KAIROS
Boletim da Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica
“A arte é longa, o tempo curto, a ocasião (KAIROS) fugidia, a experiência enganosa.”
SOCIEDADE PORTUGUESA
DE PSICOLOGIA CLÍNICA
Nº1 – Julho 2006
Coordenação: Sector de Publicações da SPPC
ÍNDICE
Índice……………….………………............1
Nota Editorial…………..........................1
Artigos de Opinião
- Um psicólogo que seja bom
Vítor Franco……..………………………..2
Miguel Ângelo
- Reflexões sobre o Verdadeiro e o Falso
NOTA EDITORIAL
Recentemente
foi
Self
lançada
a
Newsletter
da
Sociedade
Portuguesa de Psicologia Clínica que terá uma periodicidade
trimestral.
Este é o primeiro número de uma nova série do boletim
ambos
veículos
de
comunicação
- A Importância
Importância do Brincar na Intervenção
com Crianças
Raíssa Marcelino dos Santos……..........7
“Kairos”. A sua periodicidade será semestral.
São
José Carlos Coelho Rosa………….........4
interna,
espaços
informativos e de publicação (boletim).
Sublimações…………..………………….10
Outros objectivos estão programados: uma linha editorial de
Eventos Científicos………………………11
apoio à formação (interna e externa) e o estudo da
Actividades Culturais………...............12
possibilidade do lançamento de uma Revista Científica.
O grupo de trabalho do Sector “Publicações” está estruturado,
Normas para Publicação no Boletim
motivado e começa a mostrar produtos do seu esforço poucos
Kairos, Contactos e Ficha Técnica…..13
meses após a tomada de posse da Direcção. Outros sectores
Eros e Psique
têm outros trabalhos produzidos, em gestão ou em projecto.
Em prol dos interesses associativos é este o exemplo que nos
Adaptação de Isaque Neves…….........14
parece dever ser atendido.
António Jorge Andrade
1
Artigos de Opinião
Um psicólogo que seja bom
Vítor Franco*
Há poucos dias, telefonou-me uma pessoa amiga pedindo se lhe poderia
indicar um psicólogo, que fosse bom, para uma amiga, uma senhora de sessenta e tal anos,
como fez questão de logo esclarecer.
Dei conta que já tive de procurar responder a pedidos iguais a este muitas
dezenas de vezes; ora para crianças, ora para adultos, casais ou famílias; ora para problemas
específicos ora para situação sobre as quais não havia qualquer informação adicional.
Constatei ainda, e aí com espanto, que a dificuldade em responder a esta solicitação não é
hoje muito menor do que era há 10 ou 15 anos, e que os nomes que acabo por incluir na
minha lista de sugestões não aumentaram por aí além e ela continua a ser demasiado curta e
repetitiva.
No entanto, nos últimos 10 anos o número de licenciados em Psicologia
cresceu exponencialmente, numa autêntica explosão formativa que produziu milhares de
psicólogos, nada tendo a ver com os escassos 250 que em cada ano entravam nas
Universidades portuguesas quando da criação das licenciaturas, em finais dos anos 70. O
número de psicólogos e a sua disseminação por sectores e áreas de actividade não
correspondeu, no entanto, a um significativo aumento das respostas de qualidade em domínios
da avaliação e intervenção clínica, nomeadamente a psicoterapia.
Também há já muitos anos encaro outra dificuldade recorrente: sempre que é
preciso escolher um psicólogo aparecem centenas de candidatos, num ostensivo excesso de
oferta, mas quando é preciso um profissional com formação e experiência clínica sólidas e
consistentes a dificuldade é enorme.
Por certo estas dificuldades não se encontram igualmente repartidas por todo o
território nacional e à carência em algumas cidades e regiões pode opor-se o excesso de oferta
*
Presidente da Direcção da Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica
2
na capital e nos maiores centros.
A maior procura de psicólogos conduz, sem dúvida, a uma cada vez maior
exigência de formação dos profissionais que querem ter uma actividade clínica,
independentemente dos contextos em que trabalham (sejam serviços de saúde, escolas,
instituições de solidariedade ou consultórios privados).
Desde 1989 a Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica tem vindo a cumprir
um papel fundamental na formação dos psicólogos clínicos de orientação psicodinâmica.
Papel esse hoje ainda mais decisivo, pois alicerça a actividade de um psicoterapeuta que não
centra a sua preocupação no sintoma mas na pessoa, na compreensão da sua vida mental e das
suas relações, na sua subjectividade e motivações, e, por isso, assume que a mudança se
inscreve no desenvolvimento e que a clínica não tem a ver apenas com a patologia.
Dois grandes desafios se nos colocam no avançar neste caminho de coerência
com que a SPPC se comprometeu:
O primeiro consiste em darmos à Sociedade uma dimensão verdadeiramente
nacional, descentralizada, de forma a que os psicólogos espalhados por todo o país possam
aceder, em condições adequadas, às suas iniciativas formativas, profissionais e científicas.
Um primeiro grande passo neste sentido será dado, a breve prazo, com o início do programa
de formação no Porto.
O segundo concretiza-se em assumirmos a Sociedade como um ponto de
intersecção dos Psicólogos Clínicos de orientação psicodinâmica, contribuindo para a sua
formação e actualização permanentes. Vão nesse sentido, a preparação do II Forum de
Psicologia Clínica, de carácter internacional, a realizar no início de 2007 em Lisboa, e o
projecto de um programa de publicações de que faz parte o próprio retomar da edição deste
boletim.
Os desafios que se vão colocar à formação profissional dos psicólogos nos
próximos anos serão grandes e estão já definidas as suas duas grandes balizas: a adequação
das licenciaturas e mestrados à Declaração de Bolonha e a regulação da actividade
profissional decorrente da criação da Ordem dos Psicólogos.
Cremos
que
daí
resultará
maior
clarificação
das
competências
e
responsabilidades dos psicólogos psicoterapeutas. Pela nossa parte, continuaremos a
privilegiar uma formação psicoterapêutica sólida e coerente que dê aos profissionais bases
3
teóricas e técnicas claras, mas que salvaguarde a supervisão enquanto cerne do processo de
formação clínica, entendendo o processo terapêutico pessoal como uma dimensão
fundamental e diferenciadora desse percurso face a outras formações. Mas a qualidade da
prática clínica não se esgota na formação inicial e, por isso, queremos continuar a colocar ao
dispor dos psicoterapeutas meios para irem integrando a sua experiência clínica com
actualização e formação permanentes.
Este é, assim, um projecto de unidade, inovação e coerência a que queremos
agregar todos os sócios na SPPC, assim como aqueles que com ela têm colaborado e, de um
modo geral, todos os que se dedicam à prática psicoterapêutica.
Reflexões sobre o verdadeiro e o falso “self” ∗
José Carlos Coelho Rosa∗∗
Quando se fala de “self”, palavra inglesa que pretende designar o que é próprio de
cada um, há a tendência para pensar de imediato que nos estamos a referir ao autêntico, genuíno
de cada um de nós.
E é verdade. Quer se trate do próprio genuína e autenticamente verdadeiro; quer
do próprio genuína e autenticamente falso. E isto porque o ser falso ou verdadeiro não retira a
genuinidade e autenticidade da sua propriedade.
Uma ideia muito divulgada nos meios próximos da psicanálise é a de que o
desejável é funcionar sempre pelo verdadeiro “self”, sendo o falso “self” uma manifestação de
doença neurótica, quando não mesmo psicótica.
Com o devido respeito, devo dizer que não sou da mesma opinião.
∗
Comunicação apresentada no XV Colóquio da Sociedade Portuguesa de Psicanálise "Entre a Fantasia e a
Realidade: o Processo Criativo" A Obra de Donald Winnicott. Coimbra, Novembro de 2002. Publicado na
Rev.Port.Psiacnálise, vol. 26(1) em 2005.
∗∗
Psicólogo e Psicanalista
4
O verdadeiro “self” é aquela parte do próprio que está mais próxima do pulsional,
como diz Winnicott, enquanto o falso “self” seria produto da educação e resultado da
sociabilização.
Como já Freud dizia em vários dos seus escritos1, o Homem é um animal de horda
que se foi sociabilizando. Assim, foi-se progressivamente adaptando a regras que ele próprio foi
criando e que lhe permitiram ir construindo a sociedade civilizada.
Toda a aquisição tem um preço e, obviamente, a construção da civilização e a
aquisição da cultura foram pagas com o afastamento cada vez maior do estilo de vida e dos
comportamentos mais espontâneos, próprios da horda primitiva.
Nem todos podemos ser artistas, nem todos somos capazes de grande criatividade,
nem todos somos já capazes de “gesto espontâneo”. Dificilmente algum artista hoje pode dizer
que produziu uma obra sem trabalho. Basta olharmos a dificuldade de pintar e desenhar com a
genialidade pseudo-espontânea, mas profundamente cheia de sentido de humor de Miró.
Há uma “falsidade” necessária à sobrevivência da sociedade e da cultura. O
verdadeiro “self”, a manifestar-se na sua genuinidade sem a filtragem do processo secundário,
seria, na maior parte das vezes, de uma violência anti-social sem nome.
Certos procedimentos em pessoas analisadas, não representam uma maior
desinibição, nem informalidade, nem sequer uma maior libertação da expressão e da linguagem,
mas antes impulsividade, egoísmo, anti-sociabilidade ou, no mínimo, falta de educação e
representam, para além de uma análise não conseguida, um ataque aos valores da civilização que
tão caro têm custado ao Homem desde a horda primitiva.
A sociabilização e a educação, para além de resultado da civilização, são
fenómenos estéticos e culturais e, por isso mesmo, criativos e, consequentemente, muito
próximos também do verdadeiro “self”.
Só a contestação impensada e impulsiva pode confundir educação com rituais,
mais ou menos “possidónios” ou “pirosos”, de fala ou de gesto, esses sim provenientes de um
também genuíno, autêntico e, quantas vezes descaradamente estudado, falso “self”.
“Crianças para Sempre” é o título de um livro recente do meu amigo Eduardo Sá.
Mas com cultura, educadas, sociabilizadas e integradas na civilização.
1
“Moisés e o Monoteísmo”, “Totem e Tabú”, “Psicologia de Massas e Análise do Eu”, “O mal-estar na Civilização”,
etc.
5
Contestar com respeito, afirmar-se sem se impor, saber receber e dar, negociar e
trocar são outras tantas formas de manifestação do verdadeiro “self” suficientemente adaptado
por um certo condimento de contenção a que poderíamos chamar “falsidade”.
Estou em crer, por isso, que não há na saúde mental do homem actual,
propriamente lugar para o verdadeiro nem para o falso “self”. Há sim, um espaço de
sobrevivência e de convivência ironicamente virado para o que se procura ser verdadeiro sem
descurar a possibilidade e a existência do falso que sempre existe em toda a chamada “verdade”.
Winnicott chamou a esse espaço, o “espaço transicional” do jogo.
Jogo, transacção, negociação, flexibilidade contra a cristalização, a rigidez e o
integrismo de qualquer espécie.
Esse “espaço transicional” não permite dogmas, religiões de qualquer natureza.
No entanto, Winnicott, que tanta importância deu ao jogo, nunca se debruçou
sobre um dos temas mais característicos dessa actividade: o humor.
O humor não é bem tolerado pelas religiões, pelos dogmáticos, pelos ditadores e
pelos autocratas. Basta como exemplo ver como Umberto Eco pôde escrever o extraordinário
romance “O Nome da Rosa” baseado só no perigo que constitui o humor, a ironia e o riso para os
dogmas.
Com efeito, com os dogmas não se brinca... Só se pode brincar com a inteligência
e a flexibilidade com que uma criança se olha, sem se levar demasiadamente a sério, mas com a
dignidade de quem realmente se olha, para que a brincadeira e o humor também não descambem
na troça.
Na verdade, o humor só é possível pela manifestação do verdadeiro “self” através
de um processo em que ele mesmo se esconde. Efectivamente, é um processo em que o
verdadeiro “self” transparece, mas não aparece; se exprime escondido atrás da máscara trágica
que é a “persona”2 do teatro grego.
A vida humana parece, pois, só poder ser autenticamente vivida nesse espaço de
jogo, recheado de humor e ironia em que o “verdadeiro” e o “falso” coexistem, permitindo a
desdramatização e relativização do verdadeiro trágico, pela arte do uso moderado e ajustado da
máscara da personalidade civilizada.
2
Não esqueçamos que, para os gregos, a “persona” é o que se mostra, não é o verdadeiro; esconde a verdadeira face
do actor, para dar vida à personagem.
6
Neste encontro científico, que tem como pano de fundo a evocação do pensamento
e obra de Winnicott, não quero deixar de acentuar a grande contribuição que, em minha opinião,
ele deu para a compreensão das civilizações modernas e para a prática da liberdade nas relações
entre as diversas culturas.
Com efeito, quem poderá viver, sem entrar num violento processo destrutivo, fora
deste “espaço transicional” de coexistência do “verdadeiro” e do “falso”?
Creio que é também neste sentido que o Prof. Doutor Eduardo Sá espera que
sejamos “Crianças para Sempre”, aproveitando o espaço de jogo que a vida em sociedade e o
convívio com os outros e com a diferença nos proporciona.
Como já é bastante frequente, concordo inteiramente com ele.
A Importância do Brincar na Intervenção Psicoterapêutica com Crianças
Raíssa Marcelino dos Santos*
A tentativa de definir “brincar” conduz muitas vezes a descrições alargadas que se
confundem com outros conceitos ou a definições tão reduzidas que se tornam demasiado
limitativas. Não existe uma definição compreensiva do brincar completamente aceite e
generalizada. Inclusivamente, as primeiras definições surgiram caracterizando-o como algo
negativo e prejudicial, como um mal necessário às crianças, sendo considerado de pouco
interesse em termos científicos e de investigação. A definição que aqui interessa e se procura,
constitui-se como uma tentativa de entender o brincar como instrumento de grande relevância
para a intervenção psicoterapêutica com crianças.
Aquilo que poderá distinguir o brincar de outras actividades do ser humano (como
o trabalho, as actividades sociais ou as relações sexuais, por exemplo) será a consciência de que
aquilo que se está a fazer não é real. É uma brincadeira – o comportamento é acompanhado por
*
Psicóloga Clínica
7
um significado de nível simbólico, sendo isso que permite que a actividade esteja liberta de
consequências. E é este um dos factores que torna o brincar algo de muito importante, de
essencial. Não pode de modo algum ser algo de trivial como noutros tempos se pensava (e, creio
eu, ainda hoje muitas vezes se pensa).
Ao brincar a criança está a ser constantemente estimulada e não apenas a queimar
energia. Ao mesmo tempo que brinca conhece o mundo, as suas regras e as pessoas que a
rodeiam. O brincar permite a expressão de conflitos e afectos, oferecendo-se como uma via de
exprimir aquilo que não é acessível pela palavra. Brincando a criança expressa-se, expressa o seu
mundo e a forma como o vê. Ao mesmo tempo recria esse mundo, procurando, inventando e
experimentando novas formas de compreensão da realidade e das relações. Prepara-se para o
futuro e aprende formas de resolver as situações que se lhe apresentam.
Paralelamente, ao brincar a criança pode imitar o adulto, sem receio de uma
comparação que a colocaria sempre numa posição desfavorável. Este distanciamento leva a
criança a um mundo onde ela tem todo o poder, onde pode criar sem receio, onde as regras dos
adultos não têm valor.
O brincar de uma criança é sem dúvida um indicador do seu desenvolvimento e
uma forma de a compreendermos. Por outro lado, o brincar é por si só uma forma de
desenvolvimento e de estruturação, em que se ensaiam diferentes papéis, se mobilizam defesas e
se integram e elaboram os acontecimentos. Pelo brincar é possível entrar no mundo dos adultos e
treinar os seus comportamentos. Pelo brincar é possível dar nome aos fantasmas internos e
derrotá-los de modo simbólico.
Para além de todas estas funções o brincar tem influência nas diversas áreas da
vida psicológica da criança, sendo um erro considerá-lo uma simples ocupação de tempo livre.
Obviamente a criança não tem consciência disto. Brinca porque é divertido, porque lhe dá prazer.
Deste modo, negar à criança que brinque é negar-lhe a oportunidade de se desenvolver, perdendo
por vezes momentos únicos de aprendizagem, que podem não se repetir. Em nenhum momento a
criança se deve sentir culpada por brincar ou por estar a perder tempo, quando deveria estar a
fazer coisas mais úteis.
Por tudo isto, na psicoterapia, em que a criança é a pessoa mais importante e em
que “comanda” a situação, onde ninguém lhe diz o que fazer ou como fazer, onde não é criticada
(mas onde existem limites, e por isso se sente segura), o brincar desempenha um papel
8
fundamental. Há mensagens importantes no brincar da criança, para as quais o psicoterapeuta
deve estar atento e, sobretudo, disponível. As crianças estão em constante crescimento e
mudança, interna e externamente, e este processo dinâmico deve ser acompanhado por uma
abordagem terapêutica igualmente dinâmica.
Apesar de muitas crianças possuírem vocabulário, não têm estruturalmente a
maturação suficiente para poderem associar verbalmente. Os brinquedos servem de mediadores
entre a criança (e as suas vivências internas) e o psicoterapeuta, porque são, por excelência, o seu
meio de comunicação. Os brinquedos são usados como palavras e o brincar é a sua linguagem.
A possibilidade de brincar livremente, ao que quiser, como quiser, facilita a
expressão, a projecção de emoções e de sentimentos. Ao mesmo tempo, a criança experiência um
momento de independência e de autonomia. Escolherá os brinquedos que lhe forem mais
convenientes, fará e dirá aquilo para que estiver preparada e da forma que lhe for possível na
altura.
O psicoterapeuta, ao conter e interpretar, ao dar significado ao que é inominável,
permite à criança transformar e transformar-se. A criança que está perante o psicoterapeuta não
representa um problema para ser analisado, mas é sim uma pessoa que deve ser compreendida.
Porque a brincar podemos fazer tudo... Podemos relacionar-nos, zangar-nos,
podemos amar, matar e morrer. E, sobretudo podemos viver.
Bibliografia:
-
Axline, V. (1975). Play Therapy. New York: Ballantine Books.
-
Chateau, J. (1987). O Jogo e a Criança. São Paulo: Summus Editorial.
-
Coelho Rosa, J. C. & Sousa, S. (coord.) (2006). Caderno do Bebé. Lisboa: Fim de Século.
-
Garvey, C. (1992). Brincar. Lisboa: Edições Salamandra.
-
Klein, M. (1973). La técnica psicoanalítica del juego, su historia y significado. In Bierman (ed.), Tratado de
Psicoterapia Infantil, Vol. 1 (pp. 170-186). Barcelona: Espax.
-
Landreth, G. (2002). Play Theraphy: the art of the relationship. New York: Brunner-Routledge.
-
Sá, E. (2000). Psicologia dos Pais e do Brincar. Lisboa: Fim de Século.
-
Solnit, A. (coord.) (1987). Psychoanalytic Study of the Child, Vol. 42, 48 e 50. Newhaven: Yale University
Press.
-
Winnicott, D. (1975). Jeu et Réalité. Paris: Gallimard.
-
Yawkey, T. (1984). Child’s Play – Developmental and Applied. New York: Lawrence Erlbaum.
-
Sá, M. (1991). Actas de Psicologia Clínica. Lisboa: Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica.
9
Sublimações
Fotografia de Henrique Bento
“São coisas do Mundo
Retalhos da Vida
São coisas de qualquer lugar”
Excerto de “Retalhos” (compositores: Paulo Debétio; Paulinho Rezende / intérprete: Alcione - 1976)
Escritor austríaco nascido em Praga, em 1875, tendo falecido em Valmont, na Suiça, em
1926. A sua criação poética iniciou-se com composições de estilo impressionista, nas quais
se antecipam alguns dos temas centrais da sua obra, como por exemplo: a morte, a pobreza,
a mística, temas estes envoltos na tendência decadentista da época. A partir de um certo
momento, a sua poesia tornou-se impessoal, objectiva, criada a partir das coisas que
alcançam a sua expressão na poesia, tendo-se esta atitude desenvolvido em paralelo com
um profundo misticismo, culminando nos Sonette an Orpheus (1923) e nas Duineser Elegien
(1923). Estas obras questionam quais as possibilidades do homem viver sem Deus, sendo
que, desta maneira, a única forma de redenção se vislumbra apenas na criação poética.
A Nona Elegia
“Porquê, se é possível viver o prazo da existência,
Até ao seu termo, como loureiro, um pouco mais escuro do que
Todos os outros tons de verde, com pequenas ondas no rebordo
Da folhagem (como o sorriso de um vento) – : porquê então esta
Forçosa existência humana –, e, evitando o destino,
Ter saudade do destino?...
Oh! não porque há a felicidade,
Proveito antecipado de uma perda próxima.
Não por curiosidade, ou para exercitar o coração,
que também haveria no loureiro…
Mas porque estar aqui é muito, e porque tudo
o que é daqui aparentemente precisa de nós, estas coisas efémeras, que
estranhamente nos dizem respeito. A nós, os mais efémeros. Cada uma
uma vez, só uma vez. Uma vez, não mais. E nós também
uma vez. E nunca mais. Mas o
ter sido uma vez, mesmo uma só vez:
o ter sido terreno, parece irrevogável.”
(…)
Rilke, R.M. (2002). As Elegias de Duíno (2ªed.). Lisboa: Assírio & Alvim
10
Eventos Científico
Científicos
Julho:
II Conferência de Neuropsicologia
Data: 1 Julho 2006
Local: Auditório Agostinho da Silva – ULHT, Lisboa, Portugal
Organização: Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias (ULHT)
45th IPA Congress – Remembering, Repeating & Working Through in Psychoanalysis
& Culture Today
Data: 25 a 28 de Julho de 2007
Local: Berlim, Alemanha
Organização: International Psychoanalytical Association (IPA)
Agosto:
114th Annual Convention of the American Psychological Associatiom (APA)
Data: 10 -13 Agosto 2006
Local: New Orleans, Louisiana, EUA
Organização: APA
Outubro:
3rd International Conference on the Work of Frances Tustin
Data: 13 a 15 de Outubro de 2006
Local: Veneza, Itália
Novembro:
VI Simpósio Nacional de Investigação em Psicologia
Data: 28, 29 e 30 de Novembro de 2006
Local: Universidade de Évora, Portugal
Organização: Associação Portuguesa de Psicologia
Colóquio “Psicanálise e Cultura ” - O Homem e a(s) Mentira(s)
Data: 17 e 18 de Novembro de 2006
Local: Fundação Eng. António de Almeida, Porto, Portugal
Organização: Instituto de Psicanálise do Porto
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Actividades Culturais
Pintura
Dança
Fotografia
Grandes Mestres da Pintura
«Zero Degrees», de Sidi Larbi
«Na Dupla Sombra das
Bonnard. Colecção Rau
Centro Cultural de Belém
Instituto de Investigação
Europeia: de Fra Angelico a
Museu Nacional de Arte
Antiga (MNAA)
18-05-2006 a 17-09-2006
«Quartos imaginários» -
pintura de Nikias Skapinakis
Museu Arpad Szénes
Szénes -
Cherkaoui e Akram Khan
(CCB)
05-07-2006 a 06-07-2006
Árvores»
Científica Tropical - IICT
Rua da Junqueira, nº 86 - 1º
Lisboa
«O Quebra Nozes»
Nozes»
Coliseu do Porto
28-11-2006
Vieira da Silva
05-05-2006 a 23-07-2006
Teatro
«1755 O Grande
Terramoto», de Filomena
Filomena
Oliveira e Miguel Real
Teatro da Trindade
De 19 Abril a 29 Julho
4ª-Sab: 21h00; Dom: 16h00
«Metamorphoses», de
Ovídio
Ruínas do Convento do
Carmo (Lisboa)
21 e 22 Julho - 22h00
«Electra», de Sófocles,
«Ilíada, Odisseia e Eneida» -
National Radu Stanca de Sibiu
Tosto
(TNDMII)
De 19 a 21 de Julho - 21h45
«Urgências 2006»
«The Pillowman», de Martin
De 6 a 30 Julho
Teatro Municipal Maria
Eurípedes - pelo Théatre
encenação de Gianluigi
Teatro Nacional D. Maria II
Teatro Nacional D. Maria II
4 e 5 Julho - 21h30
Teatro Municipal Maria Matos
McDonagh
4ª-Sab: 21h30; Dom: 17h00
Matos
4ª-Sab: 21h30; Dom: 17h00
Música
Ute Lemper – Auditório dos
Oceanos, Casino de Lisboa
13 de Julho – 22h00
Pixies - Pavilhão Atlântico
20 de Julho - 21H00
Depeche Mode «Playin
«Playing
g The
Angel»
Estádio José de Alvalade
28 de Julho - 21h30
De 7 Setembro a 15 Outubro
Cinema
Caetano Veloso
Centro Cultural de Belém
2 de Agosto – 22h00
Rolling Stones
Estádio do Dragão
12 de Agosto
«Loucuras de um Génio»
Génio»
«Natureza Morta»
Morta»
Cinema King
«Modigliani»
Modigliani»
Cinema Quarteto
Simply Red
Pavilhão
Pavilhão Atlântico
07 de Setembro - 21h00
12
NORMAS PARA A PUBLICAÇÃO DE TEXTOS NO BOLETIM “KAIROS”
- O(s) autor(es) deverão ser membros da SPPC.
- Os textos devem ser originais, podendo ser de opinião ou reflexão acerca de
assuntos gerais da actualidade e, sobretudo, de temáticas relevantes para a
Psicologia Clínica e para a Psicoterapia Psicodinâmica.
- Os textos não devem exceder as 3 páginas dactilografadas a espaço e meio,
com letra Times New Roman ou Arial tamanho 12, marginadas a 4 e 1,5 cm.
- Os textos devem ser enviados em suporte electrónico (compatível com Word),
por email ou em disquete ou CD.
- A publicação dos textos será sempre sujeita ao parecer da Coordenação do
Boletim,
tendo
em
conta
a
sua
relevância,
qualidade
e
possíveis
condicionamentos face ao espaço disponível, estrutura e objectivos do Boletim.
- Os textos originais não serão devolvidos, quer sejam ou não publicados.
- Os textos serão sempre da exclusiva responsabilidade dos seus autores.
- Os membros da SPPC poderão ainda fazer chegar à Coordenação do Boletim
informações de interesse geral ou para a classe, para eventual publicação.
Morada para envio:
A/C Sector Publicações
Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica
Rua Andrade Corvo Nº50, 6ºdto 1050-009 Lisboa
Email: [email protected]
Ficha Técnica
Equipa
Isaque Neves, Nádia Oliveira, Raíssa Santos, Teresa Cunha
SECTOR PUBLICAÇÕES:
Coordenação:
António Jorge Andrade, Graça Marrocano
Colaboradores:
Isaque Neves, Maria do Céu Paulo, Nádia Oliveira, Raíssa Santos, Teresa Cunha
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EROS E PSIQUE – ADAPTAÇÃO DA NARRATIVA DE APULEIO, POR ISAQUE NEVES
Psique era a mais nova de três filhas de um rei e era extremamente bela. A sua beleza era tamanha que pessoas de
várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que apenas eram prestadas à própria Afrodite,
mas que agora via os seus templos serem abandonados. Esta, levada pelo ciúme incontido pede ao seu filho Eros para,
com uma das suas setas, ferir de amor Psique levando-a a apaixonar-se pelo homem mais vil e desengraçado da Terra.
Porém, assim que Eros se confrontou com a sua beleza recaiu sobre ele o próprio amor impedindo-o, por isso, de
cumprir o pedido da mãe.
Entrementes, o pai de Psique, vendo que esta não era desposada por nenhum homem, julgou, por esse facto, ter
ofendido os deuses e decidiu consultar o oráculo de Apolo. Eros havia falado com Apolo acerca do amor que sentia por
Psique e por isso pediu-lhe auxílio. Desse oráculo resultou que o pai devia levar a sua filha, vestida de vestes muito
negras, para o cume de uma montanha a fim dela ser desposada por uma terrível serpente alada. Assim o pai fez.
Quando a bela jovem foi abandonada à sua sorte, sozinha, no cume da montanha foi imediatamente invadida por um
medo profundo. Enquanto chorava chegou até ela uma brisa suave, silenciosa. Era o Zéfiro. Sentiu-se transportada,
flutuando pelos ares para um manto de relva ornamentado de aromáticas flores. Adormeceu. Quando acordou
encaminhou-se para o interior de um palácio que se exibia à sua frente majestoso. Foi recebida por umas vozes que a
despiram dos medos e das roupas para que lhe fosse proporcionado um divino banho e uma olímpica refeição.
Quando a noite inundou o palácio, Psique, sentiu, no lugar de escamas, umas mãos humanas a percorrerem-lhe o
corpo ao mesmo tempo que uma voz indizivelmente melíflua e bela lhe falava. Compreendeu com todos os sentidos que
não era uma serpente mas sim um deus quem lhe tocava e falava e, na escuridão plena, deu-se ao Amor. Foi a primeira
de muitas outras noites semelhantes.
Não passado muito tempo, Psique foi acometida por um sentimento de saudade tremendo pelas suas irmãs, as quais
por esta altura a procuravam. Eros, ao saber do seu desejo de reencontrar as irmãs, disse-lhe, com alguma relutância,
que poderia vê-las mas alertou-a para que ela nunca, independentemente do que acontecesse, lhe visse o rosto.
Assim se fez. Psique encontrou-se com as irmãs no opulento palácio. Estas, ao avistarem tamanha riqueza e opulência,
foram acometidas por uma inveja brutal. Também as suas irmãs logo compreenderam que não poderia ser uma
serpente o seu esposo mas sim um deus. Iniciaram imediatamente a fazer perguntas mil a Psique sobre a identidade do
seu esposo. Todavia, ela não tinha respostas. Destas perguntas sem resposta começou a nascer a dúvida e a
curiosidade dentro de Psique acerca da identidade do seu esposo. “Seria deveras uma serpente como vaticinara Apolo
ou seria um deus?” perguntava-se.
Certa noite, motivada não pelo amor mas pelo medo, e enquanto Eros dormia profundamente, Psique aproximou-se
lentamente dele, com uma candeia numa das mãos e uma faca na outra, no intuito de ver o seu rosto, o seu
desconhecido rosto. Eis o Espanto. O seu esposo não era um mostro mas sim um deus belíssimo. Apesar do alívio não
deixou de se sentir culpada por ter violado a sua promessa. Neste turbilhão de sentimentos inclinou-se e um pingo de
azeite caiu sobre a carne divina de Eros acordando-o. Este irado com a falta de confiança de Psique diz-lhe, por
palavras outras, que ela o traiu e que por isso mesmo ele a abandonaria porquanto o Amor não pode conviver com a
desconfiança.
Tudo à volta de Psique desapareceu. Ficou sozinha entregue à solidão e ao desespero durante uns tempos, tempos que
pareceram séculos. Porém, decidiu reconquistar a confiança de Eros e para isso encetou uma viagem por todos os
cantos do mundo à sua procura.
Após múltiplas provações, proporcionadas pela raiva e ciúme de Afrodite, Psique foi inundada pelo sono profundo.
Eros, que havia estado a recuperar da ferida infligida por Psique, foi ao encontro dela para resgatá-la ao letargo.
E assim, foi Eros quem, uma vez mais, encontrou Psique, e, quem, com o consentimento de Zeus a levou para o Olimpo
onde, com uma taça de Ambrósia, ingeriu a imortalidade. Com a imortalidade pôde, para todo o sempre, permanecer ao
lado de Eros.
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