OFICINA LITERÁRIA
AULA 8
CURSO DE LETRAS - PROF. Me. CLÁUDIA SOARES
Rio de Janeiro, 02 de fevereiro de 2012
O Lírico e suas formas
Cada um – Ricardo Reis
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.
Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.
Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.Nada mais nos é dado.
Começo a conhecer-me. Não existo.
Sou o intervalo entre o que desejo ser e
os outros me fizeram,
ou metade desse intervalo, porque
também há vida ...
Sou isso, enfim ...
Apague a luz, feche a porta e deixe de
ter barulhos de chinelos no corredor.
Fique eu no quarto só com o grande
sossego de mim mesmo.
É um universo barato.
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Deixa a Vida me Levar
Zeca Pagodinho
Eu já passei
Por quase tudo nessa vida
Em matéria de guarida
Espero ainda a minha vez
Confesso que sou
De origem pobre
Mas meu coração é nobre
Foi assim que Deus me fez...
E deixa a vida me levar
(Vida leva eu!)
Deixa a vida me levar
(Vida leva eu!)
Deixa a vida me levar
(Vida leva eu!)
Sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu...
Só posso levantar
As mãos pro céu
Agradecer e ser fiel
Ao destino que Deus me deu
Se não tenho tudo que preciso
Com o que tenho, vivo
De mansinho lá vou eu...
Se a coisa não sai
Do jeito que eu quero
Também não me desespero
O negócio é deixar rolar
E aos trancos e barrancos
Lá vou eu!
E sou feliz e agradeço
Por tudo que Deus me deu...
REFRÃO
Traduzir-se - Ferreira Gullar
Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém, fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa, pondera
Outra parte delira
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte linguagem
Traduzir uma parte na outra parte
Que é uma questão de vida e morte
Será arte ?
EQUILIBRIO
EU X MUNDO
• A grande dificuldade para o ser
humano é fazer uma leitura de si
mesmo.
• A grande dificuldade é cada um
tentar se entender para
harmonizar o que tem de racional
e passional.
HAMLET
“Traduzir-se uma parte/ na outra parte” - “Será arte?”
Mundo e realidade
O que é o lírico?
A palavra lírica deriva do grego
lyrikós,
que
significa
algo
referente à lira ou som da lira.
Este é um instrumento primitivo
de quatro cordas que, por sua
musicalidade, tem vínculo com o
surgimento da poesia lírica, pois
o texto lírico tem, na sua
estrutura, musicalidade.
Ainda quanto à origem, a poesia
lírica tem seus pés fincados em
hinos religiosos e na tradição
popular.
Gênero literário é uma categoria de composição
literária. A classificação das obras literárias pode
ser
feita
de
acordo
com
critérios,
sintáticos,fonológicos,
formais,
contextuais e outros. A distinções entre os
gêneros e categorias são flexíveis, muitas vezes
com subgrupos.
O gênero lírico se faz, na maioria das vezes, em
versos e explora a musicalidade das palavras.
Entretanto, os outros dois gêneros — o narrativo
e o dramático — também podem ser escritos
nessa forma, embora modernamente prefira-se
a prosa.
Todas
as
modalidades
literárias
são
influenciadas pelas personagens, pelo espaço e
pelo tempo. Todos os gêneros podem ser nãoficcionais
ouficcionais.
Os
não-ficcionais
baseiam-se na realidade, e os ficcionais
inventam um mundo, onde os acontecimentos
ocorrem coerentemente com o que se passa no
enredo da história
O Eu lírico é um termo usado dentro da literatura para
demonstrar o pensamento geral daquele que está
narrando o texto; A junção de todos os sentimentos,
expressões, opiniões e críticas feitas pela pessoa
superior ao texto, que no caso seria o narrador e/ou a
pessoa central ao qual o texto está se referindo. O Eulírico é o "eu" que fala na poesia. É geralmente muito
usado em textos de gênero lírico, que são caracterizados
por expressar, mas não necessariamente, os sentimentos
do autor.
O EU representa o mundo ao redor a partir de sua
subjetividade. O sujeito, na literatura, surge com o lírico.
É, no lírico, que esse sujeito deixa aflorar os seus
sentimentos mais recônditos.
A lírica está ligada à livre imaginação,
onde a emoção supera o pensamento
“Poesia é quando uma emoção encontra seu
pensamento e o pensamento encontra palavras.”
(Robert Frost, 1874-1963)
“A poesia é o eco da melodia do universo no coração
dos humanos.” (Rabindranath Tagore, 1861-1941)
“A poesia é o sentimento que sobra ao coração e sai
pela mão.” (Carmen Conde, 1907-19960)
Diante do universo da representação vai se
constituir progressivamente um universo em
expansão. À restituição do mundo em sua forma
narrada (o relato, a narrativa) ou dialogada (o
teatro), responderá uma relação pessoal das
impressões suscitadas pelo mundo, uma
exploração íntima dos sentimentos, expressa
através de uma voz julgada espontânea, (...).
Tomando-se ele próprio como assunto, o poeta
abandona o domínio da imitação da realidade
em troca daquele da introspecção individual.
Essa tendência literária que negligencia a atitude
de tomar o mundo como modelo, que ignora as
expectativas do auditório, que parece traduzir, de
maneira incontrolada, a interioridade do criador e
reproduzir uma fala que ele parece dirigir a si
mesmo, corresponde àquilo que será chamado
de lirismo.
(STALLONI, 2003, p.135)
TABACARIA – Álvaro de Campos
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém
sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente
por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente
certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos
seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos
brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada
de nada.
Principais manifestações dramáticas
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da
rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida
apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos
na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e
esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por
dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira.Em que hei de
pensar?
A lírica está ligada à livre imaginação, onde a
emoção supera o pensamento.
ANTIGUIDADE
CLÁSSICA
LÍRICA PESSOAL
LÍRICA IMPESSOAL
A Valsa – Cecília Meireles
Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.
Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
E estudo apenas o ar e as águas.
Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
- Os ares fogem, viram-se as águas,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam
VOZES D’ÁFRICA – Castro Alves
Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes
Embuçado nos céus?
Há dois mil anos te mandei meu grito,
Que embalde desde então corre o infinito...
Onde estás, Senhor Deus?...
Qual Prometeu tu me amarraste um dia
Do deserto na rubra penedia
— Infinito: galé! ...
Por abutre — me deste o sol candente,
E a terra de Suez — foi a corrente
Que me ligaste ao pé...
O cavalo estafado do Beduíno
Sob a vergasta tomba ressupino
E morre no areal.
Minha garupa sangra, a dor poreja,
Quando o chicote do simoun dardeja
O teu braço eternal.
Minhas irmãs são belas, são ditosas...
Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
Dos haréns do Sultão.
Ou no dorso dos brancos elefantes
Embala-se coberta de brilhantes
Nas plagas do Hindustão.
...........................................................
A Europa é sempre Europa, a gloriosa! ...
A mulher deslumbrante e caprichosa,
Rainha e cortesã.
Artista — corta o mármor de Carrara;
Poetisa — tange os hinos de Ferrara,
No glorioso afã! ...
Sempre a láurea lhe cabe no lití
....................................
Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada
Em meio das areias esgarrada,
Perdida marcho em vão!
Se choro... bebe o pranto a areia ardente;
talvez... p'ra que meu pranto, ó Deus clemente!
Não descubras no chão...
.......................................
Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
É, pois, teu peito eterno, inexaurível
De vingança e rancor?...
E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
Eu cometi jamais que assim me oprime
Teu gládio vingador?!
........................................
Foi depois do dilúvio... um viadante,
Negro, sombrio, pálido, arquejante,
Descia do Arará...
E eu disse ao peregrino fulminado:
"Cam! ... serás meu esposo bem-amado...
— Serei tua Eloá. . . "
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Teu sangue não lavou de minha fronte
A mancha original.
Ainda hoje são, por fado adverso,
Meus filhos — alimária do universo,
Eu — pasto universal...
Hoje em meu sangue a América se nutre
Condor que transformara-se em abutre,
Ave da escravidão,
Ela juntou-se às mais... irmã traidora
Qual de José os vis irmãos outrora
Venderam seu irmão.
Basta, Senhor! De teu potente braço
Role através dos astros e do espaço
Perdão p'ra os crimes meus!
Há dois mil anos eu soluço um grito...
escuta o brado meu lá no infinito,
Meu Deus! Senhor, meu Deus!!...
São Paulo, 11 de junho de 1868.
A palavra lírica deriva do grego lyrikós, que significa algo
referente à lira ou som da lira. Este é um instrumento
primitivo de quatro cordas que, por sua musicalidade,
tem vínculo com o surgimento da poesia lírica, pois o
texto lírico tem, na sua estrutura, musicalidade.
Ainda quanto à origem, a poesia lírica tem seus pés
fincados em hinos religiosos e na tradição popular.
Para que o leitor penetre no espaço da poesia é
preciso que, de coração aberto, num estado de
compreensão, de entendimento claro daquilo
perceba o que lhe é apresentado. Assim, ele
atinge o entendimento, passando pelo plano da
emoção. A sua sensibilidade tem que estar
desperta. Afinal de contas, antes de entender ele
tem que sentir. Portanto, a alma tem que estar
desarmada e afinada com a alma do poeta. Há um
estado de receptividade por parte do leitor.
EU-LÍRICO
EU-BIOGRÁFICO
COMUNHÃO
E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília, com o diabo ter
Ele queria era falar pro presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz...
Legião Urbana
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