significativamente maior (t = 4,35, p < 0,001) comparado ao controle (Fig. 8B). Os adolescentes do grupo TDAH também apresentaram maior número de erros mas, não de forma estatisticamente significante (Fig. 8B). 114 4 *** 3 2 1 0 Total de Erros (7 a 11 anos) Média de erros ± e.p.m. Total de Erros (7 a 14 anos) Média de erros ± e.p.m. RESULTADOS B A Total de Erros (12 a 14 anos) 4 *** 3 2 1 0 controle controle TDAH Grupos TDAH controle TDAH Grupos Grupos Figura 8 – Total de erros cometidos na repetição de pseudopalavras na análise global (A) ou por categorias de idade (B) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. Tabela 18 – Comparação dos tipos de erros cometidos na repetição das pseudopalavras entre os grupos de crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Faixa etária Teste t-independente Grupos Tipo de erro Controle TDAH Substituição Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 0,30 ± 0,10 0,30 ± 0,12 0,40 ±, 0,22 1,40 ± 0,16 1,49 ± 0,18 1,16 ± 0,33 4,416 4,253 - < 0,0001 < 0,0001 ns Exclusão Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 0,15 ± 0,06 0,17 ± 0,08 0,10 ± 0,10 0,40 ± 0,08 0,35 ± 0,09 0,53 ± 0,18 - ns ns ns Inserção Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 0,06 ± 0,04 0,04 ± 0,04 0,10 ± 0,10 0,06 ± 0,04 0,02 ± 0,02 0,16 ± 0,12 - ns ns ns Transposição Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 0,06 ± 0,04 0,09 ± 0,06 0,00 ± 0,00 0,18 ± 0,06 0,16 ± 0,06 0,21 ± 0,12 - ns ns ns Lexicalização Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 0,09 ± 0,05 0,09 ± 0,06 0,10 ± 0,01 0,09 ± 0,03 0,08 ± 0,04 0,11 ± 0,07 - ns ns ns Hidridização Global 7 a 11 anos 12 a 14 anos 0,09 ± 0,07 0,04 ± 0,04 0,20 ± 0,20 0,38 ± 0,08 0,43 ± 0,10 0,26 ± 0,13 2,318 2,552 - 0,023 0,013 ns 115 RESULTADOS Os erros cometidos pelo grupo TDAH foram mais por substituição (Tab. 18), sendo encontrados significativamente (p < 0,0001) em maior quantidade e também os erros híbridos (p < 0,05) tanto na análise global quanto nas crianças (7 a 11 anos) com TDAH comparados aos respectivos controles. 4.1.7.3. Blocos de Corsi ordem direta e inversa Os grupos TDAH e controle foram comparados de acordo com a pontuação média obtida nas ordens direta (capacidade atencional visual) e inversa (processamento vísuo-espacial de informações complexas) do teste Blocos de Corsi. Este teste permite avaliar o esboço vísuo-espacial da memória operacional, as funções executivas e atenção vísuo-espacial (Lezak, 1995; Andrade, 2004). A média global de pontuação atingida pelo grupo TDAH tanto nas seqüências da ordem direta quanto na inversa foi menor que a obtida pelo grupo controle, porém foi estatisticamente significante na ordem inversa (t = 2,571, p < 0,01) (Fig. 9A). Na comparação por categorias de idade, o grupo TDAH de 7 a 11 anos apresentou menor pontuação nas seqüências direta (t = 2,162, p < 0,05), inversa (t = 2,212, p < 0,05) (Fig. 9B) e total (t = 2,899, p < 0,01) comparados às crianças do grupo controle. Na idade de 12 a 14 anos o grupo TDAH apresentou pontuação inferior ao grupo controle, nas ordens direta, inversa e total, não tendo, entretanto, atingido significância estatística (Fig. 9B). Portanto, estes resultados mostraram que os sujeitos com diagnóstico de TDAH apresentam comprometimentos no desempenho do teste dos Blocos de Corsi, sendo mais evidente na faixa etária de 7 a 11 anos, sugerindo a ocorrência de prejuízos das funções atencionais vísuo-espacial e esboço vísuo-espacial da memória operacional, especialmente em crianças com TDAH. 116 RESULTADOS A B Blocos de Corsi (crianças) controle Blocos de Corsi Média do escore ± e.p.m. controle TDAH 6 5 ** Média do escore ± e.p.m. TDAH 5 * * 4 3 2 1 0 4 Ordem Direta 3 Ordem Inversa 2 Blocos de Corsi (adolescentes) 1 0 controle TDAH Ordem Inversa Média do escore ± e.p.m. Ordem Direta 6 5 4 3 2 1 0 Ordem Direta Ordem Inversa Figura 9 – Desempenho do Bloco de Corsi na ordem direta e inversa global (A) e por categoria de idades (B) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 e ** p < 0,01 comparado ao grupo controle. 4.1.7.4. Teste de Cartões de Wisconsin Classicamente o teste de Wisconsin é utilizado como uma das medidas de funções executivas frontais. Vários parâmetros foram registrados e os resultados serão apresentados de acordo com a média de erros perseverativos, da média de erros não perseverativos e do total de erros, categorias atingidas e falhas em manter o “set”. Os erros perseverativos correspondem a respostas incorretas mesmo sendo notificado o erro, categorias atingidas referem-se ao número de categorias (cada 117 RESULTADOS seqüência de 10 respostas corretas consecutivas caracteriza uma categoria), que varia de 0 a 6 e falhas em manter o “set” é a dificuldade em completar a seqüência de 10 acertos, cometendo um erro após 5 respostas corretas. A média de erros perseverativos, de erros não perseverativos e o total de erros atingidos pelo grupo TDAH ficou acima da média do grupo controle, entretanto, não chegou a atingir nível de significância estatística (Fig. 10A). Na comparação por faixa etária, não houve diferenças estatisticamente significantes na comparação entre as crianças de 7 a 11 anos do grupo TDAH e controles (Fig. 10B), e tampouco entre os adolescentes de 12 a 14 anos do grupo TDAH e controles (Fig. 10B) B A Média de erros ± e.p.m. WISCONSIN (7 a 11 anos) Média de erros ± e.p.m. WISCONSIN 60 50 controle TDAH 40 60 50 controle TDAH 40 30 20 10 0 30 EP ENP TE 20 Grupos 10 0 EP ENP WISCONSIN (12 a 14 anos) TE Média de erros ± e.p.m. Grupos 60 50 controle TDAH 40 30 20 10 0 EP ENP TE Grupos Figura 10 – Erros perseverativos (EP), erros não perseverativos (ENP) e total de erros (TE) cometidos no desempenho do teste de cartões sortidos de Wisconsin na avaliação global (A) e por categoria de idades (B) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). 118 RESULTADOS Os dois grupos foram também equivalentes quanto às categorias atingidas (Fig. 11A). Embora as falhas em manter o “set” tenham ocorrido em maior freqüência no grupo TDAH comparado ao controle, não houve diferenças significantes entre eles (Fig. 11A). B A WISCONSIN controle 5.0 TDAH controle Média ± e.p.m. 5 TDAH 4 Média ± e.p.m. WISCONSIN 2.5 3 0.0 2 CATEGORIAS FALHAS Grupos 1 0 CATEGORIAS FALHAS WISCONSIN Grupos controle Média ± e.p.m. 6 TDAH 5 4 3 2 1 0 CATEGORIAS FALHAS Grupos Figura 11 – Categorias atingidas e falhas de manter o “set” no desempenho do teste de cartões sortidos de Wisconsin na avaliação global (A) e por categoria de idades (B) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Portanto, os resultados obtidos no teste de Wisconsin não evidenciaram diferenças significativas na comparação entre os grupos TDAH e controle, quer na análise global, quer nas análises por categorias de idade. 119 RESULTADOS 4.1.7.5. Teste de Trilhas A e B Foi comparado o desempenho dos grupos TDAH e controle, no teste de construção de Trilhas partes A e B, que avalia a atenção visual, velocidade psicomotora, destreza manual e mudanças de estratégias (Andrade et al., 2004). Os resultados foram expressos em tempo médio gasto em segundos na execução da tarefa e na média de erros cometidos. Os resultados indicaram que no grupo TDAH o tempo médio para execução da tarefa foi significativamente maior no teste de Trilhas A (t = 2,497, p < 0,01) (Fig. 12A) e B (t = 3,689, p < 0,001) (Fig. 12C) quando comparados ao grupo controle. Na comparação por idades também foi verificado o mesmo padrão de resposta, com o grupo de crianças com TDAH (7 a 11 anos) apresentado significativamente maior tempo para executar a tarefa na Trilha A (t = 3,14, p < 0,01) (Fig. 12B) e Trilha B (t = 3,908, p < 0,001) (Fig. 12D) em comparação ao controle. Na faixa etária de 12 a 14 anos não foram encontradas diferenças tanto no tempo gasto para realização da tarefa entre os grupos na Trilha A (Fig. 12B) e também na Trilha B (Fig. 12D). Em relação à média de erros ocorridos, os dois grupos não diferem estatisticamente na Trilha A (Fig. 13A), entretanto, na Trilha B, o grupo TDAH cometeu significativamente maior número de erros (t = 3,452, p < 0,001) comparado ao controle (Fig. 13C). Este padrão de respostas foi observado nas crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH, ou seja, não houve diferenças de desempenho no teste de Trilhas A (Fig. 13B), entretanto, no teste de Trilhas B foi observado significativamente maior número de erros (t = 3,262, p < 0,01) comparado às crianças do grupo controle (Fig. 13D). 120 RESULTADOS A B Trilha A (7 a 11 anos) 150 125 ** 100 75 50 25 0 controle Média (segundos) ± e.p.m. Média (segundos) ± e.p.m. Trilha A Tempo de desempenho 150 125 ** 100 75 50 25 0 controle TDAH TDAH Grupos Grupos C controle TDAH Grupos D Trilha B (7 a 11 anos) 250 *** 200 150 100 50 0 controle Média (segundos) ± e.p.m. Trilha B Tempo de desempenho Média (segundos) ± e.p.m. Trilha A (12 a 14 anos) TDAH Grupos Trilha B (12 a 14 anos) *** 250 200 150 100 50 0 controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos Figura 12 – Tempo gasto (em segundos) para o desempenho do Teste de Trilhas em suas versões A (A e B) e B (C e D) considerando os dados globais (A e C) e por categoria de idades (B e D) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. Os adolescentes do grupo TDAH não apresentaram desempenho diferente dos adolescentes controles na realização do teste de Trilhas A (Fig. 13B). No testes de trilhas B eles apresentaram mais erros, mas não de forma estatisticamente diferente do grupo controle (Fig. 13D). 121 RESULTADOS A B Trilha A (7 a 11 anos) Trilha A Erros Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. 4 3 2 1 0 4 3 2 1 0 controle controle TDAH TDAH Grupos Grupos C controle TDAH Grupos D Trilha B (7 a 11 anos) Trilha B Erros *** 3 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. Trilha A (12 a 14 anos) 2 1 0 4 Trilha B (12 a 14 anos) ** 3 2 1 0 controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos Figura 13 – Erros cometidos no desempenho do Teste de Trilhas em suas versões A (A e B) e B (C e D) considerando os dados globais (A e C) e por categoria de idades (B e D) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. Portanto, o grupo TDAH apresentou desempenho semelhante ao controle no teste de Trilhas A em relação ao número de erros cometidos independente da faixa etária, ainda que as crianças tenham demorado mais (maior tempo gasto) para completar a tarefa. Entretanto, no desempenho do teste de Trilhas B, algo mais complexa já que nesta tarefa o sujeito deve alternar os números e as letras do 122 RESULTADOS alfabeto em ordem crescente, o grupo TDAH apresentou-se com desempenho inferior, apresentando maior número de erros, especialmente as crianças (faixa etária de 7 a 11 anos), comparado ao grupo controle de mesma faixa etária. Estes resultados podem sugerir uma maior dificuldade na alternância de resposta e no controle da impulsividade principalmente nas crianças com TDAH. 4.1.7.6. Códigos B Este teste avalia a destreza vísuo-motora, velocidade de resposta, atenção seletiva e sustentada (Lezak, 1995; Andrade, 2004). Nas análises dos resultados foi considerado o número total de substituições efetuadas e o número de substituições corretas. A média de substituições alcançadas no grupo TDAH foi significativamente menor (t = 2,849, p < 0,01) comparado ao grupo controle (Fig. 14 A). A média do número de respostas substituídas corretamente também foi significativamente inferior no grupo TDAH (t = 3,010, p < 0,01) em comparação ao controle (Fig. 14 C). Esta diferença foi mais evidente nas crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH sendo que tanto a média de substituições realizadas (t = 3,280, p < 0,01) quanto às efetuadas corretamente (t = 3,454, p < 0,001) foram significativamente inferior comparado ao desempenho de crianças do grupo controle (Fig. 14B e D). Os adolescentes (12 a 14 anos) também apresentaram menor número e acertos nas substituições realizadas comparados aos respectivos controles mas não de forma estatisticamente significante (Fig. 14B e DC). Estes resultados demonstram que os sujeitos com o TDAH, sobretudo as crianças, possivelmente apresentam comprometimentos da destreza vísuo-motora, destacada pelo menor desempenho total, ou seja, menor número de substituições realizadas, e ainda na seletividade e sustentação da atenção, evidenciada pela menor acuidade na realização do teste. 123 RESULTADOS B A Código B Total (7 a 11 anos) 60 50 ** 40 30 20 10 0 controle Média de desempenho ± e.p.m. Média de desempenho ± e.p.m. Código B Total 60 50 ** 40 30 20 10 0 controle TDAH TDAH Grupos Grupos C controle TDAH Grupos D Código B Acertos (7 - 11 anos) 60 50 ** 40 30 20 10 0 controle TDAH Grupos Média de acertos ± e.p.m. Código B Acertos Média de acertos ± e.p.m. Código B Total (12 a 14 anos) Código B Acertos (12 a 14 anos) 60 50 *** 40 30 20 10 0 controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos Figura 14 – Total de substituições realizadas e de substituições corretas (acertos) no desempenho do Teste de Código B considerando os dados globais (A e C) e por categoria de idades (B e D) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. 4.1.7.7. Teste de substituição de símbolos para dígitos As características deste teste são similares as dos Códigos B, sendo avaliadas as mesmas funções cognitivas. Aqui as respostas dos sujeitos também 124 RESULTADOS foram analisadas segundo a média de substituições realizadas e as substituições efetuadas corretamente. Semelhante ao teste de Códigos B, a média de substituições alcançadas no grupo TDAH foi significativamente menor (t = 2,384, p < 0,05) comparado ao grupo controle (Fig. 15A). A média do número de respostas substituídas corretamente também foi estatisticamente inferior no grupo TDAH em comparação ao controle (t = 2,437, p < 0,05) (Fig. 15C). B A Símbolo-dígito Total (7 a 11 anos) 50 40 * 30 20 10 0 controle TDAH Média de desempenho ± e.p.m. Média de desempenho ± e.p.m. Símbolo-dígito Total 50 40 ** 30 20 10 0 controle TDAH Grupos Grupos controle TDAH Grupos D C Símbolo-dígito Acertos (7 - 11 anos) Símbolo-dígito Acertos Símbolo-Dígito Acertos (12 a 14 anos) 50 40 * 30 20 10 0 controle TDAH Grupos Média de acertos ± e.p.m. Média de acertos ± e.p.m. Símbolo-dígito Total (12 a 14 anos) 50 40 ** 30 20 10 0 controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos Figura 15 – Total de substituições realizadas e de substituições corretas (acertos) no desempenho do Teste de substituição de símbolos por dígitos considerando os dados globais (A e C) e por categoria de idades (B e D) do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 e ** p < 0,01 comparado ao grupo controle. 125 RESULTADOS Novamente, estes dados foram mais evidentes nas crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH sendo que tanto a média de substituições realizadas (t = 3,142, p < 0,01) quanto às efetuadas corretamente (t = 3,244, p < 0,01) foi estatisticamente inferior comparado às crianças do grupo controle (Figs. 15B e D). Quanto aos adolescentes (12 a 14 anos), embora o número de substituições realizadas e as efetuadas corretamente tenham sido inferiores ao controle adolescente, não houve diferenças estatisticamente significantes entre eles (Fig. 15B e D). Estes resultados também demonstram que os sujeitos com o TDAH, sobretudo as crianças, apresentam se comprometidos quanto à habilidade vísuomotora, uma vez que o desempenho total foi menor nestes sujeitos, e também quanto à atenção seletiva e sustentada, uma vez que houve menos substituições realizadas corretamente no teste. 4.1.7.8. TAVIS 3 R O TAVIS 3 R utiliza como medidas para avaliar o desempenho do sujeito nas tarefas: Tempo Médio de Reação (TR), Erros por Omissão (EO), e Erros por Ação (EA). O TR do grupo TDAH nas tarefas 2 e 3 foi significativamente maior (t = 2,209, p < 0,05) e (t = 3,574, p < 0,01), respectivamente, quando comparados ao grupo controle (Fig. 16B e C). As crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH apresentaram TR significativamente maior nas tarefas 1 (t = 2,942, p < 0,01), 2 (t = 2,921, p < 0,01) e 3 (t = 4,188, p < 0,001) em relação às crianças do grupo controle (Fig. 16A, B e C). 126 RESULTADOS Média (segundos) ± e.p.m. A TR1 (7 a 11 anos) TR1 ** 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 controle TDAH Grupos Média (segundos) ± e.p.m. B TR2 controle TDAH controle TDAH Grupos Grupos TR2 (7 a 11 anos) TR2 (12 a 14 anos) * 0.7 ** 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 controle TDAH Grupos C Média (segundos) ± e.p.m. TR1 (12 a 14 anos) TR3 controle controle TDAH Grupos TR3 (7 a 11 anos) TR3 (12 a 14 anos) ** 0.7 TDAH Grupos *** 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos Figura 16 – Tempos Médio de Reação (TR) nas 3 versões (TR1 = A, TR2 = B e TR3 = C) dos testes de atenção visuo-espacial (TAVIS) considerando os dados globais e por categoria de idades do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 ;** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. 127 RESULTADOS Entretanto, não foram observadas diferenças no TR nas tarefas 1, 2 e 3, entre os adolescentes (12 a 14 anos) dos grupos TDAH e controle (Fig. 16A, B e C). Estes resultados sugerem que houve prejuízo na velocidade de processamento da informação no grupo TDAH nas três tarefas examinadas, especialmente nas crianças de 7 a 11 anos de idade. A média de EO foi significativamente maior nas tarefas 1 (t = 2,537, p < 0,01) e 2 (t = 1,962, p < 0,05) no grupo TDAH comparado ao controle (Fig. 17A e B). As crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH apresentaram significativamente maior número de EO apenas na tarefa 1 (t = 2,781, p < 0,01) não sendo significante para a tarefa 2 ainda que tenha havido uma média de erros maior comparado às crianças do grupo controle (Fig. 17 A e B). O número de EO dos adolescentes (12 a 14 anos) do grupo TDAH não foi significativamente diferente dos adolescentes do grupo controle (Fig. 17) As médias de EA no grupo TDAH não foram significativamente diferentes do grupo controle (Fig. 18). Foram encontradas diferenças estatisticamente significantes apenas na realização da tarefa 3 (t= 2,281; p < 0,05) na comparação do desempenho das crianças (7 a 11 anos) com TDAH e controles (Fig. 18 C). Os resultados destes testes sugerem que as crianças e adolescentes com TDAH apresentam comprometimentos na atenção visuo-espacial, mais evidente nas crianças (7 a 11 anos) em tarefas que requereram a seleção (tarefa 1), alternância (tarefa 2) e sustentação (tarefa 3) de estímulos. A impulsividade foi mais bem identificada nas crianças com TDAH em tarefas que exigiram tempo mais prolongado (tarefa 3). O perfil de comprometimento nas crianças com TDAH foi de TR prolongado nas tarefas 1, 2 e 3; escores elevados de EO na tarefa 1 e de EA na tarefa 3. Por outro lado, o TAVIS não foi suficientemente sensível na identificação de déficits atencionais nos adolescentes com TDAH. 128 RESULTADOS Média de erros ± e.p.m. A EO1 (7 a 11 anos) EO1 EO1 (12 a 14 anos) 6 5 4 ** 3 ** 2 1 0 controle TDAH Grupos Média de erros ± e.p.m. B EO2 controle TDAH controle TDAH Grupos Grupos EO2 (7 a 11 anos) EO2 (12 a 14 anos) 6 5 4 * 3 2 1 0 controle TDAH Grupos Média de erros ± e.p.m. C EO3 controle TDAH controle TDAH Grupos Grupos EO3 (7 a 11 anos) EO3 (12 a 14 anos) 6 5 4 3 2 1 0 controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos controle TDAH Grupos Figura 17 – Erros de Omissão (EO) nas 3 versões (EO1 = A, EO2 = B e EO3 = C) dos testes de atenção visuo-espacial (TAVIS) considerando os dados globais e por categoria de idades do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 e ** p < 0,01 comparado ao grupo controle. 129 RESULTADOS A EA1 (7 a 11 anos) Média de erros ± e.p.m. EA1 EA1 (12 a 14 anos) 15 10 5 0 controle TDAH Grupos B Média de erros ± e.p.m. EA2 TDAH controle TDAH Grupos Grupos EA2 (7 a 11 anos) EA2 (12 a 14 anos) 15 10 5 0 controle TDAH Grupos C EA3 Média de erros ± e.p.m. controle controle TDAH controle TDAH Grupos Grupos EA3 (7 a 11 anos) EA3 (12 a 14 anos) 15 10 * 5 0 controle TDAH Grupos controle TDAH controle Grupos TDAH Grupos Figura 18 – Erros por Ação (EA) nas 3 versões (EA1 = A, EA2 = B e EA3 = C) dos testes de atenção visuo-espacial (TAVIS) considerando os dados globais e por categoria de idades do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 comparado ao grupo controle. 130 RESULTADOS Por outro lado, estes dados também podem sugerir que o teste computadorizado não foi suficientemente sensível para detectar as deficiências atencionais que foram evidentes em outros testes cognitivos que avaliam aspectos semelhantes dos processos atencionais como será visto a seguir para o teste d2. 4.1.7.9. Teste d2 O teste d2 tem sido caracterizado como um teste de atenção concentrada visual (Brickenkamp R., 1990) e de sustentação da atenção (Spreen & Strauss, 1998) e oferece vários resultados de desempenhos quantitativos independentes entre si. Os resultados foram representados pela média do número total de sinais examinados, sem se levar em conta se as marcações foram corretas ou erradas (média de desempenho), pela média de sinais examinados corretamente (total de acertos), pela média da porcentagem de erros e pela média da Amplitude de Oscilação. A média de dois tipos de erros foi computada: erros de omissão (letras ds com duas marcas, esquecidas de marcar) e erros de adição (letras ds ou ps marcadas incorretamente). Além disto, tentou-se caracterizar a distribuição dos erros ao longo da execução da tarefa pela média dos erros nas primeiras 4 linhas, da 5 a 10 linha e nas últimas 4 linhas. Na comparação do grupo TDAH global e controle em relação às médias de desempenho, foram encontrados resultados semelhantes nos dois grupos (Fig. 19A). Resultados equivalentes foram encontrados para as crianças (7 a 11 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) do grupo TDAH comparados às crianças e adolescentes do grupo controle, respectivamente (Fig. 19A). Isto indica que o desempenho quantitativo (rapidez) dos indivíduos dos grupos TDAH e controles foram equivalentes. 131 RESULTADOS Média de desempenho ± e.p.m. A Desempenho Total Desempenho Total (7 a 11 anos) Desempenho Total (12 a 14 anos) 400 300 200 100 0 CON TDAH CON TDAH Grupos Grupos CON TDAH Grupos B Média de acertos ± e.p.m. Total de Acertos Total de Acertos (12 a 14 anos) 400 * 300 200 100 0 CON TDAH Grupos C Amplitude Média da amplitude ± e.p.m. Total de Acertos (7 a 11 anos) CON TDAH Grupos CON TDAH Grupos Amplitude (7 a 11 anos) Amplitude (12 a 14 anos) CON CON 20 10 0 CON TDAH Grupos TDAH Grupos TDAH Grupos Figura 19 – Desempenho total (A), Total de acertos (B) e Amplitude (C) no teste D2 considerando os dados globais e por categoria de idades do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 comparado ao grupo controle. A média de sinais examinados corretamente (total de acertos) no grupo TDAH mostrou-se significativamente inferior ao grupo controle (t = 1,970, p = 0,05) 132 RESULTADOS (Fig. 19B). Resultados semelhantes foram observados na comparação deste parâmetro por categorias de idade, entretanto não de modo estatisticamente significante (Fig. 19B). Estes resultados sugerem que a atenção concentrada dos indivíduos do grupo TDAH pode estar comprometida. A média da amplitude de oscilação no grupo TDAH foi maior comparada ao controle, especialmente nas crianças (7 a 11 anos) (Fig. 19C), porém esta diferença não foi estatisticamente significante na análise global e tampouco nas análises por categorias de idade (Fig. 19C). Estes resultados podem sugerir que a despeito dos ligeiros comprometimentos observados nos sujeitos com TDAH, os mesmos ainda conseguem manter um ritmo de trabalho uniforme na realização desta tarefa. No entanto, a acuidade na tarefa mostrou-se substancialmente prejudicada, visto que a média de erros cometidos pelo grupo TDAH global foi significativamente maior que no grupo controle (t = 3,630, p < 0,001) (Fig. 20A). As médias de erros também foram signficativamente maiores nas crianças (7 a 11 anos) (t = 2,542, p < 0,01) e nos adolescentes (12 a 14 anos) (t = 2,829, p < 0,01) comparados às crianças e adolescentes do grupo controle, respectivamente (Fig. 20A). Estes resultados sugerem que os indivíduos do grupo TDAH apresentaram prejuízos da precisão na execução das tarefas propostas. Neste teste foi observado que os erros de omissão principalmente (t = 2,938, p < 0,01) mas também os erros de adição (t = 2,060, p < 0,05) foram significativamente maiores no grupo TDAH comparado ao grupo controle (Fig. 20B e C). Estes resultados também foram observados nas comparações por categorias de idade, especialmente para os erros de omissão, sendo os mesmos maiores tanto em crianças (t = 2,081, p < 0,05) quanto em adolescentes (t = 2,113, p < 0,05) do grupo TDAH, enquanto que os erros de adição não se apresentaram significativamente diferentes comparados aos controles (Fig. 20C). 133 RESULTADOS A Total de Erros Total de Erros (12 a 14 anos) ** *** 40 Média de erros ± e.p.m. Total de Erros (7 a 11 anos) ** 30 20 10 0 CON TDAH CON TDAH TDAH Grupos Grupos Grupos CON B Erros de Omissão Erros de Omissão (12 a 14 anos) * ** 25 Média de erros ± e.p.m. Erros de Omissão (7 a 11 anos) * 20 15 10 5 0 CON TDAH TDAH Grupos Grupos C Erros de Adição Média de erros ± e.p.m. CON Erros de Adição (7 a 11 anos) CON TDAH Grupos Erros de Adição (12 a 14 anos) 25 20 * 15 10 5 0 CON TDAH Grupos CON TDAH Grupos CON TDAH Grupos Figura 20 – Total de erros (A), Erros de omissão (B) e Erros de adição (C) no teste D2 considerando os dados globais e por categoria de idades do grupo controle e do grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05; ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado ao grupo controle. 134 RESULTADOS Estes resultados sugerem que além do comprometimento da precisão na execução da tarefa no grupo TDAH, os erros cometidos são mais por desatenção (erros de omissão) que por impulsividade (erros de adição). Os erros ainda podem ser analisados de acordo com a sua distribuição durante a execução do teste em três segmentos (Tab. 19). Observe-se que a quantidade de erros é maior no segundo seguimento (linhas 5 a 10) comparado ao segmento inicial (linhas 1 a 4) e ao segmento final (linhas 11 a 14) em ambos os grupos, possivelmente por haver 2 linhas a mais neste segmento. No entanto, observa-se que o grupo TDAH apresenta consistentemente maior número de erros em todos os três segmentos de linhas comparado ao grupo controle. Este padrão de erros foi também observado nas análises por categorias de idade (Tab. 19). Tabela 19 – Comparação dos erros cometidos em três segmentos de linhas do teste d2 entre os grupos de crianças e adolescentes controle e com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em uma análise global e por categorias de idade. Linhas do teste d2 Média de erros (± e.p.m.) Média de erros (± e.p.m.) Valor de t-independente p Controle (n = 21) TDAH (n = 45) 1a4 3,48 ± 0,77 8,78 ± 1,02 3,341 0,001 5 a 10 6,10 ± 0,97 13,20 ± 1,49 3,100 0,003 11 a 14 2,9 ± 0,69 7,84 ± 1,07 3,002 0,004 1a4 Controle criança (7 a 11 anos) (n = 11) 3,73 ± 1,13 TDAH criança (7 a 11 anos) (n = 24) 8,71 ± 1,52 2,086 0,045 5 a 10 6,18 ± 1,70 15,42 ± 2,49 2,384 0,023 11 a 14 3,18 ± 0,86 8,92 ± 1,67 2,248 0,032 1a4 Controle adolescente (12 a 14 anos) (n = 10) 3,20 ± 1,08 TDAH adolescente (12 a 14 anos) (n = 21) 8,86 ± 1,36 2,664 0,012 5 a 10 6,00 ± 0,89 10,67 ± 1,34 2,278 0,030 11 a 14 2,60 ± 1,13 6,62 ± 1,28 1,995 0,050 135 RESULTADOS 4.1.7.10. Teste de Recordação Livre de Palavras O teste de recordação livre de palavras foi utilizado para avaliação da memória de curto e longo prazo. Foi observado o desempenho na curva de posição serial de 15 palavras, em blocos de 3 seqüências de palavras, de pacientes com TDAH e nos controles, por idades globais e por categorias de idades Foram feitas comparações inter-grupos (controle e TDAH), quanto à média de palavras recordadas nas 6 listas pares (com relação semântica) e 6 ímpares (sem relação semântica), quanto à média de palavras introduzidas, repetidas e perseveradas e quanto à média do total de palavras evocadas. Além disto, foram feitas comparações inter- e intra-grupos quanto aos efeitos de recência e primazia em lista de palavras com e sem relação semântica. Para estas análises foram utilizados ANOVAs de 3 vias [2 grupos (controle e TDAH) x 2 tipos de listas (par e impar) x 5 blocos de 3 palavras] para medidas repetidas seguidas do teste de comparações múltiplas de Fisher (t-protegido). Dada a complexidade das análises efetuadas, os resultados desta seção serão apresentados em partes. Iniciaremos com os resultados gerais das análises de variâncias e seguiremos para o detalhamento dos componentes destas análises. Na análise global, isto é, comparando todas as crianças e adolescentes dos grupos controle e TDAH, a ANOVA de 3 vias detectou diferenças na análise intergrupos, ou seja, entre os grupos controle e TDAH [F(1,97) = 11,52, p = 0,001], entre as listas de palavras pares (com relação semântica) e impares (sem relação semântica) [F(1,97) = 163,10, p < 0,0001], e, na análise intra-grupo da quantidade de recordação das palavras dependendo das posições em que elas se encontram na seqüência de apresentação das mesmas [F(4,388 = 4779,28, p < 0,0001]. Ainda foram verificadas a existência de interação significativa entre os fatores grupos e seqüenciamento das palavras [F(4,388 = 40,18, p < 0,0001] e ainda entre os tipos de listas e o seqüenciamento das palavras [F(4,388) = 55,74, p < 0,0001]. 136 RESULTADOS Nas análises por categorias de idade, as ANOVAs de 3 vias também detectaram diferenças entre as crianças (7 a 11 anos) [F(1,67) = 24,73, p < 0,0001] mas não entre os adolescentes (12 a 14 anos) dos grupos controle e TDAH. Houve, entretanto, diferenças significativas entre as listas de palavras pares (com relação semântica) e impares (sem relação semântica) tanto para as crianças [F(1,67) = 34,32, p < 0,0001] quanto para os adolescentes [F(1,28) = 27,68, p < 0,0001], e ainda também foram verificadas diferenças quanto ao número de palavras recordadas nos blocos de 3 seqüências de palavras tanto para as crianças [F(4,268) = 625,68, p < 0,0001] quanto para os adolescentes [F(4,112) = 143,41, p < 0,0001]. A interação entre os grupos e seqüenciamento de palavras foi significativa apenas para as crianças [F(2,268) = 7,79, p < 0,0001], no entanto a interação entre os tipos de listas e o seqüenciamento de palavras foram significativas tanto para as crianças [F(2,268) = 18,99, p < 0,0001] quanto para os adolescentes [F(4,112) = 56,98, p < 0,0001]. A análise de comparações múltiplas de Fisher demonstrou que nas listas pares o grupo TDAH apresentou significativamente menor recordação das três primeiras palavras (p < 0,01), e das três palavras no meio e no final da seqüência (p < 0,05) (Fig. 21A). As crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH apresentaram significativamente menor número de palavras evocadas corretamente no primeiro (p < 0,01) e no último (p < 0,05) bloco de três palavras comparado às crianças do grupo controle (Fig. 21B), enquanto que os adolescentes (12 a 14 anos) do grupo TDAH apresentaram significativamente (p < 0,01) menor número de recuperação de palavras nas posições de 10 a 12 da seqüência de 15 palavras (Fig. 21B) 137 RESULTADOS B 15 * controle TDAH 10 15 crianças Listas pares TDAH 10 5 ** 0 * 1-3 4-6 7-9 10-12 13-15 Blocos de 3 seqüências de palavras adolescentes Listas pares 0 1-3 * controle ** 5 4-6 7-9 10-12 Blocos de 3 seqüências de palavras 13-15 Média de palavras ± e.p.m. Média de palavras ± e.p.m. Listas pares Média de palavras ± e.p.m. A 15 controle TDAH 10 ** 5 0 1-3 4-6 7-9 10-12 13-15 Blocos de 3 seqüências de palavras Figura 21 – Número de palavras evocadas corretamente nas listas pares do Teste de Lista de Palavras considerando os dados globais (A) e por categoria de idades (B) pelo grupo controle e pelo grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 e ** p < 0,01 comparado ao grupo controle. Nas listas ímpares o grupo TDAH também apresentou menor evocação correta das três primeiras palavras (p < 0,01) comparados ao grupo controle (Fig. 22A). As crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH apresentaram menor número de palavras evocadas corretamente no primeiro (p < 0,01) e último (p < 0,05) blocos de três palavras (Fig. 22B) comparadas às crianças do grupo controle, enquanto que não houve diferenças estatisticamente significantes nas comparações entre os adolescentes (12 a 14 anos) do grupo TDAH e controle (Fig. 22B). 138 RESULTADOS B Média de palavras ± e.p.m. A 15 controle TDAH 10 controle * TDAH 10 5 ** 0 1-3 ** 5 4-6 7-9 10-12 13-15 Blocos de 3 seqüências de palavras 0 1-3 4-6 7-9 10-12 Blocos de 3 seqüências de palavras adolescentes Listas impares 13-15 Média de palavras ± e.p.m. Média de palavras ± e.p.m. Listas impares 15 crianças Listas impares 15 controle TDAH 10 5 0 1-3 4-6 7-9 10-12 13-15 Blocos de 3 seqüências de palavras Figura 22 – Número de palavras evocadas corretamente nas listas ímpares do Teste de Lista de Palavras considerando os dados globais (A) e por categoria de idades (B) pelo grupo controle e pelo grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 e ** p < 0,01 comparado ao grupo controle. Em ambas as listas pares e impares de palavras os grupos controle (Fig. 23 à esquerda) e TDAH (Fig. 23 à direita) apresentaram médias mais elevadas de evocações corretas de palavras nas posições iniciais (1, 2 e 3) (p < 0,01) comparadas às posições intermediárias de 4 a 6 e 10 a 12 nas listas pares e de 4 a 12 nas listas impares, e principalmente nas finais (13, 14 e 15) sendo que as três últimas palavras foram as mais evocadas comparadas a todas as outras posições (p < 0,01). Estes resultados foram observados tanto em uma análise global (Fig. 23A) quanto nas análises por categorias de idades (Fig. 23B e C). 139 RESULTADOS A 15 Lista de palavras a controle par a controle impar 10 b,c b b 5 b ** b 0 1-3 4-6 7-9 10-12 Média de palavras ± e.p.m. Média de palavras ± e.p.m. Lista de palavras 15 TDAH par ** b b,c 5 b b ** 1-3 4-6 a a controle impar 10 b b 5 ** a b * a 0 1-3 4-6 7-9 10-12 13-15 crianças Lista de palavras controle par b,c 7-9 Blocos de 3 seqüências de palavras crianças Lista de palavras b b 0 13-15 Média de palavras ± e.p.m. Média de palavras ± e.p.m. 15 a 10 Blocos de 3 seqüências de palavras B a TDAH impar 10-12 15 TDAH par a a TDAH impar 10 b,c 5 ** b,c b ** c b 0 1-3 13-15 4-6 7-9 10-12 13-15 Blocos de 3 seqüências de palavras Blocos de 3 seqüências de palavras C adolescentes Lista de palavras controle par 15 a controle impar ** 10 a b b,c b b,c 5 ** 0 1-3 4-6 7-9 10-12 13-15 Média de palavras ± e.p.m. Média de palavras ± e.p.m. adolescentes Lista de palavras TDAH par 15 a TDAH impar ** b,c 10 b b 5 a b,c c ** b,c ** 0 1-3 Blocos de 3 seqüências de palavras 4-6 7-9 10-12 13-15 Blocos de 3 seqüências de palavras Figura 23 – Número de palavras evocadas corretamente nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras considerando os dados globais (A) e por categoria de idades (B e C) pelo grupo controle (esquerda) e pelo grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) (direita). ** p < 0,01 comparado ao controle ou TDAH par do mesmo bloco, a p < 0,01 comparado a todos os demais blocos, b p < 0,01 comparados aos blocos 4-6 e 10-12, e, c p < 0,01 comparado ao bloco 7-9. 140 RESULTADOS Estes resultados mostraram que o perfil de retenção e evocação das palavras no grupo TDAH foi bastante semelhante ao grupo controle tanto nas listas pares (com relação semântica) quanto nas impares (sem relação semântica), observando-se claramente os fenômenos de primazia e recência, ou seja, a melhor recordação das palavras do início e do final de uma seqüência seriada de 15 palavras, respectivamente. Adicionalmente, pode-se observar que nos dois grupos o efeito recência foi significativamente maior que o de primazia. Estes dados aliados aos observados na análise entre grupos demonstram que apesar de terem preservado o perfil de retenção e evocação das palavras tanto nas listas pares quanto nas impares, os sujeitos com TDAH, especialmente as crianças, apresentaram um comprometimento da evocação das palavras iniciais e finais, correspondendo aos fenômenos de primazia e recência, comparados ao grupo controle (Figs. 21 e 22). Destaque-se ainda que há diferenças entre as evocações corretas de palavras das listas pares e impares, sendo as palavras de posição central (7 a 9) significativamente mais evocadas (p < 0,01) nas listas pares comparadas às das listas ímpares em ambos os grupos controle (Fig. 23 à esquerda) quanto TDAH (Fig. 23 à direita), tanto na análise global (Fig. 23A) quanto nas análises por categorias de idade (Fig. 23B e C). Este fenômeno se deve à melhor retenção e evocação de palavras que estão relacionadas semanticamente como é o caso das palavras nas posições 7, 8 e 9 das listas pares, enquanto que nas listas impares elas não guardam nenhuma relação semântica. Estes dados demonstram que ambos os grupos, controle e TDAH se equivalem quanto à facilitação da retenção e evocação das palavras quando são relacionadas semanticamente. Entretanto, vale lembrar que o grupo TDAH apresentou menor quantidade de palavras evocadas nestas posições 7, 8 e 9 comparado ao grupo controle nas listas pares (Fig. 21), sugerindo que o grupo TDAH apresenta algum comprometimento na retenção e evocação das palavras mesmo quando estão relacionadas semanticamente quando comparados ao indivíduos do grupo controle. 141 RESULTADOS Entretanto, deve-se observar que há outras diferenças na quantidade de palavras evocadas em outras posições, sobretudo no grupo TDAH e também dependendo da faixa etária (Fig. 23). As três palavras iniciais foram significativamente (p < 0,01) mais evocadas nas listas impares pelos adolescentes do grupo controle (Fig. 23C à esquerda), pelas crianças e adolescentes do grupo TDAH (Fig. 23B e C à direita), o que também se evidenciou na análise global (Fig. 23A) comparadas à quantidade de palavras iniciais evocadas nas listas pares. As três penúltimas palavras (10, 11 e 12) das listas ímpares foram significativamente (p < 0,01) menos evocadas que as três penúltimas palavras das listas pares pelos adolescentes do grupo TDAH (Fig. 23C à direita). Estes dados sugerem que o fenômeno de primazia nas listas ímpares foi maior que o observado para as listas pares, principalmente para o grupo TDAH. O total de acertos foi, de um modo geral, menor no grupo TDAH (Fig. 24), sendo estatisticamente significante para as crianças (7 a 11 anos) do grupo TDAH (t = 2,225, p < 0,05) comparado às crianças do grupo controle (Fig. 24B). A C B crianças Total de Acertos 40 30 20 10 0 controle TDAH controle Grupos TDAH listas impares listas pares listas impares adolescentes Total de Acertos 50 40 * 30 20 10 0 controle TDAH controle Grupos TDAH listas impares listas pares Média de acertos ± e.p.m. listas pares 50 Média de acertos ± e.p.m. Média de acertos ± e.p.m. Total de Acertos 50 40 30 20 10 0 controle TDAH controle TDAH Grupos Figura 24 – Total de acertos nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras considerando os dados globais (A) e por categoria de idades (crianças de 7 a 11 anos B, e adolescentes de 12 a 14 anos C) pelo grupo controle e pelo grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05 comparado ao controle. 142 RESULTADOS Apesar da menor quantidade de palavras evocadas corretamente pelo grupo TDAH, a quantidade de erros por intrusão ou introdução, repetição ou perseveração de palavras tanto nas listas pares quanto nas listas ímpares não foi significativamente diferente do grupo controle como está ilustrado na figura 25, tanto na análise global quanto nas análises por categorias de idade. listas impares listas pares Tipos de erros controle TDAH 3 2 1 0 controle TDAH 3 2 1 repetições perseverações intrusões crianças Tipos de erros 4 controle TDAH 3 repetições perseverações crianças Tipos de erros 2 1 0 Média de erros ± e.p.m. B Média de erros ± e.p.m. 4 0 intrusões 4 controle TDAH 3 2 1 0 intrusões C 4 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. 4 Tipos de erros repetições perseverações adolescentes Tipos de erros repetições perseverações adolescentes Tipos de erros controle TDAH 3 intrusões 2 1 0 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. A 4 controle TDAH 3 2 1 0 intrusões repetições perseverações intrusões repetições perseverações Figura 25 – Tipos de erros (intrusão, repetição e perseveração) cometidos nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras considerando os dados globais (A) e por categoria de idades (crianças de 7 a 11 anos B, e adolescentes de 12 a 14 anos C) pelo grupo controle e pelo grupo com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). 143 RESULTADOS 4.2. PARTE II – AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DO TRATAMENTO COM O METILFENIDATO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES COM DIAGNÓSTICO DE TDAH 4.2.1. Resultados da Avaliação Neuropsicológica Cumpre lembrar que a avaliação neuropsicológica foi realizada no grupo TDAH antes do início do tratamento com o MDF (tempo 0), aos 6 e 12 meses de tratamento. A avaliação neuropsicológica realizada aos 6 meses (TDAH 6 meses) foi aplicada em menor número de indivíduos (n = 48) comparando-se os resultados com os iniciais (antes do tratamento). A redução na amostra ocorreu como conseqüências da baixa freqüência no prazo determinado, de grandes lacunas entre uma e outra testagem, chegando às vezes a intervalos de até 3 semanas, por mudanças de domicílio e por problemas financeiros com transportes intermunicipais. Entretanto, aos 6 meses foram realizadas análises intermediárias comparativas entre o início e 6 meses de tratamento, havendo ainda um número bastante expressivo de indivíduos. Para tanto, utilizamos teste t pareado para comparar os resultados obtidos na avaliação inicial, ou antes do tratamento (zero = 0) e após 6 meses de tratamento. Nesta análise ainda foi possível fazer as análises globais e por categorias de idade (crianças ou adolescentes). Contatos freqüentes com os participantes eram mantidos regularmente pelos auxiliares de pesquisa. Aos 12 meses (TDAH 12 meses) a amostra ficou ainda mais reduzida (n = 22 a 24) pelos mesmos motivos acima mencionados e os resultados finais foram comparados com os iniciais (pré-tratamento) e com 6 meses. Ressalte-se que nos resultados apresentados aos 12 meses foram incluídos somente os indivíduos que participaram de todas as etapas de avaliação no estudo, ou seja, na avaliação inicial (0), 6 e 12 meses. Nesta avaliação foi somente possível realizar as comparações globais, visto que as divisões por categorias de idade não ofereciam um número adequado de indivíduos para as análises estatísticas. Para tanto foram empregadas ANOVAs de 1 via para medidas repetidas seguida do teste de comparações 144 RESULTADOS múltiplas de Tukey ou ANOVAs de 2 ou 3 vias para medidas repetidas seguidas do teste de Fisher’ s LSD. 4.2.1.1. Teste de dígitos (“digit span”) ordem direta e inversa 4.2.1.1.1. Avaliação inicial e com 6 meses Na comparação do desempenho das crianças e adolescentes (análise global) TDAH antes e após 6 meses de tratamento com MFD, a pontuação média atingida pelo grupo TDAH tratado foi significativamente maior nas seqüências direta e inversa do teste de dígitos comparados ao grupo não tratado (tabela 20). Tabela 20 - Análise comparativa do desempenho do teste de dígitos em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). Teste de Dígitos Grupo TDAH Média ± e.p.m. Variável N Antes do tratamento N Após 6 meses t P Idade global 48 4,42 ± 0,13 48 4,92 ± 0,16 3,75 < 0,001 7 a 11 anos 37 4,27 ± 0,13 37 4,73 ± 0,18 3,00 = 0,01 11 a 14 anos 11 4,91 ± 0,31 11 5,55 ± 1,13 2,28 = 0,05 Idade global 48 3,23 ± 0,12 48 3,56 ± 0,12 2,18 = 0,05 7 a 11 anos 37 3,14 ± 0,13 37 3,41 ± 0,13 - ns 11 a 14 anos 11 3,55 ± 0,31 11 4,09 ± 0,21 - ns Dígitos diretos Dígitos inversos Comparando o desempenho entre os grupos por faixa etária, tanto as crianças (7 a 11 anos) quanto os adolescentes (12 a 14 anos), apresentaram um aumento estatisticamente significantes nos escores obtidos ao final de 6 meses de 145 RESULTADOS tratamento comparado ao desempenho inicial. Todavia, o desempenho da ordem inversa no teste de dígitos não foi diferente na comparação entre o desempenho do teste antes e 6 meses após tratamento com o MFD. Estes resultados sugerem que o tratamento por 6 meses com MFD melhorou o desempenho dos indivíduos com TDAH no teste de dígitos particularmente na seqüência direta, evidenciado pela elevação deste parâmetros no teste. 4.2.1.1.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses O efeito do MFD administrado por 12 meses sobre o desempenho no teste de dígitos está representado na figura 26. Ordem Inversa Média do escore ± e.p.m. Ordem Direta *** 6 ** 5 4 3 2 1 0 0 6 MFD (meses) 12 0 6 12 MFD (meses) Figura 26 – Desempenho do teste de dígitos (Digit Span) na ordem direta (esquerda) e inversa (direita) em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD) . ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial (0). O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. 146 RESULTADOS Nota-se que o MFD aumentou a pontuação na seqüência direta (Fig. 26, à esquerda) aos 6 e 12 meses comparado ao pré-tratamento (tempo 0). A ANOVA de uma via para medidas repetidas detectou diferenças estatisticamente significante [F(2,44) = 8,35; p = 0,0008] na comparação entre as avaliações. O teste de Fisher mostrou que o tratamento com MFD aos 12 meses aumentou significativamente (p < 0,001) a pontuação obtida na seqüência direta comparado aos resultados da avaliação inicial. Na seqüência inversa também foram detectadas diferenças estatisticamente significantes [F(2,44) = 4,873; p = 0,01] entre os diferentes tempos de tratamento e o pré-tratamento (Fig. 26, à direita). O teste de Fisher identificou que o tratamento com MFD aos 12 meses aumentou significativamente a pontuação obtida na seqüência inversa comparado à avaliação inicial (p < 0,01). Observe-se que o desempenho tanto da ordem direta quanto inversa deste teste aproximou-se do desempenho apresentado pelo grupo controle da primeira parte deste estudo. 4.2.1.2. Repetição de Pseudopalavras para crianças – BCPR 4.2.1.2.1. Avaliação inicial e com 6 meses Os resultados do efeito do MFD após 6 meses de tratamento no teste de repetição de pseudopalavras estão mostrados na tabela 21. Na análise global o grupo TDAH tratado por 6 meses apresentou aumento significativo no número total de palavras pronunciadas corretamente comparado ao início do tratamento. Na comparação por categorias de idade também foi encontrado maior número de palavras pronunciadas corretamente nas crianças com TDAH (7 a 11 anos) ou adolescentes (12 a 14 anos) comparados ao pré- tratamento (Tab. 21). 147 RESULTADOS Tabela 21 - Análise comparativa do desempenho da repetição de pseudopalavras (BCPR) das crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). BCPR Grupo TDAH Média ± e.p.m. Variável N Antes do tratamento N Após 6 meses t P 47 47 47 47 46 47 37,30 ± 0,34 9,85 ± 0,07 9,43 ± 0,15 9,04 ± 0,14 8,98 ± 0,20 2,70 ± 0,34 47 47 47 47 46 47 39,00 ± 0,22 9,94 ± 0,04 9,85 ± 0,06 9,64 ± 0,08 9,57 ± 0,13 1,00 ± 0,22 5,338 2,523 4,209 3,122 5,338 < 0,001 ns < 0,01 < 0,001 < 0,01 < 0,001 47 47 47 47 47 47 1,47 ± 0,20 0,34 ± 0,10 0,09 ± 0,05 0,21 ± 0,07 0,06 ± 0,04 0,34 ± 0,09 47 47 47 47 47 47 0,60 ± 0,16 0,09 ± 0,04 0,04 ± 0,05 0,13 ± 0,06 0,04 ± 0,03 0,11 ± 0,04 3,715 2,479 2,202 = 0,001 = 0,017 ns ns ns 0,033 37 37 37 37 36 37 37,41 ± 0,35 9,84 ± 0,08 9,54 ± 0,12 9,05 ± 0,14 8,94 ± 0,24 2,59 ± 0,35 37 37 37 37 36 37 39,03 ± 0,22 9,95 ± 0,04 9,86 ± 0,06 9,62 ± 0,10 9,58 ± 0,15 0,97 ± 0,22 4,920 2,317 3,402 2,920 4,920 < 0,001 ns < 0,05 < 0,01 < 0,01 < 0,001 37 37 37 37 37 37 1,49 ± 0,22 0,32 ± 0,12 0,03 ± 0,03 0,16 ± 0,06 0,05 ± 0,04 0,35 ± 0,10 37 37 37 37 37 37 0,62 ± 0,18 0,05 ± 0,04 0,05 ± 0,04 0,08 ± 0,04 0,05 ± 0,04 0,11 ± 0,05 3,661 2,137 2,047 = 0,001 = 0,39 ns ns ns = 0,048 10 10 10 10 10 10 36,90 ± 1,02 9,90 ± 0,10 9,00 ± 0,54 9,00 ± 0,37 9,10 ± 0,35 3,10 ± 1,02 10 10 10 10 10 10 38,90 ± 0,64 9,90 ± 0,10 9,80 ± 0,20 9,70 ± 0,15 9,50 ± 0,27 1,10 ± 0,64 2,206 2,689 2,206 < 0,05 ns ns < 0,05 ns < 0,05 10 10 10 10 10 10 1,40 ± 0,56 0,40 ± 0,16 0,30 ± 0,21 0,40 ± 0,22 0,10 ± 0,10 0,30 ± 0,21 10 10 10 10 10 10 0,50 ± 0,40 0,20 ± 0,13 0,00 ± 0,00 0,30 ± 0,21 0,00 ± 0,00 0,10 ± 0,10 - ns ns ns ns ns ns Idade global Total de palavras 2 sílabas 3 sílabas 4 sílabas 5 sílabas Total de Erros Substituição Exclusão Inserção Transposição Lexicalização Hibridos 7 a 11 anos Total de palavras 2 sílabas 3 sílabas 4 sílabas 5 sílabas Total de Erros Substituição Exclusão Inserção Transposição Lexicalização Hibridos 12 a 14 anos Total de palavras 2 sílabas 3 sílabas 4 sílabas 5 sílabas Total de Erros Substituição Exclusão Inserção Transposição Lexicalização Hibridos t = teste t pareado 148 RESULTADOS Com relação ao efeito do tratamento sobre a repetição de pseudopalavras conforme o número de sílabas existentes, foi observado melhora significativa na repetição de pseudopalavras com 3, 4 e 5 sílabas comparadas ao início do tratamento (Tab. 21). Estes resultados também foram observados nas análises por categorias de idade, onde as crianças com TDAH melhoraram significativamente na repetição de pseudopalavras com 3, 4 e 5 sílabas comparados ao início do tratamento, e nos adolescentes foi significativo para as pseudopalavras com 4 sílabas comparados ao pré-tratamento (Tab. 21). Com relação ao total de erros cometidos durante a repetição de pseudopalavras nos grupos TDAH tratados por 6 meses com o MFD, ocorreram diminuições significativas no número de erros, nos grupos TDAH (idade global), criança e adolescentes comparados ao pré-tratamento (Tab. 21). Como pode ainda ser observado nesta tabela 21, os erros de substituição, exclusão e erros híbridos foram os que apresentaram reduções estatisticamente significantes tanto na avaliação global quanto na categoria de idade de 7 a 11 anos, na avaliação de 6 meses comparado à avaliação inicial (Tab. 21). Os outros tipos de erros apresentaram-se em freqüências muito baixas e não apresentaram mudanças significativas com o tratamento por 6 meses com o MFD. Os adolescentes também não apresentaram modificações significativas dos tipos de erros com o tratamento por 6 meses (Tab. 21). 4.2.1.2.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses A figura 27 representa o total de palavras pronunciadas corretamente e os acertos de acordo com a quantidade de sílabas no desempenho das crianças e adolescentes com TDAH no teste de pseudopalavras. Na ANOVA de 1 via para medidas repetidas foram encontradas diferenças estatisticamente significante nas palavras pronunciadas corretamente [F(2,42) = 22,26; p < 0,0001] na comparação entre as avaliações realizadas durante o período de tratamento com o MFD. O tratamento com MFD por 6 e 12 meses (p < 0,001) 149 RESULTADOS aumentou significativamente a média total de palavras corretamente pronunciadas comparadas ao início do tratamento (Fig. 27A). Note-se que a média ao final de 6 e 12 meses foi bastante similar ao obtido pelo grupo controle na primeira parte deste estudo. A Total de Palavras Média de palavras ± e.p.m. 40 *** *** 6 12 30 20 10 0 0 MFD (meses) B quantidade de sílabas Média de respostas corretas ± e.p.m. 10 ++ * ** 0 6 ++ ** ** ++ ** ** 5 0 0 6 12 2 sílabas 12 3 sílabas 0 6 12 4 sílabas 0 6 12 5 sílabas MTFD (meses) Figura 27 – Total de palavras pronunciadas corretamente (A) e acertos por quantidade de sílabas nas pseudopalavras pronunciadas corretamente (B) no desempenho do teste de pseudopalavras pelas crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD) .* p < 0,05, ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial; ++ p < 0,01 comparado às palavras de 2 sílabas. O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. 150 RESULTADOS Com relação ao efeito do MFD sob a repetição de pseudopalavras conforme o número de sílabas existentes, foi observado na ANOVA de 2 vias melhora significativa na repetição de pseudopalavras com 3 ,4 e 5 sílabas [F(2,63) = 10,736, p < 0,0001] de acordo com o tempo de tratamento (Fig. 27B). O teste de Fisher identificou que com 6 meses as médias de pseudopalavras de 3 (p < 0,05), 4 (p < 0,01) e 5 sílabas (p < 0,01) pronunciadas corretamente aumentaram significativamente comparadas ao início do tratamento. Com 12 meses de tratamento também foi observado melhora na repetição de pseudopalavras com 3 (p < 0,01), 4 (p < 0,01) e 5 sílabas (p < 0,01) em relação ao início do tratamento. Observa-se ainda na figura 27B que antes do tratamento com o MFD o desempenho na repetição das pseudopalavras declina [F(3,6) = 12,07, p < 0,0001] à medida que o número de sílabas aumenta. A quantidade de repetições corretas é menor (p < 0,01) para as palavras de 3 a 5 sílabas comparada à de 2 sílabas. O total de erros e os tipos de erros cometidos no desempenho deste teste estão apresentados na figura 28. Na ANOVA de 1 via foi notado diferenças estatisticamente significantes na comparação das médias de erros cometidos na repetição das pseudopalavras [F(2,42) = 22,26; p < 0,0001] durante o período de uso do MFD (Fig. 26A). A média total de erros cometidos foi significativamente menor aos 6 e 12 meses (p < 0,001) comparados ao início do tratamento (Fig. 28A). Em uma análise comparando-se a média de cada tipo de erro ao longo do tratamento, ou seja, 0, 6 e 12 meses, portanto 3 níveis, e ainda, comparando-se entre os tipos de erros cometidos, substituição, exclusão, inserção, transposição, lexicalização e erros híbridos, portanto, 6 níveis, por uma ANOVA de 2 vias para medidas repetidas seguida do testes de comparações múltiplas de Fisher (LSD), observou-se que houve diferenças estatisticamente significantes entre os períodos de avaliação do tratamento com MFD [F(2,63) = 8,20, p = 0,0007] e entre os tipos de erros [F(5,315) = 22,81; p < 0,0001] (Fig. 28B). 151 RESULTADOS A Média de erros ± e.p.m. Total de Erros 4 3 *** 2 *** 1 0 0 6 12 MFD (meses) B Média de erros ± e.p.m. tipos de erros 2 ** 1 ** ++ ++ ++ ++ 0 0 6 12 0 substituição 6 12 0 exclusão * ++ * 6 12 0 inserção 6 12 0 6 12 0 transposição lexicalização 6 12 híbrido MFD (meses) Figura 28 – Total de erros (A) e tipos de erros (B) cometidos no desempenho do teste de pseudopalavras pelas crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). * p < 0,05, ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial; ++ p < 0,01 comparado aos outros tipos de erros. O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. 152 RESULTADOS Na análise subseqüente foi observado que houve uma redução dos erros de substituição (p < 0,01) aos 6 e 12 meses comparado à avaliação inicial (Fig. 28B). Houve redução dos erros de exclusão e os erros híbridos, sendo estatisticamente significante (p < 0,05) na comparação destes erros obtidos após 12 meses de tratamento comparado ao início do tratamento (Fig. 28B). Também foi verificado que os erros de substituição foi o tipo de erro mais freqüente, sendo que a média de todos os demais tipos de erros foi significativamente menor (p < 0,01) comparado ao mesmo na avaliação inicial (Fig. 28B). 4.2.1.3. Blocos de Corsi ordem direta e inversa 4.2.1.3.1. Avaliação inicial e com 6 meses Os efeitos do MFD administrado por 6 meses sobre o desempenho no teste de Blocos de Corsi está representado na tabela 22. Tabela 22 - Análise comparativa do desempenho do teste de Blocos de Corsi em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). Grupo TDAH Média ± e.p.m. Variável N Antes do tratamento N Após 6 meses t p Idade global 48 4,31 ± 0,16 48 4,56 ± 0,12 1,901 < 0,05 7 a 11 anos 37 4,11 ± 0,14 37 4,43 ± 0,12 2,157 < 0,05 12 a 14 anos 11 5,00 ± 0,43 11 5,00 ± 0,30 - ns Idade global 48 4,08 ± 0,18 48 4,54 ± 0,14 2,767 < 0,01 7 a 11 anos 37 3,73 ± 0,18 37 4,27 ± 0,11 2,757 < 0,01 12 a 14 anos 11 5,27 ± 0,30 11 5,45 ± 0,39 - ns B. Corsi direto B. Corsi inverso 153 RESULTADOS A média de pontuação atingida pelo grupo TDAH tratado por 6 meses com o MFD foi significativamente maior nas seqüências direta e inversa dos Blocos de Corsi, especialmente na análise global e na categoria de idade de 7 a 11 anos, comparado à avaliação antes do tratamento. A pontuação obtida pelas crianças do grupo TDAH ao final de 6 meses de tratamento foi significativamente maior na seqüência direta e inversa comparado ao desempenho inicial destas mesmas crianças (Tab. 22). O desempenho dos adolescentes não foi significativamente modificado pelo tratamento durante 6 meses com o MFD (Tab. 22). Assim sendo, o tratamento com o metilfenidato parece ter melhorado o desempenho do teste de Blocos de Corsi, sendo mais evidente nas crianças com TDAH. 4.2.1.3.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses A análise do desempenho dos indivíduos com TDAH sob o efeito do tratamento com o MFD durante 6 e 12 meses no teste de Blocos de Corsi pode ser observada na figura 29. Ordem Inversa Média do escore ± e.p.m. Ordem Direta * 6 ++ 5 4 3 2 1 0 0 6 12 MFD (meses) 0 6 12 MFD (meses) Figura 29 – Desempenho do teste de Blocos de Corsi na ordem direta (esquerda) e inversa (direita) em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD) . * p < 0,05 comparado à avaliação inicial (0); ++ p < 0,01 comparado à avaliação de 6 meses. O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. 154 RESULTADOS O MFD produziu aumento na pontuação na seqüência direta ao longo dos 12 meses de tratamento. A ANOVA de uma via para medidas repetidas detectou diferenças estatisticamente significante [F(2,44) = 6,772; p < 0,004] entre as avaliações. O teste de Fisher mostrou que o tratamento com MFD aos 12 meses aumentou significativamente a pontuação obtida na seqüência direta comparado ao tempo 0 (p < 0,05) e aos 6 meses (p < 0,01) (Fig. 29, esquerda). Na seqüência inversa não houve diferenças de desempenho das crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH sob o tratamento com MFD aos 6 e 12 meses comparado ao início do tratamento. Observe-se que neste teste o desempenho, principalmente ao final de 12 meses, aproximou-se do desempenho do grupo controle obtido na primeira parte deste estudo. 4.2.1.4. Teste de Cartões de Wisconsin 4.2.1.4.1. Avaliação inicial e com 6 meses Os resultados do efeito do MFD no teste Wisconsin antes e após 6 meses de tratamento estão mostrados na tabela 23. Nas análises globais foram observados diminuições significativas da média de erros não perseverativos, do total de erros, e aumento na média de categorias atingidas após 6 meses de tratamento com MFD comparados ao início do tratamento (Tab. 23). Na análise por categorias de idade, foi encontrado apenas um aumento significativo nas categorias atingidas no teste de Wisconsin nas crianças (7 a 11 anos) após 6 meses de tratamento comparado ao início do tratamento (Tab. 23). Não houve modificações significativas nos outros parâmetros, e em nenhum dos parâmetros em adolescentes (12 a 14 anos). Deste modo, estes dados sugerem que o tratamento por 6 meses com o MFD parece ter melhorado o desempenho no teste 155 RESULTADOS Wisconsin, diminuindo os erros não perseverativos e os erros totais e aumentando as categorias atingidas. É possível que estas análises tenham sido comprometidas em função da redução final da amostra dos sujeitos avaliados. Tabela 23 - Análise comparativa do desempenho do teste de cartões sortidos de Wisconsin em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). Wisconsin Grupo TDAH Média ± e.p.m. Variável N Antes do tratamento N Após 6 meses t P 15 15 15 15 15 38,47 ± 5,05 25,37± 2,70 10,87 ± 2,27 3,93 ± 0,43 2,33 ± 0,56 15 15 15 15 15 24,00 ± 3,80 18,60 ± 2,12 5,13 ± 2,20 5,40 ± 0,29 1,87 ± 0,43 2,481 2,072 3,214 - < 0,05 < 0,05 ns < 0,01 ns Total de Erros Erros não Perseverativos Erros Perseverativos Categorias Falhas em manter o set 8 8 8 8 8 50,25 ± 6,55 31,38 ± 3,36 15,38 ± 3,34 3,00 ± 0,50 2,00 ± 0,50 8 8 8 8 8 30,63 ± 5,91 21,88 ± 3,09 8,25 ± 3,86 4,88 ± 0,48 2,00 ± 0,80 2,525 - ns ns ns < 0,05 ns 12 a 14 anos 7 7 7 7 7 25,00 ± 3,70 19,29 ± 2,90 5,71 ± 1,63 5,00 ± 0,49 2,71 ± 1,08 7 7 7 7 7 16,43 ± 2,78 14,86 ± 2,31 1,57 ± 0,57 6,00 ± 0,00 1,71 ± 0,29 - ns ns ns ns ns Idade global Total de Erros Erros não Perseverativos Erros Perseverativos Categorias Falhas em manter o set 7 a 11 anos Total de Erros Erros não Perseverativos Erros Perseverativos Categorias Falhas em manter o set 4.2.1.4.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses Os resultados obtidos dos efeitos do MFD no desempenho do teste de Cartões de Wisconsin após 6 e 12 meses de tratamento estão apresentados na figura 30. A ANOVA de uma via para medidas repetidas detectou diferenças estatisticamente significantes entre as avaliações durante o tratamento com o MFD 156 RESULTADOS para os erros perseverativos [F(2,12) = 6,78; p = 0,01] e o total de erros [F(2,12) = 5,20; p = 0,02], sendo que o tratamento produziu uma diminuição significativa (p < 0,05) destes parâmetros no desempenho do teste aos 6 e 12 meses (Fig. 30, painel superior). Erros não Perseverativos 15 10 * * 5 Total de Erros 35 30 25 20 15 10 5 0 0 12 6 0 6 0 40 Categorias Atingidas 5 4 3 2 1 0 6 0 12 MFD (meses) * 20 10 0 12 0 6 12 MFD (meses) Falhas em manter o "set" Média de falhas ± e.p.m. * 6 * 30 MFD (meses) MFD (meses) Média de categorias ± e.p.m. 50 Média de erros ± e.p.m. 20 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. Erros Perseverativos 4 3 2 1 0 0 6 12 MFD (meses) Figura 30 – Desempenho do teste de cartões sortidos de Wisconsin em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD) . * p < 0,05 comparado à avaliação inicial (0). O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. As ANOVAS também mostraram diferenças de desempenho nas avaliações durante o tratamento com o MFD para as categorias atingidas [F(2,12) = 5,47; p = 0,02], sendo identificado pelo teste de Fisher um aumento significativo aos 6 meses (p < 0,05) comparado ao início do tratamento (Fig. 30, gráfico inferior esquerdo). 157 RESULTADOS Não foram observados diferenças de desempenho dos indivíduos nas falhas de manutenção do set durante os 6 e 12 meses de tratamento comparados ao prétratamento (Fig. 30, gráfico inferior direito). Observe-se ainda que o desempenho deste teste ao final de 6 ou 12 meses de tratamento com o MFD foi próximo ou ainda algo melhor que o obtido para o grupo controle na primeira parte do estudo. 4.2.1.5. Teste de Trilhas A e B 4.2.1.5.1. Avaliação inicial e com 6 meses Na comparação de desempenho dos grupos TDAH antes e após 6 meses de tratamento nos testes de construção de trilhas A e B foi identificado que as crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH apresentaram significativamente menor tempo na execução da tarefa de trilhas A e B comparado ao desempenho no início do tratamento (Tab. 24). Resultados semelhantes foram obtidos nas análises por categorias de idade, nas quais tanto as crianças (7 a 11 anos) quanto os adolescentes (12 a 14 anos) apresentaram significativamente menor tempo na execução do teste de trilhas A e B comparado aos seus desempenhos iniciais (Tab. 24). Assim sendo, os indivíduos tratados com MFD apresentaram melhora no desempenho do teste de Trilhas A e B, executando o traçado das trilhas A e B em menor tempo que antes do tratamento (Tab. 24). A média de erros cometidos após 6 meses de tratamento não foi significativamente diferente dos erros cometidos no início do tratamento no desempenho do teste de Trilha A (Tab. 24). Entretanto, na Trilha B, houve uma diminuição significativa do número de erros após 6 meses de tratamento com o MFD sendo significativo na análise global e para as crianças (7 a 11 anos) na análise por categorias de idade (Tab. 24). 158 RESULTADOS Tabela 24 - Análise comparativa do desempenho (tempo em segundos e erros) do teste Trilhas A e B em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). Teste de Trilhas Grupo TDAH Média ± e.p.m. Variável N Antes do tratamento N Após 6 meses t p Idade global 48 88,96 ± 5,56 48 63,06 ± 2,90 5,817 < 0,001 7 a 11 anos 37 95,54 ± 6,53 37 67,76 ± 3,20 5,136 < 0,001 12 a 14 anos 11 66,82 ± 7,28 11 47,27 ± 3,99 2,857 < 0,01 Idade global 48 0,10 ± 0,06 48 0,00 ± 0,00 - ns 7 a 11 anos 37 0,05 ± 0,05 37 0,00 ± 0,00 - ns 12 a 14 anos 11 0,27 ± 0,19 11 0,00 ± 0,00 - ns Idade global 48 214,54 ± 12,05 146,54 ± 7,89 7,098 < 0,001 7 a 11 anos 37 230,78 ± 13,86 159,76 ± 8,80 5,924 < 0,001 12 a 14 anos 11 159,91 ± 16,30 102,09 ± 9,14 5,108 < 0,001 Idade global 48 2,52 ± 0,51 48 0,15 3,733 = 0,001 7 a 11 anos 37 3,00 ± 0,64 37 0,54 ± 0,18 3,655 = 0,001 12 a 14 anos 11 0,91 ± 0,34 0,36 ± 0,24 - ns Trilhas A - Tempo Trilhas A - Erros Trilhas B - Tempo Trilhas B – Erros 11 Estes resultados sugerem que o tratamento com MFD melhorou a precisão com que os indivíduos executaram a tarefa no teste de Trilhas B, constatados pelo menor número de erros cometidos durante o seu traçado. Portanto, o tratamento parece ser eficaz para reverter às alterações neuropsicológicas inicialmente identificadas no teste de Trilhas A e B nos pacientes com TDAH. 159 RESULTADOS 4.2.1.5.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses Nos testes de trilha A e B o MFD produziu diminuição progressiva no tempo gasto pelos indivíduos na construção das trilhas A e B aos 6 e 12 meses (Fig. 31). A Erros 300 250 200 150 + *** *** 100 50 Média de erros ± e.p.m. Média em segundos ± e.p.m. Tempo 4 3 2 1 0 0 0 6 0 12 6 12 MFD (meses) MFD (meses) B Tempo 300 250 *** 200 150 *** 100 50 Média de erros ± e.p.m. Média em segundos ± e.p.m. Erros 4 3 2 * 1 ** 0 0 0 6 MFD (meses) 12 0 6 12 MFD (meses) Figura 31 – Desempenho do teste de trilhas A (A) e B (B) em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD) .* p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial (0); + p < 0,05 comparado à avaliação de 6 meses. O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. 160 RESULTADOS A ANOVA identificou diferenças significativas entre as avaliações [F(2,42) = 29,50; p < 0,0001] na construção da trilha A comparados ao tratamento inicial (Fig. 31A). O teste de Fisher mostrou que o tratamento com MFD aos 6 meses e 12 meses (p < 0,001) diminuiu significativamente o tempo gasto na construção da trilha A comparados ao tempo gasto no início do tratamento (Fig. 31A). Adicionalmente, o tempo gasto aos 12 meses foi ainda menor (p < 0,05) que o observado aos 6 meses (Fig. 31A). Na construção da trilha B o tempo consumido também foi significativamente diferente entre as avaliações [F(2,42) = 25,13; p < 0,0001] (Fig. 31B). O teste de Fisher mostrou que o tratamento com MFD aos 6 meses e 12 meses (p < 0,001) diminuiu significativamente o tempo gasto na construção da trilha B comparados ao tempo gasto observado no desempenho inicial (Fig. 31B). Com relação aos erros ocorridos na construção da trilha A não houve diferenças de desempenho dos indivíduos sob o tratamento com MFD aos 6 e 12 meses comparado ao início do tratamento (Fig. 31A). Entretanto, na construção da trilha B foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre as avaliações [F(2,42) = 6,54; p = 0,003], sendo que o número de erros foi significativamente menor no desempenho do teste ao 6 meses (p < 0,05) e 12 meses (p < 0,01) comparado ao desempenho observado na avaliação inicial (Fig. 31B). Note-se que tanto o tempo gasto quanto o número de erros cometidos nas avaliações de 12 meses foram próximos ao desempenho observado pelo grupo controle na primeira parte deste estudo. 161 RESULTADOS 4.2.1.6. Códigos B 4.2.1.6.1. Avaliação inicial e com 6 meses As médias de substituições efetuadas pelos indivíduos do grupo TDAH no teste de Códigos B foram diferentes entre as avaliações antes e após 6 meses de tratamento com MFD (Tab. 25). Tabela 25 - Análise comparativa do total de substituições de dígitos por símbolos e de acertos no teste de Códigos B em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). Códigos B Grupo TDAH Média ± e.p.m. Variável N Antes do tratamento N Após 6 meses t p Idade global 47 31,43 ± 1,48 47 39,42 ± 1,77 7,971 < 0,001 7 a 11 anos 37 28,38 ± 1,34 37 35,08 ± 1,37 6,045 < 0,001 12 a 14 anos 10 42,70 ± 2,81 10 55,50 ± 3,37 7,717 < 0,001 Idade global 47 30,66 ± 1,48 47 39,00 ± 1,78 8,189 < 0,001 7 a 11 anos 37 27,65 ± 1,37 37 34,62 ± 1,37 6,368 < 0,001 12 a 14 anos 10 41,80 ± 2,72 10 55,20 ± 3,39 7,102 < 0,001 Total de Substituições Acertos As crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH apresentaram significativamente maior número de substituições comparado ao desempenho no inicio do tratamento tanto nas análises globais quanto nas análises por categorias de idade (Tab. 25). A média de acertos também foram significativamente maior após o tratamento por 6 meses com o MFD tanto na análise global como nas análises por categorias de idade. 162 RESULTADOS Estes resultados sugerem que o tratamento com o MFD nos pacientes com TDAH parece melhorar tanto a velocidade de resposta motora quanto a precisão com que eles realizam a tarefa no teste de Códigos B. 4.2.1.6.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses Observa-se na figura 32 que o MFD aumentou progressivamente a média de substituições efetuadas ao longo dos 12 meses de tratamento. A ANOVA detectou diferenças estatisticamente significante [F(2,44) = 43,59; p < 0,0001] entre as avaliações. Pelo teste de Fisher identificou-se que com 6 e 12 meses de uso do MFD houve aumento significativo da média de substituições efetuadas em relação ao pré-tratamento (Fig. 32 à esquerda), sendo que aos 12 meses esta média foi ainda maior comparado à média obtida aos 6 meses (Fig. 32 à esquerda). Total Acertos ++ *** *** 50 40 30 20 10 0 0 6 12 MFD (meses) Média de acertos ± e.p.m. Média de pontos ± e.p.m. ++ 60 *** *** 50 40 30 20 10 0 0 6 12 MFD (meses) Figura 32 – Total de substituições (esquerda) e Número de acertos (direita) no teste de Códigos B (Substituição dígito-símbolo) em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD). *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial (0); ++ p < 0,01 comparado à avaliação de 6 meses. O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. 163 RESULTADOS Com relação às substituições efetuadas corretamente, ou seja, aos acertos, notam-se diferenças estatisticamente significantes [F(2,44) = 51,60; p < 0,0001] ao longo dos 12 meses de tratamento. Pelo teste de Fisher identificou-se aumento significativo (p < 0,001) da média de acertos aos 6 e 12 meses comparado ao início do tratamento (Fig. 32 à direita), sendo este aumento também significante (p < 0,01) aos 12 meses comparado com o desempenho de 6 meses (Fig. 32 à direita). Note-se que o desempenho ao final de 12 meses é bastante próximo do desempenho dos sujeitos do grupo controle obtido na primeira parte deste estudo. 4.2.1.7. Teste de substituição de símbolos para dígitos 4.2.1.7.1. Avaliação inicial e com 6 meses Foi observado um aumento significativo da média total de substituições e também dos acertos na avaliação de 6 meses do tratamento com o MFD comparado à avaliação inicial tanto na análise global quanto nas análises por categorias de idade (Tab. 26). Portanto, o tratamento com o MFD parece ter melhorado o desempenho do grupo TDAH aumentando tanto a rapidez de execução quanto a precisão nas respostas realizadas no testes de substituição de símbolos para dígitos. 164 RESULTADOS Tabela 26 - Análise comparativa do total de substituições de símbolos para dígitos e de acertos no teste de substituição símbolo-dígito em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). Teste de Substituição Grupo TDAH Símbolo/dígitos Média ± e.p.m. Variável N Antes do tratamento N Após 6 meses t p Idade global 47 24,64 ± 1,49 47 33,13 ± 1,96 6,511 < 0,001 7 a 11 anos 37 21,65 ± 1,31 37 29,51 ± 1,74 7,002 < 0,001 12 a 14 anos 10 35,70 ± 3,20 10 46,50 ± 4,70 2,334 < 0,05 Idade global 47 23,64 ± 1,45 47 32,76 ± 1,92 7,264 < 0,001 7 a 11 anos 37 20,59 ± 1,25 37 29,16 ± 1,69 7,686 < 0,001 12 a 14 anos 10 34,90 ± 3,05 10 46,10 ± 4,63 2,574 < 0,05 Total de substituições Acertos 4.2.1.7.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses Os resultados obtidos no teste de substituição de símbolos para dígitos foram muito semelhantes aos encontrados no teste de códigos B. A média total de substituições efetuadas foi aumentando progressivamente ao longo dos 12 meses de uso do MFD (Fig. 33 à esquerda). Foram identificadas diferenças estatisticamente significante na média total de substituições efetuadas [F(2,44) = 38,64; p < 0,0001] entre as avaliações inicial, com 6 e 12 meses de tratamento. Pelo teste de Fisher detectou-se um aumento significativo da média total de substituições efetuadas aos 6 e 12 meses (p < 0,001) comparado ao início do tratamento, sendo que na avaliação de 12 meses houve um aumento ainda maior (p < 0,01) comparado à avaliação do 6º. mês (Fig. 33 à esquerda). 165 RESULTADOS Acertos Total ++ 50 *** *** 40 30 20 10 0 0 6 12 MFD (meses) Média de acertos ± e.p.m. Média de pontos ± e.p.m. ++ 60 50 *** 40 *** 30 20 10 0 0 6 12 MFD (meses) Figura 33 – Total de substituições (esquerda) e Número de acertos (direita) no teste de Substituição de símbolo para dígito em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD). *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial (0); ++ p < 0,01 comparado à avaliação de 6 meses. O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. Com relação às substituições efetuadas corretamente, ou seja, acertos observou-se diferenças estatisticamente significantes [F(2,44) = 44,09; p < 0,0001] ao longo dos 12 meses de tratamento (Fig. 33 à direita). Pelo teste de Fisher identificou-se aumento significativo da média de acertos aos 6 e 12 meses (p < 0,001) comparado ao início do tratamento, sendo o aumento aos 12 meses também significante (p < 0,01) comparado ao desempenho com 6 meses de tratamento (Fig. 33 à direita). Observe-se ainda que tanto os totais quanto os acertos nas substituições de símbolo para dígito foram equivalente ao grupo controle da primeira parte do estudo já na avaliação do 6º. mês de tratamento. Após um ano de tratamento o desempenho destas crianças e adolescentes com TDAH foram ainda melhores aos 166 RESULTADOS observados na avaliação inicial e também comparado ao grupo controle da primeira parte deste estudo (Fig. 33). 4.2.1.8. TAVIS 3 R 4.2.1.8.1. Avaliação inicial e com 6 meses Os resultados, no início e ao final de 6 meses de tratamento com o MFD, dos tempos de reação (TR), erros de omissão (EO) e erros de ação (EA) nas três tarefas do teste de atenção visual (TAVIS 3 R) estão apresentados na tabela 27 . Os TR nas três tarefas foram significativamente reduzidos tanto na avaliação global quanto para as crianças (7 a 11 anos), sendo que para os adolescentes (12 a 14 anos) o TR foi menor para as tarefas 1 e 3 (Tab. 27), indicando que ao final de 6 meses de tratamento com o MFD houve maior rapidez dos indivíduos para detectar o estímulo e emitir uma resposta motora. A média dos EO foi significativamente menor nas tarefas 1 e 2 tanto na análise global quanto para a categoria de idade de 7 a 11 anos. O EO na tarefa 3 não foi diferente em nenhuma das análises efetuadas e em nenhuma categoria de idade (Tab. 27). O padrão de apresentação dos EA foi semelhante aos do EO, sendo que a média dos EA foi significativamente menor nas tarefas 1 e 2 na análise global e na categoria de 7 a 11 anos de idade, enquanto que este tipo de erro não foi modificado na realização da tarefa 3 (Tab. 27). 167 RESULTADOS Tabela 27 - Análise comparativa do desempenho do teste de atenção visuo-espacial computadorizado (TAVIS 3 R) em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). TAVIS 3 R Grupo TDAH Média ± e.p.m. Variável N Antes do tratamento N Após 6 meses t p 47 36 46 47 36 46 47 36 46 0,59 ± 0,17 0,65 ± 0,02 0,61 ± 0,03 1,77 ± 0,22 2,92 ± 0,45 0,11 ± 0,06 5,89 ± 0,83 3,81 ± 0,66 1,65 ± 0,35 47 36 46 47 36 46 47 36 46 0,52 ± 0,09 0,57 ± 0,18 0,45 ± 0,02 1,00 ± 0,21 1,25 ± 0,23 0,02 ± 0,02 4,04 ± 0,59 1,83 ± 0,24 1,46 ± 0,42 5,131 4,293 5,153 2,444 4,102 2,634 3,103 - < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,01 < 0,001 ns < 0,01 < 0,01 ns 36 25 35 36 25 35 36 25 35 0,63 ± 0,01 0,68 ± 0,02 0,67 ± 0,03 1,61 ± 0,22 2,76 ± 0,58 0,14 ± 0,07 4,33 ± 0,60 3,84 ± 0,90 2,03 ± 0,43 36 25 35 36 25 35 36 25 35 0,55 ± 0,01 0,57 ± 0,02 0,49 ± 0,02 0,75 ± 0,17 0,72 ± 0,22 0,03 ± 0,03 2,42 ± 0,31 1,68 ± 0,26 1,74 ± 0,54 4,508 4,159 4,838 2,810 4,270 3,460 2,578 - < 0,001 < 0,001 < 0,001 < 0,01 < 0,001 ns < 0,01 < 0,01 ns 11 11 11 11 11 11 11 11 11 0,46 ± 0,22 0,58 ± 0,03 0,40 ± 0,34 2,27 ± 0,60 3,27 ± 0,63 0,00 ± 0,00 11,00 ± 2,43 3,73 ± 0,79 0,45 ± 0,31 11 11 11 11 11 11 11 11 11 0,41 ± 0,01 0,55 ± 0,03 0,32 ± 0,01 1,82 ± 0,69 2,45 ± 0,37 0,00 ± 0,00 9,36 ± 1,45 2,18 ± 0,52 0,55 ± 0,39 2,718 2,170 - < 0,05 ns < 0,05 ns ns ns ns ns ns Idade global TR tarefa 1 TR tarefa 2 TR tarefa 3 EO tarefa 1 EO tarefa 2 EO tarefa 3 EA tarefa 1 EA tarefa 2 EA tarefa 3 7 a 11 anos TR tarefa 1 TR tarefa 2 TR tarefa 3 EO tarefa 1 EO tarefa 2 EO tarefa 3 EA tarefa 1 EA tarefa 2 EA tarefa 3 12 a 14 anos TR tarefa 1 TR tarefa 2 TR tarefa 3 EO tarefa 1 EO tarefa 2 EO tarefa 3 EA tarefa 1 EA tarefa 2 EA tarefa 3 TR = Tempo de Reação; EO = Erro de Omissão; EA = Erro de Ação Deste modo, as alterações neuropsicológicas identificadas principalmente nas crianças com o diagnóstico de TDAH parecem melhorar com o tratamento farmacológico, sendo que todos os três parâmetros do TAVIS examinados (TR, EO e EA) foram sensíveis aos efeitos do MFD, particularmente o TR. 168 RESULTADOS 4.2.1.8.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses Os resultados, no início e ao final de 6 e 12 meses de tratamento com o MFD, dos TR, EO e EA nas três tarefas do teste de atenção visual (TAVIS 3 R) estão apresentados na figura 34. Na comparação do efeito do MFD sobre o TR nas tarefas 1, 2 e 3 foram observadas diferenças estatisticamente significante [F(2,44) = 28,88; p < 0,0001], [F(2,30) = 15;86 p < 0,0001] e [F(2,44) = 20,60 p < 0,0001], respectivamente, ao longo de 6 e 12 meses de tratamento (Fig. 34A). O teste de Fisher detectou na tarefa 1 diminuição significativa do TR aos 6 e 12 meses (p < 0,001) comparado ao início do tratamento, e ainda uma diminuição significativa (p < 0,05) do TR aos 12 meses comparado com 6 meses (Fig. 34A). Na tarefa 2 foi encontrado diminuição do TR aos 6 e 12 meses (p < 0,001) comparados ao início do tratamento, sendo que o TR aos 12 meses foi ainda menor (p < 0,05) comparado ao TR aos 6 meses de tratamento (Fig. 34A). E, por fim na tarefa 3 o TR foi também significativamente menor (p < 0,001) com 6 e 12 meses comparados ao início do tratamento, e também foi menor (p < 0,05) aos 12 meses comparado aos 6 meses de tratamento (Fig. 34A). Na comparação do efeito do MFD sobre os EO nas tarefas 1, 2 e 3 foram observadas diferenças estatisticamente significante na tarefa 2 [F(2,30) = 10,42; p < 0,001] ao longo de 6 e 12 meses de tratamento. Notou-se uma diminuição significativa nos EO aos 6 (p < 0,01) e 12 meses (p < 0,001) comparados ao início do tratamento (Fig. 34B). O MFD produziu mudanças significativas dos EA nas tarefas 1 [F(2,44) = 3,769; p < 0,05] e 2 [F(2,30) = 12,47; p < 0,0001] ao longo dos 12 meses tratamento. Pelo teste de Fisher detectou-se que na tarefa 1 o tratamento por 6 meses com MFD diminuiu significativamente os EA (p < 0,05) comparado ao início do tratamento (Fig. 34C). 169 RESULTADOS A TR tarefa 1 TR tarefa 2 1.0 *** *** 0.6 0.4 0.2 0.0 1.0 + *** *** 0.8 0.6 0.4 0.2 Tempo (s) ± e.p.m. + 0.8 Tempo (s) ± e.p.m. Tempo (s) ± e.p.m. 1.0 TR tarefa 3 0.0 0 6 + 0.8 *** *** 0.6 0.4 0.2 0.0 12 0 MFD (meses) 6 0 12 MFD (meses) 6 12 MFD (meses) B 4 3 2 1 5 4 3 ** 2 *** 1 Média de erros ± e.p.m. 5 0 6 0 12 MFD (meses) Média de erros ± e.p.m. 5 * 2 1 0 6 2 1 0 12 6 5 4 ** *** 3 2 12 MFD (meses) 6 12 MFD (meses) EA tarefa 3 1 6 5 4 3 2 1 0 0 0 3 EA tarefa 2 6 3 4 MFD (meses) EA tarefa 1 4 6 Média de erros ± e.p.m. C 5 0 0 0 Média de erros ± e.p.m. EO tarefa 3 EO tarefa 2 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. EO tarefa 1 0 6 12 MFD (meses) 0 6 12 MFD (meses) Figura 34 – Tempo de Reação (TR) (A), Erros de Omissão (EO) (B) e Erros de Adição (EA) (C) nas três tarefas do teste de atenção visuo-espacial (TAVIS 3 R) em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD). * p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial (0); + p < 0,05 comparado à avaliação de 6 meses. O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. 170 RESULTADOS Na tarefa 2 tanto o tratamento por 6 meses (p < 0,01) quanto por 12 meses (p < 0,001) diminuíram significativamente os EA em relação ao início do tratamento. Note-se que o desempenho dos sujeitos com TDAH, especialmente para a rapidez de resposta (tempo de reação) foi equivalente ao controle da primeira parte do estudo ao final de 12 meses de tratamento com o MFD. 4.2.1.9. Teste de Cancelamento d2 4.2.1.9.1. Avaliação inicial e com 6 meses A análise global dos resultados do efeito do MFD no teste d2 mostra que houve um aumento dos escores de desempenho após 6 meses de tratamento comparados ao pré-tratamento (Tab. 28). Esse padrão de resposta foi também observado na análise por categoria de idades. Isto denota maior rapidez dos indivíduos tratados com o MFD neste testes que requer a atenção concentrada. A média de acertos observados após 6 meses de tratamento foi significativamente maior comparada ao início do tratamento, sendo este efeito observado tanto na análise global quanto na análise por categorias de idades, em crianças (7 a 11 anos) e adolescentes (12 a 14 anos) (Tab. 28), sugerindo ter ocorrido uma melhora na acuidade na realização da tarefa sob tratamento com o MFD. A amplitude de oscilação não foi diferente da observada no início do tratamento (Tab. 28). Todos os parâmetros de erros, como a porcentagem de erros, erros de omissão e de adição foram significativamente reduzidos ao final de 6 meses de tratamento com o MFD comparados ao desempenho observado no início do tratamento (Tab. 28), tanto na análise global como também nas análises por categorias de idade, sugerindo maior precisão e atenção e maior controle da impulsividade na execução desta tarefa após 6 meses de tratamento. 171 RESULTADOS Tabela 28 - Análise comparativa do desempenho do teste d2 em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) antes e após 6 meses de tratamento com Metilfenidato (MFD). Teste d2 Grupo TDAH Média ± e.p.m. Variável Idade global Desempenho Acertos Amplitude de Oscilação % Erros Erros por Omissão Erros por Adição Linhas 1–4 5 – 10 11 – 14 7 a 11 anos Desempenho Acertos Amplitude de Oscilação % Erros Erros por Omissão Erros por Adição Linhas 1–4 5 – 10 11 – 14 12 a 14 anos Desempenho Acertos Amplitude de Oscilação % Erros Erros por Omissão Erros por Adição Linhas 1–4 5 – 10 11 – 14 N Antes do tratamento N Após 6 meses t p 27 27 27 27 27 27 279,52 ± 10,73 250,70 ± 11,35 15,00 ± 1,29 10,71 ± 1,76 17,22 ± 3,22 11,59 ± 2,99 27 27 27 27 27 27 332,00 ± 12,28 324,19 ± 12,12 12,85 ± 0,80 2,36 ± 0,25 5,11 ± 0,78 2,70 ± 0,40 5,614 9,344 4,837 3,606 3,086 < 0,001 < 0,001 ns < 0,001 < 0,01 < 0,01 27 27 27 8,15 ± 1,42 12,78 ± 2,21 7,89 ± 1,55 27 27 27 2,00 ± 0,32 3,33 ± 0,50 2,48 ± 0,36 4,376 4,178 3,618 < 0,001 < 0,001 < 0,01 16 16 16 16 16 16 271,19 ± 15,14 237,63 ± 16,30 16,56 ± 1,80 12,99 ± 2,71 18,94 ± 4,98 14,63 ± 4,84 16 16 16 16 16 16 303,00 ± 13,06 295,31 ± 12,80 13,69 ± 1,15 2,52 ± 0,33 4,31 ± 0,87 3,38 ± 0,54 2,883 6,598 3,863 2,764 2,396 < 0,01 < 0,001 ns < 0,01 < 0,01 < 0,05 16 16 16 8,25 ± 2,03 15,75 ± 3,44 9,56 ± 2,39 16 16 16 1,56 ± 0,33 3,19 ± 0,65 2,94 ± 0,50 3,314 3,533 2,783 < 0,01 < 0,01 < 0,01 11 11 11 11 11 11 291,64 ± 14,49 269,73 ± 13,48 12,73 ± 1,64 7,40 ± 1,38 14,73 ± 3,32 7,18 ± 1,59 11 11 11 11 11 11 374,18 ± 17,05 366,18 ± 16,80 11,64 ± 0,97 2,14 ± 0,41 6,27 ± 1,41 1,73 ± 0,49 6,990 8,187 4,516 2,873 3,214 < 0,001 < 0,001 ns < 0,01 < 0,01 < 0,01 11 11 11 8,00 ± 1,98 8,45 ± 1,49 5,45 ± 1,36 11 11 11 2,64 ± 0,58 3,55 ± 0,82 1,82 ± 0,46 2,825 3,938 3,108 < 0,01 < 0,01 < 0,01 Estes dados repercutiram na redução dos erros de forma equivalente nas três divisões de linhas em todas as análises efetuadas, sugerindo melhor sustentação da atenção durante a execução do teste. 172 RESULTADOS 4.2.1.9.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses Os resultados das análises de desempenho do teste d2 após 6 e 12 meses de tratamento com o MFD estão representados na figura 35. A Total de Acertos * 400 *** 300 200 100 0 0 6 Amplitude ++ 12 500 ** 400 *** 300 200 100 0 0 MFD (meses) 6 12 Média de amplitude ± e.p.m. ++ 500 Média de acertos ± e.p.m. Média de desempenho ± e.p.m. Desempenho 20 10 0 0 MFD (meses) 6 12 MFD (meses) B Erros de Omissão 30 20 ** 10 *** 0 0 6 25 20 15 * 10 ** 5 MFD (meses) 25 20 15 10 5 ** *** 6 12 0 0 12 Erros de Adição Média de erros ± e.p.m. 40 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. Total de Erros 0 6 12 MFD (meses) 0 MFD (meses) Figura 35 – Desempenho, Total de Acertos e Amplitude de Oscilação (A) e Total de Erros, Erros de Omissão e de Adição (B) no teste d2 em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD). * p < 0,05, ** p < 0,01, *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial (0); ++ p < 0,01 comparado à avaliação de 6 meses. O traço pontilhado representa o valor médio obtido pelo grupo controle pareado por idade e características sócio-demográficas apresentados na primeira parte deste estudo. 173 RESULTADOS A ANOVA de 1 via identificou a existência de diferenças de desempenho nas avaliações realizadas com 6 e 12 meses de tratamento com o MFD [F(2,20) = 23,42; p < 0,0001]. Houve aumentos estatisticamente significantes no desempenho aos 6 (p < 0,05) e 12 (p < 0,001) meses de tratamento com o MFD comparado ao desempenho inicial (Fig. 35A). Além disso, o desempenho aos 12 meses de tratamento foi ainda maior (p < 0,01) comparado ao observado aos 6 meses de tratamento (Fig. 35A). Observa-se, adicionalmente, que a média de desempenho obtida elevou o desempenho dos indivíduos tratados para valores superiores ao encontrado no grupo controle da primeira parte do estudo (Fig. 35A). A média total de acertos dos indivíduos tratados com MFD aumentou progressivamente [F(2,20) = 31,48; p < 0,0001] no curso de 12 meses de tratamento. Aos 6 e 12 meses de uso do MFD houve aumento significativo no total de acertos (p < 0,01 e p < 0,001, respectivamente), comparados ao início do tratamento, atingindo valores iguais ou acima da faixa encontrada nos controles da primeira parte do estudo (Fig. 35A). Aos 12 meses o aumento no total de acertos foi ainda maior (p < 0,01) comparado ao desempenho de 6 meses. Com relação à amplitude de oscilação não foram encontradas diferenças de avaliação aos 6 e 12 meses de uso do MFD, entretanto, os valores ficaram no nível da faixa de variação do grupo controle. A média total de erros foi reduzindo progressivamente [F(2,20) = 12,60; p < 0,0001] durante os 12 meses de tratamento com o MFD (Fig. 33B). Com 6 e 12 meses de uso do MFD houve diminuição significativa no total de erros (p < 0,01 e p < 0,001, respectivamente) em relação ao início do tratamento, apresentando respostas ainda melhores que as encontradas no grupo controle da primeira parte do estudo (Fig. 35B). As médias de EO [F(2,20) = 7,60; p < 0,001] e também de EA [F(2,20) = 13,32; p < 0,001] foram progressivamente diminuindo durante os 12 meses de tratamento (Fig. 35B). Foi observado que aos 6 (p < 0,01) e 12 meses (p < 0,01) as 174 RESULTADOS médias dos EO diminuíram significativamente em relação ao início do tratamento (Fig. 33B). Resultados similares foram encontrados para os EA, apresentando diminuição aos 6 (p < 0,01) e 12 meses (p < 0,001) comparados ao início do tratamento (Fig. 35B). As médias de distribuição dos erros em cada uma das três partes do teste antes, com 6 e 12 meses de tratamento no grupo TDAH estão mostradas na figura 36. Em uma ANOVA de 2 vias para medidas repetidas comparando-se o desempenho nos três blocos de linhas no início, aos 6 e 12 meses de tratamento com o MFD, pode-se observar que houve diferenças estatisticamente significantes entre as avaliações [F(2,30) = 11,95; p = 0,0002] e também entre os blocos de linhas [F(2,60) = 11,42; p < 0,0001]. Média de erros ± e.p.m. Erros por blocos de linhas linhas 1 - 4 linhas 5 - 10 linhas 11 - 14 20 ++ 10 + ** ** ** ** ** ** 0 0 6 12 MFD (meses) Figura 36 – Distribuição de erros, por blocos de linhas, ao longo do desempenho no teste d2 em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), antes (0), e após 6 e 12 meses de tratamento com o Metilfenidato (MFD). ** p < 0,01 comparado à avaliação inicial (0); + p < 0,05 comparado ao primeiro bloco de linhas (linhas 1 – 4) e ++ p < 0,01 comparado ao primeiro (linhas 1 – 4) e último bloco (linhas 11 – 14) de linhas. 175 RESULTADOS No teste de Fisher foi identificado que houve diminuição significativa (p < 0,01) dos erros nas linhas de 1 - 4, 5 - 10 e de 11 - 14 aos 6 e 12 meses de tratamento comparados com a avaliação inicial (Fig. 36). Também pode ser observado que a quantidade de erros é maior no segundo bloco (linhas 5 – 10) de linhas comparado aos demais, sendo significativos na comparação para o primeiro e último blocos de linhas na avaliação inicial (p < 0,01) e para o primeiro bloco na avaliação de 6 meses (p < 0,05) (Fig. 36). 4.2.1.10. Teste de Recordação Livre de Palavras 4.2.1.10.1. Avaliação inicial e com 6 meses Para a análise dos resultados da seqüência de palavras, considerando-se os blocos de 3 seqüências, obtidos 6 meses após tratamento com o MFD comparados aos obtidos no início do tratamento, foi empregada ANOVA de 3 vias para medidas repetidas [2 tipos de listas (par e impar) x 2 avaliações (0 e 6 meses) x 5 blocos de 3 seqüências]. Semelhante ao procedimento adotado na apresentação dos resultados deste teste na primeira parte do estudo, iniciaremos a apresentação dos resultados gerais das ANOVAs e seguiremos para o detalhamento da análise que mais nos interessa nesta seção que seria o efeito do metilfenidato sobre o desempenho deste teste. Todos estes resultados estão apresentados na figura 37. 176 A RESULTADOS Listas Impares ** 15 10 ** ** 5 0 0 6 6 0 1-3 6 0 4-6 6 0 7-9 15 ** 10 ** 5 0 0 6 0 10-12 Média de palavras ± e.p.m. Média de palavras ± e.p.m. Listas Pares 6 6 0 1-3 13-15 MFD (meses) crianças Listas Pares * 10 ** ** 6 6 0 1-3 6 0 4-6 0 7-9 6 10-12 0 ** 5 0 0 6 0 1-3 6 6 0 4-6 7-9 0 adolescentes Listas Pares adolescentes Listas Impares 0 6 0 4-6 6 0 7-9 0 6 10-12 0 6 13-15 MFD (meses) 6 10-12 MFD (meses) 5 1-3 10 MFD (meses) 10 6 ** 13-15 15 0 13-15 15 6 Média de palavras ± e.p.m. C Média de palavras ± e.p.m. ** 0 0 6 0 10-12 crianças Listas Impares 15 5 6 0 7-9 MFD (meses) Média de palavras ± e.p.m. Média de palavras ± e.p.m. B 6 0 4-6 0 6 13-15 20 10 0 0 6 1-3 6 0 4-6 6 0 7-9 0 6 10-12 0 6 13-15 MFD (meses) Figura 37 – Número de palavras, em blocos de 3 seqüências, evocadas corretamente nas listas pares (painéis da esquerda) e impares (painéis da direita) do teste de Lista de Palavras considerando os dados globais (A) ou os dados obtidos em crianças (B) ou adolescentes (C) com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) submetidas ao tratamento com metilfenidato (MFD) por 6 meses. * p < 0,05 e ** p < 0,01 comparado à avaliação inicial (0). 177 RESULTADOS Nesta análise foi observado que houve diferenças estatisticamente significantes na comparação entre os tipos de listas, se par ou impar [F(1,88) = 4,88; p = 0,03], entre as avaliações inicial e de 6 meses [F(1,88) = 49,30; p < 0,0001], e ainda, entre os blocos de 3 seqüências [F(4,352) = 629,90; p < 0,0001] na análise global. Na análise da categoria de 7 a 11 anos houve também diferenças na comparação entre os tipos de listas [F(1,68) = 7,46; p = 0,008], entre as avaliações inicial e de 6 meses [F(1,68) = 63,60; p < 0,0001] e, entre os blocos de 3 seqüências [F(2,272) = 549,74; p < 0,0001]. Na categoria de 12 a 14 anos não houve diferenças estatisticamente significantes entre os tipos de listas e entre as avaliações inicial e de 6 meses. Houve, contudo, diferenças entre os blocos de 3 seqüências [F(4,72) = 92,18; p < 0,0001]. Considerando-se que nas listas pares são incluídas as associações semânticas e nas impares não, observa-se que há uma diferença no padrão de evocação das palavras, sendo que as mesmas são melhores recordadas quando associadas semanticamente como foi visto na primeira parte deste estudo. As diferenças no perfil de respostas entre as listas pares ou impares ao longo das seqüências de palavras são corroboradas pela existência de interação entre estas duas condições tanto na análise global [F(4,352)= 17,36; p < 0,0001] quanto na categoria de 7 a 11 anos [F(4,272) = 13,17; p < 0,0001], o que indica uma diferença no perfil de resposta dependendo se listas pares ou impares. As diferenças entre os blocos de 3 seqüências são semelhantes às observadas na primeira parte do estudo, sendo que as 3 palavras iniciais (bloco 1 3) e principalmente as 3 últimas palavras (bloco 13 – 15) são mais recordadas que as palavras dos blocos centrais conferindo os efeitos de primazia e de recência, e ainda, que nas listas pares, as que apresentam associação semântica nas posições centrais, apresentam melhor recordação destas comparadas às mesmas posições das listas impares (Fig. 37). Entretanto, os efeitos mais significativos nesta seção foram os aumentos estatisticamente significantes de palavras recordadas no primeiro bloco (p < 0,01) e no último bloco (p < 0,05 ou 0,01) de 3 palavras das listas pares e impares, nas análises globais e nas crianças (7 a 11 anos) nas análises por categorias de idade 178 RESULTADOS (Fig. 37A e B) após 6 meses de tratamento com o MFD. Nas crianças houve também um aumento significativo (p < 0,01) na evocação das palavras associadas semanticamente nas listas pares após 6 meses de tratamento farmacológico (Fig. 37B). Nesta faixa etária também houve aumento significativo das palavras não associadas no penúltimo bloco de 3 seqüências (bloco 10 – 12) ao final de 6 meses de tratamento (Fig. 37B). Considerando-se que na primeira parte do estudo foi observado prejuízos significativos, especialmente das crianças com TDAH comparadas às crianças do grupo controle, exatamente na evocação das primeiras e últimas palavras e das palavras associadas semanticamente nas listas pares, estes resultados sugerem que houve uma recuperação destes parâmetros nas crianças tratadas com o MFD por 6 meses. Os adolescentes, no entanto, não apresentaram modificação significativa de seu desempenho com o tratamento de 6 meses com o MFD (Fig. 37C). O total de acertos, erros e tipos de erros foram analisados por teste t pareado comparando-se o desempenho antes e após 6 meses de tratamento e estão apresentados nas figuras 38 e 39. Observa-se que houve aumento da média do total de acertos após 6 meses de tratamento com o MFD, tanto na recordação das palavras nas listas pares quanto impares, na análise global (t = 4,052 e t = 4,28, p < 0,001, respectivamente) e na faixa etária de 7 a 11 anos (t = 5,15 e t = 3,84, p < 0,001, respectivamente) comparado às médias obtidas no início do tratamento (Fig. 38). Novamente, cumpre lembrar que estes parâmetros também se encontraram prejudicados, especialmente para as crianças nas listas pares, sugerindo que houve uma melhora no desempenho do teste após 6 meses de tratamento com o MFD. 179 RESULTADOS A C B Total de acertos (crianças) *** *** 30 20 10 0 0 6 0 par *** 40 Total de acertos (adolescentes) *** 30 20 10 0 6 impar MFD (meses) 0 6 0 par 6 Média de acertos ± e.p.m. 40 Média de acertos ± e.p.m. Média de acertos ± e.p.m. Total de acertos 40 30 20 10 0 0 impar MFD (meses) 6 0 par 6 impar MFD (meses) Figura 38 – Total de palavras recordadas corretamente nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras considerando os dados globais (A), em crianças (B,) ou adolescentes (C) com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) submetidas ao tratamento com metilfenidato (MFD) por 6 meses. *** p < 0,001 comparado aos resultados iniciais (0). Não houve, no entanto, diferenças estatisticamente significantes quanto aos tipos de erros cometidos após 6 meses de tratamento com o MFD (Fig. 39). 4.2.1.10.2. Avaliação inicial, com 6 e 12 meses Nas análises dos resultados da seqüência de palavras, considerando-se os blocos de 3 seqüências, obtidos 6 e 12 meses após tratamento com o MFD comparados aos obtidos no início do tratamento, foi empregada ANOVA de 3 vias para medidas repetidas [2 tipos de listas (par e impar) x 3 avaliações (0, 6 e 12 meses) x 5 blocos de 3 seqüências]. Os resultados referentes a esta análise estão representados na figura 40. Não foram observadas diferenças estatisticamente significantes na comparação entre os tipos de listas, se par ou impar. Porém, foram encontradas diferenças entre as avaliações inicial, de 6 e 12 meses [F(2,84) = 23,12; p < 0,0001], e ainda, entre os blocos de 3 seqüências [F(4,168) = 303,14; p < 0,0001]. 180 RESULTADOS A Erros de Intrusão (crianças) 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 Erros de Intrusão (adolescentes) 3.5 Média de erros ± e.p.m. 3.5 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. Erros de Intrusão 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 0 6 0 par 6 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 0.0 0 0 6 par impar MFD (meses) 6 0 MFD (meses) 0.50 0.25 0.00 6 0 par Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. 0.75 0 Erros de repetição (adolescentes) Erros de repetição (crianças) 1.00 1.25 1.00 0.75 0.50 0.25 0 impar 1.25 1.00 0.75 0.50 0.25 0.00 0.00 6 6 impar MFD (meses) B Erros de repetição 0 6 par impar 6 0 par MFD (meses) 0 6 0 6 par impar 6 impar MFD (meses) MFD (meses) C 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0.0 6 0 par 6 impar 0.8 Média de erros ± e.p.m. 0.7 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. 0.8 0 Erros de perseveração (adolescentes) Erros de perseveração (crianças) Erros de perseveração 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 1.00 0.75 0.50 0.25 0.00 0.0 0 6 0 par MFD (meses) 1.25 0 6 0 6 par impar 6 impar MFD (meses) MFD (meses) Figura 39 – Tipos de erros (intrusão, repetição e perseveração) cometidos nas listas pares e impares do teste de Lista de Palavras considerando os dados globais (A), em crianças (B) ou adolescentes (C) com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) submetidos ao tratamento com metilfenidato (MFD) por 6 meses. Os dados mais expressivos nesta análise foram os aumentos estatisticamente significantes de palavras recordadas no primeiro bloco após 6 meses nas listas pares (p < 0,05) e impares (p < 0,01), e principalmente após 12 181 RESULTADOS meses nas listas pares e impares (p < 0,01) comparada a quantidade evocada na avaliação inicial (Fig. 40). Média de palavras ± e.p.m. Listas Pares 15 10 5 0 * * * ** 0 6 12 0 6 12 0 6 12 0 6 12 0 6 12 1-3 4-6 7-9 10-12 13-15 MFD (meses) Média de palavras ± e.p.m. Listas Impares ** 15 10 ** ** 5 0 0 6 12 0 6 12 0 6 12 0 6 12 0 6 12 1-3 4-6 7-9 10-12 13-15 MFD (meses) Figura 40 – Número de palavras, em blocos de 3 seqüências, evocadas corretamente nas listas pares (gráfico superior) e impares (gráfico inferior) do teste de Lista de Palavras em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) avaliadas no início (0) aos 6 e 12 meses de tratamento com metilfenidato (MFD). * p < 0,05 e ** p < 0,01 comparado à avaliação inicial (0). 182 RESULTADOS Houve também aumento das palavras recordadas no último bloco de 3 palavras das listas impares após 12 meses de tratamento com o MFD comparada à avaliação inicial (Fig. 40). E ainda, houve aumento significativo (p < 0,05) das palavras do bloco central das listas pares, as que estão associadas semanticamente, após 6 e 12 meses de tratamento com o MFD comparado à avaliação inicial (Fig. 40, gráfico superior). Mais uma vez, cumpre lembrar que estes foram os parâmetros alterados na primeira parte do estudo, sugerindo que o tratamento com o MFD recupera a recordação das palavras iniciais, finais e as associadas semanticamente, melhorando, portanto, as memórias de curto- e longo-prazo nas crianças e adolescentes com diagnóstico de TDAH. Os dados referentes ao total de acertos e os tipos de erros foram submetidos à ANOVAs de 1 vias para medidas repetidas para se comparar os resultados obtidos no início do tratamento e após 6 e 12 meses de tratamento com o MFD. Houve diferenças estatisticamente significantes na comparação dos acertos (Fig. 41) na evocação das palavras das listas pares [F(2,42) = 6,07; p = 0,005] e das listas impares [F(2,42) = 11,61; p < 0,0001]. A quantidade de palavras evocadas corretamente nas listas pares foram maiores aos 6 meses (p < 0,01) e aos 12 meses (p < 0,05) de tratamento com o MFD comparada à quantidade de palavras evocadas corretamente no início do tratamento (Fig. 41). Adicionalmente, a quantidade de palavras evocadas corretamente nas listas impares foram maiores aos 6 meses (p < 0,01) e aos 12 meses (p < 0,001) de tratamento com o MFD comparada à quantidade de palavras evocadas corretamente no início do tratamento (Fig. 41). 183 RESULTADOS Média de acertos ± e.p.m. Total de Acertos ** * 6 par 12 35 ** *** 30 25 20 15 10 5 0 0 0 6 impar 12 MFD (meses) Figura 41 – Total de palavras recordadas corretamente nas listas pares e impares do Teste de Lista de Palavras em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) avaliadas no início (0), aos 6 e 12 meses de tratamento com metilfenidato (MFD). * p < 0,05, ** p < 0,01 e *** p < 0,001 comparado à avaliação inicial (0). Com relação às análises dos tipos de erros (Fig. 42), houve diferenças estatisticamente significantes entre as avaliações inicial, de 6 e 12 meses apenas par os erros de repetição nas listas impares [F(2,42) = 4,39; p = 0,02], no entanto a diferença (p < 0,05) foi localizada entre os resultados obtidos na avaliação de 6 e 12 meses (Fig. 42, gráfico central). Erros de Repetição 3.5 3.0 2.5 2.0 1.5 1.0 0.5 Erros de Perseveração 2.0 1.5 1.0 + 0.5 0 6 par 12 0 MFD (meses) 6 impar 12 1.0 0.5 0.0 0.0 0.0 Média de erros ± e.p.m. 4.0 Média de erros ± e.p.m. Média de erros ± e.p.m. Erros de Intrusão 0 6 par 12 0 MFD (meses) 6 impar 12 0 6 par 12 0 6 impar MFD (meses) Figura 42 – Tipos de erros (intrusão, repetição e perseveração) cometidos nas listas pares e impares do teste de Lista de Palavras em crianças e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) avaliadas no início (0), aos 6 e 12 meses de tratamento com metilfenidato (MFD). + p < 0,05 comparado à avaliação de 6 meses (6). 184 12 5. DISCUSSÃO DISCUSSÃO 5. DISCUSSÃO 5.1. Características gerais dos grupos Considerando tratar-se de um estudo longitudinal com 12 meses de seguimento e de razoável complexidade, com parâmetros clínicos, laboratoriais e neuropsicológicos sob constante monitoração, pretendeu-se selecionar a amostra com características as mais homogêneas possíveis e que fossem aderentes ao tratamento. Os critérios de seleção adotados foram rigorosamente seguidos de modo que o percentual de exclusões foi elevado, principalmente no serviço público de saúde onde os índices de co-morbidades associados ao TDAH foram altos necessitando assim, de inúmeros atendimentos para selecionar a amostra com as características desejadas. Portanto, foi necessário complementar a amostra com indivíduos da rede privada de saúde de modo a viabilizar em tempo hábil o estudo. A seleção da amostra ocorreu também nas escolas através de um contacto inicial com os professores e posteriormente com os pais, na identificação de alunos com problemas comportamentais, com ou sem comprometimento acadêmico. Nesta ocasião foi observada incidência elevada de outros diagnósticos com características comportamentais similares ao TDAH. Grande parte dos que foram orientados a procurar o ambulatório público não compareceram à avaliação. De acordo com dados de literatura a coleta de informações na escola é parte importante no processo diagnóstico, uma vez que o distúrbio começa bem cedo na vida e, portanto, muitas crianças devem ter tido problemas na escola bem cedo (Phelan, 2005). Não foi surpresa a identificação nos indivíduos com diagnóstico comprovado de TDAH pelo DSM IV, de co-morbidades associadas consideradas como critérios de exclusão, como a ansiedade, Transtorno de conduta e depressão, uma vez que a co-existência destes transtornos é altamente prevalente e largamente descrita na literatura (Souza et al., 2001; Rohde, 2002). Da amostra com diagnóstico de TDAH, 68,5% foram submetidos à avaliação neuropsicológica aos 6 meses e 34% com 12 meses de tratamento. Dentre os 186 DISCUSSÃO motivos ressaltamos principalmente três: (1) avaliações neuropsicológicas laboriosas e prolongadas com intervalos de 6 meses cada uma, (2) freqüência inconstante no prazo determinado das avaliações, e, (3) problemas financeiros com transportes intermunicipais. Na constituição do grupo controle a maioria dos participantes foram excluídos por não terem comparecido ao ambulatório para avaliação ou por terem recusado a participar do estudo. No delineamento da pesquisa pensou-se também em aplicar as três avaliações neuropsicológicas no grupo controle, conforme foi instituída no grupo TDAH, entretanto, foi inviável pelo não comparecimento dos indivíduos. Quando o paciente se apresenta ao médico com um comportamento sugestivo de TDAH uma avaliação médica abrangente é necessária, tanto para confirmar o diagnóstico ou mesmo identificar outros distúrbios que o simulam. Na seleção da amostra os indivíduos foram avaliados quanto à existência de problemas ao nascimento, no crescimento e desenvolvimento, na aprendizagem, de distúrbios neurológicos e psiquiátricos, abuso e dependência de substâncias e distúrbios comportamentais graves. Além disto, eles foram selecionados através de uma triagem inicial utilizando-se como instrumentos para medidas de desatenção e hiperatividade as escalas de avaliação de Conners e SNAP IV, nas versões para pais e professores (Barbosa & Gaião, 1997; MTA Cooperative Group, 1999). Posteriormente foram submetidos à entrevista clínica abrangente para o estabelecimento do diagnóstico de TDAH observando os critérios do DSM IV, em conformidade com a literatura (Barkley, 1998; Rohde et al., 2001). Na suspeita de condições co-mórbidas de exclusão, avaliadas através do DSM IV o paciente foi excluído e encaminhado para o serviço especializado. As características sócio-demográficas dos grupos TDAH e controle não evidenciaram diferenças marcantes entre os grupos. Os indivíduos foram distribuídos por faixa etária, escolaridade, classe sócio-econômica e desenvolvimento puberal de Tanner. 187 DISCUSSÃO Uma característica na qual ocorreram diferenças foi a de gênero em que houve maior prevalência do sexo masculino no grupo TDAH e uma distribuição mais equilibrada no controle. Nas análises por faixas de idades de 7 a 11 anos e de 12 a 14 anos no grupo TDAH o sexo masculino foi mais prevalente, enquanto que no controle na faixa de maior idade houve um predomínio do sexo feminino. Este dado está em concordância com a literatura onde há maior prevalência do sexo masculino no TDAH (Williams, 1999). Quanto ao desenvolvimento puberal masculino ou feminino não houve diferenças entre os grupos. A média de idade variou de 9,4 a 9,8 anos nos grupos TDAH e controle respectivamente, semelhante a muitos outros estudos descritos na literatura que avaliaram funções cognitivas e outros aspectos do TDAH (Barnett et al., 2001; Casey et al. (1997). A escolaridade média foi equivalente nos dois grupos, no controle (3,56) e no grupo TDAH (3,4) anos, com maior prevalência nas 2ª e 3ª séries. A maioria das crianças do grupo TDAH foi proveniente de escolas particulares enquanto que no controle de escolas públicas, dos municípios de Vitória e Vila Velha. Uma das razões que explicam este fato foi a exclusão de indivíduos com TDAH em comorbidade com outras patologias, que foi mais freqüente nos alunos de escolas públicas do que nas particulares. Além disto, parte da amostra do grupo TDAH foi atendida na rede privada de saúde, onde a maioria estuda em escolas particulares. Já no grupo controle a concordância e aderência ao protocolo de pesquisa foi mais encontrada entre os alunos provenientes de escolas públicas o que facilitou a seleção dos componentes com as características desejadas. As classes sócio-econômicas mais prevalentes foram as B e C nos dois grupos. Ao pesquisar a prevalência dos tipos de TDAH na amostra encontramos que 68,6% dos pacientes apresentaram o TDAH do tipo combinado, 21,4% do tipo predominantemente desatento e 10% do tipo Hiperativo/Impulsivo. Resultados semelhantes foram encontrados por Rodhe et al. (2002) em 285 pacientes com TDAH do Programa de Desatenção e Hiperatividade do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (PRODAH), com 62,5% do tipo combinado, 26,3% do tipo desatento e 11,2% do tipo Hiperativo/Impulsivo. Outros estudos, usando avaliações 188 DISCUSSÃO metodológicas distintas, já documentaram resultados equivalentes de prevalência do TDAH em amostras clínicas (Carls e Mann, 2000, apud Andrade 2003). 5.2. Exames Complementares Os parâmetros clínicos laboratoriais foram realizados para avaliar as condições gerais e cardiovasculares dos participantes e excluir patologias que os impedissem de participar da pesquisa, uma vez que o TDAH por si só não é uma razão suficiente para se solicitar qualquer procedimento sorológico, radiológico, eletrofisiológico ou outro exame laboratorial. As indicações para estes e/ou outros exames deve se basear em indicações clínicas específicas. A base da avaliação no TDAH continua sendo uma anamnese meticulosa (Barkley, 1998; Morgan,1999). Entretanto, no tratamento a longo prazo com MFD, o fabricante (no “Physician’s Desk Reference”), recomenda a obtenção periódica de um hemograma completo, porque anemia, leucopenia e trombocitopenia podem estar associadas ao seu uso prolongado. Os resultados demonstraram que os principais índices hematimétricos e/ou leucométricos, não se apresentaram alterados nos dois grupos. Na análise bioquímica a glicemia no grupo TDAH encontrou-se mais elevada que no controle porém, sem relevância clínica, uma vez que os limites médios estão dentro da faixa de normalidade. As análises dos hormônios tireoideanos também se encontraram dentro dos limites normais. Alguns estudos investigaram a relação entre disfunção tireoideana como preditor de TDAH, mas foram inconclusivos (Fisher, 1998), e embora um distúrbio genético autossômico dominante raro, com disfunção tireóidea (Resistência ao Hormônio tireóideo) tenha sido associado ao TDAH (Dulcan, 1997; Fisher, 1998; Morgan,1999) a triagem rotineira não é recomendada na ausência de marcadores clínicos específicos. 189 DISCUSSÃO O ECG (40%) se mostrou normal em todos os casos em que foi feito. Este exame estaria indicado nos pacientes com TDAH com risco cardiológico ou com farmacoterapias combinadas potencialmente cardiotóxicas (Williams,1999). Os exames, oftalmológico e audiológico foram necessários antes da avaliação neuropsicológica uma vez que são imprescindíveis para uma boa interpretação dos resultados dos testes neuropsicológicos. Além disso, déficits nessas funções sensoriais podem determinar importantes dificuldades atencionais e hiperatividade (Rohde & Halpern, 2004; Goldstein & Goldstein, 2004). Os resultados encontrados evidenciaram integridades nas vias auditivas periféricas, e os erros de refração detectados ao exame oftalmológico foram corrigidos com o uso de lentes antes da avaliação neuropsicológica. 5.3. Efeitos colaterais de curto e longo prazo do MFD Evidências amplas em mais de 250 estudos bem controlados comprovam a eficácia e a segurança do MFD no tratamento de crianças e adolescentes com TDAH (Barkley, 1998, 2002; MTA Cooperative Group, 1999; Greenhill et al.,1999; Goldstein & Goldstein, 2004; Pastura & Mattos, 2004). Entretanto, devemos ter em mente que cada paciente é fisiológica e psicologicamente singular e pode responder aos estimulantes de maneira idiossincrásica. Por esta razão os pacientes devem ser monitorados cuidadosamente para seus efeitos benéficos e adversos. O perfil de efeitos colaterais relacionados ao uso do MFD encontrados neste estudo foi bastante semelhante aos descritos em outros amplamente documentados na literatura (Williams,1999; Greenhill et al.,1999 NIMH, 2003; Goldstein & Goldstein, 2004). A prevalência dos efeitos adversos também foi muito próxima aos resultados descritos por Goldstein & Goldstein (2004) de 20 a 50%. A maioria dos efeitos colaterais observados foi relacionada à dose e apareceu nos primeiros dias ou semanas de tratamento. Observou-se que 48,6% da amostra apresentaram efeitos colaterais e, nenhum passou de leve a moderada gravidade, o que está de acordo com a opinião comum de que os efeitos colaterais 190 DISCUSSÃO dos psicoestimulantes são dose-dependentes e diminuem ou desaparecem com o tempo ou com a redução da dose (Morgan,1999; Correia & Pastura, 2004). Os três efeitos colaterais mais comuns neste estudo foram diminuição do apetite (com perda ponderal), cefaléia e dor abdominal. A perda ponderal observada foi relativamente leve e os pacientes tiveram seus estados nutricionais monitorados nas entrevistas intermediárias e em curva de crescimento pondo-estatural, além de ter sido prescrito um suplemento protéico-calórico para minorar qualquer risco de deficiência nutricional e tranqüilizar os pais mais aflitos. Resultados semelhantes foram observados por Barkley et al. (1990 apud Pastura & Mattos, 2004), em um estudo duplo-cego controlado acerca da freqüência e severidade dos efeitos colaterais presumidamente associados aos psicoestimulantes, onde 50% da amostra apresentaram efeitos adversos sendo a redução do apetite, insônia, cefaléia e dor abdominal os mais encontrados. Quanto à insônia, o segundo efeito adverso mais relacionado aos psicoestimulantes, este não foi um dos mais freqüentes neste estudo, possivelmente porque a medicação tenha sido administrada em duas tomadas (pela manhã e no almoço) e evitada próximo ao final do dia. Uma porcentagem pequena de crianças tratadas com MFD (4,2%) desenvolveu tiques (piscar os olhos, franzir o nariz e fazer caretas) que diminuíram e/ou desapareceram com a redução da dose. Nestes casos o julgamento clínico requerer o balanceamento do relativo comprometimento do tique e a eficácia do tratamento com outros medicamentos e/ou tratamento psicossocial (Dulcan, 1997). Também foi observado que um paciente (1,4%) apresentou exantema (“rash”) cutâneo em vigência do MFD, entretanto, apresentou quadro respiratório viral agudo concomitante, não ficando bem estabelecida uma relação direta de causa e efeito. A pausa terapêutica nos finais de semana e férias escolares foi concedida aos pacientes com tiques, cefaléia recorrente e supressão do apetite com perda ponderal significativa devido ao tratamento. Neste estudo não foram observados os efeitos colaterais descritos em longo prazo para o MFD, como a desaceleração da curva de crescimento e redução na 191 DISCUSSÃO velocidade de crescimento, de acordo com a curva normal de crescimento, e também não foram observadas nas avaliações clínicas, alterações cardiovasculares (taquicardia, taquipnéia e hipertensão arterial) e o uso abusivo do agente. Muito embora alguns estudos no início dos anos 70 pareciam sugerir um retardo significativo de altura e de ganho ponderal em crianças tratadas com MFD por tempo prolongado, isto pode estar associado à própria doença. De fato, crianças com TDAH tratadas ou não com psicoestimulantes demonstraram diminuição na velocidade de crescimento comparada às crianças normais (Spencer et al. apud Dulcan, 1997). No estudo MTA documentou-se uma discreta redução da estatura (1 a 1,5 cm por ano) e do peso (1 a 2 kg por ano) (MTA Cooperative Group, 1999). Entretanto, estudos recentes sugerem que déficits de peso e no crescimento são retardos maturacionais transitórios associados ao TDAH, uma vez que a estatura final ou o alvo genético é preservado e a perda de peso inicial frequentemente retorna ao normal com a continuidade do tratamento (Barkley, 2002; Spencer, 2002). Embora, em geral os efeitos adversos cardiovasculares do MFD não sejam freqüentes, deve-se usar com cautela em pacientes com TDAH co-mórbidos com ansiedade (Tannock et al. apud Dulcan, 1997). O potencial de abuso do MFD é um risco mais teórico do que prático, uma vez que estudos retrospectivos e prospectivos não confirmaram esta hipótese. Há evidências inclusive de que o tratamento bem sucedido de crianças e adolescentes com TDAH parece ter efeito protetor no desenvolvimento posterior de abuso de substâncias (Fredman et al., 2001 ). Wilens (apud Barkley, 2002) verificou que os adolescentes portadores de TDAH que permaneceram tomando a medicação nos anos de adolescência apresentaram uma probabilidade significativamente mais baixa de uso ou abuso de substâncias se comparados a crianças portadoras de TDAH que não tomaram medicamentos durante a adolescência. Estes resultados dos efeitos adversos a longo prazo encontrados devem ser interpretados dentro do contexto das limitações do desenho experimental deste estudo. Assim para avaliar a segurança dos estimulantes a longo prazo, devemos também considerar outras fontes de infomação (Barkley, 2002). 192 DISCUSSÃO 5.4. Comparação das escalas de avaliação como parte de uma avaliação diagnóstica As escalas de avaliação no TDAH são recursos diagnósticos úteis no processo diagnóstico e no tratamento. Essas escalas conseguem capturar informações a um custo relativamente baixo e têm valor particular na assistência pediátrica, na qual o volume de pacientes é elevado e o tempo muito limitado para tomar decisões diagnósticas e terapêuticas eficazes. Nesse estudo, as escalas de Conners foram instrumentos úteis para detectar os sintomas de TDAH tanto na opinião dos pais quanto dos professores. A correlação entre as escalas Conners pais e professores foi positiva, mostrando ser um bom indicador da manifestação dos sintomas do TDAH no lar e na escola. Por outro lado, cruzando os resultados das escalas e o DSM-IV observamos que as escalas Conners para pais e professores foram eficazes na detecção do tipo combinado de TDAH, mas são insatisfatórias na detecção do tipo desatento. Esse resultado é explicado pelos itens utilizados na escala na avaliação do comportamento desejado, que priorizou os sintomas de hiperatividade. Portanto, de acordo com a proposta inicial as escalas de Conners para pais e professores foram satisfatórias para aferir as características desejadas em crianças e adolescentes com TDAH. Gaião & Barbosa (1997) descrevem que as escalas de Conners aqui utilizadas são instrumentos capazes de quantificar a conduta hipercinética com alta confiabilidade. As escalas SNAP IV foram eficazes na identificação do TDAH na opinião dos pais, mas, foram insatisfatórias na opinião dos professores. Porém, as discrepâncias entre os pais e professores não indica necessariamente que uma das fontes é inválida ou errônea, uma vez que, pode estar havendo diferenças nas demandas de tarefas e comportamentos entre os ambientes doméstico e escolar. A professora pode tolerar mais alguns comportamentos do TDAH por achar que o impacto no rendimento escolar é leve. Por outro lado, os pais preocupados, podem 193 DISCUSSÃO achar que o desempenho acadêmico da criança não é condizente com o seu potencial intelectual. A baixa correlação entre pais e professores na escala SNAP IV está dentro da faixa esperada na literatura. No estudo MTA (1999) os resultados obtidos com a utilização desta escala também mostraram baixa correlação entre as classificações dos pais e professores. Por fim, observamos que mesmo a escala SNAP IV que contém itens para a detecção dos diferentes tipos de TDAH, não sendo, portanto, específico apenas para a hiperatividade como a escala de Conners aqui empregada, não foi sensível para detectar o tipo desatento de TDAH. 5.5. Avaliação Neuropsicológica no TDAH 5.5.1. Eficiência Intelectual Testes psicométricos para avaliação da inteligência são partes importantes na maioria das baterias de avaliação neuropsicológicas (Mader et al., 2004). Informações sobre a inteligência global são frequentemente consideradas centrais no diagnóstico diferencial, no desempenho dos testes neuropsicológicos, no planejamento terapêutico e um fator preditivo específico da realização acadêmica (Barkley, 1998; Morgan,1999). Crianças muito inteligentes e portadoras de TDAH têm prognóstico completamente diferente de crianças com inteligência na faixa médio-inferior e comportamento agitado. No entanto, as medidas obtidas nos testes não devem ser utilizadas para diagnosticar a presença ou ausência do transtorno (Barkley, 1998; Benczik, 2002). Considerando a vasta utilização das Matrizes Progressivas de Raven como um instrumento com fundamentação teórica para uso em pesquisas, na investigação do desenvolvimento intelectual na escola e/ou em diagnósticos clínicos (Angelini et al., 1999), ele foi utilizado neste estudo como instrumento de avaliação do nível 194 DISCUSSÃO intelectual da amostra e na identificação de portadores de TDAH com deficiência mental considerados como fator de exclusão. As Matrizes Progressivas empregadas em conjunto com as Escalas de Vocabulário de Raven fornecem de um modo extremamente rápido e econômico, a maioria das informações significativas e úteis que podem ser obtidas pelo uso de testes de inteligência mais abrangentes. Ele está envolvido em operações de natureza dedutiva, que medem a capacidade de deduzir relações ou extrair novas soluções (“insights”) e informações daquilo que já é percebido ou conhecido (Angelini et al., 1999). Os resultados obtidos com a aplicação do Raven na amostra estudada mostrou que a maioria dos indivíduos nos grupos TDAH e controle apresentou capacidade intelectual média ou acima da média, preenchendo um dos critérios de inclusão previamente estabelecidos. Pequena diferença entre os grupos foi observada na faixa etária de 7 a 11 anos onde o grupo controle mostrou nível intelectual mais elevado que o grupo TDAH. Entretanto, estes resultados do Raven na faixa etária de 7 a 11 anos não parecem ser responsáveis por si só pelo desempenho acadêmico observado e/ou desempenho nos testes neuropsicológicos. De fato, segundo Angelini et al. (1999) as Matrizes Progressivas tem pouco valor preditivo de capacidade acadêmica geral. Se alguém desejar estimar a capacidade acadêmica no sentido mais limitado, a aplicação da Escala de Vocabulário, não aplicada neste estudo, é considerada uma medida de capacidade reprodutiva de maior validade preditiva. Isto mostra que as pessoas que são capazes de gerar novas soluções encontram muitas vezes dificuldades de traduzilas em palavras. Estas conclusões emergiram de estudos nos quais as Matrizes Progressivas e as Escalas de Vocabulário foram correlacionadas com testes completos de “Inteligência” (que são medidas de capacidade reprodutiva) como o “WISC” ou “Stanford-Binet”, onde os resultados evidenciaram correlações mais elevadas com as Escalas de Vocabulário (Angelini et al., 1999; Spreen & Strauss, 1998). 195 DISCUSSÃO Muito frequentemente o WISC III é utilizado na avaliação intelectual da criança com TDAH, pois proporciona muitas possibilidades de análise. Além do resultado quantitativo dos três QI- Verbal, Executivo e Geral, temos os índices de diferentes habilidades, ao se analisar grupos de subtestes que detêm uma semelhança neurofuncional, a saber: Compreensão Verbal (CV), Resistência à Distração (RD), Organização Perceptual (OP) e Velocidade de Processamento (VP). Além das habilidades cognitivas gerais, é investigada a habilidade em prestar a atenção, planejar-se, organizar-se, o raciocínio verbal, abstrato/visual e a memória. Para a amostra brasileira do WISC III, foi feito um estudo comparativo com o teste de Inteligência não Verbal Raven Especial, demonstrando que os dois testes são equivalentes na avaliação da inteligência geral, evidenciando um índice de validade, principalmente com correlações maiores com as escalas não verbais do WISC III (Execução e Organização Perceptual) (Pacheco, 2006). Entretanto, neste estudo o Raven, sendo um teste de fácil aplicação e interpretação, foi o escolhido para avaliar a inteligência geral, e, somente alguns subtestes do WISC III, como os de Códigos e Dígitos, foram utilizados para avaliar funções cognitivas específicas, comprometidas no TDAH. A bateria neuropsicológica aqui elaborada foi composta em sua maioria, por testes que priorizaram a avaliação das funções frontais. No nosso meio são raras as publicações utilizando-se o Raven como parte integrante dos protocolos para investigar aspectos específicos do TDAH. 5.5.2. Habilidades Acadêmicas: Leitura, Escrita e Aritmética Os resultados da avaliação do desempenho escolar pelo TDE mostraram comprometimento acadêmico significativo no grupo TDAH nos três subtestes examinados, ou seja, leitura, escrita e aritmética. Em relação à Escrita o grupo TDAH apresentou desempenho inferior comparável ao controle tanto por idades globais quanto por categorias de idades (7 a 11 anos e de 12 a 14 anos). Foram identificadas falhas importantes na produção escrita de palavras isoladas, dentre elas, erros ortográficos elementares, omissões 196 DISCUSSÃO de sílabas e inversões de letras e desorganização no traçado gráfico cujo domínio já deveria ter sido alcançado de acordo com o grau de escolaridade correspondente. No subteste Aritmética, o pior desempenho no grupo TDAH particularmente nas idades de 7 a 11 anos, mas, também por idades globais, mostrou dificuldades em operações básicas de adição, subtração, multiplicação e divisão, com a utilização de procedimentos de subtração em lugar de adição e vice-versa, omissão de passos nas operações de multiplicação e divisão além de maior lentidão para realizar cálculos. Muitos destes erros podem estar associados à dificuldade de prestar atenção, no uso de estratégias eficazes na resolução dos problemas e comprometimentos na coordenação vísuo-motora (Barkley, 1990; Benczik, 2002). Nos adolescentes não foram observadas diferenças de desempenho na comparação dos dois grupos. O desempenho de Leitura de palavras isoladas também foi inferior no grupo TDAH global e nas idades de 7 a 11 anos comparados ao controle. As crianças apresentaram leitura deficiente com erros por trocas e omissões. Entretanto, os adolescentes nos dois grupos não mostraram diferenças de desempenho no teste de leitura. No geral, o desempenho total no TDE mostrou comprometimento no grupo TDAH em todas as faixas de idades analisadas. Em relação ao gênero, não foram observadas diferenças substanciais de desempenho nas três modalidades examinadas, escrita, leitura e aritmética. Há vários estudos que sugerem que o TDAH está associado com um risco aumentado de baixo desempenho escolar, repetências, expulsões e suspensões escolares (Greenhill, 1992 apud Benczik & Bromberg, 2003; Tonelloto, 2003; Rohde, 2004). Frequentemente as crianças e adolescentes com TDAH enfrentam grandes problemas ao iniciar o processo de escolarização formal, no que se refere à aquisição da leitura, escrita e cálculo (Benczik, 2002; Tonelotto, 2003). Em geral o professor observa uma discrepância entre o potencial intelectual da criança e o seu desempenho acadêmico, o que pode ocorrer mesmo entre as crianças com inteligência superior à média. 197 DISCUSSÃO Conforme citado por Moojen et al. (2003) e também observado neste estudo, os problemas de atenção e com o controle dos impulsos interferem direta ou indiretamente na aprendizagem, tanto nas habilidades de leitura e escrita como nas de matemática, e é nesta última que as repercussões são mais evidentes e constituem-se numa realidade em sala de aula, constantemente citada por professores como de difícil abordagem e intervenção. As dificuldades com matemática, sobretudo quando envolvem procedimentos de cálculos, são comuns em crianças com TDAH pelas dificuldades em manter a atenção (Morgan, 1999). Entretanto, a leitura é uma das atividades que proporciona melhor avaliação da interferência de déficits atencionais no desempenho lingüístico (Moojen et al., 2003). A leitura é precedida de processamento visual dos sinais gráficos, tarefa que implica necessidade de atenção. Além disto, a freqüência, a familiaridade e a extensão das palavras favorecem seu rápido reconhecimento, mas, por outro, também explicam erros de leitura por trocas e omissões, caso a desatenção interfira na discriminação de palavras diferentes mas com imagens visuais semelhantes (Lent, 2001 apud Moojen et al., 2003). A avaliação das dificuldades de leitura no TDAH deve ser realizada sob vários ângulos de modo a evidenciar com clareza a existência de problemas especificamente lingüísticos (transtorno de leitura ou dislexia) e/ou a interferência da atenção na leitura. Observem que na avaliação pelo TDE foi usada somente a leitura de palavras isoladas (regulares e irregulares) buscando eliminar a interferência da interpretação e compreensão da palavra. Foi avaliada a capacidade da criança e/ou adolescente de decodificar palavras isoladas, independente do seu significado. No TDAH as dificuldades de leitura identificadas podem ser secundárias a problemas de memória de trabalho (ou operacional) e atenção que comprometem a aquisição das estratégias de leitura (Morgan, 1999; Moojen et al., 2003). A leitura e a escrita estão intimamente ligadas, porém uma pode estar comprometida e a outra não. Com freqüência a escrita da criança com TDAH está comprometida no seu aspecto grafomotor por alterações na coordenação fina e pela impulsividade. No TDE a escrita foi avaliada através do ditado de palavras onde nesta tarefa é fundamental uma boa memória de trabalho, uma vez que iniciada a 198 DISCUSSÃO escrita nada pode ser repetido. Avalia-se assim a capacidade de retenção da palavra a ser escrita a partir de um estímulo auditivo (alça fonológica da memória de trabalho). Por fim, é oportuno comentar que nem todo indivíduo com TDAH apresenta comprometimento de desempenho acadêmico. As dificuldades atencionais e executivas podem ser compensadas por um nível intelectual elevado, pelo interesse ou condições didáticas adequadas (Moojen et al., 2003). Diante do exposto, apesar da relevante escassez de instrumentos voltados para a avaliação da aprendizagem apropriados e construídos para a população brasileira, e das limitações do TDE na identificação de outros prejuízos de desempenho acadêmico comumente descritos no TDAH, necessitando de complementação com avaliações mais abrangentes, o TDE foi um teste de administração simples, de fácil aplicação e que mediu de maneira confiável as habilidades acadêmicas de crianças com TDAH nas áreas de escrita, leitura e matemática. 5.5.3. Atenção A atenção pode ser comparada à porta de entrada do funcionamento cerebral, e, por isso, déficits em seu funcionamento podem comprometer outras áreas, principalmente, a memória e a capacidade de aprendizagem. É uma função que envolve várias áreas cerebrais (Lezak, 1995; Posner, 1990) e que sofre interferências de vários aspectos como motivação, auto-estima, ansiedade, humor, fadiga, metabolismo neuroendócrino, estresse, entre outros (Pacheco, 2006). Testes neuropsicológicos para atenção são frequentemente empregados na avaliação de crianças com TDAH, embora não seja obrigatório (Mattos et al., 2004; Doyle et al., 2000). Baseados em trabalhos de revisão na literatura (Barnett et al., 2001; Barkley et al., 2001) foram escolhidos alguns domínios funcionais que são importantes no TDAH e parecem ser marcadores indiretos de sistemas cerebrais fronto-subcorticais. 199 DISCUSSÃO Eles incluem funções cognitivas de atenção, memória operacional, flexibilidade mental, controle mental e auto-controle. Os testes usados para avaliar a atenção foram os testes de dígitos, Trilhas A e B, Códigos B, teste de substituição de dígitos para símbolos, TAVIS 3R, d2 e Blocos de Corsi. Usualmente, os testes neuropsicológicos empregados na avaliação dos processos cognitivos medem mais de uma função mental, porque requerem uma rede neuronal amplamente distribuída e interligada, de modo que a interpretação do comprometimento no desempenho do teste pode estar ocorrendo por vários motivos (Spreen & Strauss, 1998). Cumpre mencionar que a interpretação dos resultados obtidos em testes neuropsicológicos devem ser ponderados ante a história clínica minuciosa, a observação direta do comportamento geral, a existência de grupos normativos e as condições de realização do teste. 5.5.3.1. Velocidade psicomotora O teste de Códigos B da bateria WISC (“Wechsler Intelligence Scale for Children”) (Mayes et al; 2006) é utilizado para avaliar a velocidade de resposta motora, coordenação vísuomotora e atenção (seletiva e sustentação) (Lezak, 1995; Spreen & Strauss, 1998; Joy et al., 2004). Este teste, além dos dígitos e do “Stroop” são os mais referidos na literatura na avaliação de crianças com TDAH. Neste estudo, no teste de Códigos B o grupo TDAH mostrou prejuízos significativos particularmente evidentes na idade global e de 7 a 11 anos. Essas crianças apresentaram menor número de substituições e de respostas corretas comparadas ao controle. O teste de Códigos, que envolvem a percepção de detalhes, é altamente dependente da atenção, assim sendo, tanto o componente motor quanto o atencional está sendo medido. Portanto, esses resultados podem significar a 200 DISCUSSÃO presença de dificuldades na velocidade motora e na atenção seletiva e sustentada necessária durante o curso da tarefa, além de dificuldades no controle da impulsividade comumente observado nestas crianças. Os resultados encontrados estão em concordância com a maioria dos estudos já publicados (Mayes et al; 2006; Seidman et al., 1997, 2000), que evidenciaram significativo comprometimento de crianças e adolescentes com TDAH neste teste. Entretanto, um estudo recente conduzido por Gomes et al. (2005) não detectou diferenças nas funções executivas e atencionais entre crianças e adolescentes com TDAH e controle. O teste de substituição símbolos/dígitos assim como o de Códigos é um teste de rastreamento visual, de velocidade motora e também altamente dependente da atenção. Avalia tanto, mecanismos sensóriomotores periféricos quanto à função mental propriamente dita, sendo uma medida sensível para detectar disfunções cerebrais (Lezak, 1995; Fisher, 1998). É um teste primariamente usado como medida de atenção que requer rápido processamento simbólico e habilidade de codificarem pares não-familiares de símbolos para dígitos (Fisher, 1998). Os resultados obtidos neste teste foram muito semelhantes aos descritos para os Códigos, onde houve uma diminuição significativa no número de substituições e nas respostas marcadas corretamente pelas crianças com TDAH em relação ao controle, caracterizando assim mais uma vez o comprometimento de processos atencionais e /ou a agilidade na resposta psicomotora. É possível que as modalidades seletiva e sustentada da atenção sejam aspectos mais envolvidos. Segundo Lezak (apud Gomes et al., 2005) a atenção alternada também parece estar implicada. Na avaliação de crianças com TDAH comumente é descrito mais o uso do teste de Códigos ao de substituição símbolos/dígitos para avaliar os aspectos cognitivos acima mencionados. 201 DISCUSSÃO 5.5.3.2. Sustentação, Seletividade e Alternância O teste TAVIS-3R, mais recentemente introduzido na avaliação da atenção de crianças e adolescentes, é um teste computadorizado de atenção visual, com a vantagem de fornecer medidas mais precisas de desempenho, associada a menor influência de erros que possam ser cometidos pelo examinador quanto à sua aplicação e correção (Alchieri, 2004; Duchesne & Mattos, 1997). Propõe-se a avaliar três modalidades da atenção: (1) sustentação, (2) seletividade e (3) alternância (Duchesne & Mattos, 1997). Conforme mencionado anteriormente, esse teste utiliza medidas de TR, EO e EA, na realização de três tarefas para avaliar estas diferentes modalidades da atenção. O TR é uma medida fundamental na avaliação da atenção, podendo significar uma medida relativamente direta de velocidade de processamento da informação (Lezak, 1995). Alguns pacientes aparentemente podem até parecer atentos em uma tarefa, mas apresentarem maior TR porque se distraem e demoram a responder (Duchesne & Mattos, 1997). Nesse estudo os resultados encontrados com crianças e adolescentes com TDAH no TAVIS, mostraram aumento significativo do TR no grupo TDAH, mais evidente na faixa etária de 7 a 11 anos, nas três tarefas envolvidas. Os adolescentes com TDAH, entretanto, não mostraram diferenças de TR comparados ao controle. A interpretação desses resultados sugere que velocidades mais lentas no processamento da informação são partes integrantes dos déficits atencionais comumente observados em crianças com TDAH. Curiosamente, o TR mais prolongado foi observado tanto em tarefas que envolveram seleção e sustentação do estímulo quanto naquelas que requereram a sua alternância. Está bem estabelecido que crianças e adolescentes com TDAH apresentam desempenho comprometido em testes que requerem sustentação do estímulo por períodos prolongados de tempo (Sonuga-Barkle et al., 2005). 202 DISCUSSÃO Entretanto, comprometimentos na atenção seletiva e na alternância do estímulo no TDAH, são questões controversas na literatura (Brendan, 2000; Carte et al.; 1996). Barkley (1998, 2002) refere que o problema de atenção nas crianças com TDAH estaria mais relacionado à sustentação do que seleção do estímulo para ser processado. Segundo ele, essas crianças não apresentam dificuldades para distinguir o importante do irrelevante naquilo que são solicitadas a fazer, ou seja, filtrar a informação não seria o problema. Segundo Barkley essas crianças também têm mais dificuldades para retomar a atenção à tarefa que estavam fazendo antes de sua atenção ser desviada (alternância), sendo isso secundário a déficits de inibição do comportamento, uma vez que a capacidade de voltar a manter a atenção na tarefa exige também esforço para inibir respostas frente a outros estímulos ao redor. Entretanto, outros estudos associaram o TDAH com déficits tanto na atenção seletiva auditiva quanto visual (Brendan, 2000). Os EO são considerados como medidas de desatenção e os EA parecem representar a impulsividade (Morgan, 1999; Riccio et al., 2001). No presente estudo os erros de omissão foram significativamente mais elevados no grupo TDAH global que no controle, particularmente nas tarefas que requereram atenção seletiva e alternada. Na faixa etária de 7 a 11 anos escores mais elevados de EO foram identificados somente nas tarefas que envolveram a atenção seletiva. Os adolescentes com TDAH não apresentaram diferenças em relação ao controle quanto aos EO cometidos. Assim sendo, os escores elevados de EO no grupo TDAH caracterizaram desatenção, tanto em tarefas que exigiram a identificação do estímulo alvo (atenção seletiva) quanto naquelas que requereram sua alternância (atenção alternada). Os EA foram significativamente mais elevados nas crianças de 7 a 11 anos com TDAH em relação ao controle, em tarefas que exigiram a sustentação do estímulo por tempo prolongado, caracterizando assim maior impulsividade nessa faixa etária. Resultados semelhantes já foram identificados por outros autores em 203 DISCUSSÃO estudos neuropsicológicos usando outros instrumentos de medida de impulsividade (Rubia et al., 2001). Em síntese, os resultados encontrados em crianças com TDAH no desempenho de tarefas no TAVIS evidenciaram que: (1) os déficits atencionais observados foram detectados em tarefas com demandas de atenção seletiva, sustentada e alternada, (2) o TR foi o parâmetro neuropsicológico mais consistente como identificador de déficit atencional, (3) os déficits atencionais caracterizados por elevação nos escores de EO também se mostraram sensíveis na diferenciação de crianças com TDAH do controle, (4) o TAVIS não conseguiu identificar déficits atencionais nem impulsividade no grupo adolescente com TDAH, (5) a interpretação dos EA como manifestação clínica de impulsividade só foi identificada nas crianças com TDAH em idade de 7 a 11 anos desempenhando tarefas de curso mais prolongado e (6) o perfil de comprometimento nas crianças (7 a 11 anos) com TDAH foi de TR prolongado nas tarefas 1, 2 e 3; escores elevados de EO na tarefa 1 e de EA na tarefa 3. O teste d2 avalia várias funções cognitivas, primariamente a capacidade de sustentação e seletividade da atenção, varredura visual e inibição rápida de respostas (Lezak, 1995; Spreen & Strauss, 1998). Esse teste permite avaliar separadamente a rapidez, a precisão, a atenção seletiva e sustentada, a oscilação no desempenho além dos erros cometidos. Escores baixos neste teste podem refletir desatenção, dificuldades na mudanças de respostas, lentificação motora ou ainda a negligência espacial unilateral (Lezak, 1995). O desempenho quantitativo (rapidez) das crianças e adolescentes com TDAH no teste d2 foi equiparado ao grupo controle, ou seja, eles conseguiram realizar o teste com a mesma rapidez que o controle. A média de acertos, no entanto, foi significativamente menor no grupo TDAH global que no controle, e embora este resultado não tenha sido observado de forma significante na análise por categorias de idades, as crianças e adolescentes com TDAH apresentaram desempenho inferior comparado ao controle, sugerindo 204 DISCUSSÃO assim comprometimento nas funções atencionais relacionadas à seletividade e sustentação. Na execução do teste embora a média da amplitude de oscilação no grupo TDAH tenha sido mais elevada que a do controle, não apresentou significância estatística. Portanto, as crianças e adolescentes com TDAH conseguem manter um ritmo de trabalho uniforme apesar de ligeiros comprometimentos observados na realização da tarefa. A média de erros foi significativamente mais elevada nas crianças e adolescentes com TDAH comparadas ao controle, mostrando que a acuidade no teste foi substancialmente prejudicada. Na análise desses erros foi encontrada que tanto as crianças quanto os adolescentes cometeram significativamente mais erros de omissões e também de adição comparado ao controle. A interpretação desses resultados aponta mais uma vez para déficits atencionais (escores elevados de erros de omissão) associados a índices maiores de impulsividade (escores elevados de erros de adição) no desempenho do teste. A distribuição desses erros ao longo da tarefa no grupo TDAH, em todas as faixas de idades mostrou que eles foram significativamente maiores em todos os segmentos, ou seja, no início (linhas 1 a 4), no meio (linhas 5 a 10) e também no fim (linhas 11 a 14) comparados ao controle. Portanto, muito embora os indivíduos com TDAH tenham mantido uma rapidez e um ritmo de trabalho uniforme equivalente aos do controle, foram encontrados prejuízos consistentes no desempenho, evidenciados por maior desatenção e impulsividade e, consequentemente por menor precisão no trabalho ao longo do teste. Além disso, os resultados sugerem que os níveis de desatenção e impulsividade foram constantes durante o curso da tarefa, uma vez que as distribuições dos erros ocorreram em todos os segmentos do teste. De um modo geral, o teste d2 mostrou-se sensível para identificar déficits de sustentação e de seletividade na atenção vísuoespacial, além de impulsividade 205 DISCUSSÃO nos indivíduos com TDAH. Prejuízos em testes de cancelamento em indivíduos com TDAH e em outras psicopatologias já foram documentados em outros estudos (Duschene et al., 2004). Fisher (1998) avaliando o perfil de desempenho em teste de cancelamento de indivíduos com TDAH com predomínio de desatenção e TDAH hiperativo/impulsivo encontrou escores mais elevados de erros e menor rapidez de execução no TDAH com predomínio de desatenção. O teste d2 em experiência clínica com pacientes portadores de TDAH foi usado no protocolo do grupo de Déficit de Atenção em Neuropediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), no qual se observou que é um teste que leva o sujeito rapidamente ao cansaço e, como conseqüência, á desistênciana execução. Ele exige muita atenção visual sustentada, mas também a memória opercional, uma vez que os padrões-alvo, que precisam ser cancelados, devem ser memorizados pelo sujeito, já que não estão presentes na folha de resposta. Os que conseguem completar a tarefa, nota-se um rendimento prejudicado, com pouca extensão na varredura visual e muitos erros por troca de sinais (Pacheco,2006). Ambos os testes TAVIS e d2 avaliam funções cognitivas semelhantes. Ressalte-se, no entanto, que o teste d2 parece ter melhor detectado as disfunções dos diferentes componentes da atenção no TDAH, com a vantagem de ser de fácil aplicação e não requerer equipamentos como o computador. Apresenta, no entanto, a desvantagem de ter uma correção manual laboriosa, em contraste com a correção imediata do TAVIS. Estas características devem ser consideradas ao se estabelecer estas avaliações na rotina clínica, especialmente quando as condições não forem favoráveis financeiramente. 5.5.4. Funções Executivas Funções executivas referem-se às habilidades cognitivas envolvidas no planejamento, iniciação, seguimento e monitoramento de comportamentos complexos dirigidos a um fim (Hamdan & Bueno, 2005). 206 DISCUSSÃO Foram selecionados os testes de Trilhas A e B e o teste de cartões de Wisconsin (WCST) para avaliar as habilidades cognitivas relacionadas às funções executivas. O teste de Trilhas é um dos testes neuropsicológicos mais utilizados e sensíveis à disfunções cerebrais e executivas (Lezak, 1995; Spreen & Strauss, 1998). Tanto o teste de Trilhas A quanto o B requer atenção visual, destreza manual motora e velocidade de processamento para sua execução. A parte B também exige capacidades de função executiva, como: manutenção de memória operacional e flexibilidade mental. O teste de Trilhas A e B mostrou-se sensível para identificar alterações neuropsicológicas no TDAH, que foi particularmente evidente nas idades global e de 7 a 11 anos. Os resultados revelaram que crianças com TDAH tanto executam o traçado de trilhas A e B em maior tempo quanto também cometem mais erros que o controle no desempenho do teste de Trilhas B. Entretanto, a qualidade na execução do teste de trilhas A no grupo TDAH foi equiparada ao controle nesta faixa etária. Os adolescentes por sua vez, não mostraram diferenças significativas de desempenho em relação ao controle, ainda que, na parte B do teste eles tenham cometido mais erros. Observa-se que embora nos dois testes o grupo TDAH tenha apresentado mais comprometimento que o controle, o grau de dificuldade foi maior no teste de Trilhas B. Possivelmente isto decorre do fato da parte B ser mais complexa que a parte A, não somente devido à interferência de mais estímulos visuais, exigindo mais percepção e controle da velocidade motora, como também por ser mais longa (Spreen & Strauss, 1998; Lezak, 1995). Além disso, os processos de mudança de estratégias e flexibilidade mental avaliados na Trilha B referem-se mais às funções executivas que são largamente descrita como disfuncional no TDAH (Barkley et al., 2001). O pior desempenho de 207 DISCUSSÃO crianças com TDAH no teste de trilhas A e B pode estar representando comprometimentos nos processos atencionais e na flexibilidade mental. Segundo (Pacheco, 2006), uma lentificação na execução e erros por respostas impulsivas e/ou falhas na ordem alternada (parte B), são típicos em pacientes com TDAH. Muitos até podem ter um desempenho normal esperado para a idade4 cronológica na parte A, mas tem comprometimentos na parte B, na medida em que há maior exigência neurofuncional de funções executivas. Conforme descrito por Fisher (1998), crianças com TDAH apresentam mais prejuízos na parte B do teste, evidenciados tanto por maior número de erros quanto pelo maior tempo na construção das trilhas. Chhabildas et al. (2001) comparando o desempenho neuropsicológico dos três subtipos de TDAH em testes que avaliam vigilância, inibição e velocidade de processamento (Trilhas) encontrou déficits significantes de velocidade de processamento nos TDAH com predomínio de desatenção e combinado, mas não no TDAH tipo hiperativo/impulsivo, mostrando que estes déficits estão muito relacionados com os níveis elevados de desatenção. O teste de cartões de Wisconsin (WCST) é largamente empregado na avaliação funcional dos lobos frontais (Spreen & Strauss, 1998). Segundo Sergeant et al. (2002 apud Lawrence et al., 2004) é um teste sensível para detectar as disfunções executivas comumente descritas no TDAH. Tradicionalmente é utilizado como uma medida de avaliação da habilidade de mudar e manter o “set”, de modificar estratégias incorretas e de formar conceitos abstratos, além da sustentação da atenção (Spreen & Strauss, 1998). Os resultados encontrados nesse estudo no teste de WCST não evidenciaram diferenças de desempenho estatisticamente significantes no grupo TDAH comparado ao controle nas variáveis estudadas (EP, ENP, TE, CATEGORIAS E FALHAS). Nossos resultados são opostos aos que já tem sido demonstrado por outros, que identificaram com o WSCT déficits de funções executivas em crianças e adolescentes com TDAH (Schmitz et al., 2002; Lawrence et al., 2004). 208 DISCUSSÃO Entretanto, deve-se considerar que a falha na detecção de diferenças significativas no desempenho deste teste entre os indivíduos do grupo TDAH e controle no presente estudo poderia ser atribuída ao reduzido tamanho da amostra limitando a resolução das análises estatísticas. A redução da amostra se deu principalmente por se considerar, de acordo com Spreen & Strauss, 1998, o teste adequado para avaliar funções executivas em indivíduos acima de 9 anos de idade. Desta forma, consideramos que esta análise não foi satisfatória no presente estudo, devendo o mesmo ser reconsiderado em estudos futuros. Em resumo, apesar de terem sido pesquisados somente alguns subdomínios das funções executivas envolvendo o executivo central, foram identificados no grupo TDAH disfunções executivas, com comprometimento em processos atencionais, de flexibilidade mental e resolução de problemas, e no controle de impulsos, especialmente pela aplicação dos testes de Trilhas A e B. 5.5.5. Memória Operacional Queixas referentes à memória são comuns em pacientes com TDAH. Em crianças, elas podem aparecer, por exemplo, como dificuldades para lembrar de conteúdos escolares aprendidos recentemente: o aluno estuda e memoriza a matéria às vésperas da prova, mas não consegue recuperar a informação no momento em que lhe é solicitado. Tais déficits geralmente acarretam prejuízo ao rendimento escolar e à organização das atividades diárias, comprometendo o funcionamento ocupacional e as relações interpessoais. O modelo de memória operacional aqui estudado é o proposto por Baddeley e Hitch (1974). Os componentes da memória operacional avaliados foram: (1) alça fonológica (teste de dígito; Lista Brasileira de Repetição de Pseudopalavras BCPR), (2) a alça vísuo-espacial (Blocos de Corsi) e (3) o controle executivo (Trilhas A e B, o WCST e a ordem reversa de dígitos). De acordo com o modelo de Baddeley e Hitch, 1974, a alça fonológica da memória operacional é especializada em processar quantidades limitadas de informações verbais. O teste de dígitos direto e inverso envolvem atenção auditiva, 209 DISCUSSÃO e adicionalmente dependem da capacidade de retenção na memória de curto prazo (Lezak, 1995). A ordem direta dos dígitos é uma medida muito relacionada com a atenção e com o armazenamento de informações na memória de curto prazo, enquanto que a ordem inversa com o processamento de informações complexas. No teste de dígitos os escores médios obtidos no grupo TDAH tanto na ordem direta quanto inversa foram significativamente inferiores aos do controle em todas as faixas de idades examinadas. Somente os adolescentes apresentaram resultados mais diferenciados, com desempenho semelhante ao controle na ordem direta e significante comprometimento nos dígitos inversos. Assim sendo, os prejuízos observados no grupo TDAH parecem envolver diferentes atividades mentais e sugerem déficits atencionais em seus aspectos verbais e déficits de armazenamento e de processamento de informações na memória de curto prazo. Essas alterações atencionais possivelmente estão relacionadas a dificuldades de manter-se concentrado diante de estímulos monótonos verbais. É freqüente, na repetição dos dígitos em ordem inversa, muito mais dependente das funções executivas, que a criança verbalize repetidas vezes a seqüência em ordem direta para poder inverter a ordem, ou seja, como a memória operacional falha, ele tem que se utilizar dessa estratégia para conseguir executar a operação de reversão mental. Esses resultados estão em concordância com outros já descritos na literatura, em que pacientes com diagnóstico de TDAH apresentaram significativo comprometimento no teste de dígitos (Seidman et al., 1997; Schmitz et al., 2002). Os Blocos de Corsi tanto na ordem direta quanto na inversa envolvem atenção vísuo-espacial e também dependem da capacidade de retenção na memória de curto prazo. A ordem inversa primariamente avalia a alça vísuo-espacial da memória operacional e requer do indivíduo a memorização da informação vísuoespacial para desenvolver posteriormente uma ação. Os resultados obtidos nos Blocos de Corsi evidenciaram significativo comprometimento no grupo TDAH global na ordem inversa do teste em relação ao 210 DISCUSSÃO controle. As crianças com TDAH (7 a 11 anos) apresentaram significativo comprometimento tanto na ordem direta quanto na inversa comparada ao controle. Os adolescentes, entretanto, apresentaram desempenho comparável ao controle. Esses dados sugerem déficits na atenção vísuo-espacial e na alça vísuoespacial da memória operacional no grupo TDAH, particularmente nas crianças. Essas crianças mostraram habilidades reduzidas para memorizar múltiplas localizações espaciais e consequentemente apresentando déficit no desempenho nos testes que dependem desta função. Os Blocos de Corsi são pouco utilizados em protocolos com TDAH, mas, resultados comprometidos sugerem déficits associados a alterações psicomotoras (hemisfério direito) que, frequentemente, estão presentes em crianças com TDAH. Barnett et al (2001), avaliando crianças com TDAH, encontrou resultados semelhantes aos obtidos nesse estudo, com comprometimento em funções executivas relacionados a déficits de memória operacional espacial, cuja magnitude não pareceu estar relacionada nem à idade nem à gravidade dos sintomas do TDAH. O teste BCPR foi usado para avaliar a alça fonológica da memória operacional. Este teste requer o armazenamento transitório de formas fonológicas não familiares e é considerado um bom marcador em déficits específicos de linguagem (Bishop et al. 1996, apud Santos & Bueno, 2003) e déficits na memória operacional fonológica. Examinando crianças e adolescentes com TDAH usando o teste BCPR foi encontrado um escore total de palavras pronunciadas corretamente inferior ao controle tanto no TDAH por idades globais quanto nas crianças (7 a 14 anos). Os adolescentes com TDAH tiveram desempenho semelhante aos controles. Nas três faixas de idades analisadas tanto no grupo controle quanto TDAH foi observada melhor retenção para as pequenas pseudopalavras (2 sílabas) do que para as mais longas (3, 4 e 5 síliabas). Esses dados mostram que a acuidade na repetição das pseudopalavras declina à medida que o número de sílabas vai 211 DISCUSSÃO aumentando, indicando dificuldades com longas pseudopalavras comparadas às pequenas. Isto é consistente com o relato de que as pseudopalavras são temporariamente retidas em um tempo e em um sistema de memória com capacidade fonológica limitada (Santos & Bueno, 2003). As crianças (7 a 11 anos) com TDAH apresentaram mais dificuldades significativas na repetição de pseudopalavras de 3 e 4 sílabas, e, os adolescentes com TDAH nas de 5 sílabas em relação aos respectivos controles. Embora as crianças (7 a 11 anos) com TDAH também apresentassem dificuldades na repetição de pseudopalavras com 5 sílabas, estes resultados não foram estatisticamente significantes. Um pior desempenho seria o comumente esperado, como o observado em crianças normais (Santos & Bueno, 2003). Curiosamente, Gathercole et al., 1994 (apud Santos & Bueno, 2003) também encontraram semelhantes resultados em um estudo com crianças normais, no qual foi utilizado o CNRep (“Children’s test of nonword repetition”). Estudos posteriores com crianças com TDAH são necessários para o esclarecimento desse dado. De um modo geral, os resultados do presente estudo estão de acordo com os observados por Santos & Bueno (2003) avaliando crianças pré-escolares normais de 4 a 10 anos no teste BCPR, onde tanto a idade, quanto a escolaridade e também o tamanho da pseudopalavra interferem no desempenho do teste. Além disto, estes autores observaram que essas crianças repetiam melhor as pseudopalavras que tinham alta similaridade com palavras reais do que as que apresentavam baixa similaridade. A média de erros encontrada no grupo TDAH também foi significativamente mais elevada que as observadas no grupo controle, particularmente nas idades de 7 a 11 anos. Nos adolescentes à média de erros foi equiparada a do controle. A média de erros por substituição e erros híbridos foram significativamente maiores no grupo TDAH global e na faixa de idade de 7 a 11 anos comparado aos respectivos controles. Os adolescentes com TDAH não apresentaram diferenças no mesmo perfil de erros comparados aos adolescentes controles. 212 DISCUSSÃO O predomínio de erros por substituição e ocasionalmente associados a erros de omissões já foram relatados por Gathercole et al. (1994, apud Santos et al., 2006) em crianças normais de 4 a 9 anos. No Brasil, Santos et al. (2006) investigando aspectos do desenvolvimento da alça fonológica da memória operacional pela análise dos erros no teste BCPR, em crianças normais de 4 a 10 anos, encontrou predomínio de erros de substituição. Desta forma, os déficits de memória operacional encontrados nos pacientes com TDAH podem ser entendidos como comprometimentos tanto na alça fonológica bem evidenciada pelos testes de expansão de dígitos e no teste BCPR quanto na alça vísuo-espacial, aqui investigada pelos Blocos de Corsi. Associados a isto, falhas no executivo central, anteriormente citadas, podem impedir pacientes com TDAH de sustentar um plano de ação em situações cotidianas e comprometer o desempenho da memória e o seu comportamento geral. 5.5.6. Memória de curto e longo prazo Os conceitos de memória de curto e de longo prazo surgiram a partir de observações que existe um sistema de memória efêmero, com capacidade de processamento de poucos itens e que decai rapidamente com o tempo (MCP), contraposto a outro com capacidade ilimitada de processamento e que persiste indefinidamente (MLP) (Atkinson e Shiffrin, 1968, apud Bueno & Oliveira, 2004). Desde que Nipher (1878, apud Silva, 1998) observou que a recordação de palavras do início (primazia) e do final de uma lista (recência) eram mais fáceis do que as intermediárias, vários estudos sobre a memória baseiam-se em curvas de posição serial. Desde então, Atkinson e Shiffrin (1968, apud Silva, 1998) observaram que a MCP estaria relacionado ao fenômeno de recência e a MLP ao de primazia. Utilizamos nesse estudo o Teste de Recordação Livre de Palavras, amplamente empregado em pacientes amnésicos, como instrumento de avaliação da memória de curto e de longo prazo. 213 DISCUSSÃO No presente estudo interessávamo-nos comparar: (1) o perfil de recordação de palavras em curva de posição serial em crianças e adolescentes com TDAH e controles, (2) o perfil de recordação das palavras nas listas pares e ímpares em crianças adolescentes com TDAH e controles, (3) o total de palavras evocadas em crianças adolescentes com TDAH e controles, e, (4) os erros de evocação em crianças adolescentes com TDAH e controles. Os resultados de recordação em curva de posição serial de listas de palavras pares, ou seja, com relacionamento semântico, e ímpares, sem relacionamento semântico, de crianças e adolescentes com TDAH e do controle nas três faixas de idade, mostraram um perfil de evocação muito semelhante, havendo maior evocação de palavras nas posições iniciais (1 – 3) e finais (13 – 15), sendo essas últimas palavras significativamente melhor evocadas que todas outras das demais posições. Deste modo, observaram-se claramente os fenômenos de primazia e recência, ou seja, a melhor recordação de palavras do início e do final de uma seqüência seriada de 15 palavras, respectivamente. Configura-se assim uma curva em “U”, onde a extremidade esquerda representa a primazia e a da direita a recência. A literatura demonstra que em indivíduos normais as palavras inicias e finais de uma seqüência de palavras são mais facilmente lembradas que as intermediárias, mesmo em listas sem relacionamento semântico. Um padrão diferente de curva foi observado por Baddeley e Warrington (1970) em pacientes amnésicos onde foi demonstrado um comprometimento no efeito primazia e intacto efeito recência e de porções intermediárias na curva serial, demonstrando assim déficits de MLP com MCP preservada. Observa-se que ocorreram diferenças nas evocações de palavras nas listas pares e ímpares. Nas listas pares, as palavras de posição central (7 – 9) foram melhor evocadas que nas ímpares nos dois grupos. Este fato se deve a maior retenção e evocação de palavras semanticamente relacionadas, como ocorreu com as palavras das posições 7 – 9 nas listas pares, o que não aconteceu nas listas ímpares. 214 DISCUSSÃO Estes dados demonstram que os dois grupos TDAH e controle se equivalem quanto à facilitação da retenção e evocação de palavras relacionadas semanticamente, e quanto ao perfil de curva de recordação em “U”. Destacam-se outras diferenças nos dois grupos, na evocação das listas pares e ímpares em outras posições na curva. As palavras iniciais foram melhor evocadas nas listas ímpares no grupo TDAH em todas as idades e também nos adolescentes controles, sugerindo com isso um feito primazia mais intenso nestas listas em relação às listas pares. Curiosamente, os adolescentes do grupo TDAH e as crianças do grupo controle apresentaram significativamente menor evocação de palavras nas listas ímpares nas posições 10 – 12 que nas listas pares. Comparando os grupos TDAH e controle em relação aos efeitos de primazia e de recência observamos que nas listas pares o grupo TDAH global e o de 7 a 11 anos apresentaram significativo rebaixamento nos efeitos primazia e recência em relação ao controle. Já os adolescentes com TDAH não mostraram diferenças em relação ao controle quanto a esses efeitos. Adicionalmente, no grupo TDAH global, foi encontrado diminuição significativa na recordação de palavras no meio (7 – 9) enquanto que os adolescentes nas posições 10 – 12 em relação aos controles. Também nas listas ímpares encontramos rebaixamento dos efeitos de primazia e recência, mais evidentes para as idades de 7 a 11 anos. Os adolescentes com TDAH não apresentaram diferenças em relação ao controle nos seus efeitos de recência e de primazia nas listas ímpares. Desta forma, os indivíduos do grupo TDAH, especialmente as crianças apresentaram rebaixamento nos fenômenos de primazia e recência em relação ao controle, apesar de demonstrarem um perfil de retenção e evocação de palavras em curva de posição serial preservados. De um modo geral, o total de palavras recordadas no grupo TDAH foi menor que no controle, especialmente nas crianças, indicando assim prejuízos nos processos de retenção e evocação da informação. Apesar disso, os erros cometidos na evocação das palavras pelos indivíduos com TDAH não foram diferentes dos observados no grupo controle. 215 DISCUSSÃO Esses dados demonstraram que: (1) os grupos TDAH e controle apresentaram um perfil semelhante de retenção e de evocação das palavras em listas com relacionamento semântico e sem relacionamento semântico; (2) nos dois grupos foram observados os fenômenos de primazia e recência em listas de palavras com e sem relacionamento semântico, (3) apesar de terem preservados o perfil de retenção e de evocação de palavras nos dois tipos de listas, houve rebaixamento dos efeitos de primazia e de recência no grupo TDAH especialmente nas crianças em relação aos controles; demonstrando assim déficits nas memórias de longo e de curto prazo nesses indivíduos, entretanto, esse comprometimento não se observa nos adolescentes com TDAH, (4) tanto o grupo TDAH quanto o controle se beneficiaram do uso de estratégias de associação semântica para facilitar a memória, ficando evidente, com o aumento de evocações das palavras em posições centrais nas listas com relacionamento semântico, (5) entretanto, no grupo TDAH, ainda que a estratégia de associação semântica tenha sido preservada, houve uma redução da quantidade de palavras evocadas comparado ao controle, corroborando a sugestão da existência de deficiências da memória, possivelmente de longa duração, no TDAH (6) o fenômeno de primazia foi mais intenso nas listas ímpares comparadas às pares em ambos os grupos, (7) no geral, o total de palavras evocadas pelo grupo TDAH nas duas listas foi menor que o controle, especialmente nas crianças, mais uma vez sugerindo a deficiência na retenção de informações no TDAH e (7) apesar disso, os erros na evocação de palavras no grupo TDAH foi semelhante aos do controle, sugerindo que a qualidade de execução do teste estaria preservada no TDAH. Portanto, estes resultados sugerem que há prejuízos na quantidade de retenção e evocação de informações mantidas em um armazenamento de memória de curta e de longa duração sem, contudo, haver prejuízo na acuidade destas funções no TDAH. Desta forma, os resultados aqui apresentados demonstram que além dos prejuízos atencionais e da memória operacional já descritos na literatura, os sujeitos com diagnóstico de TDAH, sobretudo as crianças de 7 a 11 anos de idade, apresentam também prejuízos na retenção e evocação de informações em memórias de curto e longo-prazo, estando todas estas funções frontais intimamente 216 DISCUSSÃO relacionadas aos processos de aprendizagem e conseqüentemente ao menor rendimento escolar que é característico nesta condição patológica. Estas evidências neuropsicológicas, aliadas à avaliação clínica adequada e à percepção de pais e professores por meio de escalas apropriadas, constituem-se em extraordinárias ferramentas no auxílio diagnóstico do TDAH. Na interpretação desses resultados deve-se considerar que, nos transtornos onde estão envolvidos áreas dos lobos frontais, como no TDAH, o comprometimento da atenção e das funções executivas, poderá provocar alterações secundárias de memória. Portanto, eventuais alterações percebidas, podem estar associadas à falhas na utilização do recurso mnêmico. Por exemplo, o controle inibitório, ou seja, a capacidade de inibir respostas irrelevantes à tarefa, que se encontra prejudicado em alterações frontais, pode interferir significativamente no processo mnêmico (Lezak, 1995). Segundo Izquierdo 2002, tanto as memórias de curto quanto a de longo prazo, dependem do prévio processamento das informações pela memória operacional, que determina o tipo e a quantidade de informações que serão “fixados” nos sistemas de curta e de longa duração. Sabe-se que as regiões do CPF onde se realiza o controle executivo parecem governar as manipulações necessárias à codificação e recuperação da informação, isto é, as manipulações que constituem a memória de longo prazo. Possivelmente pela alocação apropiada de recursos atencionais, julgamento temporal e espacial, seleção de estímulos, inibição de interferências e outras funções executivas (Bueno e Oliveira, 2004). O grande número de conexões entre o córtex pré-frontal e outras regiões cerebrais, inclusive o hipocampo e o lobo temporal, explica a importância dos lobos frontais nas funções associadas à memória. Segundo Cummings 1993, dos circuitos paralelos fronto-subcorticais que envolvem os lobos frontais, estriado, globo pálido e tálamo, especialmente as lesões do circuito dorsolateral e das estruturas correlatas estão associadas aos déficits de memória, caracterizados principalmente por 217 DISCUSSÃO pobreza na recuperação de dados armazenados (Rocha, 2004). Assim sendo, considerando o TDAH como uma síndrome disexecutiva com disfunções no circuito dorsolateral, o comprometimento da memória de longo prazo também pode estar associado a uma ineficiente evocação da informação. Portanto, os déficits de memória de curto e longo prazo identificados no TDAH podem ser entendidos, sobretudo, como déficits de memória operacional ou falhas no controle executivo sobre a atividade mnésica, mais do que como alterações primárias nos processos de memória propriamente ditos. Esses déficts podem estar relacionados tanto a uma aprendizagem inicial ineficiente quanto a uma recuperação também ineficiente. Num estudo realizado por Kaplan et al.,1998, ficou demonstrado que os déficits atentivos no TDAH comprometeriam a aprendizagem inicial da informação, mas não a retenção de longo prazo do material aprendido. Entretanto, é oportuno considerar que a heterogeneidade da doença torna imprescindível em estudos posteriores, o uso de instrumentos mais abrangentes de avaliação neuropsicológica da memória ou mesmo de neuroimagem, para esclarecer os déficits mnêmicos identificados em pacientes com TDAH. 5.6. Efeitos do metilfenidato sobre as funções cognitivas A eficácia dos psicoestimulantes no controle dos sintomas centrais do TDAH está bem estabelecida na literatura (Solanto, 1998; Greenhill et al., 1999; MTA, 2001; Conners et al., 2002). Os estudos que avaliaram o efeito do tratamento com MFD em curto prazo mostraram boa eficácia e segurança (Szobot et al., 2003). Nesse estudo o tratamento por doze meses com MFD mostrou resultados satisfatórios de eficácia e segurança em crianças e adolescentes com TDAH. Estudos neuropsicológicos também têm evidenciado efeitos positivos do MFD sobre as funções cognitivas (Tannock et al.; 1995; Baldwin et al., 2004). Entretanto, os efeitos dos psicoestimulantes sobre as funções cognitivas, habilidades 218 DISCUSSÃO acadêmicas, comportamentais e sociais variam entre os indivíduos (AACAP, 1997). Embora, a maioria dos estudos tenha encontrado uma relação dose-resposta linear, a curva dose-resposta individual varia em sua forma. Para uma criança em particular a dose que produz melhora em uma área de funcionamento pode não apresentar efeito em outra. E o mais intrigante é que o efeito do psicoestimulante pode diferir entre medidas até no mesmo domínio, p.ex. aritmética e leitura (AACAP, 1997). Assim sendo, ao avaliar os efeitos dos psicoestimulantes deve ser considerado este fator. De um modo geral, as funções cognitivas e o comportamento melhoram com o aumento da dose, dentro do intervalo terapêutico usual. Volkow et al., 2002; têm documentado que doses terapêuticas do MFD bloqueiam mais de 50% dos DTA no cérebro humano, aumentando significativamente a DA extracelular, e, esse efeito parece ser modulado pela taxa de liberação de DA. Estes autores argumentam que os efeitos terapêuticos do MFD são em parte devidos a amplificação de sinais de DA, e que a variabilidade de respostas também se deve a diferenças no tônus dopaminérgico. Considerando que a hipofunção dopaminérgica pode ocorrer no TDAH (Sagvolden et al., 2000), o efeito inibitório do MFD sobre os mecanismos centrais de recaptação de NA e de DA (Solanto, 1998; Di Chiara, 1995; Arnsten, 1998; Barnett et al, 2001) explicaria em parte a melhora nos déficits cognitivos e nas disfunções executivas observadas nesta patologia (Riesgo et al., 2004). Entretanto, tanto a DA quanto a NA são importantes moduladores do sistema atencional (Solanto, 1998; Sergeant et al., 2003). Há evidências da relação entre a acetilcolina / orientação e atenção seletiva; NA / vigilância e atenção sustentada e DA / controle executivo (Sergeant et al., 2003). Além disso, a DA pode influenciar algumas, mas não todas as funções cognitivas mediadas pelo CPF. Na compreensão dos efeitos do MFD sobre o desempenho cognitivo de crianças com TDAH, é importante considerar quais funções cognitivas estão sendo influenciadas pela medicação, ou seja, o aumento do efeito dopaminérgico e noradrenérgico estaria agindo em aspectos específicos da memória operacional ou o aumento do efeito noradrenérgico estaria alterando o nível de vigilância, e, 219 DISCUSSÃO resultando assim, em uma melhora cognitiva geral. As evidências atuais sugerem que esses efeitos vão depender do tipo específico de função cognitiva que está sendo usada, de diferenças individuais e de possíveis interações entre a tarefa e a rede neuronal cortical influenciadas por esses neurotransmissores (Sergeant et al., 2003). 5.6.1. Atenção Os efeitos do MFD sobre as funções atencionais foram medidos observando-se o desempenho de crianças e adolescentes com TDAH sob tratamento com MFD em testes neuropsicológicos para avaliação da atenção. Os efeitos do MFD no teste de Códigos B em crianças e adolescentes com TDAH induziram aumentos progressivos de desempenho ao longo de 12 meses de tratamento, identificados tanto pela elevação nos escores totais quanto nos de respostas corretas. Aos 6 meses de tratamento já identificava-se uma resposta terapêutica eficaz em relação ao início do tratamento nas três faixas de idades avaliadas, e aos 12 meses o desempenho dos sujeitos foi equiparado ao do grupo controle da primeira parte do estudo. Estes resultados sugerem que o MFD melhora a velocidade de resposta motora e beneficia o controle da impulsividade, bem como a atenção seletiva e sustentação da atenção, necessárias ao bom desempenho nesse teste. É necessário pontuar a interferência da aprendizagem sobre o desempenho desse teste. Segundo Lezak (1995) em uma amostra de jovens controles foi encontrado 7% de aprendizagem no re-teste após 15 meses de seguimento. No entanto, ainda segundo Lezak (1995), nenhum efeito de prática foi identificado em 3 meses, quando o teste foi aplicado por quatro vezes a intervalos de uma semana. É descrito que uma resposta motora mais lenta que naturalmente aparece com a idade parece ser a variável mais importante contribuindo nas diferenças de idade no desempenho desse teste (Lezak, 1995). Como descrito anteriormente, nesse estudo os sujeitos foram comparados por faixas de idade, e, embora as 220 DISCUSSÃO análises aos 12 meses tenham sido efetuadas por idades globais, em função da redução na amostra, houve expressiva representação das crianças (n = 21) e pouca dos adolescentes (n = 3). Portanto, possivelmente os resultados obtidos nas avaliações aos 12 meses sejam mais representativos do desempenho das crianças. O efeito da MFD sobre a velocidade de resposta motora (Barkley, 1998), impulsividade (Tannock et al., 1995b, apud Greenhill et al, 1999) e atenção seletiva e sustentada (Solanto, 1998), tem sido documentado na literatura com respostas terapêuticas equivalentes às observadas nesse estudo. No teste de substituição símbolos/dígitos os resultados dos efeitos do MFD foram muito semelhantes aos obtidos no teste de Códigos. Aos 6 meses de tratamento as crianças e também os adolescentes com TDAH já apresentavam expressiva melhora no desempenho manifestada tanto pelo aumento na rapidez de execução quanto na sua precisão. Essa melhora no desempenho foi progressiva ao longo dos 12 meses de tratamento, e curiosamente, com 6 meses já era equivalente ao desempenho do controle e aos 12 meses foi levemente superior. Deste modo, esses dados são coerentes com os obtidos no teste de Códigos e reforçam as observações de que o MFD melhora consideravelmente a resposta motora, a atenção seletiva e sustentada requerida durante o teste. Os efeitos do MFD no teste TAVIS 3R aos 6 meses de tratamento mostrou, de um modo geral, que houve melhora significativa nas três variáveis analisadas no teste (TR, EO, EA) comparadas ao início do tratamento, com algumas particularidades inerentes a cada faixa etária que serão comentadas a seguir. Assim sendo, no grupo TDAH na avaliação global e nas crianças (7 a 11 anos) o MFD produziu significativa diminuição no TR nas três tarefas do teste. Nos adolescentes o MFD reduziu significativamente o TR nas tarefas com demandas maiores de atenção seletiva (tarefa 1) e atenção sustentada (tarefa 3). Os EO mostraram-se sensíveis aos efeitos do MFD particularmente nas idades de 7 a 11 anos, ocorrendo diminuição significativa desta variável nas tarefas 221 DISCUSSÃO 1 e 2 tanto na idade por análise global quanto nas crianças. Entretanto, nos adolescentes este efeito não foi observado. O efeito do MFD sobre os EA foi semelhante aos EO, com diminuição significativa dos erros nas tarefas 1 e 2. Nos adolescentes o MFD não mostrou efeito sobre os EA. Curiosamente, na tarefa 3 nas três faixas de idade avaliadas tanto os EO quanto os EA não foram sensíveis ao efeito do MFD. Nos adolescentes e também no grupo por idade global, tanto os EO quanto os EA na tarefa 3, já se encontravam muito baixos antes do tratamento, não constatando assim o efeito do tratamento. Entretanto, nas crianças (7 a 11 anos) a resposta insatisfatória do MFD especialmente sobre EO (alterado antes do tratamento), possivelmente seja conseqüência das exigências da própria tarefa, projetada com o propósito de mensurar por quanto tempo o indivíduo consegue sustentar nela o foco atencional. Nesse tipo de tarefa o TR mostrou-se uma medida mais sensível ao efeito do MFD. Curiosamente, nos adolescentes o MFD diminuiu o TR nas tarefas 1 e 3, quando já não havia alteração desta variável antes do tratamento, quando comparado ao controle. Esse resultado é consistente com as observações de que o MFD também melhora o desempenho de indivíduos sem déficits primários na atenção (Solanto, 1998). Portanto, as alterações atencionais identificadas nos indivíduos com TDAH melhoraram com o tratamento por 6 meses com MFD. Analisando os efeitos do MFD ao longo de 12 meses de tratamento no TDAH por idades globais foi encontrado melhora progressiva nos parâmetros das três variáveis estudadas. Entretanto, o TR foi a variável mais sensível aos efeitos do MFD com melhoras significativas em relação ao início e aos 6 meses de tratamento, tendo os indivíduos com TDAH apresentado TR equivalente ao do controle. Os efeitos do MFD sobre os EO foram mais expressivos nos indivíduos com TDAH durante a execução da tarefa 2, elevando o desempenho dos indivíduos com TDAH para níveis até superiores aos do controle. O tratamento com MFD também diminuiu significativamente os EA 222 DISCUSSÃO durante os 12 meses de tratamento, especialmente nas tarefas com maiores demandas de atenção seletiva e alternada. Em resumo, esses resultados indicam que o MFD foi eficaz no controle das alterações neuropsicológicas evidenciadas no TAVIS, revertendo os déficits atencionais em tarefas que exigiram atenção seletiva (tarefa 1), alternada (tarefa 2) e sustentada (tarefa 3). Resultados equivalentes foram encontrados por Riccio et al. (2001) utilizando como instrumento de medida o Teste de Desempenho Contínuo (“Continuous Performance Test” - CPT), amplamente empregado em pesquisas envolvendo o TDAH, para identificar tanto a impulsividade quanto os déficits na atenção seletiva e sustentada. No teste d2, o tratamento com MFD por 6 meses mostrou resultados satisfatórios, sendo eficaz no controle dos déficits neuropsicológicos previamente identificados. Assim sendo, identificamos melhora na rapidez, na precisão, na seletividade e sustentação da atenção na execução do teste, além de maior controle da impulsividade, nos indivíduos com TDAH em todas as idades examinadas. Esses resultados foram mantidos nas análises dos efeitos do MFD aos 12 meses, inclusive com melhora progressiva de desempenho. Portanto, o perfil de eficácia do MFD no controle dos déficits neuropsicológicos observados permaneceu estável no período de 12 meses de tratamento. Em resumo, esses resultados sugerem que o MFD melhora significativamente a atenção seletiva, sustentada, a alternância da atenção e a velocidade de resposta motora em crianças e adolescentes com TDAH, revertendo os déficits atencionais identificados antes do tratamento com o psicoestimulante. 5.6.2. Funções Executivas Os efeitos do MFD sobre as funções executivas medidos pela análise de desempenho no teste de Trilhas mostraram melhora significativa no grupo TDAH em todas as idades examinadas, constatados pelo menor tempo de execução do 223 DISCUSSÃO traçado tanto na parte A quanto B do teste e pelo menor número de erros cometidos na parte B, aos 6 meses de tratamento. As avaliações aos 12 meses constataram progressiva melhora de desempenho nos parâmetros do teste e são consistentes com os resultados obtidos aos 6 meses de tratamento. Flexibilidade cognitiva e atenção são funções cognitivas comumente avaliadas nesse teste e foram sensíveis aos efeitos do MFD. Outros estudos já documentaram melhora nas funções executivas com o tratamento com MFD medidos por testes neuropsicológicos (AACAP, 1997; Schmitz et al., 2002). Embora não tivessem sido identificadas diferenças entre os grupos TDAH e controle no WCST, conforme descrito anteriormente, o tratamento com MFD parece ter melhorado o desempenho no teste, constatados pelo aumento significativo de categorias atingidas e pela diminuição de erros totais e erros não perseverativos obtidos após 6 meses de tratamento. Os efeitos do MFD aos 12 meses de tratamento mostraram-se eficaz em reduzir os erros perseverativos e o total de erros, além de aumentar o número de categorias atingidas, mostrando assim maior flexibilidade mental e facilidade no uso de estratégias para alcançar a meta. Portanto, esses dados sugerem que o MFD melhorou os déficits de funções executivas identificadas nos indivíduos com TDAH. 5.6.3. Memória Operacional Os efeitos do MFD no teste de dígitos mostraram, de um modo geral, que houve melhora significativa no desempenho dos indivíduos com TDAH durante os 6 meses iniciais de tratamento. As elevações dos escores no teste de dígito direto observado em todas as faixas de idades e do inverso identificado no grupo TDAH por idade global indicaram melhora nas funções atencionais e no armazenamento dos itens na memória de curto prazo. Esses resultados são consistentes com outros já descritos que referem melhora de desempenho em testes que avaliam a memória operacional em crianças tratadas com MFD (Tannok et al., 1995; Barnett, et el.,2001). 224 DISCUSSÃO Aos 12 meses o MFD melhorou significativamente o desempenho dos indivíduos tanto na ordem direta quanto inversa. Portanto, esses resultados sugerem que o MFD facilita o armazenamento de informações na memória operacional dos indivíduos com TDAH. Nos Blocos de Corsi, o tratamento por 6 meses com MFD aumentou significativamente a retenção de informações de natureza vísuo-espacial, constatados pela elevação dos escores tanto na ordem direta quanto inversa do teste, especialmente nas crianças. Entretanto, o MFD não modificou o perfil de desempenho dos adolescentes após 6 meses de tratamento. Nas avaliações feitas com 12 meses foi observado melhora significativa na ordem direta do teste. Portanto, o tratamento com MFD parece melhorar os déficits de memória operacional espacial em crianças com TDAH. Os efeitos benéficos do MFD sob a memória operacional vísuo-espacial avaliados em testes neuropsicológicos também têm sido documentado na literatura (Barnett et al., 2001). No desempenho do Teste de repetição de pseudopalavras (BCPR) foi observado que já aos 6 meses de tratamento com o MFD houve uma melhora substancial na quantidade de repetição correta de pseudopalavras, notadamente das maiores (3, 4 e 5 sílabas) quando comparadas ao início do tratamento, na análise global, mas principalmente nas crianças com TDAH. Este melhor desempenho se manteve na avaliação de 12 meses, tendo se atingido o perfil de desempenho do grupo controle da primeira parte do estudo tanto aos 6 quanto aos 12 meses de tratamento com o MFD. Também houve redução significativa da quantidade total de erros cometidos na repetição das pseudopalavras, já aos 6 meses de tratamento, porém sendo ainda menor aos 12 meses quando se equiparou ao desempenho do grupo controle observado na primeira parte do estudo, observando-se uma redução dos erros de substituição, de exclusão e de erros híbridos aos 6 e, principalmente, aos 12 meses de tratamento com o MFD. 225 DISCUSSÃO Portanto, considerando-se que este teste avalia fundamentalmente a memória operacional em sua alça fonológica, pode-se sugerir que com 6 meses de tratamento o MFD melhorou esta função cognitiva, principalmente nas crianças com TDAH, revertendo os déficits observados no início do tratamento, mantendo-se estável aos 12 meses de tratamento. Estes dados são pioneiros, pois não há ainda na literatura estudos mostrando os benefícios do tratamento farmacológico do TDAH sobre a memória operacional avaliada pelo teste de pseudopalavras. Em conjunto, o melhor desempenho observado nos testes de dígitos, de blocos de Corsi e da repetição de pseudopalavras após 6 e 12 meses de tratamento com o MFD sugerem que o tratamento farmacológico com este psicoestimulante facilitou o processamento da memória operacional em ambas as alças fonológica e visuo-espacial. 5.6.4. Memória de curto e longo prazo No Teste de recordação livre de palavras foi observado aumentos significativos da recordação das três primeiras e três últimas palavras das seqüências de 15 palavras das listas pares e impares, na análise global, porém destacando-se para as crianças com TDAH, já aos 6 meses de tratamento com o MFD. Ressalte-se que houve também um aumento significativo da recordação de palavras associadas semanticamente nas listas pares principalmente nas crianças com TDAH. Houve também aumento significativo da recordação de palavras no penúltimo bloco, ou seja, nas posições 10 a 12, na análise global e nas crianças com TDAH. Na análise aos 12 meses de tratamento também se evidenciaram o maior número de palavras recordadas principalmente no início (primeiras 3 palavras) das listas pares e ímpares, mas também no final (3 palavras finais) da seqüência de 15 palavras para as listas impares. 226 DISCUSSÃO Destaque-se, no entanto, que o aumento da recordação das palavras associadas semanticamente nas listas pares se apresentaram aos 6 e aos 12 meses de tratamento com o MFD nas crianças e adolescentes com TDAH. Estes resultados demonstram que houve uma melhora no armazenamento e/ou recuperação (evocação) das palavras iniciais e finais, conferindo uma melhora nos efeitos de primazia e recência, respectivamente, bem como das palavras associadas semanticamente, especialmente nas crianças com TDAH. Há também que se considerar que houve um aumento do total de palavras recordadas corretamente tanto nas listas pares quanto nas impares aos 6 e 12 meses de tratamento com o MFD, especialmente nas crianças com TDAH, sugerindo que além da quantidade de palavras recordadas como visto acima, também a qualidade da evocação foi melhorada pelo tratamento como o psicoestimulante no desempenho do teste de recordação livre de palavras em crianças com TDAH. Considerando-se que os fenômenos de primazia e recência estariam relacionados à memória de longo e curto prazo (Atkinson e Shiffrin, 1968, apud Silva, 1998), respectivamente, e que estes parâmetros e o total de acertos se apresentaram comprometidos no início do tratamento quando comparados aos controles, notadamente nas crianças com TDAH, estes resultados sugerem que houve uma reversão dos déficits de memórias de curto e de longo-prazo nas crianças com TDAH ao fim de 6 ou 12 meses de tratamento com o MFD. Estes resultados também são pioneiros, não havendo na literatura evidências dos efeitos dos tratamentos farmacológicos e não farmacológicos do TDAH sobre as memórias de curto e longo-prazo, constituindo-se então, nas primeiras evidências de melhora destas funções cognitivas com o tratamento do TDAH com o MFD. 227 DISCUSSÃO 5.7. Considerações Finais Considerando todos os resultados apresentados nas duas partes do presente estudo, podemos sugerir que a avaliação neuropsicológica das funções frontais, avaliando particularmente os processos atencionais, as funções executivas e a memória operacional, somada a testes que avaliam a memória de curto e longo prazo, aliada aos parâmetros clínicos e ao auxílio de escalas de diagnósticos, principalmente à escala de Conners, constitui-se em uma ferramenta de extraordinária utilidade no diagnóstico desta patologia. Além disso, também se demonstrou extremamente relevante como instrumento de avaliação cognitiva, conseqüentemente de avaliação clínica, no acompanhamento da eficácia de tratamentos, no caso, farmacológicos do TDAH. Destaque-se para os testes neuropsicológicos clássicos e de aplicação manual (com lápis e papel) que podem ser selecionados dependendo das condições no atendimento destas crianças pela maior facilidade de aplicação e pelo menor custo de operação, e que se apresentaram tanto ou até mesmo mais eficazes que os testes de custo e operação mais onerosos e laboriosos, que necessitam de equipamentos e da aquisição dos programas (“softwares”) para a sua aplicação. E, por fim, é fundamental dar maior ênfase na qualificação do perfil disexecutivo e desatentivo nos portadores de TDAH, através de protocolos específicos, com testes mais sensíveis para diferentes modalidades executivas e atentivas, o que poderia ser um caminho para se estabelecer marcadores neuropsicológicos diferenciados, que auxiliariam no diagnóstico diferencial com outros transtornos neuropsiquiátricos, campo este que oferece muitas áreas para pesquisa em neurociência. 228 6. CONCLUSÕES CONCLUSÕES 6. CONCLUSÕES • As crianças e adolescentes dos grupos TDAH e controle mostraram características similares relativas à idade, escolaridade, classe sócioeconômica e desenvolvimento puberal. • Os exames laboratoriais e complementares das crianças e adolescentes dos grupos TDAH e controle que participaram do estudo apresentaram-se dentro da normalidade. • A maioria dos indivíduos nos grupos TDAH e controle apresentaram capacidade intelectual média ou acima da média, estando, portanto, aptos a desempenhar os testes neuropsicológicos propostos para o presente estudo. • As crianças e adolescentes com TDAH apresentaram prejuízos em testes de habilidades acadêmicas nas três modalidades avaliadas: leitura, escrita e aritmética. • O TDAH apresentou-se associado a significativos déficits neuropsicológicos com comprometimentos em funções executivas, atencionais, memória operacional e de memória de curto e de longo prazo. • No teste de Códigos B o grupo TDAH mostrou prejuízos significativos particularmente evidentes na análise global e nas crianças (7 a 11 anos), que apresentaram menor número de substituições e de respostas corretas comparadas ao controle, caracterizando um comprometimento atencional e da agilidade psicomotora. • No Teste de substituição de símbolo por dígitos também houve uma diminuição significativa no número de substituições e nas respostas marcadas corretamente pelas crianças com TDAH em relação ao controle, 230 CONCLUSÕES caracterizando assim mais uma vez o comprometimento de processos atencionais e na agilidade na resposta psicomotora. • Os resultados encontrados em crianças com TDAH no desempenho de tarefas do TAVIS-3R evidenciaram déficits atencionais, sobretudo no tempo de reação, em tarefas com demandas de atenção seletiva, sustentada e alternada. • O Teste de Cancelamento d2 mostrou-se sensível para identificar déficits de sustentação e de seletividade na atenção vísuoespacial, além de impulsividade nos indivíduos com TDAH. • O teste de Trilhas A e B mostrou-se sensível para identificar alterações das funções executivas com comprometimento em processos atencionais, de flexibilização mental, no uso de estratégias de resolução de problemas e também no controle de impulsos, no TDAH, que foi particularmente evidente na análise global, e principalmente nas crianças (7 a 11 anos). • O Teste de Cartões de Wisconsin, por sua vez, não foi satisfatório para detectar as disfunções executivas no TDAH no presente estudo. • No Teste de dígitos o desempenho do grupo TDAH tanto na ordem direta quanto inversa apresentou-se significativamente comprometido em todas as faixas de idades examinadas, sugerindo déficits atencionais em seus aspectos verbais e déficits de armazenamento e de processamento de informações na memória de curto prazo. • No desempenho dos Blocos de Corsi houve comprometimento substancial tanto na ordem direta quanto inversa sugerindo déficits na atenção vísuoespacial e na alça vísuo-espacial da memória operacional no grupo TDAH, particularmente nas crianças. 231 CONCLUSÕES • O desempenho principalmente das crianças no Teste de Repetição de Pseudopalavras para crianças brasileira (BCPR) foi comprometido, sugerindo um prejuízo na alça fonologia da memória operacional. • O perfil de resultados em curva de posição serial no Teste de Recordação Livre de Palavras no TDAH evidenciou claramente os efeitos de primazia e recência, entretanto, houve um rebaixamento destes efeitos especialmente nas crianças (7 a 11 anos), mostrando comprometimento na memória de curto e de longo prazo. • Portanto, os testes neuropsicológicos empregados para avaliar as funções frontais foram sensíveis na detecção de comprometimentos atencionais, de funções executivas e de memória operacional, permitindo diferenciar claramente os sujeitos com TDAH dos controles normais. • Também foi possível evidenciar um comprometimento significativo da memória de curto e longo-prazo, principalmente nas crianças com TDAH, distinguindo-as das crianças controle. • Os efeitos colaterais do tratamento com o metilfenidato mais freqüentes neste estudo foram diminuição do apetite (com perda ponderal), cefaléia e dor abdominal, que, no entanto, não constituíram em sua contra-indicação. • Seis meses de tratamento com o MFD já foram suficientes para promover a melhora dos processos atencionais, em todas as suas modalidades, evidenciados pelo melhor desempenho das crianças e adolescentes com TDAH nos testes Código B, substituição de símbolos por dígitos, TAVIS-3R e d2, comparados à avaliação realizada no início do tratamento. • O tratamento com o MFD por 6 meses também produziram melhoras substanciais nas funções executivas, detectadas pelos testes de Trilhas A e B, e até mesmo pelo Teste de Cartões de Wisconsin, e também da memória 232 CONCLUSÕES operacional em suas alças fonológica e visuo-espacial, detectadas pelos Testes de dígitos, Blocos de Corsi e Repetição de Pseudopalavras. • Também foram observadas melhoras significativas nas memórias de curto e longo prazo, evidenciadas pela melhora nos efeitos de recência e primazia, respectivamente, no Teste de Recordação Livre de Palavras. • Todos estes benefícios atencionais, das funções executivas, da memória operacional e também das memórias de curto e longo prazo foram mantidos ou mesmo acrescidos ao final de 12 meses de tratamento com o MFD. • Tomados em conjunto esses resultados sugerem que o TDAH não é meramente um distúrbio comportamental, mas, implica em importantes déficits neuropsicológicos que comprometem o desempenho global de crianças e adolescentes. • Além disso, o presente estudo demonstra claramente que a avaliação neuropsicológica pode ser de grande valia para aprimorar o diagnóstico do TDAH, obviamente associada aos parâmetros clínicos e à aplicação das escalas diagnósticas, e principalmente, constitui-se em um instrumento precioso no seguimento clínico do tratamento desta patologia. 233 7. 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Coloboma mouse mutant as an animal model of hyperkinesis and attention deficit hyperactivity disorder. Neuroscience and Biobehavioral Review, 24, 2000, 51 – 57. 246 8. ANEXOS ANEXOS ANEXO I 248 ANEXOS ANEXO II Ilmo Sr. Diretor da Escola, Vitória, 24 de março de 2003. Jane Tagarro Corrêa Ferreira, Profa de Pediatria da UFES, Médica Pediatra e aluna regular no curso de doutorado em Ciências Fisiológicas do Programa de Pós-Graduação em Ciências Fisiológicas (PPGCF) da UFES, vem desenvolvendo um projeto de pesquisa intitulado: “Efeitos do metilfenidato sobre o desempenho de testes cognitivos pré-frontais em crianças com o Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção”. O projeto está sendo conduzido no ambulatório de Pediatria do Hospital das Clínicas e no PPGCF em Maruípe. A pesquisa consiste em avaliar o efeito do Metilfenidato em testes neuropsicológicos de avaliação da atenção, funções executivas e memória em crianças e adolescentes em idades de sete a quatorze anos com o Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção (TDAH). A avaliação é feita com a família, à escola e com a criança ou o adolescente. Os pais ou responsáveis e a criança são encaminhadas para agendamento de consulta com a Dra Jane no ambulatório de Pediatria do Hospital das Clínicas. Após entrevista inicial com os responsáveis, a criança será submetida a exames laboratoriais, oftalmológico, otorrinolaringológico, neurológico e psicológico. Uma vez concluída esta avaliação, serão aplicados testes neuropsicológicos que avaliam atenção, funções executivas e memória para verificar o comprometimento no TDAH e a eficácia do tratamento farmacológico. A medicação será fornecida durante o período do estudo ao paciente que permanecer na pesquisa. Um contato inicial com a escola será estabelecido visando à divulgação da pesquisa e identificação de alunos com sintomas de TDAH, encaminhamento para avaliação ambulatorial e orientação terapêutica. A coleta de dados do aluno na escola será feita em entrevista direta com o professor após agendamento prévio, concordância e disponibilidade de horário do professor. Posteriormente a família será chamada para entrevista com um dos membros da equipe na própria escola e encaminhada para o ambulatório de Pediatria do Hospital das Clínicas. Espero contar com o apoio da escola e dos professores neste projeto e antecipadamente agradeço. Atenciosamente. Dra Jane Tagarro Corrêa Ferreira Telefones para contacto: Ambulatório de Pediatria Hucam: (027) 3335-7167 Celular: (027) 9972-9671 Consultório: (027) 3224-5317 (027) 3325-0115 249 ANEXOS ANEXO III Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Estas informações estão sendo fornecidas para sua participação voluntária no estudo denominado “Efeitos do Metilfenidato sobre o Desempenho de Testes Cognitivos Pré-Frontais em Crianças com o Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção”. Objetivo do estudo Verificar o efeito do Metilfenidato sobre a atenção e memória em crianças em idade escolar, com diagnóstico de Hiperatividade e Déficit de Atenção (ADHD) ao longo de 1 ano de tratamento supervisionado. Procedimentos Você será avaliado inicialmente através de uma entrevista clínica e submetido a uma série de exames: ECG (Eletrocardiograma), exames laboratoriais que analisam as funções hepática, renal e tireoidiana, glicemia, fezes, urina, e outros exames especializados conforme necessidade clínica. Caso seja incluído no estudo, estes exames serão repetidos antes e após o tratamento com Metilfenidato, ao longo de 1 (um) ano. Após esta etapa, será inserido em um dos seguintes grupos da pesquisa: 1. Grupo 1. crianças normais 2. Grupo 2. crianças com ADHD não tratadas que serão submetidas a tratamento farmacológico com Metilfenidato durante 12 meses, nas doses de 0,3 a 1,0 mg/Kg dia. Uma vez em tratamento em um dos grupos acima, serão aplicados testes neuropsicológicos para avaliação da memória e atenção, os quais serão realizados antes, com 6 e 12 meses após ter iniciado o tratamento com Metilfenidato. Espera-se que os pacientes tenham melhora dos processos atencionais e da memória uma vez que o Metilfenidato é um medicamento que comprovadamente melhora os sintomas do ADHD e por isso é considerado agente de primeira escolha para o tratamento desta patologia. Você não deverá usar nenhum outro tipo de medicação durante o período em que estiver fazendo o tratamento em estudo, sob risco de apresentar complicações sérias de saúde. Mesmo os medicamentos que não tenham controle de vendagem só poderão ser utilizados após consultar o responsável pela pesquisa. Efeitos colaterais com as medicações deste estudo poderão ocorrer. A saber: insônia, diminuição do apetite, irritabilidade, perda de peso, dor abdominal, cefaléia, ansiedade, euforia, tics nervosos, pesadelos, rash cutâneo, desinteresse pelos outros, propensão a chorar, vertigens, sonolência, roer unhas, conversar pouco, tristeza, etc. Caso ocorra algum efeito colateral em qualquer etapa do estudo você terá acesso aos profissionais responsáveis pela pesquisa para esclarecimento de eventuais dúvidas. Os responsáveis pelo estudo são: Dra. Jane Tagarro Corrêa Ferreira, CRM /ES 2498 e Profa Dra. Ester Miyuki Nakamura Palacios CRM /ES 4746 que poderão ser encontrados no endereço: Av. Marechal Campos, 1468 B. Maruípe, Vitória-ES e pelos telefones: 33357337, 99898031, 99600666. Caso necessário, o atendimento também poderá ser realizado pelo serviço de Pronto Socorro do Hospital Universitário Antônio Cassiano de Moraes, da Universidade Federal do Espírito Santo. Em caso de dúvidas ou alguma outra consideração sobre ética em pesquisa, poderá entrar em contato com o comitê de Ética em Pesquisa do HUCAM (Hospital Universitário Antônio Cassiano de Moraes), no endereço acima descrito. Os voluntários que participarem do estudo serão ressarcidos de eventuais despesas decorrentes da participação no mesmo. Este ressarcimento será efetuado logo após a participação do voluntário em cada sessão de teste. Fica assegurada a desistência dos voluntários na participação do estudo em qualquer etapa do projeto e caberá também ao médico pesquisador responsável, a qualquer momento, a exclusão de qualquer voluntário em consideração ao seu bem estar. Será garantido aos participantes do estudo, assistência médica e hospitalar necessárias ao diagnóstico, tratamento e acompanhamento médico de qualquer evento adverso ou danos físicos 250 ANEXOS relacionados à administração da droga em estudo, e todas as providências serão tomadas pela instituição onde será realizado o estudo. Caso isto não seja possível, caberá ao Patrocinador custear as despesas extras resultantes dos exames e honorários médicos realizados em outro Centro Hospitalar. Não está incluída nesta indenização, qualquer compensação financeira por qualquer motivo. Todas as informações obtidas relativas a minha participação neste estudo serão analisadas em conjunto com aquelas obtidas com outros pacientes, resguardando, desta forma, a confidencialidade de sua participação. Desta forma, acredito ter sido suficientemente informado a respeito das informações que li ou que foram lidas para mim, descrevendo o estudo “Efeitos do Metilfenidato sobre o Desempenho de Testes Cognitivos Pré-Frontais em Crianças com o Transtorno de Hiperatividade e Déficit de Atenção.” Eu discuti com o Dra. Jane Tagarro Corrêa Ferreira sobre a minha decisão em participar nesse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de despesas e que tenho garantia do acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento neste Serviço. ---------------------------------------------------------------Assinatura do paciente/representante legal Data: -----/-----/-----. ---------------------------------------------------------------Assinatura da testemunha Data: -----/-----/-----. Declaro que obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido deste paciente ou representante legal para participação neste estudo. --------------------------------------------------------------------------- Dra. Jane Tagarro Corrêa Ferreira – CRM / ES 2498 Profa Dra. Ester Miyuki Nakamura Palacios - CRM /ES 4746 Médicos responsáveis pelo estudo Data: -----/-----/-----. 251 ANEXOS ANEXO IV SNAP IV Escala de pontuação para pais e professores O questionário SNAP-IV para crianças e adolescentes foi construído a partir dos sintomas do Manual de Diagnóstico e Estatística - IV Edição (DSM-IV) da Associação Americana de Psiquiátrica. Esta é a tradução validada pelo GEDA – Grupo de Estudos do Déficit de Atenção da UFRJ e pelo Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência da UFRGS. Para cada item, escolha a coluna que melhor descreve (a/ou) criança / adolescente (MARQUE UM X). Nem um Só um pouco pouco Bastante Demais 1. Não consegue prestar muita atenção a detalhes ou comete erros por descuido nos trabalhos da escola ou tarefas. 2. Tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades de lazer 3. Parece não estar ouvindo quando se fala diretamente com ele 4. Não segue instruções até o fim e não termina deveres de escola, tarefas ou obrigações. 5. Tem dificuldade para organizar tarefas e atividades 6. Evita, não gosta ou se envolve contra a vontade em tarefas que exigem esforço mental prolongado. 7. Perde coisas necessárias para atividades (p. ex: brinquedos, deveres da escola, lápis ou livros). 8. Distrai-se com estímulos externos 9. É esquecido em atividades do dia-a-dia 10. Mexe com as mãos ou os pés ou se remexe na cadeira 11. Sai do lugar na sala de aula ou em outras situações em que se espera que fique sentado 252 ANEXOS 12. Corre de um lado para outro ou sobe demais nas coisas em situações em que isto é inapropriado 13. Tem dificuldade em brincar ou envolver-se em atividades de lazer de forma calma 14. Não pára ou freqüentemente está a “mil por hora”. 15. Fala em excesso. 16. Responde as perguntas de forma precipitada antes delas terem sido terminadas 17. Tem dificuldade de esperar sua vez 18. Interrompe os outros ou se intromete (p.ex. mete-se nas conversas / jogos). 253 ANEXOS ANEXO V CONNERS (para os pais) Nome:---------------------------------------------------------------------------------------------------Sexo:---------------Idade:----------------------------------------------------------Série:--------------------------------------------------------Observador:-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Para cada item, escolha a coluna que melhor descreva o comportamento habitual da criança / adolescente, obedecendo a seguinte pontuação: Nunca = 0; Às vezes = 1; Freqüentemente = 2; Sempre = 3. (MARQUE UM X). Nunca 0 Às vezes 1 Freqüentemente = 2 Sempre 3 1. Acorda durante a noite. 2. Tem medo diante de novas situações. 3. Tem medo de gente. 4. Tem medo de estar sozinho. 5. Preocupa-se com doenças e mortes. 6. Mostra-se tenso e rígido. 7. Apresenta sacudidas ou espasmos musculares. 8. Apresenta tremores. 9. Sente dores de cabeça. 10. Sente dores de estômago. 11. Tem vômitos. 12. Queixa-se de enfermidades e dores. 13. Deixa-se levar por outras crianças. 14. Desafia e intimida os demais. 15. É valente (arrogante) e desrespeita os seus superiores (insolente). 16. É descarado com os adultos. 17. É tímido diante dos amigos. 18. Teme não agradar a seus amigos. 19. Tem amigos. 20. É malicioso com seus irmãos. 21. Briga constantemente. 254 ANEXOS 22. Critica muito a outras crianças. 23. Aprende naescola. 24. Gosta de ir à escola. 25. Tem medo de ir à escola. 26. Desobedece a normas da escola. 27. Mente, culpando os demais de seus erros. 28. Realiza roubos em seu lar. 29. Realiza roubos na escola. 30. Rouba em lojas, barracas e em outros lugares. 31. Tem problemas com a polícia. 32. Quer fazer tudo bem feito (perfeito). 33. Necessita fazer sempre as coisas da mesma maneira. 34. Tem objetivos muito altos. 35. Distrai-se facilmente. 36. Mostra-se nervoso e inquieto. 37. Não pára quieto. 38. Sobe em todas as – partes. 39.Desperta muito cedo. 40. Não fica quieto durante as refeições. 41. Se começa a fazer alguma coisa, repetitivamente, é impossível parar. 42. Seus atos dão a impressão de serem movidos por um motor. Resultados 255 ANEXOS ANEXO VI CONNERS (para os professores) Nome:---------------------------------------------------------------------------------------------------Sexo:---------------Idade:----------------------------------------------------------Série:--------------------------------------------------------Observador:-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Para cada item, marque com um X a coluna que melhor descreva o comportamento habitual da criança / adolescente, obedecendo a seguinte pontuação: Nunca = 0; Às vezes = 1; Freqüentemente = 2; Sempre = 3. Comportamento habitual em classe Nunca Às vezes FreqüenteSempre 0 1 mente = 2 3 1. Mostra-se constantemente inquieto (sempre manipulando objetos). 2. Fala muito ou faz ruídos estranhos com a boca. 3. Fica desanimado ante o estresse de uma prova. 4. Apresenta dificuldades na coordenação motora. 5. É muito ativo. 6. É excitável e impulsivo. 7. Distrai-se com facilidade e tem dificuldade para concentrar-se. 8. As tarefas que começa, deixa sem terminá-las. 9. É excessivamente sensível. 10. É excessivamente sério ou triste. 11. Parece estar “sonhando acordado”, durante o dia. 12. Apresenta-se mal humorado e insuportável. 13. Grita facilmente. 14. Perturba outras crianças. 15. Geralmente provoca brigas. 16. Muda de humor rapidamente. 17. Apresenta vivacidade (agudeza) em suas condutas. 18. É destruidor. 19. Realiza pequenos roubos. 20. É mentiroso. 21. Possui temperamento explosivo (conduta imprevisível). 22. Isola-se das demais crianças. 256 ANEXOS 23. Parece ser rejeitado pelo grupo. 24. Dispõe-se facilmente a ser dirigido (dominado) por seus companheiros. 25. É capaz de respeitar as regras do jogo. 26. Necessita de mando e liderança. 27. Consegue permanecer com outras crianças do sexo oposto. 28. Consegue permanecer com outras crianças do mesmo sexo. 29. Interfere nas atividades de outras crianças. Diante de autoridade comporta-se: 30. Submisso. 31. Desafiante. 32. Descarado (sem vergonha). 33. Tímido. 34. Medroso. 35. Exige demasiada atenção do (a) professor (a). 36. Teimoso. 37. Sempre disposto a agradar. 38. Cooperativo. 39. Apresenta problema de necessidade de ajuda na classe. 40. Outras observações. Resultados 257 ANEXOS ANEXO VII Anamnese 1. IDENTIFICAÇÃO Registro : Data : ____/____/____ Examinador:------------------------------- Nome :---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Data Nascimento____/____/____ Idade : ----------------Sexo :-------------------Cor :------------- Naturalidade : ---------------------------- Nacionalidade-----------------------Escolaridade:------------------Escola:--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Pública:---- Particular:------------- Matutino Vespertino Noturno Endereço:-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Tel:----------------------------------------Encaminhado:-----------------------------------------------------------------------------------------------------------Acompanhante:---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 2. DADOS DA FAMÍLIA Pai:-----------------------------------------------------Escolaridade:-----------------Profissão:-------------------Mãe:----------------------------------------------------Escolaridade:-----------------Profissão:-------------------Irmãos/Escolaridade:--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 3. MOTIVO DA CONSULTA ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------4. HISTÓRIA DOENÇA ATUAL -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------5. HISTÓRIA ESCOLAR A criança/adolescente gosta de ir à escola? Sim Não Os pais estudam com a criança? Sim Não 258 ANEXOS Resumo dos seus progressos nos seguintes níveis. Pré-escola----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ensino fundamental----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ensino médio-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ensino superior---------------------------------------------------------------------------------------------------------Apresenta dificuldades em. Leitura Matemática Escrita Relacionamentos sociais Linguagem. Citar.------------------------------------------------------------------------------------------Outros problemas escolares---------------------------------------------------------------------------Já recebeu algum tipo de educação continuada especial? E se ocorreu, por quanto tempo? Para dificuldade de aprendizagem----------------------------------------------------------------------Para distúrbios emocionais ou de comportamento-------------------------------------------------Classe especial----------------------------------------------------------------------------------------------Terapia da linguagem e da fala--------------------------------------------------------------------------Outros ----------------------------------------------------------------------------------------------------------Já foi tentado alguma modificação institucional? Nenhuma Programa de modificação do comportamento Ficha de acompanhamento diária ou semanal Outros----------------------------------------------------------------------------------------------------------Já foi alguma vez. Suspenso da escola? Número de suspensões Expulso da escola? Número de expulsões Reprovado? Número de reprovações Atitude dos familiares diante das atividades escolares. Apoio Rejeição Desinteresse Cobrança excessiva Local de estudo e interferências. ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6. GESTAÇÃO, PARTO E NASCIMENTO Idade da mãe ao nascimento da criança/adolescente.-------------------------------------------------------Gesta. Para. Abortos. Gestação Sexo Idade 259 ANEXOS Abortos. Sim Espontâneo Não Provocado Acidental Número de partos prematuros.-------------------------------------------------------------------------------------Natimortos--------------------------------------------Neo-mortos----------------------------------------------------Saúde materna na gestação. Boa Trabalhou durante o período gestacional? Regular Sim Ruim Não Praticou exercícios físicos? Sim Não Tipos: -------------------------------------------------------------------------------------------------Fez pré-natal? Sim Nº de consultas. Não Fez uso de práticas abortivas? Sim Não Tipos. ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Usou anticoncepcionais durante a gestação? Sim Não Qual(ais).-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Submeteu-se a Raios X durante a gestação? Nº de exposições. Sim Não Idade gestacional quando percebeu primeiros movimentos fetais? semanas Apresentou alguma doença ou acidente durante a gestação, parto ou puerpério ? Sim Não Doenças infecciosas Anemia Doenças parasitárias Hiperglicemia Acidentes traumáticos Hipertensão arterial Hemorragias Eclampsia Convulsões Incompatibilidade. Rh Outros.--------------------------------------------------------------------------------------------------------Usou substâncias ou medicamentos durante gestação? Em que frequência? Sim Não Frequência Vinho ou cerveja Bebidas destiladas Café ou outra cafeína (coca) Fumo Tranqüilizantes Anticonvulsivantes Antibióticos Anti-virais Anti-neoplásicos Outros Qual o tempo de gestação? A termo. Menos que 9 meses Mais que 9 meses Ignorada Parto. Normal Induzido Cesárea. Indicação?--------------------------------Com Fórceps 260 ANEXOS Apresentação. Cefálico Pélvico Duração do trabalho de parto.--------------------------------------------------------------------------------------Recebeu alguma droga analgésica ou de inibição do trabalho de parto? Sim Não Quais? --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Houve indícios de sofrimento fetal durante trabalho de parto ? Sim Não Sim Não Quais? --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------A bolsa rompeu. Quantas horas? Antes do parto Durante o parto Peso ao nascer.------------------Kg Estatura.----------------cm PC.------------cm. PT.-----------cm PA.------------cm Chorou ao nascer? Nasceu em morte aparente? Precisou reanimar? Sim Sim Sim Apgar.-------------- Não Não Não Apresentou complicações após o nascimento? Sim Não Quais?---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Sugou logo ao nascer ? Sim Eliminou mecônio ao nascer? Não Sim Não Tempo de permanência no berçário.------------------------------------------------------------------------------Local do parto. Tipo de assistência. Casa Hospital Médico Outros.---------------------------------Enfermagem Outros-------------------- Apresentou mal formações fetais? Sim Não Quais? --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------VDRL ao nascimento. Teste do Pezinho. Sim Não Sim Não 7. ANTECEDENTE PESSOAIS Doenças Congênitas? Sim Não Qual(ais)? ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Contágio com doenças infecto-contagiosas. Sim Não Qual/ais?------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Doenças Anteriores. Sim Não Idade Alergia alimentar Alergia medicamentosa Alergia respiratória Amigdalites Asma Cardiopatias Caxumba 261 ANEXOS Cirurgias Coqueluche Crises convulsivas Diabetes Diarréias Difetria Doenças Renais Febres Eruptivas Infecções urinárias IVAS Otites Refluxo Gastroesofágico Sinusites Uso soro heterólogo Outras patologias Tratamentos já efetuados.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------A criança /adolescente foi um bebê tranqüilo? Chorava muito? Como era segundo esta lista? Muito tranqüilo Tranqüilo Medianamente Difícil Muito difícil Apresentou problemas relacionados ao sono ? Sim Não Qual/ais?-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Apresentou alterações do padrão do sono durante a infância ? Sim Não Qual/ais ? ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Dorme em quarto separado dos pais? Foi ativo na primeira infância? Sim Sim Não Não Apresentou enurese noturna ou diurna? Sim Não Freqüência.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------Problema de controle intestinal noturno ? Sim Não Freqüência.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------Apresenta problemas visuais? Sim Não Se negativo relate porque .------------------------------------------------------------------------------------------Apresenta problemas de audição? Sim Não Se negativo relate porque.-------------------------------------------------------------------------------------------Apresenta problemas com o apetite? Aumento do apetite Sim Diminuição do apetite Não Apetite normal 8. DSPM. IDADE Sustentar a cabeça Sentar sem apoio Engatinhar 262 ANEXOS Ficar de pé sem apoio Andar sem apoio Primeiro dente Usou chupeta? Chupou o dedo? Primeiras palavras Primeiras frases Falar corretamente Alimentar-se sozinho Vestir-se sozinho Controle urinário Controle intestinal Quanto tempo demorou os treinos? Subir escadas Descer escadas Como é a coordenação motora grossa? Boa Ruim Regular Como é a coordenação motora fina? Boa Ruim Regular 9. ALIMENTAÇÃO Sugou após nascimento? Origem do leite Sim Materno Não Nutriz Quanto tempo?---------------------------------------------------------------------------------------------------------Usou leite artificial? Sim Não Motivo da introdução .-------------------------------------------------------------------------------------------------- Com que idade foi introduzido?-------------------------------------------------------------------------------------- Houve sinais de intolerância? Sim Não Qual/ais? -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Outros Alimentos. Idade.-------------------------------Tipo------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Alimentação atual. Tipo------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Ingere diariamente leite, carne e ovos? Sim Não Apresentou problemas alimentares na infância? Sim Não Qual/ais?------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Apresentou cólicas do lactente? Sim Não 263 ANEXOS Apresenta distorções de apetite? Sim Não O funcionamento intestinal é normal? Sim 10. IMUNIZAÇÕES. O cartão de vacinas está em dia? Anotar no prontuário. Sim ] Não Não Apresentou reações vacinais? Sim Não Qual/ais?------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Citar as vacinas que provocaram reações.----------------------------------------------------------------------- 11. COMPORTAMENTO Quais as preocupações a respeito do seu comportamento atual? ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Que estratégias foram implementadas para abordar estes problemas? Repreensão verbal Castigo por isolamento Retirada de privilégios Aquiescência da criança Recompensas Castigo físico Evitar a criança Indiferença Em média, qual o percentual com que a criança obedece ao 1º comando? 0 - 20% 20 - 40 % 40 - 60% 60 - 80-% 80 - 100% Até que ponto, os pais são consistentes em relação à disciplina? Na maioria das vezes Algumas vezes Todas as vezes Nenhuma das vezes Já presenciou agressão física ou verbal entre os pais ou cuidadores? Sim Não Ocorreu algum evento estressante nos últimos 12 meses? Divórcio ou separação dos pais Doença ou acidente na família Mudança de emprego dos pais Troca de escola ou de domicilio Problemas financeiros Outros------------------------------------------------------------------------------------------------------------Exibe alguns dos sintomas abaixo relacionados? Postura estranha Falta de reação a ruídos altos Rituais compulsivos Tiques vocais Estereotipias É insistente? Muito Nível de atividade da criança/adolescente. Muito ativo Ativo Moderadamente ativo Arredio ao contato físico Reação excessiva a ruídos Tiques motores Oposicionismo Agressividade Pouco Moderado Pouco ativo Não ativo Há indícios de uso de álcool ou drogas? 264 ANEXOS Sim Não Há indícios de abuso sexual ou violência física? Sim Não Apresenta curiosidade sexual? Sim Não Com que idade?----------------------Atitude dos pais.------------------------------------------------------------Recebe orientações relacionadas à sexualidade? Sim Não Apresenta distúrbios de comportamento? Sim Não Qual(ais)? ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Já recebeu algum tratamento psicológico? Sim Não Se sim, qual(ais)? Psicoterapia individual Psicoterapia de grupo Terapia familiar com a criança Tratamento domiciliar Internamento para diagnóstico Outros-----------------------------------------------------------------------------------------------------------Duração----------------------------------------------------------------------------------------------------------Já recebeu alguns dos medicamentos abaixo relacionados? Ritalina Dexedrina Cilert Tranquilizantes Anti-convulsivantes Anti-histaminicos Outros------------------------------------------------------------------------------------------------------------Duração----------------------------------------------------------------------------------------------------------- 12. ANTECEDENTES FAMILIARES Grau de parentesco Mãe Pai Irmãos Irmãos Irmãos Avó Paterno Avô Paterno Avó Materno Avô Materno Outros Idade Condições de saúde (se falecidos, citar causas) União do casal. Matrimônio Amásio Há quanto tempo?-----------------------------------------------------------------------------------------------------Existem filhos de casamentos anteriores? Sim Não Quantos?-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Filhos. -----------------Legítimos.-------------------Adotivos.-------------------Gemelares.--------------------Falecidos---------------Causa(s)--------------------------------------------------------------Idade-----------------Pais. Consangüinidade. Sim Não 265 ANEXOS Doenças crônicas ou hereditárias ? Sim Não Qual/ais?------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 13. HISTÓRIA PSICO-SOCIAL Sociabilidade da criança/adolescente. Ótima Boa Regular Ruim Composição da família.-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Habitação.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------Orçamento familiar.----------------------------------------------------Classe social------------------------------Opções de lazer.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Atividades lúdicas. Tipos de brincadeiras.-------------------------------------------------------------------------------------------------Tipos de jogos.----------------------------------------------------------------------------------------------------------Televisão e programas preferidos.---------------------------------------------------------------------------------Vídeogames e jogos computadorizados.-------------------------------------------------------------------------Descrever os seus relacionamentos com: O pai.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------A mãe.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Os irmãos.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Outros familiares--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Os amigos da escola--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Os amigos da comunidade.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Formação religiosa.----------------------------------------------------------------------------------------------------Com que facilidade a criança faz amizades? Mais facilmente que a média. Menos facilmente que a média Medianamente É difícil de fazer amizades Em média, por quanto tempo mantém as amizades? 6 meses 6 m - 1 ano Em relação ao contato social: Apresenta contato com crianças do mesmo sexo? Apresenta contato com crianças do sexo oposto? Evita o contato social? Evita grupos? Evita multidões? É retraído no meio social? É agressivo com os amigos? Preocupa-se em agradar aos amigos? 1 ano ou mais Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Sim Não Não Não Não Não Não Não Não Rotina diária da criança.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 266 ANEXOS ANEXO VIII EXAME FÍSICO Dados antropométricos. Peso.------------------------Estatura------------------------PC--------------- Tanner--------------------------------------------------------------------------Menarca-------------------------------Impressão geral. Facies. Estado nutricional. Avaliação de desvios do desenvolvimento físico e mental.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Pele e anexos.------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Olhos. Ouvidos. Nariz.Orofaringe. --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Cabelos. Mucosas. Tecido subcutâneo. Gânglios.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Cabeça e Pescoço.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Aparelho Respiratório.--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Aparelho Circulatório.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Abdome.---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Aparelho gênito-urinário e ânus. -------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Aparelho Músculo-esquelético.----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 267 ANEXOS ANEXO IX Exame Neurológico Anotações. P = presente A = ausente N = normal AUM = aumentado DIM = diminuído SI = simétrico LOC = localizado GENER = generalizado NA = anormal ASS = assimétrico 1 .Linguagem.-------------------------------------------------------------------------------------------------------------2. Consciência -----------------------------------------------------------------------------------------------------------3. Equilíbrio estático----------------------------------------------------------------------------------------------------4. Equilíbrio dinâmico--------------------------------------------------------------------------------------------------Andar numa linha reta. (Anotar desvios ou outras alterações).--------------------- --------------------------Saltar com 2 pés juntos. P A 5. Movimentação voluntária Inspeção (espontânea).-------------------------------------------------------------------------------------------------Força muscular MSD---------------------------------------MID----------------------------------------MSE---------------------------------------MIE-----------------------------------------6. Coordenação. Dirigir mão-objeto. P A Dedo-nariz. P A Dedo-lóbulo da orelha. P A Calcanhar-joelho. P A Coordenação dinâmica na marcha P A 7. Movimentação passiva. Tônus muscular. Palpação. N DIM. AUM. 8. Movimentação Involuntária Espontânea (descrever).-----------------------------------------------------9. Movimentação Involuntária Reflexa. (Anotações: P = Presente; V = vivo; Ex = exaltado; A = ausente; NO = não obtido; D = diminuído). DIREITO ESQUERDO Aquileus Patelares Adutores Estilo-radial Bicipital Tricipital Cutâneo-abdominais Cutâneo-plantares 10. Sensibilidade. 11. Pares Cranianos. Reflexos pupilares à luz. P Acompanhar foco luminoso. P Reflexo consensual. P 11. Pesquisa de sinais de Irritação meníngea. Rigidez de nuca. P A Brudzinski P A Kernig P A Lasègue. P A A A A 268