Revista Litteris -Literatura
Novembro de 2010
Número 6
Aires de Almeida Santos e a invenção da Angola
( Paulo Ricardo Braz /UFF)1
Tratar dos tempos de guerra de libertação de Angola e da sua contemporânea produção
poética corresponde, de uma forma geral, a uma ampla abordagem do que se entende por poesia
de resistência. A geração da Mensagem, revista publicada em inícios da década de 50, prepara o
terreno para uma nova poesia de cariz nacional, que, nos anos seguintes, reivindicaria sua
autonomia em palavras de liberdade de teor expressamente político, é certo, não sem ser
violentamente abafadas pela presença repressora da polícia política portuguesa.
Para uma poesia que nasce sob o signo da luta parece descabida uma proposta de análise
compreendida a partir do que se depreende de essencialmente lírico deste objeto. Uma poesia que
emerge em meio a programas políticos e projetos de reforma social corre grande risco de se
fundamentar em cego engajamento, resultando numa literatura panfletária, muitas vezes de gosto
duvidoso. Entretanto, a produção angolana deste período apresenta uma gama de autores que foge
deste paradigma; dentre estes, encontra-se Aires de Almeida Santos, poeta mestiço que também
levantará, assim como os célebres Agostinho Neto, Antonio Jacinto e Viriato da Cruz, a bandeira
do Vamos descobrir Angola!, embora a sua lírica assuma traços específicos de uma estética que
em muito transcende um simples compromisso político de cunho partidário.
Objetiva-se, com este trabalho, um encontro com a poesia de Aires de Almeida, de
maneira a acompanhar de um estudo acerca da poesia de resistência o fazer literário do escritor
angolano. Para tanto, faz-se necessário um olhar sobre a sua produção focado, principalmente, em
sua relação com o tempo e o tempo da poesia, destacando, deste modo, as marcas estilísticas que
1
Mestrando em Literatura Portuguesa – UFF.
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caracterizam, neste caso, algumas composições de sua obra Meu amor da rua onze. Os textos de
Pires Laranjeira e Alfredo Bosi nortearão os percursos desta caminhada pela Angola do poeta.
A poesia de Aires de Almeida traça – como pode se observar no desenvolvimento de sua
obra – caminhos os mais variados na exposição desta lírica. Pires Laranjeira atenta, em seu texto,
à frase usada por Maurício de Almeida Gomes em um poema seu: “É preciso criar a poesia de
Angola”. Nota-se como a poesia de resistência coaduna-se a esta ideia expressa, revelando as
imagens, cores e sons de Angola. Aires de Almeida apresenta, assim como seus contemporâneos,
uma nova poesia que explora paisagens, tipos sociais, passagens do cotidiano, que refletem o tom
desta poética. A obra do poeta compreende ora a poesia ligada aos ideais da negritude, como em
“Juro”, texto de expressão passional que beira o erotismo, ora a composição que canta a vida de
Angola, como em “Queixa”, de notáveis ecos de um romantismo apresentado na lírica de amor.
Por outro lado, há, também, uma poesia de caráter explicitamente anticolonial, como “Quem?”,
que explora um evidente viés crítico do autor – latente em toda a sua obra – mas exposto com
todas as letras neste texto.
De qualquer maneira, deve se ressaltar que a criação desta nova poesia não só se restringe
à formação de uma estética, como também sedimenta uma cosmovisão do homem de Angola; a
poesia que recria as percepções deste estar-no-mundo do natural do país africano acaba por
recriar a própria Angola livre.
O espírito da resistência demarcado por esta poesia nascida em meio ao movimento
“Vamos descobrir Angola!” constrói os seus pilares de sustentação com a Geração da
Mensagem, sendo a palavra, durante anos, a única arma utilizada contra a força opressora. O alvo
era certo: a cultura colonialista portuguesa. Deste modo, a voz que canta a Angola – sua terra, sua
cultura, sua língua – já é por si só uma forma de resistir, embora às gerações seguintes tenha sido
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necessário um pouco mais do que belos versos para demarcar o seu território. A importância da
Mensagem no que diz respeito aos seus projetos e à sua influência é apontada por Pires
Laranjeira:
Tinha, portanto, a apoiá-la uma agremiação africanística, nativista, na linha
herdada dos jornalistas, polemistas e literatos de Oitocentos, não sendo um mero
jogo restrito, reservado aos círculos coloniais. Esse fundamento colectivista e
associativo, com um projecto bem delimitado, se bem que ambicioso e utópico,
aliado ao conteúdo de reconhecido valor, fizeram da Mensagem um órgão
cultural paradigmático da angolanidade, que marcou uma época e influenciou
todas as futuras realizações no campo cultural e organizacional. (LARANJEIRA,
1995, p. 71).
Meu amor da rua onze, obra que compila a produção poética do escritor angolano,
canaliza estas propostas já assinaladas na Mensagem enquanto circunscreve as marcas de um
fazer literário bem próprio ao autor. Afinal, impressiona em Aires de Almeida a sua capacidade
de suplantar as paisagens de miséria e desilusão dos anos de guerra às perspectivas
intrinsecamente líricas que fazem de sua terra seu doce lar. Expressa em sua poesia, em vários
momentos, uma subjetividade lírica de atmosfera branda, como quem convida a caminhar por
versos que aos poucos vão descobrindo uma Angola de contornos bem particulares.
Doce lar
Na minha casa
Tenho uma varanda comprida
Florida
Com rosas e buganvílias
Gosto de estar sentado
Reclinado
Numa cadeira de palha
A fumar
E a pensar em nada que valha
A pena
(...)
O eu lírico descreve as calmas paisagens a que chama lar, referindo-as por meio de
veementes impressões sensitivas que ora aguçam a visão com cores de rosas e buganvílias, ora o
tato, a audição e o olfato, em cenários aprazíveis.
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(...)
E a brisa da praia
Serena
Fagueira
Espalha pelo chão acimentado
As flores
Incolores
Da mangueira
Gosto também de ouvir
O murmúrio
Da água a correr da torneira
Sentir o olor do jantar
A apurar
(...)
A ambientação familiar tratada por esta subjetividade é o construto poético do locus
amoenus, espaço de abrigo do eu lírico em que as manifestações sensitivas configuram-se, assim,
como aspecto flagrante de uma relação afetiva entre o homem e o seu lar. Neste espaço, delineiase um complexo de impressões que acaba por traduzir a carga sentimental atribuída pelo
enunciador ao ambiente, sendo que a “brisa da praia”, o “murmúrio da água”, o “olor do jantar”,
não somente compreendem elementos de uma manifestação estética peculiar, como acolhem, em
sua significação, o ideal proposto pelo eu lírico, o seu espaço de desejo.
No entanto, antes de tudo, é de extrema relevância observar como a poesia de Aires de
Almeida se inscreve em seu tempo e como se apresentam as relações entre passado, presente e
futuro em seus textos, assim como assinala Alfredo Bosi em seu O ser e o tempo da poesia. O
teórico revela em seu trabalho as diferentes conformações da poesia de resistência, em um
capítulo dedicado a este tema, ressaltando os diversos processos desencadeados na relação
temporal concernente aos anseios do eu lírico, de maneira a constituir campos de análise
relativamente definidos. Bosi trata, com insistência, da produção mitopoética, descrevendo sua
função recuperadora de mitos ou de uma memória que torna sua visão a um passado de plenitude
com o mundo.
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Como já foi explicitado, Aires de Almeida vivia, em princípios da década de 60, anos de
forte repressão política e a sua poesia, já então, revelava grande apreço pelos ideais de libertação
colonial. Não é de espantar que, neste período, tenha sido preso – como o foram tantos outros –,
no entanto, é surpreendente a graciosidade de como compõe seu fazer poético, repleto de
remissões líricas a um universo de beleza e amor as quais, muitas vezes, chocam por seu
contraste pungente com uma Angola em meio à guerra colonial.
Quem tem o canhé
I
Tenho saudades do tempo
Em que corria descalço
Pelas areias do rio;
Comigo, os meios companheiros
Também descalços, correndo,
A correr ao desafio.
Tenho saudades do largo
Onde estava a minha casa,
Com mulembas altaneiras;
Tenho saudades das sombras
Com que os seus ramos cobriam
Sempre as nossas brincadeiras.
(...)
Assim a lírica do poeta toma de assalto os olhos acostumados do leitor. Todavia, como
não poderia deixar de ser, esta escrita suave, por tantas vezes nostálgica, nada tem a ver com
alheamento ou alienação. Pelo contrário, a reivindicação de uma voz nacional em oposição a uma
cultura estrangeira representativa de tudo que era mais abominado em meados do século XX em
Angola, refletia com inegável fervor este mesmo desejo libertário, mas se conformando (no
sentido mais positivo da expressão) esteticamente sob a égide da lira de Orfeu. Deste modo, a
poesia mítica pode trabalhar a questão da infância como o ambiente propício para a evocação em
contraste a um tempo presente opressor.
A resposta ao ingrato presente é, na poesia mítica, a ressacralização da memória
mais profunda da comunidade. E quando a mitologia de base tradicional falha,
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ou de algum modo já não entra nesse projeto de recusa, é sempre possível sondar
e remexer as camadas da psique individual. A poesia trabalhará, então, a
linguagem da infância recalcada, a metáfora do desejo, o texto do Inconsciente, a
grafia do sonho. (BOSI, 2000, p. 174).
As “saudades” expressas pelo eu lírico são o canal por meio do qual pode se entrar em
contato com este movimento destacado no eixo presente-passado-presente. A construção
hiperbólica da última estrofe reforça tal caráter temático contornado por doces modelações
rítmicas que transferem as dores da perda sentida no presente para o alento caloroso dos tempos
de infância, figurado pelos espaços e brincadeiras recuperados pela memória afetiva do eu lírico.
(...)
(Quem tem o canhé?
És tu.
Pescoço de ganso, monco de peru...
Quem tem o canhé?
Sou eu.
Diabo, diabo, não vais p’ra o céu...)
Tenho saudades, meu Deus,
Tantas, tantas que nem sei
Como me cabem aqui;
Tenho saudades de tudo,
Tenho saudades, até,
Das saudades que senti.
Nesta primeira parte do poema Quem tem o canhé, o eu lírico compreende esta síntese
entre sujeito e objeto referida por Bosi, de maneira que os elementos evocados do passado não só
correspondem a um tempo vivido pelo eu lírico e compartilhado com as pessoas que tornaram
este momento razão de abrigo como também dizem respeito à sua mais íntima subjetividade
lírica, impressa no texto. Deste modo, quando o enunciador fala do “quintal da minha casa”, das
“horas do serão” com “moças a namorar, / As crianças a brincar” e da Lua que “descia / P’ra se
esconder no Sobreiro”, além de um complexo de paisagens carregadas com forte carga afetiva
que vem à tona, das lembranças do eu lírico, tratam-se dos próprios sentimentos deste eu lírico,
imagem amalgamada nas sendas da memória, e que, enfim, se encontra, também, presentificada,
após revolvida do percurso temporal a que o próprio poema alude em sua estrutura,
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experimentando, assim, as angústias e delícias as quais o texto revela, resultado em lamento
agridoce – misto de vazio e esperança como expressão de resistência a que é submetido, não só a
voz enunciadora, mas todo o povo angolano oprimido: “Agora, de tudo isso, / Só me ficou o
feitiço / Desta saudade sem fim. / E quando a Lua esconde / No Sombreiro / Fico sozinho na
praia / À laia / Não sei de quê, / Olhando o mar, / Carpindo saudades, / A olhar, / A olhar...”.
Já em sua belíssima composição Quando os meus irmãos voltarem, Aires de Almeida
apresenta uma outra faceta de seu fazer poético. Exprimindo de forma mais explícita seu desejo
de transformação, o escritor angolano pode ser visto como o poeta-profeta.
Imbuído dos ideais da negritude, o poeta trabalha em seu poema algumas das imagens que
se consolidaram como emblema do movimento; toda a Angola – toda a África – repleta de irmãos
é invocada para a grande Hora, em que o cenário de dor sucumbirá frente a um novo momento de
plenitude consciente.
Quando os meus irmãos voltarem
Quando a minha mãe vier
e trouxer
os meus irmãos
iremos todos viver
para a estrada de Catete.
Havemos de construir com as nossas mãos
Uma casita de adobe
bonita,
onde caberemos todos.
Será vermelha,
toda coberta de capim,
(...)
A poesia-utopia revela-se, assim, como interessante instrumento de resistência ao propor
uma estrutura temporal estabelecida no eixo presente-futuro. Tal pode ser observado nos tempos
verbais utilizados e nas expressões indicativas de tempo – o futuro é invocado em represália ao
presente, imagem de um momento que deve ser deixado para trás. É curioso notar como as
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indicações a este tempo (passado) são sempre pintadas em cores pálidas e apontadas por todo um
campo semântico referente ao sofrimento (sangue, lágrimas, cinzas) sentido pelo eu lírico e
expandido no peito de seus irmãos.
(...)
Vai ser fácil amassar
porque o barro já está tinto
de tanto, de tanto sangue
há tanto tempo a correr...
(...)
Vai ser fácil
Pois mesmo que a chuva tarde
serão regadas
com as lágrimas caídas
dos olhos de todos nós.
(...)
Quando a minha mãe vier
e trouxer
os meus irmãos,
iremos varrer
as cinzas dos que partiram à frente...
(...)
Em contraposição a esta perspectiva, o futuro desejado pelo eu lírico. A poesia-utopia
encara o porvir como seu espaço de desejo e, nesta estruturação do eixo temporal presente-futuro,
não há lugar sequer para a possibilidade de um porvir malfadado – o enunciador afirma convicto:
“Quando a minha mãe vier / e trouxer / os meus irmãos / iremos todos viver / para a estrada do
catete...”. E este futuro encontra-se na metáfora encerrada na imagem da casa, do lar: “Havemos
de construir com as nossas mãos / Uma casita de adobe / bonita, / onde caberemos todos. / Será
vermelha, / toda coberta de capim...”. Vermelha é a casita; e de que outra cor poderia ser? O
engajamento com as ideias socialistas junto à atmosfera delicadamente lírica constroem a
dinâmica deste texto, singular na obra do poeta; dinâmica esta correspondente a um equilíbrio
entre dor e alegria, lágrimas e canto de liberdade, súplica e reivindicação.
(...)
Havemos de cantar!...
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Ah! Quando a minha mãe vier
e trouxer os meus irmãos,
arderá uma fogueira
à beira
de cada trilho
e o brilho
de cada estrela
será ainda maior...
Mãezinha, ouve o teu filho.
NÃO TARDES, MÃE,
VEM DEPRESSA...
As palavras finais do poema, maiúsculas, ressaltam o desejo do eu lírico de ser ouvido,
clamam por esta mãe que virá com seus irmãos, a sua expressão máxima de uma voz
comunitária, de “um destino comum” pelo qual todos anseiam. Deste modo pode se configurar o
discurso da utopia. “Havemos de cantar!...” O canto entoado pelo eu lírico é esta verdade nova
vislumbrada pelo poeta-profeta. “A poesia, se quer uma verdade nova, será utópica. Utopia: fora
do tempo. Como a imaginação criadora”. (BOSI, 2000, p. 206). Construção estética realizada
com os “signos do poema político” é este brilho de estrela que ilumina os caminhos por onde
passarão sua mãe e seus irmãos, para longe do jugo colonial português.
A palavra do profeta, enquanto nega o eixo passado-presente, e diz o que ainda
não é, já significa a crise e a destruição simbólica do que já foi e do que ainda é.
Paralelamente: a poesia que se despega do fascínio das imagens (passadas ou
presentes) está madura para a produção dos signos do futuro. Signos feitos antes
de vontade, de consciência e de imaginação do que de pura memória. Signos do
poema prometéico. Signos do poema utópico. Signos do poema político.
O “gemido da criatura opressa” não se cala por infinda que seja a espera da
libertação. E porque esse gemido é também protesto, altera-se, muda de tom e de
timbre, vira grito, rouco desafio, duro afrontamento, até achar os ritmos da
poesia utópica. (BOSI, 2000, p. 207).
Já na abertura de sua obra Meu amor da rua onze, depara-se com o texto À minha filha,
dedicatória que se mostra neste conjunto de maneira bem relevante ao descrever, claramente, dois
campos distintos, dois espaços poéticos contrastantes. Estabelecendo este encontro com a poesia
de Aires de Almeida, é interessante observar, nesta mesma relação criada pela poesia utópica,
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como é desenvolvida a sua lírica de contornos tão suaves, situando-a num quadro de desilusão
provocada pela guerra.
À minha filha
Para ti, querida,
Rosas e mel
E estrelas rutilantes.
Risos gritantes
Muita ternura e carinho.
E o Sol
Brilhando muito
Em frente ao teu caminho.
Deixa comigo o fel,
A dor, o desespero.
Deixa que eu fira a pele
Nos ásperos abrolhos
Da vida.
Deixa chorar meus olhos,
Deixa comigo
O peso do sonho tão antigo.
Para ti, querida,
Paz, amor, ternura,
Estrelas rutilantes.
Rosas e mel...
Difere o eu lírico, desde então, de um quadro de dor e sonhos perdidos, um espaço de
beleza legado à sua querida – sua filha. “Paz, amor, ternura” é o que deseja o eu lírico, no
entanto, não a si próprio. Neste passo, fica evidente não apenas a distinção entre dois espaços,
como, também, entre dois tempos.
A lírica inventiva de Aires de Almeida aparece, em momentos vários, bordejando as
margens em que se inscreve a História de Angola, realidade a que o enunciador se condena como
pena máxima: “Deixa comigo o fel, / A dor, o desespero”. O texto, composto na Cadeia Comarcã
de Luanda, aposta no futuro de “estrelas rutilantes”, não mais o seu tempo, mas o tempo das
novas gerações. A divisão das estrofes revela esta cisão, de maneira que o universo poético criado
pelo eu lírico se estabelece como uma nova realidade no tempo futuro – a poesia-utopia –, se
convertendo em puro lirismo; este desejo expresso pode ser observado na imagem do Sol que
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brilha em frente ao caminho, que, afinal, ainda não foi caminhado. O porvir faz-se o contrapolo
deste tempo passado a que o eu lírico se submete, a sua prisão: “Deixa comigo / O peso do sonho
tão antigo”. Por outro lado, o tempo recriado pela poesia; o eu lírico é enfático: “Para ti, querida,
(...) Rosas e mel...”.
Aires de Almeida assenta, deste modo, a sua poesia na História angolana ao cantar a sua
Angola desejada. À medida que se vai tomando conhecimento dos segredos de sua lírica
transformadora, compõe-se, para o leitor, a ideia de que o poeta pode, enfim, manipular todo um
universo imagético de referências à sua realidade; caso é do desenvolvimento da questão do
tempo em sua produção. Cria-se, assim, uma nova poesia. Faz-se Angola.
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Referências:
BOSI, Alfredo. “Poesia e resistência”. In: O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Companhia das
Letras, 2000.
LARANJEIRA, Pires e outros. Literaturas africanas de expressão portuguesa. Lisboa:
Universidade Aberta, 1995.
SANTOS, Aires de Almeida. “Meu amor da rua onze”. In: Obra poética. Luanda: Edições
Maianga, 2004.
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