A CONSTRUÇÃO DE UM INSTRUMENTO PEDAGÓGICO PARA IDENTIFICAR O ESTILO DE ENSINO DO PROFESSOR PORTILHO, Evelise Maria Labatut1 – PUCPR BATISTA, Giovani de Paula2 – PUCPR BANAS, Julia Cristina Bazani3 – PUCPR Grupo de Trabalho: Formação de Professores e Profissionalização Docente Agência Financiadora: CNPQ e Fundação Araucária Resumo O objetivo deste artigo é apresentar as etapas de construção de um instrumento pedagógico sobre Estilo de Ensino. A fundamentação teórica está respaldada na teoria e modelo de construção de instrumentos de autores como Anastasí e Urbina (2000); Cozby (2003); Pasquali (2010); Urbina (2007). O contexto da pesquisa abrangeu 33 escolas das redes pública e particular do Ensino Fundamental do Município de Curitiba e contou com a participação efetiva de 263 professores na primeira etapa de construção do instrumento e 52 professores e 3 juízes especialistas em construção de instrumentos, na segunda etapa. O processo de construção do instrumento se deu em três etapas, a primeira composta da elaboração, coleta e análise de dados do questionário sobre procedimentos didáticos, a segunda composta da elaboração do instrumento piloto, avaliação dos juízes e análise semântica e a terceira a da elaboração final do instrumento. O instrumento proposto é auto aplicativo e sem caráter avaliativo. Foi pensado como uma possibilidade de reflexão e tomada de consciência por parte do professor identificando elementos que possibilitem a flexibilização e ressignificação do seu trabalho educativo, em prol do processo de aprendizagem de seus alunos. Palavras-chave: Estilos de Ensino. Instrumento Pedagógico. Aprendizagem. 1 Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia, Educação Especial e Grupos Operativos. Mestre e Doutora em Educação. Professora do Curso de Pedagogia e do Programa Stricto Sensu em Educação da PUCPR. Coordenadora da Pesquisa Aprendizagem e Conhecimento na Formação Docente. Coordenadora do Curso de Especialização em Psicopedagogia da PUCPR. E-mail: [email protected] 2 Mestrando em Educação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Especialista em Educação Física Escolar. Graduado em Licenciatura em Educação Física. Professor de Educação Física do Ensino Fundamental em Instituição Pública de Ensino. E-mail: [email protected] 3 Mestranda em Educação na Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Pedagoga. Especialista em Pedagogia Terapêutica, Desenvolvimento Pessoal e Familiar. MBA em Organizações Educacionais. Professora do Curso de Pedagogia na Faculdade Metropolitana de Curitiba. E-mail: [email protected] 30936 Introdução Diante dos desafios da contemporaneidade, a carreira docente passa por uma crise. Crise está que pode estar relacionada à sociedade da informação, as tecnologias, as relações interpessoais em sala de aula, as exigências na formação inicial e continuada dos professores, etc. Machado (2011, p.293) menciona que “crises representam sempre transformações ou ausência de valores, transformações ou ausência de projetos que articulem as ações e contribuam para a construção de seus significados”. A crise na perspectiva do autor não é considerada algo negativo, mas sim a oportunidade do professor refletir sobre a maneira como conduz o processo ensino/aprendizagem, percebendo-se como um sujeito capaz de transformar o contexto no qual está inserido, conduzindo a prática educativa de modo intencional. A intencionalidade do professor favorece uma ação organizada e pensada, estabelecendo o trabalho educativo de modo que atenda as demandas da situação, ajustando ao modo como ensina as características do contexto no qual está inserido. A maneira como o professor ensina apresenta características do modo como aprende, somados a sua história de vida, formação inicial e experiência profissional, as quais revelam em sua prática pedagógica um estilo predominante de ensino, mesmo que este ainda se apresente de forma inconsciente. Camacho, Valbuena e Martinez (2012) definem o estilo de ensino como: un conjunto de acciones habituales que realiza el docente en el aula y relativas a aspectos tales como la interacción con los estudiantes, el grado en que se controla y gestiona el aula y las estrategias de aula que éste prioriza en el proceso de enseñanza – aprendizaje (p.2). Pode-se dizer que o estilo de ensino refere-se à maneira peculiar que cada professor organiza e controla o trabalho pedagógico, presente em seus procedimentos didáticos tais como, em sua forma de planejar, nas estratégias de ensino selecionadas, nos recursos didáticos utilizados, na maneira como percebe a aprendizagem do seu aluno, bem como nos instrumentos de avaliação adotados. Este artigo apresenta a construção de um instrumento sobre Estilos de Ensino cuja intenção é propiciar ao professor um momento no qual possa tomar consciência de sua 30937 prática, identificando características presentes em sua maneira de ensinar, visando a flexibilização do ensino para atendera diversidade de estilos de aprendizagem dos alunos. Na pesquisa do tipo Estado da Arte, no banco nacional de teses e dissertações da CAPES, encontrou-se 15 dissertações e 6 teses relacionadas à construção de instrumento pedagógico. A maioria refere-se ao desenvolvimento de softwares que avaliam a educação à distância, outras estão voltadas ao desenvolvimento de instrumentos pedagógicos de avaliação. Nenhuma delas descreveu o processo de construção de um instrumento pedagógico de ensino. O fato de não existir nenhum trabalho que auxilie o professor a identificar o seu Estilo de Ensino, justifica a importância deste trabalho. Com base em estudos realizados (CUNHA, 1996; MARCELO GARCIA, 1999) sobre os cursos de formação continuada, percebe-se que um dos fatores que dificulta a tomada de consciência por parte do professor em relação ao seu Estilo de Ensino é o modo como os cursos são organizados, pois em sua maioria focam no fazer do professor e não na reflexão sobre o modo como planeja, supervisiona, elege recursos, avalia sua disciplina. Cunha (1996, p.122) menciona que “para a realização do ensino não há formação adequada e os professores retomam o seu referencial histórico, ensinando da mesma forma como aprenderam, procurando ser “seguros”, definindo o conhecimento válido e os rituais prescritos do ensino tradicional”. Ocorre que, os cursos de formação de professores ao enfatizar “o que fazer”, deixam de lado, a preocupação com “como fazer”. Diante deste fato, a tendência mais provável é a de que o professor ao ensinar seu aluno, utilize a mesma forma pela qual foi ensinado desconsiderando as singularidades do contexto em que hoje está inserido. Deste modo, o instrumento aqui proposto foi pensado como uma possibilidade de reflexão por parte do professor sobre sua prática, identificando elementos que possibilitem a ressignificação do seu trabalho educativo. O objetivo deste artigo é apresentar as etapas de construção do instrumento pedagógico que identifica o Estilo de Ensino do professor. Fundamentação Metodológica Dentre os objetivos da pesquisa Aprendizagem e Conhecimento na Formação Continuada do Programa Stricto Sensu em Educação da PUCPR, encontra-se um relacionado à identificação dos Estilos de Ensino do professor. Para tanto, foi necessário articular os 30938 vários trabalhos do grupo de pesquisadores, objetivando a construção e a validação de um instrumento que atendesse as necessidades do referido grupo. Sendo assim, este artigo apresenta a união de dois trabalhos de mestrado que estão sendo desenvolvidos sobre o tema Estilos de Ensino. Os estudos de Pasquali (2010) orientaram a fundamentação deste trabalho, quando ao referir-se a construção de instrumento, considera relevantes duas fases: a Fase Teórica e a Fase de Construção. A Fase Teórica é composta de quatro passos e seus respectivos produtos: Sistema Psicológico (objeto psicológico), Propriedades (atributo), Dimensionalidade (fatores/dimensões) e Definições (constitutiva e operacional). Já a fase de construção do instrumento é composta de dois passos que resultam em dois produtos: a Operacionalização (itens) e Análise dos itens (instrumento piloto). O Sistema Psicológico é definido pelo interesse do investigador, e consiste em se ter uma ideia, um tema, um assunto a pesquisar, o qual representa o produto esperado na elaboração do instrumento. O sistema escolhido pode ser mais amplo ou mais restrito. Quanto mais restrito ou elementar for o sistema, mais fácil se torna a construção de um instrumento de medida. Pasquali (2010, p.169), define sistema psicológico como “um processo ou traço latente ou mais próximo de interesse direto do pesquisador”. No caso desta pesquisa o tema a pesquisar refere-se aos Estilos de Ensino. O passo denominado Propriedades consiste em passar de um objeto psicológico amplo para a delimitação dos aspectos específicos que se deseja estudar. Esses aspectos constituem a propriedade do objeto e são chamados de atributos. Pasquali (2010, p.170) afirma que “para se definir um instrumento de medida, é preciso decidir qual ou quais dessas propriedades serão o objeto imediato de interesse”. Nesta investigação, partiu-se das abordagens de ensino e os procedimentos didáticos: planejamento, aprendizagem do aluno, estratégias de ensino, recursos didáticos, e instrumentos de avaliação e autoavaliação. A Dimensionalidade do Atributo tem por finalidade identificar se o construto é uni ou multifatorial. Neste passo pode-se identificar se o objeto de estudo é composto por um constructo único podendo ser medido por somente um instrumento ou se há nele fatores distintos e independentes necessitando de diferentes instrumentos (PASQUALI, 2010; URBINA, 2007). A partir das respostas dos professores às seis questões abertas, foram selecionados os aspectos mais relevantes de cada resposta e em seguida, estes foram agrupados por semelhança. 30939 A Definição dos Construtos, última passo da Fase Teórica da construção de um instrumento, busca a conceituação clara e precisa dos fatores para os quais se quer construir um instrumento de medida. Este processo tem como resultado dois produtos, as definições constitutivas e as definições operacionais (PASQUALI, 2010; ANASTASÍ e URBINA, 2000). Na definição constitutiva, os constructos que compõe o instrumento são situados dentro de uma teoria dando, portanto, as balizas e os limites que ele possui. Neste momento identificam-se as definições que caracterizam o constructo “dando as dimensões que ele deve assumir no espaço semântico da teoria em que está incluído” (PASQUALI, 2010, p.173). Já a etapa das definições operacionais, é o período que se fundamenta a validade dos constructos. Neste trabalho, foram construídos 19 construtos e suas explicações. A segunda fase denominada por Pasquali (2010) de Construção do Instrumento inicia com a Operacionalização do constructo. Este corresponde à construção dos itens que são a expressão da representação do construto, identificando as tarefas que os sujeitos terão de executar para que se possa avaliar a magnitude de presença do constructo. Dentro deste passo considerou-se as regras para construção de itens e a quantidade de itens. A regra para a construção de itens é composta de critérios fundamentais para elaboração adequada dos próprios itens. Já a quantidade de itens tem por finalidade delimitar um determinado número de itens para se cobrir a totalidade ou a maior parte ou, pelo menos grande parte da expressão semântica, do constructo (COZBY, 2003; PASQUALI, 2010). Para o instrumento que foi construído, dos 19 construtos elencou-se 161 itens, relacionados ainda aos procedimentos didáticos. O segundo e último passo proposto por Pasquali (2010) em relação à construção do instrumento é o da Análise Teórica dos Itens. Este passo visa identificar se os itens representam adequadamente o constructo a ser pesquisado. A Análise Teórica dos Itens subdivide-se em Análise Semântica dos Itens e Análise dos Juízes. A análise semântica tem por objetivo principal verificar se todos os itens são compreensíveis para todos os membros da população a qual o instrumento se destina. Para tanto, identifica-se a clareza dos itens para a população na qual o instrumento está sendo pensado, considerando o tipo de habilidade que os sujeitos precisam apresentar, a partir da magnitude do atributo a que os itens se referem, considerando o estrato mais baixo de habilidade. A Análise dos Juízes, por sua vez também pode ser chamada de análise de conteúdo, uma vez que procura a adequação da representação comportamental dos atributos latentes. Este processo é feito por juízes peritos na área do 30940 construto, cuja tarefa consiste em ajuizar se os itens estão se referindo ou não ao traço em questão. No caso deste trabalho foi enviado o instrumento para 3 especialistas em construção de instrumento e professores universitários de uma instituição estadual de ensino do estado do Paraná. Após o trabalho dos juízes encerraram-se os procedimentos teóricos na construção do instrumento de medida, tendo como produto o instrumento piloto, que constituiu a representação comportamental dos construtos que se propõe como a hipótese a ser empiricamente testada. Após a elaboração definitiva do instrumento, o passo que sucede chama-se de validação do instrumento, que por sua vez consiste em coletar informação empírica válida e submetê-la às análises estatísticas pertinentes. Cozby (2003, p.102) menciona que a validação do instrumento “refere-se à ‘verdade’ e à representação correta da informação”. Deste modo, o instrumento será considerado adequado se realmente conseguir medir o que se propõe, se responder ao objetivo que foi proposto. Portanto, a validade de um instrumento diz respeito ao que o teste mede e com que eficácia o faz. Procedimentos Metodológicos Diante da problemática, Como o estilo de ensino do professor interfere no processo de aprendizagem de seus alunos? Buscaram-se respostas recorrendo a autores que fundamentam estudos das abordagens de ensino (MIZUKAMI, 1986; BEHRENS, 2011). Com base na fundamentação teórica sobre as abordagens de ensino aliada ao interesse em articular este estudo com a prática pedagógica dos professores, relacionaram-se os procedimentos didáticos: planejamento, aprendizagem dos alunos, estratégias de ensino, recursos didáticos e instrumentos de avaliação e autoavaliação, os quais perpassaram as questões elaboradas para compor o questionário que foi o instrumento inicial de investigação. Em seguida a elaboração das seis questões abertas relacionadas aos procedimentos didáticos, buscou-se selecionar instituições de ensino fundamental, da rede pública e particular para prosseguir com a aplicação do questionário. A seleção das escolas públicas ocorreu a partir do contato de alguns pesquisadores do grupo, que pelo fato de trabalharem em algumas dessas escolas intermediaram o agendamento e a aplicação do questionário. Já a seleção das escolas particulares ocorreu a partir do conhecimento de uma integrante do grupo de pesquisa que conhece a maioria das coordenadoras pedagógicas das instituições. Foram entregues 900 30941 questionários em 12 escolas da rede pública e 21 escolas da rede particular, todas de Ensino Fundamental. Obteve-se o retorno de 263 questionários preenchidos, os quais foram tabulados. Feito isso, concluiu-se a primeira etapa de construção do instrumento pedagógico, composta de: Elaboração, coleta e análise dos dados do questionário sobre procedimentos didáticos. Dando continuidade passou-se a segunda etapa de construção do instrumento, a qual contempla a elaboração do instrumento piloto, avaliação dos juízes e análise semântica. Para a elaboração do instrumento piloto considerou-se as 1578 respostas dos professores às seis questões abertas do questionário que, após serem tabuladas foram agrupadas com o intuito de criar construtos que expressassem as características comuns apresentadas. Assim, diante dos aspectos considerados pelo professor ao planejar suas aulas construiu-se os seguintes construtos: alunos, conteúdos, encaminhamentos metodológicos e estrutura física e organizacional, a exemplo do que pode-se verificar nas respostas abaixo: - Ao planejar minhas aulas considero o aluno, o ambiente, os instrumentos e o próprio conteúdo. - Ao planejar minhas aulas considero o como ensinar, para que ensinar e o que eu quero com este conhecimento. - Considero as estratégias que passam pela leitura, debate, participação em discussões, produção de textos, deixar o aluno se expressar. A respeito da percepção que o professor tem em relação à aprendizagem de seu aluno, chegou-se aos seguintes construtos: construção de aprendizagens, participação e resultados obtidos. Estes podem ser observados nas seguintes respostas: - Percebo que meu aluno aprendeu pela aplicação em sua vida do que foi aprendido. - Pela participação e interesse dos alunos nas aulas e trabalhos individuais e em grupo. - Pela resolução correta dos exercícios. Em relação às estratégias de ensino, construíram-se os seguintes construtos: estratégias individualizantes, estratégias socializantes e sócio individualizantes, tendo como referência a classificação de Haidt (1994), como se pode perceber nos relatos a seguir: - Durante a elaboração das aulas privilegio como estratégia de ensino a exposição oral. - Ao elaborar minhas aulas utilizo como estratégia de ensino a roda de conversa, dramatização e os jogos lúdicos. - Considero as estratégias que passam pela leitura, debate, participação em discussões, produção de textos, deixar o aluno se expressar. 30942 Na questão referente aos instrumentos de avaliação utilizados pelo professor construíram-se os seguintes construtos: provas, trabalhos, exercícios extraclasse e autoavaliação. As respostas a seguir exemplificam: - Avaliações individuais escritas, avaliação de resolução de problemas em grupo, trabalhos escritos, participação nas atividades e assiduidade. -Observação diária do desempenho do aluno e seu progresso, análise de dados, portfólio e autoavaliação. -Provas escritas, trabalhos de pesquisa, participação oral, observação do desenvolvimento diário e vínculo com a aprendizagem. A partir das respostas obtidas na questão relacionada a reflexão sobre a própria prática com a finalidade de identificar o modo como o professor se auto avalia construiu-se os seguintes construtos: revisão dos procedimentos, análise de resultados, troca de experiências e formação continuada, conforme pode-se observar nas respostas abaixo: - Costumo refletir sobre minha prática, lendo e pesquisando mais sobre o conteúdo que será trabalhado. - Costumo refletir minha prática ao rever, modificar o planejamento, observando pontos positivos e negativos, avaliando o alcance dos objetivos e avaliando se as estratégias são adequadas. -Costumo refletir sobre minha prática trocando ideias com os colegas e coordenação pedagógica, fazendo estudos, leituras de temas atuais, crescimento pessoal e participação em cursos. Ao concluir a construção dos 19 construtos, buscou-se a explicação para cada um deles. Para esse procedimento recorreu-se a fundamentação teórica de alguns autores como Anastasiou (2004), Haidt (1994) e Both (2008). Em seguida, foram elaborados os itens relacionados a cada construto, advindos das respostas dos professores ao questionário. Para exemplificar a elaboração dos itens, no caso do construto alunos, foram elencados 16 aspectos relevantes das respostas dos professores, como: habilidades, interesse, linguagem, realidade, etc. Ex: Ao planejar minhas aulas sempre considero a realidade do aluno. No construto conteúdos, foram selecionados 12 aspectos, como: relevância do assunto, utilidade, contextualização, conhecimentos prévios, etc. Ex: Sempre busco contextualizar os conteúdos de acordo com o cotidiano dos alunos. No construto estrutura física e organizacional, foram considerados 5 aspectos, como: tempo, comunidade local, recursos, etc. Ex: Procuro que minhas aulas ocupem espaços físicos diversificados. Este procedimento ocorreu com os dezenove construtos que compõem o instrumento. Seguindo as instruções de Pasquali (2010) para construção de itens, consideraram-se as regras ou critérios por ele propostas, bem como a quantidade de itens. Neste momento foi delimitado o número de itens que compõem o instrumento piloto. Sendo que o instrumento 30943 nesta fase “deve começar com, pelo menos, o triplo de itens para se poder assegurar, no final, um terço deles” (PASQUALI, 2010, p.180). Após o processo de construção de 19 construtos e 161 itens concluiu-se a elaboração do instrumento piloto. O passo seguinte foi encaminhar o material para os três juízes, para que pudessem proceder com a análise. Para que os itens fossem considerados pertinentes ao traço a que teoricamente se refere, foi necessária a concordância de, pelo menos, 80% entre os juízes. As análises dos juízes, bem como, os critérios estabelecidos por Pasquali (2010), foram determinantes para a continuidade e finalização desta etapa, pois possibilitou refinar o instrumento piloto, que de 161 itens chegou-se a 65 itens. Após o refinamento do instrumento piloto, realizou-se a análise semântica que contou com a participação de um grupo de 52 professores do ensino fundamental de escolas particulares do município de Curitiba, tendo como objetivo a verificação da compreensão dos itens do referido instrumento. Diante da análise semântica realizada pelos professores constatou-se que aproximadamente 90% dos mesmos avaliaram os itens como compreensíveis. No entanto, 10% julgaram que o termo “sempre” utilizado no início de alguns itens limita a possibilidade de resposta. A partir desta observação foi reformulada a escrita de alguns itens e foi dada como encerrada a segunda etapa de construção do instrumento. A terceira e última etapa, tem como objetivo, a elaboração final do instrumento, que de acordo com as análises realizadas constatou-se que os passos seguidos até o momento possibilitaram chegar a identificar duas abordagens de ensino: a tradicional e a contemporânea. Porém este não era o objetivo do instrumento, pois o mesmo foi pensado visando identificar o Estilo de Ensino do professor. Diante disso buscou-se uma nova fundamentação teórica tendo como base os estilos de aprendizagem propostos por Honey e Alonso (1994) e Portilho (2003; 2011), tais como: ativo, reflexivo, teórico e pragmático. Com base no instrumento piloto foram construídos 12 itens relacionados a cada procedimento didático (planejamento, aprendizagem do aluno, estratégia de ensino, recursos didáticos e avaliação), sendo que estes deveriam contemplar às características presentes nos estilos de aprendizagem. 30944 Deste modo, para o estilo de aprendizagem ativo foi construído 3 itens referentes a planejamento, 3 referentes à aprendizagem do aluno, 3 a estratégias de ensino, 3 a recursos didáticos e 3 a avaliação. O mesmo procedimento ocorreu com os demais Estilos de Aprendizagem: reflexivo, teórico e pragmático. Após os ajustes realizados, o Instrumento Final para identificar o Estilo de Ensino do professor ficou composto de 60 itens relacionados aos procedimentos didáticos e aos estilos de aprendizagem. Considerações Finais O presente estudo contempla as etapas de construção de um instrumento pedagógico cujo objetivo é possibilitar ao professor a identificação do seu Estilo de Ensino, oportunizando um momento de reflexão sobre o modo como fundamenta, reflete, planeja e organiza suas aulas. Este material não tem a intenção de julgar ou avaliar se a prática do professor está certa ou errada. Por ser um instrumento auto aplicativo, sua contribuição está na possibilidade do professor, ao respondê-lo, tomar consciência de sua prática pedagógica, podendo ressignificar seus procedimentos didáticos, em direção as aprendizagens de seus alunos. Acredita-se que, este instrumento possa ser utilizado como um recurso nos processos de formação continuada docente. REFERÊNCIAS ALONSO, Catalina; GALLEGO, Domingos; HONEY, Peter. Los Estilos de Aprendizaje. Procedimentos de Diagnóstico y mejora. Bilbao, Espanha: Ediciones Mensajero, 1994. ANASTASI, Anne; URBINA, Susana. Testagem psicológica. 7. ed. Porto Alegre: Artmed, 2000. ANASTASIOU, Léa das Graças C. Alves, Leonir P. Processos de Ensinagem na Universidade: pressupostos para as estratégias de trabalho em aula. Joinville, SC: UNIVILLE, 2004. BEHRENS, M. A. Paradigma emergente e a prática pedagógica. 5ª Ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011. BOTH, Ivo José. Avaliação planejada consentida: é ensinando que se avalia, é avaliando que se ensina. 2ª edição, Curitiba: Ibpex, 2008. 30945 CAMACHO, Diana M. A; VALBUENA, Carolina H; MARTINEZ, Christian H. Caracterización de los Estilos de Enseñanza de una Muestra de Docentes de La Universidad Pedagógica Nacional. Anales del V Congreso Mundial de Estilos de Aprendizaje: Investigaciones y Experiencias. Santander - España, Universidad de Cantabria, 2012. COZBY, Paul C. Métodos de pesquisa em ciências de comportamento. São Paulo: Atlas, 2003. CUNHA, M. I. Relação Ensino e Pesquisa. In ALENCASTRO, Ilma Veiga (Org.). Didática: o ensino e suas relações. Campinas: Papirus, 1996. HAIDT, Regina Célia Cazaux. Curso de Didática. São Paulo: Editora Ática, 1994. MACHADO, N.J. Epistemologia e didática: as concepções de conhecimento e inteligência e a prática docente. São Paulo: Cortez, 2011 MARCELO GARCÍA, Carlos. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto, 1999. MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU, 1986. PASQUALI, Luíz. Instrumentação psicológica: fundamentos e práticas. Porto Alegre: Artmed, 2010. PORTILHO, Evelise Maria Labatut. Aprendizaje Universitário: um enfoque metacognitivo. Tese de Doutorado pela Universidad Complutense de Madrid, 2003. ________. Como se aprende? Estratégias, estilos e metacognição. 2º ed. Rio de Janeiro: Walk, 2011. URBINA, Susana. Fundamentos da testagem psicológica. Porto Alegre: Artmed, 2007.