A VERDADE INTERIOR
Há uma experiência paradoxal na nossa vida que pode explicar muitos dos nossos
desconcertos e desânimos. O impulso para o alto, até ao mundo do espírito e a
transcendência em todas as suas expressões, a chamada a ser e a viver, chocam
constantemente com a nossa fragilidade. O caminho para o Mistério se nos oculta uma
e outra vez, a vocação de transcendência quebra-se sob o peso das nossas próprias
tendências egocêntricas, a chamada a ser o que somos torna-se difusa através da
desagregação que introduzem os nossos próprios dinamismos obscuros. Onde
encontrar uma resposta?
Edith Stein apressa-se a dar-nos o motivo inamovível onde se fixar a nossa confiança
nesta tarefa: “Deus mesmo se fez homem”. N’Ele, no Filho feito carne, temos sempre
aberto o caminho para Deus e para a nossa própria realidade, a reconciliação entre o
humano e o divino. Deus mesmo desceu até esta pobre humanidade que somos. Já
não estamos perdidos nem abandonados às nossas únicas forças porque Ele quis
tomar a nossa condição fazendo-a sua para toda a eternidade.
A mística e intelectual Edith convida-nos a acolher o que de verdade encontramos em
toda a visão antropológica, mas sempre a partir de um sentido crítico. A verdade
última da pessoa não está nas suas trevas, nas suas forças destrutivas nem nas
estruturas ou na despersonalização. Tão pouco a sua vocação mais autêntica será uma
construção sua simplesmente, um sonho ou uma projecção. Pelo contrário, anima-nos
a aceder ao mais profundo da nossa realidade, ali onde podemos reencontrar-nos com
o mais genuíno e próprio que é, surpreendentemente, um dom gratuito. Só assim,
escutando a chamada da verdade que habita no nosso interior, começamos a
descobrir o caminho da nossa plenitude e felicidade. Urge-nos entrar na profundidade
do coração e ESCUTAR.
“Esta verdade não é o facto despido da própria existência na sua finitude”. Finitude…
que difícil aceitá-la pacífica e serenamente! Mas se não a negamos, se não
protestamos nem nos empenhamos em afirmar o que não somos, poderemos
encontrar algo melhor. Porque “também é mais certo o facto de o ser eterno que se
encontra atrás desse frágil ser próprio”. No fundo do nosso interior, no mais profundo
do nosso ser, está Deus mesmo. Encontrar a nossa verdade significa, ao mesmo
tempo, reconhecer o Senhor dentro. Assim, sob a sua luz, se descobre quem sou eu
verdadeiramente e quem estou chamada a ser, esse projecto de filiação e fraternidade
divinas que adquire em cada ser humano os rasgos absolutamente singulares que Deus
sonhou.
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