12 De 18 a 24 de Dezembro de 2007 Quartas do Povo Democracia participativa precisa-se Tendo como exemplo a última reunião da Assembleia Municipal que contou com 12 pontos na ordem de trabalho as “ Quartas do Povo” colocou em cima da mesa para debate “ a participação dos cidadãos” neste órgão fiscalizador do exercício municipal. A essência de um sistema de democracia participativa, bem como a rotina dos políticos e da própria política, levam ao afastamento dos cidadãos da vida activa da política. Esta foi a principal conclusão do debate que contou com a presença de Sílvio Sousa, da CDU, Paulo Folhadela, do PS e Cerejeira Leitão, membro da mesa da Assembleia Municipal e ainda Tavares Bastos, deputado da AM e que tem tomado posições públicas no sentido de ampliar o tempo de discussão de assuntos com relevância para o concelho. Sílvio Sousa salientou a importância e a actualidade do tema, já que tem sido notório que praticamente desde o 25 de Abril nunca se conseguiu aprofundar a democracia a ponto de considerar o sistema democrático, um sistema de democracia participativa. Desde sempre tirando um curto período da nossa história 75/76 em que havia participação popular nos actos políticos a partir daí tornou-se a rotina política a os próprios políticos, talvez intencionalmente, levaram ao afastamento das pessoas da própria vida política. Sílvio Sousa disse nunca ter sentido qualquer pressão popular na AM para que uma decisão fosse tomada de uma ou outra forma desde que é deputado, “ Nós não temos o povo por trás a pressionar para se tomar uma ou outra medida ou alterar determinado tipo de decisão”. Isto verifica-se na AM e também nas Assembleias de Freguesia que é o órgão mais próximo dos cidadãos, onde as pessoas podiam colocar o problema da sua rua ou da sua porta, também aqui não há a participação do cidadão. AUSÊNCIA DA PARTICIPAÇÃO DO CIDADÃO De acordo com Sílvio Sousa há ainda casos caricatos em que os próprios presidentes de junta incentivam a ausência no órgão quando dizem que não é necessário levar o assunto ao órgão que depois será tratado. “ É uma cultura democrática errada, já que os políticos deviam incentivar a população a levar as questões aos órgãos próprios”. Para Sílvio a visão do que é o exercício do Poder Político “ desde o celebre caso “Eu vou-te ao focinho” numa reunião do executivo camarário e até aquela senhora que o presidente da Câmara quando a vê lá sai fora da AM minutos antes para não ter que a enfrentar”. Todo este tipo de situações tem reflexos e são provas daquilo que o Poder Político quer que “ é precisamente a não participação dos cidadãos”. Se há esta cultura política principalmente, por parte dos políticos do Poder, de que os cidadãos não devem participar porque “ incomodam isto passa para todas as outras componentes, desde logo a nível nacional a questão da educação. Não existe em Portugal uma disciplina que aborde o sistema democrático português. O trabalho associativo podia levar a um maior desenvolvimento democrático. Mesmo nas próprias associações de estudantes, a maior parte dos conselhos executivos aperta e controla profundamente as associações. E quase impossível uma associação fazer alguma coisa sem informar o conselho executivo. Desde pequenos que somos formatados para aceitar que o Poder está lá e que não o podemos contrariar. Ninguém discute a sério o 25 de Abril. Em termos práticos a participação do cidadão na AM “devia ser no início das sessões porque permitia que os deputados no período antes da ordem do dia questiona-se aquilo que foi dito antes. Já existe várias assembleias, por este país fora que tem o tempo de intervenção ao público no início das sessões”. Paulo Folhadela deputado municipal do PS confrontado com o tema vincou a necessidade da participação cívica e de cursos de educação para a cidadania e formação cívica. FALTA A ÉTICA DEMOCRÁTICA Para este interveniente a crise de participação cívica começa nos partidos políticos que são fechados porque os deputados são dependentes dos partidos, desconhecidos dos cidadãos sem qualquer ligação aos eleitores e existe ainda uma dose de ausência de princípios éticos em muitos dos eleitos. Paulo Folhadela falou ainda do problema das nome-ações políticas cujo os detentores dos cargos de relevân- cia não são eleitos pelo povo o que se torna mais fácil a tão falada corrupção das autarquias. Apesar da constituição dizer que a vida política se baseia na participação directa dos homens e das mulheres para a consolidação da democracia “ a verdade e a realidade é que hoje não é assim. Temos um distanciamento cada vez maior, entre eleitores e leitos. Há uma crise de participação cívica que se nota em todos os sectores”. Na AM, Paulo Folhadela disse que está assegurada na medida em que os eleitos são os representantes dos eleitores. Contudo chamar os eleitores a participação “quando temos uma ‘caixa’ que por imposição legal os assuntos que a câmara é obrigado a remeter à AM e que já sabe que vão ser aprovados porque está sustentada com uma maioria o que simplesmente se torna uma questão técnica e cumpre-se uma formalidade legal”. (CONTINUA NA PÁG. 13) 13 De 18 a 24 de Dezembro de 2007 A AM é um órgão quase técnico que vota sim ou não conforme as orientações políticas e pouco tem de participação cívica. O período dedicado ao público é no final da reunião e só lá vai quem em desespero de causa, já não tem mais a onde ir, vai fazer ouvir a sua voz e a maior parte das vezes ouve o seu próprio eco porque raramente obtém respostas. metropolitana do Porto. “Uma vergonha!”. Agora, que faz parte da coligação, conseguiu agendar algumas reuniões no início do primeiro mandato, mas quando a sua consciência falou mais alto, e fez manchete neste semanário, considerando o projecto de resíduos para Fradelos “uma bomba atómica”, as propostas para agendamento na AM começaram a ser bem calculadas. Tão calculadas que Tavares Bastos lá vai dizendo: “quando fazia parte da coligação…”. É mais uma vez a sua consciência a falar mais alto porque todos sabemos que teoricamente ele ainda faz parte da coligação. CONSCIENCIALIZAR OS CIDADÃOS Cerejeira Leitão, membro da mesa da AM, também concorda que há um défice de participação cívica tendo a maior parte das pessoas uma actuação passiva. Reconhecendo que o problema da participação cívica é muito completo, “que existe em todas as áreas mas na política está muito bem documentado e toda a gente reconhece”. Cerejeira Leitão entende que para ultrapassar esta tendência é necessário consciencializar as pessoas e elevar a nível pessoal, político, social e intelectual de forma a elas se envolverem na sociedade”. Para Cerejeira Leitão é ideal é que todo o cidadão tenha um nível de participação cívica mas “isso nunca Os oradores foram unânimes: é necessário incentivar a participação cívica se vai atingir plenamente”. Para além da intervenção política há outros níveis onde essa intervenção pode ser feita. Em relação à AM são os deputados que representam o povo, é um modelo imperfeito mas foi aquele que se organizou para se estabelecer os órgãos políticos tais como eles existem”. “CACIQUISMO E MEDO DE REPRESÁLIAS” O deputado Tavares Bastos também afirma que o poder local está em crise, e no tempo em que foi vereador as discussões nas reuniões de Câmara “duravam desde as três da tarde à uma da manhã”. O polémico Tavares Bastos afirma que a AM é um órgão “nubeloso para os cidadãos”. “Sasbe que existe, mas para o povo quem manda no cocnelho é o presidente da Câmara e não sabe que a AM é o órgão máximo da autarquia. A legislação dá-lhe competências e poderes para decidir quase tudo. A legislação está bem feita, mas na prática não funciona. Na prática quem manda é o presidente da Câmara, mas isto é agora, e foi no tempo da outra senhora”. Tavares Bastos entende que a falta de participação cívica se deve ao “caciquismo e ao medo de represálias”. Quanto às intervenções do público, Tavares Bastos diz que não tem ideia formada, tudo o resto funciona de maneira impecável. Todavia, não deixou de referir a ausência de agendamento de propostas que os deputados têm direito. “Quando era o PS não consegui agendar uma úni-ca reunião e tivemos temas importantes”. E deu como exemplo a tentativa por parte de Agostinho Fernandes ao tentar “enfiar” o concelho na área FILOMENA LAMEGO