A BUSCA DOS VAGALUMES O vaga-lume é bicho pequeno. Inseto também conhecido pelo nome ainda mais bonito de pirilampo, ganha beleza diferenciada de sua espécie por conseguir brilhar à noite. Ele produz e emite luz. A parte iluminada do seu corpo, geralmente na cor verde fluorescente, fica na região abdominal. Uma luz ínfima, na verdade. Ainda assim, forte o suficiente para fazer brilhar a escuridão mesmo que por um segundo. Nas cidadezinhas de menor porte, onde a iluminação artificial é mínima, não é preciso atenção absoluta para enxergá-la. Nos espaços eminentemente urbanos, porém, é preciso atenção extrema. Olhos desatentos não conseguem percebê-la. O bicho é minúsculo. A luz é menor ainda e sem consistência: acende, apaga, acende, apaga, acende, apaga, se se piscar o olho um tiquinho, ela pode se perder. A BUSCA DOS VAGALUMES Para que então a serventia do bichinho e de luz tão ínfima num mundo onde as lâmpadas fluorescentes e inteligentes proliferam e iluminam sem gastar tanto a energia elétrica? Nem vou entrar no mérito da função do vagalume nas teias e cadeias para o equilíbrio do meio ambiente, porque além de não dominar tal assunto, a discussão não é pertinente aqui. Não está nesta relação a minha resposta para a existência do pirilampo e de sua luz. Para mim, os vagalumes existem para dar esperança aos fins do dia. Pode, não pode, pode, não pode, diz a luz ínfima que após ser descoberta, mesmo tendo sido perdida numa piscada, pode ser reencontrada e acompanhada nos zig-zags do pirilampo em vôo. A luz tênue para mim é esperança porque é bonita demais para ser verdade num mundo tão urbano e seco de pessoas tão desesperadamente apressadas. Eu os vejo e rio diante da grandiosidade de coisa tão pequena! Não, não têm o poder de iluminar os dias, as praças, as cidades, as celebridades da televisão, mas por sua unicidade possuem relevância ímpar. A BUSCA DOS VAGALUMES Sinto-me um pouco assim como este vagalume. Sem a grandeza dele com sua luz fugidia, mas portadora de pequenas esperanças. Ora surjo, ora cresço, ora sumo em zig-zags exigindo atenção múltipla para ser encontrada, mas não deixo de voar. Há horas que ninguém me vê, mas não importa. Prefiro ser assim, essa luz fugidia, a uma fluorescente com potência fabricada. Todas as lâmpadas industrializadas vêm com o controle liga-desliga junto. A minha luz mesmo tênue não possui nenhum. Eu a acendo, eu a apago, eu decido quando chegou a hora de clarear, escurecer ou fugir em zig-zag sem deixar rastro nenhum. E essa liberdade de or e vir, desistir e insistir, acender e apagar quando bem entendo, é o que dá sentido à minha vida. Erilene Firmino é jornalista, também graduada em Letras e especialista em Educação e História