Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 619 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO OS ESTUDOS LINGUÍSTICOS APLICADOS AO ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA: A PRODUÇÃO ESCRITA NA ERA DOS GÊNEROS TEXTUAIS NO ENSINO MÉDIO Antonio Cilírio da Silva Neto¹ [email protected] RESUMO: O objetivo deste trabalho é refletir o ensino de língua portuguesa na produção escrita à era dos gêneros textuais com enfoque dos estudos linguísticos aplicados. A escrita é um fenômeno de interesse de algumas ciências, mas especialmente da Linguística Aplicada, assim assistimos que o desenvolvimento da habilidade de produção de textos escritos com enfoque em letramentos múltiplos, e a era dos gêneros textuais na disciplina de língua portuguesa no ensino médio (EM) em algumas escolas acontecem somente nas “aulas de redação” que segundo Kleiman em vez de favorecer a trans [inter] disciplinaridade, isso fragmenta as próprias disciplinas escolares em blocos monolíticos. Nas atuais práticas de desenvolvimento da habilidade escrita seguindo a linha de Rojo, ao tomarmos os gêneros como objetos de ensino estamos apostando em um processo de ensino e aprendizagem de língua materna que permita ao sujeito aluno utilizar atividades de linguagem que envolva capacidades discursivas relacionadas à apreciação valorativa da situação comunicativa como também capacidades de ação em contexto. Nessa perspectiva, as práticas de leitura e produção de textos em gêneros diversos que fazem parte do cotidiano dos alunos nos diversos espaços de socialização, como família, igreja, mídia, amigos, trabalho, etc. podem ser legitimados na escola, e assim o aluno não se sentirá um sujeito incapaz de escrever. Palavras chave: Análise Linguística. Gêneros Textuais. Escrita. ABSTRACT: The aim of this work is to reflect the teaching of the Portuguese language in the written production was of genres with a focus of applied language studies. Writing is a phenomenon of interest in some sciences, but especially of Applied Linguistics, and witnessed the development of the ability to produce written texts with a focus on multiple literacies, and the era of textual genres in the discipline of Portuguese in middle school (MS) in some schools only happen in "assignment classes" which according to Kleiman instead of favoring the trans [inter] disciplinarity, it breaks his own school subjects in monolithic blocks. In the current practice of development of writing ability following the line of Rojo, by taking genres as teaching objects are betting on a process of teaching and learning of language that permits the subject to use student language activities involving discursive skills related to the assessment values for the communicative situation as well as capacities for action in context. In this perspective, reading practices and production of texts in various genres that are part of the daily life of students in the various areas of socialization, such as family, church, media, friends, work etc., can be legitimized in school, so the student will not feel a person incapable of writing. Keywords: Linguistic Analysis. Textual Genres. Writing. Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 620 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) promulgada em 1996 introduziu pela primeira vez, em seu artigo 21, o conceito de educação básica, cobrindo três etapas sequenciais de escolarização, abrangendo a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. Assim, um estudo da Língua Portuguesa no contexto do ensino médio se faz imperioso envolver uma reflexão sobre um plano educativo que se quer implementar nesse nível de ensino ( SEB/MEC, 2008). No final da década de 1990, as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, segundo Marcuschi (2009) veio para reafirmar o Ensino Médio como etapa de escolarização, onde se passa a defender a necessidade de garantir a todos os jovens uma formação básica comum capaz de integrar, numa mesma e única modalidade, finalidades que antes eram dissociadas como a consolidação e aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, preparação básica para o trabalho e a cidadania, aprimoramento do educando como pessoa humana e a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos. . Dessa maneira a escola devia abrir-se aos múltiplos letramentos. Para Marcuschi (2009) se faz necessário no ensino de língua portuguesa, como instrumento de comunicação, abordagens de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos discentes, um aporte do ensino médio com a linguística e a semiótica. Nesse bojo para Lopes (2004) nenhuma língua pode se expressar com inteira justeza, senão a sua própria cultura, e que ela falha, quando pretende traduzir a língua (e a cultura nela implícita) de outra sociedade, desse modo cabe a Linguística, como ciência interdisciplinar, dar conta de tais fatos, pois: a mesma toma emprestado a sua instrumentação metalinguística dos dados elaborados pela Estatística, pela Teoria da Informação, pela Lógica Matemática, etc., e por outro lado na qualidade de ciênciapiloto, ela empresta os métodos e conceitos que elaborou à Psicanálise, à Musicologia, à Antropologia, à Teoria Crítica e Literária, etc.,; enfim, ela se dá como Linguística Aplicada ao Ensino de Línguas e à Tradução Mecânica (LOPES, 2004, p.24). Para Lopes (2004) seria contra indicado isolar a Linguística das demais ciências limítrofes dentro do território coberto pela Semiologia. Do ponto vista didático, isso não poderia ser diferente já que a linguística se interessa “pela Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 621 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO linguagem em ato, pela linguagem em evolução, pela linguagem em estado nascente, pela linguagem em dissolução” no dizer de Jakobson (apud LOPES, 2004, p.25). Daí, refletir o Ensino de Línguas, entre elas a língua materna, está imbricado à Linguística Aplicada, e não só, no ensino médio o ensino de Língua Portuguesa no tocante aos gêneros funde-se às práticas de análise linguística (OCEM, 2008). Advogam os referenciais curriculares para o ensino médio do Estado do Maranhão (2007) que nas práticas de análise linguística, o ensino de língua portuguesa, vai além de “dominar os usos da linguagem verbal nas atividades de interação social, depende também da reflexão sobre esses usos que por sua vez incluem também a mobilização de recursos gramaticais” (MARANHÃO, 2007, p.55). Para tanto, trabalhar estratégias no ensino de línguas, dentre elas a análise da língua portuguesa e (os gêneros) sua relação com as práticas linguísticas dentro da Linguística Aplicada requer, segundo Moita Lopes, “que se pague o preço da indisciplina” (2011, p. 26). Sabemos que a Linguística Aplicada em seus contornos contemporâneos compartilha a visão de que “as fundações do conhecimento legítimo desmoronaram” e de que “há novos objetos de conhecimento socialmente construídos, e novos modos de vê-los, que radicalmente transgridem os limites disciplinares” conforme os dizeres de Aronowitz e Giroux (apud MOITA LOPES, 2011, p. 26). Para que se pague o preço dessa indisciplina, Passarelli (2008) faz referência da imprescindibilidade da educação linguística aos professores de Português, não que sejam os únicos que necessitam. Esses professores necessitam tanto de respaldos das ciências da educação como das ciências linguísticas. Para ensinar essa autora afirma que o professor não nasce pronto, é preciso “uma relação interdisciplinar que implica a integração recíproca dos conceitos fundamentais e da teoria do conhecimento, da metodologia, dos dados da investigação e do ensino” (PASSARELLI, 2008, p.220). Diante disso e considerando transposição didática de conteúdo teórico-prático em Língua Portuguesa se faz imprescindível repensar essa prática no atinente à seleção de conteúdos, com destaque a gêneros textuais e escrita processual, necessárias ao processo ensino-aprendizagem. Luiza Helena Silva em seu artigo “gêneros textuais na escola” (2012) e fundamentada nos PCNLP e em Bakhtin sobre a noção de gênero, escreveu que seguir essa ou aquela abordagem não se faz por coerção, submissão, mas é: Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 622 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO construída pela crença de que se trata de uma boa opção teóricometodológica num dado momento dos conhecimentos produzidos sobre o ensino e a escola. Trata-se de um contrato de adesão (...) passíveis de modificação, haja vista que, apesar de toda escola poder parecer igual, nela há sujeitos únicos, ímpares, com diferentes demandas (SILVA, 2012, p.108). Paulatinamente, o ensino de língua materna nos contextos escolares não pode ser centrado em apenas uma didática. Para Antunes “[...] a mudança no ensino de português não está nas metodologias ou nas ‘técnicas’ usadas. Está na escolha do objeto de ensino, daquilo que fundamentalmente constitui o ponto sobre o qual lançamos os nossos olhares” (apud FONSECA, 2012, p. 264). Para Fonseca (2012), isso vem reafirmar que os novos paradigmas do ensino de língua materna devem sair do ponto de vista estruturalista para uma abordagem que privilegie os gêneros textuais e a participação do leitor na compreensão do texto, sem a pretensão de vir a ser um “receituário”, as orientações visam contribuir com o trabalho do professor por meio da reflexão contínua na e sobre a prática de sala de aula, orientando as atividades de linguagem. “A aula de língua materna não pode perder de vista a perspectiva que trata o texto, oral e escrito, como atividade sóciodiscursiva” (FONSECA, 2012, p. 266). Daí, o professor precisa se reconhecer como agente de letramento. Assim como Rojo (2011), (2012) e Signorini (2010), Wagner Silva concebe o letramento como “práticas sociais envolvendo o uso da escrita para propósitos específicos” (2012, p. 35), ou seja, o letramento deve inserir o aluno na prática da leitura e da escrita e tais práticas não estão limitadas à escola ou ao trabalho, mas perpassam as mais diversas interações do cotidiano. Embasado em Kleiman ele diz que a escola como principal agente do letramento deve se configurar num espaço para experimentar formas de participação nas práticas sociais letradas, onde os múltiplos letramentos da vida social sejam tomados como referência para o trabalho pedagógico em todos os níveis de escolarização e que os conteúdos disciplinares, característicos da tradição escolar, são descentralizados e as práticas sociais passam a ser o ponto de partida e de chegada do planejamento das aulas (SILVA, 2012, p.37- 38). Diante do exposto, Signorini afirma que o letramento são os “espaços institucionais de produção e reprodução de práticas letradas, orais e escritas (não só a escola), e tipo de letramentos se entende como a variedade dessas práticas e de suas Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 623 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO funções na comunicação social em sentido amplo (não só as práticas escolares)” (SIGNORINI, 2011, p. 175). Delinear abordagens práticas-teóricas para o ensino de línguas com vistas de propostas aos estudos linguísticos se faz imprescindível refletir sobre os postulados de Bakhtin no tocante a gêneros. Conforme Bakhtin: os gêneros são um conjunto de enunciados relativamente estáveis e que, por força de ordem sócio-histórica, quando do uso da língua como unidade de processamento textual, as proposições tendem a se agrupar, tomando, assim, uma configuração característica, ao constituírem uma sequência característica de proposições que serve para compor os gêneros como formas textuais de uso efetivo na vida em sociedade (apud PASSARELLI, 2008, p. 230). Nessa linha Passarelli (2008) concebe gênero textual como realização linguística concreta definida por propriedades sócio-comunicativas, dessa maneira o texto dentro de um determinado gênero funda-se em critérios externos sóciocomunicativos e discursivos, e por estarem ligados à vida em sociedade todos os gêneros de textos são produzidos para determinada sociedade e dentro dela, por exemplo: um bilhete, uma lista de supermercado, um poema, um e-mail, uma receita médica, uma charge, um telegrama, um recibo, uma bula de remédio, uma notícia jornalística, uma nota fiscal, uma mensagem eletrônica, uma decisão interlocutória, uma aula expositiva, um bate papo, um conto, e por aí afora são gêneros textuais com objetivos preestabelecidos (PASSARELLI, 2008, p. 230). Contudo, como os gêneros textuais são fatos sociais, se faz imperativo caracterizar exercícios escolares orais e escritos de livros didáticos ou não, e distinguilo em meio a outros em situações de ordem prática. Considerando a escrita um fenômeno de interesse de algumas ciências, mas especialmente da Linguística Aplicada, assistimos que o desenvolvimento da habilidade de produção de textos escritos com enfoque em letramentos múltiplos, e a era dos gêneros textuais na disciplina de língua portuguesa no ensino médio (EM) que em algumas escolas acontecem nas “aulas de redação”, segundo Kleiman (citada por BUNZEN 2009) isso é uma consequência da pedagogia da fragmentação que, em vez Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 624 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO de favorecer a trans [inter] disciplinaridade, fragmenta as próprias disciplinas escolares em blocos monolíticos. Na escrita, “‘não havia um sujeito que diz, mas um aluno que devolvia a palavra que lhe foi dita pela escola’. Conforme Geraldi ‘o que não considera a natureza dialógica e interativa da própria linguagem chega a anular a subjetividade de quem a escreve’” (apud BUNZEN, 2009, p. 147). Dessa forma, deveríamos repensar nossas práticas nas aulas de língua portuguesa não só de produção escrita como também a oral, pois: o esquema mecânico e autônomo priorizado nas escolas em relação às práticas de leitura e produção de texto não faz com que os alunos se insiram nesse jogo complexo de produção de construção dos sentidos. Se defendermos que as práticas sociais e as atividades de linguagem são múltiplas e heterogêneas, resta-nos (re) pensar nossa prática de letramento escolar, que normalmente enfatiza o UNO e o homogêneo (BUNZEN, 2009, p. 151). Para respaldar a prática pedagógica de estudo e exploração pedagógica da oralidade, da escrita, da leitura e da gramática, Antunes (2009) apresenta um conjunto de princípios, que para ela, não devem ser um receituário, mas fundamentos, onde o professor de português seja além de educador, um linguista e pesquisador. Explorando a escrita, Antunes (2009) apresenta os seguintes princípios: a) A escrita, como toda atividade interativa, implica uma relação cooperativa entre duas ou mais pessoas. “O professor não pode, sob nenhum pretexto, insistir na prática de uma escrita escolar sem leitor, sem destinatário; sem referência, portanto, para se decidir sobre o que vai ser escrito” (ANTUNES, 2009, p. 47). b) A escrita, na diversidade de seus usos, cumpre funções comunicativas socialmente específicas e relevantes. Para Antunes, socialmente, não existe a escrita “para nada”, “para não dizer”, “para não ser ato de linguagem”. Para ela, em nenhum grupo social, não existe “a escrita de palavras soltas ou de frases soltas, de frases inventadas, de textos sem propósito, sem a clara e inequívoca definição de sua razão de ser” (2009, p. 48). c) A escrita varia, na sua forma, em decorrência das diferenças de função que se propõe cumprir e, consequentemente, em decorrência dos diferentes gêneros em que se realiza. Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 625 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO Os gêneros de textos evidenciam o reflexo da natureza da linguagem, “definida como sujeita à tradição e, ao mesmo tempo, subordinada à ação livre dos falantes” (ANTUNES, 2009, p. 50). d) A escrita supõe condições de produção e recepção diferente daquelas atribuídas à fala. “Sem pretender estabelecer um marco nitidamente divisório entre fala e escrita – até porque, na verdade, há mais semelhante entre as duas do que de diferente” (ANTUNES, 2009, p. 54). e) A escrita compreende etapas distintas e integradas de realização (planejamento, operação e revisão), as quais, por sua vez, implicam da parte de quem escreve uma série de decisões. Para Antunes (2009) na etapa do planejamento há todo um cuidado de quem vai escrever para: delimitar o tema de seu texto e aquilo que lhe dará unidade; eleger os objetivos; escolher o gênero; delimitar os critérios de ordenação das ideias; prever as condições de seus leitores e a forma linguística (mais formal ou menos formal) que seu texto deve assumir é o momento de delinear a planta do edifício que vai construir. Na segunda etapa, a etapa da escrita, é a tarefa de pôr no papel, de registrar o que foi planejado, do registro. Sempre atento, sempre em estado reflexão, para garantir sentido, coerência e relevância (2009). Na terceira etapa, a etapa da revisão e da reescrita é o momento da análise do que foi escrito, para aquele que escreve confirmar se os objetivos foram cumpridos, se conseguiu a concentração temática, se há coerência e clareza, se há encadeamento, se há fidelidade às normas da sintaxe e da semântica – se respeitou aspectos da superfície do texto, como a ortografia, a pontuação e a divisão do texto em parágrafos. É a hora da revisão, para decidir o que sobre o que fica o que sai e o que se reformula. f) Por fim a escrita, enquanto sistema de codificação é regida por convenções gráficas, oficialmente impostas. Existe, para os padrões da escrita, para Antunes, um conjunto de convenções que estipulam a forma como as palavras devem ser grafadas. Como convenções as regras ortográficas devem ser estudadas, exploradas e progressivamente dominadas. Diante do exposto e como consequência das atuais práticas de desenvolvimento da habilidade escrita confunde-se o conceito de gênero textual “com procedimentos normativos, com categorias formais ou com estruturas, pois nele coexistem diversificadas formas de se pensar o mundo e a história humana” (Machado Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 626 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO apud BUNZEN, 2009, p. 155). Pois, seguindo essa linha de pensamento e os direcionamentos de Rojo, ao tomarmos os gêneros como objetos de ensino está-se apostando em um processo de ensino e aprendizagem de língua materna que permita ao sujeito aluno utilizar atividades de linguagem que “envolvam tanto capacidades propriamente discursivas, relacionadas à apreciação valorativa da situação comunicativa e como, também, capacidades de ação em contexto” (apud BUNZEN, 2009, p. 155). Nessa perspectiva, as práticas de leitura e produção de textos em gêneros diversos que fazem parte do cotidiano dos alunos nos diversos espaços de socialização, como família, igreja, mídia, amigos, trabalho, etc. podem ser legitimados na escola, e assim o aluno não se sentirá como um “sujeito incapaz de escrever” (BUNZEN, 2009, p. 159). Desse modo, tenhamos uma prática de ensino, como sugerem os PCNEM e os PCN+, mais voltada para a formação de leitores e escritores autônomos e críticos. Ainda nesse pensamento, Signorini (2011) enfatiza que um modo aceito de equacionar a questão da língua em uso em nosso país é rever a lógica da polarização diglóssica que orientam os movimentos moleculares da língua em uso: uma centrípeta, de consolidação do valor regulador e legitimador atribuído à norma unificadora “padrão”, e outra centrífuga, de tensionamento, suspensão e subversão de valor. Para o ensino de Língua Portuguesa com gêneros textuais e sua relação dialógica com a Linguística Aplicada no ensino médio convém ressaltar o que Alvarez - Cáccamo discorre sobre a polarização diglóssica centrífuga. Para ele: diferentemente da primeira, essa é uma linha de força feita de fragmentações, interrupções, retroações e curtos-circuitos na medida em que articula os vetores de desregulamentação linguística, compreendida em seus três níveis interrelacionados: o da variação de formas e funções, o da variação nos modos de contextualização/interpretação dessas formas e funções pelos falantes e o da variação nos modos de incidência da normatização nos dois níveis anteriores (apud SIGNORINI, 2011, p. 173). Para tanto Signorini nos chama atenção de que não se podem separar essas duas linhas de força, como se cada uma determinasse um campo específico, pois na “dinâmica da língua em uso elas estão sempre completamente enroscadas, variando o Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 627 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO grau de pressão exercido por cada uma em dada situação” (SIGNORINI, 2011, p. 174). Sendo assim, a dicotomia que alguns atores impõem a língua padrão e língua do cotidiano é desfeita pela autora ao mostrar a importância dessas duas instâncias aos diversos contextos que caracterizam e constituem o homem. No campo da linguística aplicada, Rajagopalan (2011, p.149) adverte que para romper – na medida do possível – com a tradição, a fim de repensar o futuro de forma livre e desimpedida será preciso repensar as práticas passadas, se isso for possível! Quando não for possível romper com as clausuras passadas, para o ensino é preciso reverter esse papel, onde a prática deve não só instruir a teoria, mas também servir de palco para explorar a base ideológica que sustenta diferentes propostas teóricas. E assim, “intervir de forma consequente nos problemas linguísticos constatados” (RAJAGOPALAN, 2011, p. 165). São imperiosas abordagens interdisciplinares na prática da sala de aula. Para Antunes (2009) o professor de português deve intervir para que o trabalho da escrita tenha as seguintes características: uma escrita de autoria também dos alunos, para eles se sintam “sujeitos de um certo dizer que circula na escola”; uma escrita de textos, pois com a escrita escolar se estabelece vínculos comunicativos, textos voltados para o ambiente social dos alunos; uma escrita de textos socialmente relevantes; uma escrita de textos funcionalmente diversificada; uma escrita de textos que têm leitores; uma escrita contextualmente adequada; uma escrita metodologicamente adequada; uma escrita orientada para a coerência global; uma escrita adequada também em sua forma de se apresentar. Enfim, há muito que fazer em uma sala de aula de português conforme Antunes, explorando cada uma das implicações acima não sobrará tempo para que aconteçam para intermináveis classificações morfológicas e os inócuos exercícios de análise sintática. Vai ficar gente sem saber distinguir o complemento do adjunto adnominal, mas vai ter muita gente escrevendo bem melhor, com mais clareza e precisão, dizendo as coisas com sentido e aí teremos de fato, autores. Gente que tem palavra a dizer e sabe como dizer, e assim a escola terá cumprido seu papel social de intervir mais positivamente na formação de pessoas para o pleno exercício de sua condição de cidadã, o que já não é sem tempo, nos dizeres de Antunes (2009). Realização Apoio Anais do I Simpósio de Linguística, Literatura e Ensino do Tocantins ISBN: 978-85-63526-36-6 628 11 a 13 de Novembro de 2013 – UFT/Araguaína –TO Referências bibliográficas ANTUNES, Irandé. Aula de português: encontro e interação. 8ª reimpressão. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. BAKHTIN, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 12 ed. HUCITEC, 2006. BRASIL/SEB. Orientações Curriculares para o Ensino Médio – Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. MEC, Brasília, 2008. 239 p. De PAULO, Antonio. 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