Mudança do clima e acordos internacionais 10/04/2006, Goiânia Referências básicas • • • • • • www.ipcc.ch www.unfccc.int www.stabilisation2005.com www.climatelaw.org www.ieta.org www.oabsp.org.br Mudança do clima: noções básicas sobre o clima • Clima são as estatísticas (média, desvio padrão, etc.) das variáveis que definem o estado da atmosfera: – Temperatura; – Pressão; – Vento (direção e intensidade); – Precipitação; – Umidade. Mudança do clima: noções básicas sobre o clima • O clima é determinado pelas condições geográficas e pelo aporte de energia solar. • A radiação do sol esquenta a superfície, de forma diferente. • Com a rotação da terra, é gerado o movimento da atmosfera. Mudança do clima: noções básicas sobre o clima • A cor da radiação de um corpo depende de sua temperatura: – A superfície do Sol está a 6.000K, por isso a radiação solar é no espectro visível, com o máximo na cor verde. – A superfície da Terra está a 300K, por isso a radiação terrestre é no espectro infra-vermelho, invisível. Mudança do clima: Efeito estufa e aumento de sua intensidade • Uma estufa permite a entrada da radiação solar (verde) e bloqueia a saída da radiação infra-vermelho, aquecendo o interior. • O planeta Terra é uma estufa natural, porque certos gases na atmosfera são opacos à radiação infra-vermelho. Mudança do clima: Efeito estufa e aumento de sua intensidade • A grande maioria dos gases da atmosfera não produzem o efeito estufa: – Nitrogênio, oxigênio, gases nobres, 99% da atmosfera; • Alguns gases produzem o efeito estufa: – Vapor d’água, dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e outros gases industriais. Mudança do clima: efeito estufa e o aumento de sua intensidade • A concentração atmosférica do vapor d’água não depende da ação do Homem. • A concentração atmosférica dos outros gases que provocam o efeito estufa aumentou nos últimos 250 anos, e continua aumentando devido à ação do Homem. Mudança do clima: efeito estufa e o aumento de sua intensidade Concentração atmosférica de dióxido de carbono partes por milhão em volume 400 380 360 340 320 300 280 1950 1960 1970 1980 Ano 1990 2000 2010 Mudança do clima: Estado atual e previsões para o futuro • Os gases de efeito estufa são eliminados da atmosfera em tempos diferentes: – O dióxido de carbono é eliminado rapidamente no início: 15% permanece por mais de mil anos; – O metano permanece por 11 anos; – O óxido nitroso permanece por 114 anos. – Os HFCs (hifrofluorcarbonos), gases que substituem os CFCs (clorofluorcarbonos) que destroem a camada de oxônio, têm vida útil de poucos anos. – Os CFCs são gases de efeito estufa, porém a sua eliminação é objeto do Protocolo de Montreal e portanto não são considerados na Convenção do Clima. Mudança do clima: Estado atual e previsões para o futuro • O aquecimento aumenta a temperatura da superfície. Este processo é lento porque há que esquentar a água dos oceanos: – As camadas superficiais dos oceanos são misturadas em 20 a 30 anos; – As camadas profundas dos oceanos são misturadas em cerca de 500 anos. Mudança do clima: Estado atual e previsões para o futuro • Como resultado dos dois fatores, o aumento da temperatura média da superfície, e portanto a mudança do clima, resultante da emissão de um gás de efeito estufa, tem um máximo algumas décadas após a emissão. – 20 anos para o metano; – 40 a 50 anos para o dióxido de carbono e o óxido nitroso. Mudança do clima: Estado atual e previsões para o futuro Máximo efeito sobre o clima ocorre décadas após a emissão 15% do gás carbônico permanece na atmosfera por mais de mil anos Temperatura (% do aumento) 100 80 60 dióxido de carbono metano óxido nitroso 40 20 0 0 50 100 Anos após emissão 150 200 Mudança do clima: Estado atual e previsões para o futuro • A temperatura média da superfície no mundo já aumentou cerca de 0,6OC. • Dentro de 100 anos, a temperatura média da superfície no mundo aumentará mais cerca de 3,5OC. Mudança do clima: Estado atual e previsões para o futuro • A mudança do clima não é nem será uniforme em todo o mundo: – O aumento de temperatura é maior nas altas latitudes do hemisfério Norte; – A freqüência e a intensidade de eventos extremos será alterada; – Haverá mudanças no regime de precipitação. Mudança do clima: Inação, prevenção (mitigação) e adaptação • Face à mudança do clima, há somente três atitudes possíveis: – Inação – não fazer nada e aceitar os danos futuros; – Adaptação – quando possível, adaptar-se a um novo clima; – Mitigação das emissões – reduzir as emissões líquidas antrópicas de gases de efeito estufa. Mudança do clima: Inação, prevenção e adaptação • Na realidade, é impossível adotar somente uma das três atitudes – há que fazer um pouco de cada uma. Mudança do clima: Inação, prevenção e adaptação • Para decidir o que fazer, há que pesar o esforço de mitigar as emissões levando em conta os danos a serem evitados no futuro. A dificuldade é devida a dois fatores: – Aversão ao risco; – Valor hoje dos danos evitados no futuro. Mudança do clima: Inação, prevenção e adaptação • Necessidade de tratados internacionais para pactuar a repartição dos esforços para evitar, ainda que parcialmente, a mudança do clima: – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima; – Protocolo de Quioto; – Regime(s) pós 2012. Mudança do clima e acordos internacionais Acordos internacionais Acordos internacionais: As Conferências das Nações Unidas • Conferência das Nações Unidas sobre o Homem e o Meio Ambiente, Estocolmo, 1972. • Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, Rio de Janeiro, 1992. – Declaração do Rio de Janeiro. – Agenda21. – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – Convenção das Nações Unidas sobre a Conservação da Diversidade Biológica. – Convenção Internacional de Combate à Desertificação. Acordos internacionais: Antecedentes das negociações • 1971 – Estudo sobre o impacto do Homem sobre o clima – SMIC, MIT Press. – “A temperatura média da superfície aumentará em meio grau até o final do século e mais três graus nos cem anos seguintes.” – “Será necessário um esforço sem precedentes de cooperação para evitar que isso ocorra.” • 1988 – Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do Clima – IPCC (www.ipcc.ch). • 1990 – Segunda Conferência Internacional sobre o Clima. • 1990 – Resolução da Assembléia Geral da ONU. Acordos internacionais: Antecedentes das negociações • • Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima – IPCC, das Nações Unidas, com mais de mil cientistas de todo o mundo. Avaliações periódicas sobre o estado do conhecimento sobre mudança do clima, em seus aspectos de: – Ciência – Impactos – Medidas de prevenção e seus aspectos econômicos. – Relatórios de 1990, 1995, 2001 e 2007. Acordos internacionais: Negociações sobre mudança do clima • Comitê Intergovernamental de Negociação de uma Convenção sobre Mudança do Clima. • Mandato de Berlim. • Grupo Ad-hoc para o Mandato de Berlim. Acordos internacionais: A posição do Brasil • Direito ao desenvolvimento. • Responsabilidade histórica. • Responsabilidade comum porém diferenciada. • Recursos financeiros adicionais e transferência de tecnologia. Acordos internacionais: perspectivas da agenda ambiental • Criação de uma agência ambiental da ONU. • Interações crescentes com a OMC. • Desafio da redução pela metade das emissões mundiais. • O processo de Gleneagles. Mudança do clima e acordos internacionais Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre mudança do clima (UNFCCC) UNFCCC: Objeto das negociações internacionais • Convenção do Clima é um tratado essencialmente universal. • Meta da Convenção: estabilizar a concentração atmosférica de gases de efeito estufa. Para tal é necessário limitar e estabilizar as emissões líquidas globais de gases de efeito estufa. UNFCCC: Objeto das negociações internacionais • A redução das emissões implica mudanças econômicas, embora não cause perdas no total das economias. • Cabe aos governos administrar as transições necessárias, com incentivos e compensações quando necessário. • Algumas mudanças (de consumo, uso de recursos ambientais) afetam a posição relativa dos países – daí a necessidade de tratados internacionais. • O objeto central das negociações é a repartição do ônus associado: (a) aos danos causados pela mudança do clima; (b) às medidas de adaptação; (c) às medidas de redução de emissões. UNFCCC: Compromissos assumidos de acordo com a Convenção • • Artigo 4.1: – Programas nacionais de limitação de emissões. Comunicações periódicas das emissões nacionais e ,medidas adotadas para lidar com a mudança do clima. UNFCCC: Instrumentos da Convenção • Mecanismo financeiro para apoio às medidas de reduções de emissões dos países não incluídos no Anexo I. UNFCCC: Aspectos distributivos de um futuro regime de controle de emissões • Princípios da Convenção: – Responsabilidade comum, porém diferenciada, de todos os países; – Responsabilidade histórica, pois a mudança de clima ocorre décadas após a emissão. UNFCCC: Aspectos distributivos de um futuro regime de controle de emissões – Brasil tem cerca de 3% da população mundial; – As emissões do Brasil representam cerca de 3,5% das emissões mundiais; – O Brasil é responsável por cerca de 2,6% da mudança do clima hoje. UNFCCC: Metas, Políticas e Medidas • Mandato de Berlim: – Primeira opção – políticas e medidas, coordenadas internacionalmente. – Segunda opção – Metas quantitativas de limitação e redução de emissões, aplicadas às emissões nacionais. UNFCCC: Metas, Políticas e Medidas • • Em determinadas circunstâncias, o impacto econômico de metas para as emissões nacionais é menor, se comparado à adoção de políticas e medidas impostas internacionalmente. Isto não se aplica ao caso de emissões devidas ao desflorestamento, ou às emissões de metano de arroz irrigado na China e Índia. UNFCCC: Metas, Políticas e Medidas • Programas nacionais implicam a adoção de metas no âmbito de cada programa. • O Brasil propôs em Nairobi a adoção de metas para o desflorestamento na Amazônia. UNFCCC: Cooperação tecnológica • Tecnologia não é grátis, e em geral não está nas mãos dos Estados, com a possível exceção daquelas fortemente controladas, como a nuclear. • O Brasil, em muitos casos, é o detentor maior de tecnologias, especialmente no caso do uso de biomassa renovável • A cooperação tecnológica deve ser olhada sob o foco da proteção da propriedade industrial. Mudança do clima e acordos internacionais Protocolo de Quioto Protocolo de Quioto: Políticas, medidas e metas – Países já industrializados: metas de limitação ou redução de emissões relativas a um valor fixo, as emissões em 1990, e expressas em termos da soma das emissões nacionais de todos os gases em todos os setores. Protocolo de Quioto: Políticas, medidas e metas • Protocolo de Quioto: – Países ainda em fase de industrialização: programas nacionais de redução de emissões, com suas metas programáticas; – Participação no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, com metas por atividade de projeto, relativas às emissões que ocorreriam no futuro. Protocolo de Quioto: Políticas, medidas e metas • Protocolo de Quioto: – Mecanismos, como o MDL, que permitem a compensação de reduções de emissões entre países e entre projetos, de forma a promover a redução de emissões onde isso possa ser obtido mais facilmente. Protocolo de Quioto: Os anexos • Anexo B do Protocolo de Quioto (Anexo I da Convenção) estabelece os limites de emissões dos países industrializados para o período 2008-2012. Protocolo de Quioto: Os gases de efeito estufa do Protocolo de Quioto • O Protocolo de Quioto, e portanto o seu Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, considera os seguintes gases de efeito estufa: – – – – – – CO2 CH4 N2O SF6 HFCs PFCs dióxido de carbono (gás carbônico) metano óxido nitroso hexafluoreto de enxofre hidrofluorocarbonos perfluorocarbonos Protocolo de Quioto: Os hidrofluorocarbonos HFC-23 HFC-32 HFC-41 HFC-125 HFC-134 HFC-134a HFC-143 HFC-143a HFC-152 HFC152a HFC-161 CHF3 CH2F2 CH3F CHF2CF3 CHF2CHF2 CH2FCF3 CH2FCHF2 CH3CF3 CH2FCH2F CHF2CH3 CH3CH2F trifluorometano difluorometano (fluoreto de metileno) fluorometano (fluoreto de metila) pentafluoroetano 1,1,2,2-tetrafluoroetano 1,1,1,2-tetrafluoroetano 1,1,2-trifluoroetano 1,1,1-trifluoroetano 1,2-difluoroetano 1,1-difluoroetano monofluoroetano (fluoreto de etila) Protocolo de Quioto: Os hidrofluorcarbonos (continuação) HFC-227ca HFC-227ea HFC-236ca HFC-236cb HFC-236ea HFC-236fa HFC-245ca HFC-245fa HFC-365mfc HFC-43-10mee CF3CF2CHF2 CF3CHFCF3 CHF2CH2CHF2 CH2FCH2CF3 CHF2CHFCF3 CF3CH2CF3 CH2FCF2CHF2 CHF2CH2CF3 CH3CF2CH2CF3 CF3CHFCHFCF2CF3 HFC-c-447ef c-C5H3F7 1,1,1,2,2,3,3-heptafluoropropano 1,1,1,2,3,3,3-heptafluoropropano 1,1,2,2,3,3-hexafluoropropano 1,1,1,2,2,3-hexafluoropropano 1,1,2,3,3,3-hexafluoropropano 1,1,1,3,3,3-hexafluoropropano 1,1,2,2,3-pentafluoropropano 1,1,1,3,3-pentafluoropropano 1,1,1,3,3-pentafluorobutano 1,1,1,2,2,3,4,5,5,5-decafluoropentano (2H,3H-perfluoropentano) heptafluorociclopentano Protocolo de Quioto: Os perfluorcarbonos CF4 C2F6 C3F8 c-C4F8 C4F10 C6F14 C7F16 C8F18 PFC-14 PFC-116 PFC-218 PFC-c318 PFC-3-1-10 PFC-5-1-14 PFC-6-1-16 PFC-7-1-18 tetrafluorometano hexafluoroetano octafluoropropano octafluorociclobutano tetrafluoreto de carbono perfluoroetano perfluoropropano perfluorociclobutano perfluorobutano perfluorohexano perfluoroheptano perfluoroctano Protocolo de Quioto: Mecanismos de compensação de reduções de emissões • • • • “Bolha” européia. Comércio de emissões. Implementação conjunta. Mecanismo de desenvolvimento limpo. Protocolo de Quioto: Entrada em vigor • • • 55% das Partes. Representando 55% das emissões dos países do Anexo I. 15 de fevereiro de 2005. Protocolo de Quioto: Possíveis regimes futuros • • • • Continuação do regime de Quioto. Novo Protocolo. Regimes fragmentados. Necessidade de coordenação entre os regimes. • Métrica comum a todos os regimes. Mudança do clima e acordos internacionais Mecanismo de Desenvolvimento Limpo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: O instrumento • Serão aceitas para fins de demonstração de conformidade com a limitação de emissões de países industrializados as reduções de emissões em relação ao que seriam na ausência da atividade de projeto. • A redução de emissões é a diferença entre uma hipótese (a linha de base) e um fato (as emissões verificadas). • O Protocolo exige que as reduções sejam adicionais às que ocorreriam na ausência do projeto, ou seja, se as reduções já estivessem ocorrendo, seria necessário que o projeto produzisse reduções ainda maiores. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: O instrumento • O conceito de adicionalidade vem sendo interpretado erroneamente como significando que é necessário demonstrar a linha de base, o que é logicamente impossível. • Este fato é o responsável pelas dificuldades de desenvolvimento de metodologias, e portanto pela pouca penetração do MDL no setor industrial brasileiro. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: Projetos no Brasil e no mundo • Especialmente uso de biomassa na geração de energia elétrica e tratamento do metano de aterros sanitários. • Notavelmente ausentes projetos sobre o uso de etanol, biodiesel e carvão vegetal na siderurgia. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo: Perspectivas do MDL • • • • Falta de interesse de investidores para reduções após 2012, devido à insegurança jurídica. Países industrializados que são Partes do Protocolo de Quioto condicionam os seus compromissos ao desenvolvimento de um regime global. Concorrência com o comércio de emissões de outros regimes. Consenso mundial no sentido de que os mecanismos de compensação devem ser mantidos e aperfeiçoados.