UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
FERNANDO PROTTI BUENO
AS RELAÇÕES ENTRE ECOTURISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL
NO PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA
Balneário Camboriú
2006
2
FERNANDO PROTTI BUENO
AS RELAÇÕES ENTRE ECOTURISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PÓLO DE
ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA
Dissertação apresentada como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre, no
Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em
Turismo e Hotelaria pela Universidade do
Vale do Itajaí, Centro de Educação Balneário
Camboriú.
Orientador: Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires
Balneário Camboriú
2006
3
FERNANDO PROTTI BUENO
AS RELAÇÕES ENTRE ECOTURISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO PÓLO DE
ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre, no
Programa de Mestrado Acadêmico, do Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu em Turismo e
Hotelaria na Linha de Pesquisa Planejamento e Gestão dos Espaços para o Turismo, da
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Balneário Camboriú, a seguinte banca
examinadora:
Área de Concentração: Ciências Sociais Aplicadas
Sub-área: Turismo
Balneário Camboriú, 22 de novembro de 2006
Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires
UNIVALI – CE de Balneário Camboriú
Orientador
Prof. Dr. Marcus Polette
UNIVALI – CE de Balneário Camboriú
Membro
Profª. Dra. Célia Maria Toledo Serrano
UNIBERO – Centro Universitário Ibero-Americano
Membro
4
Dedico esse trabalho àqueles que são o
equilíbrio entre a razão e a emoção da minha
vida, dos quais honro-me e orgulho-me de
compartilhar os momentos dessa vida. À meus
pais, José Roberto e Rebeca; às minhas avós,
Ruth e Yolanda (in memorian); e,
carinhosamente, à Maria Helena.
5
Agradeço, primeiramente, a uma força divina por me iluminar e me proteger, além de me
impulsionar e de me fazer crer, cada dia mais, que as limitações do potencial humano estão
relacionadas às novas formas de aprendizado e a novas possibilidades de amadurecimento
pessoal.
Agradeço, em especial, aos meus admiráveis pais, José Roberto e Rebeca, acima de tudo
pelos constantes ensinamentos, pelo companheirismo e amor. Saibam que essa é apenas mais
uma etapa de um ciclo e, que nesse processo, vocês foram e sempre serão essenciais.
Eu me orgulho e amo vocês!
Agradeço também aos familiares Raquel e José Eduardo, Raul e Márcia, e Tio Antônio, pelo
constante apoio e entusiasmo.
Agradeço também à minha sogra Maria, por ter me acolhido com carinho e aos demais
membros dessa minha segunda família, que me enchem de alegria, Camila, Juliana, Marília e
o ‘pequeno’ Gustavo.
Agradeço também aos Tios José Luis e Nicácio, às suas companheiras Candice e Marjorie, e
às avós Maria Ofélia e Waldomira, pelo constante apoio e entusiasmo.
Em especial, agradeço à minha fiel e amada companheira, Maria Helena, pelo amor e
constante carinho, pela paciência, pelos momentos de reflexão e de diversão e também, por
compartilhar os momentos de alegria e de tristeza da minha vida.
Agradeço também aos velhos e bons amigos (as) que a vida me proporcionou, Bruno e
Camila, Carlos, Carol e Adriano, Daniel, Diogo, Fernando (Little), Gabriela, Helena,
Janderli, Marcatto, Maria Tereza, Mariana, Oswaldo, Rejane, Ricardo... pelos momentos de
descontração e pela amizade.
Agradeço também aos amigos e professores da graduação, Ana Paula, Célia, Claudinha,
Garcez e Reinaldo, e do mestrado Emil, Everton, Francisco, Guerra (Educação), Josildete,
Polette, Raquel, Roselys (in memoriam), Trigo e Yolanda, pelos momentos de reflexão e
entusiasmo.
Agradeço, em especial, ao professor, orientador e amigo, Paulo dos Santos Pires, por
compartilhar reflexões e preocupações nesse glorioso e angustiante caminho e também, por
saber ser e saber conviver, por respeitar e (por) incentivar o desenvolvimento pessoal,
intelectual e profissional.
6
“O sujeito pensante
não pode pensar sozinho;
não pode pensar sem a co-participação
de outros sujeitos
no ato de pensar sobre o objeto.
Não há um ‘penso’,
mas um ‘pensamos’.
É o ‘pensamos’ que estabelece o ‘penso’
e não o contrário.
Esta co-participação dos sujeitos
no ato de pensar se dá na comunicação.
O objeto, por isso mesmo,
não é a incidência terminativa
do pensamento de um sujeito,
mas o mediador da comunicação”
Paulo Freire
7
RESUMO
A presente pesquisa teve por objetivo analisar as possíveis relações existentes entre o
ecoturismo e a educação ambiental, no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina
(PEISC), localizado na Ilha de Santa Catarina, porção territorial em que se situa Florianópolis,
cidade integrante do Estado de Santa Catarina e, consequentemente, da Região Sul do Brasil.
Essa análise delimitou as possíveis inter-relações entre as áreas supracitadas, com o intuito de
vislumbrar as possibilidades de conservação da natureza, bem como, de identificar as formas
e os locais em que, tanto o ecoturismo quanto à educação ambiental, ocorrem no pólo. Por
tratar-se de uma pesquisa interdisciplinar, composta de duas etapas, uma teórica e outra
empírica, adotou-se como procedimentos metodológicos o método qualitativo e a utilização
das técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e de entrevista estruturada, com roteiro de
perguntas abertas, aplicado aos agentes e operadores de turismo na natureza do PEISC e aos
gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do PEISC. Os dados obtidos por meio
dessas duas etapas de pesquisa foram analisados por meio das técnicas de análise documental
e de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Evidencia-se como resultados finais da
pesquisa, primeiramente, a existência de uma relação histórica entre ecoturismo e educação
ambiental, principalmente, em função de serem fruto do movimento ambientalista, assim
como, de disporem de características e princípios relacionados à conservação da natureza.
Posteriormente, evidencia-se o fato do ecoturismo ser um meio de desenvolvimento da
educação não-formal, bem como, da educação ambiental ser uma ferramenta ao planejamento
e ao desenvolvimento de atividades denominadas de ecoturismo. Além disso, identificou-se a
existência de distintas modalidades de educação ambiental (aprendizado seqüencial,
interpretação ambiental, educação experiencial e educação no processo de gestão ambiental) e
de um escopo teórico-metodológico aplicado a cada uma destas, as quais são passíveis de
serem aplicadas ao ecoturismo, com o intuito de formação e transformação dos valores e das
atitudes ambientais dos indivíduos envolvidos nas atividades de ecoturismo. Por fim, como
resultados provenientes dos DSC, pode-se mencionar que, entre os atores sociais direta e
indiretamente envolvidos nos processos de planejamento e desenvolvimento do ecoturismo no
PEISC, há um distanciamento entre as áreas de ecoturismo e educação ambiental.
Palavras-chave: ecoturismo; educação ambiental; conservação da natureza; Pólo de
Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina.
8
ABSTRACT
The research presented here aimed at analysing the possible existent relations between
ecoturism and environment education in the Ecoturism Center of Santa Catarina Island
(PEISC), which is located in the Island of Santa Catarina - the territorial land where
Florianópolis is located. Florianópolis is a city which integrates the State of Santa Catarina,
and, consequently, a city which integrates the South Region of Brasil. This analyses set the
boundaries between the possible interrelations of the this areas mentioned above with the
intention to glimpse at the possibilities to conserve the nature, as well as to identify the ways
and the places where the ecoturism as the enviroment education ocurred in this Center. Once
it is an intersubject research, it is composed of two phases: one theoretical and the other
empirical. The methodological procedure adopted was the qualitative method and the use of
bibliographic research technic documental, and structured interviews holding a script of open
questions ran with tourism operators in the field of PEISC and also with administrators or
managers of the ecoturism destinations of PEISC. The data obtained by the means of these
two phases of the reasearch were analysed by the documental analyses technic and by the
analyses of the Discourse of the Colective Subject (DSC). As final results of the research we
evidenciate: Firstly, the existence of a historical relationship between ecoturism and
enviroment education, mainly due to the fact of theses two issues being a result of the
environmental movement, as well as of holding characteristics and principles related to the
conservation of nature. Secondly, we evidenciate the fact of ecoturism being a way of
development of non-formal education; as well as being a tool to plan and develop activities
named under ecoturism. Besides that, we identified the existence of distinct modalities of
environment education - sequencial learning, environment interpretation, experiencial
education and education within the environment management process - and of a range of
method-theoretical frames applied to each of these instances mentioned before, which can be
applied to ecoturism aiming at forming and transforming the values and attitudes toward the
environment of the individuals involved in the ecoturism activities. Finally, based on the
results from the Discourse of the Colective Subject (DSC) data, we can mention that among
the main social roles, direct or inderectly involved in the process of planning and development
of ecoturism at PEISC, there is a gap between the areas of ecoturism and environment
education.
Key words: ecotourism; environmental education; conservation of nature; Ecoturism Center
of Santa Catarina Island.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Análise sistêmica do contexto socioambiental ............................................. 28
Figura 2 – Modelo de desenvolvimento econômico ...................................................... 29
Figura 3 – Critérios para sustentabilidade .............. ...................................................... 31
Figura 4 – Tipos de paisagem ........................................................................................ 35
Figura 5 – O ecoturismo como segmento de mercado turístico .................................... 39
Figura 6 – O mercado alternativo do turismo ................................................................ 40
Figura 7 – Espectro da atividade turística ...................................................................... 41
Figura 8 – A velha-nova concepção – mercado mutante ............................................... 42
Figura 9 – Identificando as diferentes necessidades e interesses .................................. 50
Figura 10 – Quatro passos no processo de planejamento do ecoturismo ...................... 51
Figura 11 – Categorias de objetivos da educação ambiental ......................................... 65
Figura 12 – A dimensão ambiental na educação ........................................................... 66
Figura 13 – Pretensão da educação ambiental ............................................................... 69
Figura 14 – Planejamento em educação ambiental ........................................................ 70
Figura 15 – Estrutura da educação experiencial ............................................................ 78
Figura 17 – Mata Atlântica no Brasil ............................................................................ 87
Figura 18 – Fluxograma da pesquisa ............................................................................. 96
Figura 19 – O processo de educação ambiental aplicado ao ecoturismo ...................... 109
10
LISTA DE MAPAS
Mapa 1 – Localização do Estado de Santa Catarina e dos Pólos de Ecoturismo do
Estado de Santa Catarina ............................................................................................... 83
Mapa 2 – Unidades de Conservação no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina 84
Mapa 3 – Cidade de Florianópolis e sua vegetação original . ....................................... 88
Mapa 4 – Cidade de Florianópolis e sua vegetação atual .............................................. 88
Mapa 5 – Mapa fitogeográfico ...................................................................................... 89
11
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Possibilidades de impactos positivos e negativos do ecoturismo em áreas
naturais ........................................................................................................................... 45
Quadro 2 – Possibilidades de impactos positivos e negativos do ecoturismo em
unidades de conservação ................................................................................................ 46
Quadro 3 – A tipologia das concepções sobre o meio ambiente na educação
ambiental ........................................................................................................................ 60
Quadro 4 – Os benefícios educativos da interpretação ambiental ................................. 75
Quadro 5 – Os benefícios da interpretação ambiental para a administração da área de
conservação e proteção .................................................................................................. 76
12
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................... vii
ABSTRACT .................................................................................................................. viii
LISTA DE FIGURAS .................................................................................................. ix
LISTA DE MAPAS ...................................................................................................... x
LISTA DE QUADROS ................................................................................................ xi
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 14
2 AS RAÍZES AMBIENTAIS DO ECOTURISMO ................................................. 20
2.1 Ambientalismo: um dos precursores históricos do ecoturismo ...................... 20
2.2 Sustentabilidade: o pilar de desenvolvimento do ecoturismo ........................ 27
2.3 O espaço natural enquanto cenário para o ecoturismo ................................... 32
2.4 Concepções sobre ecoturismo ........................................................................ 36
3 AS BASES CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL ............................ 54
3.1 Concepções sobre educação ........................................................................... 54
3.2 Evolução da educação ambiental ................................................................... 56
3.3 Concepções sobre educação ambiental .......................................................... 60
3.4 Modalidades de educação ambiental não formal ao ar livre .......................... 71
3.4.1 Aprendizado seqüencial ......................................................................... 71
3.4.2 Interpretação ambiental .......................................................................... 74
3.4.3 Educação experiencial ............................................................................ 77
3.4.4 Educação no processo de gestão ambiental ............................................ 79
4 O PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARIANA (PEISC) .. 82
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ........................................................... 92
5.1 O método e as técnicas da pesquisa ............................................................... 93
5.2 Seleção e coleta de dados junto aos atores sociais entrevistados ................... 97
5.3 Análise qualitativa dos dados ......................................................................... 99
6 RESULTADOS DA PESQUISA ............................................................................. 105
6.1 Tecendo relações entre o ecoturismo e a educação ambiental ....................... 105
6.2 Análise dos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC) ......................................... 111
6.2.1 DSC dos agentes e operadores de turismo na natureza do PEISC ........ 111
6.2.2 DSC dos gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do
PEISC ................................. ............................................................................ 121
13
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 138
8 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 142
9 APÊNDICES ............................................................................................................. 154
Apêndice A – Roteiro de entrevista com os agentes e operadores de turismo na
natureza de Florianópolis ..................................................................................... 155
Apêndice B – Roteiro de entrevista com os gestores e ou responsáveis pelas
Unidades de Conservação existentes no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa
Catarina ................................................................................................................ 156
Apêndice C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido .............................. 157
Apêndice D – Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas aos
agentes e operadores de turismo na natureza do Pólo de Ecoturismo da Ilha de
Santa Catarina ...................................................................................................... 158
Apêndice E – Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas aos
gestores e ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do Pólo de Ecoturismo
da Ilha de Santa Catarina ...................................................................................... 169
10 ANEXOS .................................................................................................................. 184
Anexo A – Matriz de problemas do segmento de ecoturismo ............................. 185
Anexo B – Ações estratégicas para o desenvolvimento do ecoturismo ............... 186
Anexo C – Ação nº8 – Conscientização e informação do turista ........................ 187
Anexo D – Educação ambiental não formal ......................................................... 188
Anexo E – Quadro do aprendizado seqüencial .................................................... 189
Anexo F – Modelo de Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) ................................ 190
Anexo G – Áreas naturais protegidas .................................................................. 192
Anexo H – Unidades de proteção integral .......................................................... 193
Anexo I – Unidades de uso sustentável ............................................................... 194
Anexo J – Tabela preliminar das áreas protegidas em Santa Catarina ................. 195
14
1 INTRODUÇÃO
O turismo, enquanto atividade humana, envolve o deslocamento de pessoas para as
localidades denominadas destinos turísticos devido às motivações intrínsecas ao
comportamento humano, bem como, devido às atrações disponíveis naquele espaço, sejam
elas culturais ou naturais. O aumento crescente dos deslocamentos turísticos, nos últimos
anos, tem feito com que essa atividade seja identificada como um dos maiores e principais
setores econômicos no mundo, sendo que, para tanto, este tem sido planejado e desenvolvido,
principalmente nos países em desenvolvimento, como uma alternativa econômica (muitas
vezes tornando-se a principal) e como estratégia ao desenvolvimento de cidades com
potenciais turísticos e, consequentemente, de suas comunidades.
Atualmente, o turismo cresce e desenvolve-se em grandes proporções, o que permite à
Organização Mundial do Turismo (OMT, 2003, p. 17) afirmar que o turismo “[...] tornou-se
um dos principais setores sócio-econômicos mundiais [...]”, pressupondo inclusive, com base
em cálculos realizados por essa instituição, que até o ano de 2020 “[...] haja cerca de 1,6
bilhões de chegadas de turistas internacionais e que a receita turística internacional atinja 2
trilhões de dólares”. Sob o ponto de vista econômico, este cenário representa cifras
incalculáveis, assim como, remete a um intenso movimento de pessoas em busca de destinos e
serviços realizados direta ou indiretamente pelo setor em questão.
Fazendo uso das palavras de Trigo (2003, p. 54) pode-se, portanto, ressaltar que “o
crescimento do turismo é uma realidade inexorável [...]” e que contemplar essa atividade
apenas em seu aspecto econômico seja algo pretencioso e pouco comprometido com os
demais aspectos que compõem essa atividade (social, cultural e ambiental). Afinal, apesar do
turismo ser considerado uma atividade global, talvez seja relevante considerar que essa
atividade, em essência, constitui-se das intrínsecas relações sociais estabelecidas entre as
pessoas e suas diferentes culturas.
Desse modo, analisar o fenômeno turístico diante desses e de outros aspectos a ele
relacionados, induz à sua compreensão como uma área diversificada, interdisciplinar e
complexa, que utiliza outras variadas e importantes áreas do conhecimento para se estruturar e
que, por isso, figura como uma área de conhecimento das ciências sociais aplicadas, sendo
que a sua configuração enquanto área do conhecimento científico ainda apresenta-se pautada
por uma fase de construção e possível evolução.
15
Diante disso, Beni (2003) entende o turismo como um fenômeno relacionado ao
contexto do lazer e que, por isso, é detentor de um enorme potencial no processo de mudança
de valores, deixando de ser apenas uma atividade utilitarista, para compor espaços
qualitativos e propícios às trocas sócio-culturais.
Para que seja possível compreender e analisar mais detidamente o turismo em seus
aspectos econômicos, sócio-culturais ou mesmo sócio-ambientais é necessário evidenciar que
o mercado turístico é composto por segmentos ou grupos de atividades com características
semelhantes, em razão às diferentes motivações de viagem, sendo aqui especialmente
consideradas àquelas relacionadas ao campo ecológico, ou também denominado ecoturismo.
Esse destaque justifica-se porque a OMT (2003) evidencia como uma tendência para a
área de viagens a busca por áreas naturais protegidas, com o intuito de contemplação da
natureza, a busca por atividades que envolvam uma certa dose de aventura, assim como, a
popularização do ecoturismo. Isto porque, tem sido crescente o número de turistas
interessados por questões relacionadas ao meio ambiente natural, fato que pode ser justificado
pelos inúmeros problemas ambientais que assolam o Planeta Terra, bem como, em virtude da
propagação das discussões ambientais mundiais.
O ecoturismo, atividade que pode ser considerada com um dos resultados indiretos
das ações dos movimentos ambientalistas, toma corpo e se solidifica na sociedade pósmoderna por conciliar a satisfação da necessidade de práticas humanas em ambientes naturais,
em função da fuga do cotidiano e da busca por alternativas sustentáveis, e por contrapor-se, ao
menos teoricamente, às práticas de turismo tradicionalmente caracterizadas como de massa ou
convencional.
A atual importância do ecoturismo na sociedade não está apenas baseada no aspecto
econômico, mas principalmente, por acreditar-se em seu potencial para a conservação da
natureza e em seu potencial educativo, ambos potencializados pelas possíveis sensações e
experiências realizadas diretamente com e na natureza. O caráter educativo do ecoturismo
reside no fato de esta ser uma atividade composta de diferentes ações que apresentam a
importância do ambiente (natureza) por meio da própria atividade à humanidade e que,
necessita da participação responsável dos ‘ecoturistas’ para que se atinja os seus objetivos,
inclusive o da conservação da natureza. Porém nesse caso, questiona-se: como uma atividade,
em essência educativa, estimula e, ao mesmo tempo, contém o consumo dos atrativos
naturais? Assim como, quais são as formas pelas quais pode-se educar para a conservação da
natureza?
16
No mercado ecoturístico tem-se identificado atividades nem sempre comprometidas e
que atendam às suas potencialidades, pois os aspectos econômicos imediatistas sobrepõem-se
aos aspectos sociais, culturais e ambientais. Em decorrência disso, pressupõe-se que a
educação ambiental torna-se uma importante ferramenta para a promoção do desenvolvimento
sustentável do ecoturismo sem que, contudo, esse segmento da atividade turística deixe de ser
valorizado economicamente.
Desse modo, a adoção do ecoturismo como tema central dessa pesquisa, na sua relação
específica com a educação ambiental procurou compreender como o ecoturismo incorpora
essa vertente educacional ao seu planejamento e, consequentemente, ao seu desenvolvimento,
bem como, quais os objetivos que a incorporação dessa vertente educacional acrescem aos
objetivos iniciais do ecoturismo.
Entende-se que a vertente educacional do ecoturismo concretiza-se por meio da
educação ambiental e, em função disso, questiona-se: como a educação ambiental é aplicada
ao ecoturismo? A educação ambiental é aplicada por meio de algum processo ou metodologia
específica? E por fim, como desenvolvem-se esses processos ou metodologias?
Para tanto, escolheu-se como objeto de estudo o Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa
Catarina (PEISC), para que nesse pólo fosse possível elucidar os destinos de ecoturismo que
possivelmente desenvolvem a educação ambiental, bem como, proporcionam à este processo,
resultados em benefício da conservação da natureza.
Os Pólos de Ecoturismo, no qual inclui-se o PEISC, de acordo com o Projeto Pólos de
Desenvolvimento de Ecoturismo no Brasil, de 2001, foram caracterizados como espaços
propícios ao desenvolvimento do ecoturismo por possuir, além de recursos naturais e
culturais, uma infra-estrutura necessária para a realização dessa atividade. O PEISC,
localizado na região Sul do Brasil, especificamente na Ilha de Santa Catarina, compreende a
cidade de Florianópolis e seu entorno e é delimitado pela disposição geográfica das unidades
de conservação existentes na região, tendo ao norte a Reserva Biológica do Arvoredo, ao sul o
Parque Estadual da Serra do Tabuleiro e a noroeste a Área de Proteção Ambiental de
Anhatomirim (MAGALHÃES, 2000a; MELLES, 2001).
Diante disso, salienta-se que a presente pesquisa está vinculada ao Programa de
Mestrado Acadêmico Stricto Sensu em Turismo e Hotelaria e enquadra-se na Linha de
Pesquisa I (Planejamento e Gestão dos Espaços para o Turismo), que tem seu principal
enfoque nos impactos e transformações psico-sócio-culturais, econômicas e ambientais
ocorridas nos locais que se desenvolvem as atividades turísticas. Na tentativa de refletir sobre
os contextos e os questionamentos supracitados e em especial, sobre as temáticas da linha de
17
pesquisa supracitada, teve-se por objetivo geral analisar as relações existentes entre o
ecoturismo e a educação ambiental no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina.
Para a realização desta pesquisa utilizou-se o método qualitativo, por meio do uso das
técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, para a coleta de dados, que são consideradas
indispensáveis à formação de um referencial teórico e fundamentais à composição das
reflexões propostas por essa pesquisa.
Além das técnicas supracitadas, para a etapa empírica da coleta de dados, utilizou-se
da aplicação da técnica de entrevista estruturada, com perguntas abertas, sendo as
informações coletadas por esta técnica foram posteriormente analisadas por meio da técnica
de análise do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). O material coletado nas entrevistas,
analisado por meio da técnica de análise do DSC (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003), procurou
evidenciar as perspectivas de relação entre o ecoturismo e a educação ambiental no PEISC, a
partir dos discursos individuais, que por fim compõem um discurso coletivo, representativo
do ideário coletivo de uma sociedade.
Desse modo, a pesquisa divide-se em duas etapas, a etapa teórica e a empírica, e
salienta-se que essas partes são indissociáveis, sendo que apenas são colocadas dessa forma
para que facilite o entendimento de seus procedimentos metodológicos. Sendo assim, a etapa
teórica foi orientada pelos seguintes objetivos específicos: 1. Verificar as relações entre o
ecoturismo e a educação ambiental com vistas a conservação da natureza e 2. Identificar as
modalidades de educação ambiental aplicadas no ecoturismo. Para esses dois objetivos
iniciais, utilizou-se as técnicas de pesquisa bibliográfica e documental para a coleta de dados e
a análise documental, para a posterior análise de seu conteúdo.
A etapa empírica, mediante a aplicação da técnica de entrevista estruturada analisada
por meio da técnica de análise do DSC, teve como objetivos específicos 3. Levantar junto aos
agentes e operadores de viagem do segmento de turismo na natureza do Pólo de Ecoturismo
da Ilha de Santa Catarina, os destinos de ecoturismo que desenvolvam a educação ambiental.
A partir do levantamento desses destinos ecoturísticos, foram aplicadas novas entrevistas,
agora com o objetivo de 4. Reconhecer junto aos gestores ou responsáveis pelos destinos de
ecoturismo do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina a importância da educação
ambiental no ecoturismo para a conservação da natureza desses locais.
Salienta-se que, a concepção de turismo na natureza, adotada por essa pesquisa,
baseia-se nos estudos de Pires (2002) e Serrano (2000b), que o compreendem como um
segmento de atividades turísticas e como um conjunto das possíveis formas de turismo
realizadas no meio ambiente, com enfoque principal ao aspecto natural, na qual inclui-se o
18
ecoturismo. Por isso, o levantamento das agências e operadoras indicado no terceiro objetivo
específico, baliza-se pela evidência dessa representação do mercado sem, contudo, restringirse apenas às agências e operadoras voltadas especificamente ao ecoturismo, o que seria
extremamente complexo e quiçá utópico.
Salienta-se também que durante o processo de coleta de dados, utilizou-se informações
advindas de dissertações produzidas pelo Mestrado em Turismo e Hotelaria da referida
Instituição, assim como, de dissertações e teses produzidas por outros programas acadêmicos
dessa e de outras instituições de ensino. Entretanto, constatou-se que, em sua maioria, as
produções tanto acerca da temática do ecoturismo quanto da educação ambiental, não
contemplavam a inter-relação dessas duas áreas, podendo, dessa forma, contribuir apenas
indiretamente e inicialmente à realização dessa pesquisa. Verificou-se, portanto, que tal
lacuna constituiria uma importante justificativa para a realização dessa pesquisa, inclusive
porque toda a atividade de ecoturismo pressupõe a aplicação da educação ambiental e,
consequentemente, toda pesquisa acerca desse segmento prescinde da consideração dessa
variável.
A apresentação da presente pesquisa está estruturada em capítulos que se completam e
que abordam as relações entre as áreas temáticas de estudo – ecoturismo e educação
ambiental, juntamente com o objeto de estudo da pesquisa – o Pólo de Ecoturismo da Ilha de
Santa Catarina. Desse modo, o capítulo inicial apresenta uma síntese da compreensão de
diferentes autores sobre ‘As raízes ambientais do ecoturismo’, com o intuito de evidenciar as
bases ambientais que originaram o ecoturismo, enquanto um dos resultados dos movimentos
ambientalistas, que pode ser considerado como uma alternativa de atividade sustentável para
as práticas capitalistas na natureza e, devido a isso, uma atividade consumidora de espaços
naturais. Assim como, evidencia também as bases conceituais relacionadas aos princípios, aos
componentes e às possíveis interfaces do ecoturismo com o seu componente educativo
(educação ambiental), observadas a partir de percepções elaboradas por autores acadêmicos e
por informações presentes em bases documentais.
No capítulo ‘As bases conceituais da educação ambiental’ teve-se o objetivo de
esclarecer as propostas dessa educação no, para e com o ambiente natural, assim como,
identificar as modalidades de educação ambiental não-formal, evidenciadas ao longo da
pesquisa e, possivelmente, aplicadas nos espaços naturais, bem como, aplicadas no
ecoturismo. A intenção era explicar os componentes teóricos e metodológicos das
modalidades, que possibilitassem uma compreensão do processo educativo, o qual
19
supostamente proporciona o desenvolvimento de atitudes e comportamentos ambientais não
nocivos à conservação da natureza.
O espaço escolhido para a compreensão da temática que constitui o objeto de estudo
dessa pesquisa é apresentado no capítulo ‘O Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina’,
o qual reúne informações acerca do espaço físico que forma o PEISC, para que a partir disso
fosse possível vislumbrar uma base potencial para as relações existentes entre o ecoturismo e
a educação ambiental.
Na seqüência o capítulo denominado ‘Procedimentos metodológicos’ evidencia e
explica os caminhos percorridos para a execução das etapas de pesquisa teórica e empírica,
assim como, submete o leitor à compreensão da importância da utilização da técnica de
análise do Discurso do Sujeito Coletivo nas entrevistas aplicadas às amostras escolhidas.
Por fim, o capítulo que trata dos ‘Resultados da pesquisa’ revela as possíveis relações
entre as áreas do ecoturismo e da educação ambiental em suas perspectivas teóricas, que
contemplam os objetivos específicos 1 e 2, bem como, em uma análise pautada pelos
discursos (DSC) dos atores sociais entrevistados e envolvidos, direta e indiretamente, no
desenvolvimento dessas atividades no PEISC, que contemplam os objetivos específicos 3 e 4.
20
2 AS RAÍZES AMBIENTAIS DO ECOTURISMO
2.1 Ambientalismo 1 : um dos precursores históricos do ecoturismo
Ao longo da história humana no Terra, parece sempre ter havido uma relação, por
vezes harmoniosa e por outras conflituosa, entre os âmbitos social e natural e isto se explica,
como informa Viola (1987) pela humanidade fazer parte e depender da natureza para
sobreviver. Porém este ressalta que a civilização tem o poder de modificar a natureza, fato que
ocorre em escala sempre crescente, e apresenta aspectos positivos e negativos, sendo
considerados enquanto efeitos negativos, por exemplo a destruição do solo, as alterações
climáticas, a poluição das águas e atmosfera, a superpopulação, entre outros.
Assim, Toynbee (1982 apud VIOLA, 1987) atenta que o comportamento humano
pode e gera diversas e, por vezes, profundas crises ecológicas, bem como, desastres naturais
ao longo da história do ser humano. Viola (1987) acrescenta que esse comportamento não é
algo novo, bem como, não se restringe ao final do século XX, mas sim reflete a escala de
poder dos instrumentos de degradação, já que, na visão do autor, quatro catástrofes
ameaçariam a vida humana no final desse século: a guerra nuclear, o lixo atômico, o efeito
estufa e o esvaziamento da camada de ozônio.
Chegado o século XXI, tem-se o registro de diferentes desastres ambientais, que
marcam a humanidade e colocam em pauta os impactos causados pelas agressões humanas à
natureza. Normalmente, esses desastres ocorrem devido aos processos naturais, mas creditase a responsabilidade total desses fatos ao poder humano, que na verdade, tem sim a sua
parcela de responsabilidade, principalmente, quando utiliza indiscriminadamente os recursos
naturais para fins supérfluos.
Como exemplos desses desastres naturais podem ser citados os ocorridos no ano de
2005, o Tsunami asiático, o furacão Katrina nos Estados Unidos e o terremoto na Caxemira,
que proporcionaram a humanidade, além de destruição, um momento de reflexão sobre a ação
do homem no processo de causa e efeito dos mesmos (D’AMARO, 2005; REVISTA VEJA,
2005; SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL, 2005).
1
A temática do ambientalismo será tratada nesse texto de acordo com sua base funcional, sugerindo-se assim, as
obras de Castells (1999), Pellicioni (1994), Viola (1987; 1992) e Viola e Leis (1995) para uma maior delimitação
dos componentes e das tipologias dos movimentos ambientalistas.
21
Segundo Carvalho (2002) a relação da sociedade (homem) versus natureza 2 (ambiente
natural) é alimentada há tempos por uma utopia de relação simétrica entre os interesses das
sociedades e os processos da natureza, havendo portanto, uma relação conflituosa entre ética e
racionalidade ambiental, no que tange ao objetivo de organizar a vida em sociedade na
direção de influir decisivamente na produção das condições ambientais. Nesse sentido, esta
autora infere ainda que os movimentos ecológicos tendem a buscar um ideário ambiental em
contraponto ao progresso e ao capitalismo industrial, na crítica aos valores da modernidade
ocidental e na busca de um novo modo de organizar a vida individual e coletiva.
Castells (1999, p. 143), explicita que os movimentos ecológicos (movimento
ambientalista) referem-se a “[...] todas as formas de comportamento coletivo que tanto em
discursos como em sua prática visam corrigir formas destrutivas de relacionamento entre
homem e seu ambiente natural, contrariando a lógica estrutural e institucional atualmente
predominante”.
Além disso, Viola e Leis (1995, p. 136) salientam que
[...] os comportamentos individuais estão muito aquém dos conteúdos dos discursos,
sendo muito poucas as pessoas (inclusive entre os ambientalistas militantes) que
pautam conscientemente seu cotidiano pelos critérios da eficiência energética,
reciclagem de materiais, redução do consumo suntuário e participação voluntária em
tarefas comunitárias de limpeza ambiental.
Contudo, Viola (1992) pondera que o ambientalismo constitui um movimento
histórico que parte da idéia de que a sociedade contemporânea é insustentável, a médio e
longo prazo, devido aos fatores como crescimento populacional, a depreciação da base de
recursos naturais, os sistemas produtivos (tecnologias poluentes e de baixa eficiência
energética) e o sistema de valores que propicia a expansão ilimitada do consumo material. É
com base nas características desse cenário que este autor evidencia a busca nascente por uma
sociedade ecologicamente sustentável, onde o setor mais educado da população começa a
pensar na qualidade de vida ao invés de pensar na expansão do consumo de bens materiais,
uma vez que já há a plena satisfação das necessidades materiais básicas.
Em complemento, Castells (1999) cita que os ideais do século XIX que estavam
centrados na preservação da natureza e na busca de qualidade ambiental com perspectivas
2
Nesse caso, a natureza, assim como no senso comum, será entendida como algo natural, diferente do artificial
(construído), mas conforme ressalta a obra de Carvalho (1991, p.30) a história da natureza não seria desvendada
se a história dos homens não conduzisse a isso, considerando assim, que o homem e a sua espécie são também
obras da natureza. Esclarece-se com isso, que em relação a sua origem a natureza não é algo natural, mas sim
“[...] fruto do longo processo de superação de um espaço primitivo e selvagem, onde não havia lugar para
qualquer produção excedente, pelo espaço de uma outra sociedade [...]”.
22
ecológicas, por muito tempo mantiveram-se restritos as elites de países dominantes. Observase, a partir dessas considerações que, atualmente, as preocupações em relação ao meio
ambiente foram e por vezes ainda são ideais de uma sociedade elitista, pois sabe-se que uma
grande parcela da sociedade mundial ainda sobrevive abaixo dos limites da pobreza.
Desse modo, Castells (1999, p. 158) observa que o pensamento ecológico, proveniente
e idealizador dos movimentos ecológicos, vislumbra a evolução ocasionada pela interação
entre todas as formas de matéria, sendo que
a idéia de utilizar única e exclusivamente recursos renováveis, crucial para o
ambientalismo, está justificada precisamente pela noção de que qualquer alteração
nos mecanismos básicos do planeta, e do universo, poderá ao longo do tempo,
desfazer um delicado equilíbrio ecológico, trazendo conseqüências desastrosas.
Viola (1987, p. 06) evidencia que a consciência ecológica mundial foi despertada na
década de 1970, com a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente
em Estocolmo (1972), onde “pela primeira vez os problemas de degradação ambiental do
meio ambiente provocados pelo crescimento econômico são percebidos como um problema
global que supera amplamente diversas questões pontuais que eram arroladas nas décadas de
50 e 60 [...]”. Em contrapartida, na visão de Vigevani (1997) essa foi a primeira tomada de
consciência internacional sobre a fragilidade dos ecossistemas e sobre as necessidades de se
reunir esforços para garantir sua manutenção, pois como afirma o autor ainda, a Conferência
pretendia encontrar soluções para a diminuição da qualidade de vida, em função da escassez e
do esgotamento dos recursos naturais, alertando desse modo, para o fato de que a sociedade
deveria conhecer melhor a sua relação com o seu ambiente, de modo a aprender formas
inteligentes de utilização dos recursos naturais.
Principalmente, desse período em diante, a temática relacionada ao meio ambiente 3
passa a ser inserida como tema de inúmeras discussões internacionais, o que acarretou em
1983, a criação da Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD)
pela Assembléia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). Essa comissão, em 1987
elaborou o relatório denominado ‘Nosso Futuro Comum’ ou também conhecido como
‘Relatório Brundtland’, que identificou as principais causas e efeitos dos problemas
ambientais e os diferentes tipos de desenvolvimento dos países, chegando à conclusão de que
3
Compartilha-se aqui o entendimento sobre meio ambiente, conforme a definição de Reigota (1998b, p. 14): “o
lugar determinado ou percebido, onde os elementos naturais e sociais estão em relações dinâmicas e em
23
os problemas ambientais com que nos defrontamos não são novos, mas só
recentemente sua complexibilidade começou a ser entendida. Antes, nossas maiores
preocupações voltavam-se para os efeitos do desenvolvimento sobre o meio
ambiente. Hoje, temos de nos preocupar também com o modo como a deterioração
ambiental pode impedir ou reverter o desenvolvimento econômico [...] (CMMAD,
1988, p. 38).
Viola (1987, p. 07) coloca ainda que, em sua maioria, os ecologistas são favoráveis
“[...] a um desenvolvimento ecologicamente equilibrado que inclui a utilização prudente da
maioria das tecnologias contemporâneas, rejeitando somente aquelas intrinsecamente
predatórias”.
Como conseqüência da emergência das questões ambientais, a partir de 1970, há no
mundo um repensar da relação empreendida entre o ser humano e o meio ambiente,
especialmente no tocante à manutenção e conservação do meio ambiente, para o bem estar das
populações e a sobrevivência das gerações futuras. Assim, o surgimento do ambientalismo se
dá no contexto das transformações ocorridas na sociedade ocidental, com a passagem da
modernidade à pós-modernidade (SERRANO, 2000a).
Dessa forma, no período que corresponde à passagem da modernidade à pósmodernidade, são implementadas mudanças sociais, econômicas e culturais, geradas pela
sociedade capitalista que, posteriormente, são repensadas de acordo com o surgimento de um
novo paradigma de qualidade de vida, que inclui a questão ambiental como fator a ser
considerado.
Para uma compreensão dessa passagem, Featherstone (1997, p. 196) cita que “[...] o
termo “modernidade” é usado amplamente nas ciências sociais” em razão da
[...] insatisfação com a capacidade de outros termos, tais como “capitalismo”, para
cobrir todos os aspectos da vida social contemporânea [...]; o crescimento do
interesse pelo pós-modernismo [...]; o ressurgimento do interesse pela cultura e pela
natureza da experiência contemporânea e moderna.
Em complemento Harvey (2000) ressalta que o modernismo é uma fuga estética e
perturbada das condições modernas, produzidas pelo próprio processo de modernização.
Já o termo pós modernismo é entendido por Featherstone (1997, p. 30) “[...] como
algo que aponta o processo de fragmentação cultural e [...] se baseia em um movimento
desenvolvimentista de tradição e da modernidade, construído a partir da experiência
ocidental”. Este autor (Ibid., p. 269 grifos do autor) completa ainda que o pós modernismo
interação. Essas relações implicam processos de criação cultural e tecnológica e processos históricos e sociais de
transformação do meio natural e construído”.
24
[...] é um movimento que se afasta das ambições universalísticas das narrativas
mestras, em que a ênfase se aplica a totalidade, ao sistema e à unidade, e caminha
em direção a uma ênfase no conhecimento local, na fragmentação, no sincretismo,
na “alteridade” e na “diferença”; [...] é a dissolução das hierarquias simbólicas que
acarretam julgamentos canônicos de gosto e de valor, indo em direção ao colapso
populista da distinção entre a cultura e a cultura popular; [...] é uma tendência à
estetização da vida cotidiana, que foi impulsionada pelos esforços, no âmbito da
arte, a fim de diluir as fronteiras entre a arte e a vida [...] e o movimento em direção
a uma cultura de consumo simuladora, na qual o véo das imagens, reduplicado de
maneira alucinatória e interminável, apaga a distinção entre a aparência e a
realidade; [...] é uma descentralização do sujeito, cujo senso de unidade e cuja
continuidade biográfica dão lugar à fragmentação e a um jogo superficial com
imagens, sensações e “intensidades multifrênicas” .
Ortiz (1992 apud SERRANO, 2000b, p. 209) por sua vez, ressalta que pós
modernidade pode também ser considerada “[...] uma das expressões de um rearranjo dos
processos sociais e societários ‘pós-industriais’”. Neste rearranjo prevalece o setor de
serviços, que segundo Serrano (2000b, p. 209) “[...] coloca a produção e o consumo de signos
como elementos centrais da dinâmica sociocultural”, sendo que a autora destaca ainda como
componentes dessa dinâmica, o consumo de bens e serviços, signos e imagens relacionados ao
prazer e ao corpo, entre os quais pode-se colocar aqueles relacionados às atividades físicas.
Featherstone (1997, p. 109) atenta que diante desse cenário há ainda o termo cultura de
consumo, o qual “[...] assinala a produção e o relevo cada vez maiores dos bens culturais
enquanto mercadoria, mas também o modo pelo qual a maioria das atividades culturais e das
práticas significativas passam a ser mediadas através do consumo”. Por fim, este autor
salienta também que a cultura do consumo e o pós modernismo são sinais de mudanças
dramáticas que alteram a natureza da sociedade como resultado da relação do tradicional com
o moderno.
Já em relação as transformações ocorridas em certas práticas corporais Betrán &
Betrán (1995 apud SERRANO, 2000a, p. 09) salientam que
cada sociedade, em cada época, tem sua própria cultura corporal relacionada aos
seus parâmetros ideológicos, tecnoeconômicos, sociais e, é claro, culturais. A idéia
de corpo e tratamentos do corpo, os usos, hábitos e costumes, movimentos que
suscitam, práticas corporais e atividades físicas recreativas que aparecem nesse
período se inscrevem na mentalidade da época.
Assim, Bruhns (1999) observa que as experiências do corpo em contato com a
natureza representam um reconhecimento do espaço que o corpo ocupa, uma relação com o
mundo, uma revisão de valores e um encontro do homem consigo mesmo, sendo que o corpo
humano atua recebendo as informações de uma cultura.
25
Cabe ressaltar ainda que, para Baudelaire (1972 apud FEATHERSTONE, 1997), a
novidade é a principal característica da experiência na vida moderna e, em complemento,
Featherstone (1997, p. 204) cita que “a viagem pode ser entendida como um paradigma da
experiência e devemos lembrar que a raiz da palavra “experiência” é per, que significa tentar,
testar, arriscar”.
Tendo como base essas transformações, o ecoturismo surge e se desenvolve pautado
por
[...] um traço de consumo de cunho narcisita-hedonista – a busca do bem-estar e do
prazer físico e mental, pela “adrenalina” ou pela contemplação – ao qual,
paralelamente coloca-se a disseminação do ambientalismo, que deixa de ter um
caráter apenas reivindicativo de proteção de espécies e ecossistemas ou de mudanças
estruturais da relação sociedade-natureza e passa a englobar debates mais gerais
como direitos das minorias, questões de gênero e qualidade de vida (SERRANO,
2000b, p. 210).
O ecoturismo 4 , nesse caso, é entendido por Serrano (2000b) como o turismo pósmoderno, que é caracterizado por Munt (1994 apud SERRANO, 2000a, 2000b, 2000c) pela
resistência das classes médias à homogeneização do turismo de massa e é marcado por locais
com culturas resguardadas e ou por locais de rara beleza cênica, com objetivo atlético,
aventureiro ou de contemplação.
Ressalta-se que esse contexto de surgimento e desenvolvimento do ecoturismo,
intensificou-se e concretizou-se, principalmente, a partir da década de 90 e como afirma
Irving (2001, p. 44 grifos do autor), o retorno e ou a ida do ser humano à natureza passou a ser
visto como um
[...] mecanismo de “sobrevivência subjetiva” e de revitalização das tradições rurais
pelo olhar urbano [...] que abre espaço para o ecoturismo, em relação direta com as
oportunidades de turismo rural (e seu componente cultural), modalidades
“alternativas” não urbanas, não massificantes e não “desumanizantes”.
Posteriormente à Conferência de 72 e à outros diálogos estabelecidos sobre a temática,
deu-se início, em 1992, no Rio de Janeiro, a mais importante das reuniões realizadas até então
pela Organização das Nações Unidas (ONU), sobre as preocupações com o meio ambiente,
que foi conhecida como RIO-92 ou Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. A
RIO-92 provocou o predomínio do pensamento ambientalista nas grandes cidades, e
contribuiu para a ressignificação do campo, enquanto reserva natural e cultural, mantendo
4
Esse assunto em específico será melhor delimitado e caracterizado no item 2.4 Concepções sobre o ecoturismo.
26
grande parte do meio ambiente natural conservado, como local de resgate, de natureza, de
silêncio, de ‘lugar’ idealizado, a partir da crítica ao processo de urbanização e da idéia de
progresso, que vincula a cidade à velocidade, ao estresse, à crise e ao individualismo
(IRVING, 2001).
Segundo Vigevani (1997) essa Conferência, a exemplo da de 72, pretendia discutir o
papel e o posicionamento humano em relação as preocupações vinculadas ao
desenvolvimento sustentável (uso sustentável dos recursos naturais), sendo que, para tanto,
elaborou-se um plano de ação denominado Agenda 21, o qual previa uma mudança nos
padrões de desenvolvimento.
Viola e Leis (1995), comentam que a partir desse momento o movimento
ambientalista disseminou-se e transformou-se em um movimento multissetorial, envolvendo
os principais setores como: o stricto sensu; o governamental; o social; o da ciência; o privado;
o público; o religioso; e o educacional, passando assim, a pensar na necessidade de haver
melhores relações entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental, em diversos
setores da sociedade.
Como salienta Pelicioni (2004a, p. 450),
apesar de sua importância, a principal crítica que se faz à Rio-92 refere-se ao fato de
as causas estruturais dos problemas ambientais – o capitalismo, o modelo de
desenvolvimento econômico dos países, os valores sociais, as relações de poder
entre os países – não terem sido discutidos em profundidade.
Após 10 anos da realização da RIO-92, a ONU realizou em 2002 em Johannesburgo o
encontro internacional intitulado ‘Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável’, que
ficou popularmente conhecido como RIO+10, e teve por objetivo analisar os resultados
implantados a partir dos acordos estabelecidos na RIO-92 (PELICIONI, 2004a). Mais uma
vez, observou-se os diálogos em torno dos diversos problemas ambientais, sendo que a
novidade é que agora os mesmos passaram a ser relacionados à globalização (DINIZ, 2002).
Como marcante predominância do pensamento ambientalista em diversos setores,
também observa-se suas interferências no turismo, pois em 2001 realizou-se em Cuiabá a
‘Conferência da Organização Mundial do Turismo para o Desenvolvimento e o
Gerenciamento do Ecoturismo nas Américas’, com o intuito de discutir idéias e experiências
para maximizar os benefícios econômicos, ambientais e sociais e, concomitantemente,
minimizar os impactos negativos do ecoturismo nas Américas. Além disso, o ano de 2002 foi
declarado como ‘Ano Internacional do Ecoturismo’ em função de ter-se presenciado a rápida
27
expansão de suas atividades nas últimas duas décadas e também de se tentar delinear o seu
futuro (WTO, 2001).
Com isso, o movimento ambientalista e, consequentemente, o pensamento
ambientalista, chegam à atualidade sendo abordados em diversos setores, inclusive no turismo
e isso conduz à reflexão de que as mudanças ocorridas na sociedade moderna referem-se à
ascensão e confirmação de um reposicionamento dos anseios humanos perante as questões
ambientais.
2.2 Sustentabilidade: o pilar de desenvolvimento do ecoturismo
Apesar de haver uma discussão polêmica e não consensual acerca da temática
sustentabilidade (desenvolvimento sustentável), nesse momento, pretende-se estabelecer um
diálogo sobre as suas características e suas implicações para o surgimento e desenvolvimento
do ecoturismo. Há também que se evidenciar o fato de que em sua maioria os referenciais de
sustentabilidade estão relacionados diretamente ao conceito de desenvolvimento sustentável.
Inicialmente, o relatório ‘Nosso Futuro Comum’, produzido em 1987 pela Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD, 1988, p. 09) e amplamente
conhecido como Relatório Brundtland, estabeleceu o conceito de desenvolvimento
sustentável, caracterizado como a satisfação das “[...] necessidades do presente sem
comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas”. Em
complemento Binswanger (1999, p. 41) esclarece que o desenvolvimento sustentável “[...]
significa qualificar o crescimento e reconciliar o desenvolvimento econômico com a
necessidade de se preservar o meio ambiente”.
Nesse sentido, a Comissão (CMMAD, 1988, p. 40) esclarece que
meio ambiente e desenvolvimento não constituem desafios separados; estão
inevitavelmente interligados. O desenvolvimento não se mantém se a base de
recursos ambientais se deteriora; o meio ambiente não pode ser protegido se o
crescimento não leva em conta as conseqüências da destruição ambiental. Esses
problemas não podem ser tratados separadamente por instituições e políticas
fragmentadas. Eles fazem parte de um sistema complexo de causa e efeito.
Em complemento, Leff (2001, p. 15) pontua que o
princípio de sustentabilidade surge no contexto da globalização como a marca de um
limite e o sinal de reorienta o processo civilizatório da humanidade. A crise
28
ambiental veio questionar a racionalidade e os paradigmas teóricos que
impulsionaram e legitimaram o crescimento econômico, negando a natureza.
O mesmo autor (Ibid., 17) esclarece que nesse contexto “[...] a degradação ambiental
se manifesta como sintoma de uma crise de civilização, marcada pelo modelo de modernidade
regido pelo predomínio do desenvolvimento da razão tecnológica sobre a organização da
natureza”. Acredita-se assim, que esse desenvolvimento seja, exatamente, fruto do paradigma
moderno de um sistema econômico que se utiliza, indiscriminadamente, dos recursos naturais
para a satisfação de suas necessidades básicas e supérfluas.
Dias (2000) apresenta esse sistema capitalista analisado sistemicamente em um
contexto socioambiental, pautado pelo Modelo de Desenvolvimento Econômico (MDE)
vigente mundialmente e imposto pelos países ricos, por meio dos diferentes processos e
instituições (Sistema Financeiro Internacional – SFI; Fundo Monetário Internacional – FMI;
Banco Mundial – BM; etc.) com influências nos campos políticos, educativos e informativos
(figura 1).
Figura 1: Análise sistêmica do contexto socioambiental
Fonte: Dias (2000, p. 95)
Nesse sentido, o que observa-se é um desenvolvimento econômico que produz duas
das grandes facetas da pós-modernidade, a exclusão social e a cultura de consumo de bens
materiais (industrializados), provocando o embate nos aspectos social e econômico, que
refletem diretamente ao ambiental. Afinal, conforme a citado anteriormente, a degradação
enquanto uma crise da civilização ocasionará a ela mesma a perda da qualidade e do
significado da vida.
29
Em continuidade à análise do MDE, Dias (2000) apresenta o funcionamento do MDE
(figura 2) e salienta que este se fundamenta no lucro a qualquer preço e está relacionado ao
aumento desenfreado da produção, o que acarreta a necessidade de consumo proporcionado
por uma divulgação em massa. Essa relação produção – consumo gera pressão sobre os
recursos naturais e ocasiona a degradação ambiental que, consequentemente, será refletida
com a perda da qualidade de vida, sendo necessário ‘recuperar’ o que se ‘perdeu’. A solução
lógica desse processo é garantir novos investimentos e empréstimos com as mesmas
instituições que já lucraram com a degradação ambiental e que lucrarão novamente, formando
um ciclo que só terminará devido a provável extinção dos recursos naturais. Assim, pode-se
constatar uma representação do sistema capitalista insustentável citado anteriormente.
Figura 2: Modelo de desenvolvimento econômico
Fonte: Dias (2000, p. 97)
Em complemento Binswanger (1999, p. 41) cita que “[...] a natureza é a base
necessária e indispensável da economia moderna, bem como das vidas das gerações presentes
30
e futuras [...]”, para tanto, salienta-se que sob o paradigma da sustentabilidade a natureza tem
sido considerada como um fator de produção e, ao mesmo tempo, como fator de qualidade de
vida pelas sociedades. O mesmo autor esclarece ainda que mesmo na economia moderna a
sustentabilidade não é assegurada, pura e simplesmente, pela substituição dos recursos não
renováveis por recursos renováveis, mas sim ao vislumbrar-se indícios de redução no
consumo de matéria e energia em geral, assim como, por mudanças nos padrões pessoais e
societários de bens e serviços.
Para tanto, Leff (2001, p. 17) enfatiza que
a questão ambiental problematiza as próprias bases da produção; aponta para a
desconstrução do paradigma econômico da modernidade e para a construção de
futuros possíveis, fundados nos limites das leis da natureza, nos potenciais
ecológicos, na produção de sentidos sociais e na criatividade humana.
No turismo, a sustentabilidade recai sobre a necessidade de se gerenciar os impactos
ambientais e sócio-econômicos promovidos pelos atores envolvidos na atividade, dessa
forma, o intuito de um turismo sustentável é aumentar o entretenimento dos visitantes e os
benefícios locais e, ao mesmo tempo, diminuir os impactos nocivos sobre os recursos naturais
e sobre a população local (OMT, 2003).
No caso do ecoturismo, a sustentabilidade é vista como uma preocupação explícita em
seu conceito, mas que em alguns casos tem sido pautada por práticas ecoturísticas que são
desenvolvidas muito mais para suprir uma demanda de um modismo ambiental (segmento de
viagens a natureza), do que para colocar em prática o conceito da atividade. Nesse sentido,
Serrano (2000b) salienta que a incorporação do conceito de sustentabilidade pelo ecoturismo,
apresenta a dupla contradição de uma atividade potencialmente sustentável, localizada no
contexto insustentável do sistema capitalista e de uma viabilização das práticas educativas em
atos de consumo.
Desse modo, para que possa-se estabelecer uma compreensão do que seja a
sustentabilidade e sua aplicação ao turismo, ao ecoturismo, é necessário, conforme pontua
Sachs (2000, p. 85-88), abordá-la diante de seus diversos campos de atuação, caracterizados
como critérios para sustentabilidade (figura 3). Sachs (2000) aborda essa temática enfatizando
cada um desses critérios como aspectos que estão intimamente relacionados. Afinal, torna-se
impensável abordar questões ambientais sem relacioná-las as sociais e ou econômicas, assim
como, relacioná-las à questões políticas e territoriais. De modo a compreender esses critérios,
descreve-se brevemente as idéias de Sachs para cada um deles.
31
O autor (Ibid.) pauta o critério social pelo alcance da homogeneidade social (justa
distribuição de renda, qualidade decente de vida, trabalho/emprego a todos e recursos e
serviços sociais iguais para todos). Nesse sentido, o cultural visa a elaboração de um projeto
nacional integrado e endógeno focado no sentimento de pertencimento da sociedade àquela
nação.
Figura 3: Critérios para sustentabilidade
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Sachs (2000, p. 85-88).
Acredita-se que os critérios para a sustentabilidade ecológica e ambiental estão
intimamente relacionados, o que dificulta abordá-los em separado. Nas idéias de Sachs (2000)
são explanados pontos semelhantes que impossibilitam uma diferenciação. Assim sendo, o
ecológico está relacionado a preservar a natureza para a produção de recursos renováveis e a
limitar a utilização dos não-renováveis. Já o ambiental, enfatiza o respeito à capacidade de
autorecomposição dos ecossistemas naturais, ou possivelmente, entendido como a capacidade
de resiliência ambiental.
O territorial relaciona-se a uma melhoria do meio ambiente urbano e ao mesmo tempo,
enfatiza a necessidade de haver uma igualdade inter-regiões e estratégias, chamadas de
ambientalmente seguras, para as áreas frágeis ecologicamente. Já o critério econômico, um
dos mais polemizados, aborda um equilíbrio no desenvolvimento intersetorial, uma
capacidade de modernizar continuamente os instrumentos de produção e uma inserção na
economia internacional.
32
Os critérios relacionados às políticas, estão nacionalmente vinculados à coesão social e
a capacidade do Estado implementar o projeto nacional (anteriormente citado no cultural), e
os internacionais estão vinculados desde a prevenção de guerras e garantias de paz até um
pacote igualitário de desenvolvimento entre Norte e Sul. Coloca também a necessidade de terse um controle efetivo da gestão do meio ambiente, inclusive o natural, enquanto patrimônio
global e herança comum da humanidade.
Diante disso, acredita-se que provavelmente o alcance de todos os critérios interrelacionados seja um longo e trabalhoso caminho a ser atingido em uma escala de tempo e nas
diferentes áreas econômicas de atuação. Em relação ao turismo, talvez pudessem ser
acrescentados ou adaptados alguns critérios, mas a maior dificuldade de se verificar a
sustentabilidade do turismo recai sobre o fato de ainda se identificar comportamentos nocivos
e inadequados advindos de turistas e de outros envolvidos nessa atividade.
Nesse sentido, especificamente no ecoturismo acredita-se que, obviamente, tenha-se a
necessidade de integração desses critérios para que se assuma uma postura sustentável,
podendo-se, então, adicionar o componente educativo ou o critério educacional com a
finalidade de nortear as práticas ecoturísticas, como também, garantir a manutenção da
sustentabilidade no desenvolvimento humano, o que poderá ocasionar as mudanças e as
transformações tão desejadas nos padrões pessoais de vida. Em contraponto, Binswanger
(1999) afirma que a perfeita sustentabilidade não pode ser efetivada pois já são considerados
irreversíveis os inúmeros estragos realizados no meio ambiente, mas esta poderá colaborar na
diminuição da acelerada destruição dos recursos naturais.
Por fim, salienta-se que um turismo benéfico, juntamente com os segmentos que o
compõem, somente será possível em uma sociedade participativa, integrada e pautada nos
critérios supracitados, em que o conhecimento e o capital são e serão importantes mas, a
revalorização do humanismo será fundamental para que a vida seja dignificada e preservada,
sendo que nesse caso, a educação poderá proporcionar essa revalorização à sociedade, desde
que sensibilize as suas crianças, adolescentes e adultos acerca das reais problemáticas de seus
cotidianos (TRIGO, 2003).
2.3 O espaço natural enquanto cenário para o ecoturismo
Até aqui já se delimitou as preocupações que houveram e que ainda estão em pauta
relacionadas ao meio ambiente e aos recursos naturais, não só para a vida mas também para o
33
desenvolvimento de inúmeras atividades econômicas, inclusive o turismo e o ecoturismo.
Entretanto, cabe ainda esclarecimentos sobre os elementos e as características do cenário onde
o ecoturismo ocorre para que possa-se compreendê-lo enquanto atividade sócio econômica e
cultural realizada no meio ambienta natural.
Nesse sentido, inicia-se o desvelar do cenário do ecoturismo e, para tanto, utiliza-se da
idéia de Santos (1997, p. 05) que diz que o “espaço deve ser considerado como uma totalidade
[...]”. Boullón (2002) corrobora com essa idéia e identifica sete tipos de espaços físicos que
possivelmente são utilizados pelo turismo, são eles: real, potencial, cultural, natural, virgem,
artificial e vital. Lembra ainda que os espaços real e potencial estão relacionados diretamente
ao planejamento do espaço, o vital pertence a ecologia e os cultural, natural, virgem e
artificial correspondem especificamente ao espaço físico.
Em função das temáticas da pesquisa, os espaços natural e virgem serão enfatizados,
sendo que Boullón (2002) os considera enquanto espaços naturais, diferenciando-os por
entender o natural como um espaço adaptado, composto pelas partes da crosta terrestre com o
predomínio de espécies dos reinos vegetal, animal e mineral, porém, está sob as condições
estabelecidas pelo homem. Já o espaço natural virgem são as áreas naturais sem a presença
humana e que estão cada vez mais raras no planeta.
A partir desse contexto, este autor (Ibid., p. 114) caracteriza os espaços em duas
grandes categorias: o espaço natural e o espaço urbano. Novamente a atenção recairá apenas
ao espaço natural, composto pelo meio ambiente natural, que nas palavras do autor “[...] é um
sistema único e complexo, formado por muitos componentes orgânicos e inorgânicos, que se
influenciam reciprocamente e se mantém em equilíbrio dinâmico, porque todas as suas partes
estão em contínua evolução”.
Essa dinamicidade e contínua evolução são interrompidas muitas vezes pelas
transformações ocorridas no meio ambiente por meio da interferência humana marcada em
função do rápido crescimento populacional mundial associado, ao mesmo tempo, ao
incremento das tecnologias da sociedade moderna e, principalmente, à intervenção do
‘homem’ no meio ambiente natural com objetivo de adaptá-lo às suas necessidades.
Neste caso, Molina (2001, p. 70) percebe e salienta que “[...] o homem não se contenta
em poluir; demonstra também suas faculdades de depredador destruindo árvores e plantas,
matando aves e animais e, em numerosíssimos casos, provocando sérios incêndios florestais,
que significaram duras perdas, às vezes humanas”.
Essas ações são realizadas nos elementos que Boullón (2002) define como básicos do
meio ambiente natural, compostos pela crosta terrestre (Terra – montanhas, desertos etc.;
34
Água – oceanos, mares, rios, lagos etc.), pelo clima (temperatura; ventos, chuvas, umidade) e
pelos organismos vivos (o homem; os animais; e os vegetais). Inevitavelmente, a degradação
desses elementos influenciam o que o mesmo autor define enquanto elementos básicos da
paisagem, compostos pela topografia (relevo e morfologia do terreno), pela vegetação
(original ou plantada), pelo clima (as situações atmosféricas perceptíveis) e pelo habitat
(efeitos da ação do homem e condições de habitabilidade do mundo biótico), que
normalmente, compõem os atrativos turísticos de determinada localidade.
Na tentativa de esclarecer alguns pontos, este autor (Ibid.) chama a atenção para o
significado de atrativo turístico, que é entendido enquanto matéria-prima para o turismo, ou
seja, sem o atrativo não há como atrair seus visitantes. O mesmo autor, classifica os atrativos
turísticos e chama a atenção que apenas uma das classificações propostas está relacionada a
natureza, a dos sítios naturais, pois as demais classificações estão relacionadas as áreas de
cultura (material e imaterial), de eventos e a realizações técnicas e científicas.
Nesse sentido, a visita do turista a um meio ambiente natural é em grande parte
influenciada pelo atrativo natural, com a finalidade de apreciar e contemplar a natureza. Para
tanto, Serrano (2000a) salienta que uma das motivações e ou expectativas do turista em
relação às viagens a natureza, é o consumo de imagens produzidas tanto pela mídia, pela
memória ou por meio das relações pessoais. Cruz (2002) corrobora quando salienta que o
turismo enquanto prática social é a única que consome o espaço e isto se dá pela apropriação
do espaço pelas formas de consumo turístico (os serviços relacionados à área). Na realidade,
esse consumo, principalmente, relacionado ao turismo na natureza ou ecoturismo ocorre como
salientado logo acima sobre os elementos da paisagem que são constantemente relacionados
ao espaço natural e que na visão de Pires (1996) constitui o principal apelo de atratividade de
um destino.
A paisagem, então, constitui um dos mais importantes elementos da atratividade
turística, sendo que Yázigi (1998, p. 74) a considera como uma porção visível do espaço e,
por isso,
é constantemente refeita de acordo com os padrões locais de produção, da sociedade,
da cultura, com os fatores geográficos e tem importante papel no direcionamento
turístico. Não se trata de dizer que ela seja a única forma de atração, mas que pesa
muito no contexto de outros fatores (meios de hospedagem, bons preços etc.).
35
A partir disso, Boullón (2002) coloca que sob o enfoque visual é possível distinguir as
paisagens naturais, culturais e urbanas 5 , sendo que para Petroni e Kenigsberg (1968 apud
BOULLÓN, 2002, p. 118) a paisagem natural é considerada “conjunto de caracteres físicos de
um lugar que não foi modificado pelo homem”.
É pela paisagem que se dá o primeiro contato do turista com a natureza, e por isso esta
representa o centro da atratividade do local turístico ou ecoturístico. Mas, Luchiari (1998
apud CRUZ, 2002, p. 110) salienta que as paisagens turísticas “[...] só existem em relação a
sociedade. Elas não existem a priori, como um dado da natureza [...] é a ação social que dá
sentido às paisagens, não ao contrário”.
Nesse sentido, Boullón (2002, p. 119) por acreditar que há um inter-relação entre os
tipos de paisagem, propõe a classificação, conforme a figura 4, e esclarece que a existência
desses tipos de paisagem depende da observação atenta de uma pessoa, ou seja, sem a
presença humana a paisagem desaparece, pois a “[...] paisagem se vai com o observador
porque não passa de uma idéia da realidade que este elabora quando interpreta esteticamente o
que está vendo”.
Ao entender as paisagens como reflexos dos espaços, toda transformação no espaço
representa simultaneamente alguma transformação na paisagem, senão em sua fisionomia,
certamente em seus significados (CRUZ, 2002). Desse modo, as paisagens e os espaços
revelam uma dinamicidade intrínseca, ambos portanto, construídos socialmente tanto em
função de sua dinâmica própria / natural quanto em decorrência das transformações
ocasionadas pelos ‘homens’.
Figura 4: Tipos de paisagem
Fonte: Boullón (2002, p. 119)
5
Para Petroni e Kenigsberg (1968 apud BOULLÓN, 2002, p. 118) a paisagem cultural é considerada uma
“paisagem modificada pela presença e atividade do homem (lavouras, diques, cidades etc.)” e a paisagem urbana
são “conjuntos de elementos plásticos naturais e artificiais que compõem a cidade: colinas, rios, edifícios, ruas,
praças, árvores, focos de luz, anúncios, semáfaros etc.”
36
Desse modo, o meio ambiente natural, assim como, os elementos que o compõem
passam a ser considerados como ‘atrativos turísticos’ a partir do momento em que a sociedade
expressa valor e interesse pelo mesmo e a escolha de um determinado espaço para prática do
ecoturismo é feita por meio do reconhecimento da qualidade paisagística do meio ambiente
natural. Contudo, como salienta Boullón (2002), não é possível definir com exatidão a
qualidade de uma paisagem, pois trata-se de uma avaliação subjetiva, efetuada
involuntariamante no pensamento individual, variando de cultura para cultura, de indivíduo
para indivíduo.
A veiculação dessa imagem percebida (paisagem), normalmente, está inserida em um
contexto de reforço do modismo turístico que exalta os espaços naturais e os qualifica como
prioritários à manutenção da qualidade de vida. Cruz (2002, p. 110) corrobora salientando que
“[...] para o turismo, é o valor estético da paisagem que está em pauta, e a estética da
paisagem turística é aquela ditada pelos padrões culturais de uma época. Hoje, essa estética
tem uma estreita relação com modismos e com cultura de massa”.
Por isso, ao visitar uma paisagem natural, o turista engana-se, pensando realizar
ecoturismo, termo tão em moda ultimamente e dentro das principais mídias de divulgação.
Em razão desse modismo estabelecido pela própria sociedade, as viagens à natureza estão
sendo chamadas de ecoturismo, constituindo atividades nem sempre comprometidas com
questões socioambientais.
Esse posicionamento sugere, então, que a motivação e ou expectativa do ecoturista
está baseada principalmente na fuga do cotidiano, do ambiente urbano, em busca de
qualidade, da rusticidade, da simplicidade (ao contrário de precariedade), de diferenças
culturais e ambientais, de atividades lúdicas, do risco calculado, das relações humanas, do
aprendizado e do consumo de imagens, proporcionados pela qualidade visual da paisagem
natural e pelas avaliações subjetivas realizadas pelo turista (SERRANO, 2000b).
2.4 Concepções sobre o ecoturismo
O ecoturismo caracteriza-se por viagens realizadas em meio à natureza, ou também
chamada, de meio ambiente natural, utilizando-se predominantemente dos recursos naturais
como forma de atração turística, o que se constitui como matéria-prima para o
desenvolvimento do ecoturismo.
37
Trata-se de um movimento turístico recente, que tem obtido relevância tanto
econômica, social, cultural quanto ambiental. Serrano (2000b) relembra que mesmo antes das
definições dos termos e da comercialização de atividades relacionadas ao ecoturismo, as
viagens à natureza já se destacavam, como é o caso do montanhismo nos Alpes (séc. XVIII) e
dos parques nacionais norte-americanos (Yellowstone em 1872 e Yosemite em 1896), assim
como, Western (2002) completa destacando a procura pelos safáris de caça (no início do séc.
XX) e pelos safáris fotográficos, ambos na África (a partir da metade do séc. XX).
A natureza enquanto produção social e natural comporta a idéia do homem e sua
espécie como obra da própria natureza (CARVALHO, 1991). Cascino (1998, p. 09) salienta
que “[...] as pessoas estão ávidas pelo novo, inédito, alternativo e, por isso, buscam
reaproximar-se da natureza, já que ela é fonte e razão inesgotável do novo e espaço de
recriação”. Nesse sentido, Pires (2002, p. 29) completa dizendo que “a curiosidade e o
sentimento de nostalgia em relação a regiões longínquas sempre estiveram entre as
necessidades básicas e imediatas do ser humano”, Essa busca do cenário natural para a
realização de atividades relacionadas ao lazer e ou turismo sempre esteve no subconsciente
humano, representando o que Rodrigues (2003) denomina como o mito do eterno retorno
caracterizado como sendo um reencontro do paraíso perdido.
De acordo com os estudos produzidos por Ziffer (1989 apud BARROS II; LA
PENHA, 1994) e pela The International Ecotourism Society (2000 apud MASTNY, 2002)
verifica-se um índice de crescimento do ecoturismo superior a outros segmentos do turismo,
estimado então, com um crescimento médio de 20% a 30% ao ano. Em complemento, a OMT
(1998 apud MASTNY, 2002, p. 131) prevê como tendência que os destinos mais procurados
para práticas turísticas serão “[...] os cumes das montanhas mais altas, as profundezas dos
oceanos e os confins da Terra”.
Essa crescente intensificação pela busca de destinos naturais para práticas turísticas,
no caso brasileiro, pode ser justificada pelo fato de reunir cerca de 70% de todas das espécies
animais e vegetais do planeta distribuídas em seus biomas e ecossistemas, sendo por isso,
considerado um país megabiodiverso (IBAMA, 2006a). No intuito de se apresentar apenas
uma breve característica de um dos componentes do objeto de estudo 6 dessa pesquisa,
salienta-se que o bioma Mata Atlântica localiza-se ao longo da faixa litorânea do Brasil,
estendendo-se praticamente do Rio Grande no Norte ao Rio Grande do Sul, tendo uma
pequena porção de seus remanescentes, cerca de 2%, encontrados sobretudo em áreas naturais
protegidas (IBAMA, 2006a; SOS MATA ATLÂNTICA, 2006).
38
As áreas naturais protegidas, com dimensões e limites definidos, também conhecidas
como unidades de conservação, de proteção integral ou de uso sustentável, são definidas pelo
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (BRASIL, 2000) como sendo o
espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com
características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com
objetivos de conservação e limites definidos, sob regime especial de administração,
ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.
Essas áreas podem ser consideradas privilegiadas para o desenvolvimento do
ecoturismo, pois mantém grande parte da biodiversidade conservada. Ceballos-Lascuráin
(2002, p. 26) corrobora quando cita que
as áreas naturais, em particular as protegidas legalmente, sua paisagem, fauna e flora
– juntamente com os elementos culturais existentes – constituem grandes atrações,
tanto para os habitantes dos países aos quais as áreas pertencem como para turistas
de todo o mundo. Por esse motivo, as organizações para a conservação reconhecem
a enorme relevância do turismo e estão cientes dos inúmeros danos que um turismo
mal-administrado ou sem controle pode provocar no patrimônio natural e cultural do
planeta.
Para tanto, as atividades turísticas na natureza, assim como, as ecoturísticas são vistas,
principalmente, como alternativas para o desenvolvimento econômico das localidades, e em
contrapartida, como uma efetiva ferramenta para a conservação da natureza por proporcionar
receitas advindas das taxas pagas pelos turistas. Pressupõe-se que o ecoturismo proporcione a
conservação da natureza também por outros meios, mas cabe aqui ressaltar que a conservação
da natureza pode ser entendida, segundo a IUCN (1984) como
[...] a gestão da utilização da biosfera pelo ser humano, de tal sorte que produza o
maior benefício sustentado para as gerações atuais, mas que mantenha sua
potencialidade para satisfazer às necessidades e às aspirações das gerações futuras.
Portanto, a conservação é positiva e compreende a preservação, a manutenção, a
utilização sustentada, a restauração e a melhoria do meio ambiente natural.
Observa-se assim, que a definição de conservação da natureza tem uma relação
intrínseca com a de desenvolvimento sustentável, vista anteriormente. Já em caráter nacional,
o SNUC (BRASIL, 2000) incorpora a definição de conservação da natureza da IUCN e a
diferencia do processo de preservação da natureza, pois este utiliza-se de um “conjunto de
métodos, procedimentos e políticas que visem a proteção a longo prazo das espécies, habitats
6
Essa temática será melhor delimitada no capítulo ‘O Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC)’.
39
e ecossistemas, além da manutenção dos processos ecológicos, prevenindo a simplificação
dos sistemas naturais”.
Em relação ao ecoturismo, Serrano (2000b) salienta ser uma prática sustentável em um
contexto insustentável (o da lógica capitalista, conforme visto anteriormente), sendo assim,
Serrano e Luchiari (2005) corroboram quando citam que os espaços que devem ser
preservados e mantidos longe dessa lógica capitalista, são considerados como potenciais
atrativos das regiões, exatamente, por valorizarem o patrimônio ambiental.
Enquanto segmento turístico, o ecoturismo representa um segmento derivado do
turismo na natureza, conforme demonstrado na figura 5, que caracteriza-se por viagens que
colocavam os turistas em contato com os atrativos naturais com a intenção de diferenciar-se
do turismo convencional massificado, produzido em larga escala, ávido por lucros elevados e
indiferente a deterioração ambiental (PIRES, 2002).
Figura 5: O ecoturismo como um segmento do mercado turístico
Fonte: Strasdas (2000 apud WOOD, 2002, p. 11, tradução nossa)
O turismo na natureza ocupa espaço na expressão ‘turismo alternativo’, que segundo
Pires (2002, p. 111) pode ser entendida como uma expressão “[...] impregnada de anseios e
ideais de mudanças e inovação do turismo convencional de massas, ou ainda como estandarte
dos movimentos e ações pioneiras nesse sentido [...]” e como “[...] chave designativa de um
turismo diferenciado em relação ao convencional ou tradicional [...]”. Desse modo, o
ecoturismo enquanto segmento de mercado turístico poderia ser adaptado a partir da
concepção do turismo alternativo, conforme mostra a figura 6.
40
Figura 6: O mercado alternativo de turismo
Fonte: Adaptado a partir de Strasdas (2001 apud WOOD, 2002, p. 11)
A partir disso, Pires (2002, p. 139, grifos do autor) afirma que se tem uma variedade
de tipos alternativos de turismo que evidenciam alternativas turísticas ao turismo
convencional, como turismo participativo, turismo responsável, turismo suave/brando,
turismo ambiental, turismo sustentável, turismo ecológico, turismo baseado na natureza,
ecoturismo e turismo rural. Desse modo, salienta que o ecoturismo
[...] surge e se impõe como uma ‘rotulação’ ampla e indiscriminadamente utilizada
para representar um conjunto variado e não bem definido de atividades e atitudes no
campo das viagens turísticas, que se posicionam na interface turismo-ambiente, este
último compreendo especialmente ambientes naturais pouco alterados e culturas
autóctones presentes em seu entorno.
Serrano (2000b, p. 208, grifo do autor) detecta uma pluralidade de termos e conceitos
tratados sobre o turismo em áreas naturais, o que sugere que o ecoturismo seja
[...] uma idéia ‘guarda-chuva’, pois envolve uma multiplicidade de atividades como
trekking, hiking, escaladas, rappel, espeleologia, mountain biking, cavalgadas,
mergulho, rafting, floating, cayaking, vela, vôo livre, paragliding, balonismo,
estudos do meio, safári fotográfico, observação de fauna e flora, pesca (catchrelease), turismo esotérico e turismo rural [...].
Diante dessa diversidade de termos e de atividades que o ecoturismo concentra,
Fennell e Eagles (1990 apud FENNELL, 2002) elaboraram um espectro da atividade turística,
conforme mostra a figura 7, com a intenção de estabelecer diferenças potenciais entre as
atividades desenvolvidas em meio a natureza, tais como viagem de aventura, ecoturismo e
turismo de massa.
41
Figura 7: Espectro da atividade turística
Fonte: Fennell e Eagles (1990 apud FENNELL, 2002, p. 62)
Nesse caso, Fennell (1999, p. 61) sugere que “[...] a preparação e o treinamento, os
resultados e riscos conhecidos/desconhecidos, a certeza e a segurança são variáveis que
podem ser usadas para diferenciar essas formas de turismo”, assim como, esses “[...] três tipos
de atividades não são mutuamente excludentes; o ecoturismo pode compartilhar alguns
elementos das outras duas experiências e permanecer distinto do turismo de massa e do
turismo de aventura”.
A partir disso, Ramos (2005) adaptou e completou esse espectro, conforme mostra a
figura 8, estabelecendo as distinções entre o turismo na natureza 7 , o ecoturismo 8 e o turismo
de aventura 9 , e ressaltou que para a identificação e a classificação de qualquer uma das
atividades supracitadas é necessário analisá-las de acordo com o contexto em que
determinadas atividades estão inseridas. Esses contextos estão relacionados tanto ao
planejamento quanto a logística operacional da viagem ou de determinada atividade.
Além desses contextos, Ramos (2005, p. 475) explicita que “quanto menos intensa no
sentido de esforço e mais educativa no sentido de interpretação do ambiente visitado, mais
próxima a atividade estará do ecoturismo”, bem como, “[...] quanto mais imersiva, incerta, de
risco e com o componente de ‘adrenalina’, mais próxima essa atividade estará dos elementos
que definem a aventura”. Também destaca que “[...] quanto menor a logística somada à menor
habilidade específica requerida e menor a necessidade de segurança da atividade, mais
próxima estará do turismo na natureza, em que os clientes terão baixo compromisso com as
atividades e as questões ambientais”.
7
Para uma maior compreensão dessa temática sugere-se a obra de MCKERCHER, Bob. Turismo de natureza:
planejamento e sustentabilidade. São Paulo: Contexto, 2002.
8
Para uma maior compreensão dessa temática sugere-se a obra de PIRES, Paulo dos Santos. As dimensões do
ecoturismo. São Paulo: Editora SENAC, 2002.
9
Para uma maior compreensão dessa temática sugere-se a obra de SWARBROOKE, John et al. Turismo de
aventura: conceitos e estudos de caso. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
42
Para finalizar, o autor (Ibid.) evidencia que ao observar-se o espectro da direita para a
esquerda evolui-se no desenvolvimento da educação ambiental, o que aproximará a atividade
do ecoturismo, assim como, será mais elevado o risco e as habilidades específicas e,
juntamente com a incerteza, aproximará a atividade do turismo de aventura. Lembrando que
essas classificações podem e devem ser observadas de forma não excludente.
Figura 8 – A velha-nova concepção – mercado mutante
Fonte: Ramos (2005, p. 475)
Apesar dessa diversidade de atividades e dessas variações de termos cabe ressaltar,
conforme Serrano (2000b, p. 209) evidencia, que o ecoturismo enquanto prática alternativa de
turismo, surge “[...] no contexto das transformações mais gerais da sociedade ocidental que
tem sido identificadas como a passagem da modernidade à pós-modernidade”, o que revela
um contexto sócio cultural que diferencia as viagens à natureza do ecoturismo, enquanto um
desdobramento do ambientalismo e um segmento de mercado. Em complemento Pires (2002)
cita que o ecoturismo passa a ser idealizado como sustentável com base em princípios
ambientalistas, sendo fomentador de práticas de cunho ambientalista.
Portanto, a partir dos referenciais expostos tem-se a intrínseca relação e uma não
consensual delimitação que varia de caso para caso, de tipologias de atividades e de seus
conteúdos entre o turismo de natureza, o ecoturismo e o turismo de aventura. Constatando-se
assim, a interface turismo-ambiente evidenciada por Pires e a idéia guarda-chuva de Serrano,
43
o que sugere que os ambientes e as atividades relacionadas a natureza ou a aventura
configuram, possivelmente, as características relacionadas a um contexto de ecoturismo.
Para tanto, com o intuito de estabelecer uma melhor compreensão acerca da temática
de ecoturismo será realizado uma breve apresentação de suas referências conceituais, assim
cabe salientar que o mesmo começou a ser conceituado10 por Ceballos-Lascuráin (1987 apud
PIRES, 1998, p. 79) como uma
[...] viagem a áreas naturais que se encontram relativamente sem distúrbios ou
contaminação com o objetivo específico de estudar, admirar e desfrutar a paisagem
juntamente com suas plantas e animais silvestres, assim como qualquer manifestação
cultural (passada ou presente) que ocorra nestas áreas.
Esse mesmo autor aperfeiçoou tal conceito afirmando que
o ecoturismo é uma forma de ecodesenvolvimento que representa um meio prático e
efetivo de atrair melhorias sociais e econômicas para todos os países, e é um
poderoso instrumento para a conservação das heranças naturais e culturais pelo
mundo (1991 apud PIRES, 1998, p. 79).
A partir desses conceitos já tem-se a possibilidade de identificar algumas
características que compõe o ecoturismo mas, na intenção de realizar uma abordagem mais
ampla, Fennell (2002, p. 52-53) também corrobora definindo ecoturismo como
[...] uma forma sustentável de turismo baseado nos recursos naturais, que focaliza
principalmente a experiência e o aprendizado sobre a natureza; é gerido eticamente
para manter um baixo impacto, é não predatório e localmente orientado (controle,
benefícios e escala). Ocorre tipicamente em áreas naturais, e deve contribuir para a
conservação ou preservação destas.
Wood (2002, p. 07, 10, tradução nossa) caracteriza o ecoturismo como “[...] um
crescente nicho de mercado no maior setor de viagens, com o potencial de ser uma importante
ferramenta no desenvolvimento sustentável”. Além disso, define o ecoturismo por meio de
seus resultados para o desenvolvimento sustentável, que são a “conservação de áreas naturais,
a educação dos visitantes sobre a sustentabilidade e o benefício da população local” e,
conclui, ao evidenciar que o ecoturismo apresenta como componentes
ƒ
ƒ
10
A contribuição para a conservação da biodiversidade;
A manutenção do bem estar da população local;
Segundo o próprio Ceballos-Lascuráin o termo ecoturismo seria uma forma mais simples de se dizer turismo
ecológico, significando que os termos são sinônimos (depoimento cedido em setembro de 1996 em
Florianópolis/SC a Paulo dos Santos Pires (2002).
44
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
A inclusão de uma interpretação / conhecimento pela experiência;
O envolvimento de ações responsáveis pela parte dos turistas e pelo setor
turístico;
O desenvolvimento, principalmente, por pequenas empresas com pequenos
grupos;
A requisição de baixa possibilidade de consumo de recursos não renováveis;
A ênfase na participação local, posse e oportunidade de negócios,
particularmente para a população rural.
A Sociedade Internacional de Ecoturismo – TIES (2004, tradução nossa) define
ecoturismo como uma “viagem responsável para áreas naturais que conserva o ambiente e
promove o bem-estar da população local” e, além disso, deve seguir os seguintes princípios
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
Minimizar impactos;
Construir a consciência e o respeito ambiental e cultural;
Proporcionar experiência positiva para visitantes e anfitriões;
Proporcionar benefícios financeiros diretos para a conservação;
Proporcionar benefícios financeiros e empregabilidade para a população local;
Elevar a sensibilidade dos países anfitriões para a situação política, ambiental e
social;
Apoiar internacionalmente os direitos humanos e os contratos de trabalho.
Já no Brasil, as discussões oficiais e governamentais sobre ecoturismo são iniciadas
em 1985, mas é em 1987 que é criado o Projeto de Turismo Ecológico com o objetivo de
ordenar e compreender o segmento e as atividades do mesmo. Somente em 1994, após
estudos e análises de um Grupo de Trabalho Interministerial (Ministério da Indústria, do
Comércio e do Turismo e o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal), foi
produzido o documento intitulado ‘Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo’
(BARROS II; LA PENHA, 1994, p. 10) que pretendia
[...] nortear o desenvolvimento regional do ecoturismo e servir de base para uma
Política Nacional de Ecoturismo, que assegure
ƒ À comunidade: melhores condições de vida e reais benefícios;
ƒ Ao meio ambiente: uma poderosa ferramenta que valorize os recursos naturais;
ƒ À nação: uma fonte de riqueza, divisas e geração de empregos;
ƒ Ao mundo: a oportunidade de conhecer e utilizar o patrimônio natural dos
ecossistemas onde convergem a economia e a ecologia, para o conhecimento e
uso das gerações futuras.
Esse mesmo grupo, por meio do mesmo documento definiu ecoturismo como
[...] um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o
patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma
consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bemestar das populações envolvidas (Ibid., p. 19).
45
Essa definição é utilizada praticamente por todos os setores do turismo nacional e será
utilizada também nessa pesquisa, como definição e conceito base, por entender-se que a
mesma sintetiza os princípios, os valores e as características desse tipo de viagem. Mas, cabe
também ressaltar, que Mowforth (1993 apud PIRES, 2002, p. 158), infere que para uma
atividade ser considerada ecoturismo é necessário atentar-se a alguns critérios como
ƒ
ƒ
ƒ
a sustentabilidade ambiental, social, cultural e econômica;
aspecto educativo;
a participação da comunidade local.
Assim como, Wearing e Neil (2001) evidenciam enquanto elementos fundamentais
para o ecoturismo a determinação que as áreas sejam naturais, relativamente tranqüilas ou
protegidas, que esteja baseado na natureza, que induza a conservação e que tenha um papel
educativo.
A partir das exposições clarificam-se algumas das características, dos componentes e
dos princípios que estão compreendidos no termo e na atividade de ecoturismo, podendo ser
sintetizados como a sustentabilidade, a educação, o envolvimento com a comunidade local e o
apoio à conservação ambiental. Mas, apesar dos conceitos abarcarem os princípios para o
desenvolvimento sustentável do ecoturismo, é notável como em outras atividades humanas
realizadas em ambientes naturais, a geração dos impactos, principalmente, os negativos dessa
atividade.
Apesar de todas as relações inerentes ao ecoturismo e mesmo não sendo uma temática
tão bem delimitada, tenta-se compreendê-lo por meio de seus princípios e por meio de
algumas de suas características, diferenciando-se assim, dos demais tipos de turismo
realizados na natureza.
Serrano (2000b) entre outros autores, como por exemplo Soldatelli (2005) e Pires
(2006), reconhece que o ecoturismo produz impactos com diversas características e por vezes
em sentidos contraditórios, e que para cada impacto positivo identifica-se um negativo,
conforme apresentado no quadro 1.
IMPACTOS POSITIVOS
IMPACTOS NEGATIVOS
Geração de emprego, renda e estímulo ao Aumento do custo de vida, supervalorização dos
desenvolvimento econômico em vários níveis bens imobiliários e conseqüente perda da
(local, regional, estadual, nacional);
propriedade de terras, habitações e meios de
produção por parte das populações locais;
Substituição de ocupações tradicionais por
subempregos; Geração de fluxos migratórios para
áreas de concentração turística;
46
Estímulo à comercialização de produtos locais de Incremento do consumo de recursos naturais,
qualidade;
podendo levar ao seu esgotamento; Estímulo ao
consumo de suvenires produzidos a partir de
elementos naturais raros;
Fixação das populações locais graças à geração de Adensamentos urbanos não planejados e
emprego e renda;
favelização;
Possibilidade de melhoria de equipamentos Aumento do consumo de combustíveis para os
urbanos e de infra-estrutura (viária, sanitária, deslocamentos; Poluição do ar, visual e dos
médica, de abastecimento e de comunicações);
recursos hídricos; Aumento da produção de lixo e
detritos nas localidades receptoras;
Ampliação dos investimentos voltados à proteção Alteração de ecossistemas naturais devido à
de áreas naturais e bens culturais;
introdução de espécies exóticas de animais e
plantas;
Sensibilização de turistas e populações locais para
a proteção do ambiente, do patrimônio histórico e
de valores culturais;
Melhoria do nível sociocultural das populações Perda de valores tradicionais em conseqüência da
locais; e
homogeneização das culturas;
Intercâmbio de idéias, costumes e estilos de vida. Perda de valores tradicionais em conseqüência da
homogeneização das culturas;
Quadro 1 – Possibilidades de impactos positivos e negativos do ecoturismo em áreas naturais
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Serrano (2000b, p. 216-217)
Em uma breve análise sobre o evidenciado por Serrano (2000b) observa-se que a partir
de cada impacto negativo proporcionado no ambiente é que podem surgir outros impactos
positivos, que são tidos como a solução para o problema dos impactos negativos. Percebe-se
também, que contraditoriamente à idéia apresentada, alguns impactos positivos não geram
outros negativos como no caso da sensibilização de turistas e populações locais quanto a
proteção do meio ambiente, onde vê-se que o mesmo pode ser tido como solução aos
impactos negativos. O mesmo caso pode ser evidenciado quando a autora trabalha com os
impactos positivos e negativos ocasionados em unidades de conservação, conforme
apresentado no quadro 2.
IMPACTOS POSITIVOS
Sustentação
econômica
da
unidade
de
conservação;
Integração da unidade de conservação com as
populações locais;
Circulação de informações sobre o meio
ambiente;
Aumento da oferta de atividades de lazer e
recreação;
IMPACTOS NEGATIVOS
Necessidade de “sacrifício”
instalação de infra-estrutura;
de
áreas
para
Pisoteamento, compactação, erosão e abertura de
atalhos em trilhas; Depredação da infra-estrutura e
de atrativos e elementos naturais; Estresse e
desaparecimento da fauna em razão da presença
humana; Aumento e/ou deposição inadequada do
lixo; Aumento do risco de incêndios; Necessidade
47
de “sacrifício” de áreas para instalação de infraestrutura;
Ampliação da capacidade de fiscalização;
Controle sobre grupos organizados; e
Divulgação da unidade de conservação
Pisoteamento, compactação, erosão e abertura de
atalhos em trilhas; Depredação da infra-estrutura e
de atrativos e elementos naturais; Estresse e
desaparecimento da fauna em razão da presença
humana; Aumento e/ou deposição inadequada do
lixo; Aumento do risco de incêndios;
Quadro 2 - Possibilidades de impactos positivos e negativos do ecoturismo em unidades de
conservação
Fonte: Elaborado pelo autor com base em Serrano (2000b, p. 217-218)
O que se tem dito sobre a atividade ecoturística, conforme relembra Wood (2002,
tradução nossa), é que muitas viagens e outros negócios turísticos têm sido
convencionalmente utilizados com o termo ‘ecoturismo’ na literatura e alguns governos tem
promovido destinações sem tentar implementar os princípios básicos do ecoturismo, como
apresentado anteriormente.
Nesse mesmo sentido, o governo brasileiro por meio do documento ‘Diretrizes para
uma Política Nacional de Ecoturismo’ evidenciou que a atividade desenvolvida no Brasil,
ainda está desordenada e tem sido impulsionada por oportunidades mercadológicas, o que não
ocasiona benefícios sócio-econômicos e ambientais, comprometendo o conceito e a qualidade
do produto ecoturístico (BARROS II, LA PENHA, 1994).
Desse modo, esse documento (BARROS II; LA PENHA, 1994, p. 21) estabelece
ações com suas devidas estratégias de execução, para que atenda aos seguintes objetivos
básicos propostos
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
compatibilizar as atividades de ecoturismo com a conservação de áreas naturais;
fortalecer a cooperação interinstitucional;
possibilitar a participação efetiva de todos os segmentos atuantes no setor;
promover e estimular a capacitação de recursos humanos para o ecoturismo;
promover, incentivar e estimular a criação e melhoria da infra-estrutura para a
atividade de ecoturismo;
promover o aproveitamento do ecoturismo como veículo de educação
ambiental.
De acordo esses objetivos, observa-se que o último item está relacionado ao
aproveitamento do ecoturismo como veículo da educação ambiental, ou subjetivamente
entendido como a utilização da educação ambiental como ferramenta de desenvolvimento do
ecoturismo. Isso se dá, pois entende-se que o grupo interministerial identificou os problemas
48
do desenvolvimento do ecoturismo, conforme mostra o anexo A, onde evidenciou-se a partir
da premissa de que essa atividade está desorganizada e desarticulada, a problemática do
comportamento inadequado do turista, o que tem causado inúmeros outros impactos
negativos.
Dentre as ações e estratégias propostas pelo documento (conforme mostra o anexo B)
para a solução dos problemas identificados, está a ação nº08 nomeada de ‘Conscientização e
informação ao turista’ (anexo C), que tem por objetivo “divulgar aos turistas atividades
inerentes ao produto ecoturístico e orientar a conduta adequada nas áreas visitadas”
(BARROS II; LA PENHA, 1994, p. 30). O desenvolvimento dessa ação, de modo geral,
passaria a informar melhor o turista sobre os produtos e ou destinos relacionados ao
ecoturismo, assim como, orientá-los sobre as condutas, os comportamentos e os hábitos e
atitudes ambientais em pról da conservação dos ambientes visitados, tentando-se minimizar os
impactos nocivos causados.
Essa ação ao se referir especificamente a educação ambiental, propõe a estratégia de
“apoiar programas de educação ambiental formal, em todos os níveis, de maneira
interdisciplinar” (Ibid., p. 30). Porém, ressalta-se que o ecoturismo é desenvolvido e realizado
em áreas supostamente naturais, que compreendem espaços diferenciados dos espaços da
educação ambiental formal (escola). Nesse caso, é necessário desenvolver-se a educação
ambiental nos espaços destinados ao desenvolvimento das atividades de ecoturismo, ao ar
livre, constatando-se um educação ambiental não formal (melhor delimitada adiante).
Diante do exposto, acredita-se que essa ação governamental está dissociada das
definições e dos conceitos de ecoturismo em relação ao desenvolvimento da educação
ambiental na atividade. Com isso, questiona-se a efetiva aplicação da educação ambiental no
ecoturismo, afinal, se uma prática genuinamente ecoturística necessita do desenvolvimento de
seu componente educacional, como é possível constatar seu desenvolvimento por meio da
política que norteia a atividade no país?
Acredita-se também que uma forma de potencializar a sustentabilidade na atividade
ecoturística é recorrer a educação ambiental apesar desta prática ser vislumbrada ainda como
uma questão bastante ideológica e conceitual, ao invés de ser incorporada como um
instrumento à ação do planejamento ecoturístico sendo capaz de elucidar valores e atitudes
comportamentais, comprometidas efetivamente com a conservação do meio ambiente natural.
Na tentativa de descortinar a visão parcial e lacunar que existe no mercado
ecoturístico, Ruschmann (1995) relatou por meio de um estudo algumas das características do
perfil dos clientes e das agências e operadoras de ecoturismo em nível nacional. Após um
49
intervalo de sete anos, Ruschmann (2002) analisou e avaliou novamente as características do
mercado ecoturístico evidenciando uma pequena melhora na definição desse mercado, o que
possibilitou identificar um mercado um pouco mais sério, competitivo e profissionalizado,
possuindo turistas mais condizentes da importância da conservação ambiental e cultural 11 .
Atualmente, ainda pode-se afirmar que as dimensões do mercado ecoturístico ainda são pouco
conhecidas e pouco delimitadas.
Apesar dessa falta de delimitação e compreensão do mercado ecoturístico, Pires
(1998) afirma que uma experiência verdadeiramente ecoturística além de necessitar do meio
ambiente natural como cenário, dos atrativos naturais e também culturais, depende do
comprometimento com o manejo, com a conservação e com a sustentabilidade dos espaços
promovidos por meio da efetiva participação de comunidades locais e da difusão de uma
consciência ecológica proporcionada pela educação ambiental. Nesse sentido, Ruschmann
(2002, p. 133) corrobora enfatizando que ainda se busca um verdadeiro turismo ecológico,
entendido por ela como “[...] aquele que permite a apreciação e o estudo da natureza e suas
singularidades, sem comprometer a originalidade e autenticidade dos meios visitados”.
Para tanto, acredita-se que a evidência das relações supracitadas em uma atividade ou
mesmo em um destino de ecoturismo só possa ser alcançada por meio de ações e estratégias
devidamente vinculadas ao um processo de planejamento da atividade, mas contudo, também
é necessário estimular ações governamentais a fim de direcionar políticas públicas para seu
desenvolvimento.
Assim, Salvatti (2003, p. 34) entende o planejamento “[...] como a definição de
estratégias e meios para sair de uma situação atual visando alcançar uma situação futura
desejada”. A partir disso, acredita-se que tratar do planejamento do ecoturismo, é incorporar a
essa idéia os componentes de sustentabilidade, de educação ambiental e o envolvimento
comunitário, para que possa-se sair da realidade de uma atividade impactante e de uma
degradação ambiental para tornar-se, possivelmente, uma atividade e ou destino específico de
ecoturismo, ou mesmo nas interfaces com o meio natural e com uma gama variada de
atividades relacionadas aos esportes.
Salvatti (2003, p. 34; 47) também coloca que o planejamento é “[...] um processo
dinâmico e contínuo de definição de objetivos, metas e ações de forma integrada entre os
diversos agentes sociais de interesse”. Completa ainda que o planejamento do ecoturismo
“[...] deve ser apoiado em atividades que resultem no conhecimento das necessidades e
11
Para uma visão mais detida sobre o estudo ver Ruschmann (1995; 2002).
50
expectativas dos atores sociais, do efetivo potencial ecoturístico em termos atrativos,
financeiros e de mercado e dos benefícios para a conservação e para as comunidades locais”.
Assim, sugere-se uma reflexão sobre as possíveis condições de que se o ecoturismo é
apropriado ao local, das potenciais e efetivas vantagens para a conservação da natureza e
também das necessidades e das expectativas dos atores sociais envolvidos.
Desse modo, tenta-se reunir essas reflexões, conforme mostra a figura 9, no
estabelecimento de um diálogo exatamente entre os envolvidos no processo planejamento do
ecoturismo. Segundo Salvatti (2003), isso possibilitará as definições das etapas desse
processo, mostradas conforme a figura 10. Sucintamente, a primeira etapa – análise da
situação – compreende o conhecimento da realidade e deve ser enfocada de modo a integrar
os âmbitos políticos, sociais, econômicos e ambientais (o que pode ser comparado com uma
análise sobre os critérios da sustentabilidade).
Figura 9 – Identificando as diferentes necessidades e interesses
Fonte: Salvatti (2003, p. 50)
Tendo-se a realidade em mãos é possível determinar os objetivos e as metas a serem
alcançadas, bem como, o tempo necessário para isso. Posteriormente, decide-se as maneiras
que serão adotadas para o alcance dos objetivos propostos, podendo estar pautada por ações,
planos e programas. Por fim, deve-se avaliar o todo proposto e executado com a intenção de
evidenciar os aspectos positivos e negativos de cada etapa, bem como, de verificar os
51
resultados efetivamente alcançados e os que ainda estão por vir. Nesse momento, também é
possível refletir e repensar sobre os objetivos, as ações e sobre todo o processo de
planejamento no intuito de se replanejar esse processo (Ibid.).
Figura 10 – Quatro passos no processo de planejamento do ecoturismo
Fonte: Salvatti (2003, p. 46)
Diante dessa caracterização de um suposto processo de planejamento do ecoturismo,
cabe salientar que o governo federal, juntamente com outras instituições, identificou em 2001
os conjuntos de unidades territoriais com recursos naturais e culturais de significativa
expressão e potencial para a elaboração de produtos ecoturísticos qualificados, o qual
denominou de Projeto Pólos de Desenvolvimento do Ecoturismo no Brasil (MAGALHÃES,
2001a). O programa tinha por objetivo
[...] identificar as localidades brasileiras onde a prática do ecoturismo já vinha
ocorrendo com algum sucesso e fazer um levantamento das características, das
potencialidades e das condições de infra-estrutura nos locais onde o ecoturismo se
apresentava como uma nova alternativa de desenvolvimento (MAGALHÃES,
2001b, p. 65).
Essa identificação promoveria condições para que o país alcançasse, por intermédio de
planejamento e ações conscientes, a condição de um dos principais destinos de ecoturismo do
mundo (MELLES, 2001).
52
O Projeto Pólos de Ecoturismo do Brasil compreende os pólos como as “[...] áreas
onde as atividades ecoturísticas já vêm sendo desenvolvidas com sucesso, sendo promovidas
por um número variável de agentes, ou locais com condições naturais especiais mas poucas
atividades devido à falta de infra-estrutura e de organização” (MAGALHÃES, 2001a, p. 68).
O Projeto esclarece ainda que
para ser considerado como pólo é necessária a existência de um pacto de interesse e
intenções que resulte em um modelo de gestão específica para estas localidades e na
oferta de determinados produtos a um público que, passando a aceitá-los,
estabelecerá a prática do ecoturismo no território em questão (Ibid., p. 68-69).
A realização do Projeto Pólos de Ecoturismo iniciou-se em 1997, quando a Embratur
(Instituto Brasileiro de Turismo) e o IEB (Instituto de Ecoturismo do Brasil) estabeleceram
parceria e definiram uma equipe multidisciplinar para atuar e identificar os pólos nas regiões
brasileiras. No intuito de desenvolver um programa que pudesse contribuir para a formação de
uma rede sistêmica do ecoturismo; facilitar a interação dos agentes públicos e privados que
atuam no setor; estimular novos negócios; promover a capacitação de recursos humanos; e
difundir conhecimentos que possibilitem a conscientização ambiental, organizou-se as fases
de desenvolvimento do programa (Ibid.).
Na primeira fase, caracterizada como conceituação, vislumbrou-se o cenário dos
possíveis pólos e das possíveis atividades de ecoturismo desenvolvidas. Também identificouse as unidades de conservação existentes em cada um dos pólos, bem como, efetivou-se
contato com as autoridades locais, com isso, elaborou-se e definiu-se o roteiro de visitas para
a fase seguinte, o levantamento (Ibid.).
Na fase de levantamento, coletou-se dados referentes aos aspectos, ambientais, sócioeconômicos, infra-estruturais, turísticos, legais e políticos. Com o processamento desses
dados, iniciou-se a terceira fase e elaborou-se um diagnóstico sobre a situação dos locais
pesquisados (Ibid.).
Dessa situação, resultou-se a fase das proposições que de modo geral recomendou aos
estados e municípios a
-
implementação de uma política de desenvolvimento sustentado que seja norteada pela e
para o ecoturismo;
-
instalação de Comitês em cada pólo para a gestão dessa política;
53
-
atuação nos principais desafios apontados pelos estudos de campo e diagnósticos
realizados (vias de acesso; orientação e oferta dos produtos turísticos; e sinalização)
(Ibid.).
Diante dessas propostas sugeriu-se a utilização de uma matriz de avaliação, expressa
graficamente e interpretada qualitativamente, sendo pautada pela atribuição de pesos relativos
aos elementos territoriais que compõem o pólo e as atividades ecoturísticas, como forma de
auxiliar o comitê gestor a efetuar o monitoramento e a planejar as ações propostas aos
aspectos turísticos do pólo. Sugeriu-se ainda a criação de um centro de interpretação
ambiental e de informações aos visitantes como forma de estruturar o processo de
implantação do pólo (Ibid.).
Diante disso, acredita-se ainda que seja necessário inserir a educação ambiental nesse
processo de planejamento do ecoturismo para possa permear todas as etapas do planejamento
e auxilie, de acordo com suas possibilidades, o alcance dos objetivos de sensibilização da
sociedade, bem como, de conservação da natureza.
54
3 AS BASES CONCEITUAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
3.1 Concepções sobre educação
Para que possa-se definir as bases que compõe a educação ambiental é preciso atentase para o fato da mesma constituir-se como um prolongamento ou mesmo como uma vertente
da educação em si, assim sendo, primeiramente pretende-se delimitar as concepções da
educação.
A educação se faz como uma ferramenta, meio ou fim, indispensável à sociedade na
construção de seus ideais de paz, de liberdade e de justiça social, assim como também, no seu
contínuo desenvolvimento para atingir-se altos níveis de cultura. (PELICIONI, 2004b;
TRIGO, 2002).
Porém, como já salientava Durkheim (1978, p, 41) a educação tem sido realizada de
modo amplo para demonstrar o exercício dos homens acerca de suas vontades e inteligências
para com os outros homens, ou seja, salientava que em cada sociedade havia uma determinada
forma ou um momento para se desenvolver a educação, e a entendia como
a ação exercida, pelas gerações adultas, sobre as gerações que não se encontrem
ainda preparadas para a vida social; tem por objeto suscitar e desenvolver, na
criança, centro número de estados físicos, intelectuais e morais, reclamados pela
sociedade política, no seu conjunto, e pelo meio especial a que a criança,
particularmente, se destine.
Ao mesmo tempo, o autor (Ibid., p. 41-42) via que o ser humano era composto por
dois seres, o ser individual “[...] constituído de todos os estados mentais que não se
relacionam senão conosco mesmo e com os acontecimentos de nossa vida pessoal”. E o ser
social constituído por “[...] um sistema de idéias, sentimentos e hábitos, que exprimem em
nós, não a nossa individualidade, mas o grupo ou os grupos diferentes de que fazemos parte;
tais são as crenças religiosas, as crenças e as práticas morais, as tradições nacionais ou
profissionais, as opiniões coletivas de toda espécie”, assim sendo, este constituiria a finalidade
essencial da educação.
As idéias de Durkheim (1978) sugerem uma educação voltada à ação do adulto sobre
o indivíduo, entendendo-o como uma ‘tábua rasa’ que ao surgir herda sua natureza de
indivíduo, mas ainda assim, necessita da ação social para que se construa enquanto ser
individual e social. O autor (Ibid., p. 81) lembra também que “o homem que a educação deve
55
realizar, em cada um de nós, não é o homem que a natureza fez, mas o homem que a
sociedade quer que ele seja [...]”.
Trigo (2002) aponta que a educação relaciona-se aos problemas sociais, culturais,
políticos e comportamentais, tendo manifestado-se durante o seu curso de diferentes maneiras,
mas sempre voltada à condição de melhoria da vida humana.
Conforme Freire (1980, p. 25) já salientava, a educação “[...] é um ato de
conhecimento, uma aproximação crítica da realidade”. O autor caracteriza que o ser humano
é tido como sujeito da educação e, por isso, reflete criticamente sobre o ambiente concreto e
sobre a realidade que o cerca, tornando-se consciente e comprometido, sendo capaz de intervir
e transformar o mundo.
Mas, essa aproximação da realidade / mundo em um primeiro momento traduz-se
numa posição ingênua e espontânea, sendo necessário que
ultrapassemos a esfera espontânea de apreensão da realidade, para chegarmos a uma
esfera critica na qual a realidade se dá como objeto cognoscível e na qual o homem
assume uma posição epistemológica. A conscientização é, nesse sentido, um teste de
realidade. Quanto mais conscientização mais se “des-vela” a realidade, mais se
penetra na essência fenomênica do objeto, frente ao qual nos encontramos para
analisado. [...] A conscientização não pode existir fora da “práxis”, ou melhor, sem o
ato ação-reflexão. Esta unidade dialética constitui, de maneira permanente, um modo
de ser ou de transformar o mundo que caracteriza os homens (FREIRE, 1980, p. 26).
O autor (Ibid., p. 26-27) acrescenta ainda que “a conscientização não está baseada
sobre a consciência, de um lado, e o mundo de outro; por outra parte não pretende uma
separação. Ao contrário, está baseada na relação consciência-mundo”. Ou como explica
Guimarães (2005, p. 194) é a “[...] consciência em ação – conscientização”, um processo
individual em que não dissocia-se a razão e a emoção, a teoria e a prática e a reflexão e a
ação, no sentido de compreender as realidades do mundo, e de se transformar, transformandose assim, a sociedade.
Dessa forma, Delors et al (2002, p. 47) chamam a atenção para que “a compreensão
deste mundo, passa evidentemente, pela compreensão das relações que ligam o ser humano ao
seu meio ambiente”, dessa forma, a educação procura tornar os indivíduos conscientes de si
mesmos e dos outros, bem como de suas raízes culturais para que se respeite as outras
culturas, evidenciando assim, a responsabilidade solidária e ética dos valores iminentes à
cultura humana.
Em complemento, Loureiro (2004, p. 16) cita que
56
a educação não é o único, mas certamente é um dos meios de atuação pelos quais
nos realizamos como seres em sociedade – ao propiciarmos vivências de percepção
sensível e tomarmos ciência das condições materiais de existência; ao exercitarmos
nossa capacidade de definirmos conjuntamente os melhores caminhos para a
sustentabilidade da vida; e ao favorecermos a produção de novos conhecimentos que
nos permitam refletir criticamente sobre o que fazemos no cotidiano.
Direcionando-se para o foco dessa pesquisa Taglieber (2003) coloca que a relação
humana entre sociedade e natureza faz parte da educação na formação da cidadania. Essa
educação localizada na inter-relação entre sociedade, educação e natureza é denominada de
educação ambiental, e caracteriza-se como um fenômeno social que iniciou-se a mais de trinta
anos, portanto, não sendo algo novo.
3.2 Evolução da educação ambiental
Leonardi (1999) pautada nos ideais de Rousseau e Freinet, ressalta que a educação
para e com o meio ambiente, não é nova e inicia-se a partir do século XVIII quando insistia-se
na eficácia do meio ambiente como uma estratégia de aprendizagem, onde via-se a natureza
diferentemente de algo a ser conquistado e dominado. Isso justifica o porquê as histórias de
meio ambiente e educação ambiental se articulam e por vezes se confundem, e têm nas
Conferências e nos eventos mundiais suas inter-relações. Serrano (2000b, p. 211) corrobora
com essa exposição quando cita que
o contexto do surgimento dessas práticas é o mesmo daquele onde se originou a
idéia de desenvolvimento sustentável, como um dos desdobramentos das discussões
sobre os rumos da apropriação dos recursos naturais nos moldes praticados na
sociedade urbano-industrial, estabelecidas a partir da década de 1960.
Cabe nesse momento, um destaque aos principais eventos relacionados, direta ou
indiretamente, a educação ambiental em ordem mundial. O primeiro deles a ser destacado é a
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano realizada em 1972 em
Estocolmo, que segundo Dias (2000) e Diaz (2002), fez uma profunda reflexão sobre as
causas dos problemas ambientais e evidenciou a importância da educação ambiental ao
referenciar a responsabilidade do ser humano sobre esses problemas, recomendando assim, o
estabelecimento de um Programa Internacional de Educação Ambiental.
Esse Programa estabeleceu-se a partir do Encontro Internacional de Educação
Ambiental promovido em Belgrado (1975), que formulou os princípios e as orientações para
57
um efetivo Programa Internacional de Educação Ambiental. Desse evento resultou ainda a
Carta de Belgrado que recomendava que os recursos fossem utilizados em benefício de toda
humanidade, proporcionando a todos um aumento na qualidade de vida (Ibid.).
Posteriormente, a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental ocorrida
em Tbilisi (1977) , tornou-se referência internacional para o desenvolvimento de atividades de
educação ambiental, pois contribuiu para a definição de seus princípios, objetivos e
características. Após dez anos, em 1987, realizou-se em Moscou, o Congresso Internacional
de Educação e Formação Ambiental com o objetivo de retomar as discussões sobre os ainda
insistentes e crescentes problemas ambientais, assim como, de analisar os sucessos e as
dificuldades dos países no desenvolvimento da educação ambiental (Ibid.).
Já em 1992 há a realização da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento no Rio de Janeiro que propôs uma estratégia global, a chamada Agenda 21,
como instrumentalização de uma política ambiental, relacionada a educação ambiental e a
capacitação com os problemas mais urgentes do desenvolvimento humano, no qual
vislumbra-se a importância de uma mudança nos hábitos e comportamentos dos seres
humanos (Ibid.). Outro resultado a se destacar é o Tratado de Educação Ambiental para
Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global que reconheceu o importante papel da
educação ambiental na formação de valores e na ação social, assim como, também delimitou
seus princípios e seu plano de ação (VIEZZER; OVALLES, 1994).
Após isso, realizou-se em 1997 em Thessaloniki a Conferência Internacional sobre
Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Consciência Pública para a Sustentabilidade, que
mais uma vez alertou para a necessidade da realização de ações de educação ambiental na
defesa do meio ambiente (CASCINO, 2003).
Por fim, em continuidade a Conferência de 92 (RIO-92) realizou-se em 2002 em
Johannesburg a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida como
RIO+10, tinha por propósito a obtenção de criar um efetivo plano de ação para a contenção
dos diversos problemas ambientais de caráter global e associados ao processo de globalização
(DINIZ, 2002).
Em relação ao Brasil a educação ambiental surge antes mesmo de sua
institucionalização com o movimento preservacionista / conservacionista no início dos anos
70 e, concomitantemente, a sua institucionalização vem logo em seguida em 1973 com a
criação da Secretaria Especial de Meio Ambiente (SEMA) que evidencia a educação como
forma de garantir o uso adequado dos recursos naturais (ProNEA, 2005).
58
Em 1981 é estabelecida a Política Nacional de Meio Ambiente (PNMA) que coloca a
educação ambiental em todos os níveis de ensino, assim como, em 1988 a Constituição
Federal também evidencia essa tendência. Já em 1991, duas instâncias foram criadas para
cuidar desse assunto, o Grupo de Trabalho de Educação Ambiental do Ministério da
Educação e Cultura (MEC) – que em 1993 se transformaria em Coordenação Geral de
Educação Ambiental – e a Divisão de Educação Ambiental do Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Em 1992 foi criado o Ministério do
Meio Ambiente (MMA) e, em seguida, o IBAMA cria os Núcleos de Educação Ambiental
para que pudesse operacionalizar as ações educativas no processo de gestão ambiental (Ibid.).
Em 1994 foi criado o Programa Nacional de Educação Ambiental (PRONEA) que
responsabilizava-se pelas ações voltadas ao sistema de ensino e à gestão ambiental. Já em
1999 é então aprovada a lei nº9.795 que dispõe sobre a Política Nacional de Educação
Ambiental (PNEA), que passaria a constituir um importante marco da educação ambiental no
país (Ibid.).
O ProNEA (2005) salienta também a importância das redes de educação ambiental
para o fortalecimento da institucionalização da educação ambiental no país. Para tanto, em
2001 o governo federal por meio do FNMA (Fundo Nacional de Meio Ambiente) apoiou o
fortalecimento da REBEA 12 (Rede Brasileira de Educação Ambiental), da REASul 13 (Rede
de Educação Ambiental da Região Sul), entre outras.
Cabe esclarecer que esses são alguns dos principais eventos e acontecimentos
nacionais e internacionais que aparecem sucintamente na pesquisa, pois marcam pontos de
evolução nas delimitações acerca da educação ambiental.
A partir disso, conforme observa Dias (2000, p. 98), houve uma evolução nos
conceitos devido ao processo histórico e discursivo sobre as inúmeras questões ambientais
mundiais, porém, essa evolução sempre esteve relacionada aos conceitos de meio ambiente e
ao modo como esse era percebido pela sociedade. O autor ressalta ainda, que “o conceito de
meio ambiente, reduzido exclusivamente a seus aspectos naturais, não permitiria apreciar as
inter-dependências nem a contribuição das ciências sociais e outras à compreensão e melhoria
do ambiente humano”.
Por isso, salienta-se que é necessário compreender e esclarecer as representações
sociais, de indivíduos e grupos, sobre o meio ambiente e, consequentemente, sobre sua
problemática ambiental e suas soluções sustentáveis, pois essas poderão modificar e
12
13
Para maiores informações sobre a REBEA indica-se a consulta do site: www.rebea.org.br
Para maiores informações sobre a REASul indica-se a consulta do site: www.reasul.org.br
59
direcionar as atuais práticas e teorias de educação ambiental, sem necessariamente, haver a
insistência em modificar-se as representações sociais para que a sociedade se ‘conscientize’
dos problemas ambientais (GUERRA, 2001; SATO, 2002; SAUVÉ, 1997).
A representação social pode ser entendida, conforme pontua Moscovici (1978 apud
REIGOTA, 2002, p. 124) “[...] como sendo o conhecimento do senso comum, sobre um
determinado tema [...]”, e como afirma Jodelet (1984 apud REIGOTA, 2002, p. 124) “[...] são
como sistemas de pensamentos que sustentam as práticas sociais”. A mesma autora em outro
momento (1989 apud REIGOTA, 2002, p. 124) completa ainda que
[...] as representações sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos,
mentais e sociais e integrando, ao lado da cognição, da linguagem e da
comunicação, a consideração das relações sociais que afetam as representações e a
realidade material, social e ideal sobre as quais elas vão intervir.
Dessa forma, cabe dizer que há uma relação de causa e efeito nas relações pautadas
pela prática social no meio ambiente, pois pressupõe-se que dependendo de como a sociedade
entende o meio ambiente, isso explicará suas ações em pról ou em descaso para com o
mesmo.
Desse modo, Sauvé (1992, 1994 apud SAUVÉ, 1997) apresenta as tipologias de
concepções de meio ambiente que, possivelmente, possam nortear as práticas de educação
ambiental, conforme mostra o quadro 3. A autora ressalta que esses arquétipos se constituem
como complementares e podem ser combinados com um ou mais elementos, o que possibilita
além de identificar as representações, verificar suas características e suas formas de atuação.
Coloca ainda, que essas concepções “[...] podem ser consideradas numa perspectiva
sincrônica: elas coexistem e podem ser identificadas nos diferentes discursos e práticas atuais.
Mas elas podem ser enfocadas diacronicamente, porque são resultados da evolução da
história”.
Ambiente
Como natureza
Como recursos
Como problema
Como lugar para viver
Relação
Características
para ser apreciado e natureza como catedral,
preservado
ou como um útero, pura
e original
para ser gerenciado
herança
biofísica
coletiva, qualidade de
vida
para ser resolvido
ênfase na poluição,
deteriorização
e
ameaças
ea para, sobre e no para a natureza com os seus
cuidar do ambiente
componentes
sociais,
Metodologias
exibições; imersão na
natureza
campanha dos 3 Rs;
auditorias
resolução de problemas;
estudos de caso
projetos de jardinagem;
lugares ou lendas sobre
60
Como biosfera
Como
comunitário
históricos
e
tecnológicos
como local para ser espaçonave
Terra.
dividido
“Gaia”,
a
interdependência
dos
seres vivos com os
inanimados
projeto para ser envolvido
a natureza com o foco
na análise crítica, na
participação política da
comunidade
a natureza
estudos de caso em
problemas
globais;
estórias com diferentes
cosmologias
pesquisa(ção)
participativa para a
transformação
comunitária; fórum de
discussão
Quadro 3: A tipologia das concepções sobre o meio ambiente na Educação Ambiental
Fonte: SAUVÉ (1992, 1994 apud SAUVÉ, 1997)
Identificar uma ou mais dessas concepções em indivíduos ou grupos de indivíduos
representaria identificar a representação social dessa população o que possibilitaria, no caso
da educação ambiental, um desenvolvimento mais detido nas possibilidades de solucionar os
problemas ambientais. Assim, Tuan (1980, p. 68) afirma que
para compreender a preferência ambiental de uma pessoa, necessitaríamos examinar
sua herança biológica, criação, educação, trabalho e os arredores físicos. No nível de
atitudes e preferências de grupo, é necessário conhecer a história cultural e a
experiência de um grupo no contexto de seu ambiente físico. Em nenhum dos casos
é possível distinguir nitidamente entre os fatores culturais e o papel do meio
ambiente físico.
Guerra (2001, p. 303) complementa ressaltando que a história brasileira retrata a
concepção da natureza e do meio ambiente enquanto fonte de recursos infinitos, pois não se
tem uma “[...] cultura ou sentimento de preservação”. Por isso, Sato (2002) salienta que a
educação ambiental deve ser recriada, avaliando-se o convívio coletivo e a relação da
sociedade perante o mundo, ou seja, deve-se observar a educação ambiental como um
conjunto de relações sociais que determinam a dinamicidade do mundo. Afinal, como Tuan
(1980) já atentava, que somente à medida em que a sociedade e sua cultura evoluem com o
tempo é que pode-se haver uma mudança de atitude para com o meio ambiente.
3.3 Concepções sobre educação ambiental
Uma parte da evolução supracitada pode ser percebida ao momento em que as
discussões mundiais sobre meio ambiente evidenciam as definições e também evoluem nos
61
conceitos sobre educação ambiental, tendo-a como uma parte do processo de evolução, bem
como, de mudança de atitudes.
Desse modo, a evolução dos conceitos de educação ambiental se dá a partir do
momento em que a Conferência Intergovernamental de Tbilisi (1977 apud SATO, 1999, p.
23-24) define a educação ambiental como
um processo de reconhecimento de valores e clarificação de conceitos, objetivando o
desenvolvimento das habilidades e modificando as atitudes em relação ao meio, para
entender e apreciar as inter-relações entre os seres humanos, suas culturas e seus
meios biofísicos. A Educação Ambiental também está relacionada com a prática das
tomadas de decisão e a ética que conduzem para a melhoria da qualidade de vida.
Em complemento Viezzer e Ovalles (1994, p. 20) colocam que a educação ambiental é
“[...] uma proposta de filosofia de vida que resgata valores éticos, estéticos, democráticos e
humanistas”. Para tanto, Guimarães (2001, p. 15) evidencia que a educação ambiental
[...] tem o importante papel de fomentar a percepção da necessária integração do ser
humano com o meio ambiente. Uma relação harmoniosa, consciente do equilíbrio
dinâmico na natureza, possibilitando, por meio de novos conhecimentos, valores e
atitudes, a inserção do educando e do educador como cidadãos no processo de
transformação do atual quadro ambiental do nosso planeta.
Sato (2002, p. 17) corrobora entendendo a educação ambiental como
[...] um processo de aprendizagem permanente, baseado no respeito a todas as
formas de vida. Esta afirma valores e ações que contribuem para a transformação
humana e social e para a preservação ecológica, além de estimular a formação de
sociedades socialmente justas e ecologicamente equilibradas, que conservem entre si
relação de interdependência e diversidade, fato que requer responsabilidade
individual e coletiva em níveis local, nacional e planetário.
Conforme atenta Dias (2000) o Brasil privilegia-se por dispor de uma política nacional
específica de educação ambiental, e isto faz com que além de conceituá-la, a educação
ambiental seja institucionalizada. Em relação a isto salienta-se que em virtude dos
compromissos assumidos com a Constituição Federal de 1988 e com a Rio-92 foi criado em
1994 o Programa Nacional de Educação Ambiental que é executado pela Coordenação de
Educação Ambiental do Ministério da Educação (MEC) e do Ministério do Meio Ambiente
(MMA) / IBAMA (ProNEA, 2003). A diretoria do ProNEA (2003, p. 06) com a intenção de
“[...] promover a articulação das ações voltadas às atividades de proteção, recuperação e
melhoria socioambiental, e de potencializar a função da educação para as mudanças culturais
62
e sociais [...]” inseriu em 1999 a educação ambiental no planejamento estratégico do governo
federal, por meio da Política Nacional de Educação Ambiental – PNEA.
Essa política considerou a educação ambiental como
[...] os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia
qualidade de vida e sua sustentabilidade (BRASIL, 1999, sem número de página).
Em termos práticos e conceituais esse é o conceito nacionalmente aceito e utilizado
política ou academicamente e acredita-se que compila as principais idéias dos outros
conceitos, pois evidencia o processo educativo como uma das formas de conservação da
natureza, bem como, que para alcançar esse objetivo é necessário a construção de valores e a
ação da coletividade em pról da sustentabilidade.
No ponto de vista de Reigota (1998, p. 10) a educação ambiental “[...] deve ser
entendida como educação política, no sentido de que ela reivindica e prepara os cidadãos para
exigirem justiça social, cidadania nacional e planetária, autogestão e ética nas relações sociais
e com a natureza”. O mesmo autor (Ibid., p. 12) evidencia que a educação ambiental si só não
resolverá os complexos problemas ambientais, mas poderá
influir decisivamente para isso, quando forma cidadãos conscientes dos seus direitos
e deveres, tendo consciência e conhecimento da problemática global e atuando na
sua comunidade, havendo uma mudança no sistema, que se não é de resultados
imediatos visíveis, também não será sem efeitos concretos.
Para uma maior delimitação sobre a educação ambiental, Sorrentino (1995 apud
LEONARDI, 1999) classificou as variadas correntes de educação ambiental em quatro
categorias, sendo a conservacionista; a educação ao ar livre; a gestão ambiental; e a economia
ecológica. Sem a intenção de aprofundar os estudos sobre essas categorias, justifica-se por ser
foco dessa pesquisa, apresentar a corrente da educação ao ar livre e por estar relacionada e
presente entre os naturalistas que incentivavam as caminhadas ecológicas, as trilhas de
interpretação da natureza, o turismo ecológico e o autoconhecimento na relação com a
natureza.
Leonardi (1999, p. 397) relembra que essas correntes estão diretamente relacionadas
as diferentes formas de se fazer educação ambiental, também classificadas em quatro
conjuntos de temas ou objetivos da educação ambiental, os biológicos; os espirituais/culturais;
os políticos; e os econômicos. Com isso, a autora propõe como um objetivo geral da educação
ambiental, “[...] contribuir para a conservação da biodiversidade, para a auto-realização
63
individual e comunitária e para autogestão política e econômica, mediante processos
educativos que promovam a melhora do meio ambiente e da qualidade de vida”.
Além dos objetivos, a educação ambiental pode ser classificada segundo Leonardi
(1999, p. 397) em função do espaço onde é desenvolvida, sendo formal, não formal e
informal. A educação ambiental formal ocorre sempre em âmbito escolar, enquanto a não
formal é “[...] exercida em outros e variados espaços da vida social, com metodologias,
componentes e formas de ação diferentes da formal [...]” e a informal ocorre ‘informalmente’
no cotidiano da sociedade, principalmente, promovida pelos diversos meios de comunicação.
Em complemento ao exposto acerca da educação ambiental não formal, a PNEA
(BRASIL, 1999) a entende como “[...] as ações e práticas educativas voltadas à sensibilização
da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação na defesa da
qualidade do meio ambiente”. E dentre os incentivos governamentais à educação ambiental
não formal, relacionados a essa pesquisa, estão “a sensibilização da sociedade para a
importância das unidades de conservação” e “o ecoturismo” (os demais constam no anexo D).
Ao mesmo tempo que a PNEA apresenta o trabalho da educação ambiental não
formal, observa-se que há a necessidade de uma maior delimitação, assim como, de
evidenciar formas pela qual a educação ambiental não formal sensibilize efetivamente a
sociedade e também a forma como é aplicada ao ecoturismo. Desse modo, contata-se uma
incompatibilidade dessas ações, pois não tornam-se claras as estratégias e as formas como
essas efetivamente ocorrerão.
Ao acreditar na educação ambiental como um caminho para a tomada de consciência
ambiental e garantia de um futuro sustentável, Leff (2001) cita que a educação ambiental
fomenta novas atitudes nos sujeitos sociais, guiados pelos princípios de sustentabilidade
ecológica e cultural, que contradizem o desenvolvimento econômico atual, o que implica em
educar para formar um pensamento crítico e prospectivo, capaz de analisar as complexas
relações existentes entre processos naturais e sociais.
Contudo, Serrano (2000a) e Capra (2003) salientam a importância do desenvolvimento
de uma relação vivencial e afetiva da sociedade, em um ambiente multisensorial, voltado à
vivência de experiências que estimulem a reflexão e a sensibilidade para a consolidação do
aprendizado e a construção de um futuro sustentável.
Portanto, a educação ambiental segundo Dias (1993, p. 02) tem “[...] a tarefa de
estimular o desenvolvimento de uma nova consciência a respeito das relações do homem com
o seu ambiente, e produzir novas condutas capazes de levar as pessoas a se envolverem com
as questões ambientais”.
64
Nesse caso, Mendonça (2005a, p. 537) cita que as experiências ecoturísticas possuem
elevado potencial para a interiorização de princípios da educação ambiental, pois “[...]
promovem o aprimoramento das relações dos indivíduos, consigo mesmos e auxiliam a tornar
conscientes as relações que as pessoas têm umas com as outras e com o meio natural”.
Além disso, a mesma autora (2005b, p. 169) afirma também que essas experiências
podem
[...] ativar um energia mental totalmente nova e levar o visitante a experimentar, a
partir da possibilidade e do estímulo à criatividade e à afetividade, novos
sentimentos capazes de dar origem a novos pensamentos e, assim, a novas
possibilidades de compatibilização e harmonização da presença humana no planeta.
Esse sentimento interiorizado e apreendido pelas experiências ecoturísticas (em
contato direto com a natureza) proporciona a possibilidade de novos comportamentos e de
novas atitudes nos indivíduos em função não somente do sentido, mas também do percebido.
Esse processo educativo, segundo Tuan (1980, p. 05) é tido como um “[...] elo afetivo entre a
pessoa e o lugar ou ambiente físico”, denominado de topofilia, onde a atitude representa uma
postura cultural, formada pela sucessão de percepções, também entendidas como
experiências.
Nesse sentido, Cascino (1998, p. 09) afirma que
o contato com a natureza é sempre uma ruptura. Sentir medo do horizonte, da altura,
da profundidade, do vento, do frio, do sol escaldante, do mato fechado, do barulho
dos animais, do poder dos insetos, da precariedade e do desconforto remete-nos a
rompimentos como nossos comportamentos mais ‘assentados’. E essas rupturas
abrem ‘brechas’ para a introdução/construção de novas leituras/discursos sobre o
que somos, o que gostamos, o que acreditamos. Romper com formas consagradas de
falar, ver e sentir é um caminho saudável de construir o novo. E o novo só aparece
quando se lhe dá espaço. Forçar rupturas enfrentando voluntariamente situações
inesperadas fundamenta mudanças.
Para tanto, esse processo pode ser considerado um processo educativo, pois promove a
aprendizagem e pode ser explicado pelo diagrama de Cooper (1993 apud DIAS, 1993, p. 03;
DIAS, 2000, p. 111) que apresenta as categorias dos objetivos da educação ambiental,
conforme mostra a figura 11.
Percebe-se que as categorias de objetivos que compõe o diagrama (consciência,
conhecimento, comportamento, habilidades e participação) estão integradas e interrelacionadas, o que nos submete ao entendimento que seu funcionamento ocorra de modo
sistêmico, ou seja, indicam que há uma relação direta entre cada uma das categorias sendo
possível alcançar os objetivos propostos por determinada atividade e ou situação de educação
65
ambiental. Como exemplificação, entende-se que a sensibilização e a conscientização 14 só
serão possíveis se integradas a partir do conhecimento e da compreensão de uma determinada
situação, onde haja um ação e ou interação dos envolvidos no intuito de desenvolver
habilidades, atitudes, valores e comportamentos em pról da solução de determinada situação.
Figura 11: Categoria de objetivos da educação ambiental
Fonte: Cooper (1993 apud DIAS, 1993, p. 03; DIAS, 2000, p. 111)
Guerra (2001, p. 318) corrobora com o entendimento sobre o processo educativo
quando apresenta a dimensão ambiental na educação, conforme mostra a figura 12, como
forma indissociável de ação – reflexão – ação no processo de aprendizagem. O autor (Ibid., p.
314, grifo do autor) ressalta ainda que
o processo de ensino e aprendizagem supõe, basicamente, a comunicação e a
transmissão tanto de informações como a construção e reconstrução de
conhecimentos, habilidades e competências, o que implica mudanças de hábitos e
valores que constituem o que denominamos de “conteúdo” desse processo
educativo.
Em seu estudo, o autor (Ibid.) evidenciava a inserção da dimensão ambiental no
currículo de uma educação ambiental formal vinculada ao processo de escolarização, mas
acredita-se que esse seja um meio efetivo para analisar a vertente ambiental na educação e que
seja também possível, futuramente, adaptá-lo à outras áreas.
14
Apesar de aqui, em outros referenciais ou mesmo pelo senso comum, sensibilização e conscientização são
tratados como termos semelhantes mas, ressalta-se como diferenciação que sensibilizar é tocar profundamente os
sentidos de alguém, e conscientizar é o processo que esse alguém passa ao interiorizar os valores e a agir de
acordo com o mesmo.
66
Nesse sentido, o mesmo autor (Ibid.) relata que o planejamento e a organização do
caminho educativo percorrido pelo ser humano é pautado pelo desenvolvimento das
dimensões do conteúdo para a educação ambiental – conhecimentos e outros saberes;
habilidades; competências; atitudes e valores éticos e estéticos; e relações inter e intra
pessoais.
Figura 12: A dimensão ambiental na educação
Fonte: Guerra (2001, p. 317)
Esses conteúdos da educação ambiental interagem e sofrem interações de modo
sinérgico com os processos de aprendizagens, que Delors et al (2002) classificaram como os
quatro pilares da educação – aprender a conhecer, a fazer, a viver juntos e a ser.
Delors et al (2002) compreendem o pilar aprender a conhecer com um domínio dos
instrumentos do conhecimento que são considerados como um meio e como uma finalidade à
vida humana. É considerado um meio pois tem o intuito de que cada um compreenda o mundo
que o cerca e é considerado uma finalidade pois fundamenta-se no prazer que se tem em
compreender o mundo.
67
Guerra (2001) denomina esse processo de aprendizagem como pensar globalmente e
saber, e relaciona-o à dimensão cognitiva do conteúdo da aprendizagem, que é representada
tanto pelos conhecimentos adquirido e construído, quanto pelos conhecimentos culturais
proporcionados pelas crenças, tradições e saberes locais. Esse autor acrescenta ainda que
esses saberes norteiam a compreensão de mundo de cada um por estarem inscritos na
corporeidade e por serem resultantes da interação do aprendente com o meio que o cerca.
Já o pilar da educação aprender a fazer é compreendido por Delors et al (2002) como
uma questão relacionada à formação profissional, ou seja, ensinar o aluno a praticar
profissionalmente os seus conhecimentos teóricos.
Guerra (2001) além de manter a mesma denominação a esse pilar, ainda corrobora
quando o trata como um processo de aprendizagem associado à dimensão metodológica do
conteúdo da aprendizagem. O mesmo autor (Ibid.) esclarece que a dimensão metodológica
relaciona-se ao desenvolvimento de habilidades e competências que, consequentemente, leva
o aprendente ao desenvolvimento da autonomia, da percepção estética e da sensibilização para
os problemas sócio-ambientais.
O autor (Ibid., p. 317) ressalta ainda que “esse saber fazer permite um saber-poder
capaz de, pela ação – reflexão – ação, pela vontade e participação (engajamento), buscar
soluções criativas para a resolução desses problemas e transformar a realidade e mudar a
própria história”.
Entretanto, Guerra (2001) salienta que para haver uma articulação entre as dimensões
cognitiva e metodológica, é necessário desenvolver-se a dimensão afetiva, afinal, o processo
de sensibilização que leva à conscientização necessita da subjetividade e da corporeidade para
a mudança de atitudes e valores. Ao mesmo tempo, o autor (Ibid.) esclarece que nesse
processo o aprendente sozinho pouco altera a realidade, sendo necessário a presença do outro,
ou seja, a educação ocorre na ação – reflexão – ação em conjunto aos grupos sociais, pautada
por meio da cooperação, da solidariedade e da reflexão acerca das responsabilidades inerentes
aos indivíduos da sociedade (para consigo, com o outro e com o meio como um todo).
Diante dessas responsabilidades, Guerra (2001) coloca que a dimensão ecosófica 15
está intimamente relacionada a ação – reflexão – ação, pois além de recompor as práticas
sociais e individuais, também desenvolve o processo de aprendizagem do saber sentir, querer
e agir. Por isso, evidencia-se que os processos de aprendizagem saber sentir, querer e agir, e
15
Guerra (2001) relata que a dimensão ecosófica, das “três ecologias” de Guattari (1994) está relacionada aos
níveis da ética e da cidadania por permear as relações entre as ecologias da subjetividade humana, a social e a
ambiental.
68
novas formas de saber ser e conviver estão diretamente relacionadas às dimensões afetiva e
ecosófica da aprendizagem.
Delors et al (2002) complementam essas idéias evidenciando que o pilar da educação
aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros está relacionado à tomada de
consciência dos indivíduos sobre as relações de inter-dependência entre os seres humanos e o
ambiente como um todo. Isso demonstra as possibilidades de respeitar-se os seus limites e os
limites do ambiente, tendo-se claramente as responsabilidades de cada um no processo de
convívio consigo e com os outros.
Da mesma forma, Delors et al (2002) esclarecem que o pilar da educação aprender a
ser está relacionado ao desenvolvimento do conhecimento do ser humano em relação a si e ao
outro. Para tanto, os autores (Ibid., p. 101) afirmam que “[...] a educação é antes de mais nada
uma viagem ao interior, cujas etapas correspondem às da maturação contínua da
personalidade”. Nesse sentido, a educação tem o papel de “[...] conferir a todos os seres
humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimentos e imaginação de que
necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos
do seu próprio destino” (Ibid., p. 100).
Diante disso, Guerra (2001, p. 318) enfatiza que todo esse processo de educação, com
sua dimensão ambiental, “[...] gera um saber-poder de mudança que nos conduziria a novas
formas de aprender e saber fazer, e também de saber ser e de conviver com os outros”.
Mais especificamente em relação a educação ambiental, o autor (Ibid., p. 318) ressalta
que é “[...] um processo de (re)educação, ou seja, significa que precisamos reaprender a viver
e nos (re)integrarmos consigo mesmo, com o outro, na e com a natureza, sentindo, pensando e
agindo como partes integrantes dela mesma”.
Com isso, o que a educação ambiental pretende fazer é com que a sociedade aprenda
como está organizado e como funciona o meio ambiente natural e, ao mesmo tempo, o quanto
a mesma depende dele, como o afeta e também como pode-se promover a sua sustentabilidade
(figura 13) (DIAS, 2000).
Todo esse processo característico da educação ambiental é para Guimarães (2001, p.
28) a concepção de uma educação ambiental crítica da realidade, pois a considera
transformadora de valores e atitudes através da construção de novos hábitos e
conhecimentos, criadora de uma nova ética, sensibilizadora e conscientizadora para
as relações integradas ser humano/sociedade/natureza objetivando o equilíbrio local
e global, como forma de obtenção da melhoria da qualidade de todos os níveis de
vida.
69
Figura 13: Pretensão da educação ambiental
Fonte: Dias (2000, p. 100)
Guimarães (2001) também evidencia a educação ambiental a partir de um processo de
planejamento (figura 14) que parte de uma análise crítica da realidade local inserida numa
visão global e que, posteriormente, possibilita o desenvolvimento das etapas de diagnóstico,
de plano de ação e de execução. Para tanto, percebe-se que esse planejamento foi
desenvolvido com base na educação formal, mas acredita-se que possa ser aplicado também a
educação não formal, por exemplo, desenvolvida em um destino ecoturístico.
Sucintamente, a partir das idéias de Guimarães (2001) pensa-se que a etapa
diagnóstico evidenciará a realidade e, consequentemente, os problemas ambientais existentes
naquele local, sendo necessário a elaboração de um plano de ação para sensibilizar a
sociedade local e os visitantes de forma prazerosa, informativa e criticamente sobre a
realidade do local. Desse modo, passa-se a etapa de execução do plano de modo a construir a
práxis em educação ambiental, ou seja, um processo pelo qual desenvolve-se uma educação
ativa a partir de práticas sociais sobre o meio vivenciado onde estabelece-se um ciclo e
retorna-se ao final do processo dessa prática social com uma compreensão e um ação
devidamente alterada.
Em complemento a isso, o autor (Ibid., p. 48) esclarece que o processo da práxis da
educação ambiental concretiza-se no momento em que “[...] educando e educador exercitam a
70
reflexão / ação na construção desses novos valores e atitudes que integram os ser humano /
natureza”.
Figura 14: Planejamento em educação ambiental
Fonte: Guimarães (2001, p. 49)
Reigota (1998b) salienta que pensar em mudanças na sociedade perante a natureza é
uma utopia, porém não entendida como ingênua ou impossível, mas como um conjunto de
idéias que podem proporcionar atividades que modifiquem o atual sistema (social, econômico,
ambiental e cultural).
Nesse sentido, esse processo educativo por meio das experiências (ecoturísticas ou
não) realizadas em meio ambiente natural (natureza), pode proporcionar novas expectativas e
novas perspectivas no sentido sensitivo, ou seja, inicia-se assim, um processo de
sensibilização ou a chamada topofilia, do indivíduo ou do grupo a ele relacionado, que
aprende com a experiência devido a originalidade de seu meio e que poderá proporcionar a
conscientização. Lembrando que ninguém conscientiza ninguém, a conscientização é uma
autogestão do próprio indivíduo que atinge um ponto racional perante determinado tema ou
problemática.
71
Portanto, a partir de então, identifica-se as formas como os outros processos
educativos relacionados à educação ambiental estão organizados, bem como, as suas
possibilidades de aplicação ao ecoturismo e as potencialidades que os mesmos possuem para
sensibilizar a sociedade aos problemas ambientais, assim como, as novas formas de se sentir
integrado à natureza.
3.4 Modalidades de educação ambiental não formal ao ar livre
As formas de se realizar a educação ambiental, ganham aqui o termo ‘modalidades’
por convencionalmente serem utilizadas como as maneiras, os instrumentos, as ferramentas
ou, em seu termo mais acadêmico e contemplativo, as metodologias empregadas ao
desenvolvimento de tais práticas educativas. Tem-se a pretensão de apresentá-las
sucintamente, exatamente pautadas em seus enfoques de escopo teórico-metodológicos, assim
como, em suas práticas.
Cabe salientar que as modalidades denominadas de aprendizado seqüencial,
interpretação ambiental e educação experiencial compõem as práticas relacionadas à educação
ambiental não formal ou também chamadas de educação ambiental ao ar livre.
Pressupõe-se que, provavelmente, existam outras modalidades de educação ambiental,
porém as aqui apresentadas caracterizam-se como as modalidades até então identificadas e
que se aplicam ou que podem ser aplicadas ao ecoturismo. Essa aplicação tem o intuito de
compor o processo educativo relacionado ao aprendizado proporcionado pelas sensações e
experiências advindas do contato com a natureza que, supostamente, modificam os
comportamentos e consequentemente as atitudes dos indivíduos perante a natureza perfazendo
assim, o possível benefício de conservação da natureza das áreas visitadas.
3.4.1 Aprendizado seqüencial (AS)
As possíveis experiências na natureza, fizeram um naturalista, profundo conhecedor de
percepções na natureza e da educação ao ar livre, elaborar segundo Mendonça (2000, p. 135)
“[...] uma metodologia original para facilitar e aprofundar a interação que podemos ter com a
natureza”. Joseph Cornell difundiu seu trabalho e sua metodologia por meio da Fundação
72
Sharing Nature, com sede nos Estados Unidos e representada em vários países, inclusive no
Brasil, pelo Instituto Romã e por sua coordenadora Rita Mendonça.
Segundo Cornell (1997, p. 17) o aprendizado seqüencial é considerado uma maneira
pela qual a educação ambiental organiza suas atividades com o objetivo de proporcionar
mudanças de comportamentos, por meio da elucidação de valores. Possui como objetivo “[...]
proporcionar uma experiência genuinamente positiva com a natureza”.
Mendonça (2000) salienta que a forma pela qual se desenvolve a metodologia e suas
atividades representam uma reflexão e a construção de conhecimentos sobre as possibilidades
de interações humanas com a natureza, revelando que essas são inúmeras e que devem ser
aprimoradas.
Cornell (1997, p. 13) preocupa-se com a compreensão e o sentido que as pessoas
possuem em relação a conservação das áreas naturais e lembra que “[...] a sensibilidade em
relação à vida é o fruto mais precioso da educação”, desse modo, ressalta que “[...] à medida
que começamos a sentir uma comunhão com os seres vivos que nos rodeiam, nossas atitudes
tornam-se mais harmoniosas e fluem com naturalidade, e, por conseguinte, passamos a nos
preocupar com as necessidades e o bem-estar de todas as crianças”.
Porém, Mendonça (2000, p. 138) salienta que não há como possuir uma “[...]
consciência conservacionista da natureza se a relação afetiva com ela não estiver impregnada
na cultura de um povo”, desse modo, atenta-se para a questão de que “se o ecoturismo visa ser
o motivador da conservação da natureza e das culturas locais, ele não pode deixar de ser, entre
outras coisas, o facilitador desse diálogo”.
Por isso, as experiências diretas com a natureza possibilitam penetrar de maneira
completa no espírito do mundo natural e auxiliam na descoberta individual do profundo
sentimento de pertinência e compreensão. Assim como cita Cornell (1997, p. 38) “[...] as
experiências diretas são necessárias para desenvolver sentimentos de amor e preocupação pela
terra, caso contrário, as pessoas passarão a conhecê-la de modo superficial e teórico, sem
nunca serem tocadas profundamente”.
Assim, Cornell (1997) desenvolveu um conjunto de princípios denominado
‘Aprendizado Seqüencial’, que descreve como usar as atividades de conscientização na
natureza de modo gradativo e direcionado. O conjunto de princípios é composto de quatro
estágios: o despertar do entusiasmo; o concentrar a atenção; o dirigir a experiência; e o
compartilhar a inspiração. Essa denominação, aprendizado seqüencial, é justificada pelo fato
de que os estágios fluem de um para o outro, suave e naturalmente, fazendo com que o
indivíduo passe pelos diferentes estágios e alcance estruturas mentais proporcionadas pelas
73
experiências diretas e profundas com a natureza. O mesmo autor (Ibid., p. 17) ressalta ainda
que após “[...] uma sessão conduzida com sucesso, cada participante adquire uma nova,
agradável e sutil conscientização de sua unidade com a natureza e uma intensa empatia com a
vida”.
Nesse sentido, o Instituto Romã ([2005?]) esclarece que a metodologia “[...] consiste
na proposição de dinâmicas e jogos organizados em uma seqüência, conduzindo os
participantes a um estado de concentração da atenção cada vez maior. De forma sutil e
divertida, a técnica promove experiências profundas para os participantes e é uma eficaz
ferramenta de trabalho para o educador”.
Cornell (1997) explica que o estágio do entusiasmo é marcado pelo fluxo calmo e
intenso de interesse com grande dose de vitalidade; o estágio atenção é necessário para se
concentrar em determinada atividade; o estágio experiência é voltado a experimentar o
contato direto com a natureza; e por fim, o estágio inspiração é proporcionado pela
experiência que aguça a percepção. Mendonça (2000) completa que, para experienciar a
natureza, necessita-se ampliar as capacidades de percepção. Assim, o aprendizado seqüencial
possui “[...] o poder de ajudar as pessoas a eliminar as preocupações de modo que possam se
descontrair, se divertir e apreciar a natureza” (CORNELL, 1997, p. 25-26).
De forma a elucidar com maiores detalhes as qualidades e as vantagens
proporcionadas pelos estágios caracterizados acima, apresenta-se no anexo E o quadro do
aprendizado seqüencial desenvolvido por Cornell (1997, p. 46-47).
O aprendizado seqüencial possibilita às pessoas o aprendizado direto com a natureza, a
partir de experiências também diretas, propiciadas pelo desenvolvimento dos diferentes
estágios. Isto elucida o principal fator para efetiva conservação das áreas naturais: a
afetividade.
No Brasil o intuito de aplicar a afetividade e o aprendizado pelos sentidos em diversas
atividades tem possibilitado o desenvolvimento de experiências, que segundo Mendonça
(2000, p. 152), constituem-se em adaptações da metodologia aplicadas em atividades de
ecoturismo, justificadas pela “[...] observação de que a simples visita à natureza nem sempre é
suficiente para proporcionar ao visitante uma empatia com as outras formas de vida e uma
interação pessoal com elas”. A autora coloca ainda que
[...] a grande vantagem em se buscar promover uma visita mais consciente está no
conhecimento de seu potencial transformador dos indivíduos que, ao voltar
renovados para a casa possam desejar a busca de estruturar sua vida com maior
qualidade e responsabilidade (Ibid., p. 153).
74
As práticas do aprendizado seqüencial de que se tem notícias, segundo Mendonça
(2000; 2005b), são realizadas pelo Instituto Romã nos parques de São Paulo: o PETAR
(Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira) e o Parque Estadual da Cantareira, e consistem
em atividades lúdicas que vão desde uma simples contemplação da beleza natural até a prática
de exercícios físicos, na forma de esportes radicais (rafting, rappel, entre outros). A autora
(2005a) explica ainda que essas práticas consistem na aplicação de um roteiro de atividades,
antecipadamente planejadas, de acordo com o perfil do público e com o espaço físico
disponível, tem duração média de duas horas e seguem os estágios propostos por Cornell.
3.4.2 Interpretação ambiental (IA)
A interpretação ambiental é utilizada como uma maneira de se realizar as atividades de
educação ambiental nas experiências de ecoturismo. Lembrando, que no ecoturismo o
objetivo é proporcionar ao visitante uma compreensão dos recursos naturais do local visitado,
possibilitando comportamentos sociais conscientes.
A partir disso, pretende-se conceituar interpretação ambiental e posteriormente,
apresentar algumas formas de como é realizada. Interpretar, então, constitui-se como uma
forma de comunicação, por meio de mensagens e emoções, entre receptor e emissor, através
de um texto, uma fala etc..
Assim, segundo Murta e Goodey (2003, p. 13), interpretar é entendido como “[...] o
processo de acrescentar valor à experiência do visitante, por meio do fornecimento de
informações e representações que realcem a história e as características culturais e ambientais
de um lugar”.
Ao refletir a interpretação no campo ambiental, Ham (1992, p. 03, tradução nossa) a
coloca como uma “[...] tradução da linguagem técnica de uma ciência natural ou área
relacionada em términos e idéias que as pessoas em geral, que não são cientistas, possam
entender facilmente e implica em fazê-la de forma que seja entretida e interessante para eles”.
Tilden (1957 apud HAM, 1992, p. 03, tradução nossa) acrescenta que a interpretação
ambiental é também “[...] uma atividade educacional que objetiva revelar significados e
relações por meio do uso de objetos originais, através de experiências de primeira mão e
meios ilustrativos ao invés de simplesmente comunicar informações literais”.
Murta e Goodey (2002, p. 14) também ressaltam que “[...] mais do que informar,
interpretar é revelar significados, é provocar emoções, é estimular a curiosidade, é entreter e
75
inspirar novas atitudes no visitante, é proporcionar uma experiência inesquecível com
qualidade”.
Desse modo, verifica-se que o objetivo da interpretação ambiental é realizar a
compreensão da relação sociedade - natureza, possibilitando mudanças de atitudes para a
conservação ambiental e elevação da qualidade de vida local, consequentemente
desenvolvendo uma consciência ambientalista no participante (DELGADO, 2000;
WEARING; NEIL, 2001).
Contudo, o alcance da consciência ambientalista depende
também da obtenção dos benefícios educativos da interpretação, pois é no conhecimento que
está o caminho para as mudanças de atitudes e consequentemente, as mudanças
comportamentais, como ilustrado a seguir no quadro 4.
Benefício educativo
Oportunidade de aprendizado
Oportunidade de autodescoberta
Explicação do benefício
A interpretação gera experiências de aprendizado para os
visitantes, aumentando seu conhecimento e entendimento do
meio ambiente.
A interpretação gera experiências para os visitantes obterem
um entendimento mais claro do seu papel no meio ambiente, e
isso ajuda no processo de autodescoberta e auto-realização.
Quadro 4: Os benefícios educativos da interpretação ambiental
Fonte: Wearing; Neil (2001, p. 106)
A característica educacional da interpretação é dada pelo modo como a mesma está
organizada e seu processo metodológico é explicado por Ham (1992, p. 07, tradução nossa)
quando cita que a interpretação se diferencia de outros modos de transmissão de informações
por ser amena, pertinente, organizada e com um tema. O mesmo autor explica que a
interpretação é amena porque entretêm, mesmo sem ser o seu objetivo, mas com isso mantém
a atenção do participante, sendo pertinente por revelar significados pessoais, e desse modo,
ser capaz de estabelecer relações à alguma experiência particular. É organizada por ser fácil
de se seguir, não sendo necessário grandes esforços do público participante. E é temática por
possuir um tema principal nas mensagens transmitidas.
Esse esforço de sistematização e de organização do processo de interpretação
ambiental torna-se pertinente quando vislumbra-se, como objetivo maior, os benefícios
proporcionados à conservação de determinado local, como mostra o quadro 5, em que os
benefícios advindos da interpretação servem como ferramentas ao processo de administração
de áreas naturais e também como estímulo ao adequado comportamento, que ocasiona os
benefícios específicos a conservação ambiental.
76
Benefícios da conservação
Explicação dos benefícios
Estímulo para consciência ambiental e uma ética A
interpretação
estimula
conceitos
e
de conservação mais ampla.
responsabilidade pessoal na utilização dos
recursos, contribuindo para a melhoria da
qualidade de vida.
Aumento da consciência da regulamentação e dos Os programas de interpretação, como campanhas
códigos idealizados para minimizar os impactos.
de mínimo impacto, podem apresentar condições
sutis para a mudança do comportamento do
visitante, sem confrontação.
Estímulo
à
mudança
comportamental, A interpretação apresenta idéias que as pessoas
minimizando os impactos pessoais sobre o meio podem adotar.
ambiente.
Apoio às tarefas de proteção.
Apoio às organizações administrativas das áreas
de proteção.
A interpretação apresenta o valor das áreas de A interpretação apresenta os desafios à
proteção a partir de uma variedade de administração de modo imparcial, expondo as
perspectivas.
restrições
que
enfrentam
as
agências
administrativas responsáveis pelas áreas de
proteção.
Quadro 5: Os benefícios da interpretação ambiental para a conservação ambiental das
unidades de conservação
Fonte: Wearing; Neil (2001, p. 107)
Contudo, o que foi visto até aqui constitui o corpo metodológico da modalidade
interpretação ambiental aplicada a educação ambiental. Vasconcelos (2003) com o intuito de
apresentar orientações para o desenvolvimento de um efetivo programa de educação e
interpretação ambiental para o ecoturismo, cita que é necessário atentar-se a três etapas
distintas: o planejamento, a implementação e a avaliação. Nesse caso, o planejamento é
identificado como o processo que definirá os objetivos e as opções alternativas da atividade
interpretativa quanto à sua justificativa e pertinência, ao seu público, à localidade, à maneira
como será desenvolvida a atividade e aos valores econômicos da mesma. Após a conclusão do
planejamento deve-se colocar a atividade em prática e posteriormente avaliar seus aspectos e
suas desenvolturas.
Em relação ao ecoturismo a mesma autora evidencia que as trilhas interpretativas,
guiadas ou autoguiadas, são comumente atividades realizadas em áreas naturais,
principalmente nos Parques Nacionais, e que tem-se utilizado diferentes estratégias para
transformar as caminhadas nas trilhas em oportunidades de educação, com o intuito de
desenvolver novas percepções nos visitantes, proporcionando-os explicações sobre as interrelações sociais e naturais.
Vasconcelos (2003, p. 277) esclarece que as trilhas guiadas necessitam de um
intérprete (guia ou monitor) para levar os visitantes “[...] a observar, sentir, experimentar,
77
questionar e descobrir os fatos relacionados ao tema estabelecido”. Já as trilhas autoguiadas
“são trilhas com pontos de parada marcados onde o visitante, auxiliado por placas, painéis ou
por folhetos contendo informações em cada ponto, explora o percurso sem o
acompanhamento de um guia".
Portanto, cabe ressaltar que a interpretação ambiental proporciona relações das pessoas
com o ambiente natural, traduzindo suas características e relacionando lazer com educação.
Porém, não há maneiras corretas ou incorretas de realizá-la, depende-se dos objetivos
propostos, das condições disponíveis e em alguns casos do talento de um guia. O principal
objetivo é proporcionar estímulos e entendimentos que garantam afinidades para com o
ambiente visitado, resultando em benefícios a todos os envolvidos.
3.4.3 Educação experiencial (EE)
Um dos primeiros programas de educação ao ar livre no Estados Unidos surgiu
segundo Barros (2000), quando o educador alemão chamado Kurt Hahn em 1941, fundou a
primeira escola Outward Bound, com o intuito de treinar jovens marinheiros que iriam à
guerra para que percebessem e acreditassem em seu potencial e sua força, pois estavam
morrendo em maior quantidade do que os marinheiros mais velhos. A autora descreve que
Hahn escolheu o nome Outward Bound por ser um jargão náutico que refere-se ao momento
em que o navio deixa a segurança do porto e lança-se aos perigos e aventuras advindas do mar
aberto.
Atualmente, a Outward Bound é uma organização internacional sem fins lucrativos
que atua em 32 países, estabelecendo padrões para a educação ao ar livre. Para tanto, utilizase da metodologia de educação experiencial que consiste no uso dos ambientes naturais,
enquanto ambiente pedagógico e na interação do indivíduo consigo, com seu grupo e com o
ambiente (BARROS, 2000).
Segundo a Outward Bound Brasil – OBB (2005) a metodologia experiencial é
utilizada como principal ferramenta de desenvolvimento humano por visar essencialmente a
promoção de uma experiência a um indivíduo e posteriormente o auxílio à reflexão desta
experiência, já que a condução ao aprendizado depende não só da experiência e de seu desafio
intrínseco, mas também da reflexão transformadora. Assim, Barros (2000, p. 13) salienta que
“a aprendizagem se dá pela vivência de determinadas situações e não pela assimilação de
conceitos”.
78
Segundo a Associação de Educação Experiencial – AEE (2006, tradução nossa) a
educação experiencial é definida como “[...] uma filosofia e metodologia na qual os
educandos estão propositadamente engajados com o processo de aprendizado da experiência
direta e com foco na reflexão para incrementar o conhecimento, desenvolvendo habilidades e
elucidar valores”. Para a OBB (2005) a aplicação dessa metodologia depende da existência de
diferentes elementos e de sua aplicação sistematizada, mesmo que não de forma linear, como
pode ser visualizado na figura 15.
Figura 15 – Estrutura da educação experiencial
Fonte: OBB (2005)
Desse modo, visualiza-se o ciclo de aprendizado experiencial que pode se explicado
por Luckner & Nadler (1992 apud BARROS, 2000, p. 99) quando citam que no estágio
experiência o indivíduo participa de atividades planejadas com a intenção de atingir um certo
aprendizado. No estágio reflexão, salienta-se que a experiência é insuficiente para a
concretização do aprendizado, sendo necessário refletir sobre a experiência vivida e as do
passado. Os autores colocam ainda que “é o processo da reflexão que torna a experiência em
aprendizado experiencial”, sendo necessário refletir sobre o que “[...] viram, sentiram e
pensaram [...]” durante a atividade, fazendo-o individual ou coletivamente.
Em continuação, evidenciaram o estágio denominado estrutura, composto pela busca
de padrões, “[...] feita ao explorar emoções, pensamentos, comportamentos e observações que
ocorram com alguma regularidade”. A partir da compreensão desses padrões em outras
situações, pode-se generalizá-lo ou aplicá-lo às mesmas. E o estágio desafio compreende a
aplicação do aprendido ao mundo externo.
Além desses elementos, a OBB (2005) ressalta dois outros também importantes, que
são o suporte e o retorno (feedback), sendo que pressupõe-se a existência do primeiro em
todas as experiências, já que este permite que do estímulo à confiança o indivíduo realize
79
constantes tentativas de superação e experimentação e que em contrapartida, o retorno de
informações do instrutor para o participante, sobre o que este último vem fazendo, funciona
como uma ferramenta de equilíbrio da responsabilidade entre ambos, esta entendida nesse
contexto, como a autonomia na tomada de decisões, a capacidade de resolução de situações
inesperadas e novas, enfim a habilidade de resposta à estímulos.
De acordo com Barros (2000, p. 101), esse envolvimento o indivíduo com a natureza
por meio da educação experiencial pode ter a duração de poucas horas ou mesmo durar
meses. Isso faz com que as experiências diretas sejam capazes de “[...] promover uma maior
sentimento de empatia e níveis maiores de interesse por problemas relacionados aos recursos
naturais”. Em complemento Ewert (1996 apud BARROS, 2000, p. 101) evidencia que a “[...]
educação experiencial pode ser um poderoso instrumento na promoção de comportamentos
pró-ambientais em três estágios diferentes: construção de consciência ambiental; formação de
atitude; e capacitação”.
Até então, não se tem notícias da aplicação dessa metodologia em atividades de
ecoturismo, mas segundo Barros (2000) outras atividades advindas do turismo de aventura ou
da contemplação da natureza tem se utilizado de áreas naturais por meio do uso dessa
metodologia.
3.4.4 Educação no processo de gestão ambiental (EPGA)
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)
por meio da Coordenação Geral de Educação Ambiental ao longo de dez anos construiu uma
proposta de educação ambiental denominada educação no processo de gestão ambiental,
sendo materializada em 2002 no documento ‘Como o Ibama exerce a educação ambiental’ e
que no ano de 2006 teve a publicação de sua 2º edição 16 . Na visão de Quintas (2006, p. 08)
essa proposta toma “[...] o espaço de gestão como o lugar de ensino-aprendizagem para
propiciar condições à participação individual e coletiva, nos processos decisórios sobre o
acesso e uso dos recursos ambientais no país”. Em complemento, tratam-se de
[...] ações educativas realizadas com grupos sociais relacionados com unidades de
conservação, ordenamento de recursos florestais e pesqueiros, licenciamento
ambiental, prevenção de desmatamentos e incêndios florestais, proteção e manejo de
fauna e outras atividades de gestão ambiental de competência do Ibama.
16
Documentos esses que forneceram a base para a confecção do texto dessa modalidade.
80
Com isso, o Ibama (2006b, p. 07) acredita fazer valer o preceito constitucional que
garante um meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito da sociedade, bem
como, atribui a responsabilidade de conservação e preservação dos recursos naturais não
apenas ao poder público, mas também, à coletividade entendida, nesse caso, não como um
todo homogêneo, mas como “[...] uma multiplicidade de partes com visões diferenciadas
sobre a destinação dos recursos ambientais da sociedade”, e isso com que o uso e apropriação
dos recursos naturais não ocorra da maneira mais simples, pois há diferentes interesses e
conflitos entre os grupos da coletividade. Para tanto, o Ibama (2006b, p. 16) entende a gestão
ambiental como
[...] um processo de mediação de interesses e conflitos entre os atores sociais que
agem sobre os meios físico-natural e construído. Este processo de mediação define e
redefine, continuamente, o modo como os diferentes atores sociais, por meio de suas
práticas, alteram a qualidade do meio ambiente [...].
Dessa forma, o Ibama (2006b, p. 11) quando pensa em educação no processo de gestão
ambiental deseja garantir o “[...] controle social na elaboração e execução de políticas
públicas, por meio da participação permanente dos cidadãos, principalmente, de forma
coletiva, na gestão do uso dos recursos ambientais e nas decisões que afetam à qualidade do
meio ambiente”.
Para tanto, são realizadas ações educativas com diferentes segmentos sociais,
principalmente, a chamada comunidade local, afetada por atividades relacionadas a gestão
ambiental do Ibama. Assim, organizam-se espaços, caracterizados como pedagógicos, onde
possa-se produzir e adquirir conhecimentos e habilidades, bem como, desenvolver as atitudes,
sendo que o Ibama (2006b, p. 11) entende que “todo processo educativo é antes de tudo um
processo de intervenção na realidade vivida, em que o educador e educando, numa prática
dialógica, constroem o conhecimento sobre ela, objetivando a sua transformação”.
Nesse sentido, tem-se os atores da educação, os educandos que são membros da
comunidade local e os educadores, que são membros do Ibama capacitados com
conhecimentos básicos sobre a gestão ambiental pública e capazes de planejar e coordenar os
processos educativos desenvolvidos com os educandos. Nesses espaços, parte-se de uma
análise dialogada da realidade socioambiental vivida por essas comunidades, de acordo com
três possíveis situações: problema, conflito e potencialidade ambiental.
81
Salienta-se que o Ibama (2006b, p. 11-12) se utiliza dos conceitos de Carvalho &
Scotto (1995) como base para a compreensão das situações supracitadas, caracterizando-as
como:
•
Problema ambiental – “aquela situação onde há risco e/ou dano social/ambiental,
mas não há nenhum tipo de reação por parte dos atingidos ou de outros atores da
sociedade civil, face ao problema”;
•
Conflito ambiental – “aquela situação onde há confronto de interesses
representados em torno da utilização e/ou gestão do meio ambiente”;
•
Potencialidade ambiental – “um conjunto de atributos de um bioma/ecossistema
(recursos pesqueiros, recursos florestais, manguezais, praias, rios, paisagens, áreas
com potencial ecoturístico etc.), passíveis de uso sustentável por grupos sociais”.
A partir dessa compreensão, tem-se os diálogos pautados pelos eixos temáticos do
qual o Ibama (2006b, p. 12) exerce sua competência, que são “ecoturismo; estudo, proteção e
manejo de cavernas; gestão de unidades de conservação federais; licenciamento ambiental;
manejo de flora; manejo de fauna; gestão de recursos pesqueiros; políticas públicas;
prevenção de desmatamento e incêndios florestais; recuperação de áreas degradadas; e
recursos hídricos federais”.
O Ibama (Ibid.) parte da premissa de que as ações educativas devam proporcionar
autonomia, e promove aos educandos, mediante auxílio do educador e de acordo com os
diálogos estabelecidos acerca das situações e dos eixos temáticos, a construção coletiva de
uma agenda de prioridades que será transformada, pelo próprio grupo, em projetos com
objetivos, metas e resultados, planejados a curto, médio e longo prazos.
Desse modo, observa-se que a modalidade de educação ambiental do Ibama está
voltada à participação comunitária, sendo planejada e desenvolvida por ela mesmo, a partir
dos problemas ambientais reais que a cercam, afinal a comunidade conhece efetivamente a
sua realidade. Acredita-se assim, que esse processo de envolvimento proporciona ao poder
público e, ao mesmo tempo, à população a possibilidade de uma intervenção com o intuito de
transformar o ambiente em um espaço de qualidade e convidativo ao convívio humano.
82
4 O PÓLO DE ECOTURISMO DA ILHA DE SANTA CATARINA
O Projeto Pólos de Desenvolvimento de Ecoturismo no Brasil desenvolvido em 1997
pela Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) em parceria com o IEB (Instituto de
Ecoturismo Brasileiro), teve o intuito de identificar as localidades em território nacional que
já desenvolviam práticas consideradas ecoturísticas ou mesmo àquelas com potenciais
naturais para o desenvolvimento de tais práticas e de inventariar as características, as
potencialidades e a infra-estrutura necessária para uma efetiva implantação do ecoturismo.
(MAGALHÃES, 2001a). Como resultado desse processo, este Projeto identificou 96
possíveis pólos distribuídos pelo território nacional nos 26 estados brasileiros (Ibid.).
No entanto, relembra-se que este Projeto considera como pólo de ecoturismo, a região
formada por um ou mais municípios, que já desenvolve ou que tem condições naturais, além
de infra-estrutura adequada, para desenvolver atividades de ecoturismo. Nesse sentido, este
Projeto pondera que
não basta que uma área apresente um grande potencial representado por seus
atrativos naturais e culturais para que seja considerada um pólo. Sem dúvida, a
existência desses atrativos é fundamental, mas é preciso que eles estejam atendidos
por facilidades tais como vias de acesso, serviços de hospedagem, alimentação e
informação. Além da disponibilidade de infra-estrutura, serviços e roteiros
adequados, é fundamental a vontade política dos dirigentes em buscar o
desenvolvimento local através da gestão dos empreendimentos ecoturísticos
(MAGALHÃES, 2001b, p. 69).
Segundo o Projeto, no Estado de Santa Catarina, localizado na Região Sul do Brasil,
foram identificados três pólos de ecoturismo: o SC 1 – Alto Vale do Itajaí; o SC 2 – Ilha de
Santa Catarina; e o SC 3 – Planalto Serrano, conforme mostra o mapa 1.
O Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC), caracterizado como objeto
de estudo dessa pesquisa, segundo o Projeto Pólos compreende, principalmente o município
de Florianópolis e seu entorno (MAGALHÃES, 2001a). Essa região tem sido indicada pelos
dados da Embratur (2005), como uma das cidades mais visitadas do país, sendo que em
relação às cidades do sul do país, está atrás apenas das cidades de Foz do Iguaçu e de Porto
Alegre. Segundo as pesquisas de demanda turística da Santur (2005) o principal motivo
dessas visitas está relacionado as viagens com fins turísticos e, principalmente, a busca por
atrativos naturais. Isso explica, em partes, o por que a Ilha de Santa Catarina e seu entorno
83
foram identificados pelo Projeto Pólos de Desenvolvimento de Ecoturismo no Brasil como
um dos pólos e, também, como um local propício ao desenvolvimento do ecoturismo.
Mapa 1: Localização dos Pólos de Ecoturismo do Estado de Santa Catarina
Fontes: IBGE (2005); Magalhães (2001a)
Nesse sentido, o Projeto Pólos informa que os atrativos identificados no levantamento
das características naturais desse pólo foram as praias, as ilhas, as montanhas, as lagoas etc.,
além de, um diversificado ecossistema, ainda conservado em função das diversas unidades de
conservação instituídas no município de Florianópolis e seu entorno (MAGALHÃES, 2001a).
Este Projeto esclarece ainda que a configuração do PEISC é demarcado e delimitado
pelo alinhamento das unidades de conservação existentes em Florianópolis e em seu entorno,
e limita-se ao norte pela Reserva Biológica do Arvoredo, ao sul pelo Parque Estadual da Serra
do Tabuleiro e a noroeste pela Área de Proteção Ambiental de Anhatomirim (Ibid.), conforme
mostra o mapa 2.
No entanto, diferentemente da ponderação feita por Magalhães (2001a) quanto ao
município envolvido nesse pólo ser somente Florianópolis, nota-se que o pólo possui sua
delimitação demarcada pelas unidades de conservação localizadas fora da Ilha de Santa
Catarina (na porção continental) e, com isso, acredita-se que o PEISC envolva também os
outros municípios que abrigam e a qual pertencem as unidades de conservação supracitadas,
conforme informa o anexo J.
84
Legendas:
85
Mapa 2 – Unidades de conservação compreendidas pelo Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa
Catarina
Fonte: Fatma (2004a)
Para garantir a preservação da vegetação dos ecossistemas foram criadas nos decênios
de 1960 e 1970 as primeiras unidades de conservação da Ilha de Santa Catarina (CECCA,
1997). Em um contexto geral, as unidades de conservação brasileiras relacionam-se ao
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que tem por finalidade contribuir
para a conservação da natureza e da biodiversidade, proporcionando o uso sustentável dos
recursos naturais.
O Ibama define as unidades de conservação por meio do SNUC como
porções do território nacional, incluindo as águas territoriais, com características
naturais de relevante valor, de domínio público ou propriedade privada, legalmente
instituídas pelo poder público, com objetivos e limites definidos, e sob regimes
especiais de administração, às quais aplicam-se garantias adequadas de proteção
(BRASIL, 2000).
86
O SNUC apresenta ainda como um de seus objetivos “favorecer condições e promover
a educação ambiental e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o
turismo ecológico” (BRASIL, 2000). Com isso, identifica-se a possibilidade da realização de
atividades turísticas em meio a natureza conduzidas por ações educativas, como forma de
garantir à sociedade o contato com a natureza, a recreação e o aspecto educativo, bem como,
possibilidades de conservação da natureza, tanto em função das taxas pagas pela visitação
quanto pelo pressuposto desenvolvimento de ações educativas.
Diante das relações sobre os intuitos e as possibilidades dessa visitação, cabe salientar
que essas ações tem a intenção de minimizar os possíveis impactos negativos causados pela
atividade ecoturística, conforme pontua Serrano (2000b).
Além disso, as áreas naturais protegidas são divididas em dois grupos básicos, as
protegidas em função de suas características naturais sem dimensões e limites definidos e as
áreas protegidas, também em função de suas significativas características naturais com
definição de suas dimensões e limites ou também conhecidas como unidades de conservação
(MAGALHÃES, 2001b).
A partir disso, o SNUC subdivide as áreas naturais protegidas com dimensões e limites
definidos em unidades de proteção integral e unidades de uso sustentável. As primeiras têm o
intuito de preservar a natureza admitindo-se somente o uso indireto dos recursos naturais e
sendo compostas pelas categorias de unidades: Estação Ecológica, Reserva Biológica, Parque
Nacional, Monumento Natural e Refúgio da Vida Silvestre. Já as demais, têm o intuito de
relacionar sustentavelmente a conservação da natureza e o uso dos recursos naturais, sendo
composta pelas categorias de unidades de conservação: Área de Proteção Ambiental, Floresta
Nacional, Reserva Extrativista, Reserva de Fauna, Reserva de Desenvolvimento Sustentável e
Reserva Particular do Patrimônio Natural (BRASIL, 2000) 17 .
A partir dos intuitos de conservação da natureza proporcionados pelas categorias de
unidades de conservação, esclarece-se que a formação vegetal que compreende o PEISC tem
o predomínio do bioma Mata Atlântica, que originalmente localizava-se, principalmente, nas
faixas litorâneas, estendendo-se do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul,
compreendendo 17 estados e sendo caracterizado pelos ecossistemas e formações florestais
como a Floresta Ombrófila Densa, a Mista e a Aberta, as Florestas Estacionais Semideciduais
17
Para uma maior compreensão acerca dos detalhes inerentes às características, objetivos, domínios, atividades
permitidas e proibições exercidas em cada categoria, sugere-se uma análise das tabelas comparativas elaboradas
por Magalhães (2001b) e disponíveis nos anexos G, H, e I.
87
e Deciduais, os manguezais, as restingas e os campos de altitude (IBAMA, 2006a;
MEDEIROS, 2002; SCHÄFFER, PROCHNOW, 2002), conforme apresentado na figura 16.
Figura 16 – Mata Atlântica no Brasil
Fonte: SOS MATA ATLÂNTICA (2006)
Atualmente, estudos revelam restar aproximadamente 7% da cobertura florestal do
bioma Mata Atlântica original, fato esse promovido por um processo histórico iniciado desde
o descobrimento do Brasil, passando pelos ciclos econômicos como da cana-de-açúcar, do
ouro, da produção de carvão vegetal, da extração de madeira, do café, entre outros, além do
contínuo
e
degradador
processo
de
urbanização
(IBAMA,
2006a;
SCHÄFFER,
PROCHNOW, 2002; SOS MATA ATLÂNTICA, 2006).
O Estado de Santa Catarina insere-se totalmente no domínio do bioma Mata Atlântica
por possuir 85% de seu território coberto pelo bioma, sendo o terceiro Estado do país em
número de hectares relacionados ao bioma, mas estudos salientam restar em média 17% de
florestas relacionadas à Mata Atlântica nesse território (MEDEIROS, 2002; SCHÄFFER,
PROCHNOW, 2002).
88
Já na Ilha de Santa Catarina, Caruso (1990) esclarece que, originalmente, esse
território possuía em média de 90% de sua área coberta por vegetação, sendo 74% de Mata
Atlântica, 9% de Manguezais, 7% de vegetação de praia, dunas e restingas e o restante
ocupado por dunas sem vegetação e pelas lagoas, conforme apresentam e comparam os mapas
4 e 5.
Mapa 4 – Cidade de Florianópolis e sua vegetação original
Fonte: SOS MATA ATLANTICA (2006)
Mapa 5 – Cidade de Florianópolis e sua vegetação atual
Fonte: SOS MATA ATLANTICA (2006)
89
Legenda dos mapas 4 e 5 (SOS MATA ATLANTICA, 2006):
Destacam-se no PEISC e, concomitantemente, na Ilha as formações vegetais de Mata
Atlântica relacionadas a Vegetação Litorânea, a Floresta Ombrófila Densa e Floresta
Ombrófila Mista (FATMA, 2001), conforme ilustra o mapa 3.
Mapa 3 – Mapa Fitogeográfico
Fonte: FATMA (2001)
90
Legenda do mapa 3 (FATMA, 2001):
Segundo Caruso (1990) a vegetação litorânea ou também denominada de formações
vegetais edáficas, são determinadas pelas condições do solo, sendo subdividida em
subformações, como o mangue, a vegetação de praia, duna e restinga, e a Floresta de Planícies
Quaternárias 18 .
A formação vegetal relacionada a Floresta Ombrófila Densa é aquela que é fechada e
influenciada pelas chuvas, onde as copas das árvores encostam umas nas outras
(SEVEGNANI, 2002). Esta formação está subdividida em Floresta Tropical do Litoral e
Encosta Centro-Norte e Floresta Tropical do Litoral e Encosta Centro-Sul (FATMA, 2001),
que são caracterizadas por Caruso (1990) como formações vegetais climáticas em função do
clima ser o elemento dominante em suas caracterizações. Ainda segundo esta autora (Ibid.)
essas florestas se caracterizam pela elevada densidade e heterogeneidade vegetal.
Já a formação vegetal relacionada a Floresta Ombrófila Mista é aquela também
influenciada pelas chuvas, porém com características de espécies latifoliadas (com largas
folhas) e associadas com a Araucária Angustifolia (pinheiro do Paraná) e com a Poducarpus
Lambertii (pinheiro bravo) (SEVEGNANI, 2002). Essa formação se subdivide na Floresta de
Faxinal na Serra do Tabuleiro e a Floresta de Faxinal ao longo das ramificações da Serra
Geral e outras serras isoladas (FATMA, 2001). Essas formações vegetais destacam-se pelas
formações dos faxinais, caracterizados por arbustos mais baixos e esparsos (SEVEGNANI,
2002).
18
CECA (1996) esclarece que as Planícies Quaternárias são áreas arenosas com vegetação que varia entre a
restinga e a Floresta Ombrófila Densa, havendo uma maior semelhança com esta última.
91
Diante das características naturais que compõem o PEISC, Caruso (1990, p. 144)
salienta que no caso da Ilha de Santa Catarina, “[...] mais de 90% da sua vegetação pode ser
considerada de preservação permanente”, sendo portanto, de acordo com o artigo 2º do
Código Florestal, proibido toda e qualquer forma de exploração de seus recursos naturais.
Porém, como evidencia Caruso (1990) a Ilha de Santa Catarina foi constantemente
submetida ao processo de desmatamento, que se iniciou durante o século XVIII devido a
chegada dos colonos açorianos e madeirenses e que se estende até os dias atuais.
Em relação ao processo de desmatamento e aos usos dos recursos naturais da ilha,
Hauff (1997, p. 56) já evidenciava que
as condições naturais da Ilha de Santa Catarina geralmente mostram um ambiente
sensível a alterações, determinando grandes limitações de uso e exigindo padrões de
ocupação que mantenham a qualidade do meio. Atualmente, a tendência de usos é
essencialmente urbana, predominando o crescimento desordenado que não respeita
as normas de zoneamento, as necessidades de infra-estrutura básica e,
principalmente, os condicionantes naturais.
Nesse sentido, Pereira (2003) salienta que o processo de turistificação da Ilha de Santa
Catarina e a busca por seus atributos naturais, principalmente, de sua orla marítima, iniciou-se
em função de uma demanda turística sazonal, proveniente do fluxo migratório de pessoas nos
períodos de verão para o veraneio, que também eram utilizados como segundas residências, o
qual caracterizou um intenso processo de urbanização e, consequentemente, a geração de
grandes impactos sócio-ambientais.
Desde os anos 70 tem-se intensificado os fluxos turísticos à Ilha de Santa Catarina
(ALEXANDRE, 2003; CECA, 1996; PEREIRA, 2003), mas somente a partir dos anos 90 há
uma explosão desse fluxo (PEREIRA, 2003). CECA (1996) refere-se ao turismo na ilha como
um fenômeno não acidental, pois é também a partir da década de 70 que a ilha e,
particularmente, a cidade de Florianópolis, começam a despertar para o turismo e a planejar o
desenvolvimento da cidade por meio do turismo.
Esse processo de planejamento articulado as fatores como, por exemplo, a explosão do
turismo nacional e o fomento público e privado ao setor na melhoria da infra-estrutura de
apoio e turística, fazem eclodir na década de 90 um crescente e intensificado fluxo turístico a
ilha (CECA, 1996; PEREIRA, 2003).
Desse modo, o desenvolvimento turístico na ilha acelerou a expansão urbana e gerou
impactos no contexto sócio-ambiental, em função disso, Pereira (2003, p.126) evidencia no
turismo a necessidade de haver um “[...] planejamento de alternativas para o setor,
92
contemplando as possibilidades de uma ação conjunta entre as iniciativas privadas e pública e
envolvendo nos debates as comunidades locais”.
Para tanto, o Projeto Pólos, apesar de segmentar a atuação do planejamento e do
desenvolvimento turístico ao ecoturismo, tenta ser um articulador e, ao mesmo tempo, um
promotor de iniciativas que visem a organização do turismo na Ilha de Santa Catarina e em
seu entorno.
93
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
5.1 O método e as técnicas da pesquisa
O fenômeno social denominado turismo tem sido foco de estudo de inúmeras áreas do
conhecimento, isto porque tem assumido relevância nas esferas econômica, social, cultural,
ambiental, política entre outras possíveis, e também, por na visão de Dencker (2001) não
constituir uma ciência com um campo de princípios devidamente organizado e definido,
passando assim, a ser compreendido como uma sub-área com conhecimento que utiliza
métodos e conceitos advindos de outras consolidadas ciências sociais. Por isso, para
compreender o processo de desenvolvimento do fenômeno turístico, foi necessário analisá-lo
diante das complexas inter-relações ocorridas entre os sujeitos sociais, os setores econômicos
e suas implicações ao meio ambiente, pois como evidencia Beni (2003) o turismo possui um
campo de estudo abrangente, complexo e pluricausal.
Desse modo, para a realização de estudos sobre as diversas áreas do conhecimento são
utilizadas metodologias, compostas em síntese de “[...] procedimentos e regras utilizadas por
determinado método” capazes de garantir a relevância científica da pesquisa, sendo esta
compreendida como a maneira concreta pela qual se realiza a busca de determinado
conhecimento (RICHARDSON, 1999, p. 22). A busca desse conhecimento ocorre de forma
sistemática, mas a sua construção necessita da reflexão proporcionada por meio do uso de
métodos e técnicas (DENCKER, 2001).
Sendo assim, a presente pesquisa, que se insere na área do conhecimento das Ciências
Sociais Aplicadas, a qual compreende o estudo do turismo, pressupõe a interação com outras
áreas como meio ambiente, educação e sociedade e tem por objetivo geral analisar as relações
existentes entre o ecoturismo e a educação ambiental no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa
Catarina.
No intuito de atingir o objetivo geral proposto e para que se garanta a cientificidade e
a confiabilidade das informações analisadas, utilizou-se de um método científico,
compreendido por Richardson (1999, p. 22; 80) como o “[...] caminho ou a maneira para
chegar a determinado fim ou objetivo [...]”, sendo que o caminho a ser percorrido nessa
pesquisa será pautado pelo uso do método qualitativo, o qual procura
94
[...] descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de
certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos unidos por grupos
sociais, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e possibilitar, em
maior nível de profundidade, o entendimento das particularidades do
comportamento dos indivíduos.
Este autor acrescenta ainda que o método qualitativo caracteriza-se como uma “[...]
tentativa de uma compreensão detalhada dos significados e características situacionais
apresentadas pelos entrevistados, em lugar da produção e medidas quantitativas de
características ou comportamentos” (Ibid., p. 90).
Nesse sentido, Marconi e Lakatos (2004, p. 269) salientam que a principal diferença
entre os métodos qualitativo e quantitativo está na forma de coleta e análise dos dados, pois o
método qualitativo está preocupado “[...] em analisar e interpretar aspectos mais profundos,
descrevendo a complexidade do comportamento humano. Fornece análise mais detalhada
sobre as investigações, hábitos, atitudes, tendências de comportamento etc.”.
A escolha e a utilização do método de pesquisa qualitativo justificam-se na tentativa
de compreender o processo de desenvolvimento do fenômeno turístico, visto por Dencker
(2001, p. 18) como sendo “[...] um trabalho de natureza multi ou interdisciplinar [...]” e, para
tanto, torna-se necessário analisá-lo pautado pela abordagem sistêmica que prevê a superação
das limitações de um pensamento fragmentado, pois segundo Beni (2003), essa abordagem
realiza a interação de um conjunto de partes com o intuito de atingir um determinado fim, ou
seja, a partir de um conjunto de procedimentos e de princípios tem-se a intenção de analisar e
descrever o funcionamento complexo de um todo.
Então, o ecoturismo, enquanto tema central dessa pesquisa é compreendido como um
segmento do turismo que deve ser analisado levando-se em consideração os critérios préestabelecidos para seu desenvolvimento, no qual inclui-se a educação ambiental, assim como,
os critérios que determinam a sua sustentabilidade, com enfoque nos critérios ambientais,
conforme os evidenciados por Sachs (2000), que foram mencionados anteriormente.
Para que se possa analisar esse complexo e multivariado contexto, além do método
qualitativo, utilizou-se as técnicas de pesquisa bibliográfica, documental e de entrevista
estruturada para a coleta de dados (DENCKER, 2001). Desse modo, teve-se a possibilidade
de verificar como o ecoturismo é desenvolvido, sob a ótica de seu componente educativo, e
como essa atividade pode gerar benefícios à conservação da natureza, assim como, teve-se a
possibilidade de identificar as modalidades de educação ambiental que, possivelmente, são
aplicadas ao ecoturismo.
95
Conforme descrito anteriormente, tem-se aqui a pretensão de evidenciar os
procedimentos metodológicos adotados nessa pesquisa, assim como, classificar as etapas da
pesquisa descrevendo-se os caminhos metodológicos percorridos para o alcance de cada um
dos objetivos propostos. A visualização e maior compreensão desse processo pode ser
auxiliada pelo fluxograma, conforme mostra a figura 17.
A pesquisa está dividida em duas partes distintas, mas não dissociadas, no que tange
às reflexões proporcionadas e os resultados alcançados, sendo que a etapa I representa a parte
teórica da pesquisa, enquanto a etapa II, representa a parte empírica. Na parte teórica consta o
objetivo específico 1, que era verificar as relações entre o ecoturismo e a educação ambiental
com vistas à conservação da natureza, e o objetivo específico 2., que era identificar as
modalidades de educação ambiental aplicadas no ecoturismo. Essa parte é caracterizada como
teórica, pois utilizou-se das técnicas de pesquisa bibliográfica e documental, para coleta de
dados.
Para a análise dos dados bibliográficos e documentais acerca das temáticas de
ecoturismo, educação ambiental e suas possíveis interfaces, recorreu-se à análise documental,
que é descrita por Richardson (1999, p. 228; p. 230) “[...] como a observação que tem como
objeto [...] as manifestações que registram [os] fenômenos e as idéias elaboradas a partir
deles”. Além disso, a análise documental “[...] consiste em uma série de operações que visam
estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e
econômicas com as quais podem estar relacionados”.
Pretendeu-se com isso, confrontar a análise e a interpretação das informações advindas
das referências bibliográficas e documentais, com o intuito de produzir um referencial teórico
acerca dessas temáticas que comportasse um arcabouço teórico-metodológico para o
desenvolvimento e, posterior, análise da parte empírica da pesquisa. Cabe salientar que apesar
de não se tratar de uma pesquisa quantitativa, em nenhum dos processos (teórico ou empírico)
foram descartados dados e/ou informações oriundos dessa abordagem de pesquisa, pois
algumas destas poderiam ser imprescindíveis para a análise qualitativa.
Em continuidade, a parte empírica da pesquisa é representada pelo objetivo específico
3, que era levantar junto aos agentes e operadores de viagem do segmento de turismo na
natureza do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC) os destinos de ecoturismo
que desenvolviam a educação ambiental, e pelo objetivo específico 4, que era reconhecer,
junto aos gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do Pólo de Ecoturismo da
Ilha de Santa Catarina (PEISC), a importância da educação ambiental no ecoturismo para a
conservação da natureza desses locais.
96
Figura 17 – Fluxograma da pesquisa
Fonte: elaborado pelo autor
97
No intuito de atingir os objetivos propostos nessa etapa, utilizou-se a técnica de
entrevista para a coleta de dados, pois Richardson (1999, p. 207), afirma que essa técnica “[...]
permite o desenvolvimento de uma estreita relação entre as pessoas” – entrevistado e
entrevistador – a qual refere-se “[...] ao ato de perceber entre duas pessoas”. Desse modo,
Dencker (2001, p. 137) a compreende como “[...] uma comunicação verbal entre duas ou mais
pessoas, com um grau de estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de
informações de pesquisa”.
Para tanto, utilizou-se nas entrevistas roteiros de perguntas compostos por perguntas
não-estuturadas, que de acordo com Richardson (1999, p. 208), visam “[...] obter do
entrevistado o que ele considera ser os aspectos mais relevantes de determinado problema [...]
[pois] pretende-se obter informações detalhadas que possam ser utilizadas em uma análise
qualitativa”.
A formulação desses roteiros de entrevista e, consequentemente, de suas perguntas,
foram baseados no modelo de pergunta ideal proposto por Lefèvre & Lefèvre (2003) que
propõe ao entrevistado a produção de um discurso referente ao assunto pesquisado, que
permite uma livre exposição de suas idéias a partir da apropriada compreensão da questão e
que sugere a realização de um pré-teste em sujeitos compatíveis com a pesquisa.
Cabe salientar que a aplicação do pré-teste dos roteiros de entrevista, mostrou-se
inviável devido ao número estatístico do universo e da amostra determinada pela pesquisa,
bem como, por se tratar de perguntas abertas e abrangentes que, supostamente, proporcionam
a compreensão das mesmas e revelam respostas coerentes com a investigação.
5.2 Seleção e coleta de dados junto aos atores sociais entrevistados
Essa técnica de entrevista foi utilizada em dois momentos distintos, sendo que o
primeiro contemplou a aplicação do roteiro de entrevista (apêndice A) em diálogos realizados
com 05 (cinco) agentes e operadores do segmento de turismo na natureza do PEISC,
compondo assim, o objetivo específico 3. Esses atores sociais (entrevistados) foram
selecionados com base nos dados disponíveis em ABAV (2006), Guia Floripa (2006a e b),
Guia Panrotas (2005) e Picasso (2005), sendo que a sua escolha justificou-se pelo fato de que
no ecoturismo as agências e operadoras do segmento de turismo na natureza exercem
importante papel na intermediação da comunicação entre o turista e o destino, bem como, no
desenvolvimento e planejamento de atividades relacionadas ao ambiente natural que compõe
98
determinado destino turístico, pressupondo-se, também, no desenvolvimento do componente
educativo (educação ambiental) nesses locais ou nessas práticas.
Inicialmente, na base de dados que serviu para a escolha dos atores sociais
entrevistados, constava um universo de 18 (dezoito) agentes e operadores relacionados ao
turismo de natureza (ecoturismo), pelo fato de conterem em seus nomes e ou nas descrições
institucionais, palavras elucidativas desse segmento, tais como ecoturismo, turismo na
natureza, aventura, rafting, rappel, entre outras. Dessas 18 (dezoito) possíveis entrevistas,
foram realizadas 07 (sete) entrevistas efetivas, sendo que 02 (duas) destas não enquadravamse no perfil proposto, desse modo, 05 (cinco) foram consideradas para a análise desse objetivo
da pesquisa.
Em relação às demais agências e operadoras cabe salientar que, a técnica de análise
das entrevistas (a ser delimitada posteriormente) evidencia o trabalho com dados qualitativos
e, por isso, é dispensável um número estatisticamente representativo da amostra em relação ao
universo da pesquisa. É evidente também que haveria a possibilidade de se trabalhar em
pesquisas qualitativas com o universo inicialmente detectado, mas especificamente nessa
pesquisa, a amostra de 03 a 05 entrevistados já conformou uma real representação do mercado
de agências e operadoras de turismo na natureza do PEISC e, portanto, representativa deste
universo de atores sociais. Além disso, constatou-se situações que inviabilizaram a entrevista
das demais agências e operadoras, tais como o agendamento da entrevista sem o
comparecimento do entrevistado, a constatação de que somente trabalhava-se em períodos de
alta temporada, a dificuldade na efetivação do contato por telefone, sites e outros estarem
errados ou ‘fora do ar’, e também a evidência das que se demonstravam fora do perfil, pois
apesar de intitularem-se agentes e operadores especializados em atividades turísticas
realizadas em ambientes naturais, estavam voltadas à outros segmentos ou a outros setores
turísticos.
O segundo momento da utilização da técnica de entrevista contemplou a aplicação do
roteiro de entrevista (apêndice B) aos gestores ou outros atores sociais responsáveis pelos
destinos identificados como resultados da primeira etapa da pesquisa e do objetivo específico
3 – que poderão ser observados adiante – os quais referiam-se majoritariamente às unidades
de conservação localizadas na Ilha de Santa Catarina e em seu entorno, administradas pelas
esferas municipal, estadual e federal do setor público, e que em síntese conformam o PEISC.
Ressalta-se que, os resultados do primeiro momento de aplicação da técnica de
entrevista – destinado aos agentes e operadores de turismo na natureza – levaram
indiretamente à escolha dos gestores e ou responsáveis pelas unidades de conservação do
99
PEISC como universo para o segundo momento da aplicação da técnica de entrevista, que
corresponde à resolução do objetivo específico 4. Nesse momento teve-se como universo da
pesquisa o número estatístico de 32 unidades de conservação que formam o pólo e, para tanto,
aplicou-se entrevista a amostra de 13 unidades de conservação, administradas conforme as
esferas do setor público (FATMA, 2004b), nas respectivas instituições Floram (9 unidades de
conservação), Fatma (1 unidade de conservação) e Ibama (3 unidades de conservação).
Apesar dos resultados do primeiro momento de aplicação da técnica de entrevista
também mencionarem outros destinos relacionados inclusive à outras unidades de
conservação, que não aquelas pertencentes ao PEISC, a opção feita por restringir-se às
unidades de conservação do PEISC e aos seus gestores como objeto de pesquisa e como
amostra para as entrevistas, deveu-se ao fato destas representarem a maioria do universo de
pesquisa e possibilitarem uma real representação dos destinos (unidades de conservação)
utilizados pelo e para o ecoturismo, além de, a partir destas escolhas pressupor-se a
possibilidade de uma análise teórico-metodológica mais assertiva acerca das relações entre
ecoturismo e a educação ambiental.
O fato dessa pesquisa envolver atores sociais como fonte para a obtenção de parte dos
dados a serem analisados, tornou-se necessário o uso do Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (apêndice C), o qual ao dissociar os interesses do entrevistado e do entrevistador,
resguardou a integridade da pesquisa e evidenciou o seu caráter ético, conforme as normas do
Comitê de Ética da Universidade do Vale do Itajaí.
5.3 Análise qualitativa dos dados
Para a análise dos dados obtidos por meio da aplicação dos roteiros de entrevista aos
dois grupos supracitados, utilizou-se a técnica de análise do Discurso do Sujeito Coletivo
(DSC), que consiste em obter discursos (respostas) advindas da expressão subjetiva
(consciência) do entrevistado, por meio da aplicação de perguntas abrangentes (abertas). A
técnica supracitada, segundo Lefèvre e Lefèvre (2003, p. 11), busca
[...] dar conta da discursividade, característica própria e indissociável do pensamento
coletivo, buscando preservá-la em todos os momentos da pesquisa, desde a
elaboração das perguntas, passando pela coleta e pelo processamento dos dados até
culminar com a apresentação dos resultados.
100
Para a aplicação do discurso do sujeito coletivo, os autores salientam ser necessária a
aplicação de perguntas abertas ao conjunto de indivíduos que representam a coletividade, com
o intuito de que se produzam discursos de maneiras ‘livres’, que representam melhor e mais
adequadamente os pensamentos dos indivíduos entrevistados. O discurso do sujeito coletivo
[...] é uma proposta de organização e tabulação de dados qualitativos de natureza
verbal, obtidos de depoimentos [...]. A proposta [...] consiste [...] em analisar o
material verbal coletado extraindo-se de cada um dos depoimentos [...], as idéias
centrais e/ou ancoragens e as suas correspondentes expressões-chave; com as
expressões –chave das idéias centrais ou ancoragens semelhantes compõe-se um ou
vários discursos síntese na primeira pessoa do singular (Ibid., p. 15-16).
A coleta do material (discurso) a ser analisado foi realizada por meio do uso de um
microgravador portátil, para que as respostas registradas no momento da entrevista fossem
idênticas ao mencionado pelo entrevistado. O registro dessas respostas gravadas foi
literalmente transcrito em papel, para que com base nesse material escrito fossem
identificadas as expressões chave das idéias centrais (ECHIC) e as expressões chave da
ancoragem (ECHAC) (disponíveis nos apêndices D e E).
Lefèvre e Lefèvre (2003, p. 17, grifo do autor) nomeiam as expressões chave das
idéias centrais e da ancoragem como figuras metodológicas que são necessárias para a
confecção dos discursos do sujeito coletivo (DSC), e determina que
as expressões-chave (ECH) são pedaços, trechos ou transcrições literais do discurso,
[...] que revelam a essência do depoimento [...] do conteúdo discursivo dos
segmentos em que se divide o depoimento [...] ou seja, as expressões chave são uma
espécie de prova discurso-empírica da verdade das idéias centrais e das ancoragens
e vice-versa. É com a matéria-prima das expressões chave que se constroem os
discursos do sujeito coletivo.
Já a idéia central (IC) é entendida pelos autores (Ibid.) como sendo “[...] um nome ou
expressão lingüística que revela e descreve, da maneira mais sintética, precisa e fidedigna
possível, o sentido de cada um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de
ECH, que vai dar nascimento, posteriormente, ao DSC”. Nesse caso, ressalta-se a importância
de que a idéia central “[...] não é uma interpretação, mas uma descrição do sentido de um
depoimento ou de um conjunto de depoimentos”.
Além disso, esses autores completam que “essas ICs podem ser resgatadas através de
descrições diretas do sentido do depoimento, revelando o que foi dito ou através de descrições
indiretas ou mediadas, que revela o tema do depoimento ou sobre o que o sujeito enunciador
está falando” (Ibid.).
101
Dentro desse processo de evidenciar as figuras metodológicas, os autores (Ibid.)
afirmam que
algumas ECH remetem não a uma IC correspondente, mas a uma figura
metodológica que, sob a inspiração da teoria da representação social, denomina-se
ancoragem (AC), que é a manifestação linguística explícita de uma dada teoria, ou
ideologia, ou crença que o autor do discursos professa e que, na qualidade de
afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para “enquadrar” uma
situação específica.
Desse modo, os autores (Ibid., p. 18, grifo do autor) ressaltam ainda que “[...] quase
todo discurso tem uma ancoragem na medida em que está quase sempre alicerçado em
pressupostos, teorias, conceitos e hipóteses”. Entretanto, salientam que para que se tenha uma
análise mais detalhada dos discursos é conveniente “[...] destacar e distinguir os discursos nos
quais se encontram marcas lingüísticas claras de ancoragem, aqueles nos quais essa
ancoragem é, digamos, genérica”.
Por fim, com as ECH, as IC e as AC identificadas, passa-se a elaborar o ou os DSCs,
compreendido pelos autores (Ibid., p. 18) como “[...] um discurso-síntese redigido na primeira
pessoa do singular e composto pelas ECH que têm a mesma IC ou AC”. Para tanto,
evidenciam que para a construção do DSC é necessário considerar os princípios de coerência,
de posicionamento próprio, de distinção entre DSC e de artificialidade natural.
Sucintamente, no princípio coerência deve-se atentar para que a soma dos
depoimentos forme um “[...] todo discursivo coerente, em que cada uma das partes se
reconheça enquanto constituinte desse processo e o todo constituído por essas partes”. O
posicionamento próprio é marcado pela presença e pela expressão de “[...] um posicionamento
próprio, distinto, original, específico frente ao tema que está sendo pesquisado”.
Há também a distinção entre os DSCs, ou seja, por vezes a resposta do entrevistado
apresenta
mais
de
um
DSC,
podendo
assim,
distinguí-los
em
relação
às
diferenças/antagonismos ou por complementaridade. Desse modo, quando se trata de
discursos antagônicos é obrigatória sua apresentação em separado, em contrapartida, quando
se trata de discursos complementares, pode-se apresentá-los em conjunto, uns completando os
outros ou em separado, para obter-se resultados mais detalhados.
Em relação à artificialidade natural, relembra-se que o DSC é um discurso falado por
um indivíduo que representa assim, um conjunto de indivíduos (a coletividade) e, por isso,
deve-se construí-lo artificialmente, ou seja, deve-se limpar os discursos de suas
102
particularidades, encadeá-los em uma narrativa lógica e coerente e aproveitar todas as idéias
disponíveis.
Com isso, a proposta de Lefèvre e Lefèvre (2003, p. 19, grifos do autor) do DSC é
“[...] resgatar o discurso como signo de conhecimento dos próprios discursos”, entretanto,
salientam que com o DSC
[...] os discursos dos depoimentos não se anulam ou se reduzem a uma categoria
comum unificadora já que o que se busca fazer é reconstruir, com pedaços de
discursos individuais, como em um quebra-cabeça, tantos discursos-síntese quantos
se julgue necessários para expressar uma dada “figura”, ou seja, um dado pensar
ou representação social sobre um fenômeno.
Um modelo extraído da obra de Lefèvre e Lefèvre (2003) está disponível no anexo F,
como forma de exemplificar a construção e a posterior apresentação de um DSC. Essa
apresentação estará disponível no capítulo ‘Resultados da pesquisa’ e será configurada por
uma ‘moldura’ em torno do DSC para facilitar a identificação do leitor.
Pretendeu-se, com o uso da técnica do DSC, revelar os pensamentos e as
representações
dos
‘atores
sociais’
(entrevistados)
envolvidos
no
processo
de
desenvolvimento do ecoturismo no PEISC, pois verificou-se o que estes pensam e entendem
sobre o ecoturismo, onde ocorre, como é desenvolvido, qual a relação entre o ecoturismo e
educação ambiental, como esta é desenvolvida, quais são as suas modalidades e quais são os
benefícios proporcionados à conservação da natureza, entre outros.
Reigota (1998b), ao corroborar com a temática da representação social infere que as
representações sociais estão normalmente relacionadas com os sujeitos de fora da comunidade
científica, fato que indica que as formas de se pensar relacionam-se a um processo histórico
social que deve ser compreendido a partir de uma configuração coletiva social.
Desse modo, evidencia-se também a necessidade de consideração da teoria da
representação social, que é caracterizada por Moscovici (1976, 1978 apud REIGOTA, 1998b,
2002), como o conhecimento do senso comum que se tem acerca de um determinado tema,
amplamente debatido pela ciência e reconhecido em espaço público, incluindo os
preconceitos, as ideologias e as características sócio-culturais das pessoas.
Em complemento, Jodelet (1989 apud LANE, 1995, p. 61) afirma que
[...] as representações sociais devem ser estudadas articulando elementos afetivos,
mentais e sociais e integrando, ao lado da cognição, da linguagem e da
comunicação, a consideração das relações sociais que afetam as representações e a
realidade material, social e ideal sobre as quais elas vão intervir.
103
Lane (1995, p. 71) acrescenta que “[...] as representações sociais são os dados
empíricos dos quais se parte para um procedimento de análise que os insere no movimento
histórico [...] permitindo assim chegar às categorias construtivas do psiquismo humano
[comportamento humano]”.
A partir do exposto, justifica-se o uso da técnica do discurso do sujeito coletivo como
forma de detectar a compreensão sobre a importância da educação ambiental para o
ecoturismo, apresentada, no âmbito do senso comum, pelos atores entrevistados, o que é
possível na medida em que se compreendem os comportamentos humanos relacionados ao
ecoturismo e à educação ambiental, já que a educação ambiental trabalha com atitudes e
valores ambientais, partindo de um problema ambiental e caminhando em direção à sua
respectiva solução.
Para tanto, Ruscheinsky (2002, p. 04) complementa esta idéia quando cita que
a compreensão de meio ambiente de cada indivíduo enquanto membro de um grupo
social consolida uma representação social, portanto, o ponto de partida para o
trabalho com educação ambiental deve ser a própria representação do educador e das
pessoas envolvidas nesse processo.
Nesse sentido, “a ação ou pensamento do indivíduo, compartilhado com um grupo ou
em diferentes grupos sociais, exerce influência sobre o contexto social. Em outros termos, as
representações sociais fundam a prática social” (Ibid., p. 06).
Apesar de ter-se utilizado uma fundamentação advinda da educação ambiental,
pressupõe-se que o mesmo possa ser aplicado ao ecoturismo, e que, portanto, com o DSC e
com as representações sociais advindas dos agentes e dos gestores (tidos como envolvidos e
responsáveis pelas práticas de ecoturismo e educação ambiental PEISC), pode-se analisar as
relações existentes entre o ecoturismo e a educação ambiental, de um modo geral, nos espaços
destinados ao ecoturismo, possivelmente caracterizados como unidades de conservação, pois
acredita-se que a representação social desses indivíduos acerca dessas temáticas norteiam suas
práticas sociais.
Essas práticas sociais referem-se aos momentos pelos quais os indivíduos empreendem
processos de aprendizado, realizados com base em novas percepções ambientais, que
garantam a transformação de seus valores e suas atitudes em relação ao meio ambiente
natural, passando assim, a elucidar uma nova relação com o ambiente e seu entorno. Tuan
(1980, p. 04-05) refere-se a esse processo como topofilia, “[...] o elo afetivo entre a pessoa e o
lugar ou ambiente físico”, sendo que esse elo afetivo será construído a partir do momento em
104
que uma sucessão de percepções – “[...] resposta dos sentidos aos estímulos externos [...]” –
formar as atitudes, entendidas como “[...] uma postura cultural, uma posição que se toma
frente ao mundo”.
Nesse sentido, a escola contemporânea da percepção, a gestáltica, se fundamenta no
fato da percepção ser formada por sensações, ou seja, a percepção é o início do processo de
conhecimento, nada pode estar na inteligência, ser aprendido, sem ter passado pelos sentidos.
O aprendizado só acontece pelo sentido e a natureza, enquanto ambiente, produz sensações
deleitáveis, estímulos sensoriais que dão formas às atitudes humanas (COIMBRA, 2004;
HAGEN, 1980 apud SANTAELLA, 1998; TUAN, 1980).
Com isso, pressupõe-se que o ecoturismo, enquanto uma atividade turística, que
trabalha com a percepção dos envolvidos para com seu ambiente natural, facilitada por
atividades proporcionadas pelas modalidades de educação ambiental, promove atitudes
ambientais valorizadas pelo aprendizado que podem ocasionar o elo efetivo com a natureza e,
consequentemente, a sua conservação. Justifica-se assim, o uso do DSC pautado pelos
referenciais da representação social como forma de atingir os objetivos propostos para essa
etapa da pesquisa, assim como, para toda uma análise das temáticas envolvidas.
Portanto, após a aplicação das técnicas de pesquisa e a constatação de evidências
teóricas e empíricas, será realizada a interpretação dos dados e, consequentemente, dos seus
resultados, com o intuito de tecer diálogos que aprofundem as relações acerca das temáticas
propostas (ecoturismo e educação ambiental), assim como, com seu objetivo de estudo, o
PEISC.
105
6 RESULTADOS DA PESQUISA
6.1 Tecendo relações entre o ecoturismo e a educação ambiental
Nesse momento, apresentam-se os resultados provenientes das reflexões teóricas
(Etapa I dos ‘Procedimentos Metodológicos’) sobre as temáticas de ecoturismo e educação
ambiental, e as suas possíveis relações, bem como, a identificação das modalidades de
educação ambiental aplicadas ao ecoturismo, que contemplam os objetivos específicos 1 e 2,
propostos inicialmente.
Diante das interfaces e do ideário contemporâneo da relação entre homem e natureza,
há o rompimento de uma convivência harmônica e o estabelecimento de novos padrões
conflituosos, o que explicita a consideração da dependência entre o homem e a natureza
(CASTELLS, 1999; VIOLA, 1987; VIOLA 1992; VIOLA e LEIS, 1995), e que pode explicar
a importância da relação entre o ecoturismo e a educação ambiental.
Os termos ecoturismo e educação ambiental não são novos, mas evoluíram de acordo
com a evolução do conceito de meio ambiente (DIAS, 2000; LEONARDI, 1999;
TAGLIEBER, 2003), assim como, com o desvendar da consciência ambiental, pela qual a
sociedade evidencia a história do surgimento humano e a sua inter-dependência com o mundo
natural, além da preocupação com os elementos que possibilitam a sobrevivência humana na
Terra.
O ecoturismo além de representar economicamente um segmento do mercado turístico
que se utiliza dos elementos paisagísticos da natureza para uma demanda ávida ao consumo
da ‘beleza’ natural (BINSWANGER, 1999; BOULLÓN, 2002), também representa uma
postura ideológica que se afina aos ideais ambientalistas (conservacionistas ou
preservacionistas) (PIRES, 2002), ambas representações marcadas pelas mudanças na
sociedade pós-moderna, onde valoriza-se o novo e a autêntica experiência humana, pautada
pelo significado das práticas corporais, pelo valor estético e pela ressignificação do ambiente
natural, enquanto espaço de fuga do cotidiano urbano e de superação de limites
proporcionados pelos desafios da natureza (CASCINO, 1998; SERRANO, 2000a; 2000b) .
Então, o ecoturismo, prática marcada por princípios éticos, educativos e sustentáveis,
tem o intuito de conciliar o equilíbrio da área econômica com a área ambiental, a chamada
sustentabilidade (OMT, 2003; SACHS, 2000), sendo que para tanto, tem apresentado
106
conceitos, princípios e componentes que retratam uma possível incógnita quanto aos seus
efetivos
benefícios
relacionados,
por
exemplo,
à
conservação
da
natureza,
ao
desenvolvimento comunitário e também à promoção da educação.
O documento principal e oficial do setor, as Diretrizes para uma Política Nacional de
Ecoturismo, de 1994, já retratava o ecoturismo como sendo um segmento do mercado
turístico com atividades ainda desordenadas e promovidas em função das oportunidades
mercadológicas, o que não proporciona os esperados e reais benefícios sócio-econômicos e
sócio-ambientais, e sinaliza suas possibilidades de impactos nocivos aos ambientes onde é
realizado.
Mas, em relação à essas conseqüências, destaca-se apenas a sugerida preocupação do
documento com a imagem da qualidade do produto ecoturístico brasileiro nos mercados
nacional e internacional. E, diante disso, questiona-se o fato do mercado turístico (trade) e o
governo (poder público) instituírem tais oportunidades mercadológicas como norteadoras do
desenvolvimento do ecoturismo.
No caso brasileiro, o ecoturismo, seus conceitos e seu ordenamento, tem sido discutido
pela sociedade civil e no âmbito governamental há cerca de vinte anos, o que sugere a
possibilidade de vislumbrar o estabelecimento claro de critérios e regras para o
desenvolvimento da atividade. Mas observa-se a descontinuidade do processo, quando se têm
diretrizes propostas há doze anos sem que se busque o efetivo alcance de seus resultados,
além dessas diretrizes não serem adotadas como de interesse comum a toda sociedade, o que
dificulta também o estabelecimento de um planejamento ordenado e talvez a freqüente
produção de diálogos atuais acerca de um termo não necessariamente antigo, afinal referem-se
à novas atividades de um antigo contexto.
A partir do momento que considera-se uma atividade, motivada pelo lazer e realizada
em ambientes naturais como uma prática turística, remete-se a isso que as antigas atividades
relacionadas à natureza, são não menos ecoturísticas. Diante das faces de um turismo
relacionado ao ambiente natural (PIRES, 2002) e ao mesmo tempo relacionado a diversas
atividades esportivas, como uma ‘idéia guarda-chuva’ (SERRANO, 2000b), coloca-se em
evidência a dificuldade de se estabelecer um planejamento e uma definição para essa
atividade.
Uma das formas de distinguir as atividades ecoturísticas de outras atividades turísticas,
realizadas em meio à natureza, é tentar identificar na atividade em questão se há o
desenvolvimento de seu componente educativo (educação ambiental) (PIRES, 1998, 2002;
RAMOS, 2005). Dessa forma, quanto mais uma atividade ou um destino turístico promover
107
ações educativas em benefício da conservação da natureza, mais próximo estará de ser
considerado ecoturismo.
Em função disso, acredita-se que a educação ambiental passa a ser ao mesmo tempo
um componente e uma ferramenta do ecoturismo, tanto para o alcance de seus objetivos
propostos, quanto na contenção dos impactos nocivos gerados nos ambientes naturais. Essa
inserção da educação ambiental no ecoturismo possibilita um processo de educação que
remete o indivíduo (turista e educando) a uma ação – reflexão – ação, no sentido de
compreender as conseqüências ocasionadas por seus comportamentos e por suas atitudes
perante a natureza (DELORS et al, 2002; GUERRA, 2001; GUIMARÃES, 2005).
Esse momento de ação – reflexão – ação só é possível de ser realizado por meio da
aplicação de um processo educativo, que ganha repercussão no momento em que a este se
aliam as percepções e as sensações proporcionadas pelo potencial natural em que está inserido
(MENDONÇA, 2000, 2005a, 2005b; REIGOTA, 1998b, 2002). Nesse caso, tem-se a
configuração de um sujeito ecológico, que estabeleceu sua afinidade com o meio ambiente
natural, sensibilizou-se acerca das questões ambientais e que está consciente de seus atos,
assumindo um papel de destaque na conservação da natureza.
Assim, o ecoturismo pode ser visto como promotor de experiências privilegiadas de
educação, que estimulam a elucidação de valores e incentivam atitudes em pról da
conservação da natureza e da consolidação de um novo comportamento social.
Reportando-se novamente às Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo,
agora sob o olhar da inserção da educação ambiental na atividade, observa-se que diante do
objetivo de promover o ecoturismo como veículo da educação ambiental e da específica ação
estratégica para isso – conscientização e informação ao turista – tem-se algumas distorções
quanto às propostas e quanto aos meios efetivos para seu alcance.
Conforme já explicitado, sabe-se que a educação ambiental é um componente e uma
ferramenta para o planejamento e o desenvolvimento do ecoturismo, mas ainda se
desconhecem as formas pelas quais esta ferramenta pode ser desenvolvida, o que ocasiona
muitas vezes a promoção das informações ambientais no ecoturismo, que nada revelam ou
proporcionam ao turista, enquanto desenvolvimento do processo educativo.
Essa ação – conscientização e informação ao turista – propôs estratégias para divulgar
atividades ecoturísticas ao turista e para orientá-los em sua adequada conduta na natureza.
Contudo, tais estratégias estão, principalmente, relacionadas à veiculação de informação
ambiental e à divulgação do destino de ecoturismo, especialmente em meios de comunicação
de massa, assim como, relacionada à educação ambiental formal.
108
Mas, se o ecoturismo for ideologicamente considerado como uma concepção de
viagem, que objetiva, por meio da interação do homem com a natureza, propiciar
experiências, contatos, vivências diferenciadas, no que tange à compreensão do meio
ambiente natural, de quê valeria ou o quê agregaria ao turista, nessa situação de viagem, ter
contato com informações acerca do meio ambiente que estivessem sendo propagadas em
meios de comunicação de massa, de modo informal.
A educação ambiental trabalhada no ecoturismo deve ser a não formal, por estar
relacionada aos diferentes espaços não escolarizados (espaços naturais) e por, ao mesmo
tempo, não ser promovida de modo informal, ou seja, por meio dos canais de comunicação
em massa. Para tanto, há que se ter formas específicas de desenvolvê-la, sendo que nessa
pesquisa revela-se quatro modalidades de educação ambiental não-formal, o aprendizado
seqüencial (CORNELL, 1997), a interpretação ambiental (HAM, 1992), a educação
experiencial (OBB, 2005) e a educação no processo de gestão ambiental (IBAMA, 2006), ou
também chamadas de educação ao ar livre, que podem ser aplicadas ao ecoturismo.
Salienta-se que as três iniciais estão mais relacionadas a atividades de lazer, enquanto
a última tem ênfase no desenvolvimento comunitário, e que, essas modalidades têm, em geral,
semelhança com o processo de ação-reflexão-ação pautado nos pressupostos de Freire (1980),
que Guimarães (2005) coloca como uma educação ambiental crítica.
A própria Política Nacional de Educação Ambiental, de 1999, já colocava que a
educação ambiental deve ser desenvolvida de maneira integral e que deve proporcionar à
sociedade a formação de valores, atitudes e habilidades na solução de problemas ambientais.
Apesar de diferentes nas relações e em suas formas de desenvolvimento, essas
modalidades de educação ambiental proporcionam aos indivíduos uma formação ambiental e,
consequentemente, a possibilidade de transformação social. No caso do turismo, por exemplo,
a transformação de atividades convencionais em atividades turísticas mais sustentáveis, além
da própria transformação individual.
Outro detalhe a destacar é que, no ecoturismo, trabalha-se exclusivamente com os
ambientes naturais e, sendo assim, identifica-se um poder ainda maior de sensibilizar seus
participantes, pois o ambiente natural dispõe de um significativo e intrínseco potencial à
educação (MENDONÇA, 2000, 2005a, 2005b; SERRANO, 2000a, 2000b).
Na tentativa de estabelecer inter-relações entre as práticas de ecoturismo e educação
ambiental em um processo de planejamento (GUIMARÃES, 2001; SALVATTI, 2003) para
futuras atividades de ecoturismo, sugere-se com base nos apontamentos de Guerra (2001) e
conforme mostra a figura 18, ‘O processo de educação ambiental aplicado ao ecoturismo’,
109
que pretende nortear um efetivo planejamento de ecoturismo pautado exclusivamente nos
ideais educacionais, tendo na educação ambiental e na inserção das modalidades de educação
ambiental (AS, IA, EE, EPGA), as efetivas ferramentas ao processo de desenvolvimento e ao
alcance dos objetivos do ecoturismo, inclusive a conservação da natureza.
Isto porque, o ecoturismo é freqüentemente considerado como um meio de
conservação da natureza, mas tal consideração normalmente restringe-se a relacionar esse
potencial de conservação ao que poderá ser feito, em pról desse objetivo, com a receita
arrecadada pela visitação turística nos atrativos e ou nas unidades de conservação, sem que se
vislumbre um alcance mais efetivo desse objetivo, por meio da implementação de práticas
educacionais, já que o turista, ao visitar o local ou ao realizar uma atividade pautada pelas
modalidades de educação ambiental, leva consigo o aprendido e isso fará parte de seu legado,
possivelmente, parte até de comparações em suas próximas viagens, diferentemente das taxas
que são pagas uma única vez.
Figura 18 – O processo de educação ambiental aplicado ao ecoturismo
Fonte: Adaptado da ‘Dimensão ambiental na educação’ (GUERRA, 2001)
110
Então, esse processo de educação ambiental aplicado ao ecoturismo (figura 18)
estrutura-se em uma relação horizontal entre os elementos que o compõem, bem como, em
um sistema periférico, que parte das relações estabelecidas no centro do processo para as
áreas periféricas, com a intenção de atingir as dimensões que norteiam o processo como um
todo.
Desse modo, tem-se no centro do processo o ecoturismo, que é permeado pelas
relações estabelecidas entre os envolvidos em seu processo de planejamento e de
desenvolvimento (trade turístico, turistas, comunidade local e poder público). A partir disso e
conforme um processo de educação (conduzir para fora (CORNELL, 1997; MENDONÇA,
2005b)), o ecoturismo e as interações estabelecidas entre os envolvidos tendem a seguir em
direção a cada um dos processos de aprendizagens (GUERRA, 2001)
ou aos pilares
necessários à educação (DELORS et al, 2002), como formas de se atingir os processos de
pensar, sentir, querer, ser, conviver, fazer e, por fim, poder.
Esses processos interagem simultaneamente e são pautados pelas dimensões do
conteúdo da aprendizagem (afetiva, cognitiva, metodológica e ecosófica), ou seja, são as
formas pelas quais os envolvidos no processo de ecoturismo irão adquirir conhecimentos e
exercer habilidades e competências, mediante as dimensões do conteúdo para a educação
ambiental (relações intra e interpessoais, atitudes e valores éticos e estéticos, conhecimentos e
outros saberes, habilidades e competências) e a influência de seus respectivos componentes
(conhecimento, saberes locais, tradições culturais e espirituais, autonomia, percepção estética,
sensibilização, participação, resolução de problemas, ação/reflexão/ação, cooperação,
solidariedade, responsabilidade, e corporeidade), bem como, do processo metodológico
inerente às modalidades de educação ambiental não-formal ao ar livre (AS, IA, EE e EPGA).
As relações estabelecidas nesse processo têm o intuito de promover o processo
educativo (ação – reflexão – ação) por meio do e para o ecoturismo, para que os envolvidos
nessa atividade transformem seus valores (suas representações sociais) em relação ao
convívio e a utilização da natureza, e para que atinjam a esfera do poder, da ação (prática
social), da transformação dos valores em atitudes e da transformação crítica da realidade que
os cercam.
Acredita-se que esse processo possa ser aplicado ao desenvolvimento ecoturístico de
regiões, como as delimitadas pelo Projeto Pólos de Ecoturismo, afinal, pretendem desenvolver
o ecoturismo e, para tanto, torna-se necessário a inserção de um modo sistemático de
educação ambiental.
111
6.2 Análise dos Discursos do Sujeito Coletivo (DSC)
Na tentativa de tecer diálogos mais assertivos em relação aos discursos dos atores
sociais entrevistados na pesquisa, referente aos objetivos 3 e 4, se disponibiliza a seguir os
Discursos do Sujeito Coletivo (DSCs) desses mesmos atores, compostos pelo conjunto das
expressões-chave das idéias centrais (ECHIC) e das expressões-chave das ancoragens
(ECHAC). Os DSCs estão organizados de acordo com a ordem das perguntas realizadas e
separados pelo conjunto das idéias centrais (IC) antagônicas, vislumbradas em cada uma das
respostas às questões.
Atenta-se para o fato de que algumas IC aparecerão compostas pela nomenclatura
idéia individual entre parênteses, o que representará uma idéia antagônica mencionada apenas
uma vez pelo grupo de atores sociais entrevistados, ou seja, a idéia mencionada foi única no
grupo entrevistado, não podendo ser complementada em nenhuma outra IC e, devido a sua
importante representação não poderia ser excluída. Salienta-se também, que Lefèvre e Lefèvre
(2003) em nenhum momento tratam desse possível aspecto ou característica na técnica do
DSC, pressupondo-se assim, a possibilidade de sua consideração em função das condições
específicas para os dados trabalhados na presente pesquisa.
A seguir, então, além dos DSCs apresentados, inicialmente com a exposição da
questão, também serão apresentados os pressupostos e os intuitos que levaram o pesquisador a
confeccionar e aplicar tal questão aos entrevistados, bem como, posteriormente, será
apresentado ao DSC de uma IC, os comentários e os aspectos daquele DSC e daquela IC
pautados pela relação teórica a que remetem.
6.2.1 Discursos dos agentes e operadores de turismo na natureza do PEISC
O primeiro DSC apresentado refere-se aos agentes e operadores de turismo na
natureza do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina (PEISC) que tinha o intuito de
levantar os destinos de ecoturismo que desenvolvem a educação ambiental no pólo, conforme
o objetivo específico 3 proposto pela pesquisa. Para tanto, elaborou-se quatro questões, sendo
que a primeira delas, tratava-se de uma pergunta ‘filtro’, ou seja, uma pergunta inicial para
situar a atuação da empresa entrevistada. Ao mesmo tempo, a idéia também era de que fosse
uma pergunta base para a elaboração da segunda, afinal, se há a utilização do ecoturismo
112
como um produto da empresa, então, necessita-se compreender o que se entende por
ecoturismo.
Lembra-se,
apenas,
que
duas
das
entrevistas
realizadas
foram
excluídas,
principalmente, em função das respostas que foram obtidas com a aplicação desta pergunta.
Questão 1 – O Sr. (a) utiliza-se do ecoturismo como produto de venda ao consumidor /
turista?
DSC da IC – ecoturismo como produto de venda da empresa.
Eu utilizo, né? o ecoturismo é o produto de venda da minha empresa. E se utiliza não só do
ecoturismo mas de toda a filosofia da atividade, sendo o ecoturismo uma das bases da
empresa, então, é ecoturismo, cultura e aventura, é um tripé, e isso gera as viagens
pedagógicas. Mas a gente começou a tomar uma outra conotação aí. Tá utilizando de
atividades de aventura em meio a natureza. Eu trabalho, digamos, formalmente com o
ecoturismo, com firma e cnpj já a aproximadamente 12 anos e informalmente, né? desde 86.
Primeiramente, esse DSC apresenta uma concepção de que o ecoturismo não é apenas
um segmento de mercado, voltado ao lado comercial, há uma filosofia por trás da atividade.
Enquanto atividade comercial, nota-se que para a região do pólo, o ecoturismo tem sido
trabalhado, mesmo informalmente, há pelo menos vinte anos, o que confirma que sua prática
é ainda anterior às discussões acerca dessa prática. Já a filosofia abarca as áreas de atuação do
ecoturismo e retoma um ponto inicial do surgimento de uma relação entre ecoturismo e
educação ambiental, o desenvolvimento das viagens pedagógicas, além de, ao mesmo tempo,
mostrar uma tendência de mercado, que é a ênfase nas atividades de aventura em meio a
natureza. Nessas relações também é possível identificar uma polissemia de termos para tratar
de assuntos correlatos ao ecoturismo.
Na segunda questão, houve a intenção de compreender o significado do ecoturismo,
partindo-se do pressuposto de que a concepção que se tem dessa atividade se trata de uma
representação social, ou seja, de uma concepção sobre o assunto, e isso possivelmente norteia
a prática social do indivíduo, e consequentemente, o planejamento e a execução da atividade.
Questão 2 – Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?
DSC da IC A – íntima relação homem e natureza
É seria um turismo mais é junto a natureza né? e uma forma mais íntima, assim né? Pra mim,
o ecoturismo além disso, envolve muito mais com o sentimento de descoberta que as pessoas,
é... só passam a sentir a partir do momento que conseguem intimamente entrar em contato
113
com a natureza. Busca talvez estreitar, assim um pouco, o... resgatar o contato do homem
com a natureza, uma forma mais íntima, né?
O discurso da IC A retoma o diálogo da busca do pertencimento do homem ao meio
ambiente natural, enquanto fruto da natureza, ou seja, um retorno às suas origens que está
pautado em um sentimento de descoberta, ou melhor, de redescoberta dos sentidos e do
potencial que a natureza tem na ruptura de formas de vida urbanas. O estabelecimento dessa
relação mais íntima representa a possibilidade de uma relação harmoniosa, de respeito e
cumplicidade com um dado espaço, provavelmente, em função da descoberta de seu
pertencimento.
DSC da IC B – sustentabilidade do ecoturismo
É uma prática de atividades ligadas à natureza, é uma integração com a natureza, é o
respeito à natureza, então, é toda uma questão que você está se utilizando da natureza, você
tá respeitando a natureza, você está integrado a natureza e você tá... é o seu limite e o limite
da natureza, é o equilíbrio do que você consegue...de forma cuidada, elaborada, pensada,
né? sincronizada até. É uma relação entre a sociedade, a parte econômica, a parte ambiental
nas quais se tem como um dos principais objetivos a conservação da natureza, de forma que
você tenha rendimentos, tenha lucros, né? que você prejudique de forma nenhuma o local. Aí
a gente entra em toda essa questão de sustentabilidade né? de você garantir que isso seja
mantido para as próximas gerações, enfim... Ecoturismo tá dentro de turismo sustentável, né?
turismo sustentável é um círculo maior e ecoturismo se insere dentro dele. Dentro do
ecoturismo se insere os esportes de aventura ou turismo de aventura, que permeiam os dois,
dentro de ecoturismo e turismo sustentável.
Já o discurso da IC B remonta a idéia de que apesar da íntima relação existente entre
homem e natureza, esta não é apresentada como um meio de equacionar as atividades,
principalmente as econômicas, com a conservação do meio ambiente natural, por meio de seu
desenvolvimento planejado, para que não haja degradação do local, sendo que o que se
verifica na prática é muito mais a identificação das atividades como fonte de lucros e de
rendimentos, configurando assim, o embate entre a sustentabilidade e o ecoturismo.
Apesar disso, a atividade de ecoturismo é apresentada pelo discurso como parte da
vertente do turismo sustentável e como uma atividade potencialmente sustentável, que deveria
efetivamente conciliar os interesses econômicos e a conservação da natureza.
DSC da IC C – banalização do ecoturismo (idéia individual)
Eu acho que é complicado o fato como... a forma como o ecoturismo, a palavra eco foi
banalizada, né? Hoje em dia assim, as pessoas se utilizam da palavra eco, ecologia,
ecoturismo pra tá vendendo e pra tá criando uma imagem de que respeita a natureza, tudo
isso.
114
Na IC C há uma representação que em parte explica o embate entre a sustentabilidade
e o ecoturismo, afinal, essa atividade tem sido desenvolvida muito mais em função de um
modismo ambiental, de uma busca incessante por lazer e turismo nos espaços naturais e
também, como meio para o desenvolvimento econômico, ao invés de ter a preocupação de ser
uma atividade comprometida efetivamente com os seus reais benefícios de conservação da
natureza e de melhoria da qualidade de vida da comunidade local. Isso gera, como mostra o
discurso, a banalização da palavra, ou seja, a ampla divulgação de um termo que, para alguns,
já não tem mais o mesmo significado que poderia ter.
A elaboração da terceira questão partiu do pressuposto de que um dos componentes do
ecoturismo, a educação ambiental, seria mencionada justamente em algum momento da
segunda questão e, a partir disso, tinha-se o interesse de compreender como as agências e
operadoras, supostamente ditas de ecoturismo, trabalham com esse componente educativo do
ecoturismo. Ao mesmo tempo, tinha-se também o intuito de enfatizar a inserção dessa idéia
de componente educativo, especialmente relacionando-o ao conceito de ecoturismo, e por
isso, optou-se por contextualizar a pergunta na forma de afirmação para, em um segundo
momento, questionar a opinião do entrevistado.
Ao primeiro passo, observou-se que a educação ambiental ainda não é considerada um
dos elementos essenciais ao desenvolvimento do ecoturismo, mesmo que na segunda questão,
tenha-se comentado sobre as viagens pedagógicas. Tais viagens podem ser entendidas muito
mais como uma segmentação de mercado da agência, do que como uma filosofia, ou até
mesmo, do que um componente do ecoturismo.
Questão 3 – Um dos critérios para as atividades turísticas serem denominadas de ecoturismo
é a existência do componente educativo (educação ambiental). Como o Sr. (a) trabalha com a
educação ambiental?
DSC da IC A – sensibilização pela própria natureza
As pessoas vem pra se divertir, mas automaticamente elas tão emergindo na natureza, tão
recebendo as informações, a natureza realmente ali de uma forma original e sempre tem
algumas coisas meia degradadas e a pessoa só nesse parâmetro e ali olhando ali, ela já tem
essa sensibilização né? é a própria força da natureza que alimenta a pessoa e a pessoa
realmente fica é... revaloriza a natureza né?, só pelo simples fato de entra em contato com
ela.
Esse primeiro DSC sugere a idéia de que a natureza dispõe de um enorme potencial
para naturalmente estimular as pessoas envolvidas em atividades ao ar livre à compreender
115
seu espaço, seu funcionamento e seus problemas, bem como, aproveitar esse momento para a
diversão, para o entretenimento.
Dessa forma, o discurso sugere uma ‘educação’ de modo recreacional, onde a pessoa
por meio de sua percepção pode vislumbrar o ‘belo’ (forma original) e o ‘feio’ (as ‘coisas’
degradadas) e, com isso, estabelecer um parâmetro de análise, de reflexão sobre as atitudes e
as ações que ao mesmo tempo tornam aquele espaço ‘belo’ ou ‘feio’.
Em contrapartida, questiona-se que para a efetivação da educação é necessário a
presença de um educador ou um indivíduo mediador que por meio de sua percepção consiga
sistematizar ações de sensibilização dos participantes sobre a realidade ao seu redor e o
mesmo tempo auxiliá-los a se conscientizar da sua importância para melhorar aquela situação.
DSC da IC B – educação ambiental formal
Escolas sejem públicas, sejem particular que vem fazê alguma saída de campo de ordem é...
de educação. A gente busca tá inserindo a questão da educação ambiental durante todo o
processo, desde o momento que a gente pega os alunos no colégio, uma conscientização
camuflada de como se deve... como eles devem se portar... é um trabalho em conjunto com a
escola, é uma coisa que os monitores e a empresa não fazem tão diretamente com os alunos,
mas é um trabalho que já vem da sala de aula. A vontade é de fazê um trabalho mais nas
escolas públicas né, que é assim de grátis, fazê essas atividades, mas tem que arrumá um
parceiro pra pode custear.
Já no DSC da IC B, tem-se a idéia equivocada de que o ecoturismo comporta a
educação ambiental em seu modo formal. No senso comum, sempre que se trata de educação
pensa-se em escolas, alunos e professores.
É importante salientar que o ecoturismo, assim como, as atividades por este
desenvolvidas, são realizadas em espaços não escolarizados, por isso, em espaços não
formais. A educação ambiental não formal ou também compreendida como educação ao ar
livre ocorre exatamente no cenário para o desenvolvimento do ecoturismo, ou seja, nos
espaços naturais, ou seja, no meio ambiente natural.
Cabe esclarecer que a compreensão de que o ecoturismo não comporta a educação
ambiental formal, advém, principalmente, da identificação dos espaços para sua realização,
assim como, do fato de que para a educação ambiental formal compor o ecoturismo, é
necessário que haver um efetivo planejamento desta última no intuito de envolver todos os
outros aspectos da educação, o formal, o informal e o não formal, de forma a desenvolver um
programa de educação ambiental aplicado ao ecoturismo. Um exemplo disso, poderia ser
vislumbrado em um destino turístico que tivesse planejado e desenvolvido atividades
relacionadas à natureza e que nas escolas desse destino fossem trabalhados conteúdos sobre
116
questões ambientais aplicadas ao turismo, de modo transversal, assim como, houvesse a
divulgação de idéias sensibilizadoras e potencializadoras da conservação do meio ambiente
natural, nos meios de comunicação de massa, bem como, houvesse o desenvolvimento de
formas específicas de educação ambiental a serem aplicadas as atividades de ecoturismo.
DSC da IC C – não se tem formas específicas de educação ambiental
Nós não temos uma metodologia né? Não tem uma forma específica, tem é digamos, é uma,
uma... a gente procura ter, digamos, os parceiros.
No DSC da IC C observa-se que o mercado ecoturístico desconhece e,
consequentemente, não utiliza formas específicas de desenvolvimento da educação ambiental,
possibilitando assim, a compreensão de que algumas das práticas de educação ambiental,
desenvolvidas no ecoturismo, ocorrem de maneira não sistemática, o que sugere que não
sejam formas efetivas de educação. O discurso sugere ainda que há uma parceria
desenvolvida entre a empresa e um suposto guia, ou seja, enquanto a empresa se preocupa
com a comercialização da atividade de ecoturismo, o guia tem a responsabilidade de trabalhar
as informações sobre o local visitado, reportando assim, a uma transmissão de informações,
prestada nem sempre por um profissional qualificado para tal.
DSC da IC D – conhecimento sobre o componente ambiental (consciência ambiental)
Todas as atividades que a gente promove tem educação ambiental, ou seja, eu não consigo
fazer uma atividade sem o componente ambiental. Então, temos uma consciência ambiental,
que é justamente explicar ou tentar explicar como funciona a questão do ambiente ali, do
ecossistema.
No DSC da IC D apresenta-se o fato de que para se desenvolver uma atividade de
ecoturismo é necessário conhecer e compreender a realidade daquele ambiente, seu
funcionamento e sua formação e, com isso, há o equivoco de que se tem realizado educação
ambiental no ecoturismo. Essa compreensão do ambiente que cedia a atividade de ecoturismo,
pelo turista, é importante, mas não deve ser tratada dissociada de um processo de educação
ambiental não formal.
DSC da IC E – interpretação ambiental
É trabalhada em conjunto né? se é uma trilha, existe as paradas onde o instrutor, o guia de
ecoturismo, vai parar e vai fazer essa interpretação, que a gente chama de interpretação
ambiental. Então, ele vai explicando, vai falando, vai mostrando, vai ensinando sobre o local,
então quer dizer vai fazendo com que as pessoas pensem e reflitam sobre tudo aquilo que eles
tão fazendo.
117
Já no DSC da IC E tem-se a constatação do trabalho das agências e operadoras com
uma das modalidades de educação ambiental, possivelmente, aplicada ao ecoturismo. É
interessante notar a presença de um instrutor enquanto elo de ligação entre o ambiente e o
turista, mas em contrapartida, observa-se que o discurso remete a uma interpretação ambiental
dissociada da sistemática proposta por Ham (1992), afinal, o que o grupo das agências
demonstra é que essa educação ambiental é desenvolvida ainda de modo a explicar os
conteúdos relacionados ao ambiente visitado, sem, contudo, proporcionar ao visitante uma
sensação de compreensão do ambiente.
DSC da IC F – aprendizado seqüencial (idéia individual)
A educação é trabalhada a partir do livro do ambientalista americano, Joseph Cornell –
Aprender brincando com a natureza. O cara, justamente, consegue usar uma metodologia de
descobertas e desafios que a própria natureza oferece, trabalhando sempre a questão
indagativa, onde as pessoas vão tentando se aproximar e a gente vai peneirando,
peneirando, peneirando... e aí eles vão pensando, elaborando, elaborando, elaborando uma
resposta e ali é feita a gravação como se diz no... através dos nossos sentidos, audição, visão
e tudo mais, nesse sentido o pensamento vai sendo elaborado, quer dizer, as respostas vão
sendo cada vez mais internalizadas.
Diferentemente do anterior, o DSC da IC F além de proporcionar a identificação da
modalidade de educação ambiental aplicada ao ecoturismo, também descreve subjetivamente
seu escopo teórico-metodológico, quando cita o trabalho desenvolvido de maneira indagativa,
no qual os aprendizes refletem e elaboram respostas para as questões/situações problema
apresentadas, ao mesmo tempo em que recebem estímulos sensoriais proporcionados pelas
experiências.
Dessa forma, acredita-se que por mais que nesse discurso não sejam evidentes os
estágios do aprendizado seqüencial, desenvolvidos por Cornell (1997), observa-se à
compreensão e, supostamente, a incorporação dos ideais preconizados por essa modalidade.
DSC da IC G – adestramento ambiental (idéia individual)
A gente procura fazer trilhas que explora toda a questão da... do respeito ao meio ambiente
no sentido de não arrancar nada, de não levar nada, de não deixar nada, é... não fazer nada
que vá prejudicar.
Contraditoriamente, o DSC da IC G apresenta uma forma de educação ambiental
bastante popularizada e discutida, bem como, ainda bastante utilizada pelo senso comum, que
procura evidenciar o certo e o errado, o que pode e o que não pode ser feito, por exemplo, em
um ambiente natural. Dessa forma, as inúmeras negações tem pouco significado a quem as
118
ouve e propiciam um condicionamento (adestramento) desse indivíduo, que é levado, afinal, a
não se questionar sobre o não fazer, o não poder, fazendo com que a menção do vocábulo não
se torne uma advertência sobre o que pode se ou não realizar.
Após essas perguntas iniciais, a pesquisa, por meio da questão 4, teve o intuito de
levantar quais os possíveis locais no PEISC que desenvolviam ecoturismo juntamente com a
educação ambiental. Inicialmente, conforme evidenciado na afirmação da questão, partiu-se
do pressuposto de que havia a necessidade de caracterizar a Ilha de Santa Catarina como um
Pólo de Ecoturismo, e que essa caracterização, devia-se ao fato de existirem nesse espaço
unidades de conservação. Ao mesmo tempo, pressupunha-se que os locais revelados pelas
respostas pudessem estar relacionados às unidades de conservação que compreendem o pólo.
Questão 4 – A Ilha de Santa Catarina foi caracterizada como ‘Pólo de Ecoturismo’ devido aos
recursos naturais existentes e, possivelmente, salvaguardados na forma de Unidades de
Conservação. Quais são os locais em que a realização do ecoturismo ocorre juntamente com a
educação ambiental?
DSC da IC A – a natureza é mestre (idéia individual)
Praticamente, quase todos os locais, da nossa parte, isso já é meio que acontece, dessa forma
meio que até indireta, pois as pessoas vão assimilá as coisas da natureza. A natureza é
mestre, né? Então, de alguma forma de certo grau sempre a educação ambiental acontece,
sempre!
Nesse primeiro DSC tem-se a constatação de que em todos os locais, independente de
sua localização, ocorre educação ambiental, basta esse local estar relacionado à natureza para
que a educação ambiental aconteça, afinal, a natureza é mestre na forma de ensinar.
Aparentemente, acredita-se na possibilidade de haver uma ‘educação’ indireta, proporcionada
pela natureza em estado puro, mas deve-se relembrar que o processo educacional necessita de
uma pessoa, um mediador, para que efetivamente aconteça. A educação e inclusive a
educação ambiental não ocorre por si só, ocorre na relação entre os indivíduos de uma
sociedade em busca de um determinado objetivo.
DSC da IC B – desconhecimento do pólo (idéia individual)
Mas em Floripa, na Grande Floripa, né? É o pólo está na grande Floripa, né?
119
Já nesse DSC, há a constatação inicialmente pressuposta de que ainda há o
desconhecimento da localização e, consequentemente, do conteúdo relacionado ao Programa
Pólos de Ecoturismo do Brasil, principalmente, no PEISC.
Esse desconhecimento é, possivelmente, resultante da falta de iniciativas e de
divulgação dos destinos que compõem o pólo, bem como, da falta de planejamento ou atenção
a esse segmento do turismo, o que pode ocasionar uma desestruturação na organização e no
planejamento da atividade de ecoturismo na região e em seu entorno.
DSC da IC C – locais que desenvolvem ecoturismo juntamente com educação ambiental
Os lugares que acontecem o ecoturismo são normalmente as áreas de parque, mas a gente
não trabalha só com os parques mas as áreas, as APPs também, tipo o Morro dos Ingleses, a
RPPN das Aranhas, arvorismo no Costão do Santinho e no Engenho Velho, o Parque
Florestal do Rio Vermelho, a trilha da Barra da Lagoa, a própria Barra da Lagoa, sund
board nas Dunas da Joaquina, no próprio Costão do Santinho, as trilhas da Moçambique, o
Parque Municipal da Galheta, as trilhas do Parque da Lagoinha do Leste, o Parque da
Lagoa do Peri, o Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, o entorno da Estação Ecológica do
Carijós, a APP da Costa da Lagoa, a APA de Anhatomirim, a Área de Proteção da Baleia
Franca e a Ilha do Campeche.
No DSC da IC C foram descritos os locais e as atividades que relacionam ecoturismo
com educação ambiental. Em relação aos locais, constata-se a menção à diferentes tipologias
de unidades de conservação, todas consideradas como enquanto espaços que abrigam o
desenvolvimento do ecoturismo e de suas atividades, as quais estão relacionadas tanto à
contemplação da natureza por meio das trilhas, quanto ao desenvolvimento de esportes com
certo grau de aventura, com risco e desafio, como o sund board e o arvorismo.
DSC da IC D – unidades de conservação sem planos de manejo (idéia individual)
Nenhuma das unidades de conservação que compõe o Arquipélago de Santa Catarina tem
plano de manejo, ou seja, nenhuma dessas unidades de conservação tem especificado as
áreas onde pode-se atuar ou não turisticamente, tá?
O DSC da IC D apresenta uma idéia equivocada sobre a falta de planos de manejo nas
unidades de conservação pertencentes ao ‘Arquipélago de Santa Catarina’. Efetivamente, a
falta de planos de manejo dificulta o desenvolvimento de qualquer atividade a ser realizada
naquele espaço, porém cabe salientar, por exemplo, que as unidades de conservação REBIO
Arvoredo e a Estação Ecológica Carijós dispõe de planos de manejo, e a APA de Anhatomirin
tem trabalhado no desenvolvimento de seu plano de manejo.
120
DSC da IC E – educação ambiental ocorre em função da empresa (idéia individual)
A gente faz em todos os lugares, onde tem atividade da Adrenailha ocorre educação
ambiental, mesmo aqui na praia dos Ingleses que não é uma unidade de conservação,
entendeu? Mesmo não sendo uma unidade de conservação, mas existe a parte de educação
ambiental, né?
Já no DSC da IC E atenta-se para o fato do comprometimento da empresa no
desenvolvimento da educação ambiental, ou seja, nesse caso a educação ambiental somente
ocorre em função da empresa escolher desenvolvê-la.
DSC da IC F – não há ecoturismo e educação ambiental no pólo (idéia individual)
Que eu me lembre, exatamente de fazer todas as relações de ecoturismo e educação
ambiental no polo, não me recordo. Não me recordo mesmo de existir essa relação direta.
Nesse último DSC da questão 4, atenta-se para o fato de que na visão desse agente e
ou operador de turismo na natureza, o PEISC não dispõe de atividades que relacionem
ecoturismo e educação. Desse modo, verifica-se a existência de uma variedade de discursos,
desde àqueles em que a educação ambiental ocorre em todas as atividades ecoturísticas, assim
como, esse discurso que nega a existência essa relação.
Ao mesmo tempo, possibilita a evidência de que há no PEISC atividades turísticas
realizadas na natureza, mas que estas não comportam a idéia e a filosofia do ecoturismo, por
não desenvolverem o seu caráter educativo.
Diante dessa multiplicidade de resultados e das possibilidades de inter-relações
provenientes das idéias dos DSCs apresentados, pretende-se, sucintamente, delimitar as
temáticas apresentadas na tentativa de uma melhor visualização dos resultados e para se
estabelecer um fechamento sobre as concepções desse grupo de entrevistados.
Então, nessa tentativa de ponderar as relações entre ecoturismo, educação ambiental e
o PEISC, salienta-se que, inicialmente, os agentes e operadores apresentam uma concepção de
ecoturismo que está dissociada do seu componente educação ambiental, da mesma forma que
a suposta educação ambiental desenvolvida por essas agências e operadoras ainda está voltada
ao nível escolar (formal) e em alguns casos remetam ao nível não formal, por apresentarem
características das modalidades de educação ambiental (AS e IA) porém, sugestivamente,
dissociadas de seus escopos teórico-metodológicos, o que as caracteriza como um
conglomerado de informações ambientais, descaracterizadas de um processo educativo.
121
Ao tentar, então, relacionar essas representações em um contexto prático, visualizou-se
que os espaços do PEISC apesar de disporem de significativos atrativos turísticos naturais,
ainda não relacionam as atividades, até então desenvolvidas, nesses espaços à idéias de
ecoturismo com seu componente educação ambiental. Os destinos que, supostamente,
conseguem promover essa relação estão inseridos no contexto das áreas naturais protegidas
(unidades de conservação), nesse sentido, justifica-se a aplicação de um roteiro de entrevista
aos gestores e ou responsáveis por esses espaços para compreender essa interação.
6.2.2 Discursos dos gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo do PEISC
Os DSCs dos gestores e ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo no PEISC tinha
o intuito de reconhecer a importância da educação ambiental no ecoturismo para a
conservação da natureza desses locais, conforme o objetivo específico 4 proposto nessa
pesquisa. Para tanto, elaborou-se oito questões, sendo que a primeira delas aplicada a esse
grupo referia-se ao entendimento dos mesmos quanto ao termo meio ambiente.
Primeiramente, pressupôs-se que os responsáveis pelo desenvolvimento da educação
ambiental no ecoturismo seriam exatamente os indivíduos diretamente relacionados aos
destinos, muito mais do que os agentes e operadores de turismo na natureza.
Por isso, teve-se o intuito de realizar essa primeira questão, pois pautado nos
pressupostos de Guerra (2001), Sato (2002) e Sauvé (1997), acreditou-se que a forma pela
qual este grupo de indivíduos entende o meio ambiente (representação social) seria a forma
pela qual os mesmos efetuariam suas práticas sociais relacionadas tanto ao ecoturismo quanto
à educação ambiental, já que esses dois termos e atividades supostamente desenvolvem-se em
um dos espaços que compõem o meio ambiente, o natural. Acreditou-se também que essa
mesma questão pudesse ter sido realizada ao grupo dos agentes, pois verificou-se que os
mesmos além de intermediários na venda e na relação entre o turista e os espaços para as
práticas turísticas, também são àqueles que desenvolvem e que executam as práticas de
educação ambiental no ecoturismo.
Os DSCs dessa questão, apresentados abaixo, tiveram suas ancoragens (AC)
relacionadas principalmente, às concepções de meio ambiente desenvolvidas por Sauvé
(1997), pois acreditou-se que desse modo haveria uma maior possibilidade de análise.
122
Questão 1 – Para o Sr. (a) o que quer dizer meio ambiente?
DSC da IC A – como lugar para viver
Meio ambiente é o lugar como um todo, meio em que a gente vive. Tudo é meio ambiente, a
gente tá inserido no meio ambiente. É considerado o conjunto de elementos, tudo que é
natural (natureza), o que é construído, o que é social, o que é cultural e o que é histórico, e
as relações que envolvem tanto a parte física, biológica, parte sócio-econômica, a parte
humana, sócio-ambiental.
Diante das concepções de meio ambiente desenvolvidas por Sauvé (1997), tem-se o
DSC da IC A caracterizado como lugar para se viver, o que representa a idéia do espaço de
vida e de inter-relações entre diversos elementos e que traz ao homem um sentimento de
pertencimento àquele espaço. Essa representação supostamente indica as relações existentes
entre a sociedade e a natureza e, ao mesmo tempo, indica o posicionamento que deve-se ter
em relação ao espaço a que se pertence, levando em conta as formas de conhecer, de planejar
e de cuidar desse espaço.
Apesar de não ter sido pontuado na forma de um DSC pode-se afirmar que a IC A,
quando cita que o meio ambiente é um conjunto de elementos que se relacionam com as
partes biofísicas, humanas, sócio-ambientais e sócio-econômicas, sugere a idéia de meio
ambiente como recurso para ser utilizado e gerenciado, balizado por uma relação pautada pela
sustentabilidade. Afinal, para essa concepção, o meio ambiente e principalmente os recursos
naturais, são bens de uso comum da sociedade e, por isso, devem ser usados de modo
sustentável.
DSC da IC B – como biosfera (idéia individual)
Seria as relações que ocorrem no Planeta, desde a biosfera, litosfera, hidrosfera, enfim...
Já o DSC da IC B relaciona o conceito de meio ambiente com o de biosfera, o que
representa a inter-relação entre os seres vivos e outros seres inanimados que habitam o
Planeta Terra. Essa compreensão proporciona a idéia de que é necessária uma consciência
planetária sobre a interdependência das relações desses seres, pois, de um modo geral, os
seres humanos também dependem desses ambientes, mesmo que indiretamente, para viver.
Para tanto, salienta-se como um dado interessante, que a concepção de meio ambiente
enquanto natureza em seu estado original (virgem), não foi evidenciada pelos entrevistados, o
que remete a uma idéia de mudança nas compreensões desse termo e isso, consequentemente,
poderá ocasionar novas formas de atuação em benefício, por exemplo, da conservação desses
123
espaços naturais, afinal, tem-se uma noção holística do que compreende o meio ambiente
(como um todo).
Cabe salientar também que essas concepções, na visão de Sauvé (1997), são
complementares, podendo ser relacionadas em diversas vertentes de atuação, como por
exemplo, nas áreas de educação ambiental e do ecoturismo.
A próxima questão, inclusive para o grupo de agentes, teve o intuito de compreender
o significado do ecoturismo, pressupondo-se tratar de uma representação social que,
possivelmente, nortearia a prática social e, consequentemente, o planejamento e a execução da
atividade nos destinos evidenciados na questão 4 do grupo dos agentes.
Questão 2 – Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?
DSC da IC A – relação do turismo ao meio ambiente com mínimo impacto
Seria essa relação do turismo ao meio ambiente, principalmente, natural, né? que enfatiza
como atrativo as características naturais. Um turismo de mínimo impacto, um turismo que
respeite o meio ambiente que degrade ele o mínimo possível, que vise a... eu acredito que seja
a conservação da natureza.
Inicialmente, tem-se no DSC da IC A a menção de que o ecoturismo constitui um
turismo relacionado ao meio ambiente, principalmente o natural, mas também constitui um
tipo de turismo que incorpora o desenvolvimento de práticas de mínimo impacto, visando a
conservação da natureza do ambiente utilizado.
Essa idéia é possivelmente marcada pelo reconhecimento e adoção do documento que,
instituído pelo setor público em âmbito nacional, norteia o desenvolvimento do ecoturismo no
país. Esse documento, intitulado Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo,
evidencia no conceito de ecoturismo essa preocupação com o meio ambiente natural visitado,
bem como, enfatiza o benefício de conservação da natureza como um dos objetivos e
princípios do ecoturismo.
DSC da IC B – banalização do ecoturismo
Essa palavra vem sendo utilizada de maneira aleatória, simplesmente, por agregar valor a
um tipo de trabalho, então, tem alguns lugares que você usa a palavra ecoturismo pra dizer
que você tá fazendo um turismo que se preocupa com a natureza e no fundo você só quer
explorar a natureza. Tanto o cara que trabalha na cavalgada, tanto o cara que trabalha com
trilha de moto no meio da selva, com a moto de dois tempos que polui pra caramba, o cara
muitas vezes pode falar que é ecoturismo. Então, eu acho que estão acontecendo muitas
distorções do quê que é ecoturismo mesmo e de quem faz realmente ecoturismo.
124
Conforme já visto em um DSC do grupo dos agentes, a banalização desse termo e,
consequentemente, da atividade de ecoturismo, também é vista no DSC da IC B pelo grupo
dos gestores. Isso pode ter sido ocasionado, tanto pela pluralidade dos termos, quanto pela
respectiva pluralidade de seus significados, o que evidencia um setor turístico ainda em busca
de seus ideais teóricos, apesar destes já terem sido academicamente preconizados, mas
também e talvez principalmente, em busca de constatações práticas do que efetivamente seja
ecoturismo.
Esse posicionamento é visto na última frase do DSC que ao mesmo tempo que instiga,
remete a uma reflexão do questionamento, afinal, quem efetivamente faz ecoturismo de
acordo com o que é conceituado como ecoturismo? (supostamente entendido conforme os
pressupostos do documento coordenado por Barros II e La Penha, 1994, p. 19).
DSC da IC C – exploração sustentável do meio natural com o turismo
A exploração desse meio natural que nós temos hoje com o turismo, pra dali tirar o seu
sustento. Uma coisa que seja econômica e ecologicamente sustentável do ponto de vista da
atividade.
Já no DSC da IC C o posicionamento sugere a idéia tanto de exploração do meio
ambiente como recurso, como de uma atividade que ‘explora’ esse meio ambiente de modo
sustentável, em função dos interesses e necessidades turísticas, ou seja, o ecoturismo embute
na atividade uma noção econômica, ao mesmo tempo em que tenta manter ecologicamente
sustentável o espaço explorado.
Nesse sentido, retoma-se os diálogos acerca das concepções de desenvolvimento
sustentável e sustentabilidade do turismo, ou de modo redundante, do ecoturismo, já que o
ecoturismo, historicamente, surge como uma alternativa contrária a um turismo de massa,
degradador da natureza. Ao mesmo tempo retoma-se as possibilidades de relacionar os
critérios de sustentabilidade propostos por Sachs (2000), como forma de tentar fazer do
ecoturismo uma atividade econômica e ao mesmo tempo ecologicamente sustentável, sendo
também necessária à inserção dos demais critérios para uma efetiva sustentabilidade da
atividade.
DSC da IC D – ecoturismo como processo educacional (idéia individual)
Seria o turismo em áreas naturais com o processo educacional em conjunto, né? e também
como o desenvolvimento das comunidades locais.
125
Nesse último DSC da questão, tem-se um posicionamento diferente dos demais, pelo
fato de apresentar o ecoturismo como atividade diretamente relacionada a um processo
educativo, assim como comprometida com o desenvolvimento da comunidade local,
conforme também já preconizava o conceito da atividade exposto no documento coordenado
por Barros II e La Penha (1994, p. 19).
A aplicação da terceira questão para esse grupo de entrevistados, teve o intuito de
compreender a forma como os estes entendem a educação ambiental e, supostamente, a forma
como a desenvolvem nos destinos (ao qual) em que são responsáveis pelo gerenciamento.
Ao mesmo tempo, pressupôs-se que com seus respectivos discursos, fosse possível
identificar algumas das características das modalidades de educação ambiental direta ou
indiretamente por estes aplicadas no turismo ou no ecoturismo, desenvolvido nas unidades de
conservação.
Questão 3 – Para o Sr. (a) o que quer dizer educação ambiental?
DSC da IC A – processo de sensibilização
É um processo de sensibilização, tem que ser construído ao longo do tempo, um processo
pedagógico, que insira educação ambiental. Sem a sensibilização, o conhecimento não
chega, por que as pessoas, também, se elas não desejarem elas podem ter o conhecimento e
faltar a vontade de trabalhar com esse meio ambiente, isso tá dentro do trabalho de educação
ambiental, lógico que as formas de conscientização isoladas elas são uma sensibilização,
quer dizer, menos que uma conscientização.
O DSC da IC A retrata a educação ambiental como um processo de sensibilização
construído a longo prazo, assim como todo processo educacional, que leva o indivíduo a se
conscientizar, conforme os pressupostos de Freire (1980) e Guimarães (2005). Dessa forma, o
indivíduo tem a possibilidade de adquirir informações e conhecimentos sobre o ambiente que
o cerca, sensibilizar-se diante dessa situação e agir por meio de novos valores e atitudes. Esse
pode ser considerado um processo de ação – reflexão – ação que a educação ambiental
proporciona, quando sensibiliza os envolvidos e faz com que os mesmo possam repensar seus
valores e suas atitudes, de modo que em um processo interior, consigam se auto-conscientizar.
DSC da IC B – educação ambiental crítica
A educação ambiental ela passa por toda e qualquer atividade que possa fazer com que a
pessoa ela avalie suas atitudes com relação ao ambiente em que ela está inserida e reflita
sobre isso, mudando o seu comportamento, visa a transformação, a sensibilidade das pessoas
no caso ambiental para a questão ambiental.
126
Em complemento a IC A, pode-se constatar no DSC da IC B que nesse processo de
educação ambiental, além da sensibilização e da conscientização, há um posicionamento
crítico pelo qual o indivíduo reflete sobre uma determinada situação ambiental, modifica seu
comportamento perante àquela situação e possivelmente a transforma. Esse processo também
pode ser comparado com os processos de aprendizagens de Guerra (2001) e de Delors et al
(2002), que resultam no saber poder, o saber da ação, da mudança social.
DSC da IC C – educação relacionada com o ambiente
Acho que toda educação tem a ver com o ambiente, envolve o conceito de meio ambiente e,
por isso, são muitos temas que envolvem a educação ambiental, então é complexo assim, é
bem amplo.
Diante do DSC da IC C, percebe-se que a educação e, em especial, a educação
ambiental é composta por diferentes e multi-variadas temáticas, e por isso, pode também ser
considerada uma área de estudo interdisciplinar. Salienta-se também que a educação
ambiental, por depender da ação de um mediador, pressupõe a adoção do conceito de meio
ambiente que o educador/mediador do processo de ensino-aprendizagem possui, e por isso é
importante desmistificar a compreensão de que o meio ambiente é apenas conformado pelo
meio ambiente natural.
Porém, ressalta-se que nessa pesquisa as relações diretas com o ambiente natural são
parte do foco de estudo, por tentar-se estabelecer que as estreitas relações entre o ecoturismo e
a educação ambiental ampliam as possibilidades de benefício da conservação da natureza. Ao
mesmo tempo, entende-se que é necessário compreender as relações proporcionadas em
outros âmbitos, como os critérios de sustentabilidade de Sachs (2000), para que se possa
compreender os resultados inerentes ao aspecto natural.
DSC da IC D – desenvolvimento da educação ambiental (idéia individual)
É desenvolvida de várias formas né? com vários métodos desde a sala de aula até em
ambientes naturais, com atividades lúdicas ou palestras ou através de atividades recreativas,
jogos.
O DSC da IC D representa a idéia de que há vários métodos para que a educação
ambiental seja desenvolvida, variando, por exemplo, desde o trabalho em sala de aula
(educação formal), até o trabalho diretamente relacionado aos ambientes naturais (educação
não formal ou ao ar livre).
127
DSC da IC E – descontentamento com o termo e com seu significado (idéia individual)
Até hoje eu não entendo o que é isso, ainda eu não sei porque inventaram esse termo, acho
que toda educação tem a ver com o ambiente.
Já o DSC da IC E reflete o descontentamento com o termo e o significado da educação
ambiental, isso porque, o entrevistado entende que toda educação tem relação direta com o
ambiente considerado em sua totalidade, sendo desnecessária a criação de um termo
específico que represente essa relação.
Diante disso, pode-se comparar esse descontentamento da educação ambiental com a
banalização do ecoturismo e obter a idéia de que se torna cada vez mais necessário descobrir
caminhos para a reversão dessa perda de sentido à que os termos educação ambiental,
ecoturismo e outras atividades inicialmente consideradas como ecológicas e sustentáveis
foram submetidos.
Após a evidência das representações sobre meio ambiente, ecoturismo e educação
ambiental, a quarta questão teve a pretensão de relacionar, ao menos parcialmente, essas
concepções, objetivando-se inclusive instigar questionamentos acerca das possibilidades do
ecoturismo, mesmo embasado nas ideologias e filosofias apresentadas, causar impactos
nocivos ao ambiente em que é desenvolvido, o natural. E, a partir disso, também incitar
confrontos entre as possíveis concepções preservacionistas e conservacionistas que seriam
apresentadas anteriormente.
Questão 4 – O Sr. (a) acredita que o ecoturismo possa ocasionar impactos nocivos no
ambiente natural? O Sr. (a) poderia me explicar por quê?
DSC da IC A – impactos dependem do planejamento
Sem dúvida pode tanto causar impactos positivos como negativos dependendo como forem
implementados, né? por exemplo, uma trilha mal feita pode causar uma erosão dependendo
da suscetibilidade da área, pode até causar uma perda significativa de solo, alteração na
área local, alterando inclusive a parte de estuário e isso pode causar outros impactos
decorrentes de uma procura assim, por exemplo, de um grande número de pessoas
freqüentam o ambiente faz com que toda a economia ali possa tá desenvolvendo de forma
negativa. Se você não tiver critério de como fazer isso, elas vão deixar de existir.
Desse modo, foi possível identificar no DSC da IC A que o ecoturismo remete a
geração de impactos positivos e negativos, dependendo a geração desses impactos apenas da
forma como uma determinada atividade é planejada. Assim, dependendo de como se planeja e
128
se implementa uma atividade, supostamente relacionada ao entendimento das temáticas
anteriores, pode-se prever a tipologia de impactos que será gerada.
O fato é que o ecoturismo, assim como toda atividade humana, principalmente,
àquelas realizadas em ambientes naturais, causa impactos tanto positivos quanto negativos.
Muitas vezes, os negativos são mais visíveis e proporcionam maiores repercussões, por isso,
essas atividades devem ser orientadas e planejadas na tentativa de além de prever, prevenir os
possíveis impactos ocasionados.
Assim, acredita-se que a educação ambiental como componente essencial do
ecoturismo, possa ser utilizada como uma estratégia para a contenção de impactos negativos
em ambientes naturais, bem como, possa ser utilizada também de outras diversas formas
dependendo apenas da forma como tanto as atividades de ecoturismo quanto de educação
ambiental são planejadas e se desenvolvem.
DSC da IC B – impactos dependem do profissional
Acredito, acredito... acredito porque isso são dos profissionais, é... muitas vezes o ecoturismo
é feito não só por questões de quem faz ou de quem opera o ecoturismo, mas muito mais por
questão de público, do público-alvo e as pessoas gostam de ir em áreas que ainda não foram
visitadas, mas tudo depende do profissional que tá trabalhando, qual é a formação, qual é o
entendimento dele de meio ambiente, como é que ele (ou ela) se relaciona com esse meio
ambiente...
Já no DSC da IC B, diferentemente da IC A, tem-se a evidência de que os impactos,
supostamente os negativos, têm a sua ocorrência dependendo apenas da atuação do
profissional relacionado àquela atividade, ou seja, a responsabilidade recai sobre o
profissional, que como visto anteriormente, depende inclusive de suas representações sociais
para compor (efetivará) a sua prática social.
Essa IC B também sugere que os impactos além de estarem relacionados ao
profissional, também encontram-se associados ao público que pratica determinada atividade,
supondo-se haver uma co-participação de responsabilidade sobre os impactos gerados nas
áreas visitadas.
DSC da IC C – fazer ecoturismo é diferente de explorar a natureza
Eu acredito, é aquela coisa, você querer explorar a natureza usando o conceito de
ecoturismo, você realmente tem que ter o interesse de fazer ecoturismo, não de explorar a
natureza, senão essa passa a ser um material de consumo, você vai visita, você acaba com o
local.
129
O DSC da IC C revela que os impactos também são gerados, pois utiliza-se da
terminologia e do conceito de ecoturismo para atender aos interesse econômicos, por
exemplo, de utilização e exploração da natureza, sendo que por vezes também é acrescido o
termo ‘sustentável’ nesse processo.
Talvez esse DSC possa explicar a suposta banalização do termo ecoturismo,
evidenciado pelos grupos entrevistados, afinal ao explorar a natureza utilizando-se da palavra
ecoturismo, tem-se a intenção que tê-lo exclusivamente como uma material de consumo e,
consequentemente, tem-se a condição de degradação do local.
Pressupondo-se que nessa última questão as respostas estariam relacionadas a crença
de que o ecoturismo causa impactos, inclusive nocivos à natureza, confeccionou-se e aplicouse a quinta questão no intuito de vislumbrar a educação ambiental como uma das formas de
minimização desses impactos negativos e como forma de compreender o porque poderia-se
considerá-la minimizadora desses impactos.
Questão 5 – O Sr. (a) acredita que a educação ambiental poderia minimizar os possíveis
impactos negativos advindos do ecoturismo? O Sr. (a) poderia me explicar por quê?
DSC da IC A – não há consciência do que se faz
Com certeza os próprios executores errôneos que a gente vê hoje, se tivessem consciência do
que realmente é turismo ou do que é esse processo que envolve a percepção da atividade
deles e eles entendessem quais as atividades que causem mais impactos e reduzissem os
impactos... Muita gente não tem consciência do que se faz. A relação hoje é muito forte ao
econômico, então, as pessoas visam muito o lucro e em função do lucro as questões do meio
ambiente natural elas deixam de ser prioridade.
O DSC da IC A releva a necessidade dos planejadores e dos executores repensarem e
ao mesmo tempo, conhecerem, entenderem o que realmente é turismo ou ecoturismo e, com
isso, proporcionar atividades relacionadas a minimização de impactos. Esse DSC também
demonstra o embate que se tem na relação do aspecto econômico (lucro) ao aspecto do meio
natural (conservação), como sendo, um impasse para que desenvolvam-se melhores práticas
ecoturísticas.
DSC da IC B – interação e sensibilização no meio ambiente (idéia individual)
Porque você faz as atividades de interação e sensibilização pra começar a entender o meio
ambiente e não atrapalhar...
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Da mesma forma como o DSC anterior, o DSC da IC B revela que ao começar a
entender o meio ambiente, começa-se também a interagir e, ao mesmo tempo, a sensibilizarse para com as questões ambientais, esse também pode ser considerado um processo
relacionado a ação – reflexão – ação de uma educação ambiental crítica.
DSC da IC C – lema do ecoturismo (idéia individual)
Eu penso assim sabe... você trabalha os conceitos... você ter sei lá certos... como eu posso
dizer... certos lemas do ecoturismo mesmo... objetivos que... que eu nem sei se tem realmente
definidos sabe... como geral, todo mundo ter aquele lema, aqueles objetivos e teria que ser
trabalhado do lugar que o turista vem.
Já o DSC da IC C, revela a necessidade de ter-se objetivos claramente definidos para o
planejamento e desenvolvimento, por exemplo, do ecoturismo. Salienta-se então, que esse
discurso provém do grupo de gestores ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo com
educação ambiental no PEISC e isso revela que nesse espaço, provavelmente, seja
desenvolvido atividades turísticas relacionadas à natureza e, possivelmente, dissociadas das
prerrogativas estabelecidas pelas Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo
(BARROS II; LA PENHA, 1994), que definiu o conceito e os objetivos para que essa
atividade fosse desenvolvida no Brasil.
DSC da IC D – processo contínuo e efetivo de educação com o envolvimento comunitário
Num processo contínuo e efetivo de educação com o envolvimento comunitário você tem
como diminuir esses impactos, envolvendo a comunidade no processo de implementação das
ações e da gestão do território, mas tem que ser através de uma qualificação e uma
capacitação contínua, um processo de divulgação e informação e pesquisa nas áreas para
que isso possa ser efetivamente implementado. Eu acho que esse processo de educação tem
como dar uma noção de coletividade ao ser humano.
Ao mesmo tempo, o DSC da IC D proporciona uma reflexão sobre o efetivo processo
de educação aplicado a um espaço por meio do envolvimento comunitário e revela que o
processo de educação pode minimizar os impactos negativos desde que esteja relacionado
com a participação da comunidade no planejamento e no desenvolvimento do mesmo.
Nesse sentido, relaciona-se esse DSC a modalidade de educação ambiental – Educação
no Processo de Gestão Ambiental (EPGA), que ao inserir a comunidade no processo de
planejamento do território, principalmente, relacionado às unidades de conservação, tenta
vislumbrar os problemas, os conflitos e as potencialidades ambientais relacionadas àquele
espaço como forma de minimizar os impactos gerados por atividades humanas, inclusive o
turismo.
131
A partir desse envolvimento, é interessante perceber a possibilidade que a educação
tem para proporcionar um senso de coletividade aos indivíduos relacionados direta ou
indiretamente com o espaço e, por exemplo, com as atividades turísticas. Dessa forma, essa
coletividade sente-se inserida e participa das ações, tornando-se responsável pelas situação
ambientais que o cercam.
A questão 6, foi aplicada com o intuito de vislumbrar as estratégias que poderiam ser
apropriadas e adaptadas pelo ecoturismo para a conservação da natureza, pressupondo-se
inclusive, que uma dessas estratégias poderia ser a educação ambiental.
Questão 6 – O Sr. (a) pode me explicar quais são as estratégias utilizadas para a conservação
da natureza?
DSC da IC A – várias estratégias
Tem várias, desde a aplicação da legislação com a criação de leis, de áreas protegidas, a
fiscalização, gestão de recursos, planejamento das atividades, até a educação. Tem que
caminhar com educação numa escala macro de tempo. O pessoal da muitos nomes como
chamar de desenvolvimento sustentável.
Inicialmente, o DSC da IC A revela que existem várias estratégias para a conservação
da natureza, mas que devem ao mesmo tempo, caminhar em consonância com o
desenvolvimento da educação em um planejamento a longo prazo.
Por outro lado, revela também que essas várias estratégias poderiam estar relacionadas
a terminologia do desenvolvimento sustentável e, desse modo, confirmar-se o posicionamento
do desenvolvimento sustentável ser uma medida conservacionista que pretende gerenciar os
recursos naturais para serem utilizados para e pela sociedade atual, bem como, que estejam
disponíveis para as sociedades futuras.
DSC da IC B – educação e conscientização
Tudo tem que passar pela conscientização, tem que passar pela educação. Primeiro a
sensibilização, colocar as pessoas em contato com o que é natural, a segunda é o
conhecimento. O cara tem que saber o quê que acontece, o fato dele estar inserido no meio
ambiente e entender qual é a função dele, meio o que ele pode estar fazendo. Depois é que se
pode cobrar, fazer alguma cobrança dos órgãos competentes, se falta o conhecimento como
ela vai lutar por uma área verde.
O DSC da IC B revela que a educação pode ser considerada uma estratégia para a
conservação da natureza e isso ocorre por um processo de conscientização do indivíduo, que
132
também pode ser considerado o processo de educação em si. O DSC proporciona o
entendimento desse processo quando cita que a partir do contato com a natureza, o indivíduo
sensibiliza-se e busca novos conhecimentos acerca, por exemplo, desse contato, desse
ambiente, com isso, ele entende o processo de funcionamento do meio ambiente e passa a agir
em benefício daquele espaço. Mais uma vez, pode-se comparar esse processo, com a ação –
reflexão – ação que leva os indivíduos a transformarem a realidade.
DSC da IC C – retirar o ser humano das áreas (idéia individual)
É você tirar o ser humano, deslocar das áreas naturais, partindo de uma premissa que o ser
humano não tem condições de cuidar do meio ambiente.
Já o DSC da IC C apresenta um posicionamento radical, o de retirar o ser humano das
áreas naturais ou impedir sua visitação por pressupor-se que o mesmo não tem condições para
cuidar do meio ambiente, sendo considerado degradador ou possivelmente o maior
responsável pelos danos ambientais.
DSC da IC D – fortalecimento dos órgãos ambientais (idéia individual)
No Brasil a gente sempre vê que o desenvolvimento é colocado a frente da conservação da
natureza e a gente percebe isso nos procedimentos dos órgãos ambientais, tanto federais,
quanto estaduais, quanto municipais, na fala de recursos, na falta de infra-estrutura, na falta
de pessoal, então, talvez a estratégia seja por aí... fortalecer os órgãos de gestão.
No DSC da IC D tem-se a proposta de conservação da natureza permeada a partir do
fortalecimento dos órgãos ambientais e, consequentemente, das políticas relacionadas ao meio
ambiente, pois os mesmos indispõem de inúmeras estruturas imprescindíveis para suas
atuações. Concomitantemente, revela que o desenvolvimento, normalmente, é colocado a
frente da conservação da natureza, o que demonstra uma falta de atuação política ou mesmo a
falta de interesses comuns de uma sociedade.
Em relação à temática das políticas ambientais e, principalmente, ao foco dessa
pesquisa, evidencia-se a necessidade de haver uma estruturação e uma comunicação
específica acerca das temáticas de ecoturismo e educação ambiental, nas Diretrizes para uma
Política Nacional de Ecoturismo (BARROS II; LA PENHA, 1994) e na Política Nacional de
Educação Ambiental (BRASIL, 1999).
DSC da IC E – envolvimento comunitário (idéia individual)
Para você conservar a natureza, as estratégias, você passa por educação ambiental, por
fiscalização, por mobilização comunitária, participação da comunidade, né?
133
No DSC da IC E a estratégia para a conservação da natureza evidenciada é novamente
a inserção e o envolvimento comunitário desenvolvidos juntamente com outras estratégias
como a educação ambiental, a fiscalização, entre outras. É importante ressaltar que a
participação da comunidade no processo de tomada de decisões ambientais, favorece tanto a
própria comunidade quanto seus visitantes e, isso, explica-se pois o foco em comum não está
nas pessoas mas, principalmente, na atuação das pessoas para com aquele espaço.
Na tentativa de relacionar as estratégias de conservação da natureza, que não agridam
o ambiente natural e, ao mesmo tempo, minimizar os impactos ocorridos por atividades direta
ou indiretamente relacionadas pelo ecoturismo, propôs-se a realização da questão 7, pois
trata-se de um fato ocorrido no cotidiano da sociedade e, supostamente, no interior das áreas
protegidas (principal local para o desenvolvimento do ecoturismo), inclusive pelos turistas. O
principal intuito dessa questão é compreender o porque esse comportamento social ocorre,
inclusive nas áreas naturais.
Questão 7 – Em muitos lugares se comenta sobre a conservação da natureza, mas parece que
no turismo isso não ocorre. Por exemplo, continua sendo jogado lixo no chão, inclusive em
áreas protegidas. Por que o Sr. (a) acha que isso acontece?
DSC da IC A – educação, informação e conscientização
Jogar lixo no chão não é falta de educação ambiental é falta de educação mesmo. Um pouco
é falta de educação, um pouco é falta de consideração, por que o homem as vezes... ele foi
muito educado nessa forma antropocêntrica de ser, né? Primeiro é a desinformação total, as
pessoas não conhecem, geralmente, aonde moram e, principalmente, a natureza que está a
sua volta, a biodiversidade, assim, a gente tem muita desinformação. Se a pessoa não tiver
consciência do que acontece com o lixo que ela joga fora ali, ela acha que alguém vai passar
e jogar no lixo. Ela não sabe da continuidade do processo, ela não tem entendimento do
impacto que ela tem no meio ambiente de todo o processo dela, enquanto as pessoas não
tiverem esse entendimento elas não vão conseguir fazer essa relação do porque preservar,
né? E que na realidade é dar um retorno, principalmente, pro ecoturismo, como é que uma
pessoa vai escolher uma praia para ir em que o empreendedor tá colocando o esgoto, tá
colocando... o próprio empreendimento pro turista.
Nesse sentido, o DSC da IC A proporciona a reflexão desse fato ocorrer em função da
educação, da informação e da conscientização, afinal como relembra o DSC ‘jogar lixo no
chão não é falta de educação ambiental é falta de educação mesmo’. A sociedade situa-se
diante do dilema da falta de educação e da falta de compromisso público com os ambientes
que a cercam. Nitidamente, falta a informação, falta a compreensão do processo como um
todo, afinal um problema ambiental também é um problema social.
134
Para tanto, evidencia-se a importância de uma educação ambiental informal para que
toda a sociedade disponha de informações sensibilizadoras e promotoras de atitudes em
benefício da natureza e, ao mesmo tempo, da vida social.
Em relação ao ecoturismo, deve-se tratar isso como um problema social, no qual as
atividades turísticas na natureza são co-parceiras e co-responsáveis na tentativa de diminuição
desse fato. Diante disso, um programa relacionado ao ecoturismo e as educações ambientais
formais, não-formais e informais são de suma importância, bem como, o desenvolvimento de
atividades ecoturísticas pautadas pelas modalidades de educação ambiental não-formal ao ar
livre (AS, IA, EE) e baseadas no processo educativo desenvolvido por Guerra (2001) e
adaptado por essa pesquisa.
DSC da IC B – adestramento ambiental (idéia individual)
Uma coisa é ter educação ambiental, outra coisa é adestramento ambiental... não joga lixo,
não joga lixo, não joga lixo... ah tá não joga lixo porque? Tem que entender a essência da
história e não as simples aparência.
Essa pergunta também proporcionou o DSC da IC B que retrata, em partes, algumas
iniciativas de educação ambiental que promovem o chamado adestramento ambiental, ou seja,
a tentativa subjetiva de ensinar o correto comportamento social, por exemplo, em áreas
naturais. Assim, o não jogue lixo, não pise nisso, não arranque isso, não... acabam por
evidenciar um comportamento não aprendido, mas influenciado e adestrado dos indivíduos.
DSC da IC C – descomprometimento com o local
Eu não vejo as pessoas, não digo todas, mas também não sei dizer se a maioria que fazem o
turismo, entendem aquela área enquanto um bem de consumo, ele tá pagando pra utilizar
essa área e a pessoa acha que nada mais justo que ele tá pagando aquela área tem o direito
de usar como bem entender, então, alguns conceitos já estão enraizados, mesmo nessa
sociedade, vem de tempos e continua sim, mas a sociedade está cobrando mais, é uma
mudança de paradigma.
Entretanto, o DSC da IC C revela sem muita exatidão, mas com veracidade a falta de
compromisso que a sociedade e, nesse caso, os turistas têm com o local que visitam. Afinal,
pensa-se que por necessitar pagar para usufruir de um local, pode-se utilizá-lo como bem lhe
convir. Nesse sentido, pode-se relacionar esse DSC com outros que retratavam que o aspecto
econômico sobressai ao ambiental, o que retratava a falta de educação e, mesmo, o que
retratava a necessidade de um senso de coletividade à sociedade.
135
Diante dessas exposições, a questão 8 foi elaborada a partir do pressuposto de que a
educação ambiental poderia ser considerada tanto uma ferramenta, quanto um meio para o
planejamento e desenvolvimento do ecoturismo em benefício da conservação da natureza.
Concomitantemente a isso, pressupôs-se também que os atores sociais envolvidos com o
ecoturismo desconhecessem as formas pelas quais a educação ambiental poderia ser aplicada
ao ecoturismo e, com isso, tentou-se descobrir as modalidades de educação ambiental ou as
características dessas modalidades no trabalho desses atores no ecoturismo.
Questão 8 – Agora, eu vou dizer uma frase e quero saber se o Sr. (a) concorda ou discorda e
por que. A frase é: A educação ambiental pode ser uma ferramenta do ecoturismo para a
conservação da natureza mas, pouco se sabe sobre quais e como são desenvolvidas as
modalidades (metodologias) de educação ambiental nessa atividade.
DSC da IC A – A educação ambiental como ferramenta do ecoturismo para a conservação da
natureza
A educação com certeza é e pode ser uma ferramenta para a conservação da natureza dentro
do ecoturismo e deve ser, né? pode haver as duas coisas, você pode trabalhar com a
educação ambiental dentro do ecoturismo, pode trabalhar com o ecoturismo como uma
ferramenta num planejamento de educação ambiental, uma vez que quem trabalha com essas
atividades tá trabalhando com pessoas, tá trabalhando dentro de áreas, geralmente, com
grande relevância ecológica e ali há um potencial gigantesco para você trabalhar diversos
temas, pegar seja na escalada, no rafting, vôo livre, em trilhas ou simplesmente uma
recreação no rio, uma natação, enfim... Ela é feita das mais diversas formas e tem formas que
acabam sendo um adestramento da pessoa que também não leva a nada. Nós trabalhamos
com palestras, por exemplo, palestras tanto aqui, dentro de sala de aula (auditório), como
também em campo, a parte de jogos, atividades né? que envolvam as... por exemplo, as
questões sensoriais da pessoa... tato, audição, visão, observação, desenho – a parte artística.
Dentro desse processo das unidades de conservação trabalhar a educação ambiental com os
turistas é muito difícil porque você não educa o turista, você sensibiliza ele, porque ele vem
uma vez aqui e vai embora, de repente nunca mais vai aparecer, então, não posso falar que
eu fiz uma educação. Educação é se eu tivesse um acompanhamento desse turista, ele viesse
várias vezes aqui, tivesse um contato com a gente e tal.
No DSC da IC A constata-se a possibilidade da educação ambiental ser, além de um
dos componentes, uma ferramenta do ecoturismo para a conservação da natureza, bem como,
do ecoturismo também ser entendido como um meio ao planejamento da educação ambiental.
Dessa forma, acredita-se que essas duas áreas configuram-se simetricamente como
componente e ferramenta de um processo indissociável de planejamento de suas atividades.
Esse DSC apresenta ainda algumas formas pelas quais a educação ambiental pode ser
trabalhada no ecoturismo, variando desde palestras em um sentido mais formal de atuação, até
mesmo por meio de atividades recreativas, relacionadas ao aspecto não-formal, que envolvem
136
os jogos, bem como, os sentidos dos indivíduos. Mesmo assim, deixa de relevar a forma
sistematizada de como esse processo ocorre, bem como, suas características, suas vantagens e
desvantagens.
O DSC levanta ainda, a questão de que trabalhar com ações educativas em atividades
turísticas é algo difícil, pois não se educa o turista, apenas o sensibiliza. Ressalta-se, nesse
caso, que o ato da sensibilização faz parte do processo de educação, sendo talvez a sua
primeira etapa e, nesse sentido, se o indivíduo não estiver, por exemplo, sensibilizado / tocado
às questões sócio-ambientais relacionadas à sua realidade, não atingirá a dimensão da
aprendizagem relacionada ao saber poder.
DSC da IC B – desconhecimento das metodologias de educação ambiental
É eu não conheço muito as ações de educação ambiental desenvolvidas no turismo e que
tenham dado os resultados... conheço muito pouco, realmente, eu não seria a pessoa ideal
pra dá essa avaliação, mas acho que as metodologias de educação desenvolvidas por essas
atividades, na verdade existem sistematizadas dessas informações, só que elas são muito
isoladas, não é que não se sabe, é tem uma coisa lá outra coisa num sei aonde. O que talvez
não se conhece não é tanto as metodologias, mas é o status, eu acho, o status dessa atividade
no ecoturismo, ou seja, como é que as pessoas hoje é... tão fazendo isso, ou se tão ou não tão
mas, método tem, vários tipos de métodos diferentes e tem bastante material sistematizado, só
que não concentrado, se encontra num local aqui, outro lá
Em complemento as idéias explanadas acima, o DSC da IC B demonstra que por mais
que se tenham métodos, metodologias, enfim, que se tenha formas de realizar a educação
ambiental ainda há o desconhecimento de seus escopos teóricos-metodológicos e,
consequentemente, a realização de práticas educacionais despretensiosas.
DSC da IC C – educação ambiental formal
Concordo, concordo plenamente! A gente se coloca aí a disposição das universidades em
todos os cursos pra tá fazendo sensibilização ambiental, pra tá passando conhecimento, pra
tá fazendo um trabalho mais contínuo e aí sim envolver um processo de educação, por
exemplo, as escolas, trabalhar a educação ambiental nas escolas. Só que o que acontece são
poucas as universidades ainda hoje que colocam isso dentro do seu currículo, né? E a
metodologia desse trabalho é primeiro sensibilizar, depois trabalhar com o conteúdo
realmente, como o conhecimento, as informações e aí então, o contato, o contato direto.
Já o DSC da IC C revela, primeiramente, a idéia sobre uma educação ambiental ainda
bastante arraigada ao ensino formal (escolar), além do mais, coloca em pauta o diálogo sobre
a inserção da educação ambiental no currículo escolar. Posteriormente, explicita uma forma
sistematizada de trabalhar a educação, que possivelmente, pode ser adaptada às atividades de
ecoturismo.
137
A partir dessa, também, multiplicidade de resultados, tenta-se delimitar e apontar as
principais temáticas e inter-relações sobre as relações entre ecoturismo e educação ambiental
desenvolvidos nos espaços (unidades de conservação) indicados anteriormente e a
possibilidade da educação ambiental ser uma efetiva ferramenta do ecoturismo para a
conservação da natureza por meio do desenvolvimento das modalidades de educação
ambiental apresentadas.
Desse modo, salienta-se que mesmo possuindo uma representação de meio ambiente
relacionada a um lugar para se viver (fonte da vida), os gestores ou responsáveis pelos
destinos de ecoturismo do PEISC ainda apresentam a dupla idéia de que o ecoturismo está
voltado ao mínimo impacto, bem como, pode ser uma maneira de ‘explorar sustentavelmente’
o espaço natural, ainda sim, sem sequer vincular o ecoturismo à educação ambiental ou viceversa.
Com isso, percebe-se que a educação ambiental, possivelmente diante de suas
concepções teóricas, poderia auxiliar o ecoturismo no alcance do mínimo impacto ou da
‘exploração sustentável’ do espaço natural na tentativa de se conservar a natureza, para que
possa-se continuar a dispor de significativos atrativos turísticos.
Apesar dos discursos sugerirem um processo educativo (além de outras formas), por
meio da sensibilização e da conscientização, como forma de se desenvolver a educação
ambiental para a conservação da natureza, percebe-se que ao aplicá-lo no ecoturismo, vinculase o seu desenvolvimento ao ensino formal.
Elucida-se também, que a educação ambiental pode e deve ser uma ferramenta ao
planejamento e ao desenvolvimento do ecoturismo, bem como, o ecoturismo pode ser um dos
meios para o desenvolvimento da educação ambiental, mas os discursos sugerem ainda o
desconhecimento dos modos não-formais de se aplicar a educação ambiental no ecoturismo, o
que dificulta o alcance de alguns dos objetivos da educação ambiental (transformação social –
dos valores e atitudes ambientais), assim como, do ecoturismo (conservação da natureza).
138
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ecoturismo, mesmo sendo considerado uma atividade voltada aos ideais
ambientalistas e ao critério de sustentabilidade ambiental, ainda sim, causa impactos nocivos
aos ambientes naturais onde ocorre, pressupondo-se portanto, a necessidade de haver
estratégias e ferramentas que auxiliem no controle desses impactos. A possibilidade,
preconizada e identificada nessa pesquisa, para fazer frente a esta necessidade é a aplicação
das modalidades de educação ambiental (AS, IA, EE e EPGA) ao ecoturismo, dessa forma,
justifica-se por meio dos resultados os objetivos propostos no início da pesquisa, que estavam
relacionados, prioritariamente, à relação entre o ecoturismo e a educação ambiental, e à
identificação das modalidades de educação ambiental aplicadas ao ecoturismo.
Essas modalidades foram consideradas envolventes e reveladoras de sensações e de
percepções humanas que possibilitam o desenvolvimento de atitudes e de comportamentos
que estejam diretamente relacionados ao benefício de conservação da natureza nas áreas
utilizadas para a prática das atividades ecoturísticas. Conhecer e entender os processos
inerentes e intrínsecos à essas modalidades representa uma potencial possibilidade de se
planejar e se desenvolver atividades de ecoturismo efetivamente sustentáveis, pelo menos do
ponto de vista educacional.
Nesse sentido, revelam-se as relações existentes entre o ecoturismo e a educação
ambiental, afinal, atuam simultaneamente como meio e como fim em um processo revelador
e transformador de valores e atitudes que visam a formação individual e coletiva, além da
manutenção da qualidade de vida humana na Terra. Isso se deve ao processo histórico
percorrido por essas áreas de atuação, com a evolução dos movimentos ambientalistas e com a
disseminação da consciência ambiental.
Por outro lado, identifica-se a necessidade de uma maior vinculação e um maior
envolvimento na institucionalização dessas relações, sendo permeadas por estratégias e ações
inerentes as ‘Diretrizes para uma Política Nacional de Ecoturismo’ e a ‘Política Nacional de
Educação Ambiental’.
Em conseqüência desses fatos, tem-se atualmente um pensamento relacionado às
temáticas ambientais muito mais em função de um posicionamento mercadológico do que de
um posicionamento ideológico. E nesse sentido, as concepções de ecoturismo por vezes
buscam um reposionamento frente as tendências turístico-econômicas globais.
139
Para tanto, entender as representações sociais (pensamentos e ideologias) dos atores
sociais envolvidos no processo de planejamento e desenvolvimento do ecoturismo no PEISC,
que nesse caso, constituiu-se dos agentes e operadores de turismo na natureza, e dos gestores
e ou responsáveis pelos destinos de ecoturismo nesse pólo, conforme proposto pelos objetivos
iniciais da pesquisa, permitiu uma tentativa de compreensão de suas práticas sociais (atuação
prática), e isso, consequentemente, proporcionou novas possibilidades de direcionamento das
atividades ecoturísticas, inclusive melhor relacionadas ao componente educacional.
Diante disso, acredita-se que essa pesquisa possa contribuir para uma reflexão
diretamente relacionada às temáticas envolvidas, bem como, para uma compreensão dos
elementos que compõem essa relação, possibilitando ainda, aos interessados diferentes formas
de pensamento e, consequentemente, de atuação no mercado turístico.
Em relação aos discursos dos entrevistados, considera-se que esses revelam, além do
posicionamento reflexivo e profissional, tendências acerca do planejamento das atividades
ecoturísticas com ênfase na educação ambiental. Ao mesmo tempo, cabe evidenciar que por
mais que pressuponha-se e que concorde-se com Ruscheinsky (2002) no sentido de que as
representações sociais prescrevam as práticas sociais, salienta-se que essa pesquisa foi
realizada sem a condição de ser uma pesquisa de campo e, por isso, não pode-se afirmar com
veracidade as realidades das práticas turísticas e de educação ambiental ocorridas em campo
(PEISC) e, principalmente, nas unidades de conservação formadoras do pólo.
Ainda sobre os discursos, a utilização da técnica de análise do Discurso do Sujeito
Coletivo (DSC) proposto por Lefèvre e Lefèvre (2003), proporcionou o alcance de uma
multiplicidade de resultados acerca dos conteúdos investigados e, ao mesmo tempo,
possibilitou determinar não apenas os aspectos principais dos resultados mas, sim, uma
enriquecida reflexão sobre os objetivos propostos. Isso demonstra que a análise qualitativa
proporcionada por essa técnica, revela um enorme e significativo potencial reflexivo sobre os
resultados.
Considerando pontualmente os resultados obtidos pelos DSC, verificou-se que os
grupos de entrevistados vislumbram a possibilidade da educação ambiental ser uma
ferramenta essencial ao planejamento e ao desenvolvimento do ecoturismo, bem como, o
ecoturismo ser um dos meios de desenvolvimento da educação ambiental não-formal ao ar
livre, por meio das modalidades de educação ambiental AS, IA e EE, mais voltadas a um
enfoque lúdico, recreacional e reflexivo e também pela EPGA, mais voltada a um enfoque
crítico (GUIMARÃES, 2005).
140
Diante dessa relação evidenciada, pode-se dizer que o PEISC caminha na direção da
delimitação das atividades turísticas em função da pluralidade do ecoturismo (PIRES, 2002;
SERRANO, 2000b), bem como, na tentativa de inserção de uma educação ambiental nãoformal ao ar livre no processo ecoturístico como forma de atingir objetivos econômicos, como
a rentabilidade das comunidades locais, e os objetivos conservacionistas, como a proteção da
natureza.
Ainda em relação a técnica do DSC, acredita-se na possibilidade de ser utilizada pela
área das Ciências Sociais Aplicadas, inclusive nos estudos relacionados ao turismo e,
principalmente, por este ser um fenômeno social, possivelmente, melhor explicado pelos
atores sociais envolvidos nesse processo. Assim como, há a possibilidade de utilizar-se a
técnica do DSC na área da educação ambiental por estar diretamente relacionada e pautada
pelo fenômeno social e, por ser necessário compreender seu processo de desenvolvimento por
meio das representações sociais de meio ambiente de seus envolvidos.
Assim, para um maior aprofundamento e expansão do conhecimento sobre as
temáticas abordadas, sugere-se como novas perspectivas de investigação a possibilidade de a
partir dessa pesquisa analisar em cada destino (in loco) de ecoturismo do PEISC (unidades de
conservação) a relação do desenvolvimento das práticas de ecoturismo com a educação
ambiental. Essa sugestão de pesquisa confrontaria as representações sociais, evidenciadas na
presente pesquisa, com as práticas sociais realizadas nesses locais, possibilitando a análise de
uma relação mais qualitativa entre o ecoturismo e a educação ambiental nesse pólo.
Sugere-se também o estudo do desenvolvimento de atividades turísticas na natureza,
em unidades de conservação desse ou de outros pólos ou, mesmo, em ‘destinos de
ecoturismo’, que estejam baseadas nas modalidades de educação ambiental (AS, IA e EE),
para que seja realizado um acompanhamento das transformações de valores e atitudes
proporcionadas pelas modalidades de educação ambiental supracitadas em relação aos turistas
envolvidos. Esse acompanhamento poderia ser efetivado pela aplicação de um roteiro de
entrevistas posteriormente analisadas pela técnica do DSC, juntamente, com um formulário de
análise das atitudes e comportamentos do turista, pontuados pela percepção do pesquisador no
momento da atividade, bem como, em futuros contatos com aquele turista.
Outra possibilidade de efetivar a inserção da educação ambiental no ecoturismo,
principalmente no contexto das unidades de conservação, seria a implementação da EPGA
como forma de intervenção educativa na realidade social e ambiental daquele local e,
consequentemente, nas atividades turísticas de um modo geral.
141
Diante dessas possibilidades de pesquisa e da inserção das modalidades de educação
ambiental em atividades turísticas em meio à natureza, recomenda-se o estudo do ‘Processo
de educação ambiental aplicado ao ecoturismo’ como uma forma concreta de trabalhar a
educação ambiental no ecoturismo e como uma forma de garantir o alcance das dimensões de
aprendizagem pela prática turística.
Com isso, portanto, acredita-se que as pesquisas acadêmicas (teórico-empíricas)
enobrecem, engrandecessem e enriquecem o vasto campo do conhecimento a qual pertence o
turismo, por isso, relacionar as áreas temáticas de ecoturismo e educação ambiental,
identificar as modalidades de educação ambiental, possivelmente, aplicadas no ecoturismo e
compreender o pensamento dos atores sociais envolvidos nos processos de planejamento e
desenvolvimento dessas áreas, traz a tona novas e prósperas possibilidades de se repensar e
replanejar as atuais práticas desenvolvidas.
142
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154
9 APÊNDICES
155
APÊNDICE A
Roteiro de entrevista com os agentes e operadores de turismo na natureza de
Florianópolis
1) O Sr. (a) utiliza-se do ecoturismo como produto de venda ao consumidor / turista?
2) Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?
3) Um dos critérios para as atividades turísticas serem denominadas de ecoturismo é a
existência do componente educativo (educação ambiental). Como o Sr. (a) trabalha com a
educação ambiental?
4) A Ilha de Santa Catarina foi caracterizada como um ‘Pólo de Ecoturismo’ devido aos
recursos naturais existentes e, possivelmente, salvaguardados na forma de Unidades de
Conservação. Quais são os locais em que a realização do ecoturismo ocorre juntamente
com a educação ambiental?
156
APÊNDICE B
Roteiro de entrevista com os gestores e ou responsáveis pelas Unidades de Conservação
existentes no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina
1) Para o Sr. (a) o que quer dizer meio ambiente?
2) Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?
3) Para o Sr. (a) o que quer dizer educação ambiental?
4) O Sr. (a) acredita que o ecoturismo possa ocasionar impactos nocivos ao ambiente natural?
O Sr. (a) poderia me explicar por quê?
5) O Sr. (a) acredita que a educação ambiental poderia minimizar os possíveis impactos
negativos advindos do ecoturismo? O Sr. (a) poderia me explicar por quê?
6) O Sr. (a) pode me explicar quais são as estratégias utilizadas para a conservação da
natureza?
7) Em muitos lugares se comenta sobre a conservação da natureza, mas parece que no
turismo isso não ocorre. Por exemplo, continua sendo jogado lixo no chão, inclusive em
áreas protegidas. Por que o Sr. (a) acha que isso acontece?
8) Agora, eu vou dizer uma frase e quero saber se o Sr. (a) concorda ou discorda e por que. A
frase é: A educação ambiental pode ser uma ferramenta do ecoturismo para a conservação
da natureza mas, pouco se sabe sobre quais e como são desenvolvidas as modalidades
(metodologias) de educação ambiental nessa atividade.
157
APÊNDICE C
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Fui informado (a) de que será realizada uma pesquisa intitulada: “Ecoturismo e
educação ambiental no Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina”, sob a responsabilidade
do Prof. Dr. Paulo dos Santos Pires (Orientador) e do mestrando Fernando Protti Bueno
(Pesquisador), respectivamente docente e discentes do curso de pós-graduação stricto sensu
em turismo e hotelaria – programa de mestrado acadêmico da UNIVALI – Universidade do
Vale do Itajaí.
Caso eu aceite participar dessa pesquisa, serei entrevistado(a) por meio de um roteiro
de entrevista estruturado e durante a entrevista serão realizadas algumas perguntas de caráter
pessoal e profissional.
O meu nome jamais será mencionado quando forem apresentados os resultados da
pesquisa, mas autorizo a mencionar o nome dessa empresa e ou dessa unidade de
conservação. Para garantir o sigilo nominal, o gravador utilizado para a realização da
entrevista apenas será utilizado a partir do início das perguntas, para que ninguém, além do
pesquisador, possa saber quem é a pessoa que foi entrevistada. Não recebi qualquer
pagamento para participar dessa pesquisa. Não sofrerei nenhum prejuízo ou punição se,
mesmo depois de iniciar a entrevista, eu resolver parar ou não me dispuser a responder a
alguma ou algumas perguntas.
Se eu estiver de acordo em participar da pesquisa, ser-me-á pedido para assinar, junto
com o pesquisador este Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Caso eu prefira não
assinar, minha decisão será respeitada e isso não me impedirá de participar da pesquisa.
Após ter recebido as informações acima, este Termo de Consentimento foi lido e eu
decidi participar desta pesquisa de forma livre e esclarecida.
Balneário Camboriú, 06 de março de 2006.
_____________________________________ _____________________________________
Assinatura do Entrevistado(a)
Assinatura do Pesquisador
Nome do Entrevistado (a)
Fernando Protti Bueno
158
APÊNDICE D
Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas aos agentes e operadores de
turismo na natureza do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina
Legenda:
ECH da IC = está em itálico
ECH da AC = está sublinhado
Intervenções do entrevistador = estão em negrito
Questão 1 – O Sr. (a) utiliza-se do ecoturismo como produto de venda ao consumidor /
turista?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
Eu utilizo, né? Eu trabalho, digamos, (1º idéia): trabalha
A
formalmente com o ecoturismo, com firma e formalmente;
cnpj já a aproximadamente 12 anos e
A
informalmente, né? é ou seja, antes do registro
eu trabalhava desde 86, por aí né?
Sim.
Sim;
B
Bem, se a gente parar para pensar exatamente (1º idéia): utiliza
C
no conceito do ecoturismo ou da palavra por estar no nome;
ecoturismo, a gente... se for ver no nome da
A
Ekoeté (exemplo de ecoturismo) até se utiliza, (2º idéia): utilizamas a gente começou a tomar um outra se de atividades de
conotação aí. Tá utilizando de atividades de aventura em meio
aventura em meio a natureza, tirando um pouco a natureza;
de foco a palavra ecoturismo, né?
A
Sim, é uma... o ecoturismo é o produto de venda (1º idéia):
D
da minha empresa, por isso, é Recrearte ecoturismo
é
Ecoturismo, entendeu? O Eco de Recrearte, né? produto de venda
da empresa;
A
Com certeza, se utiliza não só do ecoturismo, (1º idéia): utilizaE
mas de toda a filosofia da atividade. Ecoturismo se não só do
é uma das bases da empresa, então é ecoturismo, mas
ecoturismo, cultura e aventura. É um tripé, de toda filosofia
então a empresa é baseada nesses três fatores, e da atividade;
isso, gera as viagens pedagógicas que a gente
A
faz, que tentam sempre integrar três coisas, tem (2º idéia): empresa
o lúdico, né?
baseada no tripé
ecoturismo,
cultura e aventura,
que
gera
as
viagens
pedagógicas;
A
159
Questão 2 – Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?
InforExpressões Chave
mantes
É seria um turismo mais é junto a natureza né?
A
e uma forma mais íntima, assim né? o contato
que busca talvez estreitar, assim um pouco, o...
resgatar o contato do homem com a natureza,
uma forma mais íntima, né? Eu vejo assim, o
turismo as vezes massivo, o turista vai a
determinados ambientes, mas o turismo não tá
assim muito talvez é o foco não é a intimidade,
né? o ecoturismo eu acho que é essa coisa da
intimidade, né? com a natureza, com os
elementos naturais. Eu acho que isso que é legal
do ecoturismo, né? assim ficar íntimo da
cachoeira, da água, de uma rocha né? de tocar,
assim, isso é o ecoturismo.
Bom, ecoturismo tá dentro de turismo
B
sustentável, né? turismo sustentável é um
círculo maior e ecoturismo se insere dentro
dele. Dentro do ecoturismo se insere os esportes
de aventura ou turismo de aventura, que
permeiam os dois, dentro de ecoturismo e
turismo sustentável. E aí vem em cima tudo
aquilo... prevê energia, prevê gastos de matériaprima, prevê impactos ambientais, sócio
culturais, sócio ambientais, prevê... fazer de
uma forma que o turismo realmente seja
sustentável, quer dizer, você não pode matar a
‘galinha dos ovos de ouro’, você não pode
destruir o ambiente, destruir os atrativos
naturais com construções, com vias de acesso
que as vezes deixam, tornam vamos dizer assim,
seu objetivo, seu atrativo muito rápido, né? onde
as pessoas as vezes antes levavam dois dias e aí
com o asfalto passam a ser em um dia só visitam
o ambiente. Então, quer dizer, tudo tem que ser
muito bem pensado e pra mim ecoturismo é
isso, principalmente, valorizar a parte ecológica,
cultural, histórica e tudo que tenha maior valor
do lugar de uma forma que você tenha
rendimentos, tenha lucros, né? que você
prejudique de forma nenhuma o local.
No modo geral, sucintamente, ecoturismo é uma
C
relação entre a sociedade, a parte econômica, a
parte ambiental nas quais se tem como um dos
principais objetivos a conservação da natureza.
Nesse sentido, como um turismo de aventura ou
como um turismo ecológico, quando se diz na
contemplação da natureza, nessas questões aí.
Idéias Centrais
Ancoragem
(1º idéia): turismo intimidade
junto a natureza;
com
a
natureza
A
A
(2º idéia): contato
do homem com a
natureza.
A
(1º idéia):
Desenvolviecoturismo
tá mento
dentro de turismo sustentável
sustentável;
B
B
(2º
idéia):
os
esportes ou o
turismo
de
aventrura
está
inserido
no
ecoturismo ;
B
(3º idéia):
sustentabilidade
pela minimização
de impactos;
B
(1º idéia): relação
entre a sociedade,
a parte econômica
e
a
parte
ambiental;
B
(2º
idéia):
a
Sustentabilidade;
B
Conservacionista;
B
160
D
E
Bom, aquela definição do Ceballos é... a que o
Brasil passou a aceitar, eu acho que é tudo
aquilo que ele colocou, de forma cuidada,
elaborada, pensada, né? sincronizada até. Mas
ele, ah... Pra mim, o ecoturismo além disso,
envolve muito mais com o sentimento de
descoberta que as pessoas, é... só passam a
sentir a partir do momento que conseguem
intimamente entrar em contato com a natureza.
E lá naquela definição técnica, não é... não
coloca isso, não escreve isso. Economicamente,
socialmente, culturalmente, ok! mas não fala
dessa íntima relação homem e natureza da qual
nós somos filhos e não dono.
Eu acho que é complicado o fato como... a
forma como o ecoturismo, a palavra eco foi
banalizada, né? Hoje em dia assim, as pessoas
se utilizam da palavra eco, ecologia, ecoturismo
pra tá vendendo e pra tá criando uma imagem
de que respeita a natureza, tudo isso. Acho que
o ecoturismo é uma coisa mais profunda assim
né? é uma prática de atividades ligadas à
natureza, é uma integração com a natureza, é o
respeito à natureza, então, é toda uma questão
que você está se utilizando da natureza, você tá
respeitando a natureza, você está integrado a
natureza e você tá... é o seu limite e o limite da
natureza, é o equilíbrio do que você consegue...
do que você pode fazer e do que a natureza
pode te dá. Aí a gente entra em toda essa
questão de sustentabilidade né? de você
garantir que isso seja mantido para as próximas
gerações, enfim... e acho que assim, o
ecoturismo é uma prática, é uma atividade, são
atividades, são saídas, são viagens ou como
quiser chamar, considerar, mais de um dia,
menos de um dia, mas é uma prática ligada a
natureza com o deslocamento, com a viagem, é
uma ligação do turismo com a ecologia e com a
natureza.
conservação
da
natureza;
B
(1º idéia):
Intimidade no
definição
do contato com a
Ceballos de forma natureza;
cuidada,
A
elaborada,
pensada;
B
(2º idéia):
sentimento
de
descoberta,
de
intimidade com a
natureza;
A
(1º
idéia):
a Banalização
palavra ecoturismo do
foi banalizada;
ecoturismo;
C
C
Sustentabili(2º idéia): prática dade;
de
atividades
B
ligadas à natureza;
B
(3º idéia): questão
da
sustentabilidade;
B
161
Questão 3 – Um dos critérios para as atividades turísticas serem denominadas de ecoturismo
é a existência do componente educativo (educação ambiental). Como o Sr. (a) trabalha com a
educação ambiental?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
A gente trabalha aqui, digamos, é na maior parte (1º idéia): imersão - SensibilizaA
do tempo, nossos serviços são requisitados para na natureza por ção
pela
entretenimento, para lazer né? na maior parte do meio da diversão; própria
tempo. Nessa situação de entretenimento/lazer a
natureza;
A
gente já também tá trabalhando o ecoturismo, ou
A
seja, tá tentando... aí essa parte de lazer e
entretenimento que é a maior parte aqui das
- Educação
nossas operações, as pessoas vem pra se
ambiental
divertir, mas automaticamente elas tão
formal
emergindo na natureza, tão recebendo as
informações, também dos guias, com relação
(escolas) em
aos ambientes que elas tão visitando, é isso
ambientes
mesmo nos programas nossos de aventura o (2º idéia):
não formais;
pessoal sempre passa aqui, os guias, né? a gente, sensibilização pela
B
é... as pessoas durante os programas sempre percepção
dos
tem os aspectos, é assim, bons, bonitos, aspectos intactos e
intactos, a natureza realmente ali de uma forma degradados;
original e sempre tem algumas coisas meia
A
degradadas e a pessoa só nesse parâmetro e ali
olhando ali, ela já tem essa sensibilização né? e
que criou o vamos cuidar da natureza, vamos...
não essa natureza que ela tá visitando ali, mas (3º idéia): devido a
a natureza as vezes do dia a dia, lá da natureza força da natureza
da casa dele, do terreno lá do lado da casa dele, as
pessoas
a
do que seja a natureza de uma forma abrangente revalorizam
né? e bom... esse aí é um aspecto aí que a gente natureza;
trabalha na maioria das vezes, né? que é a
A
própria força da natureza alimenta a pessoa e a
pessoa realmente fica é... revaloriza a natureza (4º idéia):
né?, só pelo simples fato de entra em contato educação
com ela. E nós temos também aqui é alguns ambiental
com
exemplos de educação ambiental, né? a gente realizado
tem, eventualmente, aqui né? é... aparecem escolas públicas e
escolas sejem públicas, sejem particular que privadas;
vem fazê alguma saída de campo de ordem é...
B
de educação. Mas há uma forma específica de
trabalhar a educação ambiental? Não, não
tem uma forma específica, tem é digamos, é (5º idéia): não há
uma, uma... a gente procura ter, digamos, os forma específica
parceiros, né? Na realidade a gente tem um de
educação
programa, que eu desenvolvi, para tentá ambiental;
digamos trabalhar isso de uma forma mais
C
sistematizada da educação ambiental, mas não
conseguimos é sei lá... patrocínios, parceiros
pra pode desenvolve né? esse trabalho aqui da
162
B
C
gente né? que é a coisa, por exemplo, assim de
Florianópolis lá das caminhadas, que nós temos
aqui um projeto, uma vontade de fazê um
trabalho mais nas escolas públicas né, que é
assim de grátis, fazê essas atividades, mas tem
que arrumá um parceiro pra pode custear, e a
gente tem um programa detalhado sobre essas
atividades mas não conseguimos o patrocínio,
que é quem pagaria pra pode levá a gurizada pra
excurcioná nos ambientes e fazê essas aulas aí
né? essas saídas de campo.
Bom, todas as atividades que a Adrenailha
promove tem educação ambiental, ou seja, eu
não consigo fazer surf, promover uma aula de
surf sem eu conhecer sobre as ondas, sobre
ecossistemas costeiros, sobre tipo de fundos,
sobre correntes, marés, ventos e bom esse aí é o
componente ambiental, mas a gente relaciona,
procura relacionar também o respeito para as
comunidades locais, com os pescadores, porque
tem a época da tainha, agora na época da tainha
algumas praias fecham por causa do surf. Eu
não consigo pensar em levar as pessoas para a
natureza sem que elas tenham esse respaldo,
porque ir para fazer aventura pela aventura, pra
mim fica um negócio sem nexo, entendeu? Há
alguma forma específica no qual a educação
ambiental é trabalhada? Ela é trabalhada em
conjunto né? se é uma trilha, existe as paradas
onde o instrutor vai parar e vai fazer essa
interpretação, que a gente chama de
interpretação ambiental e se é no rappel ele
pode tá fazendo isso durante a preparação dos
equipamentos, que é a parte mais demorada,
vamos dizer assim, de um rappel, que é preparar
toda a parte de segurança. Então, durante essa
preparação, enquanto ele vai preparando, ele
vai explicando, vai falando sobre o local, então
quer dizer vai fazendo com que as pessoas
pensem e reflitam sobre tudo aquilo que eles tão
fazendo.
Se eu te falar que nós temos educação
ambiental, talvez eu esteja não mentindo, né?
mas temos uma consciência ambiental, que é
justamente no arvorismo, por exemplo, explicar
ou tentar explicar como funciona a questão do
ambiente ali, do ecossistema. Por exemplo, no
Costão do Santinho, que foi construído em cima
de restingas, né? são postes colocados... falar
que não teve degradação? Teve mas tá
(6º idéia):
programa
de
sistematização da
educação
ambiental
desenvolvido por
parcerias para as
escolas públicas;
B
(1º idéia):
conhecimento
sobre
componente
ambiental;
D
Reflexão
sobre
os
o elementos
naturais;
E
(2º
idéia):
instrutor
desenvolve
interpretação
ambiental;
E
o
a
(3º idéia):
processo
de
pensamento
e
reflexão;
E
(1º idéia):
consciência
ambiental
que
explica a questão
ambiental;
D
-
163
D
regenerando, a gente explica como é que é
consciência, a questão de ali ser uma RPPN, por
exemplo, essas relações que o hotel tem e a
parte de consciência ambiental quando a gente
faz a parte social, que em virtude do tempo não
é uma... não explica... quer dizer explica mas
não justifica de não realizarmos com freqüência,
mas a gente tenta utilizar de dinâmicas, né? ou
de parte um pouco mais lúdica, com as crianças,
principalmente, para tá tendo esse embasamento
da consciência ou da educação ambiental. Nós
não temos uma metodologia né? nós temos uma
metodologia, que a gente utiliza em
treinamentos empresariais, que não tem nada
haver com a educação ambiental. Mas pra
educação específica, infelizmente, a gente não
tem executado.
A educação é trabalhada a partir das
descobertas e desafios que a própria natureza
oferece, então nunca a criança... nós da
Recrearte não trabalhamos assim olha isso aqui
é o pau-brasil. Mas sempre a questão
indagativa, dizendo olha vocês conhecem o
pau-brasil, já viram o pau-brasil, estão vendo
algum pau-brasil? né? Então, a gente pára em
frente ao dito cujo, seja ele o que for e começa a
provocar e ali a gente tem milhares de respostas
nada haver com tudo haver, até que aproximem
a gente vai peneirando, peneirando,
peneirando... Porque? Nessa peneira eles não
são obrigados a prestar atenção em quem está
falando, mas prestam atenção nos colegas, a
partir dos coleguinhas, a partir dos que estão
participando e aí eles vão pensando,
elaborando, elaborando, elaborando uma
resposta e ali é feita a gravação como se diz
no... através dos nossos sentidos, audição, visão
e tudo mais, nesse sentido o pensamento vai
sendo elaborado, quer dizer, as respostas vão
sendo cada vez mais internalizadas, então a
maneira de trabalhar a educação ambiental não é
simplória, né? Eu tenho como livro de
cabeceira, até foi um presente do Paulo Pires, o
livro do ambientalista americano, Joseph
Cornell – Aprender brincando com a natureza –
e quando eu li o livro eu disse eu quero ser isso
amanhã, né? Por que o cara, justamente,
consegue usar uma metodologia que os
brasileiros não... até então ninguém, nenhum
professor, nenhum palestrante, ninguém tinha...
(2º idéia): não
temos
uma
metodologia;
C
(1º
idéia):
a
educação
ambiental
é
trabalhada
por
meio da questão
indagativa e dos
sentidos;
F
(2º
idéia):
metodologia
do
ambientalista
Joseph Cornell;
F
Aprendizado
por meio dos
sentidos e do
experienciado
F
164
E
a não ser o Frei Leonardo Boff e o cara do livro
Pedagogia da Terra... Gadotti? Isso Moacir
Gadotti, que vem de Paulo Freire, quer dizer a
partir do Paulo Freire, então quer dizer são os
dois, são as duas vertentes no Brasil. Paulo
Freire, ele dentro da educação já colocava lições
de educação ambiental, consciência ecológica
na preservação do ser humano e de todos os
seres, da maneira como ele coloca através do
respeito.
Então, na maioria das vezes a gente trabalha
muito em parcerias, né? com as outras
empresas, então em todas as... como é uma
empresa de turismo pedagógico a gente busca tá
inserindo a questão da educação ambiental
durante todo o processo, desde o momento que
a gente pega os alunos no colégio, uma
conscientização camuflada de como se deve...
como eles devem se portar, tanto no dia a dia,
que eu acho que é educação ambiental, não é só
durante uma atividade de ecoturismo, né? Não é
só durante um rafting, durante... é diária. Você
ter esse respeito, esse cuidado com a natureza.
Então, desde o início até o desembarque eles
estão concentrados nisso. A gente procura fazer
trilhas que explora toda a questão da... do
respeito ao meio ambiente no sentido de não
arrancar nada, de não levar nada, de não
deixar nada, é... não fazer nada que vá
prejudicar e também no sentido de aplicar isso
no dia a dia. Quando a gente trabalha com
passeios, com visitas a gente muitas vezes são
utilizadas palestras, né? nos locais que a gente
visita, por exemplo, quando a gente traz grupos
pra Floripa para ser mais específica da região,
quando a gente vai a Lagoa do Peri eles
assistem a palestras, eles visitam, eles... tem
laboratórios que mostra... tem estudo de
impacto, né? quando a gente faz uma trilha tem
guia de ecoturismo que vai tá mostrando,
ensinando... tem a questão... quando a gente faz
as trilhas educativas pra observação... questão
do nome das plantas... e é um trabalho em
conjunto com a escola, é uma coisa que nós
monitores da Ecoclub e empresa não fazemos
tão diretamente com os alunos, mas é um
trabalho que já vem da sala de aula.
(1º
idéia):
a
educação
ambiental
é
inserida
durante
todo o processo da
viagem
pedagógica como
uma
conscientização
camuflada;
B
Adestramento
ambiental;
G
Interpretação
ambiental;
Educação
vem
da
escola;
(2º idéia): respeito
B
ao meio ambiente;
G
(3º idéia): nas
trilhas os guias
mostram
e
ensinam questões
relacionadas
ao
ambiente;
E
(4º
idéia):
a
empresa não faz a
educação
ambiental
diretamente
aos
alunos, é algo que
já vem da escola;
B
165
Questão 4 – A Ilha de Santa Catarina foi caracterizada como ‘Pólo de Ecoturismo’ devido aos
recursos naturais existentes e, possivelmente, salvaguardados na forma de Unidades de
Conservação. Quais são os locais em que a realização do ecoturismo ocorre juntamente com a
educação ambiental?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
Praticamente, quase todos os locais, da nossa (1º idéia): em Educação
A
parte, isso já é meio que acontece, dessa forma todos os locais a ambiental
sempre
meio que até indireta. Quando nós trabalhamos educação
ou mesmo outras operadoras lá que trabalham ambiental sempre acontece em
função
da
lá também, de alguma forma de certo grau acontece;
natureza ser
sempre a educação ambiental acontece, sempre!
A
mestre;
mesmo se for o cara digamos, eu não quero ser
estúpido, mas o guia mais ‘tapado’ é... tu vai
A
idéia):
a
levá uma pessoa, um grupinho pra fazê uma (2º
caminhada, mesmo ali as pessoas vão assimila natureza é mestre; Ecoturismo
está
as coisas da natureza. A natureza é mestre, né?
A
Ali já tá acontecendo educação ambiental, né?
relacionado
sempre, acho sempre... existe só a necessidade,
às
áreas
né? as vezes a forma mais leve as vezes uma
naturais
protegidas
forma mais intensa né? Os lugares lá em Floripa
que há práticas de ecoturismo... Em
C
Florianópolis ou no Pólo! É, é no pólo! Mas (3º idéia): o Pólo
em Floripa, na Grande Floripa, né? É o pólo está na Grande
está na grande Floripa, né? Na verdade o Pólo Florianópolis;
B
compreende desde a Arvoredo até o Parque
do Tabuleiro e mais a Ilha. É então, os lugares
que acontecem o ecoturismo e que tem nessa (4º idéia):
escala de maior ou menos de respeito ambiental, ecoturismo ocorre
é... são normalmente as áreas de parque, o nas
áreas
de
parque municipal da Lagoa do Peri, o parque parque;
municipal da Lagoinha do Leste, a reserva do
C
Arvoredo, a ilha do Campeche, né? a Lagoa da
Conceição, as áreas das dunas...
No meu conhecimento, primeiro a gente não
Em todos os
B
chama Ilha de Santa Catarina, a gente chama
locais onde
Arquipélago de Santa Catarina, tá? São um
trabalhamos
conjunto de 30 e poucas ilhas, então, dentro
há educação
disso a gente tem várias unidades de (1º idéia):
ambiental;
conservação, nenhuma dessas unidades de unidades
de
E
conservação tem plano de manejo, ou seja, conservação sem
nenhuma dessas unidades de conservação tem plano de manejo;
especificado as áreas onde pode-se atuar ou
D
não turisticamente, tá? Então, isso já dificulta
um monte para se fazer ecoturismo. Sem você
saber onde você pode ou você não pode, quer (2º idéia): todos os
dizer não se foram feitas pesquisa, ninguém lugares
onde
sabe de nada. A gente faz em todos os lugares, trabalhamos
há
onde tem atividade da Adrenailha ocorre educação
educação ambiental, mesmo aqui na praia dos ambiental;
166
C
Ingleses que não é uma unidade de
conservação, entendeu? Mesmo não sendo uma
unidade de conservação, mas existe a parte de
educação ambiental, né? Mas em todas as áreas
que a gente utiliza, que a maior parte vamos
dizer das trilhas que a gente faz são dentro dos
parques municipais, né? e alguma coisa dentro
do parque estadual da Serra do Tabuleiro, então
dentro dessas unidades, a gente também explica
sobre as unidades de conservação, o quê é um
parque, porque que chama parque, né? e o que
que isso tem haver dentro do SNUC (Sistema
Nacional de Unidades de Conservação), então a
gente explica tudo isso, porque que é uma
unidade de conservação, porque existiu, até faz
uma correlação né? de como que isso aconteceu.
A gente trabalha não só com os parques mas as
áreas, as APPs, tipo o Morro dos Ingleses que é
uma APP a gente trabalha bastante, a RPPN das
Aranhas junto com o Parque que não é nem
municipal e não é parque, vamos dizer, é o
parque florestal do Rio Vermelho, ele não é uma
unidade de conservação, ele ainda não é, né? há
um estudo para tentar transformar ele num
parque estadual, aí o parque estadual do Rio
Vermelho, parque municipal da Galheta, parque
da Lagoinha do Leste, parque da Lagoa do Peri,
parque estadual da Serra do Tabuleiro, o entorno
da estação ecológica do Carijós, a gente também
utiliza, que é uma APP, a APP da Costa da
Lagoa, que a gente utiliza também, esses são as
principais áreas que a gente atua. Ah e
Governador Celso Ramos que tem a APP de
Anhatomirim, a APA de Anhatomirim. E a área
de Proteção da Baleia Franca, um pouco mais
para baixo, começa no sul da ilha a partir do
Pântano do Sul para baixo.
Olha, se nós pararmos para pensar isso, nós
temos os parques municipais que entrariam
dentro da questão da unidades, cinco parques
naturais municipais na verdade, a Galheta,
Lagoa do Peri, Dunas da Joaquina, Reserva
Extrativista Pirajubaé e a outra é a Estação
Ecológica Carijós. Então, seriam os cinco
parques que teoricamente se trabalhariam,
apesar da Estação Ecológica não poder. Que eu
me recorde os lugares realizados, né? que fazem
educação ambiental ou que tem dentro desse
contexto de unidades de conservação, seriam
esses. Mas esses locais incluem o ecoturismo?
E
(3º idéia): mesmo
não sendo unidade
de conservação há
educação
ambiental;
E
(4º idéia): trabalha
com os parques e
com outras áreas
protegidas;
C
(1º idéia): os cinco Não
há
parques
ecoturismo
municipais;
com
educação
C
ambiental no
Pólo;
F
167
D
E
Propriamente dito não! Então, onde o
ecoturismo ocorre junto com a educação
ambiental no Pólo? Olha que eu me lembre
não há. Que eu me lembre, exatamente, de fazer
todas essas relações, não me recordo. Não me
recordo mesmo. E o que as vezes pode
acontecer é que nem, por exemplo, o Costão do
Santinho que tem a RPPN Morro das Aranhas e
a Estação Biológica do Costão, que quando
chama a comunidade ou as escolas, acabam de
certa forma fazendo até uma educação
ambiental misturada com atividade no meio
ambiente e ecoturismo, mas não relacionado
exatamente a isso. Mas que eu me recorde,
assim, não há essa relação direta de
ecoturismo, mesmo com a educação ambiental.
É... praticamente nos parques, praticamente
todos os parques nós trabalhamos essa questão
né? ecoturismo e educação ambiental. Quer
dizer, seja no Parque Estadual da Serra do
Tabuleiro, que é a nossa atração principal,
turmas do Colégio Catarinense foram levadas
periodicamente, durante 08 a 10 anos. O próprio
Parque Municipal do Peri que em 91 nós
fizemos o primeiro piquenique ecológico com as
vovós, da vovó com netinhos de 02 a 07 anos,
trabalhando com o Kiko do Projeto Larus, como
biólogo com a sensibilização toda que ele tem,
trabalhou com aqueles tipinhos assim, e a gente
descobrindo carrochinhas, minhocas é...
decompositores
na
areia,
depois
os
formigueiros...
Ilha do Campeche, arvorismo no Costão do
Santinho e no Engenho Velho, as trilhas da
Lagoinha do Leste, a trilha da Barra da Lagoa,
a própria Barra da Lagoa, Lajão – aquela parte
da prainha... É... que mais a gente faz? Aqui
dentro da ilha tem... a Lagoa do Peri, que eu
tinha comentado antes, a trilha da Lagoinha,
tanto pelo matadeiro quanto pelo pântano,
geralmente é o que a gente escolhe por que é
uma trilha mais longa, uma trilha que dá pra
explorar mais esse lado, não só a atividade física
por ser mais demorado, íngreme e de grau de
dificuldade maior, mas também por ser na
minha opinião um dos lugares mais bonitos da
ilha. Até as próprias atividades de sund board
nas Dunas da Joaquina, no próprio Costão do
Santinho, utilizando a estrutura dele quando faz
o arvorismo, as vezes a gente se utiliza das
(2º idéia): não me
recordo
de
atividades
que
façam
essas
relações;
F
(1º idéia): nos
parques
nós
trabalhamos
o
ecoturismo e a
educação
ambiental;
C
-
(1º idéia): Ilha do
Campeche,
arvorismo
no
Costão
do
Santinho e no
Engenho Velho, as
trilhas
da
Lagoinha
do
Leste, a trilha da
Barra da Lagoa, a
própria Barra da
Lagoa, Lajão... a
Lagoa do Peri, a
trilha da Lagoinha,
as atividades de
sund board nas
Dunas
da
Joaquina,
no
-
168
dunas e das trilhas dali, a Moçambique e até as próprio Costão do
dunas e seria mais... basicamente isso.
Santinho, as trilhas
dali,
a
Moçambique.
C
169
APÊNDICE E
Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas aos gestores e ou responsáveis
pelos destinos de ecoturismo do Pólo de Ecoturismo da Ilha de Santa Catarina
Legenda:
ECH da IC = está em itálico
ECH da AC = está sublinhado
Intervenções do entrevistador = estão em negrito
Questão 1 – Para o Sr. (a) o que quer dizer meio ambiente?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
mantes
Nossa casa né? tudo na verdade, se a gente pára (1º idéia): o lugar
F
pra pensar em meio ambiente, meio ambiente é com um todo;
o lugar como um todo, toda a parte física,
A
biológica, parte sócio-econômica, a parte
humana, sócioambiental, na verdade toda essa
parte de matérias e energia encontrada no
universo.
Bom, a gente trabalha, não só pra mim mas, (1º idéia):
G
com a forma de trabalhar o meio ambiente hoje composto
pelas
ele tem um conceito mais amplo, né? Bem partes
natural,
sucinto: meio ambiente hoje é considerado o construído, social,
e
que é natural, tudo que é natural (natureza), o cultural
que é construído, o que é social, o que é histórico.
cultural e o que é histórico. Nessa abrangência é
A
que a gente trabalha o conceito de meio
ambiente.
Meio ambiente pra mim quer dizer o meio em (1º idéia): meio em
H
que a gente vive. Tudo é meio ambiente, a gente que a gente vive;
tá inserido no meio ambiente.
A
Meio ambiente cara?! Eu definiria meio (1º idéia):
I
de
ambiente como o conjunto de elementos, de conjunto
dos
relações que envolvem tanto o meio físico elementos
meios físico e
quanto o meio biótico.
biótico;
A
Meio ambiente na minha visão, nos conceitos, (1º idéia): relações
J
engloba todo o planeta e suas relações, né? tudo que ocorrem no
está... teria que formular melhor... mas seria as Planeta;
relações que ocorrem no Planeta, desde a
B
biosfera, litosfera, hidrosfera, enfim... esses
aspectos que estão relacionados, né? e dentro (2º idéia): envolve
disso, lógico, o que está acontecendo porque as
ações
do
hoje se fala muito em meio ambiente como uma homem;
coisa que envolve o homem, as ações do homem
A
e tal, mas eu... em um aspecto geral seria... o
Ancoragem
Como lugar
para viver;
A
Como
biosfera;
B
Como
recurso;
A
Como lugar
para viver;
A
Como
recurso;
A
Como
biosfera;
B
170
que mais... o Planeta e seus efeitos assim, né?
num grande sistema.
Questão 2 – Para o Sr. (a) o que quer dizer ecoturismo?
InforExpressões Chave
mantes
Na parte do ecoturismo eu acredito que seja um
F
turismo de mínimo impacto, um turismo que
respeite o meio ambiente que degrade ele o
mínimo possível, pra dali tirar o seu sustento.
Uma
coisa
que
seja
econômica
e
ecologicamente sustentável do ponto de vista da
atividade. Só que a gente sabe que essa palavra
vem sendo utilizada de maneira aleatória,
simplesmente, por agregar valor a um tipo de
trabalho, tanto o cara que trabalha na
cavalgada, tanto o cara que trabalha com trilha
de moto no meio da selva, com a moto de dois
tempos que polui pra caramba, o cara muitas
vezes pode falar que é ecoturismo.
O ecoturismo no nosso entendimento, não só no
G
meu mas da equipe, seria essa relação do
turismo ao meio ambiente, principalmente,
natural, né? A exploração desse meio natural
que nós temos hoje com o turismo. Seria uma
relação direta, uma relação humana, né? que não
deixa de ser natureza, mas o homem com a
natureza, com o meio natural.
H
I
J
Ecoturismo? É um turismo que visa a... eu
acredito que seja a conservação da natureza.
Ele vem sendo desenvolvido, eu acho, que de
uma forma um pouco rápida demais, porque tem
lugares e eu cito como exemplo porque eu
trabalhei no Maranhão, então tem alguns
lugares que você usa a palavra ecoturismo pra
dizer que você tá fazendo um turismo que se
preocupa com a natureza e no fundo você só
quer explorar a natureza. Então, eu acho que
estão acontecendo muitas distorções do quê que
é ecoturismo mesmo e de quem faz realmente
ecoturismo.
Eu entendo como ecoturismo é justamente o
lado do turismo que enfatiza como atrativo as
características naturais, no caso não diria meio
ambiente porque não falo tanto, mas sim as
características naturais.
Ecoturismo seria essa prática de pessoas,
visitantes, usuários que freqüentam as áreas
Idéias Centrais
Ancoragem
(1º idéia): turismo
de
mínimo
impacto;
A
(2º idéia):
atividade
econômica
e
ecologicamente
sustentável;
C
(3º idéia): palavra
utilizada
de
maneira aleatória;
B
(1º idéia): relação
do turismo ao
meio ambiente;
A
(2º idéia):
exploração
do
meio natural com
o turismo;
C
(1º idéia): turismo
que
visa
a
conservação
da
natureza;
A
Lado
comercial do
ecoturismo
C
Lado
comercial do
ecoturismo
C
Conservacionista;
A
(2º idéia):
distorções do que
é ecoturismo;
B
(1º idéia): turismo
que enfatiza as
características
naturais;
A
(1º idéia): turismo
em áreas naturais
Ênfase
atrativo
natural;
A
no
Processo de
educacional;
171
naturais, né? e o ecoturismo também é... estaria
promovendo a educação ambiental como um
processo de educação. Então, seria o turismo em
áreas naturais com o processo educacional em
conjunto,
né?
e
também
como
o
desenvolvimento das comunidades locais, no
caso, então pra mim o ecoturismo seria isso, eu
acho que um processo de pessoas que visitam os
ambientes naturais e que tenham informações,
tenham um processo que participe de um
processo de educação e que estejam se
integrando ali também com a população local.
com o processo
educacional;
D
D
(2º idéia):
desenvolvimento
das comunidades
locais;
D
Questão 3 – Para o Sr. (a) o que quer dizer educação ambiental?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
mantes
A educação ambiental pra mim ela varia desde (1º idéia):
F
uma conscientização ambiental até um trabalho conscientização;
onde a comunidade esteja incluída. Tudo isso tá
A
dentro do trabalho de educação ambiental,
lógico que as formas de conscientização (2º idéia):
isoladas elas são uma sensibilização, quer conscientização
uma
dizer, menos que uma conscientização. Isolada isolada é
ela não vai gerar muitos benefícios, muita sensibilização;
alteração e realmente nenhuma medida efetiva
A
no meio ambiente. Mas, a educação ambiental (3º idéia):
ela passa por toda e qualquer atividade que avaliação, reflexão
possa fazer com que a pessoa ela avalie suas e mudança de
atitudes com relação ao ambiente em que ela comportamento
está inserida e reflita sobre isso, mudando o seu em relação ao
comportamento. Tudo isso pra mim, no meu ambiente;
ponto de vista é educação ambiental.
B
Bom, educação ambiental, na realidade, pra nós (1º idéia):
G
também enquanto equipe que... nós entendemos educação
que é um processo. É... a educação ambiental ambiental é um
deve ter atividades que envolvam todas essas processo;
questões já faladas dentro do conceito de meio
A
ambiente. Mas, principalmente, toda educação (2º idéia): deve ter
ambiental deve começar com a sensibilização, atividades
que
por que sem a sensibilização, o conhecimento envolvam
as
não chega, por que as pessoas, também, se elas questões
do
não desejarem elas podem ter o conhecimento e conceito de meio
faltar a vontade de trabalhar com esse meio ambiente;
ambiente ou no sentido dessa pessoa com esse
C
meio ambiente, né?
(3º idéia): deve
começar com a
sensibilização;
A
Tá, eu vou falar pra mim tá? Por que enquanto (1º idéia):
H
Ancoragem
Educação
ambiental
crítica;
B
Sensibiliza
ção;
A
Processo
172
I
J
instituição o Ibama tem todo um conceito do
que é educação ambiental. Mas, é um processo,
tem que ser construído ao longo do tempo, não
é uma coisa que você vai lá e faz uma ação aqui,
uma ação ali e tá fazendo educação ambiental.
Não! Você tá fazendo uma conscientização
depende da pessoa mas, você tem que construir
ao longo do tempo um processo pedagógico, um
processo educativo, de educação e dentro dessa
educação vai estar inserida a educação
ambiental.
Pra te falar a verdade cara, educação ambiental
até hoje eu não entendo o que é isso, ainda eu
não sei porque inventaram esse termo, eu acho
que... eu entendo até como desnecessário de
existir, porque na minha visão... como minha
visão de meio ambiente tem toda relação dos
elementos, acho que toda educação tem a ver
com o ambiente. Então, eu acho que esse nome
de educação ambiental é por que deve ter
alguma coisa haver com você ensinar as coisas
de maneira mais correta. Entendeu? Mas, eu
acho que não deveria nem existir. Acho que a
educação deveria ser revista, acho que não
continuaria a ser chamada de educação, teria
que dar outro nome para isso.
Educação ambiental? Na verdade educação é
um processo, um processo contínuo, então, é um
processo que visa a transformação, a
sensibilidade de pessoas no caso ambiental
para a questão ambiental, que é muito ampla
também, que trabalha desde a saúde a questão
econômica, a questão de recursos naturais, por
exemplo, enfocando... então, são muitos temas
que envolvem a educação ambiental, então é
complexo assim, é bem amplo, mas eu vejo que
a educação é um processo e tem que ser
contínuo. E é desenvolvida de várias formas né?
com vários métodos desde a sala de aula até em
ambientes naturais, enfim, com vários métodos
e fica até difícil de explicar, teria que pensar um
pouco mais para listar assim... Nos ambientes
naturais, você saberia explicar uma forma?
Uma forma é com atividades lúdicas ou
palestras ou através de atividades recreativas,
jogos, enfim são formas que poderiam estar
trabalhando a educação ambiental.
processo
educativo;
A
educativo a
longo prazo;
A
(1º idéia): não
entendo o que é e
não sei porque
inventaram
o
termo;
E
(2º idéia):
educação
tem
relação com o
ambiente;
C
Descontentamento com o
termo e seu
significado;
E
(1º idéia):
Educação
processo contínuo ambiental
que
visa
a crítica;
transformação, a
B
sensibilidade
de
pessoas para a
questão ambiental;
B
(2º idéia):
complexa
por
envolver muitos
temas;
C
(3º idéia):
desenvolvida em
sala de aula;
D
(4º idéia):
desenvolvida em
ambientes naturais
de forma lúdica ou
com palestras;
D
173
Questão 4 – O Sr. (a) acredita que o ecoturismo possa ocasionar impactos nocivos no
ambiente natural? O Sr. (a) poderia me explicar por quê?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
Com certeza, por exemplo, uma trilha mal feita (1º idéia): com
F
pode causar uma erosão dependendo da certeza, por que a
suscetibilidade da área, pode até causar uma trilha mal feita
perda significativa de solo, alteração na área causa impacto;
local, alterando inclusive a parte de estuário,
A
por exemplo aqui na Ilha, só pegá as trilhas que
são feitas de maneira errada e estão em um
estágio de erosão bastante avançado, a própria
retiração de... por exemplo, reserva biológica
tem até um artigo aqui que demonstra até certo
ponto que o quê está causando um stress mesmo
naquela
visitação
direcionada
e
toda
regulamentada que tem em Bonito, tá causando
stress.
Acredito, acredito... acredito porque isso são (1º idéia): acredito Depende do
G
dos profissionais. Hoje nós temos... vamos fugir por que depende profissional;
um pouquinho do ecoturismo mas, trabalhar dos profissionais;
B
com educação ambiental... o professor que pede
B
para fazer um trabalho de contato com o meio
ambiente natural, ou seja, fazer uma trilha
ecológica e que manda quarenta alunos, não
entende o que é ter... então, imagine uma
empresa de ecoturismo que não veja assim,
então tudo depende do profissional que tá
trabalhando, qual é a formação, qual é o
entendimento dele de meio ambiente, como é
que ele (ou ela) se relaciona com esse meio
ambiente... então, eu vejo muito assim...
Eu acredito, eu já visualizei isso. Eu acho que (1º idéia): acredito ConservacioH
eu já coloquei um pouco do que penso mas é... é por que você tem nista;
aquela coisa, você querer explorar a natureza que ter o interesse
C
fazer
usando o conceito de ecoturismo, você de
realmente tem que ter o interesse de fazer ecoturismo e não
ecoturismo, não de explorar a natureza e explorar
a
usando ah eu faço ecoturismo! Por que hoje em natureza;
dia é bonito isso, né? de você cuidar da
C
natureza, de você ser conservacionista e tal e tal,
agora até que ponto que você tá fazendo
ecoturismo.
Acredito. Por que é... muitas vezes o ecoturismo (1º idéia): acredita Ecoturismo
I
que
o feito
em
é feito não só por questões de quem faz ou de por
do
quem opera o ecoturismo, mas muito mais por ecoturismo é feito função
questão de público, do público-alvo e as em função do mercado;
pessoas gostam de ir em áreas que ainda não público-alvo;
B
foram visitadas, que não foram tocadas, por ser
B
pouco visitadas e pouco tocadas. E as vezes elas (2º idéia):
Áreas
174
tornam visitadas por causa disso. Então, se você
não tiver critério de como fazer isso, elas vão
deixar de existir, passando a ser um material de
consumo, você vai visita, você acaba com o
local, tem impacto de todo tipo, caminhada,
lixo, disse e aquilo.
J
Sem dúvida pode tanto causar impactos
positivos como negativos dependendo como
forem implementados, né? tem que ver que no
Brasil... Em relação aos negativos você pode
me explicar o porque isso acontece? Desde
lixo, abertura de novos acesso, muita gente,
assim a freqüência de visitação, assim, então a
questão social da satisfação da visitação no
atrativo. Por ter concentração de muita gente no
atrativo, impactos visual, pichação, corte de
árvores, marcação, assim pichação em pedras ou
dos próprios atrativos, no caso de cavernas. Que
mais que a gente vê aí? Mas, acho que isso é...
barulho, som alto, questão de som também
causa impactos e isso pode causar outros
impactos decorrentes de uma procura assim,
por exemplo, de um grande número de pessoas
freqüentam o ambiente faz com que toda a
economia ali possa tá desenvolvendo de forma
negativa.
necessidade
de
critérios;
A
(1º idéia): áreas
naturais
como
material
de
consumo;
C
(1º idéia): sem
dúvida,
mas
depende de como
forem
implementados;
A
naturais
como
material de
consumo;
C
Impactos
negativos são
ocasionados
pelo grande
número
de
pessoas
no
local;
A
(2º idéia):
impactos
decorrentes
do
grande número de
pessoas;
A
Questão 5 – O Sr. (a) acredita que a educação ambiental poderia minimizar os possíveis
impactos negativos advindos do ecoturismo? O Sr. (a) poderia me explicar por quê?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
Com certeza pelos próprios executores errôneos (1º idéia): com SensibilizaF
que a gente vê hoje, se tivessem consciência do certeza, depende ção;
que realmente é turismo ou do que é esse da consciência dos
B
do
processo que envolve a percepção da atividade executores
deles e eles entendessem quais as atividades que ecoturismo;
causem mais impactos e reduzissem os
A
impactos... eu cheguei a ser contactado para
trabalhar numa trilha de educação ambiental de
um hotel conhecido, grande aqui no entorno de
Floripa, que a mulher virou pra mim, a dona do
hotel, veio conversar a respeito da trilha e falou (2º idéia):
assim ó a gente faz a trilha assim num sei o que interação
e
e por que a gente raramente vê pássaros, a sensibilização no
gente tem uma mata grande e tal, você tá meio ambiente;
entendendo isso? Tá mas como é que vocês
B
fazem isso? Ah a gente pega uma equipe de
trinta, quarenta crianças põe na trilha e uma
175
G
H
I
pessoa vai com o mega fone conversando com
as crianças... pô e você quer ver pássaro ainda?
Certo? Você tem que entrar com um grupo de
dez crianças, todo mundo quieto e você faz as
atividades de interação e sensibilização pra
começar a entender o meio ambiente e não
atrapalhar... afinal o bicho tem muito mais
medo da gente do que a gente do bicho. Então,
essas são as maneiras, você ter consciência do
que causa os impactos ambientais e por
atividade e diminuir isso o máximo possível.
Entendeu o quê que é?
Com certeza, por que na realidade você teria um
sentimento mesmo, né? Por exemplo, vou citar
um exemplo assim, capacidade de suporte se
uma trilha, né? A relação hoje é muito forte ao
econômico, então as pessoas, eu vou falar das
empresas mas, vou falar das pessoas elas visam
muito o lucro e em função do lucro as questões
do meio ambiente natural elas deixam de ser
prioridade. Então, eu cito esse exemplo com o
gás ecológico (CFC) você vai comprar uma
geladeira na hora que vai bater no bolso você
vai comprar a mais barata e você é um
ambientalista, você trabalha com meio
ambiente, você... mas na hora que aperta, que
fala-se no financeiro, parece que a gente
esquece.
Eu acredito, por que muita gente não tem
consciência do que se faz. Muita gente, muita!
Agora como trabalhar isso eu também não
saberia te dizer, porque como a educação
ambiental seria um processo as vezes o turista
vem e vai embora né? Então, eu acho que teria
que ser trabalhado do lugar que o turista vem,
talvez, no Brasil poderia trabalhar isso melhor,
nos outros países eu não sei como isso é
trabalhado mas, eu penso assim sabe... você
trabalha os conceitos... você ter sei lá certos...
como eu posso dizer... certos lemas do
ecoturismo mesmo... objetivos que... que eu nem
sei se tem realmente definidos sabe... como
geral, todo mundo ter aquele lema, aqueles
objetivos e isso ser geral no Brasil, enfim...
A educação sim. A educação... eu acho que a
principal ferramenta da educação que é a coisa
mais difícil de colocar na cabeça do ser
humano, é o ser humano entender que a
balança não funciona muito racionalmente, é
que nem a balança do nosso consciente ela diz o
(1º idéia):
relação
econômico;
A
forte Crítica
/
ao oposição ao
desenvolvimento
sustentável;
A
(2º idéia): questões
do meio ambiente
natural deixam de
ser prioridade;
A
(1º idéia): não se
tem consciência do
que se faz;
A
Desconhecimento
da
relação
ecoturismo e
educação
(2º idéia):
ambiental;
educação tem que
C
ser trabalhada na
origem do turista;
C
(3º idéia):
objetivos
ecoturismo;
C
(1º
idéia):
educação
é
principal
ferramenta;
D
do
a Educação
a fornece um
sentimento de
coletividade;
D
176
J
quê? Eu vou saldar, eu vou te dar um benefício
pra mim, causando um malefício para todos.
Então, o ser humano tenta colocar
inconscientemente muitas vezes isso na balança
e acaba compensando, ou seja, o benefício é pra
mim mas o malefício eu vou dividir em todos,
então é lucro. Eu acho que num processo de
educação, tem como dar uma noção de
coletividade do ser humano.
Sem dúvida. Ah se tiver um processo contínuo e
efetivo de educação com o envolvimento
comunitário você tem como diminuir esses
impactos, envolvendo a comunidade no
processo de implementação das ações e da
gestão do território, mas tem que ser através de
uma qualificação e uma capacitação contínua,
um processo de divulgação e informação e
pesquisa nas áreas para que isso possa ser
efetivamente implementado.
(1º
idéia):
processo contínuo
e
efetivo
de
educação com o
envolvimento
comunitário;
D
(2º idéia): papel da
comunidade
na
implementação
das ações e da
gestão
do
território;
D
(3º idéia):
qualificação,
capacitação
contínua
e
o
processo
de
divulgação,
informação
e
pesquisa;
D
Educação no
processo de
gestão
ambiental.
D
Questão 6 – O Sr. (a) pode me explicar quais são as estratégias utilizadas para a conservação
da natureza?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
Tem várias, desde a criação de leis, de áreas (1º idéia): várias Educação
F
protegidas, até a educação e gestão de recursos desde a criação de ambiental
naturais numa escala de macro de tempo, uma leis,
áreas crítica;
escala mais longa, a longo prazo nas atividades protegidas;
B
e isso dentro das escolas, fora em atividades em
A
grupos isolados, mas isso num faz diferença,
tudo tem que passar pela conscientização, tem (2º idéia):
que passar pela educação. O cara tem que saber educação
e
o quê que acontece, o fato dele estar inserido no conscientização;
meio ambiente e entender qual é a função dele,
B
meio o que ele pode estar fazendo.
idéia): Processo de
Primeiro a sensibilização, colocar as pessoas (1º
G
177
H
I
em contato com o que é natural e aí sim eu falo
do natural, não estou falando construído, não
estou falando do cultural, mas do natural. A
prioridade hoje nossa enquanto educação
ambiental é colocar em contato com o que
realmente acontece e ter esse aspecto do... essa
capacidade de vontade de admirar o que é
natural, né? A sensibilização você disse que é
uma das estratégias de conservação, há
outras? A primeira, a segunda é o
conhecimento, então o que é uma APP, o que é
uma unidade de conservação, que é uma APL,
depois disso, depois do conhecimento é que se
pode cobrar, fazer alguma cobrança dos órgãos
competentes. Porque até então... hoje se fala ah
desmataram tal área, mas se vai olhar o plano
diretor é uma área residencial predominante,
então você pode construir naquela área, então
você tem... é uma APL você pode desmatar 10%
da área para construir, então as pessoas... falta o
conhecimento, se falta o conhecimento como ela
vai lutar por uma área verde, por exemplo.
Eu acho que tem que caminhar, vamos dizer,
num trilho de coisas, num... tem que caminhar
com a capacitação, tem que caminhar com
educação e... com proteção também, com
fiscalização também. Acho que são essas três
coisas que teriam que funcionar bem e se
funcionando bem, acho que a gente poderia tá
de repente conservando melhor a nossa
natureza, aqui no Brasil a gente sempre vê que o
desenvolvimento é colocado a frente da
conservação da natureza e a gente percebe isso
nos procedimentos dos órgãos ambientais, tanto
federais, quanto estaduais, quanto municipais,
na fala de recursos, na falta de infra-estrutura,
na falta de pessoal, então, talvez a estratégia
seja por aí... fortalecer os órgãos de gestão,
também, o fortalecimento desses órgãos vai
também no eixo.
Posso citar algumas, eu acho que a principal
estratégia em relação a conservação da natureza
é a última aqui no Brasil e também no resto do
mundo, é você tirar o ser humano, deslocar das
áreas naturais, partindo de uma premissa que o
ser humano não tem condições de cuidar do
meio ambiente. Então, você cria uma unidade de
conservação retira o ser humano de lá, ou então
com muito cuidado você deixa o ser humano dar
uma entrada e uma olhadinha e cair fora, porque
sensibilização,
educação
contato
das ambiental;
pessoas com o que
B
é natural;
B
(2º idéia):
conhecimento;
B
(3º idéia): cobrar o
direito por áreas
verdes;
B
(1º
idéia):
a Fortalecimencapacitação,
to dos órgãos
educação, proteção ambientais;
e fiscalização;
D
A
(2º idéia):
desenvolvimento é
colocado a frente
da conservação da
natureza;
D
(1º idéia): retirar o Presevacioser humano;
nista;
C
C
178
J
mais do que isso ele tá prejudicando aquilo.
Acho que essa a principal meio de conservação
é esse. Eu acho que tem outros meios de
conservação, o pessoal da muitos nomes como
chamar de desenvolvimento sustentável.
As estratégias hoje é... baseada na aplicação da
legislação, na das questões por isso tem o
sistema nacional. Outra é o planejamento das
atividades dentro das áreas, então, planejando
as atividades e executando, assim, as suas ações
e dentro desse planejamento a conservação da
natureza ela passa por várias linhas, desde da...
para você conservar a natureza, as estratégias,
você passa por educação ambiental, por
fiscalização, por mobilização comunitária,
participação da comunidade, né? é...
divulgação, estrutura das áreas, infra-estrutura
nessas áreas... que mais... por trabalhar por
pesquisa, por muita pesquisa científica para
viabilizar esse processo. Acho que é, assim...
numa linha geral seria isso aí.
(2º idéia):
desenvolvimento
sustentável;
A
(1º idéia):
Envolvimenaplicação
da to
legislação e o comunitário
planejamento das
E
atividades;
A
(2º idéia):
participação
comunitária;
E
Questão 7 – Em muitos lugares se comenta sobre a conservação da natureza, mas parece que
no turismo isso não ocorre. Por exemplo, continua sendo jogado lixo no chão, inclusive em
áreas protegidas. Por que o Sr. (a) acha que isso acontece?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
Por que a pessoa não tem noção que aquela... (1º idéia):
Tomada de
F
da consciência,
por exemplo, vamos usar um exemplo clássico consciência
aqui da Reserva do Arvoredo, você tá no alto da pessoa;
transformacabeceira do rio Tijucas, a mais de 20 km, daí
ção
das
A
você tá andando na rua e você joga um plástico
atitudes;
no chão. A tendência normal é que a chuva
A
venha transportar isso para dentro da calha de
drenagem do município, isso aí cai pra dentro
do rio, na bacia do rio Tijucas, vai entrar no rio
Tijucas de alguma maneira, se não tiver a rede
de esgoto adequada, cai no rio Tijucas, é levado
para a Reserva do Arvoredo e uma tartaruga
confunde isso com uma alga, come e morre
afogada. Esse é um exemplo típico da mesma
forma que você tá falando. Se a pessoa não tiver (2º idéia):
consciência do que acontece com o lixo que ela adestramento
joga fora ali, ela acha que alguém vai passar e ambiental;
jogar no lixo. Ela não sabe da continuidade do
B
processo, ela não tem entendimento do impacto
que ela tem no meio ambiente de todo o
processo dela. Uma reserva biológica ela tem
uma série de benefícios, desde a reprodução de
peixes para repovoar a costa até o uso de algum
179
G
H
tipo de... qualidade, características nesse ponto
ela tem para o tratamento de câncer. Então,
esses benefícios se ela não souber as
conseqüências ela nunca vai mudar seus atos.
Uma coisa é ter educação ambiental, outra
coisa é adestramento ambiental... não joga lixo,
não joga lixo, não joga lixo... ah tá não joga
lixo porque? Tem que entender a essência da
história e não as simples aparência.
Por que essas... é aquela coisa... vamos falar de
Florianópolis!
O
sujeito
coloca
uma
empreendimento, por que é uma cidade de
turismo, tipo um hotel e não se preocupa pra
onde vai o seu esgoto, coloca na praia em que os
seus clientes já escolheram aquele hotel porque
tem a praia, então, ele não tá tendo esse
entendimento. Volto de novo com a exploração
financeira, então enquanto as pessoas não
tiverem esse entendimento elas não vão
conseguir fazer essa relação do porque
preservar, né? E que na realidade é dar um
retorno, principalmente, pro ecoturismo, como
é que uma pessoa vai escolher uma praia para
ir em que o empreendedor tá colocando o
esgoto,
tá
colocando...
o
próprio
empreendimento pro turista. Vamos falar de
hotel! Quantos hotéis separam o seu lixo em
uma cidade que tem coleta seletiva? Quantos?
Falta educação ambiental.
Ah, eu acho que um pouco é falta de educação,
um pouco é falta de consideração, por que o
homem as vezes... ele foi muito educado nessa
forma antropocêntrica de ser, né? Eu sou o
centro do universo, tudo gira ao meu redor e a
natureza tá aí pra me servir mesmo e eu faço o
que eu quiser com ela e nunca vai acontecer
nada. Então, alguns conceitos já estão
enraizados, mesmo nessa sociedade, vem de
tempos e continua sim. Tem claro uma mudança
tudo... eu acho assim, talvez mais pra frente a
gente não tenha mais esse tipo de
comportamento, eu acredito que já melhorou
bastante, por que antes era uma coisa muito
natural e hoje em dia muita gente vê isso e já
fala coisa ridícula né? Olha o que ele cara tá
fazendo? E antigamente acho que nem existia
essa coisa. E as vezes o cara deixa de fazer por
causa disso, por conta que a sociedade está
cobrando mais, é uma mudança de paradigma,
eu acho, que tá ocorrendo agora, por agora
(1º idéia):
Falta
de
entendimento do conhecimento
por que preservar; e de decisão;
A
A
(1º idéia): falta de Mudança de
paradigma;
educação;
C
A
(2º idéia):
mudança
paradigma;
C
de
180
I
J
mesmo. E com relação ao turismo acho que é
uma mudança de paradigma, tem muita gente no
turismo trabalhando com a questão ambiental
hoje em dia, né? e que não existia antigamente,
tanto né?
Eu acho especificamente o seguinte, que é... eu
não vejo as pessoas, não digo todas, mas
também não sei dizer se a maioria que fazem o
turismo, entendem aquela área enquanto um
bem de consumo, ele tá pagando pra utilizar
essa área e a pessoa acha que nada mais justo
que ele tá pagando aquela área tem o direito de
usar como bem entender. E até porque as
pessoas as vezes não tem que voltar lá, não tem
que... ou acha que sei lá o quê que faz que
outros não tem... mas acontece muito isso e é
um problema grave e também passa por questão
de educação e jogar lixo no chão não é falta de
educação ambiental é falta de educação mesmo.
Primeiro é a desinformação total, as pessoas
não conhecem, geralmente, aonde moram e,
principalmente, a natureza que está a sua volta,
a biodiversidade, assim, a gente tem muita
desinformação. Outra é a própria falta de
conhecimento, também da academia, por
exemplo, vamos pegar o exemplo da mata
atlântica, informações específicas das espécies,
da ecologia, como funcionamento do sistema...
então, essas questões assim de falta de
conhecimento e desinformação acabam gerando
muitos impactos.
(1º idéia):
descomprometimento com o
local;
C
-
(2º idéia): falta de
educação;
A
(1º idéia): falta de
conhecimento
e
informação;
A
-
Questão 8 – Agora, eu vou dizer uma frase e quero saber se o Sr. (a) concorda ou discorda e
por que. A frase é: A educação ambiental pode ser uma ferramenta do ecoturismo para a
conservação da natureza mas, pouco se sabe sobre quais e como são desenvolvidas as
modalidades (metodologias) de educação ambiental nessa atividade.
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
Concordo e discordo ao mesmo tempo. Então, (1º
idéia):
a
F
realmente a educação ambiental é uma das relação intrínseca
ferramentas do ecoturismo? É. Da mesma forma do ecoturismo com
que o ecoturismo é uma das ferramentas da a
educação
educação ambiental. Pode haver as duas coisas, ambiental;
você pode trabalhar com a educação ambiental
A
dentro do ecoturismo, pode trabalhar com o
ecoturismo como uma ferramenta num (2º idéia): não é a
planejamento de educação ambiental. Que é o pessoa ideal para
que pode ser feito ao redor da Ilha do Arvoredo dar essa avaliação;
sem problema algum. E agora levando em vista
B
181
G
H
I
do que se sabe ou não se sabe, realmente, eu
não seria a pessoa ideal pra dá essa avaliação.
Concordo, concordo plenamente! Tanto é que
hoje a gente se coloca aí a disposição das
universidades em todos os cursos pra tá fazendo
sensibilização ambiental, pra tá passando
conhecimento, e aí sim, de leis, de unidades, de
conceitos mesmo, nomes... entender o que é um
plano diretor. A gente se coloca a disposição...
quando a gente tem um projeto Floram vai a
escola é o projeto que permite né? só que o que
acontece são poucas as universidades ainda hoje
que colocam isso dentro do seu currículo, né?
Mas a Floram desenvolve alguma forma
específica de educação ambiental? É que na
realidade os projetos é que vão abraçar isso.
Dentro do projeto todos eles tem a mesma
metodologia, né? primeiro sensibilizar, depois
trabalhar com o conteúdo realmente, como o
conhecimento, as informações. Por que muito
do conhecimento... falta é informação e não a
produção dele né? a informação... e aí então o
contato, o contato direto. Essa é a metodologia
básica em todos os projetos. São nove projetos e
essa é a metodologia básica, é o eixo. Na
realidade a gente trabalha em cima de um eixo,
dependendo da clientela, dependendo da
procura, da demanda é que esse eixo ele vai
abrir.
É eu não conheço muito, mas ações de
educação ambiental desenvolvidas no turismo e
que tenham dado os resultados... conheço muito
pouco. Mas como ocorre o ecoturismo e a
educação
ambiental
(juntos)
em
Anhatomirim? Tá é... a gente começou, foi
começado um processo em 2000 de trabalhar a
educação ambiental nas escolas mesmo e foi
feito um trabalho muito legal com... foi feito em
parceria com o pessoal da universidade é... foi
um trabalho muito legal com a 7º e 8º série, é
eles construíram vídeo, eles mesmos foram
criando os seus conceitos em relação ao meio
ambiente, foram levados ao ambiente e tem um
resultado bem legal.
Eu acho que sim. A educação ambiental é uma
ferramenta, e então, a educação... mas também
como no próprio ecoturismo ela é feita das mais
diversas formas e tem formas que acaba sendo
um adestramento da pessoa que também não
leva a nada, você adestrar e falar não jogue lixo,
(1º idéia): fazer Educação
sensibilização
ambiental
ambiental
por formal;
meio
da
C
transmissão
de
conhecimento;
C
(2º idéia):
metodologia
de
sensibilização,
conhecimento
e
contato;
C
(1º idéia): não Educação
conhece ações de ambiental
educação
formal;
ambiental
C
desenvolvidas no
ecoturismo;
B
(2º idéia):
educação
ambiental
escolas;
C
nas
(1º
idéia):
educação
ambiental
como
uma ferramenta do
ecoturismo;
A
-
182
J
não jogue lixo, não jogue lixo... aí daqui a
pouco a pessoa não tá jogando porque você
adestrou, que nem um cachorro. Quer dizer ou
não joga porque tem vergonha de alguém ver,
né? Eu acho que tem que haver algum tipo de
educação assim, nesse caso, no ecoturismo,
agora e... a maneira também não é fácil de
achar uma forma, isso varia de público, varia
de áreas que se tá trabalhando, varia tudo.
Eu posso ler? Sim. A primeira parte... essa aqui
eu concordo. Na segunda, eu não entendi o que
você quis dizer com modalidades de educação
ambiental. Numa forma mais acadêmica,
poderia chamar de metodologias de educação
ambiental. Ah tá. A forma como a educação
ambiental acontece. Eu discordo dessa segunda
parte. O porque é o seguinte: a educação com
certeza é e pode ser uma ferramenta para a
conservação da natureza dentro do ecoturismo
e deve ser, né? uma vez que quem trabalha com
essas atividades tá trabalhando com pessoas, tá
trabalhando dentro de áreas, geralmente, com
grande relevância ecológica e ali há um
potencial gigantesco para você trabalhar
diversos temas, pegar seja na escalada, no
rafting, vôo livre, em trilhas ou simplesmente
uma recreação no rio, uma natação, enfim...
mas
as
metodologias
de
educação
desenvolvidas por essas atividades, na verdade
existem sistematizadas dessas informações, só
que elas são muito isoladas, não é que não se
sabe, é tem uma coisa lá outra coisa num sei
aonde. O que talvez não se conhece não é tanto
as metodologias, mas é o status, eu acho, o
status dessa atividade no ecoturismo, ou seja,
como é que as pessoas hoje é... tão fazendo isso,
ou se tão ou não tão mas, método tem, vários
tipos de métodos diferentes e tem bastante
material sistematizado, só que não concentrado,
se encontra num local aqui, outro lá tal e tal...
mas tem informação, mas agora o status disso
dentro do ecoturismo hoje, realmente, eu num...
pouco se sabe sobre o status. Há alguma forma
específica de educação ambiental trabalhada
com turistas aqui? Aqui é um meio que um
centro de desenvolvimento até de metodologias,
então a gente busca pegar métodos que já
existem e adaptar e tentar criar novas. Então,
aqui nós trabalhamos com palestras, por
exemplo, palestras tanto aqui dentro de sala de
(2º idéia):
adestramento
pessoa;
D
da
(3º
idéia):
a
maneira varia;
A
(1º idéia):
Educação
educação é uma ambiental
ferramenta para a formal;
conservação
da
C
natureza dentro do
ecoturismo;
A
(2º idéia):
gigantesco
potencial
do
ambiente natural;
A
(3º
idéia):
as
metodologias
desenvolvidas são
muito isoladas;
B
(4º idéia): não se
conhece o status
dessa atividade no
ecoturismo;
B
183
aula (auditório), como também em campo. A
parte de jogos, atividades né? que envolvam as,
por exemplo, questões sensoriais da pessoa...
tato, audição, visão, observação, desenho – a
parte artística – então, a parte de interpretação
com ferramentas como flanelógrafo, é...
fantoches, então, são instrumentos que nós
utilizamos para poder passar a informação e
fazer envolver as crianças, só que tem um
porém, é dentro desse processo das unidades de
conservação
trabalham
com
educação
ambiental com os turistas é muito difícil porque
você não educa o turista, você sensibiliza ele
porque ele vem uma vez aqui e vai embora, de
repente nunca mais vai aparecer, então não
posso falar que eu fiz uma educação. Educação
é se eu tivesse um acompanhamento desse
turista, ele viesse várias vezes aqui, tivesse um
contato com a gente e tal. Mas, como são visitas
pontuais a gente coloca que mais sensibiliza as
pessoas com essas visitas pontuais do que
realmente educa. Agora tem um projeto de
extensão onde realmente a gente tá fazendo um
trabalho mais contínuo e aí sim envolve um
processo de educação, por exemplo, as escolas,
onde você tá constantemente com os alunos,
eles vem aqui fazem um monte de visitas aqui,
fazem oito, dez visitas aqui, a gente faz saída de
campo, vai a escola, dá palestras, faz atividades
lá, aí faz vários tipos de atividades, aí sim dá pra
realmente avaliar e ver a mudança e vê se isso tá
sendo positivo ou negativo, o processo.
(5º idéia): trabalha
a
educação
ambiental
com
palestras em sala
ou em campo,
jogos e atividades
que envolvam as
questões
sensoriais;
A
(6º idéia): o turista
não é educado e
sim sensibilizado;
A
(7º idéia):
processo
educativo;
C
184
10 ANEXOS
185
ANEXO A
Matriz de problemas do segmento de ecoturismo
Fonte: Barros II e La Penha (1994, p. 22)
186
ANEXO B
Ações estratégicas para o desenvolvimento do ecoturismo
Fonte: Barros II e La Penha (1994, p. 23)
187
ANEXO C
Ação nº8 – Conscientização e informação do turista (BARROS II; LA PENHA, 1994, p.
30)
Objetivo
Divulgar aos turistas atividades inerentes ao produto ecoturístico e orientar a conduta
adequada nas áreas visitadas.
Estratégias
ƒ
Informar aos turistas sobre práticas e comportamentos nocivos aos atrativos naturais e
culturais; (EMBRATUR-IBAMA)
ƒ
Apoiar programas de educação ambiental formal, em todos os níveis, de maneira
interdisciplinar; (EMBRATUR-IBAMA)
ƒ
Estabelecer ações abrangentes de divulgação do ecoturismo; (EMBRATUR-IBAMA)
ƒ
Criar material informativo específico para as áreas de destino ecoturístico; (EMBRATURIBAMA)
ƒ
Utilizar os meios legais para coibir a propaganda enganosa; e (EMBRATUR)
ƒ
Prestar esclarecimentos prévios sobre o comportamento do ecoturista em relação à
comunidade a ser visitada. (EMBRATUR-IBAMA)
188
ANEXO D
Educação Ambiental não formal (BRASIL, 1999)
Art. 13º Entendem-se por educação ambiental não-formal as ações e práticas voltadas à
sensibilização da coletividade sobre as questões ambientais e à sua organização e participação
na defesa da qualidade do meio ambiente.
Parágrafo único. O Poder Público, em níveis federal, estadual e municipal, incentivará:
I – a difusão, por intermédio dos meios de comunicação de massa, em espaços nobres, de
programas e campanhas educativas e de informações acerca de temas relacionados ao meio
ambiente;
II – a ampla participação da escola, da universidade e de organizações não-governamentais na
formulação e execução de programas e atividades vinculadas à educação ambiental nãoformal;
III – a participação de empresas públicas e privadas no desenvolvimento de programas de
educação ambiental em parceria com a escola, a universidade e as organizações nãogovernamentais;
IV – a sensibilização ambiental das populações tradicionais ligadas às unidades de
conservação;
V – a sensibilização ambiental dos agricultores;
VI – o ecoturismo.
189
ANEXO E
Quadro do aprendizado seqüencial (CORNELL, 1997, p. 46-47)
ESTÁGIO 1 : Despertar o Entusiasmo
Qualidade: Divertimento e Vivacidade
Vantagens:
• Desenvolve na criança o gosto de brincar;
• Cria um ambiente de entusiasmo;
• Um começo dinâmico estimula uma maior
receptividade;
• Incentiva um alto grau de atenção e supera
a passividade;
• Cria envolvimento;
• Concentra a atenção (reduz problemas de
disciplina);
• Estabelece uma aproximação com o líder
do grupo;
• Cria uma boa dinâmica de grupo;
• Proporciona direção e estrutura;
• Prepara para as atividades mais sensíveis
dos estágios seguintes.
ESTÁGIO 3 : Dirigir a experiência
Qualidade: Absorção
Vantagens:
• Facilita o aprendizado por meio de
descobertas pessoais;
• Proporciona
compreensão
direta,
experiencial e intuitiva;
• Incentiva a admiração, a empatia e o
amor;
• Desenvolve comprometimento pessoal
com os ideais ecológicos.
ESTÁGIO 2 : Concentrar a atenção
Qualidade: Receptividade
Vantagens:
• Aumenta o nível de atenção;
• Aumenta a percepção por meio da atenção
concentrada;
• Canaliza de modo positivo o entusiasmo
gerado no Estágio 1;
• Desenvolve habilidades perceptivas;
• Tranqüiliza a mente;
• Desenvolve
receptividade
para
experiências mais sensíveis com a
natureza;
ESTÁGIO 4 : Compartilhar a Inspiração
Qualidade: Idealismo
Vantagens:
• Aclara e fortalece as experiências
pessoais;
• Eleva o estado de espírito;
• Introduz modelos inspiradores da vida de
outras pessoas;
• Reforça o sentido de união entre os
participantes;
• Aproxima o grupo;
• Cria um ambiente de união e participação;
• Fornece referências ao líder;
• Oferece ao líder a possibilidade de
compartilhar a inspiração com um grupo
receptivo.
190
ANEXO F
Modelo de Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Adaptado a partir de Lefèvre e Lefèvre
(2003, p. 47; 52-53; 55)
Transcrições das ECH, IC e AC das entrevistas realizadas
Legenda:
ECH da IC = está em itálico
ECH da AC = está sublinhado
Questão – Você recomendaria este pronto-socorro para um amigo seu ou para um parente que
precisasse? Porque?
InforExpressões Chave
Idéias Centrais
Ancoragem
mantes
De hipótese alguma. Porque eu achei uma (1º idéia): não Só
o
1
negação o atendimento aí. Tinha uma moça aí indicaria porque o convênio
o
passando mal, passando mal, que ela precisou atendimento é uma garante
bom
ser desmaiada aí dentro para o pessoal correr e negação.
atender ela! Eu achei uma negação. Minha irmã
atendimento.
B
disse que era ótimo. Eu não gostei. De quem (2º idéia): quem
A
não tem convênio hoje, pelo amor de Deus, não tem convênio
sofre.
sofre!
A
Só em último caso mesmo, porque eu trouxe até (1º
idéia):
só
2
a minha filha aí no sábado, mas demorou para indicaria
em
atender, não é? Aí eu... atenderam ela, aí depois último caso;
eu fui embora também, porque é muito
B
demorado aqui o atendimento, não é? Era um
hospital bom, mas em outra parte, assim, de
atendimento, é muito demorado. A pessoa, se
tiver um caso assim, dele estiver morrendo, eles
não está nem aí com isso. Espera a pessoa
quase morrer para atender, não é? E não dá.
o
Não gostei. Passou medicamento para mim (1º idéia): não Só
3
tomar a injeção, tudo, não tomei e vim embora indicaria porque convênio
foi garante
o
para casa. Eu até, tem que passá, eu tenho não
bom
minhas três filhas, se precisar eu trago aqui adequadamente
atendimento.
porque eu não tenho condição de pagar um medicada;
convênio. Se precisar, eu trago aqui.
B
A
(2º idéia): leva
para o PS porque
não tem condições
de pagar convênio;
A
191
DSC da idéia central B – não recomendaria porque é atendimento é ruim
EXPRESSÕES-CHAVE
1- Porque eu achei uma negação o
atendimento aí. Eu não gostei.
2 - Só em último caso mesmo, em outra parte,
assim, de atendimento, é muito demorado. A
pessoa, se tiver um caso assim, dele estiver
morrendo, eles não está nem aí com isso.
Espera a pessoa quase morrer para atender,
não é?
3 - Não gostei. Passou medicamento para
mim tomar a injeção, tudo, não tomei e vim
embora para casa.
DSC
Não indicaria, só em último caso porque eu
achei uma negação o atendimento.
É muito demorado aqui o atendimento. Era
um hospital bom, mas em outra parte, assim,
de atendimento, é muito demorado.
A pessoa, se tiver passando mal, estiver
morrendo, eles não está nem aí com isso.
Espera a pessoa quase morrer para atender,
não é?
No meu caso, passou um medicamento para
mim tomar a injeção, tudo, não tomei e vim
embora para casa.
192
ANEXO G
Áreas Naturais Protegidas
Fonte: Magalhães (2001b, p. 35)
193
ANEXO H
Unidades de Proteção Integral
Fonte: Magalhães (2001b, p. 41)
194
ANEXO I
Unidades de Uso Sustentável
Fonte: Magalhães (2001b, p. 44)
195
ANEXO J
Tabela preliminar das áreas protegidas em Santa Catarina (FATMA, 2004b)
196
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO FEDERAIS
UC DE PROTEÇÃO
INTEGRAL
Parque Nacional
(PARNA)
Estação Ecológica
(ESEC)
02- de Carijós(*)
Reserva Biológica
(REBIO)
13- Marinha do
Arvoredo(*)
UC DE USO
SUSTENTÁVEL
Reserva Extrativista
(RESEX)
01- Marinha de
Pirajubaé(*)
INSTRUMENTO
LEGAL DE CRIAÇÃO
MUNICÍPIO
ÁREA (ha)
TIPO DE
VEGETAÇÃO
-
-
-
-
D. 94.656 de 20.07.87
Florianópolis
LAT/LONG
RESPONSÁVEL
PELA
ADMINISTRAÇÃO
712,20
VRE e MA
27º28’00”S
48º30’00”W
Ibama
D. 099.142 de 12.03.90 Florianópolis (ilhas do
Arvoredo, Deserta, Galés e
Calhau de São Pedro e área
marinha que as circunda,
incluindo o município de
Governador Celso Ramos)
INSTRUMENTO
MUNICÍPIO
LEGAL DE CRIAÇÃO
17.600,00
FOD, águas e
plataforma continental
27º17’00”S
48º22’00”W
Ibama
TIPO DE
VEGETAÇÃO
LAT/LONG
RESPONSÁVEL
PELA
ADMINISTRAÇÃO
D. 533 de 20.05.92 e P. Florianópolis
078-N de 30.09.96
1.444,00
ÁREA (ha)
Área de Proteção
Ambiental
(APA)
03- da Baleia Franca(*) D. de 14.09.2000, pub. Garopaba, Imbituba, Laguna, 156.100,00
No D.º 179 de
Jaguaruna e Içara (parte
15.09.2000
terrestre e mar territorial) e
Florianópolis, Palhoça e Paulo
Lopes (mar territorial e ilhas
MA (manguezal do Rio 27º39’14”S
Tavares – 740,00ha e
48º31’55”W
baixio a sua frente –
704,00ha)
MA, VRE, FOD,
águas e plataforma
continental.
Ibama
Ibama
(extr. N)
27º46’09”S
48º28’30”W
(extr. S)
28º50’08”S
197
14- de Anhatomirim
(*)
Floresta Nacional
(FLONA)
Área de Relevante
Interesse Ecológico
(ARIE)
D. 528 de 20.05.92
adjacentes)
Governador Celso Ramos e
Florianópolis (Baía Sul)
3.000,00
49º08’05”W
MA, VRE. FOD e
27º24’14”S Ibama
águas jurisdicionais p/ 48º3409W
proteção de uma
população residente
do boto Sotalia
fluviatilis
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
TIPO DE
VEGETAÇÃO
LAT/LONG
RESPONSÁVEL
PELA
ADMINISTRAÇÃO
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ESTADUAIS
UC DE PROTEÇÃO
INTEGRAL
Parque Estadual
01- da Serra do
Tabuleiro(*)
Reserva Biológica
(REBIO)
Estação Ecológica
(ESEC)
INSTRUMENTO
LEGAL DE
CRIAÇÃO
D. 1.260 de 01.11.75
-
MUNICÍPIO
ÁREA (ha)
Águas Mornas, Florianópolis, 87.405,00
Garopaba, Imaruí, Palhoça,
Paulo Lopes, Santo Amaro da
Imperatriz, São Bonifácio, São
Martinho
-
MA, VRE, FOD,
FOM, FN e CA
27º51’00”S Fatma
48º48’00”W
-
-
-
-
-
-
-
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO MUNICIPAIS
UC DE PROTEÇÃO
INTEGRAL
INSTRUMENTO
LEGAL DE
CRIAÇÃO
MUNICÍPIO
ÁREA (ha)
TIPO DE
VEGETAÇÃO
LAT/LONG
RESPONSÁVEL
PELA
ADMINISTRAÇÃ
O
198
Parque Natural
Municipal
Reserva Biológica
(REBIO)
UC DE USO
SUSTENTÁVEL
Área de Relevante
Interesse Ecológico
ARIE
Área de Proteção
Ambiental
APA
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
INSTRUMENTO
LEGAL DE
CRIAÇÃO
MUNICÍPIO
ÁREA (ha)
TIPO DE
VEGETAÇÃO
LAT/LONG
RESPONSÁVEL
PELA
ADMINISTRAÇÃ
O
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
-
LAT/LONG
RESPONSÁVEL
PELA
ADMINISTRAÇÃ
O
(4)
Costão
Santinho
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO PARTICULARES
UC DE PROTEÇÃO INSTRUMENTO LEGAL
INTEGRAL
DE CRIAÇÃO
Reserva Particular do
Patrimônio Natural
(RPPN)
(No SEUC, no SNUC
é de Uso Sustentável)
01- Morro das
P. 043/99-N
Aranhas (Costão do
Santinho)(*)
08- Reserva Natural
Menino Deus
(Hospital de
Caridade) (*)
P. 85/99 de 06.10.99
MUNICÍPIO
Florianópolis
Florianópolis
ÁREA (ha)
44,16
17,00
TIPO DE
VEGETAÇÃO
FOD e VRE
FOD
(4)
do
Empreendimentos
Turísticos S.A.
Irmandade Senhor
J. Passos e Hosp.
de Caridade
199
OUTRAS ÁREAS PROTEGIDAS NÃO ENQUADRADAS NO SNUC/SEUC
ÁREA PROTEGIDA INSTRUMENTO LEGAL
DE CRIAÇÃO
Parque Municipal
01- da Galheta (PI)
(*)
02- da Lagoa do Peri
(PI) (*)
03- da Lagoinha do
Leste (PI) (*)
04- das Dunas da
Lagoa da Conceição
(PI) (*)
05- do Maciço da
Costeira (PI) (*)
Parque Ecológico
18- Córrego
Grande(*)
L. 3.455 de 16.08.90 D.
698 de 30.08.94, alterado
pela L. 195/97
L. 1.828 de 04.12.81 e D.
091 de 01.06.82
Tem Plano Diretor
aprovado em 1981.
D. 153/87, L. 3.701 de
07.01.92, L. 5.500/99
publicado no Diário
Oficial do Estado nº
16.215 de 26.07.99
MUNICÍPIO
ÁREA (ha)
TIPO DE
VEGETAÇÃO
LAT/LONG
RESPONSÁVEL
PELA
ADMINISTRAÇÃO
Florianópolis
149,30
VRE e FOD
Florianópolis
2.030,00
Florianópolis
804,10
FOD e VRE.(algs. 27º44’30”S Floram
áreas c/ pastag. e 48º32’10”W
agricult. de
subsistência)
FOD e VRE
27º46’30”S Floram
48º29’48”W
D. 1.261 de 23.05.75; Florianópolis
D.
563,00
213 de 14.12.79; D. 231
de 16.09.88
L. 4.605 de 11.01.95 D.
154 de 14.06.95
Proc. 3214/93-39
Florianópolis
1.456,53
Florianópolis
21,30
27º35’00”S Floram
48º25’10”W
FOD e VRE.
(dunas móveis,
semi-fixas e fixas
e sistema lagunar)
FOD(maciço do
centro-sul da Ilha
de Santa Catarina.
Protege
mananciais de
captação da
Casan)
27º37’46”S Floram
48º27’25”W
Principalmente
reflorest. com
Eucalyptus e
Pinus (Parque
(4)
27º37’30”S Floram
48º30’00”W
Floram
200
Urbano)
Reserva Ambiental
Parque Florestal
23- do Rio Vermelho
(PI) (*)
Parque Botânico
Parque Ambiental
Unidade de
Conservação
Ambiental (UCAD)
28- Desterro (PI) (*)
D. 2.006 de 21.09.62; D.
10.056 de 21.08.74;e D.
994/74
(Está em processo de
estudos coordenado pela
SAR para enquadramento
ao SNUC/SEUC)
-
L.2193/85
Florianópolis
1.297,00 ou
1.110,00
-
Florianópolis
-
465,80
Extensa VRE
litorânea q/ une o
Morro das
Aranhas à Barra
da Lagoa,
formando uma
diversidade de
sistemas à parte,
c/ áreas alagadas,
MA próximo da
orla da Lagoa da
Conceição,
maciços de
vegetação nativa,
dunas móveis, e
extensa área de
floresta plantada
com exóticas,
principalmente
Pinus)
-
-
27º32’00”S
48º26’0”W
SAR, Epagri e
Cidasc
-
27º31’45”S Ufsc
FOD (área mais
elevada do relevo 48º29’45”W
montanhoso,
divisores de águas
entre os distritos
de Santo Antônio,
Ratones e o
-
201
Parque
29- da Luz(*)
Parque Rodoviário
Reserva Ecológica
Horto Florestal
45- Canasvieiras(*)
-
L. 0575 de 18.12.01
Monumento Natural
Terra Indígena
(Reserva Indígena)
ÁREA PROTEGIDA INSTRUMENTO LEGAL
DE CRIAÇÃO
Área de Preservação
Permanente
(APP)
64- Manguezal do
Itacorubi(*)
65- Manguezal da
Tapera(*)
67- Pontal da
Daniela(*)
Encostas da Ilha de
Santa Catarina
Florianópolis
Florianópolis
3,74
170,00
-
-
MUNICÍPIO
ÁREA (ha)
L. 1.851/82, Plano Diretor Florianópolis
do Distrito Sede e L.
Complementar 001/97
150,00
L. 2.193/95(Plano Diretor Florianópolis
dos Balneários)
L. 5.091/97
Florianópolis
52,20
L. 2.193/95, Plano Diretor Florianópolis
dos Balneários e L.
Complementar 001/97
72.572,00
15,64
Distrito Sede)
(Tomb. Patrim.
Histór. Municíp).
Principalmente
reflorest. com
Eucalyptus e
Pinus. VRE
TIPO DE
VEGETAÇÃO
-
(4)
Floram
-
(4)
SAR
-
-
LAT/LONG
RESPONSÁVEL
PELA
ADMINISTRAÇÃO
MA (toda a área
do manguezal)
que pertence à
Ufsc através do D.
Presidencial nº
147/67
MA(toda a área do
manguezal)
MA e VRE
27º35’00”S Floram/Ufsc
48º31’25”W
FOD (todas as
encostas com
declividade igual
ou superior a 25o
ou 46,6%,
(4)
27º41’30”S Floram
48º33’29”W
(4)
Floram
Floram
202
recobertas ou não
por vegetação, o
sistema
hidrográfico que
forma as
principais bacias
de captação de
água potável, a
paisagem natural e
a fauna.
Área Tombada
69- Região da Costa
da Lagoa da
Conceição(*)
D. 247 de 06.11.86
(Patrimônio Histórico e
Natural do Município)
Florianópolis
967,50
70- Ilha do
Campeche(*)
71- Lagoinha
Pequena(*)
P. 270 de 18.07.00
Florianópolis
45,00
D. 135 de 05.06.88,
publicado no Diário
Oficial do Estado nº
13470 de 09.06.88
(Patrimônio Natural e
Paisagístico)
Florianópolis
35,50
72- Lagoa da
Chica(*)
D. 135 de 05.06.88,
publicado no Diário
Oficial do Estado nº
13470 de 09.06.88
(Patrimônio Histórico,
Natural e Paisagístico)
D. 216 de 16.09.85. O
Plano Diretor dos
Florianópolis
4,60
Florianópolis
0,92
73- Ponta do
Sambaqui(*)
FOD
(tombamento da
área histórica e
natural da região
da Costa da
Lagoa)
FOD
27º33’30”S Floram
48º28’30”W
27º41’46”S Iphan
48º27’52”W
Floram
VRE (Lagoinha e 27º39’2”S
área de entorno de 48º28’32”W
largura variável,
considerada Área
Verde de Lazer
definida pelo
Plano Diretor dos
Balneários)
27º41’36”S Floram
VRE (Lagoa e
48º29’30”W
faixa de entorno
de 50 metros de
profundidade em
relação ao seu
leito sazonal)
Se caracteriza
27º29’27”S Floram
principalmente de 48º32’21”W
203
Balneários definiu como
de APP, atualmente se
confirma como espaço de
lazer.
D. 112/85, publicado no
Diário Oficial do Estado
nº 12726 de 11.05.85
(Patrimônio Natural e
Paisagístico do
Município)
frutíferas e a
própria paisagem
Florianópolis
121,00
75- Dunas do Pântano D. 112/85, publicado no
do Sul(*)
Diário Oficial do Estado
nº 12726 de 11.05.85
(Patrimônio Natural e
Paisagístico do
Município)
Florianópolis
24,20
76- Dunas do
Santinho(*)
Florianópolis
91,50
74- Dunas do
Campeche(*)
D. 112/85, publicado no
Diário Oficial do Estado
nº 12726 de 11.05.85
(Patrimônio Natural e
Paisagístico do
Município)
VRE (dunas
móveis, semifixas e fixas
situadas ao longo
da praia do
Campeche.
Compreende a
área localiz. entre
a comunid. do Rio
Tavares até próx.
as Areias do
Campeche,
situada ao sul da
Lagoa da Chica)
VRE (dunas
móveis, semifixas e fixas,
situadas entre a
praia do Pântano
do Sul, a Estrada
Municipal e o
loteamento
Balneário dos
Açores)
VRE (Campo de
dunas móveis,
semi-fixas e fixas,
situado ao longo
da praia do
Santinho até a
praia dos Ingleses
27º40’30”S Floram
48º28’30”W
27º46’44”S Floram
48º31’44”W
27º27’00”S Floram
48º22’04”W
204
Florianópolis
953,50
78- Restinga de Ponta D. 216 de 16.09.85
das Canas(*)
(Patrimônio Natural e
Paisagístico do
Município)
79- Dunas da Barra da L. 3.771/92, publicado no
Lagoa(*)
Diário Oficial do Estado
de 28.01.92
Florianópolis
21,50
Florianópolis
6,6
80- Dunas da
Armação do Pântano
do Sul(*)
Florianópolis
5,90
77- Dunas dos
Ingleses(*)
D. 112/85, publicado no
Diário Oficial do Estado
nº 12726 de 11.05.85
(Patrimônio Natural e
Paisagístico do
Município)
D. 112/85, publicado no
Diário Oficial do Estado
nº 12726 de 11.05.85
(Patrimônio Natural e
Paisagístico do
e paralela à
Estrada Geral do
Santinho, numa
profundidade
variável)
27º27’30”S Floram
VRE (Campo de
48º23’30”W
dunas móveis,
semi-fixas e fixas,
que se entendem
da praia do
Moçambique pela
planície do Rio
Vermelho até
próximo à área
urbanizada de
Ingleses)
VRE e MA
27º24’06”S Floram
48º25’49”W
VRE (dunas
móveis e fixas de
baixa latitude que
formam o cordão
litorâneo ao longo
da Praia da Barra
e que tem
continuidade ao
longo da Praia do
Moçambique)
VRE (dunas
móveis, semifixas e fixas,
situadas ao longo
da praia)
27o34’15”S Floram
48o25’50”W
27o44’30”S Floram
48o30’55”W
205
Município)
SIGLAS, REFERÊNCIAS E OUTRAS OBSERVAÇÕES
*SIGLAS UTILIZADAS:
UC - Unidade de Conservação
(PI) Proteção Integral
(*) consta em cartograma
(#) requer confirmação de categoria de gestão
P. – Portaria
Proc. – Processo
D. – Decreto
L. – Lei
Res. – Resolução
FOD – Floresta Ombrófila Densa
FOM – Floresta Ombrófila Mista
FED – Floresta Estacional Decidual
FN – Floresta Nebular
CA – Campo
VRE – Vegetação de Restinga
MA – Manguezal
(1) não consta instrumento legal de criação
(2) não consta tamanho da área
(3) para definir cobertura vegetal
(4) para definir coordenadas geográficas.
(5) não consta responsável pela administração ou proprietário
* SIGLAS DAS INSTITUIÇÕES:
Ajovacar (Associação de Agricultores José Valentim Cardoso)
Apremavi (Associação de Preservação do Meio Ambiente do Alto Vale do Itajaí)
Casan (Companhia Catarinense de Águas e Saneamento)
Celesc (Centrais Elétricas de Santa Catarina SA)
Cidasc (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina)
Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital – Florianópolis)
206
Deinfra (Departamento Estadual de Infra-estrutura de Santa Catarina)
Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina)
Faema (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Blumenau)
Fatma (Fundação do Meio Ambiente do estado de Santa Catarina)
Fcam (Fundação Cambirela de Meio Ambiente)
Floram (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis)
Funai (Fundação Nacional do Índio)
Fundema (Fundação Municipal do Meio Ambiente de Joinville)
HBR (Herbário Barbosa Rodrigues)
Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis)
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária)
Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional)
Jica (Associação de Cooperação Internacional do Japão)
MEC (Ministério da Educação)
Rffsa (Rede Ferroviária Federal SA)
Samae (Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto)
SAR (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Agrícola e Política Rural)
Ufsc (Universidade Federal de Santa Catarina).
*FONTES CONSULTADAS:
Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)
Sistema Estadual de Unidades de Conservação (SEUC)
Fundação do Meio Ambiente – FATMA
Unidades de Conservação no Brasil - Cadastramento e Vegetação - 1991/94 (IBAMA)
Instrumentos Legais de Criação
Formulários
Encaminhados pela FATMA e preenchidos pelas prefeituras municipais de SC (2002)
Prefeitura Municipal de Joinville – Secretaria da Agricultura e Meio
Ambiente (pesquisa internet)
Prefeitura Municipal de Florianópolis (pesquisa internet)
Relatório 98/99 e 00/01 - IBAMA/SC
Unidades de Conservação e Áreas Protegidas da Ilha de Santa Catarina – CECCA – 1997
Consórcio Quiriri
Diagnóstico Ambiental do Estado de Santa Catarina - 1999 (SDM) – Minuta
Proposta de Reconhecimento ou Renovação do Título de Posto Avançado da RBMA - 2001 (Conselho Nacional da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica -
207
CNRBMA).
Sistema de Informação das Unidades de Conservação - Lista das UC´S Federais - IBAMA (pesquisa na internet)
BDT (Base de Dados Tropical) - Unidades de Conservação das Zonas Costeira e Marinha do Brasil (pesquisa na internet)
Comitê de Gestão da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí (pesquisa internet)
Parques do Brasil (pesquisa internet)
Fundação Nacional do Índio (pesquisa internet), IBGE.
OBSERVAÇÃO:
Os números na frente de cada Área Protegida corresponde ao número constante no Cartograma das Áreas Protegidas
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As Relações entre Ecoturismo e Educação Ambiental no