Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 1188
A RELEITURA DO ARTISTA PABLO PICASSO APLICADA COM OS ALUNOS DO ENSINO FUNDAMENTAL, 1° CICLO. Dalila Cruz Santos 1, Renata Cristina Rabelo 1, Aliete Maria Gianelli Sylla 2 1
Discente do Curso de Artes Visuais da Universidade do Oeste Paulista. 2 Docente do Curso de Artes Visuais da Universidade do Oeste Paulista. E‐mail: [email protected] RESUMO O presente trabalho tem como objetivos refletir sobre a leitura e releitura de obras de arte, enfatizando o artista Pablo Picasso; proporcionar reflexões para arte educadores sobre a forma como a releitura está sendo aplicadas em sala de aula. Trata‐se de uma pesquisa bibliográfica realizada com base em livros, artigos e documentos de alguns autores que discutem sobre o tema. A pesquisa demonstrou a maneira que os professores estão trabalhando a leitura de imagens para a criação de uma releitura e fazendo‐os assim pensar e opinar, construindo, aprimorando e fortalecendo suas ideias e conceitos sobre arte. Compreender aquilo que vemos torna‐se fundamental para o exercício diário da cidadania; para isso, a reconstrução de um novo olhar, deve tornar‐se hábito nas aulas de artes, possibilitando um fazer artístico com significados, ensinar a gramática visual e sua sintaxe através da arte e tornar as crianças conscientes da produção humana de alta qualidade. Palavras‐chave: Leitura de imagem. Releitura. Arte. INTRODUÇÃO E OBJETIVOS A disciplina de “Arte” ou Educação Artística deve garantir aos alunos o conhecimento e vivência sobre os aspectos técnicos, inventivos, representacionais e expressivos em suas várias linguagens, para tanto é preciso que o professor organize um trabalho consciente. O apreciar arte é desenvolvido através de exercícios de observação e da própria produção. Apreciar significa educar os sentidos, avaliar a qualidade das obras, a leitura estética contribui na percepção da complexidade da vida. O indivíduo está a todo o momento em contato com imagens, decifrando códigos e símbolos, sendo que cada um tem uma forma de olhar, são diferentes níveis de percepção, essa transmissão de imagem acaba interagindo com formas e significados, os artistas não criam num vazio, são estimulados constantemente pelas tradições artísticas do passado. A leitura de imagens possibilita que o individuo estabeleça uma ponte entre o artista e o receptor e através dela atribuindo‐lhe significados, ela amplia as possibilidades de leitura para a realidade em que vivemos. Observando assim a necessidade e importância da leitura de imagens a pesquisa tomou forma com o seguinte problema em questão: Quais as principais dificuldades enfrentadas entre os professores do ensino fundamental com a leitura de obras para a produção de uma releitura? Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 1189
O objetivo deste trabalho consiste em estabelecer algumas reflexões sobre a leitura e releitura de obras de arte, enfatizando o artista Pablo Picasso; proporcionar reflexões para os arte educadores e sobre a forma que a releitura está sendo aplicadas em sala de aula. A apresentação de leitura e releitura de imagem requer, igualmente, um novo processo de ensino aprendizagem, uma nova postura do educador, capaz de inserir os alunos no contexto da arte. METODOLOGIA Pesquisa foi realizada a partir de referências bibliográfica, tais como livros, artigos e documentos diversos. Nessa modalidade de estudo busca‐se conhecer e analisar as contribuições culturais ou científicas do passado existentes sobre um determinado assunto, tema ou problema. Pode ser realizada independentemente ou como parte de pesquisa de laboratório ou de campo. RESULTADOS O papel do ensino da Arte com leitura de imagens. A arte é necessária na sociedade e na cultura, para observarmos, pensarmos e refletirmos, ela ajuda a provocar emoção e reflexão, interpretar o mundo, explicar e refletir a história humana, ela é para todos, embora muitas pessoas tenham a impressão de não entender. Segundo Barbosa (2009) a arte não é básica e sim fundamental na educação, porque é ela que representa o melhor trabalho do ser humano. Segundo Fusari e Ferraz (2001) a arte na educação escolar ajuda o representar, o exprimir sínteses de sentimentos que são incorporados nas obras artísticas e assim um diálogo entre o homem e o mundo. Oliveira (2004) nos fala que para entendermos um pouco a arte é preciso observar com atenção uma obra, minuciosamente, perceber detalhes, focalizar a atenção para encontrar detalhes significativos e assim memorizar aquilo que está sendo observado, a memorização depende da observação atenta os detalhes, cada individuo tem forma única de olhar uma obra de arte, ou seja, precisamos aprender ler a obra. O que percebemos quando olhamos um quadro depende da natureza do interesse com que o abordamos e dos hábitos de apreciação que formamos. Costela diz que “A transmissão da mensagem do artista para o expectador exige competência de ambos: daquele, para criar, e desde, para entender”. (1997, p.13) Segundo Oliveira (2004), para leitura de uma imagem devemos estar atentos às técnicas, cores que foram utilizadas, as texturas, a forma, a harmonia, o contraste, a luminosidade, as Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 1190
dimensões e proporções onde tudo é importante para compor uma opinião. A imaginação também é um fator muito importante, assim poderemos perceber e descrever o que estamos vendo. Costela (1997) destaca que durante a apreciação da obra é preciso obter informações do mundo cultural na qual essa obra foi gerada, prestar atenção nos objetos e através deles tentar fazer uma identificação direta, deixando esses objetos se tornarem símbolos que passam sugerir alguma coisa. O fator estético de uma obra sempre é relacionado a uma cultura onde as influências aparecem na obra, mas o estilo individual de cada artista também integra o conteúdo estilístico. É difícil de falar da importância da arte. Conforme cita Barbosa: “... o que a arte na escola principalmente pretende é formar o conhecedor, fruidor, decodificador da obra de arte. Uma sociedade só é artisticamente desenvolvida quando ao lado de uma produção artística de alta qualidade há também uma alta capacidade de entendimento desta produção pelo público.” (2009, p.33). A educação do olhar para a leitura de imagem e criação de uma releitura. Segundo Barbosa (2009) a falta de preparo na educação afeta a invenção, inovação e difusão de novas ideias, ela propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética. Reafirma‐se aqui a necessidade do professor aprofundar‐se e atualizar seus conhecimentos em arte e refletir sobre a prática pedagógica. Nossa idéia de leitura da imagem. Não falar sobre uma pintura mas falar a pintura num outro discurso, ás vezes silencioso, algumas vezes gráfico e verbal somente na sua visibilidade primária. (BARBOSA, A., 2009, p.20) No entanto muitos educadores não estão habilitados, na criação é necessário pensar e não somente copiar, e assim não estão preparados para a leitura de imagens. Barbosa (2009) diz que ao ler uma obra devemos ser cuidadosos para não transformar a leitura num simples questionário. Se as crianças forem preparadas para lerem imagens produzidas por artistas, elas serão preparadas para lerem imagens que cercam o seu meio, despertando sua percepção. Assim as aulas de arte vão deixando de ser uma mera atividade auxiliar ou recreativa, passando por um processo de construção de conhecimento. Barbosa (2009) nos diz que “A leitura social, cultural e estética do meio ambiente vai dar sentido ao mundo da leitura verbal”. (2009, p. 28) Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 1191
Hoje nas aulas de artes a leitura de imagens cresceu, uma das propostas mais frequentes por educadores de arte é a denominada “releitura da obra de arte”, é através da leitura de imagens que as crianças podem conhecer melhor as obras de arte, e assim fazerem a releitura dessas imagens. Mas antes de falar em releitura precisamos entender primeiro o que é releitura. Segundo Buoro (2002) releitura é uma nova leitura, reler, ler novamente. Essa releitura não precisa ficar restrita a produção artística, é algo novo do que havia sido lido anteriormente, é uma leitura mais atenta, com detalhes que poderiam ser passados anteriormente despercebidos. Aí está à importância de primeiro aprendermos a ler uma obra de arte, pois ao lermos uma obra estamos reconhecendo, através da visão, o que o artista queria passar com aquela imagem, interpretar o sentido, perceber, reconhecer, tentar decifrar, qual a sua intenção. Quando o aluno observa obras de arte e é estimulado e não obrigado a escolher uma delas como suporte de seu trabalho plástico a sua expressão individual se realiza da mesma maneira que se organizam quando o suporte estimulador é a paisagem que ele vê ou a cadeira de seu quarto. (BARBOSA, A., 2009, p.118). O importante na releitura não é a representação fiel da obra observada e sim a livre expressão. Releitura é uma nova leitura, reler, ler novamente. Essa releitura não precisa ficar restrita a produção artística, é algo novo do que havia lido anteriormente, é uma leitura mais atenta, com detalhes que poderiam ser passados anteriormente despercebidos. Buoro nos mostra que: Sendo assim, por releitura entende‐se aqui a tradução da significação do objeto como fundamento para uma nova construção, buscando‐
se nessa ação a re‐significação do mesmo objeto: re‐ler para aprofundar significados re‐semantizando‐os. Dessa forma, considera‐
se que toda nova produção oriunda de uma imagem referente é construção de um novo texto, no qual o sujeito produtor elabora uma interpretação, podendo ate mesmo partir para uma criação. (BUORO, 2002, p. 23) Releitura como experiência significativa. Além de alguns professores mal preparados, o material para prática de arte fica limitado para os educadores, ao ponto de não conseguir fazer uma leitura de imagem significativa, talvez a construção de leitores de imagem pudesse ganhar em amplitude e significação para todos os envolvidos. O contato com a bibliografia do artista também, seria necessária para conhecer os detalhes esclarecedores da obra, da história pessoal do artista inserindo ele mesmo uma cultura com a qual dialoga. Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 1192
Fusari e Ferraz (2001) nos diz que é necessário repensar no trabalho que está sendo aplicado e para isso requer uma metodologia de um saber específico, que os auxilie na descoberta de novos caminhos. Buoro (2002) diz que “A melhor capacitação de agentes envolvidos em projetos que integrem a arte e a educação é, pois, o passo decisivo para despertar outros indivíduos para o contato e as experiências que a arte proporciona”. (2002, p. 28) A leitura se faz presente em todos os momentos da vida no nosso cotidiano, a releitura é importante em qualquer área de estudo, ela leva as pessoas entender que é preciso sempre reciclar e renovar, para Buoro (2002) o contato com arte e seus conteúdos proporciona aos nossos olhos novos modos de ver e compreender a realidade, desvendar não apenas o que somos, mas também muito da matéria de que a própria realidade se constitui. Pablo Picasso, renomado artista espanhol do período cubista, também começou a fazer algumas releituras que se tornaram explicitas, mas à medida que vai se pondo a margem, distanciando‐se da imagem originária, torna‐se implícita. Picasso fez várias pesquisas inspirados em “Almoço na relva”, obra de Edouard Manet, pertencente ao período do Realismo, deixando bem claro a origem de sua inspiração: o original de Manet. Outras pesquisas do talentoso artista espanhol foram se distanciando gradativamente do original, reelaborando novos detalhes, modificando elementos, fazendo uma remodelação diferente de toda a obra. A releitura de Picasso insere modificações significativas, buscando diferenciar claramente a referência da obra, ele coloca suas características o que manteve foi o nome que nos faz ver como o artista interpreta a obra o seu olhar. Sobre isso Buoro nos ensina que: O artista é pessoalmente tocado por acontecimentos percepções que fazem parte do acontecimento de todos os homens. Processa‐os como observador‐sensor privilegiado da realidade, construindo um objeto cuja finalidade é desenvolver ao coletivo uma experiência a ser revivenciada de forma individual pelo leitor. (BUORO, 2002,p.63) Segundo Buoro (2002) a função do ensino da arte nas escolas deveria ser de construir leitores sensíveis e competentes para continuar se construindo, adquirindo autonomia do processo, fazendo assim aflorar o toque do próprio olhar a sensibilidade então de construir a sua forma de estar e viver no mundo. Sobre a mesma temática, Fusari e Ferraz (2001) nos mostra que as crianças precisam ser influenciadas por aquilo que está a sua volta, para desenvolver seu fazer artístico e seus Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 1193
conhecimentos específicas sobre várias linguagens artísticas, quanto mais estímulos a criança ter, maior serão as oportunidades para reelaborar suas experiências. É preciso entender que os educadores são responsáveis pela educação estética dos alunos, tanto pelo o que se oferece de imagens, quanto pelo que se aceita de trabalhos infantis muitas vezes, despersonalizados, Fusari e Ferraz (2001) nos diz que a criação de uma obra de arte nasce desde as primeiras elaborações até o contato com o público é necessário, portanto dar valor a estas, pois, isto é o resultado de expressões imaginativas, provenientes de sínteses emocionais. De acordo com Fusari e Ferraz “Para desenvolver um bom trabalho de Arte o professor precisa descobrir quais são os interesses, vivências, linguagens, modos de conhecimento de arte e práticas de vida de seus alunos.” (2001, p. 73). Com este estudo bibliográfico, relativo às questões iniciais que objetivaram a orientação deste trabalho, foi alcançado como resultado que hoje nas aulas de Artes muitos educadores não estão preparados para a aplicação de leitura de imagem e assim criarem uma releitura significativa, desenhar a mesma cena, a mesma situação com a liberdade de criação é o que se chama releitura e não copiar. Ao usar como referência obras de artistas famosos, estamos estimulando os alunos a recriá‐las, além de imprimir uma marca pessoal ao trabalho, e assim entenderão melhor o sentido da arte. DISCUSSÃO Em qualquer lugar por onde passamos somos cercados por imagens, são milhares de informações ao nosso redor, quanto maior estimulo visual o individuo tiver, maior será sua capacidade de armazenagem e, consequentemente, maior repertório é construído, contribuindo para maior facilidade de compreensão dos meios visuais que estão ao seu redor, diante disso é importante que saibamos ler e interpretar essas imagens para assumirmos uma posição crítica perante o que vemos. Mas para que isso ocorra é necessário que a criança seja estimulado a fazer leitura de imagem, pois, é através da obra que se esconde à vida, a experiência do artista, o conhecimento e o mundo criado por ele. Fazer as devidas relações e decifrar os enigmas de uma obra de arte contribui no enriquecimento intelectual, cultural, e estético de uma sociedade. Mas a educação estética nunca foi prioridade na escola, não surpreende que encontremos alunos, até mesmo no ensino médio, com leituras e releituras que enfocam o tema no sentido estritamente físico, ficando, assim, muito próximas do texto lido, onde não se expressam realmente colocando seu ponto de vista em relação à obra. Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 1194
CONCLUSÃO Concluiu‐se que o papel do educador em arte é de primordial importância para se chegar ao entendimento de leitura de imagens e assim com essa interpretação da obra, o aluno poderá dar continuidade à criação de uma releitura significativa, com suas características, seu ver seu pensar. Educadores de arte tem a responsabilidade de formação do individuo como cidadão, ensinando uma leitura mais ampla do mundo, as novas possibilidades interpretativas dos alunos devem ser valorizadas, pois a arte e conhecimento são para todos, se cremos nessa afirmação é preciso que nossa ação educacional revista‐se de autoridade fundamentada também por amplo saber do assunto. REFERÊNCIAS BARBOSA, Ana M. A imagem no ensino de arte: anos 1980 e novos tempos. 7 ed. São Paulo – SP: Perspectiva, 2009. BARBOSA, Marilia Pereira A. Releitura na arquitetura. Arqtexto. Rio Grande do Sul – RS, p. 13‐14, mar. 1990. BIASOLI, Carmem L. A. a formação do professor de arte do ensaio...à encenação. Campinas – SP: Papirus, 1999. BUORO, Anamelia B. Olhos que pintam: a leitura da imagem, e o ensino da arte. São Paulo – SP: PUC, 2002. COSTELLA, Antônio F. Para apreciar a arte: roteiro didático. São Paulo‐SP: SENAC São Paulo; Campos do Jordão‐ SP: Mantiqueira, 1997. FERRAZ, Maria Heloisa Correa de Toledo e FUSARI, Maria Felismindade Rezende. Metodologia do ensino da arte. Sao Paulo: Cortez, 1993. FUSARI, Maria Felisminda de Rezende e FERRAZ, Maria Heloisa Corrêa de Toledo. Arte na educação escolar. São Paulo‐ SP: Cortez, 2001‐ (Coleção Magistério 2.º grau – Série Formação Geral) FISCHER, Ernest. A necessidade da arte. 9. ed. Rio de Janeiro‐ RJ: Zahar, 1983. OLIVEIRA, Jô; GARCEZ, Lucília. Explicando a arte: uma iniciação para entender e apreciar as artes visuais. 7ª ed. Rio de Janeiro ‐ RJ: Ediouro, 2004. Colloquium Humanarum, vol. 9, n. Especial, jul–dez, 2012 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 22 a 25 de outubro, 2012 1195
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