Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 Filtro bolha: desafio para propagação de informação no meio digital1 Gihana Proba FAVA2 Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, MG RESUMO O trabalho apresenta o fenômeno dos filtros bolha, estruturas que filtram a informação digital, baseando-se no comportamento dos usuários. Nesse filtro, o usuário tende a receber mais informações semelhantes aos seus interesses pessoais, se fechando em uma bolha de dados que pouco contribui para novas experiências e descobertas na rede. No âmbito do jornalismo digital, indica-se que a informação seja organizada de forma mais horizontalizada, permitindo ao usuário maior autonomia na navegação, com menor influência de filtros, como as mônadas abertas. Outra questão diz respeito à formação de conhecimento, já que trata-se de uma rede fechada por opiniões e dados que pouco se confrontam. Isso ocorre porque esses filtros priorizam o valor comercial em detrimento da informação, criando usuários de certo modo mais alienados. PALAVRAS-CHAVE: comunicação digital; filtro bolha; jornalismo digital; mônadas abertas. INTRODUÇÃO O surgimento do meio digital trouxe profundas mudanças na comunicação. Estamos falando de um meio que tem capacidade de suporte e armazenamento de dados nunca antes visto, conexões velozes e de longo alcance mundial. Com a Internet e a popularização dos computadores pessoais, tanta informação disponível na rede poderia ter se tornado um caos, onde os usuários não saberiam por onde navegar para achar determinadas informações. Ao longo desse desenvolvimento da rede digital, foram surgindo formas de organizar os dados, tais como os mecanismos de busca como o Google e até mesmo grandes sites de empresas, como os portais de notícias. Nesse contexto, surgem também os filtros bolha, mecanismos que filtram as informações para cada usuário de acordo com seus hábitos na rede. O que poderia ser positivo em termos de organização da comunicação digital, acaba por fechar o usuário em uma bolha onde ele encontra poucas informações diferentes de sua opinião ou interesses. Isso vai comprometer a formação do conhecimento, na medida em que a rede 1 Trabalho apresentado no DT 5 – Multimídia do XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, realizado de 3 a 5 de julho de 2013. 2 Mestranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação da UFJF, email: [email protected]. 1 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 vive uma grande contradição: com tantos recursos para explorarmos cada vez mais informações diversas no meio digital, a bolha nos aprisiona em dados que se assemelham a tudo que já conhecemos, compartilhamos e nos relacionamos. Em oposição a isso, analisaremos uma proposta de estrutura que surge no jornalismo online: as mônadas abertas, capazes de deixar o leitor navegar mais livremente, pois as informações nesta estrutura não possuem hierarquia, a horizontalidade dá maior autonomia ao receptor, ideal na comunicação digital. UM NOVO CONTEXTO PARA O JORNALISMO: O MEIO DIGITAL O surgimento do meio digital com o advento da Internet alterou profundamente a comunicação. Nunca antes houve tanta informação disponível, com um poder de propagação tão rápido e com mecanismos que permitissem fortemente a interação entre emissor e receptor – principalmente quando comparados com os meios de comunicação tradicionais, como o rádio ou a televisão: A Internet tem tido um índice de penetração mais veloz do que qualquer outro meio de comunicação na história: nos Estados Unidos, o rádio levou trinta anos para chegar a sessenta milhões de usuários; a TV alcançou esse nível de difusão em 15 anos; a Internet o fez em apenas três anos após a criação da teia mundial. (CASTELLS, 1999, p.439) Neste momento inicial, é necessário conceituarmos alguns termos que teremos como base para o trabalho. O ciberespaço, que seria o “espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores” (LÉVY, 2000, p.92) instaurou a comunicação mediada por computador (CMC). Nesse contexto, podemos conceituar o termo mídia digital como algo que: “poderia comportar, a princípio, todo e qualquer meio que se utilize da informática, transformando informações para a linguagem binária de zeros e uns, princípio da digitalização.” (PERNISA JÚNIOR E ALVES, 2010, p.25). O pesquisador Ricardo Orlando (2001, p.31) definiu quatro características para a comunicação digital: “ela é em rede, hipertextual, multimídia e interativa”. Podemos compreender as redes como: “estruturas abertas, capazes de expandir-se de forma ilimitada, integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede.” (CASTELLS, 1999, p.148 apud ORLANDO, 2001, p.34). Janet Murray (2003, p.64) define hipertexto como “um conjunto de documentos de qualquer tipo (imagens, textos, gráficos, tabelas, videoclipes) conectados uns aos outros por links.” Por se configurar em um espaço aberto e acentrado – Lévy (1993, p.25-26) enxerga que a rede “possui 2 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 permanentemente diversos centros” – é possível conceituar a mídia digital como um meio interativo: A divisão do texto em fragmentos interligados por pontos de conexão, sem seqüência lógica predefinida altera a ‘economia política’ das relações do leitor com o texto e redimensiona as relações do produtor também. Uma vez que a sequência entre os fragmentos é definida pelo leitor, sua participação na criação de sentido do texto é maior e, ao mesmo tempo, o produtor ficaria, em princípio, com uma possibilidade menor (diferenciada) de direcionar o seu significado. Neste texto, que só se realiza plenamente com a interferência do leitor há, em tese, maior abertura do texto, do universo de significados. (ORLANDO, 2001, p.43) Essa nova comunicação trouxe a possibilidade real para qualquer receptor, que domine conceitos básicos de informática, se tornar um emissor, o que, a princípio, parece definir para a mídia digital possibilidades de se tornar mais interativa, democrática e livre. Essa afirmação pode ficar mais clara, ao nos depararmos com a realidade do início da imprensa: Antes do desenvolvimento da mídia, a interação entre os indivíduos ocorria em contextos de co-presença, de forma que a visibilidade dependia da partilha de um lugar comum. A esfera pública dificilmente se estendia para além das interações face-a-face. Com o advento da imprensa, e posteriormente da mídia eletrônica, desenvolveu-se um novo contexto de interação através da publicidade mediada – um espaço não localizado espacial e temporalmente. (THOMPSON, 1998 apud HENRIQUES, p.71, 2004) Se antes, na comunicação face a face, os interlocutores pareciam ocupar posições semelhantes ou, pelo menos, tinham maiores chances de trocas de ideias em tempo real, com o nascimento da imprensa “há uma quebra no papel de emissor e receptor, já que um e outro vão estar cada vez mais distantes – não só no espaço, mas também no tempo.” (PERNISA JÚNIOR; ALVES, 2010, p.14). Os autores também apontam que essa comunicação de massa foi marcada por uma extrema valorização da passagem da mensagem – o que acabou por evidenciar muito mais o papel do emissor e deixou em segundo plano o receptor. O próprio início do jornalismo no meio digital também parecia não se preocupar em modificar essa força do emissor em detrimento do receptor. Pernisa Júnior e Alves (2010) explicam que os jornais que se arriscavam em versões para a Internet não se preocupavam em produzir algo específico para o novo meio e publicavam uma repetição do que se via no meio impresso. Com o passar do tempo, surgiram os portais de Internet, para concentrarem informações na rede e se tornarem uma referência do jornalismo digital: Um novo momento de diferenciação para o jornalismo vai acontecer com a ascensão dos portais – páginas que centralizam informações gerais e 3 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 especializadas, serviços de e-mail, canais de chat e relacionamento, shoppings virtuais, mecanismos de busca na Web, entre outros, e cuja intenção é ser a porta principal de acesso a orientar a navegação do usuário pela WWW. Foram os americanos que criaram e batizaram esses sites de “portais”. O ano de adoção desse modelo no Brasil foi 1998. (BARBOSA, 2001) Porém esse modelo de portal também reproduzia o foco no emissor, a preocupação era em repassar a informação – reafirmando a ordem dos meios de comunicação de massa tradicionais. Não seria uma limitação repetir a fórmula tradicional em um meio que permite ir muito mais além? O autor André Lemos (2000) explicita essa contradição instaurada pelos portais de notícia: O limite da emissão sempre foi o que deu poder às mídias clássicas e agora os Portais, sob a balela de nos ajudar a não nos perdermos nesse mar de dados, nos aprisionam e limitam nossa visão da rede (do mundo?), fazendo fortuna de novos jovens nasdaquianos. Dizem que tudo existe num Portal, e que não precisamos nos cansar em buscar coisas lá fora. Mas quem define o que é tudo? Voltaremos à edição clássica dos conteúdos que fez o quarto poder dos mass media? Ao que tudo indica, estamos em um caminho de evolução sem volta: agora o usuário reconhece sua “liberdade”, entende que possui algum poder de ação – mesmo que ainda não tenha explorado todo este potencial. É como o pesquisador Lévy (2000) definiu ao demonstrar que estamos regidos sob uma nova condução da informação e perder seus traços democráticos só seria um retrocesso: Qualquer tentativa para reduzir o novo dispositivo de comunicação às formas midiáticas anteriores (esquema de difusão “um-todos” de um centro emissor em direção a uma periferia receptora) só pode empobrecer o alcance do ciberespaço para a evolução da civilização, mesmo se compreendermos perfeitamente – é pena – os interesses econômicos e políticos em jogo. (LÉVY, 2000, p.126) Diante deste panorama, como o jornalismo digital poderia superar essa limitação de supervalorização do emissor? Por que não incentivar a interatividade e também a liberdade do leitor/usuário no meio digital, mostrando as inúmeras potencialidades da rede, abrindo caminhos para ele? Isso não impediria, por exemplo, que um portal de notícias fosse o ponto de partida do leitor. Para tentar responder a essas perguntas, partiremos para a compreensão da organização de informações no meio digital. No contexto do jornalismo digital, vamos considerar o tempo e o espaço, mas principalmente seu modo de organização de informações na rede. 4 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 ESTRUTURAS PARA ORGANIZAR A INFORMAÇÃO NO MEIO DIGITAL Uma vez que compreendemos a transição do jornalismo impresso para o meio digital, nos damos conta de que, além de estarmos falando de uma comunicação em rede, hipertextual e interativa, estamos diante de um meio que parece não oferecer limites: Computadores são o meio de maior capacidade jamais inventado, prometendo recursos infinitos. Devido à eficiência da representação das palavras e números no formato digital, podemos armazenar e recuperar quantidades de informação muito além do que antes era possível. A memória humana foi estendida, com o meio digital , de uma unidade básica de disseminação portátil de 100 mil palavras (um livro médio, que ocupa cerca de um megabyte de espaço em sua versão completamente formatada), primeiro, para 65 milhões de palavras (um CD-ROM de 650 megabytes, o equivalente a 650 livros) e, agora, para 530 milhões de palavras (um videodisco digital de 5,3 gigabytes, equivalente a 5.300 livros), e daí para cima. (MURRAY, 2003, p.88) Voltemos às características que Orlando (2011) propôs para a comunicação digital. Já explicitamos como se dá a comunicação em rede, no formato hipertextual e o que seria essa interatividade na relação emissor-receptor. O último termo que ele propõe, multimídia, pode ser definido como: Por multimídia, entende-se a possibilidade de reunir informações em diversos formatos – som, imagem, imagem em movimento e textos, e para alguns a integração desses formatos com banco de dados (a partir da capacidade de múltiplo gerenciamento e processamento de informações do computador) – em um único ambiente. (NEGROPONTE, 1995, p.65-75 apud ORLANDO, 2001, p.37) Esta denominação é amplamente usada, embora haja autores como Lévy, que defendam o uso de unimídia “já que apenas um espaço está sendo utilizado, reunindo os meios visuais, sonoros e textuais” (PERNISA JÚNIOR; ALVES, 2010, p.26). Porém, o que queremos aferir aqui seria essa nova possibilidade de agregar diferentes elementos de uma forma mais dinâmica. Em comparação com o meio digital, o som e a imagem da televisão, ou o texto e a foto do jornal impresso, ficam limitados em termos de produção, já que, quando pensamos no meio digital, qualquer um, a qualquer hora, pode produzir e publicar informações em forma de áudio, som ou imagem, seja através de um portal de notícias, ou de um blog pessoal. Murray (2003, p.41), ao estudar as narrativas no ciberespaço, enxerga que nesse potencial da multimídia, as formas de representação que conhecemos já foram transmitidas para um formato digital: O último quarto do século XX marca o início da era digital. A partir dos anos 70, os computadores tornaram-se mais baratos, rápidos, potentes e mais 5 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 conectados uns aos outros, numa taxa exponencial de aperfeiçoamento, fundido em um único meio tecnologias de comunicação e representação antes díspares. O computador ligado em rede atua como um telefone, ao oferecer comunicação pessoa-a-pessoa em tempo real; como uma televisão ao transmitir filmes, um auditório, ao reunir grupos para palestras e discussões; uma biblioteca, ao oferecer grandes números de textos de referencia; um museu, em sua ordenada apresentação de informações visuais; como um quadro de avisos, um aparelho de rádio, um tabuleiro de jogos e, até mesmo, como um manuscrito ao reinventar os rolos de textos dos pergaminhos. Todas as principais formas de representações dos primeiros 5 mil anos da história humana já foram traduzidas para o formato digital. Essa facilidade de produção e publicação de dados online parece ser animadora para a construção de um meio democrático, mas também traz consequências para o usuário do meio digital, tais como: com muito mais informação à disposição, o que escolher? Problemática que fica expressa também na visão de Godoy et al (2001): Assim, devido à facilidade na publicação de documentos na Internet, uma enorme distribuição de informações está disponível na Internet, trazendo ao seu utilizador enormes benefícios. Em contrapartida, uma imensa quantidade de dados descartáveis está disponibilizada na rede, ocasionando um verdadeiro caos de informações para quem procura algo na Internet. O que então ordenaria este caos nessa rede acentrada? Para refletir sobre essa organização de dados na rede, vamos compreender algumas questões que envolvem a disseminação de informação na comunicação digital. A primeira delas é que, agora, a informação está sob uma nova dinâmica: Os limites constituintes dos meios tradicionais enfraquecem e conceitos cristalizados mudam: o canal para as TVs, a cobertura para as emissoras, a distribuição para as revistas e jornais e a periodicidade. As informações são colocadas à disposição em ‘tempo-real’, ou, como preferem alguns, dentro da ideia de edição permanente, com acesso a qualquer momento, em todos os lugares conectados à rede mundial de computadores. Esta queda de barreiras mistura recursos, práticas e possibilidades da informação noticiosa, refletindo-se também em aspectos relacionados à prática comunicacional, à linguagem e à construção de sentido. (ORLANDO, 2001, p.81) Nesse contexto de uma nova ordem de pensar as informações noticiosas, Pernisa Júnior e Alves (2010, p.18), apontam a segmentação como uma preocupação com os diferentes públicos – que já existia nos meios de comunicação tradicionais –, mas que ganha novos contornos no digital, pois estamos falando de um meio que tem alcance global: Cada vez mais, há pequenos nichos de público interessados em assuntos bastante específicos. Isso deixa entrever o nascimento de comunidades de interesses que, hoje, são muito comuns em sites de relacionamento como o Orkut, por exemplo. Nelas, os participantes trocam mensagens e debatem temas que fazem parte de um vínculo comum entre eles. Não há necessidade de que estejam frente a frente ou na mesma cidade ou, ainda, no mesmo país – basta 6 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 estarem na rede. Essa característica faz com que o público tenha mais poder de decisão sobre o que quer assistir, ler ou discutir, em que momento e em que lugar. Esses pequenos nichos, podem ser vistos como pequenos “polos” em meio à rede, mas é importante destacar que isso não faz com que o usuário fique “preso” nesse polo. A rede é justamente acentrada porque o usuário não tem uma hierarquia, um padrão a seguir quando está “caminhando” por ela. Ao contrário, ele tem autonomia para escolher por onde começar e por onde percorrer, sem que haja um centro para interferir no processo: No hipertexto, o leitor tem mais autonomia, pois escolhe o caminho a percorrer. A partir dos links disponíveis ele pode seguir uma referência do texto. Seguir os links criados pelo autor, ir para outro endereço, ou, a partir de recursos de pesquisa, buscar outras conexões relacionadas que não foram sugeridas no ponto em que ele se encontra. (ORLANDO, 2001, p.43-44) Para reforçar essa dinâmica, Pernisa Júnior e Alves (2010) introduziram o conceito, aplicado ao jornalismo digital, de “mônadas abertas”, que está diretamente ligado a uma proposta de promover e reforçar a horizontalidade das informações – em oposição ao que é o jornalismo impresso tradicional, quando o leitor, normalmente, deve respeitar a hierarquia da ordem de leitura para garantir a compreensão de uma retranca seguinte da matéria – podendo assim ser definido: Por meio de links na web, uma matéria em forma de mônada poderia se ligar a outras, gerando uma estrutura, uma textualidade composta. No entanto, como mônada, cada uma dessas matérias não poderia simplesmente depender de todas as outras às quais se liga, para que possa ser entendida. (PERNISA JÚNIOR; ALVES, 2010, p.71) Ou seja, essa dinâmica de organização em mônadas abertas, é uma solução para se construir textos independentes, mas que, exatamente por serem estruturas abertas, consegue se ligar a outros textos, da forma como o usuário desejar navegar. Esse formato representa uma evolução quando pensamos no meio impresso, onde as matérias assumem uma relação hierárquica vertical – as retrancas são dependentes de uma matéria principal, como Pernisa Júnior e Alves (2010, p.70-71) explicam: O texto na web não segue a lógica do impresso, mesmo quando dele se aproxima. Um exemplo é a busca num jornal on-line. Nada garante que a palavra ou expressão escolhida vá levá-lo diretamente ao que poderia ser chamado de matéria principal e não a alguma de sua(s) "retranca(s)". No caso de um encaminhamento para uma “página secundária” poderia haver alguma dificuldade de se entender do que se trata a notícia ou reportagem. Essa horizontalidade e liberdade do usuário poder fazer seu próprio caminho 7 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 reflete o que muitos acreditam ser a forma ideal da comunicação digital. Mesmo assim, ainda há muito que se avançar, pois dois pontos parecem atrasar esse desenvolvimento do usuário livre no espaço digital. O primeiro seriam as limitações do próprio usuário ao utilizar a comunicação em rede, quando ele insiste em carregar a herança dos meios tradicionais de ter hábitos passivos diante uma emissão: A maioria dos navegadores para a Web ainda segue obedientemente os links que lhe foram fornecidos, não oferecendo em troca nenhum meio para a criação de trilhas associativas próprias. A Web deveria ser uma maneira de ver novas relações, de conectar coisas que de outro modo ficariam separadas. Clicar nos links de outra pessoa pode ser menos passivo que o velho e sedentário hábito de surfar canais, mas até que os usuários possam criar seus próprios fios de associação, haverá poucos desbravadores genuínos na Internet. (JOHNSON, 2001, p.92) O segundo ponto, que será abordado a seguir, parece ser mais preocupante. Diante da afirmação de Johnson e da herança passiva dos meios de comunicação de massa tradicionais, um novo conceito ganha força no meio digital: os filtros de informação, que novamente partem de Johnson (2001, p.33): Informação digital sem filtros é coisa que não existe, por razões que ficarão cada vez mais claras. À medida que parte cada vez maior da cultura se traduzir na linguagem digital de zeros e uns, esses filtros assumirão importância cada vez maior, ao mesmo tempo que seus papéis culturais se diversificarão cada vez mais, abrangendo entretenimento, política, jornalismo, educação, e mais. Parece um movimento natural que, em uma rede acentrada e que vive um aparente “caos” de informações – devido à quantidade de dados disponíveis –, o usuário vá em busca de algo que o direcione, tendo filtros para selecionar o que é relevante em um “oceano” de notícias. Porém, a seguir, veremos como os filtros criados até o momento têm limitado o usuário na expansão do conhecimento e na liberdade da escolha de links. OS FILTROS BOLHA E SUA INFLUÊNCIA NA FORMACÃO DO CONHECIMENTO Até o momento, trabalhamos com a análise das informações jornalísticas do meio digital e assumimos ser este um meio acentrado e com muitos dados à disposição. Por isso mesmo, um filtro parece ser algo útil para o usuário conseguir encontrar o que precisa/deseja: Ter muita informação sem poder separar o que nos interessa é o que Benkler (2006), em seu livro “Wealth Of Networks” chama de “Babel Objection” (Objeção de Babel): “Indivíduos têm de ter acesso a algum mecanismo que possa peneirar o universo da informação, conhecimento, e movimentos culturais 8 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 a fim detalhá-los em âmbito administrável e utilizável”. (GODOY et al 2011) Se admitimos que é preciso algum tipo de seleção e filtragem de informações, nos deparamos com um dilema: como esse filtro saberá exatamente o que cada usuário precisa/deseja? Refletindo sobre questões nesse âmbito, o pesquisador Eli Pariser (2011) chega a um conceito para representar o que ele acredita ser uma consequência dessa seleção de informações: os filtros bolha: O código básico, no coração da nova Internet é muito simples. A nova geração de filtros na Internet olha para as coisas que você parece gostar - as coisas reais que você fez, ou as coisas que as pessoas como você gostam - e tenta extrapolar. Eles são os motores de previsão, constantemente criando e aperfeiçoando uma teoria de quem você é e o que você vai fazer e querer no futuro. Juntos, estes motores criam um universo único de informação para cada um de nós – o que denomino de filtro bolha - que fundamentalmente altera a maneira com a qual nós encontramos ideias e informações. (PARISER, 2011, tradução nossa)3 Nesse contexto, Pariser (2011) vai demonstrar que esses filtros são sufocantes, pois acabam por nos manipular, na medida em que são opacos – os usuários não têm consciência dessa mediação, a forma como a filtragem é feita não é transparente. Outro ponto preocupante é que os filtros bolha nos fecham em sua bolha individual, na qual cada usuário tem contato com informações muito semelhantes às suas próprias opiniões, o que vai dificultar ou diminuir o potencial de desenvolver seu conhecimento. Neste momento, é válido destacar que não há dúvidas de que a comunicação digital contribui para o conhecimento. Murray introduz o conceito de capacidade enciclopédica dos meios eletrônicos. Se anteriormente falamos da grande capacidade de armazenamento e produção de informações dos meios digitais, todos esses dados podem acabar por formarem uma “biblioteca global”, com expôs a autora. Porém, em sua visão, a quantidade de dados não significa qualidade na informação: Naturalmente, a realidade é muito mais caótica e fragmentada: as informações veiculadas em rede são geralmente incompletas ou enganosas; as rotinas de busca são, com frequência, intoleravelmente enfadonhas e frustrantes; e a informação que desejamos muitas vezes parece dolorosamente fora do alcance. Mas quando ligamos nosso computador e iniciamos nosso navegador da web, todos os recursos do mundo parecem acessíveis, recuperáveis, imediatos. Tratase de um reino em que facilmente nos imaginamos oniscientes. (MURRAY, 2003, p.88) E é neste ponto que está o perigo de filtros opacos: pois o usuário se enxerga 3 The basic code at the heart of the new Internet is pretty simple. The new generation of Internet filters looks at the things you seem to like—the actual things you’ve done, or the things people like you like—and tries to extrapolate. They are prediction engines, constantly creating and refining a theory of who you are and what you’ll do and want next. Together, these engines create a unique universe of information for each of us —what I’ve come to call a filter bubble — which fundamentally alters the way we encounter ideas and information. 9 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 onisciente, já que julga estar em um meio livre, acentrado. Porém, como explica Pariser (2011), ao contrário da escolha de um canal na televisão, o usuário digital não escolhe entrar na bolha – mas ele já está sob os efeitos dela. Imerso em sua bolha, que é construída por informações baseadas no que algoritmos julgam ser as preferências individuais do usuário, ele acaba por se limitar a um conjunto de informações que só refletem sua própria opinião, sua realidade, seus gostos. Isso gera baixa diversidade de informações, fechando-o para novas visões, para o conhecimento: Entregues a si próprios, os filtros de personalização servem-nos com uma espécie invisível de autopropaganda, doutrinando-nos com nossas próprias ideias, ampliando o nosso desejo de coisas que são familiares e nos deixando alheios aos perigos que espreitam no escuro território do desconhecido. (PARISER, 2011, tradução nossa)4 Os mecanismos de filtragem de informação, que acabam por nos fechar na bolha, estão por toda a parte na rede, o que aponta para um caminho contrário ao sentido original da comunicação digital: Uma boa estrutura de navegação pode levar o usuário a um ponto, mas também pode dar alternativas interessantes para que ele possa fazer novas incursões no território, explorando áreas desconhecidas e, talvez, percebendo contextos diferentes e tendo acesso a novos conhecimentos. Este deveria ser o espírito da mídia digital. (PERNISA JÚNIOR; ALVES, 2010, p.34) Porém, o momento atual, dominado pelos filtros bolha, não deixa isso se tornar realidade. Um link que o usuário pensa estar escolhendo foi condicionado de acordo com seus hábitos na rede. Dificilmente ele terá acesso a um link que fuja do padrão de seus hábitos. Um exemplo é que o próprio Google, o maior mecanismo de busca na rede do mundo, também está corrompido pelos filtros. Pariser ilustra como é, basicamente, a personalização do que é relevante para cada usuário no Google: Ao olhar para o navegador que eu uso, ele pode fazer algumas suposições sobre a minha idade e talvez até minhas preferências políticas. O tempo que você demora entre o momento que faz sua consulta e o momento que você clica em um resultado lança luz sobre a sua personalidade. E, claro, os termos que você procura revelam muito sobre os seus interesses. Mesmo se você não estiver logado, o Google está personalizando sua pesquisa. (PARISER, 2011, tradução nossa)5 Tomando como foco o Google, mas reconhecendo que mecanismos semelhantes 4 Left to their own devices, personalization filters serve up a kind of invisible autopropaganda, indoctrinating us with our own ideas, amplifying our desire for things that are familiar and leaving us oblivious to the dangers lurking in the dark territory of the unknown. 5 By looking at what browser I use, it can make some guesses about my age and even perhaps my politics. How much time you take between the moment you enter your query and the moment you click on a result sheds light on your personality. And of course, the terms you search for reveal a tremendous amount about your interests. Even if you’re not logged in, Google is personalizing your search. 10 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 ocorrem em outros sites, como o Facebook, por exemplo, percebemos que foram criados sinais baseados nos padrões de cliques de cada usuário para monitorar comportamentos e filtrar a informação personalizada. E novamente nos questionamos: como garantir que esses filtros sabem o que o usuário precisa? Como contribuir para ampliar o conhecimento dos usuários? Pernisa Júnior e Alves (2010) definem a informação como o repasse de dados e, por sua vez, o conhecimento como uma comparação de informações. Ora, se falamos em um filtro bolha que fecha a visão do usuário para opiniões diferentes e caminha para fornecer somente informações semelhantes, como fica essa comparação? O conhecimento não ficaria comprometido? Ainda no raciocínio deste autores, eles enxergam que, na atualidade, há uma tendência para certa superficialidade de informações: No nível de informação, porém, as pessoas, atualmente, dão muito valor ao dado ou a um pequeno conjunto de dados, sem procurar maiores relações entre eles. Desse modo, perde-se a contextualização, ou seja, vários dados passam a ser vistos isoladamente. Esta posição dá margem também a uma perda dos referenciais mais gerais. Perde-se a comunicação, já que os dados isolados não se transformam em informação consistente. (2010, p.19) Aliando esse pensamento aos filtros bolha, podemos afirmar que o processo de conhecimento está ameaçado na comunicação digital. Não vamos entrar em mais detalhes sobre como são criados e desenvolvidos esses filtros, mas sim focar na razão principal – e posteriormente, na consequência disso – de se construir filtros: sites como Google e Facebook dependem de publicidade direcionada e altamente relevante para ganharem dinheiro: “Para os usuários, os dados fornecem uma chave para ter acesso a notícias relevantes e resultados personalizados. Para os anunciantes, os dados são a chave para encontrar prováveis compradores.” (PARISER, 2011, tradução nossa)6 Nesse contexto, a relação comercial tem mais importância do que a própria comunicação que fica comprometida em um ambiente limitador. “A prioridade passou a ser a informação como mercadoria e não a cultura, que trata de ‘expressões artísticas de experiências vividas mais complexas’, segundo Konder” (2003, p.1 apud PERNISA JÚNIOR; ALVES, 2010, p.20-21). E mais uma vez reforçamos que a ação dos filtros bolha é contrária ao ideal da comunicação na rede digital, pois, desde sua própria origem até o seu crescimento, o ciberespaço traz consigo uma motivação para construir algo que englobe todos – o que promoveria a diversidade de opiniões: 6 For users, the data provides a key to providing personally relevant news and results. For advertisers, the data is the key to finding likely buyers. 11 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 Três princípios básicos orientaram o crescimento inicial do ciberespaço: a interconexão, a criação de comunidades virtuais e a inteligência coletiva. Uma das idéias, ou talvez devêssemos dizer uma das pulsões mais fortes na origem do ciberespaço é a da interconexão. Para a cibercultura, a conexão é sempre preferível ao isolamento. (LÉVY, 2000, p.127) A partir do momento em que o filtro bolha isola e fecha o usuário – e ele sequer tem consciência de que grandes empresas estão fazendo escolhas de conteúdos para ele –, podemos dizer que estamos caminhando para uma sociedade alienada: Mas o filtro bolha não é ajustado para uma diversidade de idéias ou de pessoas. Não é projetado para introduzir-nos a novas culturas. Como resultado, vivendo dentro da bolha, podemos perder um pouco da flexibilidade mental e da abertura que o contato com a diferença cria. Porém, talvez o maior problema é que a web personalizada nos encoraja a gastar menos tempo no modo de descoberta, em primeiro lugar. (PARISER, 2011, tradução nossa)7 Para Lévy, o processo de geração de conhecimento deve estar associado principalmente a um modo mais participativo da pessoa ao buscar esse conhecimento. E, para ele, o meio digital fornece características mais propícias para esse processo se desenvolver: Quanto mais ativamente uma pessoa participar da aquisição de um conhecimento, mas ela irá integrar e reter aquilo que aprender. Ora, a multimídia interativa, graças à sua dimensão reticular ou não linear, favorece uma atitude exploratória, ou mesmo lúdica, face ao material a ser assimilado. (LÉVY, 1993, p.40) A partir do momento em que colocamos que a intervenção dos filtros gera menos aprofundamento de informações e, ao relacionar com o processo participativo proposto por Lévy, podemos enxergar que o que vem desafiando o conhecimento não é somente o excesso de informações jogados na rede, de que falamos anteriormente. Mas também os filtros bolha, que “escondem” informações, sem ao menos dar a chance de informações “fora do padrão” chegarem até ele. Seria então papel de cada usuário se apoiar no que disse Lévy e se comprometer com uma atitude mais ativa na hora de consumir as informações. Por mais tentador que seja ficar fechado em um mundo em que tudo se relaciona com seus gostos e opiniões – “Consumir informação que está de acordo com nossas idéias do mundo é fácil e prazeroso; consumir informações que nos desafia a pensar em novas formas ou questionar nossas premissas é frustrante e difícil” 7 But the filter bubble isn’t tuned for a diversity of ideas or of people. It’s not designed to introduce us to new cultures. As a result, living inside it, we may miss some of the mental flexibility and openness that contact with difference creates. But perhaps the biggest problem is that the personalized Web encourages us to spend less time in discovery mode in the first place. 12 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 (PARISER, 2011, tradução nossa)8 –, o usuário deve encarar cada notícia, cada informação recebida, de forma mais crítica e também buscar ser seu próprio filtro, comparando dados e contextualizando notícias. Essa proposta talvez devolva um pouco da tão falada autonomia que os receptores ganham com a comunicação digital: O mais importante seria colocar a informação em uma espécie de balança, analisando-a e comparando-a com outras, o que se pode chamar de contextualização. Além disso, as informações devem ser discutidas e não simplesmente aceitas. Desse modo, não é qualquer acontecimento que vai merecer destaque como notícia, e as pessoas poderão fazer uma seleção mais rigorosa daquilo que estão recebendo como informação, além de discutir os assuntos mais relevantes entre si, em vez de aceitar sempre o que é passado por um meio de massa como o certo, preciso e necessário. (PERNISA JÚNIOR; ALVES, 2010, p.23) Uma outra proposta é que as empresas que criam seus filtros bolha com o objetivo de vender nossos padrões para recebermos anúncios personalizados sejam mais transparentes com sua política de filtragem. Se os filtros estão decidindo por cada um de nós, eles acabam por fechar inúmeras possibilidades de conhecimento, as quais estão relacionadas até com nosso processo criativo e inovador: Como uma lente, o filtro bolha invisível transforma o mundo que nós experimentamos, controlando o que se vê e não vê. Isso interfere na interação entre nossos processos mentais e nosso ambiente externo. De certa forma, ele pode agir como uma lupa, felizmente expandindo nossa visão de um nicho de conhecimento. Mas ao mesmo tempo, os filtros personalizados limitam ao que estamos expostos e, portanto, afetam a maneira de pensar e aprender. Eles podem perturbar o delicado equilíbrio cognitivo que nos ajuda a tomar boas decisões e chegar a novas idéias. E porque a criatividade também é um resultado dessa interação entre a mente e o ambiente, eles podem ficar no caminho da inovação. (PARISER, 2011, tradução nossa)9 Por fim, propomos que o jornalismo contribua para esse processo de desenvolvimento de conhecimento, estimulando a navegação do usuário por inúmeros links – com informações complementares, mas também informações que se confrontem, que façam o usuário refletir. Isso talvez só seja possível com uma estrutura como as mônadas abertas, que propõe a horizontalidade que tanto destacamos ser ideal para a comunicação digital. Hierarquia ou verticalidade e até mesmo os filtros não parecem 8 Consuming information that conforms to our ideas of the world is easy and pleasurable; consuming information that challenges us to think in new ways or question our assumptions is frustrating and difficult. 9 Like a lens, the filter bubble invisibly transforms the world we experience by controlling what we see and don’t see. It interferes with the interplay between our mental processes and our external environment. In some ways, it can act like a magnifying glass, helpfully expand ing our view of a niche area of knowledge. But at the same time, personalized filters limit what we are exposed to and therefore affect the way we think and learn. They can upset the delicate cognitive balance that helps us make good decisions and come up with new ideas. And because creativity is also a result of this interplay between mind and environment, they can get in the way of innovation. 13 Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVIII Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – Bauru -‐ SP – 03 a 05/07/2013 nos levar para a exploração de toda a potencialidade que a rede pode nos permitir. CONSIDERAÇÕES FINAIS Somos o que clicamos? Em um contexto onde cada usuário tem seu comportamento mapeado, condicionando o tipo de informação que vai receber, tudo indica que sim. Estamos presos em bolhas que pretendem reafirmar nossos gostos, interesses e relações porque as grandes companhias anunciantes no meio digital estão atrás de perfis altamente segmentados e por isso precisam de filtros que façam este trabalho. Em oposição, trazemos a visão de um meio livre, acentrado, que permita ao usuário ter mais autonomia e explore todo o potencial da rede. Obviamente, estruturas de organização da informação serão necessárias em qualquer modelo, do contrário, a navegação seria um verdadeiro caos. O desafio é então encontrar modos de organizar a informação digital, sem comprometer essa liberdade de escolha, apresentando novos caminhos. Devemos dizer não ao filtro bolha, porque ele nos limita na busca por diversidade e no confrontamento de ideias. Porque ele faz o usuário acreditar que está em um processo livre de escolhas, enquanto age de forma opaca. Isso indica um retrocesso frente ao avanço que a rede trouxe quando tornou os receptores mais ativos. Deve-se buscar formas mais democráticas, horizontais, como as mônadas abertas nas notícias jornalísticas podem fazer. Ter consciência de que o filtro bolha influencia nossas escolhas é urgente. Se não buscarmos a informação como suporte para uma comparação, que nos levará ao confrontamento de ideias e, por consequência, o conhecimento e a aprendizagem, ficaremos imersos na bolha. 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