O ESTUDO DE CASO COMO ALTERNATIVA AO ENSINO
TRADICIONAL DE FUNÇÕES ORGÂNICAS NA TERCEIRA
SÉRIE DO ENSINO MÉDIO
Jaime Rodrigues da Silva(1);
(1Universidade Federal de Sergipe - UFS; [email protected])
RESUMO
Esta pesquisa representa a análise de uma experiência, com o método de Estudo de Caso,
aplicada com estudantes do terceiro ano Ensino Médio em uma escola pública no município de
Penedo-Alagoas, para abordar conceitos envolvidos em Química Orgânica, através da análise
das fórmulas químicas de agrotóxicos e da identificação das Funções Orgânicas presentes em
suas estruturas. O objetivo é desenvolver o conhecimento científico atrelado a realidade que
cerca o educando, para que o aprendizado de conceitos químicos fortaleça a tomada de decisão e
o exercício da cidadania. A metodologia do estudo, ocorreu pela coleta de dados de formas
qualitativa e quantitativa. Os resultados obtidos indicaram que a estratégia de Estudo de Caso,
não só favoreceu o aprendizado dos conceitos, mas desenvolveu e motivou os estudantes a
cumprirem as atividades propostas pelo professor.
Palavras-chave: Estudo de Caso, Funções Orgânicas, Agrotóxicos.
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos no Brasil, muito se tem discutido sobre os rumos do Ensino de
Ciências (Biologia, Física e Química) na Educação Básica. No Estado de Alagoas, no
tocante ao ensino/aprendizagem de Química, no entanto, pouco se tem avançado. As
práticas que os professores utilizam, para apresentar os conteúdos, ainda envolvem a
forma tradicional de ensino. O aluno é levado a decorar questionários, fórmulas e
exercícios para responder a avaliações bimestrais e conseguir um conceito favorável.
Não existe preocupação em relacionar o que é ensinado na escola, com aquilo que é
relevante na vida cotidiana do aluno. Os conteúdos são apresentados, pelos professores,
como verdades absolutas e seguem uma “cartilha”, o livro didático, distribuída pelo
governo federal. Os alunos estudam para as avaliações, mas depois esquecem o que
leram. Dificilmente, apropriam-se de algum ensinamento, para que possam usar em sua
vida. Apesar disso, nota-se algumas melhorias nessas ferramentas, em virtude de
estudos do Ministério da Educação, que exigem através do Plano Nacional do Livro
Didático (PNLD), modificações nos textos e nas atividades propostas. Em contra
partida, a falta de preparo dos professores, para construir atividades e organizar
discussões, com o auxílio do livro, impede o aprofundamento dos conteúdos e agrava a
falta de interesse pela disciplina.
No ensino tradicional a aprendizagem é entendida como uma simples recepção de
informações ditas pelo professor, assumindo a linguagem como um mero “tubo” que
transmite, conduz as palavras do emissor (professor) para o receptor (aluno) com
significados rígidos (SCHNETZLER, 2010, p. 150).
O distanciamento, entre o que é ensinado e aquilo que é relevante para a vida do
aluno, de forma que ele atue como cidadão, ocasiona um certo desinteresse pela escola.
Como resultado negativo, desse grave equívoco, a educação brasileira e, por que não a
alagoana, amarga baixos percentuais de desempenho. Segundo o último Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), obtido em 2013, Alagoas teve, pela
segunda vez consecutiva, o pior resultado do país em todos os níveis de ensino. A
pontuação média das escolas do Ensino Médio foi a mesma de 2011. Com isso, o estado
ocupa o 27º lugar no ranking nacional, caracterizando um desempenho medíocre.
A avaliação, seja ela de acompanhamento ou certificação [...] não tem como objetivo
somente aparecer como uma pesquisa, e sua função não é apenas criar um ranking
das instituições avaliadas. Seu objetivo fundamental é diagnosticar a qualidade da
educação no país e orientar intervenções para a sua melhoria (LUCKESI, 2011,
p.431).
A avaliação feita pelo IDEB funciona como uma espécie de indicador, para
monitorar a qualidade da Educação. É calculado, a partir da taxa de aprovação das
unidades escolares e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), como a Prova
Brasil (PB) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB). Os índices de
aprovação são obtidos a partir do Censo Escolar, realizado anualmente. As médias de
desempenho utilizadas, para as escolas municipais é a PB e para os estados o SAEB.
Essas avaliações ocorrem a cada dois anos, com o objetivo de alcançar 6 pontos até
2022, média correspondente ao sistema educacional dos países desenvolvidos. Mesmo
não contemplando a Química é importante destacar, que essas avaliações devem
possibilitar mudanças no dia a dia da escola. Espera-se que as avaliações internas das
diferentes disciplinas, preparem os alunos para ler, interpretar, racionar e,
principalmente, para serem capazes de discutir as mudanças do mundo contemporâneo.
Avaliar, como parte de um projeto educativo, é diferente de medir. Medida refere-se
à aferição, expresso em notas, conceitos ou menções, do aprendizado pretendido.
[...] Avaliar, por sua vez, reflete determinada concepção de educação, do papel do
professor e do que é conhecimento. Só pela diferença entre medir e avaliar podem-se
perceber as variadas concepções do que seja avaliar (LIBÂNEO et al, 2011, p. 205).
O modelo de ensino tradicional, transmissivo/receptivo, não considera a
problemática envolvida na vida do aluno, o que explica, de certa forma, o abandono por
eles, após as avaliações, daquilo que é ensinado em sala de aula. A escola que
precisamos deve promover o aprendizado, a compreensão e buscar o interesse dos
alunos pelos conteúdos disciplinares, seja qual for a disciplina. O hábito da leitura, da
problematização e da reflexão tem que contemplar situações, onde os educandos se
sintam familiarizados. É preciso que eles se identifiquem, com os exemplos e as
situações que aparecem nas aulas, logo, o professor deve buscar novas possibilidades.
A motivação, para aprender um determinado conteúdo disciplinar envolve, entre
outras coisas, o despertar do interesse do aluno pelo assunto a ser estudado. Mas, a
aprendizagem só é satisfeita, quando o indivíduo percebe a necessidade de se apropriar
do conhecimento para a sua vida. O desafio atual, relacionado ao ensino de Química,
envolve a construção de uma relação entre os conhecimentos estudados pela disciplina,
o chamado saber científico, e aqueles relacionados com o cotidiano dos alunos. A
Química desenvolvida nas escolas, na maior parte das vezes, apresenta-se distante da
realidade dos alunos, sendo considerada pouco significativa em suas vidas.
Para Chassot (2008), a melhoria do ensino de química não está somente relacionada
com a contextualização social, mas também, com as interações entre as diferentes
disciplinas escolares. Portanto, resumidamente, podemos dizer que a forma de trabalhar
os conteúdos, possibilita uma maior interação do aluno com o mundo que o cerca.
A atual forma de transmitir conhecimentos nas escolas não prepara, na maioria das
vezes, alunos para um futuro que está constantemente em transformação, não
estimula o questionamento, o que torna os alunos cada vez mais passivos e
despreparados para as mudanças inevitáveis da sociedade. Essas escolas não
ensinam conceitos que serão relevantes para a vida do aluno, mas prepara de modo
geral, pessoas cada vez mais superficiais, não se ensina a pensar, a tomar decisões
importantes (MARQUES REIS, 2013, p.1).
No
contexto da unidade escolar onde se desenvolveu a pesquisa, os alunos da
terceira série do ensino médio, ainda não possuem amadurecimento suficiente, para se
envolverem em decisões conscientes sobre as situações enfrentadas no seu dia a dia,
principalmente, no campo do conhecimento científico. Considerando essa questão,
Freire (1996), argumenta que o professor pode intervir com propostas que estimulem os
alunos na tomada de decisão. Sendo assim, reafirmamos que as atividades elaboradas
devem se aproximar de situações reais, para que os alunos desenvolvam a essa
capacidade de leitura, reflexão e interpretação.
O objetivo básico do ensino de química para formar o cidadão compreende a
abordagem de informações químicas fundamentais que permitam ao aluno participar
ativamente na sociedade tomando decisões com consciência de suas consequências.
Isso implica que o conhecimento químico aparece não com um fim em si mesmo,
mas com objetivo maior de desenvolver as habilidades básicas que caracterizam o
cidadão: participação e julgamento (SANTOS & SCHNETZLER, 1996, p.29).
O professor, para obter melhores resultados, deve mudar o seu modo de atuação
em sala de aula, passando de detentor do conhecimento para articulador e orientador das
atividades.
Logo, a busca por novas metodologias e o uso de ferramentas inovadoras, constitui uma
estratégia para transformar as aulas. Nesse contexto, a atuação do profissional da
educação implica em modificar o seu papel tradicional de ensino e, refletir sobre o novo
perfil que envolve a formação do professor/pesquisador/orientador. O planejamento das
aulas deve ser modificado, de forma a atender a demanda social da educação moderna.
A participação ativa do aluno no processo de aprendizagem; mediação da
aprendizagem feita por professores e tutores; construção coletiva do conhecimento,
que emerge da troca entre pares, das atividades práticas dos alunos, de suas
reflexões, de seus debates e questionamentos; interatividade entre os diversos atores
que atuam no processo; estimulação dos processos de expressão e comunicação;
flexibilização dos papéis no processo das comunicações e das relações a fim de
permitir a construção coletiva do saber; sistematização do planejamento, do
desenvolvimento e da avaliação das atividades; aceitação das diversidades e
diferenças entre alunos; desenvolvimento da autonomia do aluno no processo
ensino-aprendizagem;
valorização
da
liberdade
com
responsabilidade;
comprometimento com a autoria; valorização do processo e não do produto
(TORRES, 2004, p.50).
O objetivo dessa pesquisa foi desenvolver um Estudo de Caso (EC), como forma
de estimular o aluno a criar o hábito da leitura e interpretação de situações cotidianas e
científicas, mas também aos professores, para analisarem outras possibilidades de
ensino e se motivarem a inserir em seus planejamentos essa proposta. O EC oferece aos
alunos, a oportunidade de contato com situações e problemas reais, possibilita
desenvolver o pensamento crítico e de habilidades, além de facilitar a aprendizagem dos
conceitos da disciplina. Como se utiliza de narrativas, os casos, descrevem situações
vivenciadas por seus personagens, onde precisam tomar decisões importantes em
relação a um determinado assunto. Para obter resultados satisfatórios, as narrativas
devem ser elaboradas para que o aluno possa se identificar com o contexto descrito. A
aproximação da realidade do aluno pode incentivar e estimular a busca de alternativas,
para a tomada de decisão e levar à solução do caso.
Segundo, Herreid (1998a apud Sá; Queiroz, 2009, p. 19) para elaborar um bom EC é
necessário considerar os seguintes aspectos:
“deve ter utilidade pedagógica – deve ser útil para o curso e para os estudantes; é
relevante ao leitor – os casos escolhidos devem envolver situações que
possivelmente os estudantes saibam enfrentar. Isso melhora o fator empatia e faz do
caso algo que vale a pena estudar; desperta o interesse pela questão: para que um
caso pareça real, deve descrever um drama, um suspense. O caso deve ter uma
questão a ser resolvida; deve ser atual – deve tratar de questões atuais, que levem o
estudante a perceber que o problema é importante; é curto – os casos devem ser
suficientemente longos para introduzir um fato, mas não tão longos que possam
provocar uma análise tediosa; provoca um conflito – a maioria dos casos é
fundamentada sobre algo controverso; cria empatia com os personagens centrais – as
características escolhidas para os personagens devem influenciar na tomada de
decisões; força uma decisão – deve haver urgência e seriedade envolvida na solução
dos casos; tem generalizações – deve ter aplicabilidade geral e não ser específico
para uma curiosidade apenas; narra uma história – com desfecho no seu final; inclui
citações – é a melhor maneira de compreender uma situação e ganhar empatia para
com todos os personagens. Deve-se adicionar vida e drama a todas as citações.”
Na pesquisa desenvolvida, a proposta foi trabalhar com os conceitos de
agrotóxicos, tema tradicionalmente abordado na terceira série do ensino médio, em
atividades de pesquisas de ciências ou em apêndices dos livros como leitura
complementar. Devido a necessidade de contextualizar os casos a serem elaborados,
desenvolveu-se o tópico Funções Orgânicas com a ajuda da análise de fórmulas de
Agrotóxicos, substâncias encontradas no cotidiano dos sujeitos. O tema usado
demonstrou ser interessante ao abordar o conteúdo, de forma diferente da memorização
tão comumente usada na unidade escolar.
METODOLOGIA
Para recolher os dados da pesquisa, os instrumentos de coleta analisados seguiram
os referenciais teóricos da pesquisa qualitativa e da pesquisa quantitativa. Os critérios
de análise foram definidos, através das respostas dos alunos e dos objetivos da pesquisa.
A metodologia quantitativa sugere, como ponto de partida, dois aspectos:
“primeiro, que os números, frequências, medidas, têm algumas propriedades que
delimitam as operações que se pode fazer com eles, e que deixam claro seu alcance;
segundo, que as boas análises dependem de boas perguntas que o pesquisador venha
a fazer, ou seja, da qualidade teórica e da perspectiva epistêmica na abordagem do
problema, as quais guiam as análises e as interpretações” (GATTI, 2004, p. 13).
Na análise textual discursiva, seguimos as proposições de Moraes e Galiazzi
(2011). Na fase inicial, a análise do conjunto de categorias que a leitura das informações
permitiu, demonstrou ser coerente e representativa. Com essa categorização, os
resultados foram transcritos, lidos e deles retiradas as falas relevantes para ampliar uma
ou outra categoria de análise. E finalmente, a partir dos fenômenos e discursos
observados, identificou-se com maior clareza os sentidos produzidos pelas
manifestações dos sujeitos da pesquisa. A atividade foi apresentada, a uma turma do
terceiro ano do ensino médio de uma escola pública estadual, no município de Penedo
no estado de Alagoas. O trabalho ocorreu durante um mês, com três aulas semanais, ou
seja, totalizando 12 aulas de 60 minutos. A turma iniciou a abordagem do conceito de
Funções Químicas, através do livro didático, mas os conceitos de Agrotóxicos seguiram
somente o método de EC. O tema selecionado para construção do caso foi
“intoxicação”, com o destaque para os agricultores que trabalham no cultivo da cana-deaçúcar, o que possibilitou a problematização e a contextualização dos aspectos
científicos, tecnológicos e sociais envolvidos nessa atividade tão essencial para a
economia da sociedade penedense.
Para a produção do caso, utilizou-se como referenciais uma reportagem e um
artigo. A reportagem, encontra-se no You Tube e foi apresentada no Programa Globo
Rural, da Rede Globo de Televisão de 2013, com o título: “Uso de agrotóxicos oferece
riscos à saúde e ao meio ambiente”. A outra fonte de pesquisa, consiste de um artigo
retirado da Revista Química Nova na Escola, na seção Química e Sociedade, com o
título: “A Química dos Agrotóxicos”, (Braibante e Zappe, 2012).
A elaboração do caso seguiu alguns aspectos como: a narrativa de uma boa
história, o despertar do interesse, a relevância para o leitor, a tomada de decisão e a
utilidade pedagógica. O método de EC aplicado, permitiu aos alunos participarem da
identificação e definição do problema; acessar, avaliar e usar as informações necessárias
à solução do problema e apresentar a solução. Com a explicação da atividade e a
aplicação do questionário, verificou-se os conceitos prévios que os alunos possuíam
acerca do tema. Em seguida, os alunos foram separados em grupos por afinidade e com
a cópia do EC foi feita a leitura e a discussão. Posteriormente, cada grupo ficou
responsável por pesquisar um agrotóxicos. Foram distribuídas figuras da embalagem e
das recomendações do fabricante para aplicação do produto.
A apresentação de três vídeos de pequena duração, da série Caminhos da
Reportagem da TV Brasil, que descreve os impactos ambientais do uso de agrotóxicos
no nosso país, culminou com a demonstração feita por slides, de como identificar as
Funções Orgânicas em estruturas de compostos distintos. No final da apresentação, um
questionário foi proposto. Os alunos foram orientados, a buscar as informações que
julgavam importantes para a solução do caso.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O projeto foi desenvolvido com uma turma do terceiro ano do Ensino Médio, em
uma escola pública, situada no município de Penedo em Alagoas. Os sujeitos de
pesquisa foram 33 alunos, em uma turma do período vespertino, com alunos na faixa
etária entre 15 e 18 anos de idade. Por ser um colégio localizado em uma cidade distante
da capital, os alunos têm origem variada e com nível econômico/social bem
diversificado. Do universo de alunos matriculados, somente 20 frequentavam
regularmente as aulas e responderam o questionário.
No questionário 1, que buscava verificar o conhecimento prévio dos alunos sobre
agrotóxicos e as complicações do seu uso nas plantações de cana de açúcar da cidade,
permitiu observar que os alunos pouco estavam familiarizados sobre as problemáticas
que envolvem a cultura. Quando inqueridos sobre os efeitos do uso do produto,
observou-se que a maioria afirmava ser melhor para a agricultura, mas não conseguiam
dizer como e ou por que. Na segunda pergunta, cerca de 18 alunos concordaram que
existe uma relação entre inovações tecnológicas, na fabricação de agrotóxicos e
aumento da produtividade na agricultura. As respostas que relacionavam o uso das
embalagens de agrotóxicos para outras finalidades, foi surpreendente. Muitos afirmaram
que em suas casas ou nas de vizinhos, os frascos eram separados para reservar água da
chuva. Posteriormente, se usava em atividades domésticas ou para dar de beber aos
animais. Indagados sobre a leitura dos rótulos, a resposta predominante foi a de que não
existia esse hábito. Portanto, segundo Delizoicov e Angoti (1992), esse ponto de dúvida
pode servir de aproximação entre professores e alunos, na discussão do cotidiano com a
ajuda do conhecimento científico.
Com a apresentação das reportagens e dos slides, logo após a exposição do caso,
percebeu-se uma motivação dos alunos e dos grupos para encontrarem as funções
orgânicas nas estruturas dos agrotóxicos.
Através das fontes de pesquisa disponível na escola, por exemplo, biblioteca e
internet, observou-se que o questionário de orientação para a tomada de decisão foi
determinante para a realização da atividade. Como etapa final de atuação dos grupos, foi
solicitado a pesquisa de outras substâncias que apresentavam o grupo funcional,
correspondente a função orgânica que eles tinham identificado na estrutura dos
agrotóxicos. Essa tarefa foi essencial, para que os alunos não pensassem que as funções
orgânicas eram características apenas dos agrotóxicos. Respostas que incluíam
substâncias complexas, como fórmulas de medicamentos, desinfetantes e cosméticos,
foram comuns. Mas, também existiram pesquisas com substâncias menos complexas,
como ácido acético, formol ou acetona, entre outras.
Segundo Chassot, 1995, quando os estudantes buscam informações sobre o
conhecimento químico acerca de funções da química orgânica e relacionam com
substancias que utilizam no seu dia a dia, minimizam o hermetismo conceitual da
química.
A tarefa da solução do caso, permitiu que os alunos escolhessem diferentes
formas de apresentar as suas conclusões, mas todos cumpriram no tempo determinado.
Foi percebido que os grupos usaram o EC como ponto de partida, onde com slides,
cartazes e a dramatização procuraram a melhor forma de explicar o que haviam
pesquisado. Por ser tratar de um tema interdisciplinar, o cultivo da cana-de-açúcar com
uso de agrotóxicos, possibilitou ao último grupo relacionar na sua apresentação tópicos
das disciplinas História, Geografia e Biologia.
Na primeira apresentação em slides, o grupo se preocupou também em
disponibilizar um vídeo que ampliou a discussão sobre o uso dos agrotóxicos. Intitulado
de: Controle Biológico auxilia agricultores a combater pragas que atingem a cana de
açúcar, o pequeno filme disponível no YouTube (https://youtu.be/jfINAb3oOTk),
demonstrou que existem alternativas ao uso dos defensivos agrícolas no combate as
pragas na lavoura de cana.
A segunda apresentação, com cartazes, o grupo discutiu os efeitos da exposição
aos agrotóxicos. Com figuras e pequenos textos, aumentou o conhecimento dos alunos
sobre os sintomas da intoxicação, inclusive destacando os símbolos usados pela
indústria para alertar sobre o perigo. Ainda discutiram os equipamentos que devem ser
usados durante a aplicação. Os grupos restantes, além de distribuírem trechos de
informações sobre a composição e cuidados com os agrotóxicos, usaram também o
quadro para desenhar as fórmulas estruturais dos compostos e destacar as suas funções
orgânicas. Com o término das apresentações, um questionário foi aplicado para avaliar a
contribuição do EC, na facilitação do entendimento sobre os conteúdos, além de outras
habilidades, como análise e interpretação de texto, raciocínio e organização de
informações, mas, principalmente, a tomada de decisão. Dos vinte alunos que
frequentavam as aulas regularmente, 18 estavam presentes no fechamento da atividade e
responderam ao questionário.
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos na pesquisa, permitiram concluir que a escolha do método
de Estudo de Caso demonstrou ser válido, pois contribuiu para que os estudantes
assimilassem as características das funções orgânicas e de seus correspondentes grupos
funcionais, ao mesmo tempo em que se conscientizavam dos perigos dos agrotóxicos
para a sua comunidade. As tarefas foram cumpridas e as apresentações, elaboradas pelos
alunos, incluíram os conceitos de funções orgânicas, além de informações relevantes
sobre os agrotóxicos. Em relação a proposta de trabalho, os resultados refletem o
envolvimento e a participação dos alunos durante a atividade, que de fato contribuiu
para a formação de cada aluno.
O tema “agrotóxicos”, com destaque para a intoxicação, acabou sendo um assunto
interessante e rico em informações químicas. Esse estudo, possibilitou aos alunos
construir o conhecimento interdisciplinar e desenvolver habilidades, como a pesquisa e
o trabalho em grupo. A formação de cidadãos mais conscientes e críticos, uma das
finalidades da atividade, foi cumprida. A inserção de um vídeo, com informações a
respeito das alternativas ao uso de agrotóxicos e a discussão interdisciplinar, proposta
por diferentes grupos, denota a relação do conhecimento químico com as situações reais
e cotidianas dos alunos. Contudo, espera-se que os conhecimentos oriundos dessa
atividade, ultrapasse os muros da escola e adicione algo de positivo na vida cotidiana da
comunidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRAIBANTE, M.E.F.; ZAPPE, J.A. A química dos agrotóxicos. Química Nova na
Escola, v. 34, n. 1, p. 10-15, 2012.
CHASSOT, A. I. Para que(m) é útil o ensino? Alternativas para um ensino (de Química)
mais crítico. Canoas: ULBRA, 1995.
DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A. Metodologia do ensino de ciências. São Paulo:
Cortez, 1992.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
GATTI, B. A. Estudos quantitativos em educação. Educação e Pesquisa, v. 30, p. 11-30,
2004.
LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA, J. F.; TOSCHI, M. S. Educação escolar: políticas,
estrutura e organização. 10a. Ed.- São Paulo: Cortez, 2011.
LUCKESI, C. C. Avaliação da aprendizagem: componente do ato pedagógico. 1a. ed. –
São Paulo: Cortez, 2011.
MARQUES REIS, T. et al. Investigando tipos de contextualização em livros didáticos
de química do PNLD 2012. XVI ENEQ/X EDUQUI-ISSN: 2179-5355, 2013.
MORAES, R.; GALIAZZI M. C. Análise Textual Discursiva. Ijuí: Unijuí, 2011.
SANTOS, W. L. P; SCHNETZLER, R. P. Função Social. O que significa o Ensino de
Química para formar o cidadão! Química Nova na Escola, n. 4, pp. 29, 1996.
SÁ, L. P.; QUEIROZ, S. L. Estudos de Caso no Ensino de Química. Campinas: Átomo,
2009.
SCHNETZLER, R. P. Alternativas Didáticas para o Ensino e a Formação Docente em
Química. Simpósio sobre Formação de Professores em Ciências Naturais. Anais do XV
END IPE, UFMG, Belo Horizonte, 2010.
TORRES, P. L. Laboratório on-line de aprendizagem: uma proposta crítica de
aprendizagem colaborativa para a educação. Tubarão: Ed. Unisul, 2004.
Download

o estudo de caso como alternativa ao ensino tradicional de funções