Solução dos Exercı́cios Capı́tulo 7 Exercı́cio 7.1: Seja f : Rn → Rm linear. Mostre que f ′ (x) = f , ∀x ∈ Rn , isto é, f ′ (x)h = f (h), ∀x, h ∈ Rn . Observe também que f ′ é constante e, portanto, f ′′ ≡ 0. Solução: Como f é linear (matriz m × n), f é diferenciável e f ′ (x)h = f (h) para todo h ∈ Rn , isto é, f ′ (x) = f . Portanto a aplicação derivada f ′ : Rn → Mm×n é constante. Em particular, podemos escrever f ′ (x + h) = f ′ (x) + L(h) + ε(h) com L = ε ≡ 0. Portanto (da unicidade da diferencial), concluı́mos que f é duas vezes diferenciável e f ′′ (x) ≡ 0 para todo x ∈ Rn Exercı́cio 7.2: Seja ϕ: Rn → Rn função diferenciável tal que kϕ′ (x)kL(Rn ) ≤ α, ∀x ∈ Rn . a) Se α < 1, mostre que ϕ é uma contração e demonstre que para cada y ∈ Rn , existe um único x ∈ Rn tal que y = x + ϕ(x). b) Podemos afirmar que ϕ é uma contração se kϕ′ (x)kL(Rn ) < 1, ∀x ∈ Rn ? c) Use o item (a) para mostrar que se A é uma matriz n × n tal que kAk < 1 então (I + A) é inversı́vel. d) Se ϕ é monótona positiva, mostre que para cada y ∈ Rn , existe um único x ∈ Rn satisfazendo y = x + ϕ(x) (mesmo que α ≥ 1). Solução: (a) Pela desigualdade do valor médio (veja Exercı́cio 5.7b), existe t no intervalo (0, 1) tal que kϕ(x1 ) − ϕ(x0 )k ≤ kϕ′ (xt )kkx1 − x0 k ≤ αkx1 − x0 k, onde xt = tx1 + (1 − t)x0 . Como por hipótese α < 1, ϕ é uma contração. Assim, dado y ∈ Rn (fixado), considere a aplicação g(x) = y − ϕ(x). Observe que g também é uma contração, pois kg(x1 ) − g(x0 )k = kϕ(x1 ) − ϕ(x0 )k ≤ αkx1 − x0 k. Portanto, pelo Teorema do ponto fixo de Banach (Teorema 4.28), existe um único x ∈ Rn tal que g(x) = x, isto é, x é a única solução de x + ϕ(x) = y. √ (b) Não! Considere f : R → R definida por f (x) = x+ x2 + 1 /2. Então 0 < f ′ (x) < 1 para todo x ∈ R, mas f não é contração, pois não admite ponto fixo. (c) Considere ϕ(x) = Ax. Então (veja Exercı́cio 4.13), kϕ(x1 )−ϕ(x0 )k ≤ kAkkx1 −x0 k. Como estamos supondo kAk < 1, ϕ é uma contração. Pelo item (a), a equação x+Ax = y admite uma única solução, para cada y ∈ Rn , isto é, a matriz I + A é inversı́vel. 74 (d) Suponhamos ϕ monótona positiva e diferenciável tal que kϕ′ (x)k ≤ α, para todo x ∈ Rn . Se α < 1 recaı́mos no caso (a). Suponhamos então α ≥ 1. Seja ε > 0 tal que εα < 1. Pelo item (a), dado y ∈ Rn , existe um único x ∈ Rn tal que y = x + εϕ(x), isto é, a função g(x) = x + εϕ(x) é bijetora e portanto, inversı́vel. Além disso, como estamos supondo ϕ monótona positiva, hg(x1 ) − g(x0 ) : x1 − x0 i = kx1 − x0 k2 + εhϕ(x1 ) − ϕ(x0 ) : x1 − x0 i ≥ kx1 − x0 k2 . Aplicando a desiguladade de Cauchy-Schwarz no lado esquerdo da desigualdade acima, obtemos kg(x1 ) − g(x0 )k ≥ kx1 − x0 k. (7.1) Como g é inversı́vel, podemos escrever (7.1) na forma kg −1 (y1 ) − g −1 (y0 )k ≤ ky1 − y0 k, (7.2) isto é, g −1 é Lipschitz contı́nua, com constante de Lipschitz 1. Observe agora que, para y ∈ Rn dado, a equação x + ϕ(x) = y pode ser reescrita na forma x + εϕ(x) = εy + (1 − ε)x, ou equivalentemente x = g −1 εy + (1 − ε)x . Basta, portanto, mostrar que F (x) = g −1 εy + (1 − ε)x possui um único ponto fixo. De (7.2) temos kF (x1 ) − F (x0 )k ≤ |1 − ε|kx1 − x0 k. Como escolhemos ε < 1/α ≤ 1, F é contração e, portanto, admite um único ponto fixo, como querı́amos demonstrar. Exercı́cio 7.3: Seja C ⊂ Rn convexo e fechado e PC : Rn → Rn a projeção ortogonal sobre C (veja Exercı́cio 4.12). Mostre que PC é função monótona positiva. Conclua que x 7→ f (x) = x − 12 PC (x) : PC (x) é função convexa. Solução: Pelo Exercı́cio 4.12(c), temos hPC (x) − PC (y) : x − yi ≥ kPC (x) − PC (y)k2 ≥ 0. Logo, PC é monótona positiva. Pelo Teorema 5.18, f (x) é diferenciável e f ′ (x) = PC (x), para todo x ∈ Rn . Portanto, f ′ (x) é monótona positiva em Rn e o Teorema 7.4 nos permite concluir que f (x) é função convexa. Exercı́cio 7.4: Calcule f ′′ (x) para cada uma das funções f : Rn → R. Observe que em todos os casos f ′ é linear e portanto f ′′ : Rn → Mn×n é constante. 1 1 kxk22 , f (x) = kAxk22 , 2 2 f (x) = hAx : xi, f (x) = hAx : Bxi. f (x) = 75 Solução: Primeiramente, lembre que (veja Exemplo 3 do Capı́tulo 5) se g é linear, então g é diferenciável e g ′ (x) = g para todo x, isto é, g ′ (x)h = g(h), ∀h ∈ Rn . (a) f (x) = kxk22 /2. Então, f ′ (x) = x para todo x ∈ Rn e f ′′ (x) = I para todo x ∈ Rn . (b) f (x) = kAxk22 /2. Então, f ′ (x) = AT Ax e f ′′ (x) = AT A para todo x ∈ Rn . (c) f (x) = hAx : xi. Então, f ′ (x) = (A + AT )x e f ′′ (x) = A + AT para todo x ∈ Rn . (d) f (x) = hAx : Bxi = hB T Ax : xi. Então, f ′ (x) = (B T A + AT B)x e f ′′ (x) = B T A + AT B. Exercı́cio 7.5: Considere f : Rn → R função duas vezes diferenciável e A uma matriz n × n. Defina g(x) = f (Ax). Mostre que g é duas vezes diferenciável em Rn e g ′ (x) = AT f ′ (Ax) g ′′ (x) = AT f ′′ (Ax)A Solução: f : Rn → R é diferenciável e ϕ(x) = Ax é linear e, portanto, diferenciável. Logo, pela regra da cadeia, g é diferenciável e hg ′ (x) : hi = hf ′ (Ax) : Ahi = hAT f ′ (Ax) : hi, ∀h ∈ Rn . Portanto, g ′ (x) = AT f ′ (Ax), para todo x ∈ Rn . Analogamente, pela regra da cadeia, g ′ : Rn → Rn é diferenciável e [g ′′ (x)]h = AT f ′′ (Ax)Ah, ∀h ∈ Rn . Assim, g ′′ (x) = AT f ′′ (Ax)A, para todo x ∈ Rn . Exercı́cio 7.6: Considere a matriz simétrica a b A= , a, b, c ∈ R. b c Mostre que A é positiva definida se e somente se det A > 0 e a > 0. Mostre que se A é semipositiva definida, então det A ≥ 0 e a ≥ 0 mas a recı́proca é falsa. Solução: Seja x = (x1 , x2 ) um vetor qualquer de R2 . Então hAx : xi = ax21 + 2bx1 x2 + cx22 . Suponhamos incialmente a 6= 0. Então podemos escrever 2b c 2 2 hAx : xi = a x1 + x1 x2 + x2 a a " # 2 b ac − b2 2 = a x1 + x2 + x2 a a2 76 (7.3) Se a > 0 e det A = ac − b2 > 0, concluı́mos de (7.3) que hAx : xi > 0 para todo x 6= 0. Reciprocamente, se hAx : xi > 0 para todo x 6= 0, escolhemos x = (1, 0) para concluir de (7.3) que a > 0. Escolhendo em seguida x = (b/a, −1), obtemos det A > 0. Suponhamos A semipositiva definida. Então hAx : xi ≥ 0 para todo x ∈ Rn . Se a 6= 0, as mesmas escolhas nos levam à conclusão que a ≥ 0 e det A ≥ 0. Por outro lado, se a = 0, então hAx : xi = x2 (2bx1 + cx2 ) ≥ 0 para todo x1 , x2 ∈ R. Fixando x2 = 1, concluı́mos que b = 0, isto é, det A = 0. A recı́proca é falsa. Escolha a = b = 0 e c = −1. Exercı́cio 7.7: Seja f : Rn → R função duas vezes diferenciável em x0 = 0 tal que f (tx) = t2 f (x) para todo x ∈ Rn e todo t ∈ R. Mostre que f (x) = 1 ′′ f (0)x : x , 2 ∀x ∈ Rn . Solução: Considere ϕ(t) = f (tx). Então ϕ′ (t) = hf ′ (tx) : xi = 2tf (x) e ϕ′′ (t) = hf ′′ (tx)x : xi = 2f (x). Para t = 0 a segunda identidade acima nos dá f (x) = 1 ′′ hf (0)x : xi. 2 Exercı́cio 7.8: Seja D = {x ∈ R2 ; kxk22 ≤ 1}. Considere f : R2 → R2 de classe C 1 tal que 1 Jf (x) 6= 0 ∀x ∈ D e kf (x) − xk2 ≤ ∀x ∈ D. 3 Mostre que existe x0 ∈ D tal que f (x0 ) = 0. Solução: Seja ϕ: D → R definida por ϕ(x) = kf (x)k2 . Como ϕ é contı́nua e D é compacto, existe x0 ∈ D tal que ϕ(x0 ) ≤ ϕ(x), ∀x ∈ D. Observe que ϕ(x0 ) ≤ 1/3. De fato, ϕ(x0 ) ≤ ϕ(0) = kf (0)k2 = kf (0) − 0k2 ≤ 1/3. (7.4) Além disso, x0 não pertence à fronteira ∂D de D. De fato, se x0 ∈ ∂D, então kx0 k2 = 1. Como 1/3 ≥ kx0 − f (x0 )k2 ≥ 1 − kf (x0 )k2 = 1 − ϕ(x0 ), terı́amos ϕ(x0 ) ≥ 2/3, o que está em contradição com (7.4). Portanto, x0 está no interior de D. 77 Observe que x0 também é ponto de mı́nimo de ψ(x) = ϕ(x)2 . Como ψ é diferenciável ◦ ◦ em D e x0 ∈ D, temos ψ ′ (x0 ) = 0. Isto é, hψ ′ (x0 ) : hi = 0 para todo h ∈ R2 . Aplicando a Regra da Cadeia, temos hψ ′ (x) : hi = 2hf ′ (x)T f (x) : hi, ◦ ∀x ∈D . Portanto, hf ′ (x0 )T f (x0 ) : hi = 0, ∀h ∈ Rn , o que implica que f ′ (x0 )T f (x0 ) = 0. Observe que, por hipótese, det[f ′ (x0 )T ] = det[f ′ (x0 )] = Jf (x0 ) 6= 0. Portanto, f (x0 ) = 0 como querı́amos provar. Exercı́cio 7.9: a) Seja A matriz n × n semipositiva definida, isto é hA : xi ≥ 0 ∀x ∈ Rn e defina a função g(x) = Ax. Mostre que g é monótona positiva. Seja Fλ (x) = x + λAx, com λ > 0. Mostre que Fλ é bijetora em Rn . b) Seja f monótona positiva e considere Fλ (x) = x + λf (x), com λ > 0. Mostre que Fλ é injetora. Se Fλ0 é sobrejetora para algum λ0 , mostre que Fλ é sobrejetora para todo λ > 0. Solução: (a) Provemos que Fλ é função injetora. Como A é semipositiva definida, temos kFλ (x1 )−Fλ (x2 )k22 = kx1 −x2 k22 +2λhx1 −x2 : Ax1 −Ax2 i+λ2 kAx1 −Ax2 k22 ≥ kx1 −x2 k22 , de modo que se Fλ (x1 ) = Fλ (x2 ), então x1 = x2 . Como Fλ é linear de Rn em Rn , é injetora se e somente se é sobrejetora. (b) f monótona positiva e Fλ (x) = x + λf (x). Provemos que Fλ é injetiva. kFλ (x1 ) − Fλ (x2 )k22 = kx1 − x2 k22 + 2λhx1 − x2 ; f (x1 ) − f (x2 )i + λ2 kAx1 − Ax2 k22 ≥ kx1 − x2 k22 (7.5) de modo que se Fλ (x1 ) = Fλ (x2 ), então x1 = x2 . Suponhamos Fλ0 sobrejetora. Então existe a inversa Fλ−1 . De (7.5) concluı́mos que Fλ−1 0 0 é Lipschitz contı́nua, com constante de Lipschitz igual a 1. Seja λ > 0. Para mostrar que Fλ é sobrejetora, seja y ∈ Rn . Então x é solução de Fλ (x) = y se e somente se f (x) = (y − x)/λ, que podemos escrever na forma λ0 λ0 x + λ0 f (x) = y+ 1− x , λ λ 78 isto é, x= Fλ−1 0 Se denotarmos Φ(x) = Fλ−1 0 λ0 λ0 y+ 1− x . λ λ (7.6) λ0 λ0 y+ 1− x , λ λ então Fλ é sobrejetora se e somente se Φ possui ponto fixo. Observe que λ 0 kx1 − x2 k2 , kΦ(x1 ) − Φ(x2 )k2 ≤ 1 − λ de modo que Φ é contração se λ > λ0 /2. Portanto, Fλ é sobrejetora para todo λ > λ0 /2. Seja λ1 = 2λ0 /3. Então Fλ1 é sobrejetora e os mesmos argumentos anteriores nos permitem concluir que Fλ é sobrejetora para todo λ > λ1 /2. Repetindo esse processo sucessivamente, construı́mos a sequência (λ0 , λ1 , λ2 , . . . , λk , . . .), onde λk = 2k λ0 /3k tal que, a cada etapa, concluı́mos que Fλ é sobrejetora para todo λ > λk /2. Como λn → 0, Fλ é sobrejetora para todo λ > 0, como querı́amos demosntrar. Exercı́cio 7.10: Seja f : Rn → Rn função de classe C 1 tal que Jf (x) 6= 0, ∀x ∈ Rn . Considere a sequência: x0 ∈ R n e xk+1 = xk − f ′ (xk )−1 f (xk ), k≥0 (∗) a) Mostre que se xk −→ x̄, então f (x̄) = 0. b) Reciprocamente, se f (x) = 0 para algum x, mostre que a sequência definida por (∗) converge para x̄ se x0 for tomado suficientemente próximo de x. Solução: f : Rn → Rn função de classe C 1 tal que det[f ′ (x)] 6= 0 para todo x ∈ Rn e xk+1 = xk − [f ′ (xk )]−1 f (xk ). (a) Suponhamos xk → x. Como f é de classe C 1 , temos f (xk ) → f (x) e Ak := f ′ (xk ) → A := f ′ (x). Como a aplicação A 7→ A−1 é contı́nua (veja Exercı́cio 4.16), temos A−1 −→ A−1 . k n→∞ Portanto, fazendo n tender a infinito em (7.7) obtemos A−1 f (x) = 0, de onde se permite concluir que f (x) = 0 pois det A 6= 0 79 (7.7) (b) Supondo f (x) = 0, podemos escrever (7.7) na forma xk+1 − x = xk − x − [f ′ (xk )]−1 f (xk ) − f (x) = [f ′ (xk )]−1 f ′ (xk )(xk − x) + f (xk ) − f (x) , = [f ′ (xk )]−1 f ′ (xk ) − f ′ (x) (xk − x) + ε(xk − x) onde kε(ξ)k/kξk → 0 quando kξk → 0. Seja α = kf ′ (x)−1 k. Como as aplicações x 7→ f ′ (x) e X 7→ X −1 são contı́nuas, existe δ1 > 0 tal que kx − xk < δ1 kf ′ (x)−1 k < 2α, ⇒ de modo que se xk ∈ Bδ1 (x), então kxk+1 − xk ≤ 2α (kf ′ (xk ) − f ′ (x)kkxk − xk + kε(xk − x)k) . Além disso, como f ′ é contı́nua em x, existe δ2 > 0 tal que kx − xk < δ2 ⇒ kf ′ (x) − f ′ (x)k < 1 . 8α Como f é diferenciável em x, existe δ3 > 0 tal que kx − xk < δ3 ⇒ kε(x − x)k < 1 kx − xk. 8α Seja δ = min{δ1 , δ2 , δ3 }. Então se kxk − xk < δ, temos kxk+1 − xk ≤ 1 kxk − xk. 2 Portanto, se x0 pertence à bola Bδ (x), temos kxk − xk ≤ 1 kx0 − xk 2k e concluı́mos que xk → x. 80