ENTRE A CASA E O TRABALHO: GÊNERO E COMUNICAÇÃO EM
AGENTES COMUNITÁRI@S DE SAÚDE
Lissandra Baggio1
Rita de Cássia Maciazeki Gomes2
Carolina Duarte de Souza3
Resumo: A comunicação é um dos elementos fundamentais para a qualificação e bom
funcionamento das ações em saúde, o que destaca a figura da/o Agente Comunitário de Saúde
[ACS] na consolidação da Atenção Básica. Ao estabelecer relações de trocas entre saberes
populares de saúde e saberes médicos-científicos, e ser, ao mesmo tempo, integrante da comunidade
em que atua (tendo familiaridade com a cultura local), e membro da Equipe de Estratégia de Saúde
da Família, atua como “tradutor” entre as partes. Cientes desse importante papel, realizamos o
projeto de pesquisa “Oficinas com agentes comunitários de saúde: Reflexões sobre o cotidiano e
qualificação da prática de trabalho” que objetivou contribuir com a formação continuada e
qualificação da prática do trabalho, por meio da realização de entrevistas e cinco oficinas em grupo
com a/os ACS. Dois tópicos transpassaram os encontros: questões relativas a gênero (papéis
estereotipados de feminino e masculino) e a comunicação tanto com a equipe, como com a
comunidade. Portanto, durante a pesquisa, foram tecidas reflexões sobre esses temas, e no terceiro
encontro foram pauta principal da discussão disparada pelas atividades propostas, envolvendo além
dos resultados esperados, uma discussão sobre as violências percebidas pelos ACS nessas situações.
Palavras-chave: Gênero, Educação Popular em Saúde, Agentes Comunitários de Saúde.
O ACS como Educador Popular em Saúde: elo entre a Comunidade e a Equipe de Saúde
Ao atentarmos para a consolidação das ações na Atenção Básica em Saúde Coletiva no
Brasil, é relevante refletirmos sobre o lugar e as práticas realizadas pel@s Agente Comunitári@s de
Saúde (ACS), posto que estes são ator@s fundamentais nas trocas discursivas entre saberes técnicocientíficos e saberes populares relativos à área da saúde. Atribuímos este papel de destaque ao ACS
devido à sua dupla função como parte da Equipe de Estratégia de Saúde da Família (ESF) e, ao
mesmo tempo, parte da comunidade em que atua. Ao ocupar esse lugar único: integrante de sua
comunidade, sujeito da cultura local; e profissional da ESF, detentor dos saberes técnico-científicos
dos serviços de saúde, cabe ao ACS a função de mediar/traduzir os sentidos e práticas veiculados
sobre saúde nos dois campos, em uma via de mão dupla, visando a ampliação do conceito e das
próprias práticas em saúde de sua comunidade (Malfitano, Lopes, 2009).
1
Mestra em Saúde Coletiva pela Universidade Luterana do Brasil, psicóloga técnica e docente do Curso de Graduação
em Psicologia da Faculdade Três de Maio SETREM, Três de Maio, RS, Brasil.
2
Mestra em Psicologia Social e Institucional pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, coordenadora de estágio
e professora do Curso de Psicologia da Faculdade de Três de Maio, RS.
3
Mestra em Processos Psicossociais, Desenvolvimento e Saúde pelo Programa de Pós Graduação Em Psicologia da
Universidade Federal de Santa Catarina (PPGP-UFSC), docente do Curso de Graduação em Psicologia da Faculdade
Três de Maio SETREM, Três de Maio, RS, Brasil.
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Para que o ACS possa de fato contribuir na promoção e prevenção de saúde de sua
comunidade,
entretanto, torna-se essencial que este seja propriamente capacitado e
instrumentalizado acerca de conhecimentos técnico-científicos e, ainda sobre modos de exercer esse
papel de mediador. É a partir desta preparação, que o ACS pode fazer a ponte entre os discursos dos
demais profissionais da ESF e a população atendida por eles, enfatizando e agregando os
conhecimentos e práticas da comunidade, na busca de um modelo de saúde mais amplo, não
pautado apenas na biomedicina (Brigagão & Gonçalves, 2009). Seu papel diferenciado na equipe da
ESF, de integrante da comunidade, permite que ele possa prestar atenção diferenciada no tocante à
saúde dos usuários da ESF, por meio da realização de visitas domiciliares, do emprego de um modo
de comunicação que utiliza linguagem coloquial, bem como pelos vínculos construídos com as
pessoas da comunidade, que são marcados pela presença de afeto e proximidade (Bornstein, Stotz,
2008; Malfitano, Lopes, 2009).
Essa possibilidade de superação da dicotomia posta entre os conhecimentos científicos e da
comunidade pelo trabalho do ACS, coloca a concretização de seu ofício como parte da Educação
Popular em Saúde (EPS). Pois, ao buscar a elaboração de práticas e conceitos em saúde ampliada, o
ACS se coloca como um educador popular, visto que na EPS a própria educação é compreendida
como reflexão embasada em trocas comunicacionais (Simão, Zurba, Nunes, 2011). A EPS é uma
ferramenta por meio da qual se pode alcançar os saberes que são constantemente produzidos nos
diálogos com/na comunidade. Nesse sentido, ao utilizar-se dessa estratégia os ACSs podem
"questionar, acolher e, dentro da perspectiva da incompletude e do educar-se permanentemente,
questionar-se e aprender nessas relações, humanizando-se e humanizando a atenção à saúde"
(Oliveira, 2009, p. 298). Assim, se os ACS compreenderem que a educação ocorre, como proposto
pela EPS, no processo de localizar, questionar e atuar sobre as demandas sociais que surgem em
uma comunidade e que, ao mesmo tempo atravessam e são atravessadas, por conceitos e ações em
saúde (Simão, Zurba, Nunes, 2011); sua função ganha destaque na consolidação das políticas
nacionais em Atenção em Saúde.
Atenção em Saúde, que por sua vez é atravessada também por questões relativas à categoria
gênero. Nossa compreensão acerca dessa categoria está embasada teoricamente em Scott (1990) que
a define como uma "conexão integral entre duas proposições: (1) o gênero é um elemento
constitutivo de relações sociais baseadas nas diferenças percebidas entre sexos e (2) o gênero é
uma forma primária de dar significado às relações de poder" (p. 86). E também em Saffioti (1992),
que se empresta das elaborações de Foucault (apud Saffioti, 1992) sobre a microfísica do poder,
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para fazer uma leitura complexa da realidade como um cenário de circulação de poder entre os
corpos, de modo que existem diversos poderes ora detidos, ora sofridos por homens e mulheres.
Portanto, a categoria gênero não pode ser considerada, sem levarmos em conta as dimensões
histórica e cultural, visto que é por meio da linguagem que os sentidos acerca do gênero são
(re)construídos. Dessa maneira, ao falarmos em gênero, estamos nos referindo a significados que
são (re)produzidos nas trocas sociais, e que atravessam os corpos e (re)instituem espaços de poder
(Nogueira, 2001).
Dessa forma, consideramos que o trabalho cotidiano do ACS consiste em um cenário ímpar
para concretização das políticas de EPS e de (re)construção de significados de gênero em direção a
um conceito ampliado de saúde. Cientes desse importante papel, realizamos um projeto de
pesquisa-intervenção com um grupo de ACS, o qual foi transpassado por questões relativas a gênero
(papéis estereotipados de feminino e masculino) e a comunicação tanto com a equipe, como com a
comunidade. Pretendemos nesse trabalho, justamente, trazer algumas discussões sobre essas
questões.
Pesquisa-intervenção com ACSs
A discussão aqui apresentada é derivada do trabalho que realizamos no projeto de pesquisaintervenção “Oficinas com agentes comunitários de saúde: Reflexões sobre o cotidiano e
qualificação da prática de trabalho”. Nosso objetivo com essa pesquisa foi enriquecer a formação e
qualificar as práticas profissionais de um grupo de ACS. O projeto de pesquisa foi aprovado com
parecer número 188.1/2011. pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos [CEPSH] da
UNIJUÍ, atendendo à adequação de aspectos éticos de pesquisa conforme as resoluções nº 196/96
versão 2012, e nº 251 de cinco de agosto de 1997 do Ministério da Saúde e pela postura ética do
profissional da Psicologia, atendendo as resoluções do Conselho Federal de Psicologia.
Optamos pela realização de uma pesquisa-intervenção por compreender que, esta poderia ser
um instrumento por meio da qual a equipe de ACS pudesse comprometer-se como o desafio de
questionar suas implicações com as práticas produzidas (Rocha, Aguiar, 2003). Com esse intuito, as
pesquisadoras se inseriram no dia-a-dia da ESF e acompanharam as atividades realizadas pelos
ACSs, para então propor atividades em forma de oficinas, que foram delineadas a partir das trocas
com os ACSs, pautadas nas diretrizes de uma pesquisa cartográfica (Passos, Kastrup, Escóssia,
2009). Participaram desse processo oito ACSs, sete mulheres e um homem, com idades entre 24 a
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51 anos, de uma das ESF de um município de aproximadamente 25 mil habitantes da região
noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.
Para a produção da pesquisa-intervenção utilizamos dois tipos de instrumentos: entrevista e
oficinas. Inicialmente cada ACS foi entrevistad@ individualmente, a partir de um roteiro semiestruturado com questões acerca de dados sociodemográficos, da trajetória profissional como ACS
e da compreensão del@s sobre a contextualização de seu trabalho na área da saúde. Em seguida,
ocorreram cinco oficinas com o grupo todo na ESF, com periodicidade semanal e duração
aproximada de uma hora e meia. A seguir fizemos um breve relato das cinco oficinas, para
situarmos o leitor, acerca das discussões aqui produzidas.
No primeiro encontro, com o intuito de construirmos a demanda pra intervenção e
fecharmos um contrato de trabalho com o grupo, realizamos uma dinâmica com uma dobradura de
barco de papel. Nessa atividade cada participante, quando em posse do barco, externalizou suas
expectativas em relação ao trabalho que estávamos contratando, bem como as dificuldades que
vivenciavam em seu cotidiano de trabalho. As falas dos participantes foram interrompidas por três
vezes ao longo da dinâmica, quando cortamos cada uma das três pontas do barco de papel. Esses
cortes eram decorrência de "tempestades e acidentes" que ocorrem no percurso, e que representaram
as dificuldades citadas por eles em sua prática profissional. Porém, ao fim da oficina, o papel do
barco destruído foi aberto, permitindo visualizar uma camiseta, que foi simbolizada como o ato de
"vestir a camisa", ou seja, comprometer-se com o trabalho, que naquele momento era proposto.
Os próprios participantes escolheram o tema da segunda oficina, que tratou das atribuições
dos ACS. A primeira parte da oficina consistiu na seleção e recorte por parte dos ACS de imagens
em revistas que simbolizassem aquilo que eles compreendiam como seu cotidiano de trabalho. Em
seguida el@s expuseram as figuras que escolheram, explicando a relação simbólica delas com o seu
fazer. O conjunto de gravuras compôs um grande painel com palavras-chave.
Na segunda parte do encontro, distribuímos cópias da Portaria Nº 1.886/1997, que especifica
as atribuições de ACS, para leitura e discussão em conjunto do que nela consta. Além disso,
discutimos o que estava posto no fazer cotidiano del@s, naquilo que el@s idealizavam como
prática e no que a população desejava que realizassem. As pesquisadoras procuraram fomentar e
problematizar discussões sobre o que existe de real na execução desta função de ACS, e o que é
idealizado, bem como, de potencializar o fortalecimento das atividades daquele grupo, além de
esclarecer alguns termos técnicos que apareceram na legislação e eram desconhecidos dos
participantes.
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A pauta do terceiro encontro foi o posicionamento dos ACSs em relação a diferentes
situações de trabalho que se apresentavam em seu cotidiano. A programação para esta oficina era
refletir sobre o tema através de dramatizações de variadas cenas vivenciadas pelos ACSs em seu
dia-a-dia. A pretensão era congelar as cenas, para então comentá-las com vistas à propor estratégias
de enfrentamento para as problemáticas apresentadas. O encontro, entretanto, tomou outras direções
e não ocorreu de acordo com o planejado. Ao invés de dramatizarem as situações, os ACS
discorreram sobre cenas negativas presentes em seu trabalho, e que, apesar impregnadas de
violência e sofrimento, foram expostas em tom de sarcasmo, entre risos.
Antes da quarta oficina, refletimos sobre a dinâmica posta no encontro anterior e decidimos
manter a proposta temática do quarto encontro: a violência. Isso por entendermos que aqueles
discursos sobre situações dolorosas acompanhados de risos, pareciam ter a tarefa exata de amenizar
o sofrimento embutido nas cenas vividas. Devolvemos essa percepção aos ACS como leitura do
processo grupal e pelo nosso relato sobre nossos sentimentos e compreensões acerca daquilo que
havíamos escutado na oficina anterior. Posteriormente, conversamos acerca da relevância de que as
equipes de saúde realizem seu trabalho em rede, principalmente no tocante ao enfrentamento dessas
vivências. Combinamos que traríamos uma lista com os contatos da rede de apoio disponível no
município para as ACS. Como fechamento do encontro, fizemos a dinâmica da rede de pesca, em
que cada participante ao amarrar seu pedaço de barbante a rede (de apoio) que era tecida
manifestava seus sentimentos em relação aquela oficina.
No último encontro, retomamos todos os temas que haviam sido discutidos durante o
processo de pesquisa-intervenção. Distribuímos a lista de contatos da rede, colocando que cabia a
eles uma postura mais proativa nas situações difíceis por el@s vivenciadas. Para finalizar,
acordamos com os ACS o conteúdo e a forma de devolutiva do trabalho à coordenação da ESF.
Além disso, a pedido do grupo, realizamos uma pequena confraternização com comes e bebes.
A análise desses dados foi realizada a partir dos pressupostos teóricos da pesquisaintervenção (Rocha, Aguiar, 2003) sob enfoque da cartografia (Deleuze, Guattari, 1995; Passos,
Kastrup, Escóssia, 2009), e da revisão da literatura sobre temática abordada.
O trabalho com ACS e as questões de gênero e comunicação
A primeira questão referente a gênero que encontramos no trabalho, diz respeito esta ser
uma profissão de cuidado e, portanto em nossa cultura, majoritariamente exercida por mulheres.
Podemos verificar que existia apenas um homem exercendo a profissão no grupo estudado, o que ao
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mesmo tempo em que confirma um estereótipo de gênero, também mostra a possibilidade de
pequenas rupturas ao encontrarmos, ao menos um homem nessa função. Muitas das ACS relataram
inclusive, que já exerciam trabalhos considerados femininos antes de se tornarem ACS, e que esta
escolha foi quase natural dado que pensaram nessa profissão por gostarem de pessoas, de cuidar do
outro.
Outra implicação do serviço de ACS ser considerado como profissão de cuidado, e logo,
destinada a mulheres, refere-se tanto às expectativas da população quanto as atividades realizadas,
como a maneira como a comunidade relaciona-se com @s profissionais. Constata-se, que ao mesmo
tempo em que o fato das ACSs serem predominantemente mulheres facilita sua entrada nas casas
das famílias e vínculo com as mesmas; dificulta a separação entre aquilo que é referente a seu
trabalho e o que se refere a sua vida pessoal. Encontramos aqui, novamente, uma discussão antiga
nos estudos de gênero, qual seja, do binômio público/privado.
O trabalho dos ACS, apesar de ser público, adentra a esfera privada da vida das pessoas da
comunidade. Fato esse que contribui, para que estes fiquem expostos a cobranças da população para
exercerem em qualquer momento ou lugar suas atribuições profissionais, sem ter o direito de
desfrutar de suas horas de descanso e lazer junto a sua vizinhança. Como ilustrado na fala que
segue:
"Só que é difícil, assim, como que vou te dizê... eles cuidam tudo... se tu tá em casa, que não
é o horário de trabalho, a vizinha diz assim: - Ah! Tá de atestado? Tá de folga hoje? ... Mas por
outro lado é bom, porque tu sai de casa e já tá trabalhando."
Outra implicação que se traduz em sofrimento para as ACS na relação público/privado, diz
respeito às situações carregadas de violência que presenciam por adentrar na intimidade das
famílias, como bem foi colocado por uma das ACS:
"Porque através da fisionomia da pessoa você já vê se é algum problema na família, ou se é
algum problema com ela, que é realmente a saúde daquela pessoa né... Aí a gente já toma
providências e se precisá, que a gente vê às vez que é situações... Até inclusive um dia cheguei
numa casa, é mãe, filha, genro com netos morando... Um prum lado outro pro outro e todos
olhando pra baixo e daí tu vai fazê o que... Eu tive que sentá e dizê... que às vezes a gente precisa
quebrá os pratos na casa, prá podê vivê em paz... Eu disse né, porque daí a filha já começo chorá...
Porque a mãe não gosta do genro, porque a mãe nunca gostô do marido dela, e a mãe dizia que
não era verdade..."
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Nesse ponto, é importante ressaltar, que além da violência que sofrem por presenciar estas
cenas, os ACS, são novamente violentados, ao terem seu trabalho desvalorizados pela ESF como
não trabalho. São identificados como "aqueles que ficam batendo pernas pelas ruas e tomando
mate nas casas" e não recebem a capacitação para transformar essas realidade com as quais se
deparam.
Por esta lacuna na comunicação entre os ACSs e o restante da equipe da ESF, um dos
achados dessa pesquisa-intervenção foi justamente a reprodução e reforçamento de estereótipos de
gênero presentes na comunidade pelos ACS. Pelo vínculo e proximidade estabelecida pelos ACS
com sua comunidade, as pessoas recorrem a eles para esclarecer dúvidas sobre diversas temáticas,
dentre eles questões referentes a sexualidade, conjugalidade e criação dos filhos. Em seus
depoimentos, os participantes da pesquisa relataram que acabam respondendo às indagações
pautados em sua própria experiência de vida, o que muitas vezes vai de encontro aos saberes
técnico-científicos que colocam em questão um série de preconceitos veiculados pela população.
Como nos dois trechos que seguem:
"No caso assim... A classe baixa, aquela que realmente precisa da gente, que se sente feliz
faz a gente se senti útil. Porque eles tão... Sempre tão precisando de alguma coisa, sempre tão
tirando dúvida... Alguma coisa eles sempre querem da gente, né..."
"Então acho que o que poderia ser feito é usá mais a gente no... Na saúde preventiva... No
caso a gente ensiná alguma coisa né, assim pras pessoas... Como se cuidá na alimentação, ou
algum exercício que possa fazer... Quanta coisa que possa fazê pra trazê mais qualidade de vida
né."
Notamos na realização deste trabalho, que ainda existe um caminho longo a ser percorrido
para a efetiva concretização do trabalho dos ACS como EPS e de desconstrução de estereótipos de
gênero. É necessário que estes profissionais sejam capacitados e valorizados dentro da equipe de
ESF, para a viabilização destes objetivos.
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Psicologia e Saúde Coletiva; Florianópolis: Tribo da Ilha, 2011, p. 75-102.
Between Work and Home: Gender and Communication in Community Health Agents
Abstract: Communication is a fundamental element for the qualification and proper functioning of
health actions, in which highlights the figure of Community Health Agent [CHA] in the
consolidation of the actions in Primary Care. By establishing relationships of exchanges between
popular knowledge of health and medical-scientific knowledge, and be at the same time, a member
of the community in which it operates (being familiar with the local culture), and a member of
Team Family Health Strategy, acts as a "translator" between the parties. Aware of this important
role, was conducted the research project "Workshops with community health workers: Reflections
on everyday practice and qualification of labor" which aimed to contribute to the ongoing training
and qualification of work practice, through interviews and five workshops with the CHA group.
Issues of gender (stereotypical roles of male and female) and communication with the team and
with the community permeated the meetings. Therefore, during the search, were woven reflections
on these themes, and the third meeting was a main agenda of discussion triggered by the proposed
activities involving addition of the expected results, a discussion of violence perceived by ACS in
these
situations.
Keywords: Gender, Popular Health Education, Community Health Workers.
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