Seudinheiro
DE OLHO NO MERCADO
Ibovespa
O índice preserva a tendência terciária de alta,
sendo que os próximos objetivos dos touros são,
pela ordem, 56.695, 59.000 e 60.242 pontos. Na
parte inferior, o primeiro suporte está em 54.972
pontos. Mas precisaria cair abaixo dos 53.510
pontos para os ursos se animarem.
PAULO GUIMARÃES _pguimaraes@ jcom.com.br
Segunda-feira, 4 de maio de 2015 • Jornal do Commercio • B-1
Mercado de M&A:
pujança econômica ou bolha?
com cifras pouco inferiores a US$ 4 trilhões. Em
2014, o mercado reagiu, superando novamente a
marca dos US$ 4 trilhões. “Caso a linha de tendência de alta traçada desde 1985 tivesse sido mantida, o montante dos negócios de
M&A no mundo deveria estar agora
em torno dos US$ 6 trilhões ao ano”,
observa Slater. A consultoria Dealogic, no entanto, salienta que o
volume de transações no ano
passado foi o maior desde o
pico de 2007.
MAS, AFINAL, O QUE SERIA UMA BOLHA? Uma das
respostas possíveis a esta controversa pergunta é
que uma bolha ocorre quando o preço pelo qual
determinado ativo está sendo negociado
atinge patamares muito além do seu real
valor econômico, em um típico processo de histeria de massa, desilusão, ou
da propagação de informações errôneas. Outro aspecto é que bolhas tendem a durar por mais
tempo do que investidores racionais projetam, ou mesmo
percebem. Até porque todas
as definições incorrem em
campos um tanto quanto
subjetivos, o consenso a
respeito da formação de
uma bolha normalmente só é obtido após a sua
explosão. Alguns casos
recentes ilustram o padrão. As cotações do
petróleo, por exemplo, estão hoje cerca
de 50% abaixo dos valores de pico em 2014.
O tombo dos preços
desta feita, no entanto, ainda é menor do
que o ocorrido de 2008
a 2009, quando as cotações desabaram 65%
desde as máximas até os
fundos então registrados. O preço do ouro, tido
como o principal hedge
contra a inflação, está hoje
cerca de 40% abaixo do recorde histórico de 2011. Ambos os casos (petróleo e ouro)
têm sido diretamente associados
ao fim do chamado ‘superciclo das
commodities’.
A SEGUNDA VISÃO PREDOMINANTE sobre o
UMA PRIMEIRA OBSERVAÇÃO PERTINENTE para a avaliação da existência, hoje,
de bolhas nos mercados financeiros é justamente que, não obstante o fim do superciclo de
alta nos preços das matérias-primas, o que, a priori,
indica um desaquecimento da demanda global e da
atividade econômica, a economia do mundo como um todo e das duas principais potências (Estados Unidos e China)
particularmente, continuam crescendo. Dentro deste contexto,
portanto, cabe ressaltar que o mercado acionário dos EUA, que,
desde 2009, experimenta um dos mais longos ralis de todos os
tempos, por exemplo, ainda não superou os valores máximos cravados há 15 anos, no auge da euforia das ponto com, as empresas
de internet. Quando ajustados pela inflação, o índice S&P 500 (o
mais abrangente do mercado acionário norte-americano) só agora está alcançando os picos de preços registrados em 2000/2001,
ao passo que o principal indicador do setor tecnológico, o Nasdaq, permanece cerca de 28% abaixo do nível máximo de 2000.
NO CENTRO DA DISCUSSÃO SOBRE a formação de bolhas, está a
questão da abundante liquidez nos mercados financeiros globais,
patrocinada pelos mais poderosos bancos centrais do planeta em
anos recentes. É forte a argumentação de que o presente nível de
valores, refletido inclusive nas transações de fusão ou aquisição
(M&A), “é apenas uma resposta racional ao ‘novo normal’ de taxas de juros extremamente baixas”, observa John Slater, sócio do
banco de investimentos Focus, com mais de 30 anos de experiência na intermediação deste tipo de negócio. Há duas visões um
tanto quanto distintas sobre o atual momento de fusões e aquisições no mundo. A primeira se fundamenta principalmente no fato de que o mercado ainda não se recuperou totalmente do crash
de 2007. O volume de transações, bem como os valores dos fechamentos, ainda são inferiores aos de antes do estouro da crise. Se,
por um lado, o excesso de alavancagem (fechamento de negócios
por valores superestimados) pode causar estragos no futuro, por
outro, o baixo custo do dinheiro para financiar as operações torna
possível aos compradores pagar preços mais salgados por empresas com possibilidade de se tornarem extremamente lucrativas
em prazos mais alongados.
CONFORME RESSALTA SLATER, o grande boom no mercado glo-
bal de M&A ocorreu de 1985 a 2000, saltando no período de menos de 5 mil transações, que não chegavam, em conjunto, a US$
500 bilhões (em 1985), para a casa de quarenta mil negócios no
mundo, somando cerca de US$ 4 trilhões (em 2000). Após o baque das pontocom em 2001, o mercado recuou por um ano, mas
retomou a trajetória de alta já em 2003, alcançando em 2007 quase 5 mil transações, que movimentaram pouco menos que US$ 5
trilhões. Apesar da crise iniciada com as hipotecas subprime nos
EUA, o declínio, desta feita, não foi tão expressivo quanto o de
2002, sendo que em 2013 pode ter sido estabelecido um fundo,
P A R A
SEGUNDA-FEIRA
BRASIL
£ Pesquisa Focus
(BC)/semanal
£ Balança Comercial
(MDIC)/semanal
£ IPC-S (FGV)/semanal
ESTADOS UNIDOS
£ Encomendas à
Indústria/março
O L H A R
D U R A N T E
CHINA
£ PMI da Manufatura
(HSBC)/abril
TERÇA-FEIRA
BRASIL
£ Índice de Preços ao
Produtor (IBGE)/março
£ IPC (Fipe)/abril
A definição de uma bolha nos mercados financeiros, bem como a sua identificação,
tem sido matéria desta coluna de tempos
em tempos e tema recorrente de discussões entre analistas ao redor do globo.
Obviamente, o assunto esquenta à medida que as tendências de alta em mercados
específicos se prolongam, com os preços
estabelecendo novos recordes, o que desperta, naturalmente, questionamentos
mais apurados. Nos últimos anos, o mercado acionário dos EUA e o de títulos do
Tesouro norte-americano têm estado entre os mais debatidos, até porque ambos
possuem enorme poder de influir em praticamente todos os demais mercados
globais. O volume de fusões e aquisições
entre empresas (mergers and acquisitions, ou M&A em inglês), bem como os
valores envolvidos, são indicadores importantes na avaliação de estrategistas,
tanto da saúde da economia, quanto do
nível de preço de vários outros ativos de
classe, como ações e bônus soberanos.
Além da relação direta que existe entre
eles, a história mostra que o crescimento
exacerbado do volume de M&A pode se
tornar por si só uma bolha que, em termos
de capacidade destrutiva, estaria entre as
mais poderosas.
A
£ ISM de Serviços/abril
EUA
£ Relatório ADP do
Produtor (PPI)/março
QUARTA-FEIRA
BRASIL
É CURIOSO NOTAR, PORÉM, QUE A PARTIR do volume e cifras das
ofertas iniciais de ações (IPOs) estrategistas fazem uma leitura
econômica e de preços que segue raciocínio inverso ao do mercado de M&A. O aquecimento de IPOs sinalizaria que gestores de
companhias e bancos de investimento enxergam que os preços
atingiram patamares limítrofes ou que estejam se aproximando
de uma reversão. Neste caso, seria hora de partir para uma oferta
pública, a fim de se conseguir um preço próximo ao topo pelas
ações. Normalmente, o forte crescimento em IPOs costuma
acender a luz amarela entre analistas, no que tange aos preços de
mercado e avaliações. Neste aspecto, o momento de ofertas iniciais ao redor do globo corrobora a visão mais otimista sobre a
economia global e o mercado de M&A. No primeiro trimestre
deste ano, foram 34 ofertas, que movimentaram em conjunto
US$ 5,4 bilhões, o que configura um decréscimo em relação ao
quarto trimestre de 2014, quando foram realizadas 68 ofertas, totalizando US$ 16,8 bilhões. Na verdade, o primeiro trimestre deste ano foi o de mais fraca atividade de IPOs em dois anos. Isto sinalizaria, portanto, que companhias e bancos de investimento
consideram que os preços ainda possuem bom espaço para elevação e que não há urgência em se tirar proveito de um suposto
topo.
S E M A N A
£ Produção Industrial
ZONA DO EURO
£ Índice de Preços ao
A IMPORTÂNCIA DO MERCADO DE M&A e o impacto do estouro
de uma possível bolha deve-se justamente à sua íntima conexão
com outros mercados extremamente relevantes. Ou seja, se a vaca for pro brejo em M&A, possivelmente ela já terá ido ou irá em
vários outros. Uma operação de M&A é, em última instância, um
voto de confiança nos valores correntes praticados nos mercados,
bem como no futuro da economia em geral. Companhias decidem pela aquisição de outras companhias quando enxergam razões para expandir e/ou quando outras empresas parecem atrativamente baratas. A mesma premissa se aplica aos mercados acionários. Se os fundos de private equity escolhem aportar recursos
na aquisição de companhias, por exemplo, é porque consideram
que os preços das ações estão atrativos. Caso os gestores destes
fundos avaliassem que o valor das ações estivesse caro, certamente optariam por outras formas de expansão, como o investimento em equipamentos, em novas instalações, na contratação
de pessoal, etc.
EUA
£ Balança
Comercial/março
momento atual enxerga que o mercado de
M&A está retomando
o padrão bolha de
2007 e que as consequências, desta vez,
poderiam ser ainda
mais dolorosas. De
acordo com a corrente de analistas
alinhada a esta opinião, a ‘mãe de todas as bolhas’ é a
dos títulos do Tesouro norte-americano,
a qual, em última instância, alimentaria
todas as demais. Esta
tese se assenta no longevo rali nos preços dos
treasuries, que são instrumentos de renda fixa
(o rendimento destes papeis segue trajetória inversa
ao valor pelo qual são negociados). Os juros pagos no bônus soberano de dez anos de Tio
Sam, por exemplo, despencaram
neste período de 16% para menos de
2% ao ano (atualmente). Se há uma lógica inquestionável nos mercados financeiros, porém, esta é que nenhuma tendência dura para sempre. Quanto mais a trajetória
de queda dos juros nos treasuries se perpetua,
portanto, maiores ficam as chances de que esta tendência esteja se aproximando de uma reversão. E quando isto acontecer, alertam estrategistas, os altos valores praticados hoje no mercado de M&A não deverão ser vistos novamente por pelo menos uma geração.
(IBGE)/março
Mercado de
Trabalho/abril
ZONA DO EURO
£ Vendas no Varejo/março
QUINTA-FEIRA
BRASIL
£ IGP-DI (FGV)/abril
£ Ata do Copom (BC)
£ Taxa de Desemprego
ALEMANHA
£ Encomendas à
EUA
£ Pedidos de Auxílio
SEXTA-FEIRA
BRASIL
£ IPC-S (FGV)/semanal
£ IPCA (IBGE)/abril
(IBGE)/março
Desemprego/semanal
£ Crédito ao Cons./março
Indústria/março
CHINA
£ Balança Comercial/abril
EUA
£ Estoques no
Atacado/março
£ Taxa de
Desemprego/abril
ALEMANHA
£ Produção
Industrial/março
£ Balança
Comercial/março
REINO UNIDO
£ Balança
Comercial/março
CHINA
£ Índice de Preços ao
Consumidor (CPI)/abril
£ Índice de Preços ao
Produtor (PPI)/abril
Download

pujança econômica ou bolha?