SERVIÇO DICAS Cardápio nacional tados Unidos, a da Europa, ou uma combinação de ambas. Esse trabalho vem suprir a necessidade da comunidade científica, que é a falta de dados confiáveis em relação aos componentes da dieta do brasileiro, completa Jaime Amaya-Farfán, um dos coordenadores da pesquisa. As dificuldades para os pesquisadores de alimentos começam com a grande variedade – para um país como o Brasil, de dimensões semicontinentais – de clima, de solo, que influenciam nos resultados da análise do alimento, principalmente quanto à concentração de micronutrientes (vitaminas e sais minerais). Além disso, há outros fatores, como a estocagem e a forma de preparo dos alimentos, a sazonalidade, que fazem com que os mesmos produtos tenham composições nutricionais diferentes. “Faltavam dados que pudessem ser usados com segurança para evitar erros ao se tomar valores extremos. A tabela é uma espécie de júri científico para dar aval aos valores que devem ser representativos”, ressalta Amaya-Farfán. IDEC UTILIDADES Guia alimentar para uma dieta mais saudável, a mais nova versão da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (Taco), vem suprir a falta de um instrumento abrangente para uma caracterização nutricional dos alimentos brasileiros 32 A gora ficou mais fácil e seguro saber o conteúdo nutricional dos alimentos que ingerimos, com a publicação da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos (Taco), elaborada pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Alimentação da Universidade Estadual de Campinas (NEPA/Unicamp). O projeto Taco, desenvolvido em várias fases, traz a composição em nutrientes de 495 alimentos, entre produtos naturais e industrializados. A primeira versão da tabela foi lançada em 2004 e abarcava 198 alimentos; esta segunda versão acrescenta mais 297 itens aos já analisados. São 45 tipos de informação nutricional, entre os quais as quantidades Revista do Idec | Outubro 2006 de calorias, proteínas, carboidratos, lipídios, fibras, minerais, vitaminas, ácidos graxos e colesterol. A existência de uma tabela brasileira é uma boa notícia neste mês em que se comemora o Dia Mundial da Alimentação (16), no Brasil, ampliado para a Semana Mundial de Alimentação (16 a 22). Antes da tabela, o Brasil não dispunha de uma base de dados abrangente sobre os nutrientes dos alimentos que refletisse a real composição do alimento brasileiro, assegura Renata Maria Padovani, pesquisadora do NEPA e nutricionista da equipe técnica do projeto Taco. Os nutricionistas latino-americanos costumam utilizar a tabela dos Es- A Taco é essencial para diversas ações na área da saúde, pois permite estudos de consumo alimentar no país, com os quais se pode avaliar fatores de risco para doenças. Também possibilita estudos epidemiológicos e planejamento de alimentação. Na área clínica, o conhecimento da composição dos alimentos é básico para dietas em casos de doenças que exigem mudanças alimentares. O estudo do estado nutricional da população baseado na tabela fornece ainda informações relevantes sobre o valor social da produção agrícola, que podem ser consideradas pelos agrônomos. Por exemplo, com base na variedade de feijão estudada pela Taco, o agrônomo pode escolher uma com determinadas propriedades nutritivas para determinada população. Primeira tabela do gênero na América Latina, a Taco é o resultado de dez anos de trabalho. “Outras tabelas existentes são resultados publicados em diversas épocas e de estudos não sistemáticos”, avalia o atual coordenador do projeto, enfatizando que o trabalho do NEPA envolveu uma rigorosa seleção de laboratórios, o que demandou muito tempo de planejamento, mas resultou na confiabilidade dos resultados. Foram analisados alimentos industrializados de nove grandes cidades das cinco regiões brasileiras, e selecionadas de três a cinco das marcas mais consumidas. As amostras de produtos de origem vegetal e animal foram coletadas em centros distribuidores de alimentos de São Paulo e Santa Catarina, onde também se produzem alimentos consumidos em outras regiões. Financiado pelos ministérios da Saúde (MS) e do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), o projeto Taco está iniciando a sua quinta fase, que analisará um lote de mais cem alimentos, e deve ser concluída em 2007. “Queremos uma linha de crédito específica para esse trabalho, que não tem continuidade garantida”, afirma o coordenador. Está sendo concluída a impressão de 17 mil exemplares da tabela, destinados a instituições, bibliotecas e ONGs, mas ela está disponível nos sites do MS, do MDS e do Nepa. A pedido do Idec, Miriam Corrêa de Carvalho, doutora em Alimentos e Nutrição Jaime Amaya-Farfán, coordenador da pesquisa pela Unicamp, e as nutricionistas Ana Paula Fioreti e Viviane Silva Zaffani analisaram, à luz da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, os nutrientes de oito pratos básicos do cardápio nacional. A intenção foi orientar o consumidor a compor uma alimentação mais adequada ao que ele necessita, além de auxiliá-lo na obtenção de um cardápio saudável, o que nem sempre conseguimos na alimentação cotidiana. A análise dos nutrientes dos oito pratos avaliados foi realizada considerando-se o valor calórico diário de 2000 kcal. Para cada preparação, foram utilizados o prato individual e medidas caseiras encontradas na literatura científica. Esta análise se encontra nas duas páginas seguintes. Serviço ● Nepa – www.unicamp.br/nepa/taco ● MS – www.saude.gov.br/nutricao ● MDS – www.mds.gov.br Revista do Idec | Outubro 2006 33 ARQUIVO PESSOAL DICAS DICAS DICAS Características nutricionais de alguns pratos brasileiros Macarrão à bolonhosa – (macarrão, molho e queijo ralado) Medidas – macarrão à bolonhesa: 1 prato raso; queijo ralado: 2 colheres (das de sopa) cheias Em termos de nutrientes, este prato é muito parecido com a lasanha ao sugo. Apresenta 26,63% de calorias, 6% de proteína e 7,5% de lipídeos. Do total de lipídios, as gorduras saturadas são as que predominam. Por apresentar quantidades muito baixas de vitaminas, recomenda-se a ingestão de legumes e verduras variadas, assim como frutas, para a adequação destes nutrientes na refeição. Virado à paulista – (tutu de feijão, lingüiça, bisteca, banana empanada, ovo frito, torresmo e couve) Medidas – tutu de feijão: 2 colheres (das de arroz) rasas; arroz: 4 colheres (das de sopa) cheias; bisteca: 1 unidade média; lingüiça: 1 gomo; banana-nanica empanada: 1/2 unidade média; ovo frito: 1 unidade; torresmo: 1/2 xícara (das de chá); couve refogada picada: 2,5 colheres (das de sopa) cheias Altas quantidades de calorias, sódio, proteínas e gorduras. As proteínas estão presentes nas carnes, nas leguminosas (feijões), e nesta porção estão em quantidade suficiente para o dia todo. A concentração de lipídios se deve ao óleo utilizado na fritura, além de nas carnes gordas e na lingüiça, que contêm também muito sal. O teor de colesterol ultrapassa a quantidade diária recomendada. Deve-se evitar o consumo freqüente do virado, e, ao consumi-lo, dispensar sobremesas com alto teor de açúcar e gordura. Para a outra refeição do dia, aconselhamos consumir verduras, legumes e frutas, para compensar a falta de vitaminas e sais minerais desse prato. Feijoada – (arroz, feijão, carnes, torresmo, couve e laranja) Medidas – feijoada: 1,5 concha média cheia; arroz: 4 colheres (das de sopa) cheias; couve picada: 2,5 colheres (das de sopa) cheias; torresmo: 1/2 xícara (das de chá); laranja: 1 unidade Ao considerar seus valores de calorias, sódio, proteína e gordura, deve-se ter cautela no seu consumo, pois esses nutrientes chegam próximos do nível recomendado para o dia todo, ou seja, 10% de proteína (valor recomendado de 10% a 15%), 29,3% de gordura (valor recomendado de 15% a 30%) e 53,4% do total calórico que deve ser consumido ao dia. Apresenta uma boa quantidade de vitamina C devido à presença da laranja. O teor de ferro é muito bom, pois as carnes são boas fontes de ferro heme, de melhor absorção. O feijão apresenta ferro que não é heme, e apesar de ter uma absorção mais difícil, é mais bem aproveitado pelo organismo devido à presença de proteína e vitamina C. Lasanha ao sugo – (macarrão com presunto e queijo mozarela, molho de tomate e queijo parmesão) Medidas – 2 escumadeiras cheias A quantidade calórica representa 30% do valor diário, 6,2% de proteína e 13,81% de gordura. Quando ingerida como prato único, apresenta quantidades baixas de niacina, vitamina C e piridoxina (vitamina B6). Possui excelente quantidade de cálcio, devido à presença dos queijos, mas baixa quantidade de ferro. Para equacionar o valor nutritivo desse prato recomenda-se o consumo de legumes, saladas e frutas, e que na outra refeição do dia não falte carne. Deve-se também moderar o sal adicional utilizado, considerando-se a quantidade já elevada desse nutriente no presunto e no queijo. Estrogonofe de carne – (carne de filé mignon, arroz branco e batata frita) Medidas – estrogonofe de filé mingnon: 1 concha cheia; arroz: 4 colheres (das de sopa) cheias; batata frita: 2 colheres (das de sopa) rasas Apresenta quantidade de calorias adequada para uma refeição (30% do valor diário recomendado). Porém, tem elevado valor lipídico, principalmente pela presença da batata frita e do creme de leite. As fibras e as vitaminas: tiamina (B1), riboflavina (B2), piridoxina (B6) e niacina estão em quantidades muito abaixo da recomendada, devido à ausência de legumes e verduras nesta refeição. O alto teor de vitamina C desta refeição corresponde à presença da batata. Filé de frango com brócolis – (arroz, feijão, brócolis, salada de alface, pepino, cenoura e beterraba) Medidas – filé de frango grelhado: 1 filé médio; arroz: 4 colheres (das de sopa) cheias; feijão: 1 concha pequena; brócolis picado ao alho e azeite: 5 colheres (das de sopa) cheias; salada: alface, 2 folhas grandes; tomate, 3 fatias médias; pepino picado, 2 colheres (das de sopa) cheias; cenoura ralada, 2 colheres (das de sopa) cheias; e beterraba ralada, 1 colher (das de sopa) cheia Excelente opção de cardápio para quem está em dieta de emagrecimento ou para a manutenção do peso, representa 22,42% de calorias, 7,89% de proteína e 6,13% de lipídios. Do total de gorduras, 2,67% correspondem aos ácidos graxos monoinsaturados, os mais recomendados para a manutenção dos níveis do bom colesterol. Apresenta também cerca de 40% do teor de fibra recomendado para o dia, além de boas quantidades de vitaminas como tiamina (B1), riboflavina (B2), piridoxina (B6), niacina e vitamina C, devido principalmente à presença de legumes e verduras. Apresenta ainda baixo teor de sódio e ferro, e boa absorção. Bife à milanesa – (arroz, feijão, bife, salada de maionese com cenoura, batata e vagem) Medidas – bife à milanesa: 1 unidade grande; arroz: 4 colheres (das de sopa) cheias; feijão: 1 concha pequena; salada de maionese: 2,5 colheres (das de sopa) cheias O bife à milanesa concentra uma quantidade maior de gordura em relação a outras preparações (assado, grelhado ou mesmo frito), pois a farinha que envolve a carne absorve muito óleo. A quantidade de colesterol presente é superior a 50% do máximo aconselhável (300 mg/dia), e o prato também fornece um alto valor protéico (50% da quantidade recomendada por dia) e uma ótima quantidade de ferro (pela presença da carne vermelha), correspondente a 64% da recomendação diária. Os legumes da salada de maionese (vagem e cenoura) aumentam as fibras presentes na refeição (35% do valor diário). No entanto, a salada seria melhor se preparada sem maionese, o que diminuiria a quantidade de lipídios e calorias sem maiores prejuízos para os valores de vitaminas, minerais e fibras. Filé de peixe – (pescada frita, arroz à grega e purê de batata) Medidas – filé de pescada frito: 1 filé médio; arroz à grega: 2 escumadeiras cheias; purê de batata: 4 colheres (das de sopa) cheias O peixe deveria ser incluído com maior freqüência na alimentação da população brasileira, principalmente por conter baixa quantidade de lipídios e colesterol. Soma-se a isto a presença de ácidos graxos ômega 3, que auxiliam na prevenção das doenças cardiovasculares. Embora esta refeição contenha fritura, os valores de energia (28%) e lipídios (7%) estão dentro do padrão diário. No entanto, vale ressaltar que o peixe grelhado, assado ou no vapor deixa a refeição ainda menos calórica e gordurosa. Apesar da presença de legumes no arroz à grega, sugere-se que seja acrescentada uma salada colorida para que a refeição fique mais rica em vitaminas e fibras. 34 Revista do Idec | Outubro 2006 Nutrientes e micronutrientes dos pratos Nutrientes Pratos Valor energético (kcal) Proteínas (g) Lipídios (g) Gordura saturada (g) Gordura mono (g) Gordura poli (g) Gorduras trans Ômega 6 (g) Ômega 3 (g) Colesterol (mg) Carboidrato (g) Fibra (g) Cálcio (mg) Ferro (mg) Sódio (mg) Potássio (mg) Zinco (mg) Tiamina-vitamina B1 (mg) Riboflavina-vitamina B2 (mg) Piridoxina-vitamina B6 (mg) Niacina (mg) Vitamina C (mg) Virado à paulista 1.301,74 64,73 85,72 23,49 29,25 26,80 0,47 23,82 2,25 347,56 65,45 6,64 93,27 4,46 1.480,83 1.446,54 4,31 1,23 0,68 0,39 6,41 4,37 Lasanha 579,90 30,85 30,70 10,62 5,02 0,46 0,23 0,16 0,03 69,40 44,81 3,01 478,60 2,85 813,60 504,50 1,34 0,47 0,33 0,09 2,24 1,80 Frango com brócolis 448,43 39,41 13,63 2,60 5,93 4,44 0,06 3,73 0,67 89,00 41,77 9,89 67,76 2,56 57,68 975,00 1,83 0,56 0,98 0,76 25,99 34,29 Bife à milanesa 748,49 35,16 40,56 7,89 10,53 20,21 0,22 17,79 2,13 162,12 60,21 8,60 63,70 5,10 189,35 823,73 4,06 0,27 0,28 0,16 2,61 12,03 Estrogonofe de carne 649,67 28,35 39,26 6,73 7,75 15,23 0,23 13,60 1,45 55,00 50,35 2,81 36,20 2,74 79,68 858,81 3,70 0,31 0,13 0,32 2,54 52,75 Filé de peixe Macarrão Feijoada 560,65 43,11 15,70 4,35 3,55 4,31 0,55 3,82 0,38 113,25 60,97 2,82 103,71 0,94 175,47 705,33 1,65 0,32 0,11 0,23 11,59 35,18 532,70 30,00 16,60 7,95 4,45 0,24 0,50 0,19 0,04 87,40 65,40 3,08 319,20 2,59 753,20 367,68 3,79 0,08 0,30 0,11 1,08 1,20 1.067,20 49,59 65,29 19,17 23,67 15,83 0,60 13,96 1,39 115,07 70,23 16,14 86,47 5,33 2.059,20 1.545,80 4,68 0,59 0,22 0,45 51,64 48,83 Revista do Idec | Outubro 2006 35 SERVIÇO DICAS PLANOS DE SAÚDE U ma consulta à Tabela Brasileira de Composição de Alimentos leva a uma constatação importante: a inclusão de alimentos típicos do país, como o cupuaçu, o caju, o jiló e a acerola, além de informações nutricionais sobre as diferentes variedades, como é o caso das laranjas, bananas e dos feijões. O cupuaçu, umas das frutas mais populares da Amazônia, é uma boa fonte de vitamina C, analisa a nutricionista Renata Maria Padovani, que dá outras dicas sobre os produtos analisados pela Taco, relacionandoos a uma dieta saudável. A castanha-do-brasil tem alto teor de proteína e fibras. No Centro-Oeste, as opções para fontes de potássio são a macaúba e a pitanga. No Sudeste, o guandu (ou ainda feijãoguando, andu) é rico em magnésio, ferro e potássio. No Sul, as opções para fontes de proteínas, fibras e ferro são a lentilha e o pinhão. As frutas nordestinas, como o umbu e a graviola, são boas fontes de vitamina C. A tabela é uma boa fonte de consulta para a prevenção de doenças crônicas (obesidade, diabetes, hipertensão, entre outras). Para tanto, o consumidor pode verificar, na composição dos alimentos, nutrientes como o valor energético, o teor de colesterol, de gorduras saturadas, gorduras trans, de ômega 3 e de fibras. Um nível baixo de calorias é importante para evitar a obesidade e suas conseqüências (diabetes, colesterol elevado, hipertensão). O teor de colesterol dos alimentos deve ser igualmente observado, pois para uma dieta saudável recomendase, no máximo, 300 mg ao dia (veja tabela de referência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa). Dos alimentos analisados, a gema de ovo cozida é a mais rica, seguida por miúdos, carnes e peixes. Para uma dieta baixa em colesterol, esses alimentos 36 devem ser consumidos com cautela. Limitar a ingestão de gorduras saturadas faz parte da alimentação saudável. Seu excesso eleva o LDL (colesterol ruim) e diminui o HDL (bom). Essas gorduras predominam especialmente nos alimentos de origem animal (leite integral e seus derivados, carnes), mas o azeite-dedendê e a gordura de coco apresentam quantidades consideráveis. As gorduras vegetais são compostas principalmente por ácidos graxos poliinsaturados (óleo de soja, girassol, milho), mas boas quantidades são encontradas também na gordura do peixe (importante fonte de ômega 3). Os ácidos graxos poliinsaturados diminuem o LDL, porém diminuem também o HDL. Já as monoinsaturadas abaixam o colesterol total e o LDL, e têm o benefício adicional de aumentar os níveis do HDL. São abundantes no azeite de oliva, óleo de canola, abacate, nas nozes e azeitonas. GORDURAS TRANS As gorduras trans, que são encontradas em produtos cujas gorduras passaram por hidrogenação parcial – processo que transforma o óleo do Valores diários de referência estabelecidos pela Anvisa Valor energético (kcal) Carboidratos (g) Proteínas (g) Gorduras totais (g) Gorduras saturadas (g) Gorduras trans* Fibra alimentar (g) Sódio (mg) Colesterol (mg) Cálcio (mg) Ferro (mg) 2.000 300 75 55 22 – 25 2.400 300 1.000 14 * Não há valores diários de referência para a ingestão de gorduras trans, mas o recomendado pelo Ministério e pela OMS é de, no máximo, 2 g Revista do Idec | Outubro 2006 estado líquido para o cremoso e consistente – e trazem risco de doenças ao coração, também estão presentes na Taco. Renata Padovani ressalta que a margarina hidrogenada foi o alimento que apresentou o teor mais alto de gordura trans (10 g) da tabela. A Taco também analisou as margarinas obtidas pelo processo de óleo interesterificado, que não apresentaram trans ou apresentaram níveis insignificantes dessa gordura. Os teores de ácidos graxos trans de biscoitos recheados e wafers (considerando-se várias marcas) variam de 4,21 g a 7,80 g por 100 g do alimento, sendo que esses valores correspondem a 21 % e 30% da gordura total contida nos biscoitos. Outros alimentos que contém alto teor de trans são caldo de carne, caldo de galinha e empada pré-cozida industrializada. Aconselha-se a não ultrapassar 2 g de gorduras trans ao dia, portanto, olhar o rótulo é obrigatório. A nutricionista observa que dos alimentos analisados pela tabela, a linhaça é a maior fonte de ômega 3 de origem vegetal, seguida por nozes, óleo de canola e óleo de soja. A ingestão adequada de gorduras com ômega 3 é importante para a saúde do coração. Em relação ao ômega 3 de origem animal, destacam-se os peixes (manjuba, sardinha, pescada, pescadinha, corvina etc.). A quantidade recomendada para uma dieta de 2.000 kcal é de 0,3 g, o que é facilmente atingido ingerindo-se peixes com freqüência. Recomenda-se o consumo de duas porções de peixe por semana. Outra recomendação importante é a ingestão controlada de sódio (sal). Uma dieta saudável não deve ultrapassar a quantidade de 2.400 mg ao dia, devendo-se evitar caldo de carne e de galinha, azeitonas e lingüiças. O idoso paga o pato Embora a ANS não aplique o Estatuto do Idoso para os planos de saúde contratados antes da entrada em vigor da lei, decisões na Justiça não são unânimes. Para o Idec, o Estatuto deveria abranger todos os contratos D esde a entrada em vigor do Estatuto do Idoso (Lei no 10.741/03), que completou três anos em outubro, existem controvérsias a respeito de sua aplicação para os planos de saúde. O Idec entende que a lei deveria atingir todos os contratos, independentemente da data em que foram assinados, mas a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) tem outra interpretação: o Estatuto só se aplica, segundo o órgão, aos contratos firmados a partir de 2004. Pior para o consumidor. O Estatuto do Idoso é uma lei criada para proteger interesses sociais, pois seu objetivo é dar maior proteção a um grupo vulnerável da sociedade. Entre as medidas que ele determina, inclui-se a proibição de práticas discriminatórias a idosos nos planos de saúde. É o que se lê no artigo 15, parágrafo 3o: “É vedada a discriminação do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da idade”. Dessa forma, proibiu-se que as operadoras praticassem reajustes por faixa etária para os consumidores a partir de 60 anos de idade. Segundo a ANS, os usuários de planos de saúde idosos somavam, em dezembro de 2005, quase 4 milhões. O número corresponde a cerca de 11% do total de usuários de planos. Entre os idosos, mais de 56% possuem contratos antigos. Além desses, há outros tantos idosos com contratos novos, mas anteriores ao Estatuto. Os contratos antigos são aqueles assinados antes da entrada em vigor da Lei de Planos de Saúde (no 9.656/98), e os novos, depois dela. Assim, a maior parte dos idosos do país que possuem planos está sendo prejudicada pela atuação da própria agência. PANZICA Dicas para o uso da tabela AGÊNCIA INCENTIVA A ILEGALIDADE Os reajustes por faixa etária têm necessariamente de estar previstos expressamente em contrato. Caso contrário, são ilegais. A ANS, no entanto, estabelece uma exceção quanto a essa regra. No caso de planos antigos, mesmo não estando previsto em contrato, a agência pode autorizar o reajuste. Porém, tal exceção é absurda. Esse aumento configura uma prática abusiva. Do ponto de vista da Justiça, as decisões sobre reajustes por faixa etária variam bastante. De acordo com um levantamento feito pelo Idec, não há uma decisão judicial Revista do Idec | Outubro 2006 37