Hipertensão sistêmica requerendo tratamento na Unidade de Cuidado Intensivo Neonatal Systemic hypertension requiring treatment in the neonatal intensive care unit. Sahu R, Pannu H, Yu R, Shete S, Bricker JT, Gupta-Malhotra M. J Pediatr. 2013 Jul;163(1):84-8 Internato em Pediatria/ESCS/HRAS/HMIB/SES/DF Apresentação: Alanna Alves, Marina Dutra, Natália Silva, Gustavo D. R. Matos Coordenação: Paulo R Margotto www.paulomargotto.com.br Brasília, 20 de julho de 2013 Introdução • A hipertensão arterial sistêmica (HAS) em crianças, embora incomum, necessita de reconhecimento e tratamento precoce, pois associa-se a lesões de órgãos-alvo (LOA), retinopatia hipertensiva, encefalopatia, hipertrofia ventricular esquerda, cardiomiopatia. • Há limitadas informações desta entidade na literatura, especialmente em pré-termos; há relatos de prevalência de entre 0,7 e 3% na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). • A causa da hipertensão em lactentes varia amplamente. • Alguns fatores de riscos perinatais identificados em UTI: - trombose da artéria renal; - medicações (esteróide, indometacina); - nutrição parenteral (volume, cálcio e excesso de sal); - oxigenação por membrana extracorpórea; - displasia broncopulmonar (DBP) - persistência do canal arterial (PCA) e outros. • A prevalência de hipertensão arterial idiopática entre os lactentes varia de 5% a 57% . • Recém-nascidos pré-termos (RNPT) na UTIN são mais expostos a fatores de riscos perinatais. • Há diferenças entre fatores de risco entre RNPT e RN a termo (RNT):há estudos que mostram não haver diferença20, enquanto outros identificaram diferenças6,21, incluindo uma metanálise22. A hipótese desse artigo é que a incidência e os fatores de risco para a hipertensão arterial seriam diferentes entre RNPT e RNT na UTIN. Metodologia Amostragem e coleta de dados • Todos os dados de crianças (< 28 dias) admitidas ou transferidas para a UTIN de grande capacidade do Children’s Memorial Hermann Hospital entre Janeiro de 2006 e Dezembro de 2009 foram retrospectivamente analisados. • Foram coletados dados demográficos, antropométricos e clínicos de todos os pacientes. • Crianças com hipertensão foram identificadas a partir da base de dados da farmácia hospitalar (pelo uso de anti-hipertensivos, excluindo diuréticos) e pelos dados de prontuário, verificando se o diagnóstico de hipertensão sistêmica foi feito pelo neonatologista e confirmado por nefrologista ou cardiologista pediátricos. • Foram definidos RNPT aqueles com idade gestacional (IG)<37 semanas. Prematuridade extrema consiste na IG<28 semanas. • Critérios para HAS com necessidade de tratamento: ▫ Três aferições distintas de pressão sistólica ou diastólica maiores que o percentil 95 para a idade pósconcepção23. ▫ Pelo menos uma dose de qualquer antihipertensivo foi administrada com intenção de tratar a hipertensão durante a hospitalização. • Definição de hipertensão sustentada: crianças que necessitassem de tratamento antihipertensivo oral crônico. • Foram excluídas crianças com elevações transitórias da pressão arterial ou que usassem medicação oral intermitente (assim que necessário) • Foram obtidas informações sobre a causa da hipertensão, duração do tratamento, história medicamentosa, laudos de ecocardiograma e de ultrassonografia renal. • Na ecocardiografia, a hipertrofia ventricular esquerda (HVE) era considerada LOA se não houvesse evidência de qualquer cardiopatia congênita ou outra cardiomiopatia. • O diagnóstico ecocardiográfico de HVE foi feito no RNPT baseado em escores-z de medidas da parede posterior do VE e do septo interventricular na diástole no modo M para um RNT– pode subestimar a prevalência de HVE na população RNPT. Análise estatística • Realizada com o software SAS for Windows version 9.2. • Teste c2 (quiquadrado) e exato de Fisher; • A significância estatística foi definida como p=0,05. • Foram realizadas: (1) análise univariada e (2) a regressão logística exata com ajuste para sexo, etnia e idade gestacional. • As análises consideraram também as crianças sem o diagnóstico de hipertensão Resultados Caracterização da Amostra • n = 4203 RN • IG média: 31 ± 6 semanas - 32% RNT - 14,5% RNPT extremos - 53,5% RNPT ≥ 28 semanas • Peso ao nascer: 2197g ± 975g • Sexo masculino = 56% Caracterização da Amostra • Quanto à etnia: - Afroamericanos: 41% (42% dos pré-termos) - Brancos: 31% (30% dos pré-termos) - Hispânicos:25% (25% dos pré-termos) - Asiáticos: 3% (3% dos pré-termos) • Taxa de mortalidade total da amostra foi de 7,6% (n=320), dos quais 5 RN (0,1%) tiveram hipertensão arterial sistêmica tratada. RN hipertensos • Corresponderam a 1,3% da amostra (53 crianças), com prevalência de 1,4% em RNPT e de 1,0% em RNT. • 74% eram prematuros; • Peso ao nascer médio = 1760g; • IG média = 32semanas; (Tabela I) Dados demográficos e clínicos em recém-nascidos pré-termo e a termo com hipertensão Tabela I Medicações • Anti-hipertensivos orais: anlodipino (62%), hidralazina (53%), captopril (18%), lisinopril (15%), propranolol (15%) e enalapril (15%). • Anti-hipertensivos EV: labetalol (8%), nicardipino (7%) e nitroprussiato (2%). • 51% dos RN hipertensos necessitaram do uso simultâneo de múltiplas drogas; destes 86% eram RNT e 38% RNPT. Medicações • 85% dos RN hipertensos estavam em uso de anti-hipertensivo na ocasião da alta/óbito; o que correspondeu a 87% dos RNPT hipertensos e a 79% dos RNT hipertensos. • Prematuros necessitaram de um menor número de drogas anti-hipertensivas para o controle da HAS; porém maior número deles permaneceu com as medicações à época da alta. Condições Associadas • 9% dos RN hipertensos sofreram intervenção cirúrgica: ablação de válvula posterior de uretra, nefrectomia e correção de coarctação da aorta. • 22% dos RN hipertensos apresentaram alterações à ultrassonografia renal: hidronefrose (6 casos), rins policísticos (5 casos); rim único (1 caso), nefrocalcinose, trombose artéria renal (1 caso). Condições Associadas • 17% das crianças hipertensas possuíam algum tipo de síndrome (Sd) associada: Sd DiGeorge, Sd Potter, Sd prune-belly, Sd Donohoue, Sd CHARGE e associação VACTERL /VATER • 4% dos RN hipertensos necessitaram de oxigenação por membrana extracorpórea. Fatores de Risco • Em 93% dos casos foi identificada causa ou fator de risco para a HAS neonatal. (Tabela II) Porém apenas 3 fatores foram considerados significativos pela análise univariada e pela regressão logística simultaneamente: DBP, uso de corticóides para displasia broncopulmonar e ducto arterioso patente. (Tabela III) O tempo de internação foi igualmente prolongado nos RN hipertensos em comparação com os controles (p<0,0001) Tabela II. Causas da hipertensão sistêmica em recém-nascido pré-termo e a termo Tabela III. Fatores de risco para hipertensão:análises univariada e multivariada entre recém-nascidos hipertensos e controles BPD: displasia broncopulmonar; PDA: ducto arterioso patente Discussão • Os autores detectaram diferenças fenotípicas entre os RN a termo e pré-termo com hipertensão arterial tratada • Níveis maiores de PA relacionam-se a menor IG ou peso ao nascer (reflexo de menos néfrons) • No RNT observou-se que o diagnóstico é mais precoce, a hipertensão é mais resistente (requerendo às vezes mais de 3 medicações) • No entanto, o tempo de internação foi maior para o RN pré-termo. • O principal fator de risco no RNT são doenças sistêmicas e cardíacas. Já nos RNPT são a displasia broncopulmonar e fatores iatrogênicos. • Não houveram diferenças significativas relacionadas à mortalidade entre RNT e RNPT. Fatores de risco / Relacionados • Os fatores de risco são multifatoriais e as crianças podem ter mais de um fator de risco. Tanto em RNPT como em RNT não houve maior incidência de hipertensão relacionada a fatores maternos como: hipertensão, tabagismo e abuso de substâncias. • O cateterismo umbilical ocorreu com igual frequência entre os RN a termo e pré-termos, embora a duração foi maior nos RN pré-termo. • Após ajustes para idade gestacional, etnia e sexo, os RN com hipertensão apresentaram mais displasia broncopulmonar (DBP), mais uso de esteróide para DBP, mais ducto arterioso patente em relação aos RN sem hipertensão arterial. • A doença renal foi o fator de risco tradicional mais comum nos RN que apresentaram hipertensão arterial Ducto Arterioso Patente (DAP) • Incidência semelhante entre RNT e RNPT. • Maior duração do ducto em pré-termo. • O tratamento do DAP aumenta 3,8 vezes a chance de HAS. A HAS em paciente com DAP pode ocorrer devido à congestão pulmonar e hipoxemia, hipoperfusão renal, uso de drogas nefrotóxicas e secundária a tromboembolismo. • O fechamento do DAP pode levar ao aumento no débito cardíaco e aumentos transitórios da PA. Displasia Broncopulmonar (DBP) • Aumento de 5 vezes a chance de HAS relacionada a DBP, principalmente associada à prematuridade. OR: 4.7 (2.0-11.6) P<.0002 • Desconhece se a relação DBP e HAS ocorre devido a hipoxemia crônica e doença pulmonar, hipercapnia, hipertensão pulmonar, uso de corticosteróides ou mudanças neurohormonais de catecolaminas, angioensina e hormônio antidiurético. Medicações • Não houve relação significativa entre o uso de corticóide pré-natal e hipertensão iatrogênica. Porém, seu uso crônico pós-natal levou ao aumento de 3,6 vezes de hipertensão mesmo após cessação do uso. • 51 % das crianças necessitaram de pelo menos 1 antihipertensivos e algumas de até 3 para controle da PA. 85% dos pacientes os usavam até o óbito (ao contrário de outros estudos) (este achado sugere que a hipertensão arterial nestes RN nem sempre é uma condição transitória) Limitações • Limitações relacionadas ao tipo do estudo. • Pequena amostra. • Ausência dos dados: RN transferidos para fora da UTIN, Insuficiência renal aguda, nutrição parenteral, cateterismo umbilical. • Ausência de longitudinalidade após a alta. • Possível subestimação da população por excluir os diuréticos como antihipertensivos e por mascararem a HAS em crianças com doenças pulmonares crônicas em uso de diuréticos. Portanto, fatores de riscos perinatais são contribuidores significativos para a hipertensão neonatal. Os RN a termo foram diagnosticados com hipertensão mais precocemente, apresentaram menos dias de internação e apresentaram maior incidência de hipertensão resistente CONSULTEM TAMBÉM Estudando juntos! Dr. Paulo R. Margotto Hipertensão arterial apos correção cirúrgica de onfalocele e gastrosquise François Cachat, Guy Van Melle, Eugene D. McGahren, Olivier Reinberg,Victoria Norwood. Traduzido por Marília Aires e Carlso Alberto Zaconeta • Dos pacientes com onfalocele, 46.2% (12/26) desenvolveram hipertensão sistólica, comparados a 17.5% (7/40) dos pacientes com gastrosquise (P=0.024). A hipertensão sempre foi transitória, durando em média 4 e 1 dia, no grupo da onfalocele e gastrosquise, respectivamente. Dois pacientes com onfalocele receberam terapia anti-hipertensiva (nenhum do grupo da gastrosquise). • Este é o primeiro estudo que demonstra que pacientes com correção cirúrgica de onfalocele apresentam significativamente mais hipertensão arterial sistêmica que pacientes com cirurgia de gastrosquise. Qual é a casa da hipertensão arterial no grupo da onfalocele? A causa da hipertensão permanece não esclarecida.As teorias são: • Cogita-se que os pacientes desenvolveriam hipertensão arterial sistêmica possivelmente devido a compressão do pedículo vascular renal e secundariamente ao aumento da produção de renina, isquemia renal, aumento da produção de catecolaminas ou hidronefrose transitória. • Aumento da pressão intra-abdominal de 20 mmHg ou mais estava associado a importante diminuição do débito cardíaco e perfusão renal. Tal fato, por sua vez pode levar a isquemia renal com aumento conseqüente de renina. Qual é a melhor conduta nestes RN no pósoperatório de onfalocele que apresentam hipertenção arterial sistêmica? • A hipertensão arterial sistêmica é geralmente discreta (media de 103,2±7,2 mmHg no grupo com hipertensão contra 80,1±13,9 mmHg no grupo sem hipertensão) • Assim sendo, a mesmos que o paciente se torne sintomático ou que o aumento pressórico seja significativo, poderíamos recomendar observação por alguns dias antes de se iniciar terapêutica anti-hipertensiva. Isto é especialmente relevante no pós-operatório imediato, onde períodos prolongados de hipotensão podem terminar em insuficiência renal ou anúria com consequências desastrosas se a hemodiálise ou diálise peritoneal não são efetuadas. Hipertensão arterial na infância Mônica Ferreira Leite • Prevalência na criança/adolescente: 1% a 13% . • Papel do nefrologista pediátrico e do pediatra: evitar o “tracking”. • “Tracking”: crianças com valores de pressão “normais altos” ou “pré-hipertensivos” tendem a manter pressões mais elevadas ao longo dos anos e a se tornar adultos hipertensos. • Objetivos: detectar e tratar formas secundárias de hipertensão e confirmar elevações de PA mesmo discretas que podem representar o início da HAS primária ou essencial e que evolui com lesões de órgãos-alvo. • História clínica (perinatal): peso ao nascer, sofrimento fetal, anoxia, displasia broncopulmonar, cateterismo umbilical Hipertensão arterial na infância Mariana C. Grilo • Crescimento intrauterino restrito (CIUR) e ganho de peso rápido são fatores de risco para hipertensão arterial (HA) • Existe associação entre o número de néfrons ao nascer e HA Aleitamento materno exclusivo está relacionado a níveis pressóricos mais baixos durante a infância Hipertensão arterial na infância • • • • • Nícolas Thiago Nunes Cayres de Souza, Marcelo Oliveira Prata, Elisa de Carvalho Resoluções da atualização de 1996 5º som de Korotkoff → define a pressão diastólica; pressão normal: P. A . sistólica e diastólica < p90; pressão normal-alta ou limítrofe: P. A . sistólica ou diastólica entre o p90 e p95; hipertensão arterial: P. A . sistólica ou diastólica > p 95, (três ocasiões diferentes); hipertensão arterial do jaleco branco: no consultório, que não é confirmada através das medidas na monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA Significado perinatal do peso da placenta Paulo R. Margotto • Há evidências, a partir dos estudos de Barker e cl (1993), com recente confirmação experimental (Johnston, 1995) de uma forte e independente associação entre pressão arterial na meia idade e peso ao nascer/peso da placenta (a hipertensão ocorre com maior frequência nos indivíduos que tiveram baixo peso ao nascer com placenta grande). Moore e cl (1996) observaram esta associação também em crianças na idade de 8 anos (aumento da pressão diastólica de 0,7 mmHg para cada aumento de 100g no peso da placenta). Olsen (1994) relatou menor QI nas crianças entre 18 e 42 meses com baixo peso ao nascer combinado com placenta grande. Eriksson e cl (2000) relataram que crianças que desenvolveram mais tarde hipertensão arterial e diabetes tipo 2 tiveram placentas pequenas, além de serem menores ao nascer. Os autores sugeriram que a hipertensão pode originar da restrição do crescimento intrauterino seguido de um acelerado crescimento pós-natal como resultado de melhores condições de vida. A restrição do crescimento leva a uma permanente redução do número de células nos rins e em outros tecidos e a subsequente aceleração do crescimento pode levar a uma excessiva demanda metabólica a esta limitada massa celular. ATENÇÃO Canal arterial hemodinamicamente significativo associa-se com hipotensão arterial refratária! Efeito da patência do canal arterial na pressão arterial • Evans/Moorcraft (1992) • 41 RN <1500g 1000-1500g <1000g p<0.05 Pressão arterial média comparando com sem PCA hemodinamicamente Significativa (PCA hs) Da Apresentação PCA-Visão do Neonatologia (Dr. Paulo R. Margotto) Hipotensão refratária • Sarkar et al (2007): • 290 RN ( ≤30 sem) com hipotensão refratária (90% usaram hidrocortisona entre o 2º e 7º dia) Análise multivariada na determinação de variáveis preditoras de hipotensão refratária na população estudada 7,7 Da Apresentação PCA-Visão do Neonatologia (Dr. Paulo R. Margotto) OBRIGADO! Dda Alanna Alves, Ddo Gustavo D. R. Matos, Dra. Marina Dutra Dr. Paulo R. Margotto, Dda Natália Silva. OBRIGADO