Nome: Português Nº: 3º ano Modernismo Carlos Drummond de Andrade Turma: Wilton Nov/09 CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE NO VESTIBULAR Os concursos vestibulares de todo o Brasil costumam trabalhar com questões relacionadas à vasta obra de Carlos Drummond de Andrade, mesmo quando não há exigência da leitura de alguma obra específica do autor mineiro. Para iniciar a discussão relacionada às questões sobre Drummond, se for possível, assista ao documentário O fazendeiro do ar, de Fernando Sabino e David Neves (1974). O filme dura aproximadamente 9 minutos e traz Drummond comentando sua trajetória. No site www.carlosdrummond.com.br há uma cópia de qualidade desse vídeo. A questão proposta a seguir pela Unifal traz um poema retirado da coletânea Sentimento do mundo, “Noturno à janela do apartamento”. A obra Sentimento do mundo pertence à fase social do poeta. Unifal – janeiro 2008 – 2ª Prova Comum 1) Leia o poema a seguir. Noturno à janela do apartamento Silencioso cubo de treva: um salto, e seria a morte. Mas é apenas, sob o vento, a integração na noite. Nenhum pensamento de infância, nem saudade nem vão propósito. Somente a contemplação de um mundo enorme e parado A soma da vida é nula. Mas a vida tem tal poder: na escuridão absoluta, como líquido, circula. Suicídio, riqueza, ciência... A alma severa se interroga e logo se cala. E não sabe se é noite, mar ou distância. Triste farol da Ilha Rasa. Sentimento do mundo. Carlos Drummond de Andrade. Considerando o poema acima, é INCORRETO afirmar que: a) há uma volta para a discussão de um momento político, enfatizando-se uma lírica a serviço de uma tese social, que se distancia completamente da indagação do eu. b) apesar das perplexidades diante de um “mundo enorme e parado” − descrito por um vocabulário que apresenta uma visão niilista da realidade contemplada à distância pelo eu-lírico − a vida impõe suas resistências e sua continuidade. c) o eu-lírico encontra-se mergulhado na reflexão sobre os impactos da vida. Isso está metaforizado principalmente no último verso, através da referência ao palco histórico do naufrágio de dois grandes navios. d) o título do poema remete a uma espacialização que metaforiza um eu-lírico ambíguo, dividido entre o interior e o exterior, e a uma temporalidade que indica um estado emocional de recolhimento e reflexão. Resposta: A O poema a seguir, proposto pela banca da UFBA, serve como base para a questão 2. Procure associá-lo às temáticas do Romantismo brasileiro da segunda geração. Estabeleça semelhanças e diferenças em relação aos poetas byronistas. Enfatize também os aspectos modernistas presentes no poema. UFBA – 2007 – 1ª Fase 2) CANÇÃO DA MOÇA-FANTASMA DE BELO HORIZONTE Eu sou a Moça-Fantasma ou suicidou-se na praia que espera na Rua do Chumbo e seus cabelos ficaram o carro da madrugada. longos na vossa lembrança. Eu sou branca e longa e fria, Eu nunca fui deste mundo: a minha carne é um suspiro Se beijava, minha boca na madrugada da serra. dizia de outros planetas Eu sou a Moça-Fantasma. em que os amantes se queimam O meu nome era Maria. num fogo casto e se tornam Maria-Que-Morreu-Antes. estrelas, sem ironia. Morri sem ter tido tempo Sou a vossa namorada de ser vossa, como as outras. que morreu de apendicite, Não me conformo com isso, no desastre de automóvel e quando as polícias dormem em mim e fora de mim, meu espectro itinerante e por cima do vestido desce a Serra do Curral, e por baixo do vestido vai olhando as casas novas, era a mesma ausência branca, ronda as hortas amorosas um só desespero branco... (Rua Cláudio Manuel da Costa), Podeis ver: o que era corpo pára no Abrigo Ceará, foi comido pelo gato. não há abrigo. Um perfume que não conheço me invade: As moças que ainda estão vivas é o cheiro do vosso sono (hão de morrer, ficai certos) quente, doce, enrodilhado têm medo que eu apareça nos braços das espanholas... e lhes puxe a perna... Engano. Oh! deixai-me dormir convosco. Eu fui moça, serei moça deserta, per omnia secula.* E vai, como não encontro Não quero saber de moças. nenhum dos meus namorados, Mas os moços me perturbam que as francesas conquistaram, Não sei como libertar-me. e que beberam todo o uísque Se o fantasma não sofresse, existente no Brasil se eles ainda me gostassem (agora dormem embriagados), e o espiritismo consentisse, espreito os carros que passam mas eu sei que é proibido, com choferes que não suspeitam vós sois carne, eu sou vapor. de minha brancura e fogem. Os tímidos guardas-civis, Um vapor que se dissolve coitados! Um quis me prender. quando o sol rompe na Serra. Abri-lhe os braços... Incrédulo, me apalpou. Não tinha carne Agora estou consolada, disse tudo que queria, subirei àquela nuvem, serei lâmina gelada, cintilarei sobre os homens. Meu reflexo na piscina da Avenida Paraúna (estrelas não se compreendem), ninguém o compreenderá. * “per omnia secula” – por todos os séculos. ANDRADE , Carlos Drummond de. Sentimento do mundo. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Carlos Drummond de Andrade: obra completa: poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 102-103. (Biblioteca Luso-Brasileira. Série Brasileira). Sobre o poema, é correto afirmar: (01) O texto é permeado por um tom de lamento da moça fantasma, motivado pela perda do mundo real. (02) O espaço físico pelo qual a personagem transita é delimitado na superfície do texto. (04) As expressões “eu sou branca”, “minha brancura”, “ausência branca” e “desespero branco” intensificam a idéia de um ser abstrato, inorgânico. (08) O discurso lírico da segunda estrofe identifica a figura do fantasma com outros seres que se tornaram invisíveis para o mundo real. (16) A voz poética revela desejo de comunhão com a natureza, com o sagrado e com os homens. (32) O poema lírico revela imagens de tédio, de ódio e de desespero de um ser oprimido, desejoso de mudanças sociais. (64) O final do poema evidencia o restabelecimento da integração da personagem com o mundo real. Resposta: 01+02+04+08 = 15 O poema “Procura da poesia”, utilizado pela Fuvest, foi retirado da coletânea A Rosa do Povo, livro em que estão em primeiro plano as preocupações sociais do poeta. Entretanto, os poemas “Consideração do poema” e “Procura da poesia” que abrem A rosa do povo têm enfoque metalinguístico. Em “procura da poesia”, Drummond trabalha com a ideia de que poesia é, essencialmente, linguagem. O poeta simbolista francês Mallarmé afirmava que “poemas não se fazem com ideias, mas com palavras”, concepção que parece ir ao encontro daquela defendida por Drummond em seu texto. FUVEST - 2007 3) Procura da Poesia Não faças versos sobre acontecimentos. Não há criação nem morte perante a poesia. Diante dela, a vida é um sol estático, não aquece nem ilumina. (...) Penetra surdamente no reino das palavras. Lá estão os poemas que esperam ser escritos. Estão paralisados, mas não há desespero, há calma e frescura na superfície intata. Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário. (...) Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo. No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que se penetre “no reino das palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o poeta de A rosa do povo, a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz de se opor ao mundo capitalista. b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância da variedade padrão da linguagem. c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não podem nem devem ser interpretados. d) as intenções sociais da poesia não a dispensam de ter em conta o que é próprio da linguagem. e) os poemas metalingüísticos, nos quais a poesia fala apenas de si mesma, são superiores aos poemas que falam também de outros assuntos. Resposta: D Questão 74 FUVEST – 2007 – 2ª Fase (Anglo) Questão 4 A flor e a náusea Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjôo? Posso, sem armas, revoltar-me? Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. (...) Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo. a) Em A rosa do povo, o poeta se declara anticapitalista. Nos três primeiros versos do excerto, esse anticapitalismo se manifesta? Justifique sucintamente sua resposta. Sim. Esse “anticapitalismo” a que se refere a questão manifesta-se no excerto e em muitos outros poemas que compõem a coletânea A rosa do povo. Já nos primeiros versos de “A flor e a náusea”, o sujeito poético parece estar em descompasso com o mundo capitalista em que está inserido. No verso que abre o poema, ele se reconhece inserido numa determinada classe social (“minha classe”) e a “algumas roupas” (valores culturais específicos dessa classe). O sujeito lírico sente-se incomodamente vigiado e preso à sua condição social. O capitalismo é traduzido pejorativamente pela expressão “rua cinzenta” em oposição à cor branca da roupa do eu lírico. b) De acordo com os dois últimos versos do excerto, como se manifesta, no campo da linguagem, o impasse de que fala o poeta? Explique resumidamente. O impasse de que fala o eu lírico nos versos “Em vão me tento explicar, os muros são surdos./Sob a pele das palavras há cifras e códigos.” se manifesta na impossibilidade da comunicação. As “cifras” e “códigos” dificultam a comunicação e tornam inútil (“vão”) a tentativa do sujeito poético de ser ouvido pelos “muros” (metáfora para a surdez das pessoas). UEMG – 2008 Questão 9 A poesia de Cecília Meireles é povoada de aspectos da fantasia, que operam uma diluição proposital de formas, sons (...) Assinale, abaixo, o fragmento poético dessa autora que contraria o comentário acima apresentado. a) A noite desmancha o pobre jogo das variedades. Pousa a linha do horizonte entre as minhas pestanas, e mergulha silêncio na última veia da esperança. b) Desde agora, saberei que sou sem rastros. Esta água da minha memória reúne os sulcos feridos: as sombras efêmeras afogam-se na conjunção das ondas. c) Tenho no meu lábio as ruínas de arquiteturas de espuma com paredes cristalinas... d) Muitas velas. Muitos remos. Âncora é outro falar... Tempo que navegaremos não se pode calcular. Resposta: D PUC – 2009 (Anglo) Questão 7 Anoitecer É a hora em que o sino toca, mas aqui não há sinos; há somente buzinas, sirenes roucas, apitos aflitos, pungentes, trágicos, uivando escuro segredo; desta hora tenho medo. É a hora em que o pássaro volta, mas de há muito não há pássaros; só multidões compactas escorrendo exaustas como espesso óleo que impregna o lajedo; desta hora tenho medo. Questão 7lução É a hora do descanso, mas o descanso vem tarde, o corpo não pede sono, depois de tanto rodar; pede paz — morte — mergulho no poço mais ermo e quedo; desta hora tenho medo. Hora de delicadeza, gasalho, sombra, silêncio. Haverá disso no mundo? É antes a hora dos corvos, bicando em mim, meu passado, meu futuro, meu degredo; desta hora, sim, tenho medo. O poema acima, que integra a obra A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade, constrói-se a partir de oposições. Assinale a alternativa que não concretiza uma oposição existente na construção do poema. a) O lirismo nostálgico de evocações do passado e o drama presente das situações de conflito. b) A espiritualidade de sons delicados e a crueza dos ruídos estridentes. c) A leveza solitária da hora e a densidade compacta dos corpos. d) O repouso reparador do descanso e o desespero sem saída da morte. e) A afirmação das certezas passadas e a confirmação das ações no presente. Resolução As alternativas A, B e, com certa complacência, C contêm oposições que podem ser observadas no poema. A alternativa D seria uma resposta válida, pois, em rigor, o “descanso”, mencionado na terceira estrofe, não se opõe à morte: esta pode ser entendida como uma radicalização daquele e, em vez de provocar desespero, é desejada pelo eu lírico, reduzido à materialidade de um corpo que “pede paz — morte —”, como forma de evasão do mundo moderno, brutal, desumanizado e alienante. A alternativa E, porém, poderia igualmente ser apontada como resposta, uma vez que as “certezas passadas”, em última instância, não são afirmadas, mas negadas (“não há sinos; “não há pássaros”). Além disso, as noções de “afirmação” e de “confirmação” não se opõem. Resposta: D e E UFAC – 2009 Questão 10 A poesia de Carlos Drummond de Andrade se caracterizou desde o início por uma postura de deslocamento em relação ao mundo. No poema “José”, é inevitável a percepção de um esgotamento, de uma finitude de valores vivida ao extremo (E agora José?), porque nesse caso: a) o sujeito lírico ordena uma série de resoluções que se não forem cumpridas pelo personagem fará com que ele perca irremediavelmente a sua condição humana. b) o sujeito lírico imprime no personagem uma marca de universalidade que representará os limites do homem num mundo de forças inexoráveis. c) o sujeito lírico permite uma distância entre o personagem e o mundo de tal maneira que eles não se contaminem. d) o sujeito lírico conhece intimamente o personagem porque exagera nos seus defeitos e os sabe de antemão condenado por eles. e) o sujeito lírico não mostra nenhuma consideração pelo personagem na sua representatividade exemplar do fracasso humano. Resposta: B UNICAMP – 2007 Questão 9 O poema abaixo pertence ao livro A rosa do povo (1945): Cidade prevista Irmãos, cantai esse mundo que não verei, mas virá um dia, dentro em mil anos, talvez mais... não tenho pressa. Um mundo enfim ordenado, uma pátria sem fronteiras, sem leis e regulamentos, uma terra sem bandeiras, sem igrejas nem quartéis, sem dor, sem febre, sem ouro, um jeito só de viver, mas nesse jeito a variedade, a multiplicidade toda que há dentro de cada um. Uma cidade sem portas, de casas sem armadilha, um país de riso e glória como nunca houve nenhum. Este país não é meu nem vosso ainda, poetas. Mas ele será um dia o país de todo homem. (Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo, em Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p.158-159.) a) A quem se dirige o eu lírico e com que finalidade? O eu lírico se dirige aos poetas (antepenúltimo verso), também chamados de “irmãos” (conforme a apóstrofe do primeiro verso), com a finalidade de exortá-los a cantar o mundo futuro. b) A que “cidade” se refere o título do poema e como ela é representada? A “cidade” referida no título do poema consiste no mundo futuro, idealizado como espaço de igualdade entre os homens, de acordo com a utopia socialista, que faz lembrar o mito da “idade de ouro”, registrado por Hesíodo (poeta grego do séc. VIII a.C.), e se configura na descrição profética iniciada no quinto verso (“Um mundo enfim ordenado”), estendendo-se até o décimo-oitavo (“como nunca houve nenhum”). c) Que características centrais de A Rosa do Povo se encontram nesse poema? Os poemas de A Rosa do Povo desenvolvem três grandes temas: a própria poesia (metalinguagem), a reflexão existencial (a vida, a morte, o amor, a memória, etc.) e o impasse político-social nos tempos sombrios da ditadura Vargas e da Segunda Guerra Mundial. A própria poesia e a questão social entrelaçam- -se nitidamente nos versos de “Cidade prevista”, na exortação feita aos poetas para que cantassem a utopia de um mundo em que os homens fossem solidários, livres e felizes. Do ponto de vista formal, convivem nesse livro de Drummond o registro da poética tradicional, expressa em versos isométricos, e o da poética modernista, marcada pelo uso sistemático do verso livre. No caso do poema em questão, os versos são redondilhos maiores (sete sílabas poéticas), exceto os versos 12 e 13, que são octossílabos. UNICAMP – 2009 Questão 11 Carlos Drummond de Andrade reescreve a famosa “Canção do exílio” de Gonçalves Dias, na qual o poeta romântico idealiza a terra natal distante: Nova canção do exílio A Josué Montello Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobre flores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde tudo é belo e fantástico, só, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar para onde tudo é belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe. (A rosa do povo, em Carlos Drummond de Andrade, Poesia e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1988, p.117.) a) Além de expatriação, a palavra exílio significa também “lugar longínquo” e “isolamento do convívio social”. Quais palavras expressam estes dois últimos significados no poema de Drummond? No poema de Carlos Drummond de Andrade, as palavras que expressam tais sentidos são “longe” e “só”, respectivamente. b) Como o eu lírico imagina o lugar para onde quer voltar? O eu lírico idealiza um lugar “Onde tudo é belo/ e fantástico”, no qual é possível ser feliz. Uma espécie de utopia, local distante e distinto daquele em que se encontra e no qual se sente exilado, pois “as aves cantam/ um outro canto”. Esta utopia pode ser associada a uma terra natal da qual o eu lírico se sente distanciado; pode referir-se a um Brasil livre da censura e da ditadura de Getúlio Vargas ou a um outro lugar distante no tempo ou no espaço, em que ele possa ser feliz, ainda que sozinho. UFBA – 2007 - 2ª Fase Questão 1 FRAGILIDADE Este verso, apenas um arabesco em torno do elemento essencial – inatingível. Fogem nuvens de verão, passam aves, navios, ondas, e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento, ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades de sono se depositam sobre a terra esfacelada. Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música feita de depurações e depurações, a delicada modelagem de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais que um arabesco, apenas um arabesco abraça as coisas, sem reduzi-las. ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Carlos Drummond de Andrade: obra completa: poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 154-155. Na seleção dos signos verbais, o sujeito poético cria metáforas estabelecendo analogias entre elementos distintos. Na linguagem de Drummond, “isso é aquilo”. Identifique e transcreva uma das analogias referidas, explicando-a com base no contexto do poema. Espera-se que o candidato identifique uma das metáforas “verso” e “arabesco”, “rosto” e “espelho”, “cristal”. Em seguida deverá atribuir sentidos como: poesia e realidade, linguagem poética e essência da poesia, fragilidade do homem, do verso, da palavra em face da captação da essência das coisas. UNIMONTES – 2009 Questão 16 Leia o texto abaixo: “Em posição de Buda me ensabôo, resignado me contemplo. O mundo é estreito. Uma prisão de água envolve o ser, uma prisão redonda. Então me faço prisioneiro livre. Livre de estar preso. Que ninguém me solte deste círculo de água, na distância de tudo mais. O quarto. O banho. O só. O morno. O ensaboado. O toda-vida. Podem reclamar, podem arrombar a porta. Não me entrego ao dia e seu dever.” (ANDRADE, 2006. p. 142-143). Com base no fragmento do poema “Banho de Bacia”, de Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade, assinale a interpretação que está INCORRETA. a) O poema representa o estado de meditação do eu adulto através do episódio do banho de bacia do menino. b) O espaço do banho de bacia, com toda a água que envolve o menino, significa a liberdade e a prisão, mas também pode significar o vazio e a solidão do homem no mundo. c) O eu adulto reconstrói o episódio do banho de bacia como uma forma de expor o seu comprometimento com os fatos históricos de Itabira. d) A repetição da vogal “o” em vários versos não só dá sonoridade ao poema, mas também pode representar o próprio formato da bacia e do mundo. Resposta: C UNIMONTES – 2009 Questão 17 Leia o poema abaixo: REPETIÇÃO Volto a subir a Rua de Santana. De novo peço a Ninita Castinho a Careta com versos de Bilac. É toda musgo a tarde itabirana. Passando pela Ponte, Luís Camilo (o velho) vejo em seu laboratóriooficina, de mágico sardônico. Na Penha, o ribeirão fala tranqüilo que Joana lava roupa desde o Império e não se alforriou desse regime por mais que o anil alveje a nossa vida. Ô de casa!... Que casa! Que menino? Quando foi, se é que foi – era submersa que me torna, de velho, pequenino? (ANDRADE, 2006. p. 249) Faça uma leitura interpretativa do poema “Repetição”, de Boitempo, de Carlos Drummond de Andrade, e marque a alternativa que está INCORRETA. a) O poema apresenta o poeta Drummond como leitor dos poetas clássicos quando ele pede: “Ninita Castinho / a Careta com versos de Bilac”. b) O eu lírico descreve o espaço físico e geográfico da cidade de Itabira onde o escritor Drummond viveu a sua infância. c) O eu, no presente da escrita, revela uma visão crítica do adulto em relação à escravidão dos negros no Brasil desde o Império. d) O poeta Drummond, já velho, faz uma viagem à sua terra natal e consegue encontrar, do mesmo jeito, a cidade e a casa onde viveu. Resposta: D ITA – 2008 Questão 37 O poema abaixo é um dos mais conhecidos de Carlos Drummond de Andrade. É INCORRETO dizer que o poema Questão 37 Cidadezinha qualquer Casas entre bananeiras mulheres entre laranjeiras pomar amor cantar. Um homem vai devagar. Um cachorro vai devagar. Um burro vai devagar. Devagar… as janelas olham. Eta vida besta, meu Deus a) é herdeiro da vertente social do Modernismo de 30. b) ironiza a idealização da vida rural, tão cantada pelos românticos do século XIX. c) substitui a idealização romântica da vida rural por uma visão mais crítica. d) se vale de vocabulário e sintaxe simples, de acordo com a proposta do Modernismo. e) mostra na primeira estrofe um quadro romântico da natureza, que é desfeito nas estrofes seguintes. Resolução Na primeira estrofe, com as expressões “pomar amor cantar”, o poema “Cidadezinha qualquer” retoma termos românticos associados à temática da natureza (alternativa E). No entanto, essa retomada se dá sob a chave irônica (alternativa B), através da qual o poema denuncia criticamente a idealização romântica (alternativa C). Tanto o despojamento vocabular quanto as repetições fazem eco ao coloquialismo defendido pelos poetas da geração de 1922 (alternativa D). O poema refere o atraso da vida brasileira, aproximando-se da tendência social do Modernismo de 30, geração da qual o poeta é contemporâneo, e não herdeiro, o que invalida a alternativa A. Resposta: A FUVEST – 2008 – 1ª FASE Questão 54 Entre os seguintes versos de Alberto Caeiro, aqueles que, tomados em si mesmos, expressam ponto de vista frontalmente contrário à orientação dominante que se manifesta em A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, são os que estão em: a) “Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: / O valor está ali, nos meus versos.” b) “Eu nunca daria um passo para alterar / Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.” c) “Como o campo é grande e o amor pequeno! / Olho, e esqueço, como o mundo enterra e as árvores se despem.” d) “Quando a erva crescer em cima da minha sepultura, / seja esse o sinal para me esquecerem de todo.” e) “Quem me dera que eu fosse o pó da estrada / E que os pés dos pobres me estivessem pisando…” Questão 54 Resolução Nos versos de Alberto Caeiro, o eu lírico assume uma postura de alienação política, ao afirmar que “nunca daria um passo para alterar / Aquilo a que chamam a injustiça do mundo”. A orientação dominante que se manifesta em A Rosa do Povo é a da participação social, na busca da utilização da poesia como instrumento de luta contra a opressão do indivíduo, tema que se manifesta, por exemplo, nas referências à Segunda Guerra Mundial. Resposta: B PUC RS - 2009 INSTRUÇÃO: Para responder à questão 35, leia o texto que segue, de Cecília Meireles. Lua adversa 01 Tenho fases, como a lua 02 Fases de andar escondida, 03 fases de vir para a rua... 04 Perdição da minha vida! 05 Perdição da vida minha! 06 Tenho fases de ser tua, 07 tenho outras de ser sozinha. 08 Fases que vão e que vêm, 09 no secreto calendário 10 que um astrólogo arbitrário 11 inventou para meu uso. 12 E roda a melancolia 13 seu interminável fuso! 14 Não me encontro com ninguém 15 (tenho fases, como a lua...) 16 No dia de alguém ser meu 17 não é dia de eu ser sua... 18 E, quando chega esse dia, 19 o outro desapareceu... Sobre o poema, é correto afirmar: I. A comparação das fases da lua às fases da vida transmitem a idéia de mudança, relacionada a um dos elementos que marcam a passagem do tempo, ou, seja, a lua. II. O ritmo e o léxico do poema reforçam a idéia de circularidade do tempo. III. Os adjetivos “secreto” (verso 09) e “arbitrário” (verso 10), relacionados, respectivamente, a “calendário” (verso 09) e “astrólogo” (verso 10), esclarecem a origem das mudanças. IV. A última estrofe (versos 14 a 19) abandona o tema relativo ao movimento cíclico da vida sugerido no início do poema, para centrar-se na questão do amor. V. O uso das reticências no verso 03 sugere o processo contínuo de alternância de estados emocionais do sujeito. 35) Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas, apenas, a) I, II e III. b) III, IV e V. c) II, III e IV. d) I, II e V. e) I, II, III e V. Resposta: D UFJF – 2008 Questão 12 Aponte e comente 3 (três) traços marcantes dos textos que compõem o livro Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade. Grau de dificuldade: 0 Razão: a questão pressupunha leitura prévia dos textos. A partir dessa premissa, o aluno só teria que destacar 3 características marcantes e comentá-las. Essas características poderiam ser: a) busca do eu: auto-conhecimento; b) solidariedade com o mundo; c) engajamento em relação aos problemas sociais; d) os fatores históricos influenciando o comportamento e as reações das pessoas no Brasil e no mundo; e) retrato dos sentimentos trazidos e instalados pela guerra e seus efeitos como o medo, a angústia e a mutilação de pessoas; f) ironia como forma de criticar a atitude alienada da classe burguesa; g) metalinguagem: o exercício do fazer poético com propósitos sociais.