ANAIS ACREDITAÇÃO HOSPITALAR: UMA ANÁLISE INSTITUCIONAL DA POSTURA ASSUMIDA PELAS INSTITUIÇÕES DE SAÚDE GIOVANNA GARRIDO ( [email protected] ) UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos GIAN ANGELO VERARDI TACCHINI ( [email protected] ) UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos PATRÍCIA SALTORATO ( [email protected] , [email protected] ) UFSCAR - Universidade Federal de São Carlos RESUMO Este artigo visa analisar a certificação de Acreditação Hospitalar enquanto fenômeno de âmbito não racional. Objetivando uma reflexão profunda, buscou-se analisar a contribuição da perspectiva institucional para a análise da postura assumida pelas instituições hospitalares brasileiras frente tal certificação. Sustentado bibliograficamente e realizado através de levantamento de dados junto às instituições, o artigo se estabelece na hipótese de que é possível considerar a responsividade frente tal certificação como uma busca por eficiência simbólica. A condição de "acreditada" não deixa de ser um mecanismo de difusão social, legitimidade e sobrevivência, o que transparece a superficialidade das abordagens predominantes acerca do tema. Palavras-Chaves: Acreditação Hospitalar, Isomorfismo, Legitimidade, Sobrevivência, Instituições Hospitalares, Teoria Institucional. 1. INTRODUÇÃO Nos dias atuais, a sociedade e as organizações convivem com os constantes debates acerca das certificações de qualidade. Torna-se presente a busca por modelos e práticas como tentativas de tornar as organizações mais produtivas (ROMANO, 2003). Com a missão de zelar pelo ativo mais precioso, a vida, as instituições hospitalares também estão inseridas na busca por melhorias em seus serviços de saúde e, nos últimos anos, se adentram na luta em direção à certificação de Acreditação Hospitalar, um certificado que preza o aprimoramento da qualidade dos serviços prestados. Porém, tratando-se das discussões a respeito dos motivos que induzem estas instituições a lutar pela condição de "acreditadas", pode-se dizer que elas se baseiam excessivamente na racionalidade. A investigação dos porquês das ações responsivas realizadas por estas instituições frente aos requerimentos certificáveis de Acreditação Hospitalar é muito estruturada em explicações objetivas e superficiais. O mérito técnico da postura assumida por estas empresas é o que prevalece, ou seja, a atenção maior é direcionada àquilo que é diretamente observável na realidade empresarial. Pouca atenção é dada ao que de fato não 1/16 ANAIS aparece, ao que é simbólico, mas que, se analisado profundamente, levanta questionamentos construtivos nunca antes pensados. Nesse contexto, fundamentado nos preceitos da Teoria Institucional, o presente artigo visa construir uma reflexão mais profunda sobre a Acreditação Hospitalar, buscando encorajar as pessoas em desafiar o racionalismo empregado nas atuais explicações sobre a popularização do conceito, ressaltando que, ao ser analisada de forma mais abrangente, a postura responsiva assumida pelas instituições hospitalares frente à certificação em questão não deixa de ser uma busca por uma eficiência simbólica, por legitimidade social. Deste modo, o presente estudo tem como objetivo geral a investigação da maneira como a perspectiva institucional contribui para a análise da postura assumida pelas instituições hospitalares brasileiras frente à certificação de Acreditação Hospitalar e tem como problemática principal o seguinte questionamento: até que ponto é possível considerar a busca pela condição de "acreditada" como um mecanismo de difusão social, legitimidade e de sobrevivência na sociedade? A problemática do artigo parte da premissa que a maneira como a Vida Organizacional é constituída tem muitas dimensões inconscientes. Desta forma, muitos conceitos, ações e comportamentos empresariais possuem explicações advindas do âmbito não racional. Assim, o artigo é estruturado da seguinte forma: na seção dois é demonstrada a forma como foi conduzido o estudo; na seção três apresenta-se o referencial teórico do artigo subdividido em três tópicos principais nos quais é feito o ordenamento das idéias. No primeiro tópico é feito uma breve discussão introdutória da certificação estudada, na qual são explícitos os conceitos e os métodos utilizados para tal certificação. No segundo tópico são descritos e analisados os principais conceitos da Teoria Institucional, de forma a direcionar o estudo à análise pretendida neste momento. O terceiro tópico traz a discussão central do artigo, no qual é retratado o estudo da Acreditação Hospitalar por meio de um viés institucional, associando a prática em questão como uma busca por difusão social, legitimidade e sobrevivência organizacional. Na seção quatro são apresentados os resultados e as discussões resultantes do levantamento de dados das instituições analisadas, como meio de explicitar a adequação da análise prática aos preceitos institucionais argumentados no desenvolver do artigo. Enfim, na seção cinco são apresentadas as conclusões resultantes do estudo realizado. 2. METODOLOGIA Em relação à classificação do estudo, foi estabelecido como base a taxionomia apresentada por Vergara (2009). A autora qualifica os estudos através de dois aspectos: quanto aos fins e quantos aos meios. Quanto aos fins, o estudo foi exploratório e explicativo. Exploratório, pois, embora a Acreditação Hospitalar seja uma certificação bastante conhecida e difundida na realidade empresarial do setor, não se verificou a existência de muitas pesquisas que a abordem com o ponto de vista proposto neste artigo, ou seja, o estudo da mesma por meio da perspectiva institucionalista. Explicativo, pois visa esclarecer, através da Teoria Institucional, os fatores que, de certa forma, induzem as instituições hospitalares a se adequarem com os preceitos deste tipo de certificação. Quanto aos meios, o estudo foi bibliográfico e realizado por meio de levantamento de dados. O caráter bibliográfico mostrou-se mais viável para este artigo devido ao enfoque diferenciado das explicações dadas às tentativas de aprimoramento na gestão e na qualidade dos serviços realizadas pelas instituições hospitalares com desejo de certificação por 2/16 ANAIS Acreditação. Isso porque, segundo Marconi (2009), a pesquisa bibliográfica não consiste em uma mera repetição daquilo que já foi dito ou escrito sobre certo assunto, mas propicia o exame de um tema por meio de um novo enfoque, chegando a conclusões inovadoras. Sendo assim, buscou-se analisar os méritos de dois conceitos base, assim como a forma que eles se relacionam entre si. São estes: a certificação de Acreditação Hospitalar e a Teoria Institucional. O levantamento de dados teve como cenário um universo de vinte instituições hospitalares brasileiras. Todavia, ressalta-se que, deste número, validou-se a participação de apenas doze instituições, cujos dados extraídos foram utilizados nas análises realizadas no estudo. No que se refere a capacidade destas instituições analisadas, 58% eram de capacidade de 150 a 300 leitos, 17% menos de 50 leitos, 17% entre 50 a 150 leitos e, do total, 8% eram instituições com mais de 300 leitos. Além disso, 92% das instituições analisadas eram de especialidade geral e 8% de especialidade cirúrgica. Ressalta-se que foi avaliado primeiramente se as instituições possuíam algum programa de qualidade estabelecido. No resultado apresentado, 75% possuíam acreditação da Organização Nacional de Acreditação (ONA) e 25% não possuíam a implantação de uma sistemática para acreditação. A coleta de dados foi realizada através de questionários. Nestes foram desenvolvidas vinte questões objetivas, abrangendo as características da instituição, alguns pontos condizentes à Teoria Institucional e questões referentes à Acreditação Hospitalar em especial. Os questionários foram encaminhados via internet para integrantes das instituições hospitalares que apresentassem um prévio conhecimento ou vivência das normas existentes para acreditação, por meio dos quais efetuou-se a coleta direta de informações provenientes de suas próprias interpretações quanto a postura organizacional perante a certificação em questão. Vale ressaltar que o questionário foi respondido de forma anônima, sem identificação pessoal ou da instituição onde atua. Tendo os preceitos institucionais como base sólida da argumentação, os resultados obtidos foram analisados e interpretados pelos autores do estudo, visando explicitar a adequação da análise prática aos princípios teóricos desenvolvidos no decorrer do artigo 3. REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Acreditação Hospitalar A Acreditação de sistemas e serviços na área da saúde visa estimular a melhoria contínua e sustentada dos cuidados oferecidos por meio de um processo de avaliação objetiva. Esta avaliação possui caráter externo, voluntário, periódico e reservado. Os aspectos analisados para o desenvolvimento da qualidade podem ser expressos como: o acesso e a garantia da continuidade do atendimento; os processos diagnósticos, terapêuticos e de reabilitação/recuperação; a segurança dos procedimentos e atos médicos; o desempenho dos recursos humanos e as adequadas condições das instalações e dos equipamentos. A adoção desta estratégia é muito importante para a garantia da qualidade no campo da saúde e vem sendo utilizada em vários países. O sistema de acreditação foi utilizado, originalmente, para a proteção da profissão médica e dos pacientes contra os efeitos nocivos de ambientes e organizações inadequadas à prática. Atualmente a história apresenta um deslocamento da ênfase sobre o ambiente para a ênfase da prática clínica (SILVA, 2004). 3.1.1 O Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar 3/16 ANAIS O Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar é um instrumento de avaliação da qualidade institucional composto de seções e subseções. As seções representam os serviços, setores ou unidades com características semelhantes, de forma que a instituição seja avaliada segundo uma consistência sistêmica. As subseções tratam do escopo de cada serviço, setor ou unidade, segundo três níveis, do mais simples ao mais complexo, sempre com um processo de incorporação dos requisitos anteriores de menor complexidade (BRASIL, 2006). A lógica das subseções é a de que todas possuem o mesmo grau de importância dentro do processo de avaliação. Cada subseção é composta por padrões que procuram avaliar estrutura, processo e resultado dentro de um único serviço, setor ou unidade, sendo que cada padrão é constituído por uma definição e uma lista de itens de orientação, as quais auxiliam na identificação do que se busca avaliar e na preparação das instituições prestadoras de serviço de saúde para o processo de Acreditação. Vale ressaltar que um nível superior só é alcançado quando o anterior tiver sido atingido (LABBADIA et al., 2004). Os padrões exigidos e verificados na avaliação são divididos por níveis 1, 2 e 3, com seus princípios norteadores e por padrões, sendo que cada padrão representa uma definição e uma lista de verificação que permite a identificação da sua necessidade e a concordância com o padrão estabelecido: Nível 1: Atende aos requisitos formais, técnicos e de estrutura para a sua atividade conforme legislação correspondente; identifica riscos específicos e os gerencia com foco na segurança. Princípio: Segurança. Nível 2: Gerencia os processos e suas interações sistemicamente; estabelece sistemática de medição e avaliação dos processos; possui programa de educação e treinamento continuado, voltado para a melhoria de processos. Princípio: Organização (Processos). Nível 3: Utiliza perspectivas de medição organizacional, alinhadas às estratégias e correlacionadas aos indicadores de desempenho dos processos; dispõe de sistemática de comparações com referenciais externos pertinentes, bem como evidências de tendência favorável para indicadores; apresenta inovações e melhorias implementadas, decorrentes do processo de análise-crítica. Princípio: Excelência na Gestão (Resultados) (BRASIL, 2006). Diante do que foi explícito neste tópico acerca dos princípios que regem a Acreditação Hospitalar, ao estender e sustentar uma visão interpretativa mais reflexiva e subjetiva do fato, paira uma inquietação quanto ao real valor organizacional esperado por estas instituições de saúde com a proeminência alcançada pela adequação aos padrões determinados. Ou seja, diferentemente das bases sustentadoras das demais literaturas, ao se ter como base uma forma interpretativa que valorize mais os aspectos simbólicos deste comportamento organizacional, torna-se possível indagar sobre o que estas instituições hospitalares realmente buscam ao lutar pela condição de "acreditadas", se a divulgação de tal conquista não seja nada além do que um meio de legitimarem suas próprias atuações e institucionalizarem-se perante a sociedade. 3.2 Teoria Institucional - Discussões Introdutórias 3.2.1 As Organizações em meio ao ambiente institucional Nas décadas passadas, as abordagens teóricas acerca das Organizações se uniam, em um grande consenso, na perspectiva da adaptação racional. No entanto, as décadas que precederam começaram a testemunhar um contingente de críticas acerca das abordagens 4/16 ANAIS dominantes até aquele período, o que resultou na proliferação de teorias organizacionais alternativas (FLIGSTEIN, 2001). A partir da década de 50, passou-se a incluir nos estudos organizacionais, sob o enfoque estrutural e comportamental, as contribuições da perspectiva institucional. O estudo dos efeitos das forças ambientais na determinação da estrutura tornou-se o novo enfoque da pesquisa organizacional (TOLBERT e ZUCKER, 2010). Essa corrente institucionalista foi ao encontro da concepção racionalista que orientava uma grande parte das abordagens de análise organizacional, as quais estabeleciam, como principal foco de análise, o comportamento diretamente observável das organizações, isto é, uma análise meramente objetiva dos fatos organizacionais (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999). Deste modo, é possível considerar que essa nova perspectiva, a qual estruturou-se como Teoria Institucional, trouxe consigo uma nova forma de enxergar a organização, atribuindo elementos subjetivos na análise das práticas, posturas e ações organizacionais. Isto é, esta nova abordagem passou a considerar a influência de hábitos inconscientes em cada ação humana e, consequentemente, em cada ação organizacional. A perspectiva institucional posiciona o ambiente como elemento fundamental para análise do comportamento organizacional. Tal perspectiva enfatiza a relação que se estabelece entre o ambiente e as organizações e a forma como estas se posicionam perante os processos institucionais ocorrentes no mesmo (OLIVER, 1991). Ou seja, no estudo da determinação da estrutura organizacional, volta-se a atenção às influências externas, sem relacionamento com a produção real. Afirma-se que os próprios processos sociais exercem influência tal nas organizações até o ponto de serem capazes de reduzir ou limitar o processo decisório autônomo e fazer com que comportamentos não escolhidos ocorram e persistam (TOLBERT e ZUCKER, 2010; OLIVER, 1991). Oliver (1991) enfatiza que, ao contrário da perspectiva da adaptação racional, o consentimento passivo das organizações ao ambiente externo faz com que as mesmas alcancem a validade social e a sobrevivência. Ao contrário da visão da eficiência, a perspectiva institucional busca explicar como os significados e valores presentes no ambiente podem determinar o comportamento organizacional frente às pressões externas, complementa a autora. Segundo os preceitos institucionais, as organizações respondem a esses valores que são institucionalizados na sociedade dando ênfase na adoção de arranjos específicos que detêm um certo significado social, tudo em busca de eficiência simbólica e, consequentemente, legitimidade social (TOLBERT e ZUCKER, 2010). Como se pode observar, a perspectiva institucional baseia-se na ampliação do próprio conceito de ambiente organizacional, passando a incluir elementos simbólicos (PECI, 2006). Antes caracterizado e percebido pelas proposições analíticas pioneiras como mera categoria residual formada por aspectos fundamentalmente objetivos de importância e influência insignificante, o ambiente passou a ser visto como um fator influenciador das estruturas organizacionais e determinante de algumas características das organizações, ou seja, passou a ser um elemento constitutivo da organização, acrescentam Munck, Dias e Souza (2010). Ventura (2005) complementa que a visão de ambiente evoluiu do mérito generalista para um mérito simbólico, ou seja, adicionou-se à visão técnica já estabelecida do mesmo um sistema simbólico e, juntos, passaram a constituir cada ação organizacional. Isso significa que além de ser visto como fornecedor de recursos, o ambiente passou a assumir uma 5/16 ANAIS característica institucional, como um grupo de elementos fornecedores de crenças e normas institucionalizadas, as quais funcionam como “mitos racionais” (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999). Regras, produtos, programas, técnicas, serviços e políticas institucionalizadas se estabelecem como poderosos mitos e as organizações se conformam a eles cerimonialmente, independentemente da eficiência econômica imediata adquirida nesta conformação, pois, agindo desta forma, elas ganham a legitimidade no mercado, têm acesso a mais recursos, alcançam a estabilidade e, consequentemente, a sobrevivência no ambiente (MEYER e ROWAN, 1977). Baum (2010) afirma que ser legítima externamente eleva o status da organização perante a comunidade, a protege de questionamentos sobre seus direitos e sobre sua competência no fornecimento de produtos e serviços, como também permite que a mesma demonstre sua conformidade com as normas e expectativas institucionais. Da mesma forma que Meyer e Rowan, o autor também explicita que essa legitimidade externa exerce um papel muito significativo na sobrevivência da organização A busca por essa conformidade acontece pois todos estes preceitos institucionalizados carregam consigo o prestígio social: opiniões dos públicos e dos constituintes mais importantes da sociedade, conhecimentos institucionalizados pelos sistemas de ensino, as leis, etc. Não se atentando muito na eficiência econômica que resulta e agindo em conformidade a estes mitos institucionalizados, a organização se estabelece como apropriada, racional e moderna, transparecendo responsabilidade e evitando focos de negligência (MEYER e ROWAN, 1977). Percebe-se, portanto, o uso da própria estrutura organizacional formalizada para propósitos simbólicos, ressaltam Tolbert e Zucker (2010). Essa inclusão e ampliação dos elementos simbólicos na estruturação dos ambientes organizacionais é considerada a contribuição mais importante da perspectiva institucional. Nesta visão é o próprio ambiente institucional que se posiciona como elaborador de normas, requisitos e exigências com as quais as organizações necessitam de conformidade caso queiram obter o apoio legitimado do ambiente, relata Scott (1992) apud Carvalho, Vieira e Lopes (1999). É por este motivo que Meyer e Rowan (1977) afirmam que as organizações são reflexos estruturais de uma realidade socialmente construída, na qual a cultura passa a assumir uma posição dominante. Deste modo, é visível que a realidade organizacional é sustentada por uma racionalidade diferente. Carvalho, Vieira e Lopes (1999) ressaltam que, em oposto daquilo que era priorizado como racional nos ambientes organizacionais (ser eficiente economicamente, produzir produtos e serviços aceitos pelo mercado e cumprir as metas e objetivos), na realidade institucional ser racional é pensar um pouco mais além, é reunir esforços para a adoção de métodos e procedimentos que são capazes de proporcionar legitimidade no presente e no futuro de uma organização. 3.2.2 O Isomorfismo Institucional Conforme enfatizam DiMaggio e Powell (1983), as características organizacionais são modificadas visando uma maior compatibilidade com as característica do ambiente. Pelo fato das organizações estarem empenhadas nesta conformidade aos procedimentos, costumes e regras institucionalizadas de um mesmo ambiente institucional, há um tendência de elas se tornarem mais similares entre si. Isto é, como uma força limitadora que emerge, as 6/16 ANAIS organizações são induzidas a se conformarem e serem isomórficas com outras unidades que se deparam com o mesmo conjunto de pressões ambientais, ressalta Peci (2006). Esta questão da similitude, este processo de homogeneização organizacional são definidos como isomorfismo, um princípio institucional fundamental para a Teoria Institucional, o qual vem atraindo a atenção de diversas literaturas (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999; PECI, 2006; MUNCK, DIAS e SOUZA, 2010). DiMaggio e Powell (1983) explicitam que existem três mecanismos pelos quais o processo de isomorfismo pode ocorrer. São estes: o mecanismo coercitivo, o mimético e o normativo. Para Carvalho, Vieira e Lopes (1999), o isomorfismo coercitivo é aquele que pode ocorrer na relação entre uma organização subsidiária e a matriz, quando a subsidiária é induzida a se adequar às políticas e medidas da outra. DiMaggio e Powell (1983) complementam que esse mecanismo isomórfico resulta tanto de pressões formais quanto informais exercidas na organização, ou seja, pode ser resultante de pressões provenientes de outras organizações das quais depende, as quais forçam a adoção de práticas equivalentes às suas (MUNCK, DIAS e SOUZA, 2010), das expectativas da sociedade ou até mesmo por alguma norma governamental. Trata-se, portanto, de um mecanismo que decorre de uma influência política e da própria questão da legitimidade, conforme relatam DiMaggio e Powell (1983). O isomorfismo mimético, na visão defendida por DiMaggio e Powell (1983), consiste no padrão de resposta assumido em relação à incerteza, ou seja, é um mecanismo que ocorre quando uma organização, em razão das incertezas com as quais convive, das ambiguidades em suas metas e objetivos institucionais ou mesmo em virtude das incertezas simbólicas que o ambiente fornece, modela a si própria em outras organizações que julga superiores e adota procedimentos e técnicas já provados na tentativa de livrar-se das incertezas ou mesmo para se legitimar, demonstrando que está no mínimo em busca de melhorias em suas atuações e em suas condições de trabalho. Sendo assim, tendo em mente tais colocações, é possível dizer que alguns tipos de mudanças promovidas pelas organizações são mais de caráter mimético universal do que tentativas de melhorias na eficiência empresarial (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999; MUNCK, DIAS e SOUZA, 2010; DIMAGGIO e POWELL, 1983). Já o isomorfismo normativo tem como referência as formas padrões de interpretar e agir frente aos acontecimentos da vida organizacional, relatam Carvalho, Vieira e Lopes (1999). Os autores afirmam que uma das pressões normativas mais frequente é a profissionalização, a qual considera-se uma fonte importante do isomorfismo por dois aspectos. De um lado a legitimação de uma base cognitiva por meio dos especialistas universitários e de outro o crescimento e a elaboração de redes de profissionais que difundem novos modelos rapidamente (DIMAGGIO e POWELL, 1983). Ou seja, profissionais de determinada área definem as melhores condições e formas de se trabalhar, complementam Munck, Dias e Souza (2010). Diante de tal explanação acerca do isomorfismo e seus diferentes mecanismos, pode-se dizer que, embora cada qual apresente derivações próprias e resultados diferentes (DIMAGGIO E POWELL, 1983), é aparente que a adoção de comportamentos isomórficos pelas organizações é uma busca pela autodefesa frente aos problemas que não possuem soluções claramente definidas (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999), ou seja, uma busca pela redução de turbulências e pela estabilidade organizacional, complementam DiMaggio e Powell (1983). Ao desenvolverem condutas semelhantes entre si, as organizações têm suas 7/16 ANAIS relações interorganizacionais facilitadas e o funcionamento favorecido a partir de regras socialmente aceitas (MUNCK, DIAS e SOUZA, 2010). Diante disso, com base nos argumentos de DiMaggio e Powell (1983), enfatiza-se que o isomorfismo institucional promove o sucesso e a sobrevivência organizacional. Consequentemente, omitir os elementos que estão institucionalizados no ambiente e criar estruturas próprias a seguir é um passo organizacional em direção a vulnerabilidade à classificação de negligente e irracional. A adoção desta postura incorre em custos para as empresas e os custos da ilegitimidade são bastante reais e contribuintes ao desaparecimento (DIMAGGIO e POWELL, 1983). Perante todos esses pareceres, pode-se dizer que a perspectiva institucional exerce uma certa tentativa de rompimento com a visão racionalista. Embora equivocadas, as interpretações com base na racionalidade ainda se constituem como sustentáculos de grande parte dos estudos organizacionais. No entanto, vale enfatizar aqui a impossibilidade de explicar as transformações do mundo moderno e os novos ideais emergentes por meio de orientações puramente racionalistas, não atentando-se às dimensões socioculturais (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999). Deve-se sempre atentar que a mente dos indivíduos é moradia de uma diversidade de mitos (AKTOUF, 2010). Desta forma, estendendo essa argumentação e atentando ao lado cognitivo desta perspectiva institucional, vale ressaltar que, em processos de tomada de decisões quanto as adequações em prol de certificações de qualidade, os decisores enfrentam complexos processos mentais inconscientes e semiconscientes. É por este motivo que, além daquilo que é diretamente observável na postura assumida pelas instituições perante o sistema de certificação de qualidade, deve-se levar em consideração que uma ação organizacional é consequência das interpretações dos indivíduos em relação ao ambiente configurador de suas ações (CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999). Assim, vistas as considerações introdutórias acerca da Teoria Institucional, o próximo tópico teórico irá apresentar a contribuição desta teoria no estudo e análise da Acreditação Hospitalar. 3.3 A contribuição da Teoria Institucional no estudo da Acreditação Hospitalar 3.3.1 Certificações: um mecanismo de difusão social, legitimidade e sobrevivência Tornou-se popularizada a atual corrida das instituições de saúde em favor de processos de certificação da gestão e da qualidade dos serviços prestados por estas empresas. Diante disto, torna-se plausível acreditar que os conceitos e parâmetros da Teoria Institucional teriam muito a contribuir para as possíveis explicações do comportamento organizativo frente à certificação de Acreditação Hospitalar (MISOCZKY, 2005). O presente século trouxe consigo inovações, novas tendências, novos caminhos, enfim, fez com que o ambiente que circunda as organizações se tornasse repleto pelo ineditismo de novas propostas e ações inusitadas. Diante de uma realidade como esta, o sucesso e a sobrevivência neste ambiente não podem ser obtidos com práticas organizacionais de simples rotinas de passos. Vislumbra-se a necessidade de um novo agir organizacional, primordialmente direcionado a um enfoque mais humano e ambiental, isto é, um agir organizacional centrado e interessado em alcançar apoio e reconhecimento da sociedade a qual atinge direta ou indiretamente pelo fornecimento de produtos e serviços (ALIGLERI e SOUZA, 2010). 8/16 ANAIS Meyer e Rowan (1977) acrescentam que, em uma realidade como esta, o sucesso empresarial não relaciona-se estritamente à coordenação e controle das atividades visando a eficiência econômica. As organizações que incorporam os elementos legitimados socialmente e buscam ser isomórficas com o ambiente que as circundam adquirem ganhos e maximizações em termos de legitimidade e recursos necessários à sobrevivência, independente dos ganhos com a eficiência produtiva resultante de tais ações. Em concórdia com os argumentos citados acima, Fligstein (2001) argumenta que, uma vez que o ambiente institucional é definido e está em cheque, as mudanças nas formas organizacionais são realizadas mais pelo critério da legitimidade do que pelos critérios de adaptação racional e eficiência. Ou seja, nesta visão, a sobrevivência não é tão tênue quanto parece. Para sobrevivência, as organizações são capazes de fazer qualquer coisa e a eficiência não passa de ser apenas um dos meios de alcançá-la. O relacionamento com o ambiente é o garantidor decisivo das oportunidades de sobrevivência, complementa o autor. Sendo assim, até mesmo devido ao papel social que exercem na sociedade, as instituições de saúde são inseridas em uma espécie de sistema de relacionamento com este novo ambiente conformador de suas ações. Neste vínculo relacional, normas e valores sustentados socialmente, quanto ao quesito qualidade dos serviços que fornecem, são impostos à elas e acabam sendo validados no contexto organizacional, antes mesmo de ser reconhecido o requisito técnico de tais imposições (ALIGLERI e SOUZA, 2010). Diante disso, as instituições de saúde têm a necessidade de responderem à estas pressões institucionais do ambiente, ou seja, cabe à elas uma posição responsiva à esses "mitos". Isso porque, comportando-se normativamente e estruturando-se conforme as prescrições dos mitos do ambiente institucional, seja pelo medo de sanções sociais ou para o alcance de aprovação social, elas são capazes de demonstrar que estão agindo segundo propósitos valorizados coletivamente e de maneira adequada. Isto é, a busca pela conformidade com aquilo que é socialmente sustentado, protege essas empresas de questionamentos, no que refere a suas posturas, e as posicionam legitimamente perante a sociedade, fator este que suporta a segurança e a sobrevivência das mesmas no ambiente (MEYER e ROWAN, 1977; FLIGSTEIN e McADAM, 2012). Consequentemente, circundadas na missão de oferecer assistência ao ativo tido como mais precioso da essência humana, a saúde, pode-se dizer que, nesta busca pela legitimidade e sobrevivência, cabe à essas empresas um gerenciamento da impressão, de forma a evitarem possíveis focos de negligência. Segundo Mendonça e Gonçalves (2002), o gerenciamento da impressão consiste em tudo que é feito por alguém em prol do controle da forma como as outras a enxergam e desenvolvem a sua imagem, a qual, segundo Gomes e Sapiro (1993), na realidade organizacional consiste em um dos ativos de maior preciosidade que uma organização pode adquirir. Sendo assim, cabe à instituição de saúde lutar pela definição de um bom conceito na mente das pessoas ao seu respeito. Com a competição cada dia mais acirrada, a configuração de uma imagem atraente torna-se imprescindível na realidade organizativa. A forma pela qual uma instituição é percebida pelo ambiente determina a sua reputação, fator primordial nos negócios, que deve ser mantida a qualquer custo. Porém, deve-se sempre atentar que os indivíduos a percebem de forma subjetiva e superficial, supersimplificando o significado das coisas. Ou seja, valem muito o teor , as características e a efetividade do estímulo (GOMES e SAPIRO, 1993). 9/16 ANAIS Assim, tendo em vista a crescente necessidade por essa reputação, atualmente, torna-se comum o estabelecimento de certificações visando avaliar as organizações e classificar o desempenho das mesmas segundo critérios preestabelecidos (BAUM, 2010). Nesta corrida em favor das certificações, vitórias cumulativas alcançadas são fatores determinantes para o aumento da reputação de uma organização, do seu acesso a recursos e de suas chances de sobrevivência, complementa Rao apud Baum (2010). Além disso, o mesmo autor argumenta que esta busca pelas certificações é uma forma de difundir o conhecimento da organização e estabelece identidade e legitimidade, já que sinaliza a confiabilidade das formas organizacionais. De uma forma geral, nas palavras de Baum (2010), "a certificação oferece um teste social comum de produtos e organizações que serve como um mecanismo de difusão social". Sendo assim, por meio de uma análise que valoriza os elementos subjetivos da interpretação do mundo organizativo, ao priorizar o foco de atenção à certificação de Acreditação Hospitalar, torna-se possível dizer que, na realidade das instituições de saúde, há um alinhamento das ações em favor de tal certificação com a própria imagem destas organizações. Isso porque, para as instituições que desejam serem aceitas pelos seus constituintes, apenas o fato de se conformarem às regras e requerimentos dos mesmos não é o suficiente. Cabe à elas comunicar-se, expressar-se e tornar mais evidente essa conformação, complementam Mendonça e Gonçalves (2002). Partindo desta visão como alicerce e da própria comprovação prática, encontra-se justificativas para os altos investimentos e esforços realizados pelas instituições hospitalares em favor de aprimoramentos na gestão e na qualidade dos serviços prestados, medidas prezadas pela certificação vigente em prol de tais ações. Quando analisados profundamente, não deixam de ser uma busca por uma eficiência simbólica, uma busca por notoriedade e reputação perante a sociedade, enfim, uma luta constante pela sobrevivência. 3.3.2 Acreditação Hospitalar via Isomorfismo Institucional De acordo com Fleck (2007), uma vez que alguma prática é legitimada em um meio social, as organizações no qual convivem tendem a imitar tal prática e aceitá-la acriticamente em toda a sua validade e valor. Baseando-se neste posicionamento da autora, torna-se possível afirmar que a busca pela adequação aos méritos prezados pela norma em questão tornou-se algo já institucionalizado na sociedade. As pressões sobre as instituições hospitalares em favor do aprimoramento de suas práticas deixam de advir apenas das exigências legais e governamentais. Sendo assim, é possível considerar a relação positiva que se dá entre a busca pela certificação de Acreditação Hospitalar por estas instituições e o próprio mecanismo institucional, ou seja, o isomorfismo. Na busca pelo entendimento e pela interpretação concreta e profunda desta dinâmica de mudança e do processo de transformação por parte das instituições hospitalares é fundamental considerar os mecanismos que pressionam em direção ao isomorfismo. A articulação dos três mecanismos isomórficos tem relevância considerável em qualquer meio social (MACHADO-DA-SILVA e GONÇALVES, 2010). Porém, conforme relatos de Machado-da-Silva e Gonçalves (2010), nesta tentativa de entendimento de um processo de transformação, o peso específico assumido por cada um dos mecanismos na análise depende muito do contexto. Ou seja, em cada sociedade existe uma tendência de predomínio de um mecanismo ou outro. Os mecanismos institucionais 10/16 ANAIS prevalecentes nas ações realizadas pelas instituições de saúde frente à Acreditação Hospitalar estão explicitados na seção dos resultados. 3.3.3 A responsabilidade pelas práticas de Acreditação Observa-se que, além daquilo que é diretamente observável no comportamento de uma organização, existem muitos aspectos interessantes da vida organizacional que se tornam ocultos em análises superficiais. Como afirmam Meyer e Rowan (1977), além das funções técnicas que exerce, uma organização desempenha funções míticas, imaginárias. Isto é, o próprio delineamento da estrutura de uma organização, vista com um olhar meramente estratégico em grande parte das análises organizacionais, pode ser considerado uma contrapartida organizacional, uma "máscara falsa", conscientemente utilizada por ações manipulativas de narcisistas, cujo fim é a obtenção e manutenção de seus próprios direitos, conforme retratam as palavras de Tolbert e Zucker (2010). Em um processo de mudança ou aprimoramento de estruturas, práticas ou ações, podese afirmar que os decisores organizacionais não alocam, criam ou se adaptam a determinados parâmetros sem que estes sejam capazes de transmitir certa credibilidade que agregue algum valor positivo à organização (TOLBERT e ZUCKER, 2010). Ao utilizar os argumentos destes autores para a argumentação na qual este estudo pretende, pode-se dizer que, em um processo de aprimoramento da gestão e da qualidade dos serviços prestados visando a acreditação, toda e qualquer ação dos responsáveis em favor da mesma dependerá da credibilidade resultante de tal ação. Isto é, confirma-se o fato que mais valerá o valor social positivo agregado do que qualquer eficiência econômica imediata. Isso mostra que a explicação dada pela Teoria Institucional ao comportamento das empresas no ambiente em que se inserem, ressaltando a influência dos processos sociais no processo decisório, embora tenha sido amplamente ignorada em tempos passados, oferece uma extensão importante e bastante diferenciada do atual repertório acerca das abordagens explicativas das estruturas organizacionais (TOLBERT e ZUCKER, 2010), para cuja extensão existem meios comprobatórios e possíveis de serem notados na realidade das instituições estudadas, quando analisadas profundamente. Os dados que foram extraídos destas empresas e analisados e interpretados pelos autores, via perspectiva institucional, estão expostos na seção seguinte, como forma de explicitar a adequação prática aos argumentos estruturados no desenvolver do artigo. 4. ANÁLISE DOS RESULTADOS O conjunto das instituições estudadas afirma, de forma unânime, ter consciência do papel desempenhado pelo ambiente institucional na realidade destas empresas. Por meio da análise dos dados da pesquisa, nota-se que é claro para estas empresas que, se não em todos, mas em alguns casos, além do valor técnico assumido pelo ambiente como fornecedor de recursos, ele também tem o poder de instituir à elas formas aceitáveis de agir socialmente. Quando questionadas sobre a necessidade de se posicionarem responsivamente ao ambiente social, 89% das instituições de saúde analisadas concordam com tal questão e assumem que todo o ato organizacional é influenciado por aquilo que está institucionalizado no ambiente no qual estão inseridas. Na visão deste contingente possuidor de tal postura, o que faz com que uma organização se conforme cerimonialmente às crenças, regras, normas, programas e políticas institucionalizadas no ambiente social é o desejo de alcançar a legitimidade no mercado, o acesso a mais recursos, a estabilidade, a notoriedade e, 11/16 ANAIS consequentemente, a sobrevivência no ambiente, independentemente da eficiência econômica imediata resultante de tal conformação. Vale ressaltar que, quando questionadas sobre a forma que avaliam o nível da imposição das expectativas sociais sobre o setor que atuam, predominou-se o nível Intenso em 67% das respostas, sendo o nível Muito Intenso o segundo maior valor, abrangendo cerca de 22% das respostas. Sendo assim, é visível que, além do conhecimento das formas aceitáveis de agir socialmente que lhe são impostas, as próprias instituições hospitalares são conscientes da intensidade destas pressões à elas direcionadas. Até mesmo em virtude desta consciência que possuem sobre o nível das pressões à elas impostas pelo ambiente, os argumentos dos autores citados no subtópico 3.3.1, referentes à atual necessidade de medidas de gerenciamento de imagem para fins de reputação social, são claramente confirmados nos resultados alcançados pela presente pesquisa. De forma unânime, 100% das instituições de saúde analisadas afirmam que, hoje em dia, uma instituição do setor passa a ligar a sua própria imagem organizacional com o aprimoramento de suas práticas voltadas a qualidade de seu serviço, visto que a credibilidade adquirida determina, de modo profundo, a imagem construída da organização na mente dos indivíduos. Levantou-se um questionamento sobre o que estas instituições mais esperam com o processo de certificação de Acreditação Hospitalar, imediatamente após serem certificadas. Os resultados mostram que, dentre aquelas analisadas, somente 33% justificaram suas expectativas com a certificação apoiadas na real missão e proposta da mesma, isto é, o aprimoramento da gestão e da qualidade da assistência. 67% afirmaram que o que mais esperam deste processo, imediatamente após alcançarem a certificação, é a garantia de uma boa imagem perante a sociedade e o estabelecimento de si mesmas como apropriadas, racionais e modernas, transparecendo responsabilidade e evitando focos de negligência. Perante os dados analisados, é visível que a questão da busca por uma boa imagem e credibilidade social é algo bastante visado ao buscar-se a condição de "acreditadas". Ressaltase aqui que, na realização da pesquisa, questionou-se também sobre qual seria a postura, de Ator Racional ou de Ator Institucional (TOLBERT e ZUCKER, 2010), que os participantes assumiriam se fossem os responsáveis pela adoção de práticas e medidas voltadas às questões de aprimoramento da gestão e da qualidade dos serviço de saúde. Embora um número maior de participantes, cerca de 56%, afirmaram que assumiriam uma postura de atores racionais, demonstrando que se envolveriam em cálculos de benefícios das diferentes alternativas de ação, seguindo somente os critérios de maximização de utilidade, uma parcela significativa do contingente, cerca de 44%, assumiu que se posicionaria como ator institucional, ou seja, atentando-se às pressões sociais em favor de tais práticas, aceitando e seguindo-as, acreditando que agindo assim garantiria uma boa imagem da instituição perante a sociedade. Confirma-se, portanto, que as ações realizadas por estas instituições, em favor do aprimoramento de suas práticas, deixam de ser responsivas apenas ao que advém das exigências legais e governamentais. Observou-se que, quando inquiridas em relação aos motivos que as induzem adotar práticas e medidas voltadas às questões de aprimoramento da gestão e da qualidade dos serviços de saúde, prevaleceu o que nos preceitos da Teoria Institucional entende-se como mecanismo isomórfico mimético, ou seja, em virtude das incertezas que o ambiente fornece, estas instituições buscam modelar a si próprias em outras organizações que julgam superiores, com a adoção de procedimentos e técnicas já provados 12/16 ANAIS na tentativa de livrarem-se das incertezas ou mesmo para se legitimarem, demonstrando que estão constantemente em busca de melhorias em suas atuações. O mecanismo coercitivo, por sua vez, apresentou-se como o segundo de maior peso no desenvolver das análises resultantes das pesquisas. Enquanto cerca de 67% das instituições hospitalares submetidas à pesquisa assumiram o fator mimético de suas ações, 22% afirmaram que a pressão coercitiva, proveniente tanto de outras organizações das quais depende quanto das expectativas da sociedade ou mesmo de alguma norma governamental, se constitui como o principal fator que as induzem a lutar pelo aprimoramento da gestão e da qualidade dos serviços que fornecem. Conforme se pôde observar, o mecanismo normativo não apresentouse como um fator de peso considerável para a análise pretendida no momento. Tal resultado se confirma no argumento de Fleck (2007), no início do subtópico 3.3.2. As pressões as quais essas instituições são submetidas não são advindas somente do quesito legal. Pôde-se notar que é a própria condição de dependência e de incerteza do ambiente no qual essas instituições se inserem que faz com que as mesmas aceitem e imitem, acriticamente, uma prática ou estrutura já previamente testada por outras instituições. Isto é, desfrutam de um processo de tomada de decisão fundamentado no mimetismo, cuja base está na comparação e na conformidade (MACHADO-DA-SILVA e GONÇALVES, 2010; TOLBERT e ZUCKER, 2010). Toda esta adequação dos dados práticos levantados à perspectiva institucional é confirmada inclusive nos aspectos mais técnicos e específicos da Acreditação Hospitalar. Ao analisar as respostas dos participantes, é possível visualizar que a própria norma falha no mérito técnico. Ao contrário do que parece, assumir a condição de "acreditado" não necessariamente significa ser o detentor de um êxodo técnico, visto que a norma em si possui alguns vácuos de eficiência. Para exemplificar, constatou-se se que, ao considerar o manual brasileiro de acreditação hospitalar, 78% das respostas concordam que os requisitos propostos pela norma, afim de minimizar os riscos identificados pela instituição hospitalar, são efetivos. Porém, ao desenvolver um novo questionamento relatando os principais eventos adversos notificados pela Anvisa, tais como erro de medicamentos, falha de equipamentos, reação transfussional e descarte errado de resíduos, notou-se que não há o mesmo consenso acerca dos riscos. 56% das pessoas discordam que as barreiras sugeridas para estes erros notificados possam ser efetivas para minimização dos mesmos. Tal resultado demonstra que há uma necessidade oportuna de melhorias no desenvolvimento dos requisitos instituídos pelo manual para a gestão de riscos. De maneira geral, os resultados mostraram que 78% das pessoas acham que a descrição dos requisitos solicitados pela norma poderia ser melhorada. Segundo este contingente, os requisitos não são escritos de forma explícita ao ponto de garantirem a implantação em sua totalidade, fato este que ocasiona a dificuldade da interpretação e entendimento do manual, gera dúvidas na implantação deste processo, assim como abre espaços para falhas na sistemática de gestão da qualidade, dependendo da experiência do auditor. Este ponto levantado também é de suma importância, pois, com a avaliação das respostas, notou-se que 100% dos participantes apontaram que não são os requisitos expostos mas a experiência e a formação do auditor que faz com que a avaliação seja mais elaborada e rígida em setores relacionados a sua vivência. 13/16 ANAIS Além disto, questionou-se sobre a periodicidade entre as auditorias e o tempo de execução das mesmas e foi constatado desacordo entre os participantes quanto a isso. O tempo de execução foi apontado como insuficiente para que se possa comprovar a efetividade da norma implantada, sinalizado por 88% das pessoas. Em relação à periodicidade entre auditorias, 56% das respostas demonstraram desacordo com a periodicidade anual para a visita de manutenção, julgando não ser um período adequado para constar a efetividade da manutenção do selo. ---- x ---Assim, diante de todas as análises realizadas, confirma-se o que foi argumentado no subtópico 3.2.2, ou seja, a impossibilidade de explicar as transformações no mundo moderno a partir de orientações estritamente racionalistas, ignorando as dimensões socioculturais. As instituições hospitalares, assim como todas as demais, são estruturadas segundo mitos racionalmente institucionalizados e cada ação destas objetiva dar suporte a estes mitos (MEYER e ROWAN, 1977). Portanto, são tênues as contribuições da perspectiva institucional para a análise do comportamento assumido pelas instituições de saúde perante o advento das certificações de Acreditação Hospitalar. Ao reviver o relacionamento entre aspectos sociológicos e aspectos organizacionais, a perspectiva institucionalista é capaz de revigorar o próprio poder explicativo da teoria organizacional e de muitos preceitos que norteiam a realidade destas empresas. Conforme as palavras dos autores, "os valores compartilhados no ambiente também passam a compor a análise das organizações [...]"(CARVALHO, VIEIRA e LOPES, 1999). 5. CONCLUSÕES Este artigo teve como objetivo a estruturação de uma visão reflexiva e diferenciada sobre a postura organizacional frente às certificações de qualidade, em especial a certificação de Acreditação Hospitalar. Utilizando os preceitos da Teoria Institucional como base argumentativa, o artigo objetivou-se na investigação de que maneira a perspectiva institucional contribui para a análise da postura assumida pelas instituições hospitalares brasileiras frente à certificação de Acreditação Hospitalar. Para tal, foi feito um estudo bibliográfico de caráter exploratório e explicativo, no qual, por meio de levantamento de dados, buscou-se interpretar a postura e comportamento adotado por algumas instituições hospitalares em relação à Acreditação Hospitalar, de forma a construir uma reflexão desafiadora da visão paradigmática que ainda se constitui como principal sustentáculo das literaturas que tratam do tema em questão. Com a realização do estudo torna-se possível afirmar que, atualmente, as interpretações dos motivos que levam as instituições hospitalares a assumirem uma postura responsiva frente aos requerimentos certificáveis de Acreditação Hospitalar são feitas de forma superficial e objetiva. Pouca atenção é dada a dimensão subjetiva e nos fatores indiretamente observáveis de tal postura organizacional. Portanto, diante da base referencial e do estudo realizado junto às instituições, concluise que é a partir da análise mais profunda do fenômeno que torna-se possível interpretar os verdadeiros porquês das ações e adoções realizadas por estas empresas na busca por este tipo de certificação. A análise dos resultados alcançados mostrou que é possível considerar a aderência destas instituições aos valores e preceitos prezados pela Acreditação Hospitalar não 14/16 ANAIS como uma ação meramente técnica, mas como uma busca pela legitimidade e pela sobrevivência na sociedade, ou seja, uma busca por uma eficiência simbólica. Deste modo, por meio desses resultados alcançados, confirma-se a importância de se valorizar as interpretações subjetivas das ações organizacionais, considerando-as como requisitos fundamentais para a compreensão da forma como as instituições hospitalares se posicionam frente às pressões em favor do aprimoramento da qualidade dos serviços prestados. Remetendo a Teoria Institucional, o ambiente que circunda as organizações é o elemento fundamental para análise do comportamento organizacional. Pelo fato de serem geridas por indivíduos e reconhecendo-os como seres individuais que pensam, sentem, interpretam e constroem significados, muitos conceitos, ações e comportamentos empresariais possuem explicações advindas do âmbito não racional, visto que resultam das representações que eles mesmos fazem do ambiente que configura suas ações. Em suma, pode-se dizer que na busca pela compreensão da postura assumida pelas instituições hospitalares em relação a certificação por Acreditação Hospitalar, assim como dos motivos que as levam assumir tal postura, recorrer ao universo institucional é um meio que permite entender, de forma mais expandida, um fenômeno que, por mais que seja muito debatido, os porquês ainda permanecem em oculto. 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AKTOUF, O. O simbolismo e a cultura de empresa: dos abusos conceituais às lições empíricas. In: CHANLAT, Jean-François (Coord). O indivíduo e a Organização: dimensões esquecidas. v.2. São Paulo: Atlas, 2010. ALIGLERI, L.; SOUZA, R. B. de. A Contribuição da Teoria Institucional para a Compreensão do Modelo de Gestão Socialmente Responsável Adotado pelas Empresas Contemporâneas. Revista Gestão & Tecnologia, Pedro Leopoldo, ago./dez. 2010. Disponível em < http://bit.ly/ISeEoO>. Acesso em: 17 dez.13. BAUM, J. A. C. Ecologia Organizacional. 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