Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Mestrado em Engenharia Mecânica Prospectiva dos mercados de energia Bruno Meneses Dissertação apresentada à Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Mecânica, realizada sob a orientação científica do Professor Amadeu Borges e Co-orientação científica do Professor Nuno Moreira, ambos do Departamento de Engenharias da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Vila Real, 2009 Aos meus pais e à minha namorada, sem eles a minha vida não seria tão fácil. ii Agradecimentos Desejo expressar os meus agradecimentos a todas as pessoas que possibilitaram a realização deste trabalho, especialmente ao Professor Amadeu Borges, que orientou o meu projecto, e pelo professor que sempre foi. Ao professor Nuno Moreira, coorientador, agradeço a disponibilidade e a atenção. Ao professor de matemática Pedro Barroso Magalhães, a trabalhar no Instituto de Gestão de Fundos da Capitalização da Segurança Social (IGFCSS), pela sua preciosa ajuda na realização das previsões de preços. Expresso, também, os meus agradecimentos a todos os docentes da divisão de Engenharia Mecânica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro pelos diversos apoios. iii Resumo A qualidade de vida da sociedade portuguesa tem vindo a aumentar e, deste modo, as despesas energéticas dos cidadãos e do estado também aumentam. Este panorama associado à crise sócio económica coloca Portugal, bem como os países afectados pela mesma, numa situação delicada. No presente estudo pretende antever-se os impactos económicos no sector energético. Desta forma, analisou-se o enquadramento energético nacional quanto ao seu consumo de energia primária em relação aos sectores de actividade. Após a verificação da dependência do petróleo nos sectores de actividade, examinou-se o sector dos transportes uma vez que este se apresenta como o sector mais dependente desta energia primária. Portugal tem apostado nas fontes de energia renovável de modo a diminuir a dependência das energias derivadas do petróleo. Assim, estudou-se também a influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia e a sua sustentabilidade energética. De modo a colmatar a análise de prospectivas dos mercados energéticos, efectuaram-se as tendências do custo da electricidade e do petróleo para estimar a sua evolução. Para esse efeito utilizou-se um modelo de previsão denominado autoregressivo de segunda ordem. As tendências obtidas revelaram um aumento genérico em todas as tarifas da energia eléctrica e no petróleo. É de realçar o aumento de 96% da energia eléctrica na tarifa simples da baixa tensão normal entre 2009 e 2015. Em relação ao petróleo poderá ocorrer um aumento de 91% no custo de aquisição entre 2009 e 2011. iv Abstract The Portuguese society quality of life has increased and thus the citizens and state energy expenditure also increases. This picture associated with socio-economic crisis puts Portugal as well as those affected by it, in a delicate situation. This study intends to predict the economic impacts in the energy sector. Therefore, the national energy framework was analyzed concerning its primary energy consumption in the sectors of activity. After checking the oil dependency in the sectors of activity, the transport sector was examined since it presents itself as the sector most dependent on this primary energy. Portugal has focused on renewable energy sources in order to reduce the dependency on energy derived from oil. As a result, it was also studied the influence of production from renewable energy sources in the national energy efficiency market and its sustainability. In order to focus the analysis of energy markets’ prospects, it was made the trends of the cost of electricity and oil to estimate its evolution. To this end it was used a prediction model called autoregressive of second order. Trends obtained showed a general increase in all the electricity tariff and Brent. It is worth noting the 96% increase in “simples da baixa tensão normal” electricity tariff. Regarding Brent there may be a 91% increase in the cost of acquisition between 2009 and 2011. v Nomenclatura Abreviaturas AIE Agência Internacional da Energia AR Auto Regressivo BTE Baixa Tensão Especial BTN Baixa Tensão Normal CELE Comércio de Licenças de Emissões CEP Consumo de Energia Primária CP Caminhos de Portugal DGEG Direcção Geral de Energia e Geologia EAM Erro Absoluto Médio EE Energia Eléctrica ERSE Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos FER Fontes de Energia Renovável FOB Free on Board gCO2e Gramas de dióxido de carbono equivalente IE Intensidade energética OCDE Organização para a Cooperação do Desenvolvimento Económico. ISV Imposto Sobre Veículos IUC Imposto Único de Circulação ONU Organização das Nações Unidas vi PDIRT Plano de desenvolvimento e investimento da rede de transporte PIB Produto interno Bruto PNAC Plano Nacional para as Alterações climáticas PNAEE Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética PNALE Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão PRE Produção em Regime Especial PQ Protocolo de Quioto RESP Rede Eléctrica de Serviço Público RSU Resíduos Sólidos Urbanos SEN Sistema Eléctrico Nacional SRM Sistema de Registo da Microprodução tep Toneladas equivalentes de petróleo UE União Europeia Alfabeto Grego Parâmetro para minimizar o erro Absoluto α Parâmetro para minimizar o erro Absoluto vii Índice Agradecimentos ............................................................................................................. iii Resumo ........................................................................................................................... iv Abstract ........................................................................................................................... v Nomenclatura ................................................................................................................. vi Índice de Figuras ........................................................................................................... xi Índice de Tabelas ......................................................................................................... xiii CAPÍTULO I Introdução .....................................................................................................................I-1 1.1 – Introdução ........................................................................................................... I-1 1.2 – Evolução do PIB em Relação ao Consumo Energético ................................... I-2 1.3 – Objectivos ............................................................................................................ I-4 1.4 – Conteúdo do trabalho ........................................................................................ I-5 CAPÍTULO II Enquadramento energético de Portugal ................................................................... II-1 2.1 – Evolução do consumo de energia Primária em Portugal ............................... II-1 2.2 – Dependência energética do exterior ................................................................. II-2 2.3 – Variação do consumo de energia pelos principais sectores de actividade. ... II-4 2.4 – Consumo das principais fontes de energia nos sectores de actividade ......... II-6 2.5 – Intensidade energética nacional. ...................................................................... II-7 2.5.1 – Intensidade energética portuguesa no contexto da União Europeia ................... II-8 2.6 – Produção de Energia ......................................................................................... II-8 2.6.1 – Produção de energia eléctrica em Portugal. ........................................................ II-10 2.6.2 – Produção de energia eléctrica a partir das centrais térmicas ............................ II-12 2.6.3 – Produção de energia eléctrica: enquadramento de Portugal na OCDE ........... II-13 2.7 – Conclusões do capítulo .................................................................................... II-14 CAPÍTULO III Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental ......................... III-1 3.1 Desenvolvimento sustentável no sector dos transportes ................................. III-1 viii 3.1.2 – Importância do sector dos transportes em Portugal para as políticas energéticas ................................................................................................................................................................ III-3 3.2 – Caracterização do consumo de energia no sector dos transportes.............. III-4 3.3 – Eficiência energética........................................................................................ III-8 3.3.1 – Programa Renove Carro ....................................................................................... III-10 3.3.2 – Programa Mobilidade Urbana ............................................................................ III-10 3.3.3 – Programa Sistema de Eficiência Energética nos Transportes .......................... III-11 3.4 – Conclusões do capítulo .................................................................................. III-12 CAPÍTULO IV Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia .................................................................................................... IV-1 4.1 – Produção de energia eléctrica a partir das fontes de energia renovável .... IV-1 4.1.1 – Produção em regime especial................................................................................. IV-4 4.2 – Microprodução de electricidade..................................................................... IV-6 4.2.1 – Acesso à actividade de microprodução ................................................................. IV-7 4.2.2 – Remuneração e facturação .................................................................................... IV-8 4.3 – Biocombustíveis ............................................................................................... IV-9 4.4 – Conclusões do capítulo .................................................................................. IV-10 CAPÍTULO V Sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional ..................................... V-1 5.1 Produção de energia eléctrica em regime ordinário.......................................... V-1 5.2 – Produção de energia eléctrica em regime Especial......................................... V-4 5.3 – Prospectiva produção da energia eléctrica em 2020....................................... V-6 5.4 – Conclusões do capítulo ...................................................................................... V-7 CAPÍTULO VI Tendências futuras dos preços das energias ........................................................... VI-8 6.1 Introdução ........................................................................................................... VI-8 6.2 – Tendências das tarifas de baixa tensão normal para potência menores que 20,7 kVA ................................................................................................................................. VI-9 6.3 – Tendências das tarifas de baixa tensão normal para potência entre 20,7 e 41,4 kVA ....................................................................................................................................... VI-12 6.4 – Tendências das tarifas de baixa tensão especial ......................................... VI-15 6.5 – Tendências da evolução do petróleo ............................................................ VI-19 6.6 – Conclusões do capítulo .................................................................................. VI-20 ix CAPÍTULO VII Conclusões .............................................................................................................. VII-21 7.1 Trabalho Futuro .............................................................................................. VII-23 CAPÍTULO VIII Bibliografia ..............................................................................................................VIII-1 x Índice de Figuras Figura 1- Consumo na Índia e china em 2020 (Anuário de economistas; 2005). .......................I-3 Figura 2- Evolução do PIB e da população e alguns impactes associados (Relatório do estado e do ambiente; 2006). .....................................................................................................................I-4 Figura 3-Consumo de energia primária em Portugal (DGEG). ................................................. II-2 Figura 4- Importações líquidas no consumo das energias primárias (DGEG). ......................... II-3 Figura 5- Importação das principais fontes de energia a preços correntes (DGEG). ................ II-3 Figura 6- Evolução das importações líquidas das principais energias primárias entre 1998 e 2007 (DGEG). ........................................................................................................................... II-4 Figura 7- Evolução do consumo de energia primária pelos principais sectores de actividade (DGEG). .................................................................................................................................... II-5 Figura 8 – Consumo das fontes de energia para cada sector de actividade, em 2007. (DGEG) II-6 Figura 9-Evolução da Intensidade Energética entre 1998 a 2007. ............................................ II-8 Figura 10- Peso da energia importada na balança de mercadorias FOB em 2007 (Factura energética portuguesa, 2008)................................................................................................... II-10 Figura 11-Produção, perdas e auto-consumo de energia eléctrica em Portugal (DGEG). ...... II-11 Figura 12-Consumo das fontes de energia para as centrais termoeléctricas (DGEG)............. II-13 Figura 13- Comparação da produção nacional da electricidade com a dos países da OCDE, 2005 (Peter et al, AIE). .................................................................................................................... II-14 Figura 14-Evolução das emissões de GEE (1990/2010), estimadas para o plano de referência (PNAC, 2006) .......................................................................................................................... III-4 Figura 15- Evolução do consumo de energia por tipo de transporte. (Relatório do estado do ambiente, 2007). ....................................................................................................................... III-5 Figura 16-Evolução da taxa de motorização (Relatório do estado do ambiente, 2007). .......... III-6 Figura 17-Veiculos em circulação, por idade e tipo de veículo, em 2007 (Relatório do estado do ambiente, 2007) ........................................................................................................................ III-7 Figura 18-Evolução do volume de transporte rodoviário de mercadorias, por unidade do PIB (1995=100) ............................................................................................................................... III-8 Figura 19-Contribuição do sector dos transportes para as emissões dos principais poluentes e na utilização de energia, na EU-27 e em Portugal, 2007 (Relatório do estado do ambiente, 2007). .................................................................................................................................................. III-9 xi Figura 20-Evolução histórica da energia eléctrica através das FER em Portugal continental (Estatísticas rápidas Dezembro de 2008 DGEG) ..................................................................... IV-2 Figura 21-Evolução da potência total instada em renováveis Portugal continental (Estatísticas rápidas Dezembro de 2008 DGEG) ......................................................................................... IV-3 Figura 22-Peso da potência instalada no sistema eléctrico nacional através da PRE, em Portugal continental. (Informação sobre produção em regime especial, ERSE 2009) ........................... IV-5 Figura 23-Energia entregue à rede por período de tarifário entre 2007 e 2008. (Informação sobre produção em regime especial, ERSE 2009) ............................................................................. IV-5 Figura 24- Custo médio por tecnologia em 2007 e 2008. (Informação sobre produção em regime especial, ERSE 2009) ............................................................................................................... IV-6 Figura 25- Saldo de exportações e importações dos principais combustíveis (Factura energética portuguesa, 2008). .................................................................................................................. IV-10 Figura 26-Previsão da potência da grande hídrica em 2019 (PDIRT, 2008). ........................... V-2 Figura 27- Previsão da potência das centrais térmicas em 2019 (PDIRT 2008). ...................... V-3 Figura 28-Previsão da produção em regime especial em 2019 (PDIRT 2008). ........................ V-5 Figura 29- Estrutura da produção da energia eléctrica no cumprimento da meta “20-20-20” (Segurança de Abastecimento ao nível da produção de electricidade, 2008) ........................... V-6 Figura 30- Tendências da tarifa simples da baixa tensão normal para potências menores que 20,7 kVA. ............................................................................................................................... VI-10 Figura 31- Tendências da tarifa de vazio da baixa tensão normal para potências menores que 20,7 kVA. ............................................................................................................................... VI-11 Figura 32- Tendências da tarifa para as horas de ponta para potências entre os 20,7kVA e 41,4 kVA. ....................................................................................................................................... VI-12 Figura 33- Tendências da tarifa para as horas cheias para potências entre os 20,7kVA e 41,4 kVA. ....................................................................................................................................... VI-13 Figura 34- Tendências da tarifa para as horas de vazio para potências entre os 20,7kVA e 41,4 kVA. ....................................................................................................................................... VI-14 Figura 35- Tendências da tarifa para as horas de ponta para a baixa tensão especial. ........... VI-16 Figura 36- Tendências da tarifa para as horas cheias da baixa tensão especial...................... VI-17 Figura 37 - Tendências da tarifa para as horas de vazio da baixa tensão especial. ................ VI-18 Figura 38- Tendências do petróleo. ........................................................................................ VI-19 xii Índice de Tabelas Tabela 1 – Balanço de energia final nos sectores de actividade entre 1998 e 2007 (DGEG). ....................................................................................................................... II-5 Tabela 2 - Necessidades energéticas para a produção e consumo de energia eléctrica (DGEG). ....................................................................................................... II-12 Tabela 3- Peso de cada FER na produção de energia eléctrica em Portugal continental, 2008 (Estatísticas rápidas Dezembro de 2008 DGEG). ........................... IV-4 Tabela 4-Tarifário de referência para cada tipo de energia renovável (DecretoLei 273 de 2007). ......................................................................................................... IV-9 Tabela 5-Centrais térmicas existentes em 2008 a serem desactivadas (PDIRT 2008). ............................................................................................................................ V-3 Tabela 6-Centrais térmicas existentes 2019 (PDIRT 2008). ............................ V-4 Tabela 7- Comparação da produção em regime especial entre 2009 e 2019 (PDIRT 2008). .............................................................................................................. V-6 Tabela 8- Valores esperados para a tarifa simples da BTN para potências menores que 20,7 kVA. ............................................................................................. VI-10 Tabela 9- Valores esperados para a tarifa de vazio da BTN para potências menores que 20,7 kVA. ............................................................................................. VI-11 Tabela 10- Valores esperados para a tarifa de horas de ponta da BTN para potências entre os 20,7 kVA e 41,4 kVA. ................................................................. VI-13 Tabela 11- Valores esperados para a tarifa de horas de cheias da BTN para potências entre os 20,7 kVA e 41,4 kVA. ................................................................. VI-14 Tabela 12- Valores esperados para a tarifa de horas de vazio da BTN para potências entre os 20,7 kVA e 41,4 kVA. ................................................................. VI-15 Tabela 13- Valores esperados para a tarifa de horas de ponta da BTE. ........ VI-16 Tabela 14- Valores esperados para a tarifa de horas de cheias da BTE ........ VI-17 Tabela 15- Valores esperados para a tarifa de horas de vazio da BTE para potências entre os 20,7 kVA e 41,4 kVA. ................................................................. VI-18 xiii Tabela 16-Valores obtidos para o petróleo. ................................................... VI-20 xiv CAPÍTULO I Introdução Conteúdo do capítulo Neste capítulo, além de uma introdução ao presente trabalho serão enunciados, os objectivos e o conteúdo do trabalho. Menciona-se os problemas energéticos na sociedade e a sua forte dependência. Além disso, avalia-se a evolução do produto interno bruto (PIB) em relação ao consumo de energia, uma vez que Portugal tem uma elevada intensidade energética. 1.1 – Introdução A humanidade encontra-se, neste momento, perante uma contradição entre a preservação do ambiente e o consumismo. Além destas preocupações, existe ainda a crise económica em que vivemos, onde os mercados energéticos têm uma cota parte na situação económica. Portugal tem uma elevada despesa na compra de energia primária que tem vindo a aumentar nos últimos anos em relação ao PIB. Este aumento tem como principal responsável o petróleo; as constantes flutuações de preço e o aumento da procura. As oscilações do preço do petróleo devem-se ao facto dos países em vias de desenvolvimento necessitarem desta fonte de energia para garantirem o seu crescimento económico e social e, à medida que se desenvolvem, os seus habitantes adquirem bens materiais dependentes desta fonte de energia. Através do aumento da procura surgirão tensões políticas e com a confirmação das alterações climáticas, impasses e incertezas em relação a alguns países (por questões políticas). Os países mais dependentes do Introdução petróleo serão os mais prejudicados. Dentro de alguns anos, o preço do petróleo poderá estar a um preço demasiado elevado. Consequentemente, as crises petrolíferas serão uma realidade inevitável devido ao aumento de pressões políticas e sociais. Assim, devemos por isso, prepararmo-nos e tentar sermos menos dependentes desta fonte de energia. Não nos podemos esquecer, porém, que o petróleo esteve a um preço extremamente elevado em 2008 e Portugal, tal como os restantes países da União Europeia, está fortemente dependente dessa energia primária. Com a realização deste trabalho pretende-se efectuar um estudo no que respeita às prospectivas dos mercados energéticos no panorama nacional. Não obstante, efectuou-se um estudo (comparação), ao nível da União europeia no que concerne ao sector dos transportes, uma vez que existe uma relação de dependência deste face ao petróleo. As variações no preço da energia são um elemento importante neste trabalho para se efectuar um estudo em relação às tendências futuras. De modo a consolidar este estudo realizar-se-ão tendências de preço em relação à energia eléctrica e ao petróleo. Estas fontes de energia são as que mais podem influenciar a longo prazo a sociedade, visto que a produção de energia eléctrica tenderá a ser menos dependente das fontes de energia provenientes do petróleo. Desta forma, a energia eléctrica pode ser “vista” como uma alternativa ao petróleo. Em relação ao gás natural, como apresenta uma evolução do seu custo de aquisição proporcional ao do petróleo, não se efectuou o estudo desta forma de energia. 1.2 – Evolução do PIB em Relação ao Consumo Energético O consumo energético tem vindo a aumentar, reflectindo uma melhoria do bemestar social e do desenvolvimento industrial. Segundo o anuário de economistas de 2005, a Índia e a China, claramente “engrenadas” com o desenvolvimento e crescimento económico, consomem 17% dos recursos energéticos, tendo um consumo por habitante igual a um vigésimo do norte-americano e um décimo do europeu. A Figura 1 indica que o consumo em 2020 na Índia e na China será muito superior aos consumos existentes e que os países da OCDE (Organização de cooperação e desenvolvimento económico), consumiram mais de 50 % da energia primária. I-2 Introdução 9,00 8,00 Tep/habitante 7,00 6,00 USA 5,00 4,00 França 3,00 Japão 2,00 China 1,00 India 0,00 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 Ano Figura 1- Consumo na Índia e china em 2020 (Anuário de economistas; 2005). Neste momento, as tensões políticas estão a aumentar com: a confirmação das alterações climáticas; o impasse e as incertezas em relação ao Iraque (e outros países), e ao aumento de tensões com os países exportadores de petróleo e gás natural, como a Rússia, Irão, Venezuela e países da Ásia Central. Todos estes factores vão originar uma volatilidade no preços do petróleo, acompanhados pelo gás natural e carvão. De acordo com o anuário de economistas de 2005, que usou os dados do maior fórum mundial de energia, que se reúne em cada três anos, em 1990 o consumo total de energia primária em toneladas equivalentes de petróleo (tep) era de 8.726 milhões de teps, em 2004 subiu para 10.224 milhões e em 2020 ultrapassará os 15.000 milhões de teps. Perante este cenário, constata-se que em Portugal, nos últimos anos, o consumo de energia primária aumentou em relação ao PIB, onde o principal responsável por este aumento significativo é o petróleo. Contudo, a evolução do PIB nos últimos anos tem vindo a alarmar os principais economistas, já que o seu desenvolvimento foi pouco acentuado, como evidência a figura 2. Apesar disso, o consumo de energia primária e da emissão de GEE (gases de emissão de efeito de estufa) teve um crescimento mais proeminente. Desta forma, revela a necessidade de implementação de medidas de eficiência energética de modo a minimizar os impactos da energia importada na balança de mercadorias free on board. Assim, também se poderia diminuir a intensidade energética. I-3 Introdução 160 150 Indíce 1990=100 140 130 120 110 100 90 80 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Emissões de GEE Intensidade Carbónica Consumo Energia Primária Intensidade energética PIB (preços de 2000) População Figura 2- Evolução do PIB e da população e alguns impactes associados (Relatório do estado e do ambiente; 2006). 1.3 – Objectivos Este trabalho visa essencialmente o estudo de prospectivas dos mercados energéticos. Num panorama de crise económica e de incertezas, os mercados energéticos tendem a evoluir de uma forma volátil. Através deste estudo, pretende-se antever os custos de aquisição das principais fontes de energia primária: a energia eléctrica e o petróleo. Analisar-se-ão os consumos de energia pelos principais sectores, para conjecturar os problemas energéticos, principalmente no sector dos transportes, visto que este é o mais dependente do petróleo. A influência da produção a partir das fontes de energia renovável e a sustentabilidade do SEN (Sistema eléctrico nacional) serão também estudados para antever as necessidades energéticas a longo prazo. Posteriormente, serão realizados estudos de previsão dos preços da electricidade e do petróleo, de modo a enquadrar o trabalho com as necessidades da sociedade e ao mesmo tempo apresentar possíveis soluções. I-4 Introdução 1.4 – Conteúdo do trabalho Este trabalho é organizado por sete capítulos, sendo o primeiro a introdução e conceitualização do trabalho com os problemas que afectam a sociedade e o último serão apresentadas as conclusões. No segundo capítulo será estudado o enquadramento energético de Portugal e demonstrar-se-á a dependência energética. Em relação ao terceiro capítulo vão ser expostas as fragilidades do sector dos transportes, bem como o enquadramento energético e ambiental e a sua importância para a eficiência energética a nível nacional. No que respeita ao quarto capítulo apresentar-se-á a influência da produção de energia eléctrica a partir das fontes de energia renovável e a relevância de cada fonte de energia renovável na produção de energia eléctrica. No quinto capítulo analisar-se-á a sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional em termos de produção e a sua reestruturação. No que concerne ao Sexto capítulo serão realizadas tendências de preços das principais fontes primárias, isto é, da electricidade e do petróleo, e enunciadas as conclusões. I-5 CAPÍTULO II Enquadramento energético de Portugal Conteúdo do Capítulo Neste capítulo realça-se a forte dependência energética de Portugal. Deste modo, analisaram-se as importações das principais fontes de energia, verificando-se que se importava cerca de 86% da energia consumida. Neste âmbito, fez-se uma análise do consumo de energia primária pelos principais sectores de actividade. Utilizou-se a intensidade energética como indicador energético na comparação entre Portugal e a União Europeia. O peso da energia importada no balanço de mercadorias, free on board, foi também inquirido, para se analisar os custos da energia na economia portuguesa. A produção de energia eléctrica, neste capítulo, foi também contemplada, uma vez que grande parte da energia eléctrica é produzida em centrais termoeléctricas. 2.1 – Evolução do consumo de energia Primária em Portugal A análise da evolução e do consumo das diferentes formas de energia em Portugal só é possível tendo uma referência em comum, isto é, será necessário estabelecer equivalências entre as diferentes formas de energia. Para tal, recorrer-se-á à unidade tonelada equivalente de petróleo (tep), uma vez que o petróleo é a energia primária mais relevante no balanço energético nacional, como se constata na Figura 3. Nesta Figura verifica-se a relevância que o gás natural adquiriu, na última década, representando cerca de 15,02% do consumo de energia primária em 2007. Em Enquadramento Energético de Portugal relação a outras fontes de energia foram contabilizadas as lenhas, resíduos sólidos urbanos, biogás e biodiesel. Contudo, nem todas as fontes de energia se destinam a processos termodinâmicos (produção de calor) e, mesmo que essa fosse a finalidade, o rendimento seria diferente consoante a fonte de energia utilizada. Desta forma, e como a energia eléctrica é consumida principalmente pela força motriz, converter kWh em tep não é um problema linear. Assim sendo, considerar-se-á que 1 GWh é equivalente a 86 tep, visto que este valor é o utilizado pela Direcção Geral de Energia e Geologia (DGEG). ktep 30 000 25 000 Outras fontes de energia 20 000 Gás natural 15 000 Electricidade 10 000 5 000 Petróleo 0 Carvão Figura 3-Consumo de energia primária em Portugal (DGEG). 2.2 – Dependência energética do exterior As importações energéticas são de extrema importância como é evidenciado na Figura 4, correspondendo a cerca de 86% da energia consumida em Portugal no ano de 2007. Neste contexto, e apesar de nos últimos anos se ter controlado o consumo, a forte volatilidade do preço do petróleo originou o aumento do custo da energia dependente desta energia primária. Desta forma, despertamos para a forte dependência energética, e foram tomadas medidas que a visam diminuir, sendo estas a racionalização, recurso à II-2 Enquadramento Energético de Portugal energia renovável, diminuição do consumo de petróleo e a melhoria da eficiência de conversão. ktep 30 000 25 000 20 000 15 000 Produção naciona l 10 000 5 000 Importações liquída s 0 Figura 4- Importações líquidas no consumo das energias primárias (DGEG). Pode verificar-se, pela Figura 5, que o custo das importações aumentou de uma forma expressiva desde de 1998. O aumento do preço de importação de energia entre 1998 a 2006 foi de aproximadamente 467%. 10 6 € 8000 6000 4000 2000 0 Petróleo Carvão Electricidade Gás Natural Figura 5- Importação das principais fontes de energia a preços correntes (DGEG). II-3 Enquadramento Energético de Portugal No entanto, ao longo do tempo diminuiu-se o consumo de petróleo, tendo-se optado por outras fontes de energia como é o caso do gás natural (Figura 6). Esta, mesmo sendo uma energia dependente da cotação do petróleo tem um custo de aquisição bastante inferior. Devido ao aumento do custo das matérias-primas derivadas do petróleo e aos problemas ambientais, privilegiaram-se as energias renováveis. Desta forma obteve-se, nestes últimos anos alguma independência exterior e ao mesmo tempo energia mais “limpa”. Todavia, as energias renováveis serão analisadas de uma forma mais abrangente no Capítulo 4. Apesar disso, o consumo de carvão pouco se alterou, como se constata na figura 4, já que é uma das energias com menor custo de aquisição embora seja uma das mais poluentes. Carvão Petróleo Electricidade (1) 1998 0% Gás natural 2007 17% 4% 16% 13% 3% 67% 80% Figura 6- Evolução das importações líquidas das principais energias primárias entre 1998 e 2007 (DGEG). 2.3 – Variação do consumo de energia pelos principais sectores de actividade. Devido ao aumento do custo das importações líquidas de energia e à crise financeira torna-se imprescindível analisar aprofundadamente o consumo de energia. Através da Figura 7 podemos observar a influência de cada sector de actividade no consumo de energia primária de 1998 a 2007. Pode constatar-se que o sector que apresenta maior consumo é o dos transportes seguindo-se o industrial, o doméstico e o II-4 Enquadramento Energético de Portugal de serviços por último. Esta ordem de consumo permaneceu igual na última década apesar de algumas oscilações. Para além de se estudar o “peso” de cada sector de actividade para cada ano, será necessário entender e associar o aumento de consumo de energia primária que se verificou de 1998 a 2007. Para tal, a Tabela 1 indica o aumento no consumo de energia primária que ocorreu em cada sector. A maior oscilação foi no sector dos serviços com um aumento de 44%, seguido dos transportes com 18%, do doméstico 17% e da indústria com 6%. No que concerne ao aumento total de energia verifica-se que ocorreu um aumento de 16% entre 1998 e 2007. 100% 80% 60% Serviços Doméstico 40% Transportes Industria 20% 0% Figura 7- Evolução do consumo de energia primária pelos principais sectores de actividade (DGEG). Tabela 1 – Balanço de energia final nos sectores de actividade entre 1998 e 2007 (DGEG). Sector de 1998 2007 Rácio actividade (ktep) (ktep) 2007/1998 Indústria 5058 5 344 1,06 Transportes 5717 6 738 1,18 Doméstico 2737 3 196 1,17 Serviços 1566 2 257 1,44 Total 15078 17535 1,16 II-5 Enquadramento Energético de Portugal 2.4 – Consumo das principais fontes de energia nos sectores de actividade No seguimento da evolução do consumo de energia primária pelos principais sectores de actividade, será estudado, para os mesmos, a estratificação das principais fontes de energia. Uma vez que, como se tinha referido, o aumento do custo de aquisição dessas energias, ilustrado na Figura 5, torna a nossa sociedade vulnerável. Desta forma, poderá ser feita uma análise mais aprofundada dos consumos de energia no que respeita à diversificação do consumo e enquadrar as alternativas energéticas, isto é, a produção de energia a partir de fontes de energia renovável (FER), de modo a compreender o contributo destas na sociedade e o impacto na dependência energética exterior. Através da Figura 8 pode verificar-se o consumo de energia para cada sector de actividade no ano de 2007, sendo esses a indústria onde se inclui a transformadora e a extractiva, o doméstico, o de serviços e o de transportes. Serviços % de petróleo % de electricidade Doméstico % de gás natural Transportes % de Carvão Indústria % de outras fontes de energia 0% 20% 40% 60% 80% 100% Figura 8 – Consumo das fontes de energia para cada sector de actividade, em 2007. (DGEG) No que concerne ao sector industrial, as fontes de energia mais consumidas são o petróleo e a electricidade representando cerca de 50% do consumo. O gás natural apresenta um peso de 16% no consumo de energia neste sector, sendo bastante significativo quando comparado com os outros sectores de actividade. Devido à II-6 Enquadramento Energético de Portugal diversidade da indústria existente, utilizam-se outras fontes de energia, sendo essas os resíduos, gás de coque, lenhas, gás de alto-forno, gases incondensáveis e alcatrão. Esta parcela de energia (soma das fontes de energia mencionadas), representa cerca de 33% da energia consumida na indústria. Enquanto que o consumo de carvão é relativamente baixo apresentando um valor de 3%. Em relação ao sector de maior consumo, o de transportes, ilustrado na Figura 7, onde se inclui o rodoviário, o aéreo, o ferroviário e o marítimo, verifica-se que o petróleo é a fonte de energia essencial representando cerca de 95% seguido da electricidade com 4% e do gás natural com 1%. Este sector será aprofundado no Capítulo II, já que para além de ser o que apresenta maior consumo, depende bastante dos derivados do petróleo e contribui de forma significativa na importação energética. No que diz respeito ao consumo do sector doméstico, verifica-se que a utilização de carvão é praticamente nula. As fontes de energia que apresentam maior consumo são a electricidade com 37% e as outras fontes de energia com 36%, sendo essas no caso do sector doméstico, lenhas, gás de cidade e resíduos vegetais. O petróleo surge também como uma fonte de energia essencial com cerca de 20% enquanto que o gás natural apresenta apenas um consumo de 7% e o carvão apresenta um consumo nulo. As fontes de energia mais consumidas no sector dos serviços são a electricidade, com um peso de 62%, seguida do petróleo com 30%, e do gás natural com 7%. Não existe qualquer consumo directo de carvão no sector dos serviços, havendo apenas uma pequena percentagem no consumo de outras fontes de energia, cerca de 0,29%, sendo essa o gás de cidade. 2.5 – Intensidade energética nacional. A intensidade energética (IE) é um forte indicador para analisar o consumo, bem como a dependência de cada país. No que diz respeito à energia, a sua definição pode ser dada por: Intensidade Energética IE á ! " !" (1) A IE é a razão entre o consumo total de energia primária, expressa em tep e o valor monetário do PIB expresso em euros (por exemplo). II-7 Enquadramento Energético de Portugal 2.5.1 – Intensidade energética portuguesa no contexto da União Europeia Através da Figura 9, pode analisar-se a evolução da intensidade energética em Portugal entre 1998 a 2007, constatando-se a existência de uma diminuição na intensidade energética face a 1998. Contudo, Portugal, desde 1998, apresenta uma intensidade energética superior à média da EU-27. Os valores obtidos expressam o consumo de energia primária por unidade monetária de PIB, em tep por milhar de milhões de euros. tep/10 3 € de PIB 240 230 220 210 200 190 180 170 160 150 Portugal EU - 27 Figura 9-Evolução da Intensidade Energética entre 1998 a 2007. 2.6 – Produção de Energia A produção nacional de energia é importante para colmatar as necessidades energéticas e para equilibrar os custos de energia. Uma vez que uma parte da energia que produzimos é (re)exportada, deve entender-se quando se menciona energia como sendo todas as formas de energia disponíveis comercialmente. Porém, são estudadas as principais fontes de energia, sendo estas a electricidade, o gás natural (incluindo o liquefeito), o carvão, a lignite, os combustíveis para transportes, o gás de petróleo liquefeito, a biomassa, como foi delimitada na directiva 2001/77/CE e as fontes de II-8 Enquadramento Energético de Portugal energia renovável. De uma forma genérica pode dividir-se a produção de energia a partir de fontes de energias fósseis e de fontes de energia renovável, isto é, sermos produtores autónomos ou não autónomos de energia. O peso da energia importada (matérias-primas), na balança de mercadorias FOB (Free on Board - despesas suportadas desde o armazém do vendedor até ao cais do porto de origem), é bastante relevante com se ilustra na Figura 10. A energia importada é proveniente de fontes de energia fóssil, enquanto que as fontes de energia renovável são a única forma de independência do exterior. Para se diminuir a percentagem de energia importada, além de se apostar nas energias renovável, como poderá verificar-se no Capítulo 5, terá de se evoluir no sentido da eficiência energética. A importação de energia irá perdurar já que continuaremos a ser dependentes das fontes de energia fóssil, todavia, assim as necessidades tenderão a diminuir. Deste modo, torna-se fundamental aumentar a eficiência energética no consumo mas também na área da produção para se obter um menor peso possível da energia importada na balança de mercadorias FOB. Para se analisar o impacto económico da energia tem de ser estudada obrigatoriamente a eficiência energética para cada uma das fontes de energia mencionadas. Os países da OCDE, principalmente os da União Europeia, têm vindo a reflectir sobre o CEF (consumo de energia final). Assim, o parlamento europeu implementou a directiva de 2006/32/CE relativa à eficiência na utilização final de energia e aos serviços energéticos, obrigando a que cada estado membro publique um plano de acção para a eficiência energética. Como tal, Portugal aprovou, através do decreto-lei 80/2008, o seu plano nacional de acção para a eficiência energética designado por “Portugal eficiência 2015”. II-9 Enquadramento Energético de Portugal 14,7% 85,3% Energia Outras Mercadorias Figura 10- Peso da energia importada na balança de mercadorias FOB em 2007 (Factura energética portuguesa, 2008). 2.6.1 – Produção de energia eléctrica em Portugal. A produção de energia eléctrica e a própria aquisição (energia importada) é de extrema importância para todos os sectores de actividade. O consumo de energia tem vindo a aumentar nos últimos anos, contudo, as perdas e auto-consumo têm vindo a diminuir, como ilustra a Figura 11. Este facto ocorre com o aumento da produção de energia eléctrica a partir das FER que permitiram que a distância entre a produção e o consumo de energia eléctrica diminuísse, desta forma, ocorreu um aumento da eficiência energética na rede de distribuição Apesar disso, a aquisição de energia proveniente do exterior tem vindo a aumentar gradualmente, devendo-se este fenómeno ao facto da energia eléctrica importada ter um custo reduzido e poder ser utilizada em casos de maior necessidade da rede. Em relação à energia térmica tem tido uma evolução constante ao longo do tempo e representa a maior parcela de energia eléctrica produzida. Quanto à energia hidráulica tem variado de uma forma bastante oscilante, facto este que remete muito para a média de pluviosidade anual. II-10 54482 52648 51579 49646 47950 44631 43220 39216 50 000 46747 ktep 60 000 54741 Enquadramento Energético de Portugal 40 000 5 170 5 535 5 969 5 225 5 143 5 923 5 307 5 451 10 000 5 087 20 000 5 995 30 000 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Perdas e auto-consumo Energia Importada em kW (1GWh=86tep) Térmica Geotérmica, eólica Hidráulica Figura 11-Produção, perdas e auto-consumo de energia eléctrica em Portugal (DGEG). Através da Tabela 2, pode analisar-se as necessidades energéticas para a produção e o consumo de energia eléctrica. Verifica-se que houve uma diminuição na utilização de petróleo (fuelóleo), tendo esta redução sido compensada pelo maior consumo de gás natural. Não obstante, o petróleo usado para a produção de electricidade ainda é bastante significativo, já que corresponde a 10,08% do consumo desta fonte de energia primária em Portugal. O carvão apresenta uma utilização com poucas oscilações ao longo dos anos estudados, já que é um combustível com um custo de aquisição reduzido apesar de ser também bastante poluente. O consumo desta fonte de energia primária é essencialmente para a produção de energia eléctrica, cerca de 93,89%, e o restante é utilizado pela indústria. A energia eléctrica importada tem aumentado nos últimos anos e apresenta um preço de aquisição bastante económico, sendo necessária para colmatar os picos de consumo. II-11 Enquadramento Energético de Portugal Tabela 2 - Necessidades energéticas para a produção e consumo de energia eléctrica (DGEG). Fontes de energia Importada Consumo em 2007 (ktep) Preço médio em Euros (1€=1,3703$) % no CEP para cada energia em 2007 Rácio 2007/1998 Carvão 2 707 56,42/t 93,89 1,01 Petróleo 1 478 375,03/t 10,08 0,47 Gás natural 2 495 0,38/m3 65,53 6,49 Electricidade 644 0,046/kWh 100 26,83 2.6.2 – Produção de energia eléctrica a partir das centrais térmicas Como se consta através da Figura 12, grande parte da energia eléctrica é produzida a partir das centrais térmicas, como tal, será feita uma análise para compreender esta forma de produção. Existe em Portugal um leque variado de centrais termoeléctricas a operar, ou seja, utilizam-se centrais a funcionar a carvão, a gás natural e a fuelóleo. Estas centrais utilizam fontes de energia de origem fóssil, mas futuramente existirão centrais termoeléctricas cujo o combustível será a biomassa. A Figura 12 ilustra os consumos de energia, onde se constata que a utilização de energia na forma de fuelóleo, proveniente do petróleo, tem vindo a diminuir, enquanto que a utilização do gás natural teve um aumento acentuado. Este aumento deve-se ao facto de o gás natural apresentar um custo menor, quando comparado com o petróleo e de ser uma fonte de energia menos poluente. Em relação ao carvão verifica-se um consumo elevado, sendo em 2007 a fonte de energia importada mais utilizada para a produção de electricidade, seguido pelo gás natural e pelo petróleo respectivamente. Em relação ao petróleo passou de fonte de energia mais utilizada em 1998 para a menor em 2007. Este facto evidência a preocupação que Portugal tem tido pela sua dependência do petróleo, vai de encontro com as políticas tomadas no que respeita à eficiência na utilização final de energia e em relação aos serviços energéticos. As centrais termoeléctricas contribuem significativamente para as importações líquidas de energia, como tal, será efectuado um estudo sobre o real peso no balanço energético. II-12 Enquadramento Energético de Portugal ktep 3 500 3 000 2 500 2 000 1 500 1 000 500 0 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Carvão Petróleo Gás natural Figura 12-Consumo das fontes de energia para as centrais termoeléctricas (DGEG). O consumo de energia nas centrais térmicas corresponde às fontes de energia ilustradas na Figura 12, ou seja, à utilização do carvão, do gás natural e do petróleo. A soma destas parcelas de energia perfaz um total de 6681 ktep, correspondendo a 26,22% do CEP em Portugal e de aproximadamente 3,85% na balança de mercadorias FOB em 2007. Um valor bastante elevado que, apesar do aumento na produção de electricidade para colmatar as necessidades (Figura 11), a energia consumida nas centrais térmicas diminuiu quando comparada com os últimos anos. Este facto deve-se ao aumento da produção de electricidade proveniente das FER e da electricidade importada. 2.6.3 – Produção de energia eléctrica: enquadramento de Portugal na OCDE Numa economia global, a troca de bens e serviços é fundamental para o desenvolvimento económico de cada país. O balanço energético nacional deve ser enquadrado neste ponto de vista, com a produção dos restantes países da OCDE e com o resto do mundo para equiparar a produção de electricidade. Através da Figura 13, pode comparar-se a produção de electricidade entre Portugal com a média da produção dos restantes países da OCDE e o resto do mundo. Torna-se exequível concluir que a OCDE tem uma cota elevada de produção através da energia nuclear enquanto Portugal não utiliza esta fonte de energia, mas compensa tal facto com uma maior utilização do gás natural e de produtos petrolíferos. Enquanto que o resto do mundo tem energia nuclear, apesar de em menor percentagem que a média da OCDE, utiliza também como Portugal II-13 Enquadramento Energético de Portugal mais petróleo que a OCDE. Contudo, verifica-se a elevada utilização de carvão na produção de energia quer por Portugal bem como na OCDE e no resto do mundo. Tal facto é preocupante uma vez que se trata de uma fonte de energia extremamente poluente, porém o seu baixo custo torna-a interessante sobre o ponto de vista financeiro. 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Nuclear outro combustiveis renovaveis Hídrica Gás natural Petróleo Carvão OCDE Não - OCDE Portugal Figura 13- Comparação da produção nacional da electricidade com a dos países da OCDE, 2005 (Peter et al, AIE). 2.7 – Conclusões do capítulo Na última década, Portugal diminuiu a sua dependência energética em relação ao petróleo, pelo facto de ter diversificado as suas fontes de energias primárias. Prova disso foi a penetração do gás natural no mercado energético, representando em 2007 cerca de 15,02% do total da energia primária consumida e a proliferação das energias renováveis. Contudo, existe ainda uma forte dependência do exterior, já que em 2007 as importações líquidas da energia primária correspondiam a 86% do total da energia primária consumida. Desta percentagem, 67% corresponde apenas à importação do petróleo. Porém, o consumo desta energia diminuiu aproximadamente 13% entre 1998 e 2007. Este aumento pode não demonstrar uma diminuição significativa, todavia ocorreu um acréscimo de 16% no consumo de energia primária no período de 1998 a 2007. Esta eficiência é justificada pela diminuição das perdas na distribuição da energia eléctrica e no aumento da produção através das fontes de energia renovável. II-14 Enquadramento Energético de Portugal No que concerne à intensidade energética em Portugal, esta ultrapassa a média da UE-27 desde 1998. O peso da energia na balança de mercadorias FOB corresponde a 14,7% o que evidencia o porquê da elevada intensidade energética no país. II-15 CAPÍTULO III Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental Conteúdo do Capítulo No seguimento do capítulo anterior, estudar-se-á o sector dos transportes, já que este sector é o mais dependente das fontes de energia derivadas do petróleo. Desta forma, foi analisado o consumo de energia por tipo de transporte, a evolução da taxa de motorização, o volume de transportes rodoviário de mercadorias em relação à União Europeia e veículos em circulação, por idade e tipo de veículo. Devido à importância que este sector tem na economia, foram analisadas as políticas de eficiência energética. 3.1 Desenvolvimento sustentável no sector dos transportes O consumo no sector dos transportes em Portugal, como no resto do mundo, tem vindo a aumentar, uma vez que a globalização assim o exige. Contudo, este aumento torna-se preocupante devido à situação de crise e à volatilidade da cotação das matériasprimas, principalmente em relação ao petróleo e aos problemas ambientais. Como se referiu no capítulo anterior, este sector consome praticamente produtos petrolíferos, utilizando essencialmente o petróleo. Esta matéria-prima corresponde a 95,4% das necessidades energéticas neste sector e representa 46,73% do CEP desta matéria-prima. Apesar desta dependência energética e dos problemas ambientais, existe uma relação muito próxima entre o crescimento económico e a actividade dos Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental transportes. Por isso, torna-se inevitável um desenvolvimento sustentável neste sector, já que a procura dos transportes está a aumentar mais que o crescimento económico, sendo este o sector que mais contribui para a dependência energética e para a emissão de GEE. Torna-se, assim, necessária uma intervenção rápida na implementação de políticas energéticas, ambientais e sociais. Desta forma, a organização das Nações Unidas (ONU) e a união Europeia (UE) têm vindo a implementar medidas que visam reduzir o impacto do sector dos transportes no meio ambiente e na racionalização de recursos energéticos. Além disso, têm vindo a ser adoptadas políticas e na última conferência das Nações Unidas, em Dezembro de 2007 sobre alterações climáticas, surgiu a promessa de se atingir um novo acordo sobre a redução de emissão de gases de efeito de estufa. Nesta conferência, a UE teve um papel essencial, reforçando o seu compromisso de luta contra as alterações climáticas. Após a conferência, a UE fez um comunicado intitulado “Duas vezes 20 até 2020”, “As alterações climáticas, uma oportunidade para a Europa”, no qual se estabeleceram dois objectivos principais. O primeiro consiste na redução de emissões de GEE de pelo menos 20% até 2020, podendo ir até 30% no caso de se obter um acordo internacional. O segundo tem como meta 20% do consumo energético da UE ser proveniente das FER até 2020. Ficou nesta conferência definida uma estratégia quanto ao futuro, para além de 2020, com objectivo de reduzir para metade as emissões globais até 2050. Neste contexto, o sector dos transportes, devido ao seu elevado consumo, tem uma importância fulcral tanto na redução de emissões de GEE bem como na implementação de combustíveis provenientes das FER. Desde cedo que a UE tem vindo a intervir nos diversos sectores. Em relação aos transportes, publicou o segundo Livro Branco no qual o tema é “A política dos transportes no horizonte 2010: A hora das opções”. Em relação à problemática dos combustíveis, isto é, à forte dependência existente em relação ao petróleo nos transportes, a UE publicou o Livro Verde estabelecendo a meta de introduzir 20% de combustíveis provenientes de FER até 2020. III-2 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental 3.1.2 – Importância do sector dos transportes em Portugal para as políticas energéticas As alterações climáticas e os seus efeitos negativos, nomeadamente o aumento do efeito de estufa natural, têm vindo a preocupar a humanidade. A UE bem como os restantes países da ONU, decidiram actuar, com o objectivo de estabilizar as concentrações das emissões de GEE e assinaram o protocolo de Quioto (PQ) em Dezembro de 1998. Todavia, apenas em 16 de Fevereiro de 2005, o protocolo de Quioto entrou em vigor na sequência de rectificação por 55 países, correspondendo a um mínimo de 55% das emissões totais de dióxido de carbono. Este protocolo tem como referência as emissões totais de dióxido de carbono existentes em 1990 e foram atribuídas metas a todos os países que aderiram a este protocolo. Desde sempre que a Europa assumiu uma posição de destaque no que diz respeito às alterações climáticas, tendo assumido o compromisso de uma redução de emissões globais de 8% no primeiro período de cumprimento do PQ de 2008 até 2012. Contudo, a União Europeia na última conferência de alterações climáticas, em Dezembro de 2007, assumiu reduzir no mínimo 20% na emissão de GEE (podendo atingir 30% no caso de um acordo internacional) até 2020 e de 50% em 2050 (Duas vezes 20 até 2020,2008). Portugal, no panorama da UE e respeitando as obrigações do PQ, deve limitar o aumento das suas emissões em 27%, face às de 1990. Esta meta é bastante ambiciosa e como tal tiveram de ser adoptadas políticas contra a emissão de GEE. Desta forma, Portugal implementou o programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC 2004), (aprovado pela resolução de Conselho de Ministros nº119/2004). Neste contexto, salienta-se ainda a aplicação no espaço da UE do comércio de Licenças de emissões (CELE), onde se obriga que cada país elabore um Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão (PNALE) específico. Deste modo, o estado português elaborou o PNALE I ou PNALE 2005-2007 (aprovada pela resolução do Conselho de Ministros n.º 53/2005, de 3 de Março), tendo sido depois submetido a aprovação pela comissão Europeia. No entanto, devido à evolução das emissões de GEE e da projecção em baixa da evolução do PIB até 2010, o PNAC 2004 e o PNALE I tiveram que ser fortemente modificados para cumprir as metas estipuladas no PQ. Desta revisão surgiu o PNAC 2006 e posteriormente o PNALE II ou PNALE 2008-2012. É importante salientar que no PNAC 2006 tomaram-se medidas não contempladas pelo CELE. III-3 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental No PNAC 2006 existe uma preocupação de controlar a evolução do balanço nacional de emissões de GEE. Na Figura 14 pode verificar-se a evolução dos sectores de actividade, para um cenário de referência, em relação ao ano de 2010. Neste plano foi integrada a floresta, uma vez que esta contribui para a diminuição de GEE. O sector que apresenta o maior crescimento na emissão de GEE é o sector dos transportes, com um aumento de 110%, representando um total de 24% na emissão total de GEE. Apenas o sector da indústria (cerca de 26% do total), apresenta uma maior emissão de GEE em 2010. Contudo, demonstra um crescimento de 45% face a 1990, o que torna o sector dos transportes uma área predominante. Assim, é necessária uma maior intervenção neste sector, sem esquecer os restantes, para que Portugal respeite os compromissos internacionais. Floresta Resíduos Agricultura Outros sectores Transportes Industria da construção Industria da energia -10000 0 10000 20000 2010 cenário de referência 30000 40000 50000 1990 Figura 14-Evolução das emissões de GEE (1990/2010), estimadas para o plano de referência (PNAC, 2006) 3.2 – Caracterização do consumo de energia no sector dos transportes O consumo de energia no sector dos transportes tem uma relação directa com o impacto ambiental causador das alterações climáticas. Porém, este sector de actividade passou a ter associado os problemas de consumo, uma vez que, os preços dos combustíveis provenientes do petróleo, essenciais para o sector, tiveram um forte III-4 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental aumento nos anos de 2007 e 2008. Todavia, e como se referiu anteriormente, o consumo neste sector tem vindo a aumentar como se observa na Figura 15. Atendendo que os combustíveis utilizados são proveniente do petróleo, estamos perante uma situação de forte dependência neste sector. Este sector divide-se em quatro grupos sendo esses: transportes aéreos, transportes fluviais, transportes ferroviários e transportes rodoviários. Destes meios de transporte verifica-se que o que apresenta maior consumo é o rodoviário com mais de 90%. Sendo este grupo o grande responsável pelo aumento verificado no sector, já que os restantes grupos permaneceram constantes. O sector rodoviário teve um aumento significativo (cerca de 100%) entre 1990 a 2006. Além disso, denota-se que desde 2002 o “peso” deste grupo permanece constante. Mtep 500 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Transportes aéreos nacionais Transportes fluviais Transportes ferroviários Transportes Rodoviários Figura 15- Evolução do consumo de energia por tipo de transporte. (Relatório do estado do ambiente, 2007). Este agravamento no consumo originado pelo sector rodoviário deve-se ao aumento da taxa de motorização, que desde 1990 até 2006 teve um crescimento superior a 100%, como se ilustra na Figura 16. A taxa de motorização aumentou consideravelmente, uma vez que também o nível de vida dos portugueses evoluiu de forma positiva durante este período. Não obstante, no ano de 2007, a taxa de motorização diminuiu, facto que não ocorria desde de 1990. No entanto, a taxa de motorização de Portugal continua inferior à da EU. III-5 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental 500 nºveiculos/1000habitantes 450 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Figura 16-Evolução da taxa de motorização (Relatório do estado do ambiente, 2007). Outro indicador que permite justificar o aumento elevado no consumo deste sector é a idade do parque automóvel. A Figura 17 ilustra por idade e tipo de veículo o parque automóvel existente. Verifica-se que os veículos ligeiros com idade inferior a 10 anos correspondem a 60% no caso de ligeiros de passageiros e 70% nos ligeiros comerciais. O grande problema encontra-se nos veículos pesados, verificando-se para os pesados de mercadorias que cerca de 40% têm idade inferior a 10 anos e nos de passageiros situa-se perto dos 50%. Contudo, os veículos pesados de mercadorias têm mais de 20% de viaturas com idades entre os 15 e os 20 anos e de 10 % de viaturas com idades superiores a 20 anos. No que concerne aos veículos pesados de passageiros, aproximadamente 15% de viaturas têm idade superior a 20 anos e a mesma percentagem com idades compreendidas entre os 15 e os 20 anos. Estes números são um forte indicador da elevada emissão de GEE por parte dos transportes rodoviários. III-6 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Ligeiros Passageiros Comerciais Ligeiros Pesado Mercadorias Pesado de Passageiros até 1 ano de 1 a 2 anos de 2 a 3 anos de 3 a 4 anos de 4 a 5 anos de 5 a 10 anos de 10 a 15 anos de 15 a 20 anos mais de 20 anos Figura 17-Veiculos em circulação, por idade e tipo de veículo, em 2007 (Relatório do estado do ambiente, 2007) Neste contexto de aumento da taxa de motorização e da emissão de GEE, constata-se que Portugal demonstra o maior índice do volume de transporte rodoviário de mercadorias na Europa a 27, como ilustra a Figura 19. Este facto, coloca Portugal dependente deste meio de transporte para transaccionar as suas mercadorias. Desta forma, o país deve procurar diversificar mais o meio de transporte, para assim diminuir a sua dependência rodoviária. Deveria considerar os grupos ferroviário e marítimo como alternativas, uma vez que estes apresentam uma redução de emissões de GEE. III-7 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental Portugal Grécia Espanha Bulgária Irlanda Estónia Roménia Lituânia Austria Hungria Alemanha Eslovénia Letónia Itália U - 27 Polónia Holanda Republica Checa Suécia França Luxemburgo R.U. Bélgica Finlândia Dinamarca Chipre Eslováquia 0 50 100 150 200 Figura 18-Evolução do volume de transporte rodoviário de mercadorias, por unidade do PIB (1995=100) (Relatório do estado do ambiente, 2007). 3.3 – Eficiência energética A eficiência energética nos transportes é um tema fulcral, perante a crise económica e a volatilidade dos preços de aquisição das matérias-primas, principalmente III-8 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental em relação ao petróleo. Portugal, bem como a UE, despertou para o problema energético e a eficiência energética e para a subsequente importância no controlo do consumo de energia e das emissões de GEE. Através da Figura 19 compara-se a contribuição do sector dos transportes na emissão de GEE e no consumo de energia final entre Portugal e a UE. Verifica-se que Portugal apresenta uma média superior no consumo de energia, bem como na emissão de GEE do que a UE. Portugal tem de colmatar esta discrepância na contribuição deste sector de actividade face à UE. Consumo de energia final CO2 GEE 0 10 20 Média da EU-27 30 40 % Portugal Figura 19-Contribuição do sector dos transportes para as emissões dos principais poluentes e na utilização de energia, na EU-27 e em Portugal, 2007 (Relatório do estado do ambiente, 2007). Deste modo, Portugal aprovou (decreto-lei 80/2008), o Plano Nacional de Acção para a Eficiência Energética (PNAEE), designado também por “Portugal Eficiência 2015”. O grande objectivo deste plano consiste na implementação de medidas (para os diversos sectores), para a redução de 10% de energia final até 2015. No que diz respeito ao sector dos transportes implementaram-se três grandes programas. O programa Renove Carro, promotor da eficiência energética no transporte particular, o Mobilidade Urbana, que incentiva o uso de transportes públicos e o Sistema de Eficiência Energética nos transportes que consiste na regulação do sistema de transportes. III-9 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental 3.3.1 – Programa Renove Carro Este programa consiste em quatro grandes medidas, a Revitalização do programa de abate veículos em fim de vida, a Tributação Verde (medida prevista no PNAC 2006), o Pneu Certo e Novos Veículos mais “conscientes” para a poupança de combustível. A primeira medida apresenta como incentivos a redução no Imposto sobre Veículos (ISV), nos automóveis ligeiros novos. Pretende também substituir parcialmente o ISV pelo Imposto Único de Circulação (penalizando os veículos com menor eficiência), e alargar os objectivos à eficiência no que respeita à atribuição do IUC. Esta medida tem com objectivo atingir em 2015 um parque de veículos ligeiros com idade superior a 10 anos, correspondente apenas a 30% do total (em circulação). Através da Tributação Verde serão criadas medidas para incentivar veículos automóveis com baixa emissão de CO2, incorporando o factor de emissão de CO2 no cálculo do IUC e ISV. Aos veículos híbridos será atribuída uma redução de 50% no ISV. Através desta medida espera-se uma redução de emissão de CO2 nos veículos novos de 120 gCO2/Km em 2010 e de 110 gCO2/Km em 2015. Na medida Pneu certo serão realizados acordos (voluntários) para que os veículos ligeiros novos passem a incorporar pneus eficientes (com baixa resistência ao rolamento), incentivar a verificar periodicamente a calibração pneumática. Assim, até 2015, pretende-se duplicar a utilização de pneus energeticamente mais eficientes e reduzir em 15% o parque de viaturas com pressão incorrecta nos pneus. A medida Novos veículos mais “conscientes” para a poupança de combustível consiste em atingir acordos voluntários com os diferentes fabricantes para incorporarem equipamentos (computadores de bordo, sistemas de verificação automática da pressão dos pneus), que permitam maior eficiência. O objectivo desta medida é alcançar em 2015 um total de 20% das vendas anuais de veículos novos. 3.3.2 – Programa Mobilidade Urbana Este programa é constituído por quatro medidas o Ordenamento do território e Mobilidade Urbana nas capitais de distrito, Planos de Mobilidade Urbana em Office parks e parques industriais, Melhoria da eficiência dos transportes públicos e a Plataforma de Gestão de tráfego nos grandes centros urbanos. III-10 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental A primeira medida visa a criação e alargamento nos sistemas de metropolitano em Lisboa, Sul do Tejo, Porto e Mondego. Desenvolver as Autoridades Metropolitanas de transportes do Porto e Lisboa para uma melhor transferência do transporte individual para o colectivo, nas grandes áreas metropolitanas (Porto e Lisboa). Em relação à segunda medida pretende a criação de planos de mobilidade nos parques industriais com mais de 500 trabalhadores. Estabelece-se como meta que 50% das necessidades básicas sejam possíveis de realizar através de circuitos pedestres (menos de 15 minutos). No que concerne à Melhoria da eficiência dos transportes públicos pretende-se que a emissão nas frotas de táxis seja inferior a 110 gCO2 e incentivar nas frotas de transportes públicos Urbanos a utilização de mini-bus nas horas de vazio. O objectivo desta medida consiste em implementar um sistema para gerir as frotas no Porto e em Lisboa até 2010, ter em circulação 15% de veículos mini-bus e conseguir que 10% dos veículos em circulação tenham emissões de CO2 inferior a 110 gCO2 até 2015. Na última medida deste programa existe a preocupação de se criar uma plataforma inovadora na gestão de tráfego através da oferta de GPS para optimizar as frotas e adaptar com sinalização rodoviária. Assim, será criado um projecto-piloto operacional até 2010 e implementado no Porto e em Lisboa até 2015. 3.3.3 – Programa Sistema de Eficiência Energética nos Transportes Neste programa utilizam-se três medidas que tiveram como base o PNAC 2006 sendo elas Portugal Logístico, Auto-Estradas do Mar e Alteração da Oferta CP e ampliou-se o Sistema de Eficiência Energética nos Transportes (SEET). O Portugal Logístico foi criado com o objectivo de aumentar a eficiência no transporte e nas cadeias de abastecimento. Deste modo contempla desenvolver doze plataformas multimodais e dois centros de carga aérea de forma a beneficiar o reordenamento do território, para estimular os transportes mais eficientes e inovar tecnologicamente. Para tal, será necessária uma interligação entre os fluxos de mercadorias e de informação, para que se atinjam os objectivos de transferir mercadorias do modo rodoviário para os modos ferroviários e marítimos. Pretendendose reduzir em 5%, o tráfego rodoviário nas plataformas logísticas até 2015. III-11 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental A medida das Auto-Estradas do Mar visa uma transferência modal entre as exportações de mercadorias por modo rodoviário e o modo marítimo de 20% em 2015. Como tal, será necessário incorporar o sistema marítimo nas Auto-Estradas do Mar utilizando-se os corredores do atlântico e do mediterrânico para que, desta forma, seja possível uma transição de 20% do modo rodoviário para o modo marítimo. A medida alteração da oferta da CP, tem como objectivo reduzir os tempos de viagem nas principais viagens, para promover este modo de transporte e a eficiência da exploração. A última medida deste programa, Sistema de Eficiência Energética nos transportes (SEET), pretende criar critérios rigorosos para o regime de licenciamento no transporte de mercadorias. Deste modo, este programa obriga que as idades médias das frotas sejam inferiores a 10 anos e será efectuada uma revisão do regulamento de gestão de consumo de energia, através de planos para minimizar a intensidade carbónica. No entanto, será necessário dinamizar e controlar as renovações das frotas e incentivar sistemas de gestão de redução catalítica utilizando lubrificantes fuel economy. Deverão ainda ser criados sistemas de gestão de frotas e optimização de tráfego ferroviário e marítimo para, desta forma, apoiar as restantes medidas mencionadas neste programa. 3.4 – Conclusões do capítulo Após a análise do enquadramento energético, verificou-se que o sector dos transportes é o mais dependente em termos energéticos do exterior. Desta forma, neste capítulo efectuou-se um estudo das necessidades deste sector e das políticas previstas para minorar os impactos na economia. Averiguou-se que o petróleo era a fonte de energia primária essencial para a actividade deste sector, representando aproximadamente 95,4% das necessidades energéticas. Este consumo representa cerca de 46,73% do CEP desta fonte de energia primária. O sector dos transportes é constituído por 4 grupos sendo eles o rodoviário, o aéreo, o fluvial e o ferroviário. Destes, o transporte rodoviário representa mais de 90% do consumo de energia. Neste tipo de transporte o pesado de mercadorias coloca Portugal como país da UE-27 com a média mais alta de utilização deste meio de transporte. Desta forma, o contributo deste sector para as emissões dos principais poluentes e na utilização de energia coloca III-12 Sector dos transportes: enquadramento energético e ambiental Portugal com uma média superior na emissão de GEE e no consumo de energia do que a UE-27, no sector dos transportes. O estado português implementou o PNAEE que visa essencialmente em diminuir o transporte rodoviário, principalmente no que concerne aos transportes pesados de mercadorias. Para conseguir o objectivo de reduzir em 10% o consumo de energia final até 2015. III-13 CAPÍTULO IV Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia Conteúdo do Capítulo No presente capítulo, será abordada a influência das fontes de energia renovável (FER), no balanço energético e os respectivos impactos no sistema eléctrico nacional. Desta forma, verificou-se o peso de cada FER na produção de energia eléctrica em Portugal, bem como o custo médio por tecnologia. A microprodução foi também analisada tal como o acesso à actividade. Para uma melhor análise da penetração das FER, em Portugal, foi estudada a utilização das FER para a produção de Energia Eléctrica (EE) e para os biocombustíveis, isto é, substitutos do gasóleo e da gasolina, uma vez que o consumo de petróleo contribui para a dependência energética exterior e o sector dos transportes está “refém” desta energia primária. 4.1 – Produção de energia eléctrica a partir das fontes de energia renovável A produção de EE a partir de FER, ilustrada na Figura 20, permite verificar que nos últimos três anos não tem vindo a ter a evolução esperada, uma vez que em 2008 registou-se uma diminuição na produção face a 2007. A grande causa para a diminuição da produção de EE a partir das FER consiste na diminuição da produção da energia hídrica. Comparando-se a produção da energia hídrica com os anos anteriores, constatase que teve uma das produções mais baixas, sendo apenas superior face ao ano de 2005. Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia Contudo, a produção das outras FER, evoluiu de uma forma positiva, onde a energia eólica se destaca com o maior aumento. A biomassa e os RSU aumentaram mas não de uma forma tão abrupta como a energia eólica. No ano de 2008 cerca de 45% da EE consumida no sistema eléctrico nacional (SEN) foi proveniente das FER. GWh Fotovolta ica Biogá s 20000 Biomassa/RSU 15000 Eólica 10000 PCH (até 10 MW) 5000 PCH (entre 10 e 30 MW) Grande Hídrica 0 Figura 20-Evolução histórica da energia eléctrica através das FER em Portugal continental (Estatísticas rápidas Dezembro de 2008 DGEG) Quanto à potência instalada, verifica-se que desde 2001 até 2008 houve um aumento significativo (cerca de 41%), como ilustra a Figura 21. A FER que contribuiu para este aumento foi a energia eólica com um aumento de 114 MW para 2799 MW de potência instalada desde 2001 até 2008. IV-2 Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia MW Fotovoltaica 9000 Biogás 8000 7000 Biomassa/RSU 6000 Eólica 5000 4000 PCH (até 10 MW) 3000 2000 1000 PCH (entre 10 e 30 MW) 0 Grande Hídrica Figura 21-Evolução da potência total instada em renováveis Portugal continental (Estatísticas rápidas Dezembro de 2008 DGEG) Para um melhor enquadramento da produção de EE a partir das FER, é necessário analisar o “impacto” de cada uma das fontes e compreender as tendências futuras em termos de potência instalada para relacionar com a produção real de cada FER. Assim, a Tabela 3, ilustra a percentagem de cada FER em termos de potência instalada e de EE produzida em Portugal continental. Verificando-se que a energia hídrica e a eólica são as que têm maior representação na potência instalada com 52% e 34%, respectivamente. Porém, existe um desfasamento na produção de EE, uma vez que a energia hídrica produziu cerca de 41,62% enquanto que a eólica produziu cerca 38,29% no total da produção da EE a partir das FER. Este facto, como se referiu, devese à pouca pluviosidade no ano de 2008 e alerta-nos para o perigo de as energias renováveis estarem “reféns” das condições meteorológicas. Desta forma, deve-se diversificar a potência instalada pelas diversas FER, como é o caso do biogás que não é dependente das condições meteorológicas. Esta FER apesar de ter um contributo pouco significativo na potência instalada, cerca de 0,16%, contribui com 0,46% no total de EE produzida através das FER. IV-3 Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia Tabela 3- Peso de cada FER na produção de energia eléctrica em Portugal continental, 2008 (Estatísticas rápidas Dezembro de 2008 DGEG). Fontes de energia Renovável Potência instalada (MW) Peso da potência instalada no contexto das FER (%) Produção de energia eléctrica (GWh) Peso na produção de EE a partir das FER (%) Grande hídrica 4234 51,94 6190 41,62 PCH (10 a 30 MW) 281 3,45 478 3,21 PCH (até 10 MW) 295 3,62 436 2,93 Eólica 2799 34,34 5695 38,29 Biomassa e RSU 469 5,75 1968 13,23 Biogás 12,9 0,16 68 0,46 Fotovoltaica 56,5 0,69 38,1 0,26 4.1.1 – Produção em regime especial A produção em regime especial (PRE) é uma actividade licenciada ao abrigo de regimes jurídicos, como incentivo à produção de EE, utilizando tecnologias de produção de calor e electricidade ou através de FER endógenas. Considera-se PRE a produção de EE que utilize recursos hídricos nas centrais até 10 MVA podendo, em alguns casos, o limite alcançar 30 MW e utilização de resíduos (urbanos, industriais e agrícolas). Em baixa tensão o limite é de 150 kW de potência instalada. Por microprodução a potência instalada pode no máximo ter 5,75 kW, utilizando-se processos de cogeração e outras fontes de energia renovável. O sector da PRE tem vindo a evoluir expressivamente nos últimos anos, como se ilustra na Figura 22. A PRE teve um aumento de 189% entre 2000 e 2008, tendo uma representação de 28,10% no Sistema Eléctrico Nacional (SEN) em 2008. IV-4 Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia [%] 40,00 35,00 28,10 30,00 24,70 22,00 25,00 17,50 20,00 15,00 9,70 10,80 12,50 13,00 14,40 10,00 5,00 0,00 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Figura 22-Peso da potência instalada no sistema eléctrico nacional através da PRE, em Portugal continental. (Informação sobre produção em regime especial, ERSE 2009) A PRE, apesar de ter um contributo significativo na produção de EE, grande parte da electricidade entregue ao SEN ocorre nos períodos de maior carência, como evidencia a Figura 23. Sendo, desta forma, também uma mais-valia ao SEN já que grande parte da entrega à rede de electricidade ocorre nas horas de maior “carga”. 13 % 15 % Horas de ponta 27 % Horas cheias 45 % Vazio Super vazio Figura 23-Energia entregue à rede por período de tarifário entre 2007 e 2008. (Informação sobre produção em regime especial, ERSE 2009) IV-5 Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia No estudo das FER é essencial caracterizar o custo por tecnologia bem como a eficiência energética para cada uma das fontes de energia. A Figura 24, ilustra o custo por FER na PRE verificando-se que a energia que apresenta maior custo é a fotovoltaica (338,3 €/MWh, em 2008), sendo o seu valor bastante superior quando comparada com as outras FER. Em relação às restantes fontes de energia, destaca-se a hídrica que apresenta um custo médio reduzido (88,8 €/MWh, em 2008). No que concerne às outras fontes de energia (biogás, biomassa, co-geração, eólica e RSU), estas têm custos médios muito similares. €/MWh 400 350 300 250 200 150 100 50 0 Biogá s Biomassa 2007 Cogeração Eólica Fotovoltaica Hídrica RSUs 105,7 2008 109,7 109,9 95,3 94,5 330,1 88,6 93,7 111,9 110,1 97,4 338,3 88,8 97,2 Figura 24- Custo médio por tecnologia em 2007 e 2008. (Informação sobre produção em regime especial, ERSE 2009) 4.2 – Microprodução de electricidade No seguimento da análise feita da PRE, devido à sua importância no SEN, será efectuado um estudo à microprodução uma vez que está incorporada na PRE. No qual se espera que venha a ter uma importância fulcral para o desenvolvimento económico e social em termos de eficiência e diminuição da dependência energética. Todavia, foi necessário um esforço para incentivar a sociedade a aderir a tal desafio, desta forma, teve de se desenvolver legislação para regulamentar esta área. O primeiro grande “passo” para fomentar a microprodução foi através do Decreto-Lei 68/2002 de 25 de Março, no qual se regulou a entrega à rede pública de electricidade em baixa tensão. Posteriormente, estabeleceram-se as bases gerais para a organização e o funcionamento IV-6 Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia do SEN através do Decreto-Lei 29/2006 de 15 de Março, onde se classificou a produção de EE em regime ordinário e em regime especial. Não obstante, a microprodução de electricidade não atingiu uma expressão significativa após 5 anos desde a entrada do Decreto-Lei 68/2002. Assim, criou-se o Decreto-Lei 363/2007 para simplificar o regime de licenciamento (criado pelo Decreto-Lei 68/2002), no qual um regime de simples registo electrónico e inspecção de conformidade técnica são necessários para se instalar uma unidade de microprodução. Para tal, foi necessário desenvolver um sistema de registo da microprodução (SRM), constituindo assim uma plataforma electrónica que encurtou um procedimento que anteriormente demorava alguns meses. O presente Decreto-Lei estipula que a produção de EE se destine principalmente a auto-consumo, podendo o excedente ser entregue à rede pública ou a terceiros, estando a potência limitada a 150 kW no caso de a entrega for efectuada ao SEN. Foram legislados dois regimes de remuneração, o regime geral e o regime bonificado. O regime geral é utilizado para a generalidade das instalações e o regime bonificado aplica-se às FER em que é necessário ter colectores solares térmicos no local, no caso de produtores individuais, e da realização de auditorias energéticas. Sendo os incentivos associados à venda de electricidade uma base para promover a água quente solar, complementando-se assim o que se estabeleceu no Decreto-Lei 80/2006 de 21 de Abril, que obriga a instalação destes sistemas nos novos edifícios. 4.2.1 – Acesso à actividade de microprodução As unidades de microprodução podem ser instaladas em todas as entidades que disponham de um contrato de compra de electricidade em baixa tensão, tendo de ser incorporadas no local da instalação eléctrica utilizada. No entanto, os produtores de EE não podem injectar na rede eléctrica de serviço público uma potência superior em 50 % à contratada, sendo este limite não aplicável apenas em nome de condomínios. A actividade, como se referiu anteriormente, deve ser sujeita a registo no SRM. O acesso à actividade pode ser restrito se o operador da rede de distribuição comunicar que o posto de transformação (onde se encontram os registos ligados), ao qual se fizer a ligação ultrapasse em 25 % a potência do posto de transformação. Esta restrição é apenas aplicável aos pedidos que o SRM recebe, dando cinco dias úteis para o operador de rede IV-7 Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia de distribuição o poder comunicar, caso contrário, o operador de rede terá de fornecer condições para se proceder a instalação. 4.2.2 – Remuneração e facturação Existem dois tipos de regimes de remuneração, o geral e o bonificado. O regime geral é aplicado aos produtores que não tenham condições de estar abrangidos pelo regime bonificado. A tarifa de venda (da EE) neste regime é idêntica à do comercializador de último recurso, com o qual o produtor se encontra interligado. O regime bonificado é concedido às unidades de microprodução que tenham uma potência de ligação até 3,68 kW e que utilizem FER (previstas no n.º 5 do artigo 11.º do Decreto-Lei 363 de 2007). Apesar da limitação da potência, este regime é aplicável apenas em três situações. A primeira, para entidades que queiram instalar unidades de cogeração e biomassa, têm de as utilizar também para o aquecimento do edifício. Na segunda condição, para unidades de microprodução que não utilizem a biomassa e cogeração, isto é, que tenham outras FER desde que disponham de colectores solares térmicos para o aquecimento de águas. Neste caso, é necessária a existência de pelo 2m2 de colectores solares térmicos. A terceira condição contempla a possibilidade de os condomínios poderem ser abrangidos por este regime, para tal, têm que realizar auditorias energéticas para implementar as medidas de eficiência energética necessárias. O regime bonificado tem uma tarifa única de referência desde o ano de instalação até aos cinco anos civis seguintes para cada produtor de EE. Após findar esse período terá um outro adicional de 10 anos aplicando-se a tarifa única de referência em vigor no dia 1 de Janeiro desse ano. Por fim, quando acabar esse período adicional a unidade de microprodução é remunerada através do regime geral. A tarifa única de referência para os primeiros 10 MW de potência registada a nível nacional é de 650 €/MW. Para cada 10MW adicionais de potência registada a nível nacional o produtor terá uma penalização de 5% na tarifa única de referência. Este limite foi fixado no ano em que o Decreto-Lei 273 de 2007 entrou em vigor, estando previsto um aumento anual e sucessivo de 20%. Contudo, a tarifa única é influenciada pelo tipo de energia renovável, como se indica na Tabela 4, sendo a energia solar fotovoltaica a que obtém 100% da tarifa única de referência. No caso das pilhas de combustível de hidrogénio resultantes da IV-8 Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia microprodução de origem renovável, a percentagem da tarifa única será dependente do tipo de energia renovável. Em relação ao limite de produção, a energia solar é a que apresenta um valor mais reduzido de 2,4 MWh/ano e as restantes energias a 4 MWh/ano. Tabela 4-Tarifário de referência para cada tipo de energia renovável (Decreto-Lei 273 de 2007). Fontes de energia renovável % da tarifa única de referência Limite de produção (MWh/ano) Solar 100 2,4 Eólica 70 4 Hídrica 30 4 Cogeração e biomassa 30 4 É importante referir que em ambos os regimes da microprodução, apenas a energia activa entregue à rede eléctrica de serviço público (RESP) é remunerada. 4.3 – Biocombustíveis A introdução de biocombustíveis no sector dos transportes tem um papel essencial no combate contra as alterações climatéricas, sendo esta medida das mais importantes previstas no PNAC. Esta política energética visa diversificar as fontes abastecimento energético e ao mesmo tempo desenvolver explorações agrícolas, permitindo a fixação de populações no meio rural. Existe o objectivo de se introduzir 10% de biocombustíveis em 2010 (aprovada pela resolução de Conselho de Ministros nº21/2008), superando assim a meta da UE (5,75 em 2010), obtendo-se evidentes ganhos a nível ambiental e ao mesmo tempo valorização de resíduos. Porém, é necessário analisar quais os combustíveis de que Portugal mais depende e enquadrar no saldo de importações e exportações. Deste modo, obteremos uma política energética, em relação aos biocombustíveis, mais enquadrada com as reais necessidades nesta área. Observando a Figura 25, verifica-se que Portugal tem excedentes de gasolina e necessidades de importar gasóleo. Em 2007, Portugal diminuiu o lucro no saldo de exportações e importações destas principais fontes de combustíveis face a 2006. A dependência em relação ao gasóleo está a aumentar de uma forma IV-9 Influência da produção a partir de fontes de energia renovável no mercado nacional de energia acentuada, e este indicador deve ser ponderado e incorporado nas políticas de implementação dos biocombustíveis, uma vez que as metas para a implementação de biodiesel e bioetanol são iguais, isto é, de 10 % em 2010 como se referiu anteriormente. É importante, para além deste objectivo, pensar no desenvolvimento tecnológico que será necessário, e uma vez que no futuro as metas vão aumentar, a UE estipulou a implementação de 20% em 2020. Alguns construtores de veículos estão cientes disso e já estão a adaptar os seus motores para poderem incorporar uma maior percentagem de biocombustível. (10 6 €) 700 600 500 400 Gasóleo exportado 300 Gasolina importada 200 100 0 2006 2007 Figura 25- Saldo de exportações e importações dos principais combustíveis (Factura energética portuguesa, 2008). 4.4 – Conclusões do capítulo A produção de EE a partir das FER não teve uma evolução esperada nos últimos três anos devido à fraca produção da energia hídrica prejudicada pela fraca pluviosidade. No entanto, ocorreu um aumento de 41% na produção das FER no período de 2001 a 2009. A FER que mais contribuiu para este aumento foi a energia eólica com um aumento de 114MW para os 2799MW de potência instalada. Deste modo, a PRE teve um aumento na ordem dos 189% entre 2000 e 2008, representando aproximadamente 28,10% da produção no SEN. Em termos do custo da tecnologia, a fotovoltaica apresenta-se como a FER com o maior custo, cerca de 338,3 €/MWh. IV-10 CAPÍTULO V Sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional Conteúdo do Capítulo Através deste capítulo demonstra-se a importância da previsão da produção de energia eléctrica a longo prazo. O sistema eléctrico nacional (SEN) tem de estar preparado para o aumento do consumo e, principalmente, para as solicitações em hora de ponta. Assim, avaliou-se a produção pelos diferentes regimes de produção, o regime ordinário e o regime especial. Foram evidenciadas as prospectivas de produção da energia eléctrica, tal como a estrutura da produção da energia eléctrica no cumprimento da meta “20-20-20”. 5.1 Produção de energia eléctrica em regime ordinário O regime ordinário pode dividir-se em dois grandes grupos de produção, a grande hídrica e as centrais térmicas. Estes dois grupos constituem uma base importante na produção de EE para o SEN, representando aproximadamente 55%. Através da Figura 26, é possível constatar a previsão da potência da grande hídrica até ao ano de 2019. No ano de 2008 existiam 4810 MW instalados e prevê-se um aumento de 1666MW e de 862MW em 2014 e 2019, respectivamente. Desta forma, espera-se um reforço de potência de 2528 MW (PDIRT) desde 2008 até 2019. Esta evolução prevista baseia-se no aumento de grupos de centrais hídricas existentes e na construção de novas centrais hídricas. Sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional No que concerne aos grupos hídricos existentes em 2008, não se antevê qualquer caso de desclassificação. MW 8000 7000 6000 Previsão de potência em 2019 5000 4000 Previsão de potência em 2014 3000 Potência em 2008 2000 1000 0 2008 2014 2019 Figura 26-Previsão da potência da grande hídrica em 2019 (PDIRT, 2008). Em relação às centrais térmicas pode observar-se, através da Figura 27, a previsão da potência até 2019, antevendo-se um aumento de 49%, sendo que os valores em 2008 eram de 5820 MW e em 2019 supõem-se que sejam 8679MW. Todavia, 3069 MW (52,73 %) da potência térmica instalada será desactivada e serão implementados 5928 MW, através de novos grupos. Desta forma, será revitalizada esta área de produção de EE desactivando-se as centrais mais poluentes e ocorrendo um acréscimo líquido de 2859 MW de potência neste período. V-2 Sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional MW 10000 9000 8000 Potência a activar até 2019 7000 6000 Potência a desactivar até 2019 5000 4000 Potência que não será desactivada até 2019 3000 2000 1000 0 2008 2019 Figura 27- Previsão da potência das centrais térmicas em 2019 (PDIRT 2008). A tabela 5 indica as centrais térmicas que existem em 2008 e que serão desactivadas até 2019. As centrais que se esperam que fiquem desactivadas são as mais poluentes, com a excepção de um grupo do carregado que funciona a gás natural. Tabela 5-Centrais térmicas existentes em 2008 a serem desactivadas (PDIRT 2008). Centrais térmicas Potência líquida (MW) Combustível Data de saída de serviço Carregado 2 $ 118 Fuel 07/2009 Carregado 2 $ 118 Fuel 07/2010 Carregado 2 $ 118 Gás natural 07/2011 Barreiro 56 Fuel 12/2009 Setúbal 4 $ 298 Fuel 12/2012 Sines 4 $ 298 Carvão 12/2017 Tunes 165 Gasóleo 12/2010 Através da Tabela 6 pode verificar-se quais as centrais térmicas que estarão em funcionamento em 2019, sendo estas a TGCC (turbina a gás de ciclo combinado) e a carvão. No que diz respeito à potência que se espera, esta será de 5694 MW e de 2984 MW, respectivamente. Apesar de o carvão ser uma matéria-prima poluente, cerca de 34,39 % das centrais existentes em 2019 funcionarão a carvão. Este facto deve-se, como V-3 Sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional foi demonstrado em capítulos anteriores, a esta ser uma fonte de energia bastante económica. Tabela 6-Centrais térmicas existentes 2019 (PDIRT 2008). Centrais térmicas existentes em 2008 Novas centrais térmicas até 2019 (*) – Centrais térmicas Potência líquida (MW) Combustível Tapada do Outeiro 990 Gás natural Ribatejo 1176 Gás natural Pego 584 Carvão Lares 784 Gás natural Lavos 784 Gás natural Pego 784 Gás natural Sines 784 Gás natural Carregado(*) 392 Gás natural Sines 2000 Carvão Lavos (*) 400 Carvão Localização assumida como hipótese. 5.2 – Produção de energia eléctrica em regime Especial A PRE tem vindo a desenvolver-se e assumiu um papel importante na produção de EE em Portugal, já que em 2008 a PRE correspondia a 28,1 % da potência eléctrica instalada em Portugal continental. Torna-se fundamental analisar a evolução que a rede eléctrica nacional antevê para esta área de produção. Deste modo, a Figura 28 mostra a evolução até 2019, esperando-se que exista um aumento de 69%, o que evidencia o forte empenho de Portugal em reforçar esta área de produção. V-4 Sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional MW 12000 Outras Renováveis 10000 RSU 8000 Biomassa 6000 Cogeração 4000 Pequena Hídrica 2000 Eólica 0 2009 2011 2014 2019 Figura 28-Previsão da produção em regime especial em 2019 (PDIRT 2008). A variação da potência prevista para a PRE entre 2009 e 2019 é evidenciada na Tabela 7, onde se constata que as fontes de energia actualmente menos representativas (biomassa, RSU e outras energia) apresentam o maior aumento. Não obstante, estas energias continuarão a ter uma potência instalada pouco significativa quando comparadas com a potência das outras fontes de energia da PRE em 2019. A eólica em 2019, bem como em 2009, continuará a ser a fonte de energia mais expressiva, contribuindo para tal o aumento calculado (PDIRT 2008), de 79%. Segue-se, em termos de importância na PRE, a cogeração e a pequena hídrica que terão um aumentos de 40% e 44%, respectivamente. Além disso, a Tabela 7 indica o rácio entre 2009 e 2019 de cada uma das fontes de energia envolvidas na PRE. Este rácio permite que haja uma percepção imediata da evolução de cada fonte de energia. V-5 Sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional Tabela 7- Comparação da produção em regime especial entre 2009 e 2019 (PDIRT 2008). 2009 2019 Rácio (MW) (MW) 2019/2009 Eólica 4500 8050 1,79 Pequena Hídrica 430 600 1,40 Cogeração 1800 2590 1,44 Biomassa 100 250 2,50 RSU 90 150 1,67 Outras Renováveis 145 300 2,07 Total 7065 11940 1,69 5.3 – Prospectiva produção da energia eléctrica em 2020 Após a análise das diferentes tipos de produção de EE, torna-se necessário um estudo em relação à evolução previsível. Desta forma, a Figura 29 apresenta o cenário de produção de EE no âmbito do cumprimento da meta “20-20-20”. 14 % 40 % 15 % PRE renovável Outra PRE Carvão 12 % Gás natural Grande hídrica 19 % Figura 29- Estrutura da produção da energia eléctrica no cumprimento da meta “20-20-20” (Segurança de Abastecimento ao nível da produção de electricidade, 2008) V-6 Sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional 5.4 – Conclusões do capítulo A sustentabilidade do SEN é fulcral para antever as necessidades de consumo a longo prazo para que haja capacidade de produção. Este estudo analisou as duas grandes áreas de produção, o regime ordinário e o regime especial. Em relação ao regime ordinário, espera-se que a grande hídrica tenha um reforço de 2528 MW aos 4810MW existentes até 2019. Este aumento de 52 % baseia-se no aumento de grupos existentes e na construção de novas centrais hídricas. A capacidade de produção esperada para as centrais térmicas em 2019 é de 8679 MW, isto é, um aumento de 49 % entre 2008 e 2019. No que concerne ao regime especial, antevê-se um aumento de 69% entre 2009 e 2019. A estrutura das fontes de energia que serão utilizadas na produção da EE no cumprimento da meta “20-20-20” será a PRE renovável 40%, a grande hídrica 19% o carvão 15%, outra PRE 14% e o gás natural 12%. V-7 Tendências futuras dos preços das energias CAPÍTULO VI Tendências futuras dos preços das energias Conteúdo do Capítulo No decorrer deste estudo de perspectiva de tendências energéticas torna-se fulcral analisar as tendências futuras das principais fontes de energia analisadas. Deste modo serão realizadas tendências futuras em relação à energia eléctrica e ao petróleo. No entanto, não se efectuaram tendências futuras em relação ao gás natural, uma vez que o gás natural e o petróleo evoluem de uma forma directamente proporcional. 6.1 Introdução Para a realização do estudo das tendências futuras dos preços de energia será utilizado um modelo de previsão com base em séries temporais. Deste modo realizar-seá um processo auto regressivo (AR) de segunda ordem. Segundo Levine et al (2005), para um melhor ajuste dos dados e para serem realizados prognósticos úteis em relação às tendências futuras de uma determinada variável pode tirar-se proveito das características da auto correlação, considerando-se métodos de modelação auto-regressiva. O modelo auto regressivo serve de base para estudos de volatilidade como no caso do estudo an Empirical Study of the Arrivals in Airline Reservation Systems realizado por Oliveira et al, 2008. VI-8 Tendências futuras dos preços das energias Como se referiu, o modelo será de segunda ordem e as previsões calculadas através da expressão (2). O resultado é o valor previsto ()* ), obtido através de valores do custo de aquisição de cada fonte de energia em estudo. No caso da electricidade através de valores anuais e no caso do petróleo através de valores mensais. )* + )*,- · /- + )*,0 · /0 , (2) onde , /- e /0 são os parâmetros a calcular através do Erro Absoluto Médio (EAM), para que seja o mínimo possível. 123 ; ∑8 567 |:5 ,:5 | (3) < onde )= é o valor real e o );= é o valor estimado. 6.2 – Tendências das tarifas de baixa tensão normal para potência menores que 20,7 kVA A tendência da tarifa simples da baixa tensão normal (BTN) para potências menores que 20,7 kVA, evidenciada na Figura 30, teve uma aproximação muito semelhante entre os valores previstos e os reais, como se observa até ao ano de 2009. O erro máximo entre as curvas do valor real e previsto é de 5,6 % no ano de 2000. Em relação ao ano de 2009 o erro é de 1,24$10-5, deste modo permite que as tendências de preço para esta tarifa possam ser consideradas fidedignas. VI-9 Tendências futuras dos preços das energias €/kWh 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 Real Previsto Figura 30- Tendências da tarifa simples da baixa tensão normal para potências menores que 20,7 kVA. Através da Tabela 8, ilustram-se os valores esperados até ao ano de 2015 e verificando-se que ocorra um aumento bastante significativo, uma vez que entre 2009 e 2015 o aumento previsto é de aproximadamente 96%, no custo desta tarifa da BTN. Tabela 8- Valores esperados para a tarifa simples da BTN para potências menores que 20,7 kVA. Ano Valor esperado (€) 2010 0,13067 2011 0,14317 2012 0,15895 2013 0,17916 2014 0,20489 2015 0,23774 Através da figura 31 pode verificar-se a evolução dos valores real e previsto, para o tarifário de vazio da baixa tensão normal, constata-se que as duas curvas têm uma aproximação bastante razoável. Os valores reais e previstos aprestam um erro máximo VI-10 Tendências futuras dos preços das energias de aproximadamente 7,4% para o ano de 2000. No que respeita ao ano de 2009 o erro é de 1,1$10-6, permitindo concluir que os valores futuros obtidos são bastante razoáveis. €/kWh 0,18 0,16 0,14 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,00 Real Previsto Figura 31- Tendências da tarifa de vazio da baixa tensão normal para potências menores que 20,7 kVA. A tabela 9 evidencia os valores esperados para a tarifa de vazio da BTN, onde se espera que ocorra um aumento expressivo no custo, tendo em conta o aumento esperado entre 2009 e 2015 de 156%. Contudo, esta tarifa será sempre mais vantajosa que a tarifa simples. Tabela 9- Valores esperados para a tarifa de vazio da BTN para potências menores que 20,7 kVA. Ano Valor esperado (€) 2010 0,07270 2011 0,08178 2012 0,09427 2013 0,11164 2014 0,13569 2015 0,16906 VI-11 Tendências futuras dos preços das energias 6.3 – Tendências das tarifas de baixa tensão normal para potência entre 20,7 e 41,4 kVA A tarifa de horas de ponta é evidenciada na Figura 32, onde as curvas real e previsto apresentam valores muito contíguos com excepção entre 2004 e 2006, apresentando-se nesse intervalo o maior erro com cerca de 11,45%. Porém, nos restantes anos o erro máximo é desprezável, obteve-se um erro de 3,00$10-11 no ano de 2009, apresentando, assim, uma excelente concordância. €/kWh 0,40 0,35 0,30 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 Real Previsto Figura 32- Tendências da tarifa para as horas de ponta para potências entre os 20,7kVA e 41,4 kVA. A Tabela 10 indica os valores previstos para a tarifa de horas de ponta, estes evoluem de uma forma constante e sem grandes picos no custo da aquisição da EE. Apesar deste aumento progressivo entre 2009 e 2015, espera-se que o custo de aquisição da EE aumente cerca de 53,06%. VI-12 Tendências futuras dos preços das energias Tabela 10- Valores esperados para a tarifa de horas de ponta da BTN para potências entre os 20,7 kVA e 41,4 kVA. Ano Valor esperado (€) 2010 0,25523 2011 0,27198 2012 0,29128 2013 0,31350 2014 0,33910 2015 0,36857 Na figura 33 pode analisar-se a previsão para o custo de aquisição da energia eléctrica na tarifa de horas cheias do tarifário em estudo. Ocorreram apenas dois desfasamentos entre os valores reais e previstos, com um erro máximo de aproximadamente 11,46%, em 2006 e um erro de 7,35 no ano de 2009. Contudo, os restantes anos tiveram uma correlação bastante forte permitindo concluir que os valores previstos são razoáveis. €/kWh 0,18 0,16 0,14 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,00 Real Previsto Figura 33- Tendências da tarifa para as horas cheias para potências entre os 20,7kVA e 41,4 kVA. Na Tabela 11 indicam-se os valores futuros para o tarifário de horas de cheia prevendo-se que ocorra um aumento de 58,3% entre 2009 e 2015%. Esta estimativa VI-13 Tendências futuras dos preços das energias corresponde a um aumento de um cêntimo por ano. Não obstante, este aumento é um dos menos significativos nos tarifários da EE. Tabela 11- Valores esperados para a tarifa de horas de cheias da BTN para potências entre os 20,7 kVA e 41,4 kVA. Ano Valor esperado (€) 2010 0,10559 2011 0,11292 2012 0,12165 2013 0,13193 2014 0,14404 2015 0,15830 A tarifa para as horas de vazio ilustra-se na Figura 34 onde os preços reais e os previstos obtidos são bastante similares. O maior erro é de 2,85% para o ano de 2007 e no ano de 2009 verifica-se um erro de 0,88. Contudo, os restantes valores obtidos apresentaram erros pouco significativos, deste modo, as previsões podem ser consideradas fidedignas. €/kWh 0,16 0,14 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,00 Real Previsto Figura 34- Tendências da tarifa para as horas de vazio para potências entre os 20,7kVA e 41,4 kVA. VI-14 Tendências futuras dos preços das energias Os preços futuros para a tarifa de horas de vazio apresentam-se na Tabela 12, estando previsto um aumento suave no período em análise. Antevê-se um aumento de 136% para o custo de aquisição da EE entre 2009 e 2015. Tabela 12- Valores esperados para a tarifa de horas de vazio da BTN para potências entre os 20,7 kVA e 41,4 kVA. Ano Valor esperado (€) 2010 0,06486 2011 0,07230 2012 0,08242 2013 0,09618 2014 0,11492 2015 0,14041 6.4 – Tendências das tarifas de baixa tensão especial A tarifa para as horas de ponta para a BTE averigua-se na Figura 35, havendo um desfasamento nos valores reais e previstos entre 2005 e 2007. O erro máximo é de 13,16% no ano de 2006. Todavia, existe uma forte correlação nos anos anteriores (2000 a 2004) e no ano de 2009 ocorre um erro de 3,00$10-11, pelo que se pode utilizar este modelo de previsão para se obter os valores futuros. VI-15 Tendências futuras dos preços das energias €/kWh 0,25 0,20 0,15 0,10 0,05 0,00 Real Previsto Figura 35- Tendências da tarifa para as horas de ponta para a baixa tensão especial. Os valores esperados para a tarifa de horas de ponta estão evidenciados na Tabela 13, onde se verifica uma evolução constante, isto é, um aumento de aproximadamente um cêntimo ao ano. Porém, o aumento previsto entre 2009 e 2015 será de 31,45%. Tabela 13- Valores esperados para a tarifa de horas de ponta da BTE. Ano Valor esperado (€) 2010 0,19114 2011 0,20321 2012 0,21415 2013 0,23001 2014 0,23941 2015 0,24187 A evolução para as horas cheias da BTE é ilustrada na figura 36, ocorrendo, tal como nas horas de ponta, um desfasamento entre os valores reais e previstos entre 2005 e 2007. O erro máximo entre as curvas real e previsto é de cerca 10,52% para o ano de VI-16 Tendências futuras dos preços das energias 2006, contudo, o erro em 2009 é de 2,24$10-5. Não obstante, assim como na tarifa anterior, existe uma forte correlação nos anos anteriores. €/kWh 0,14 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,00 Real Previsto Figura 36- Tendências da tarifa para as horas cheias da baixa tensão especial. Os valores previstos são apresentados na Tabela 14, e estes evoluirão de uma forma pouco acentuada, antevendo-se que de 2009 a 2015 irá existir um aumento de 21,18%. Tabela 14- Valores esperados para a tarifa de horas de cheias da BTE Ano Valor esperado (€) 2010 0,09939 2011 0,10288 2012 0,10612 2013 0,10976 2014 0,11352 2015 0,11754 Relativamente à tarifa de horas de vazio da baixa tensão especial, houve uma correlação muito forte, como se pode observar na figura 37, muito superior às outras VI-17 Tendências futuras dos preços das energias tarifas do mesmo tarifário em estudo. O erro máximo entre as curvas do valor previsto e real é de 9,62 para o ano de 2006 e constata-se um erro de 3,19 no ano de 2009. €/kWh 0,14 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 0,00 Real Previsto Figura 37 - Tendências da tarifa para as horas de vazio da baixa tensão especial. Os preços previstos para este tarifário são apresentados na Tabela 15, evoluindo de forma linear os valores evoluem de uma forma constante, bem como se verificou nas restantes tarifas da BTE. Prevê-se que entre 2009 e 2015 ocorra um aumento de cerca de 62%, o maior aumento neste tarifário. No entanto, esta tarifa continua a ser mais vantajosa no que concerne a este tarifário. Tabela 15- Valores esperados para a tarifa de horas de vazio da BTE para potências entre os 20,7 kVA e 41,4 kVA. Ano Valor esperado (€) 2010 0,06767 2011 0,07430 2012 0,08172 2013 0,09584 2014 0,09794 2015 0,10321 VI-18 Tendências futuras dos preços das energias 6.5 – Tendências da evolução do petróleo Os valores calculados, reais e previstos, do petróleo apresentam uma forte correlação como se verifica na figura 38, deste modo, os valores obtidos podem ser considerados credíveis. O erro máximo entre as curvas do valor real e previsto é de 5,33% no ano de 2008. No entanto, é de realçar a boa concordância entre as curvas dos valores reais e previstos, permitindo que as tendências de preço para esta tarifa possam ser consideradas fidedignas. Dólares 120 100 80 60 40 20 0 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Real Previsto Figura 38- Tendências do petróleo. Os valores obtidos (previstos) do petróleo contrariamente às anteriores previsões, apresentam oscilações em termos de aumento e diminuição do custo de aquisição desta fonte de energia. Prevê-se que durante o ano de 2009 exista uma queda acentuada, estando o custo médio afixado nos 57,30 dólares. Nos restantes anos do estudo ocorrerá um aumento significativo. VI-19 Tendências futuras dos preços das energias Tabela 16-Valores obtidos para o petróleo. Ano Valor esperado (€) 2009 57,30 2010 83,36 2011 109,66 6.6 – Conclusões do capítulo Neste capítulo efectuaram-se as tendências de preços em relação à electricidade e em relação ao petróleo. Em relação à electricidade prevê-se um aumento em todas as tarifas da BTN e da BTE. Apesar de a BTE apresentar uma menor evolução em termos do custo de aquisição da EE. Nestes tarifários, a tarifa de horas de vazio é a que se mantêm como a mais económica. Desta forma, os consumidores devem apostar em tarifários da EE que possam aproveitar o custo de EE nas horas de vazio, visto que a electricidade em 2015 pode tornar-se uma energia com um custo considerável nas famílias portuguesas. Contudo, prevê-se um maior investimento em FER, principalmente no que diz respeito à produção de EE é de prever que os preços das tarifas reflictam de forma favorável para o consumidor. Com o investimento anunciado nas FER pelos países grande consumidores de petróleo, é também previsível que desta forma a procura de petróleo também diminua. Reflectindo assim uma diminuição no custo de aquisição desta energia fóssil. No que concerne ao petróleo, o custo de aquisição desta fonte de energia prevêse que a curto prazo possa atingir máximos históricos, apesar de em 2009 se prever que o petróleo seja comercializado numa média de 57,30 dólares. Prevê-se que em 2010 seja comercializado nos 83,36 dólares e em 2011 nos109,66 dólares. Para minimizar os custos de aquisição desta fonte de energia, o estado deve permitir e possibilitar a entrada de novos fornecedores no caso da energia eléctrica, uma vez que o mercado está monopolizado pela EDP. Em relação ao petróleo, o estado deverá fiscalizar os fornecedores de combustível e rever as políticas fiscais para que não sejam praticados preços exorbitantes. VI-20 CAPÍTULO VII Conclusões Neste trabalho efectuou-se um estudo sobre as prospectivas dos mercados energéticos. Para tal, foi necessário fazer o enquadramento energético de Portugal e analisou-se o sector dos transportes sendo este, o mais depende do petróleo. Apurou-se a influência das fontes de energia renovável e a sustentabilidade energética do sistema eléctrico nacional. Por fim, realizaram-se tendências de preços de modo a aferir a evolução do custo de aquisição das principais energias primárias, sendo essas a electricidade e o petróleo. Através do enquadramento energético demonstrou-se a dependência energética do exterior, já que em 2007 Portugal importava aproximadamente 86% da energia consumida. A energia primária mais relevante e que implica maior despesa é o petróleo, com a influência de 67%, comprovada através da análise das importações das principais fontes de energia a preços correntes. Desde 1997 que a intensidade energética de Portugal se afastou da média da União Europeia, contribuindo para tal, o baixo aumento do PIB face ao aumento superior do consumo de energia primária. O peso da energia importada na balança de mercadorias, free on board , é um indicador que prova a importância da energia na importação, já que esta corresponde a 14,7%. As perdas energéticas influenciam a intensidade energética, visto que esta fonte de energia não é aproveitada para criar “riqueza”, aumento do PIB. Desta forma, estudaram-se as perdas do SEN, que diminuíram entre 2006 e 2007, tendo-se verificado que o aumento da produção EE a partir de fontes de energia renovável e o aumento da importação de energia eléctrica contribuíram para esse facto. Conclusões O enquadramento energético permitiu a averiguação de que o sector dos transportes era o mais dependente do petróleo, utilizando 95% desta fonte de energia. Este sector consumia cerca de 46,73% do CEP desta matéria-prima. Contudo, durante vários anos, este sector esteve negligenciado por parte das autoridades competentes, começando apenas a ser regulado, em termos de eficiência energética, devido à crise energética provocada pela volatilidade do preço do petróleo. Portugal é o país da União Europeia a 27 mais dependente dos transportes rodoviários de mercadorias, deste modo torna-se necessário diversificar os meios de transporte de mercadorias. Apresenta também uma média superior no consumo de energia e de emissão de GEE no sector dos transportes do que a União Europeia. Uma medida deveria ser o incentivo os transportes marítimos e ferroviários que permitiriam racionalizar energia e diminuir, assim, o consumo de energia neste sector e as emissões de GEE. No que concerne à influência da produção a partir das fontes de energia renovável no mercado nacional de energia, verificou-se a produção de energia eléctrica e as alternativas às fontes de energias derivadas do petróleo. Em relação à PRE verificou-se que evoluiu expressivamente nos últimos anos. A PRE teve um aumento de 35% entre 2000 e 2008, contribuindo com 28,10% no Sistema Eléctrico Nacional (SEN) em 2008. A sustentabilidade energética do SEN é fulcral para responder às necessidades futuras e optimizar o seu funcionamento. Deste modo, analisou-se a produção de energia eléctrica nos diferentes regimes de produção. Quanto ao regime ordinário, existia em 2008 cerca de 4810 MW e prevê-se que ocorra um aumento de 1666MW e de 862 MW em 2014 e 2019, respectivamente. No que diz respeito à produção em regime especial espera-se que em 2019 exista mais de 69% de potência instalada, este facto ilustra o forte empenho de Portugal em reforçar esta área de produção. Para aferir a evolução do custo de aquisição das principais energias primárias, da energia eléctrica e do petróleo foram efectuadas tendências de preços. Foi utilizado o modelo de auto regressão de segunda ordem que serve de suporte para estudos de volatilidade. Em relação à electricidade estudaram-se as tarifas da BTN para potências menores que 20,7 kVA, para potências entre 20,7 kVA e 41,4 kVA e para a BTE, entre 2009 e 2015. VII-22 Conclusões No caso da BTN ocorre um aumento de 96% e de 156% na tarifa simples e na de horas de vazio, respectivamente. No entanto, a tarifa de horas de vazio é mais económica, apresentando uma diferença de 7 cêntimos face à tarifa simples. Em relação à BTN para potências entre 20,7kVA e 41,4 kVA, ocorre um aumento de 53% nas horas de ponta, de 58% nas horas cheias e de 136% nas horas de vazio. Porém, a tarifa de vazio surge sempre como mais vantajosa em relação às outras tarifas. Quanto à BTE, esta terá um aumento de 31,45% nas horas de ponta, de 21,18% nas horas cheias e de 85% nas horas de vazio. Não obstante, a EE nas horas de vazio continua a ter o menor custo quando comaparado com as outras tarifas, tal como acorre nos restantes tarifários estudados da energia eléctrica. No que concerne à evolução do petróleo, verificou-se que irão ocorrer aumentos significativos em 2010 e 2011, na ordem dos 45,5% e de 31,5%, respectivamente. 7.1 Trabalho Futuro Dar continuidade a este trabalho reveste-se de grande importância perante o enquadramento energética nacional e também mundial. Assim, o trabalho futuro que a realizar consiste em: • Utilizar métodos de previsão capazes de incluir variáveis como o PIB, inflação, taxas de juro, energia produzida a partir de cada fonte de energia renovável, etc. • Aplicar o estudo a maiores escalões de consumo, isto é, aos sectores industriais, no que diz respeito à energia eléctrica; VII-23 CAPÍTULO VIII Bibliografia Direcção-Geral de energia e geologia, 2009. Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, 2009. Rede eléctrica Nacional (REN), 2009. Factura energética portuguesa, Abril de 2008, Direcção-Geral de energia e geologia. Relatório do estado do ambiente, Agência Portuguesa do Ambiente, 2008. Informação sobre produção em regime especial, Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos, 2009. “Plano de desenvolvimento e investimento da rede de transporte 2009-2014 (2019)”, Rede eléctrica Nacional, S.A 2008. Segurança de Abastecimento ao nível da produção de electricidade”, Rede eléctrica Nacional, S.A 2008. Renováveis estatísticas rápidas, Dezembro de 2008, Direcção Geral da Energia e geologia. “Energy Efficiency Indicators for Public Electricity Production from Fossil Fuels”, Peter Taylor, Olivier Lavagne d’Ortigue, Nathalie Trudeau and Michel Francoeur, Internation al Energy Agency, 2008. Bibliografia Levine, D. M. Stephan, D. krehbiel, T. C.;Bereson, M. L. Estatística - Teoria e Aplicações. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 2005. Oliveira et al 2008,RAC, Curitiba, v. 12, n. 2, p. 481-506, 2008. “Reflectir Energia”, Lidel, João J. E. Santana e Maria José Resende, 2006. “Sector dos transportes- Uma prespectiva energética e ambiental”, Lidel, Jorge da Fonseca Nabais, 2ª Edição 2005. Legislação Decreto-Lei n.º 80/2006, diário da república n.º 67, Série I-A de 2006-04-04. Decreto-Lei nº7/2002, diário da república n71, Série I-A de 2002-03-25. Plano nacional de Acção para a eficiência energética (PNAEE), Decreto-Lei 29/2008, diário da república n.º 97 Série I de 2008-05-20. Programa Nacional para as Alterações climáticas (PNAC 2006), Resolução do Conselho de Ministros nº104/2006. Resolução do Conselho de Ministros nº20/2008, Diário da república, Série-I, nº25 de 2008-02-05. Directiva 2006/32/CE do parlamento europeu e do conselho, 5 de Abril de 2006. Directiva 2001/77/CE do parlamento europeu e do conselho, 27 de Setembro de 2006. VIII-2