ISSN 1677-1419 Ano 8, Vol. 8, Número 8 - 2008 IBDH Revista do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos Ano 8, Vol. 8, Número 8 - 2008 Revista do IBDH Instituto Brasileiro de Direitos Humanos Ano 8, Vol. 8, Número 8 - 2008 Organizadores: Antônio Augusto Cançado Trindade César Oliveira de Barros Leal Conselho Editorial O conteúdo dos artigos é de inteira responsabilidade dos autores. Permite-se a reprodução parcial ou total dos artigos aqui publicados desde que seja mencionada a fonte. Distribuição: Instituto Brasileiro de Direitos Humanos Rua José Carneiro da Silveira, 15 ap. 301. Papicu CEP: 60190.760 Fortaleza - Ceará - Brasil Telefax: +55 85 3234.32.92 http://www.ibdh.org.br A Revista do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos é uma publicação anual do IBDH. Antônio Augusto Cançado Trindade César Oliveira de Barros Leal Paulo Bonavides Washington Peluso Albino de Souza Alexsandra de Lima Antônio Álvares da Silva Antônio Celso Alves Pereira Antônio Otávio Sá Ricarte Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros Arnaldo Oliveira Carlos Weis Emília Segares Emmanuel Teófilo Furtado Gonzalo Elizondo Breedy Hélio Bicudo Hermes Vilchez Guerrero Juan Carlos Murillo Manuel E. Ventura-Robles Margarida Genevois Maria Glaucíria Mota Brasil Néstor José Méndez González Pablo Saavedra Alessandri Renato Zerbini Ribeiro Leão Roberto Cuéllar Ruperto Patiño Manffer Sílvia Maria da Silva Loureiro Projeto Gráfico/Capa Nilo Alves Júnior Diagramação Franciana Pequeno Revisão César Oliveira de Barros Leal Revista do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos. V. 8, N. 8 (2008). Fortaleza, Ceará. Instituto Brasileiro de Direitos Humanos, 2008. Anual. 1. Direitos Humanos - Periódicos. I. Brasil. Instituto Brasileiro de Direitos Humanos. CDU ISSN 1677-1419 Sumário Ano 8, Vol. 8, Número 8 - 2008 Ano 8, Vol. 8, Número 8 - 2008 Conselho Consultivo ......................................................................... 05 Apresentação ..................................................................................... 09 I- Reinventando la Ciudadanía: Nuevas Demandas Sociales en la Arena Global Alfonso de Julios-Campuzano..........................................................11 II - Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Ampliação do Conteúdo Material do Conceito Normativo de Jus Cogens Ana Laura Becker Aguiar e Gabriel Gualano de Godoy..................25 III- Responsabilidad, Perdón y Justicia como Manifestaciones de la Conciencia Jurídica Universal Antônio Augusto Cançado Trindade.................................................35 IV- El Derecho Comunitario Europeo y el Defensor del Pueblo de España Antonio Colomer Viadel...................................................................43 V- O Mito Sobrevivente da Reabilitação: Uma Análise à Luz dos Direitos Humanos César Oliveira de Barros Leal............................................................53 VI- Justicia Penal y Derechos Humanos Emma Mendoza Bremauntz......................................................................................................................................61 VII- El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos Florabel Quispe Remón.............................................................................................................................................79 VIII- Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas Isabela Maia Mesquita Martins e Juliana Nicola Kilian............................................................................................95 IX- Just a Matter of Time? Expanding the Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to Address Cold War Wrongs Jeffrey B. Hall...........................................................................................................................................................111 X- Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies Jorge Calderón Gamboa...........................................................................................................................................127 XI- Extrema Pobreza: Entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um Limiar Mínimo para a Dignidade Humana Leonardo Castilho...................................................................................................................................................149 XII- La Jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos Loretta Ortiz Ahlf....................................................................................................................................................165 XIII- La Supranacionalidad de los Derechos Humanos María Emma Silva Romano.....................................................................................................................................171 XIV- Globalização e o Conceito de Humanidade: Racionalidade e Irracionalidade. Desafiando o Tratamento Jurídico das Relações Econômicas Internacionais Ricardo Antônio Lucas Camargo.............................................................................................................................181 XV- Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos Sergio García Ramírez.............................................................................................................................................195 XVI- Caso Ximenes Lopes versus Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença Sílvia Maria da Silveira Loureiro..............................................................................................................................207 ANEXOS XVII- Convenio de Colaboración e Intercambio que celebran el Inecipe y el IBDH..........................................................227 XVIII-Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights Antônio Augusto Cançado Trindade........................................................................................................................229 XIX- Le Port Du Voile à L'Université. Libres Propos Sur L'arrêt de la Grande Chambre Leyla Sahin C. Turquie du 10 Novembre 2005 Laurence Burgorgue-Larsen e Edouard Dubout.......................................................................................................253 XX- Derechos Humanos de las Mujeres y Uso de la Fuerza en los Reclusorios Sergio García Ramírez.............................................................................................................................................273 XXI -Resenha: Per Non Dimenticare - Uma Análise das Leis de Auto-anistia na Evolução Jurisprudencial da Corte Interamericana de Direitos Humanos Vinícius Fox D. Cançado Trindade...........................................................................................................................281 Conselho Editorial.................................................................................................................................................293 Conselho Consultivo do IBDH CONSELHO CONSULTIVO DO IBDH rindade (Presidente de Honra) • Antônio A Augusto Trindade ugusto Cançado T Ph.D. (Cambridge – Prêmio Yorke) em Direito Internacional; Professor Titular da Universidade de Brasília e do Instituto Rio Branco; ex-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; ex-Consultor Jurídico do Ministério das Relações Exteriores do Brasil; Membro do Conselho Diretor do Instituto Internacional de Direitos Humanos (Estrasburgo) e da Assembléia Geral do Instituto Interamericano de Direitos Humanos; Membro Titular do “Institut de Droit International”. • César Oliveira de Barros Leal (Presidente) Mestre em Direito pela UFC; Doutor em Direito pela Universidade Nacional Autônoma do México; Procurador do Estado do Ceará; Professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará; ex-Membro Titular do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária; Membro da Assembléia Geral do Instituto Interamericano de Direitos Humanos e da Academia Brasileira de Direito Criminal; Membro da Academia Cearense de Letras e da Academia de Ciências Sociais do Ceará. • Paulo Bonavides (1 o vice-Presidente) Doutor em Direito; Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará; Professor Visitante nas Universidades de Colonia (1982), Tennessee (1984) e Coimbra (1989); Presidente Emérito do Instituto Brasileiro de Direito Constitucional; Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa; Titular das Medalhas “Rui Barbosa” da Ordem dos Advogados do Brasil (1996) e “Teixeira de Freitas” do Instituto dos Advogados Brasileiros (1999). • Washington PPeluso eluso Albino de Souza (2 o vice-Presidente) Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais; exDiretor e Decano da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais; Presidente da Fundação Brasileira de Direito Econômico. • Andrew Drzemczewski Ph. D. (Universidade de Londres); ex-Professor Visitante da Universidade de Londres; Diretor da Unidade de “Monitoring” do Conselho da Europa; Conferencista em Universidades de vários países. • Alexandre Charles Kiss Ex-Secretário Geral e ex-vice-Presidente do Instituto Internacional de Direitos Humanos (Estrasburgo); Diretor do Centro de Direito Ambiental da Universidade de Estrasburgo; Diretor de Pesquisas do “Centre National de la Recherche” (França); Conferencista em Universidades de vários países. • Antonio Sánchez Galindo Ex-Diretor do Centro Penitenciário do Estado do México; ex-Diretor Geral de Prevenção e Readaptação Social do Estado do México; ex-Professor de Direito Penal da UNAM; Membro da Academia Mexicana de Ciências Penais e da Sociedade Mexicana de Criminologia; Diretor Técnico do Conselho de Menores da Secretaria de Segurança Pública do México. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 5 Conselho Consultivo do IBDH • Celso Albuquerque Mello Professor Titular de Direito Internacional Público da Pontifícia Universidade Católica do Estado do Rio de Janeiro; Livre-Docente e Professor de Direito Internacional Público da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro; Juiz do Tribunal Marítimo. • Christophe Swinarski Ex-Consultor Jurídico do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV-Genebra); Delegado do CICV no Extremo Oriente e ex-Delegado do CICV na América do Sul (Cone Sul); Conferencista em Universidades de vários países. • Dalmo de Abreu Dallari Professor da Universidade de São Paulo; ex-Secretário de Negócios Jurídicos da Cidade de São Paulo; Membro da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo. • Elías Carranza Criminólogo; Diretor do Instituto Latino-americano das Nações Unidas para a Prevenção do Crime e Tratamento do Delinqüente (ILANUD). • Elio Gómez Grillo Advogado; Doutor em Direito; Professor Universitário de Criminologia e Direito Penal em Caracas, Paris e Roma; Fundador do Instituto Universitário Nacional de Estudos Penitenciários (IUNEP) da Venezuela; Presidente da Comissão de Funcionamento e Reestruturação do Sistema Judiciário da Venezuela; Autor de obras sobre Criminologia, Direito Penal e Penitenciarismo. • Fernando Luiz Ximenes Rocha Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará; Professor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará; ex-Diretor Geral da Escola Superior da Magistratura do Ceará; ex-Procurador Geral do Município de Fortaleza; ex-Procurador do Estado do Ceará; ex-Procurador Geral do Estado do Ceará; ex-Secretário da Justiça do Estado do Ceará; exSecretário do Governo do Estado do Ceará. eloso Mendes Ommati • Fides Angélica de Castr Castro Veloso o V Advogada; ex-Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Piauí; Conselheira Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. • Héctor Fix-Zamudio Professor Titular e Investigador Emérito do Instituto de Pesquisas Jurídicas da Universidade Nacional Autônoma do México; ex-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Membro da Subcomissão de Prevenção de Discriminação e Proteção de Minorias das Nações Unidas; Membro do Conselho Diretor do Instituto Interamericano de Direitos Humanos. 6 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Conselho Consultivo do IBDH • Jaime Ruiz de Santiago Professor da Universidade Ibero-americana do México; ex-Encarregado de Missão do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) no Brasil; ex-Delegado do ACNUR em San José – Costa Rica; Conferencista em Universidades de vários países. • Jayme Benvenuto Lima Júnior Mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco; Consultor Jurídico do GAJOP (Recife). • Jean François Flauss Secretário Geral do Instituto Internacional de Estrasburgo; Professor de Direito Internacional da Universidade de Paris II. asak • Karel V Vasak Ex-Secretário Geral do Instituto Internacional de Direitos Humanos; ex-Consultor Jurídico da UNESCO. • Nilzardo Carneiro Leão Professor da Faculdade de Direito de Recife (Pernambuco); Professor de Direitos Humanos da Academia de Polícia de Pernambuco. • Ruth Villanueva Castilleja Doutora em Direito pela Universidade Nacional Autônoma do México; Membro do Sistema Nacional de Investigadores do México; ex-Presidenta do Conselho de Menores Federal do México. • Sergio García Ramírez Investigador no Instituto de Investigações Jurídicas e Membro da Junta de Governo da Universidade Nacional Autônoma do México; Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos. • Sheila Lombardi de Kato Desembargadora do Estado de Mato Grosso; Coordenadora-Geral do Programa Nacional de Direitos da Mulher ’Angelis • Wagner Rocha D D’Angelis Mestre e Doutor em Direito; Presidente da Associação de Juristas pela Integração da América Latina; Professor de Direito Internacional Público e Direito da Integração da Universidade Tuiuti (Paraná). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 7 Conselho Consultivo do IBDH 8 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Conselho Consultivo do IBDH APRESENTAÇÃO O Instituto Brasileiro de Direitos Humanos (IBDH) tem a satisfação de dar a público o oitavo número de sua Revista, instrumento pelo qual contribui com periodicidade regular para o desenvolvimento do ensino e da pesquisa na área dos direitos humanos, visando à promoção desses no âmbito da realidade brasileira. No entendimento do IBDH, o ensino e a pesquisa em direitos humanos giram necessariamente em torno de alguns conceitos básicos. Afirme-se, de início, a própria universalidade dos direitos humanos, inerentes que são a todos os seres humanos, e conseqüentemente superiores e anteriores ao Estado e a todas as formas de organização política. Por conseguinte, as iniciativas para sua promoção e proteção não se esgotam – não se podem esgotar – na ação do Estado. Há que igualmente destacar a interdependência e indivisibilidade de todos os direitos humanos (civis, políticos, econômicos, sociais e culturais). Ao propugnar por uma visão necessariamente integral de todos os direitos humanos, o IBDH adverte para a impossibilidade de buscar a realização de uma categoria de direitos em detrimento de outras. Quando se vislumbra o caso brasileiro, a concepção integral dos direitos humanos impõe-se com maior vigor, porquanto desde os seus primórdios de sociedade predatória até o acentuar da crise social agravada nos anos mais recentes, nossa história tem sido até a atualidade marcada pela exclusão, para largas faixas populacionais, seja dos direitos civis e políticos, em distintos momentos, seja dos direitos econômicos, sociais e culturais. A concepção necessariamente integral de todos os direitos humanos se faz presente também na dimensão temporal, descartando fantasias indemonstráveis como a das gerações de direitos, que têm prestado um desserviço à evolução da matéria ao projetar uma visão fragmentada ou atomizada no tempo dos direitos protegidos. Todos os direitos para todos é o único caminho seguro. Não há como postergar para um amanhã indefinido a realização de determinados direitos humanos. No presente domínio de proteção impõese maior rigor e precisão conceituais, de modo a tratar, como verdadeiros direitos que são, os direitos humanos em sua totalidade. Para lograr a eficácia das normas de proteção, há que partir da realidade do quotidiano e reconhecer a necessidade da contextualização das normas de proteção em cada sociedade humana. Os avanços logrados nesta área têm-se devido, em grande parte, sobretudo, às pressões da sociedade civil contra todo tipo de poder arbitrário, somadas ao diálogo com as instituições públicas. A cada meio social está reservada uma parcela da obra de construção de uma cultura universal de observância dos direitos humanos. Os textos, em várias línguas, que compõem este oitavo número da Revista do IBDH enfeixam uma variedade de tópicos atinentes à temática dos direitos humanos. As contribuições enfocam pontos de extrema relevância como: Reinventando la Ciudadanía: Nuevas Demandas Sociales en la Arena Global; Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Ampliação do Conteúdo Material do Conceito Normativo de Jus Cogens; Responsabilidad, Perdón y Justicia como Manifestaciones de la Conciencia Jurídica Universal; El Derecho Comunitario Europeo y el Defensor del Pueblo de Espana; O Mito Sobrevivente da Reabilitação: Uma Análise à Luz dos Direitos Humanos; Justicia Penal y Derechos Humanos; El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos; Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas; Just a Matter of Time? Expanding the Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to Address Cold War Wrongs; Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 9 Apresentação International Human Rights Remedies; Extrema Pobreza: Entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um Limiar Mínimo para a Dignidade Humana; La Jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos; La Supranacionalidad de los Derechos Humanos; Globalização e o Conceito de Humanidade: Racionalidade e Irracionalidade. Desafiando o Tratamento Jurídico das Relações Econômicas Internacionais; Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos e Caso Ximenes Lopes versus Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença. Em anexo: Convenio de Colaboración e Intercambio que celebran el Inecipe y el IBDH; Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights; Le Port Du Voile à L’Université. Libres Propos Sur L’arrêt de la Grande Chambre Leyla Sahin C. Turquie du 10 Novembre 2005; Derechos Humanos de las Mujeres y Uso de la Fuerza en los Reclusorios; Resenha: Per Non Dimenticare - Uma Análise das Leis de Auto-anistia na Evolução Jurisprudencial da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Está o IBDH convencido de que o progresso da proteção internacional dos direitos humanos se encontra hoje diretamente ligado à adoção e aperfeiçoamento das medidas nacionais de implementação, preservados naturalmente os padrões internacionais de salvaguarda dos direitos humanos. Toda a temática dos direitos humanos encontra ressonância imediata na sociedade brasileira contemporânea. O convívio com a violência em suas múltiplas formas, a insegurança da pessoa e o medo diante da criminalidade, a brutalidade dos níveis crescentes de destituição e exclusão, a desconfiança da população quanto à eficácia da lei, a chaga da impunidade, clamam pela incorporação da dimensão dos direitos humanos em todas as áreas de atividade humana em nosso meio social. Entende o IBDH que, no presente domínio de proteção, o direito internacional e o direito interno se encontram em constante interação, em benefício de todos os seres humanos protegidos. Assim sendo, manifesta o IBDH sua estranheza ante o fato de não se estar dando aplicação cabal ao art. 5°, §2°, da Constituição Federal Brasileira vigente, de 1988, o que acarreta responsabilidade por omissão. No entendimento do IBDH, por força do art. 5°, §2°, da Constituição Brasileira, os direitos consagrados nos tratados de direitos humanos em que o Brasil é Parte incorporam-se ao rol dos direitos constitucionalmente consagrados. Há que os tratar dessa forma, como preceitua nossa Constituição, para buscar uma vida melhor para todos quantos vivam no Brasil. Nesse sentido, o IBDH repudia as alterações introduzidas pelo novo art. 5, §3°, da recente emenda constitucional n. 45 (promulgada em 08.12.2004), o qual revela inteiro desconhecimento da matéria, da perspectiva do Direito Internacional dos Direitos Humanos, dando ensejo a todo tipo de incongruências, – inclusive em relação a tratados de direitos humanos anteriores à referida emenda, – ao sujeitar o status constitucional de novos tratados de direitos humanos à forma de aprovação parlamentar dos mesmos. Esta bizonha novidade, sem precedentes e sem paralelos, leva o IBDH a reafirmar, com ainda maior veemência, a autosuficiência e autoaplicabilidade do art. 5, §2°, da Constituição Federal brasileira. Como um repositório de pensamento independente e de análise e discussão pluralistas sobre os direitos humanos, a Revista do IBDH busca o desenvolvimento do ensino e da pesquisa sobre a matéria em nosso País. Desse modo, na tarefa de consolidação de um paradigma de observância plena dos direitos humanos em nosso meio, espera o IBDH poder dar sua contribuição à redução do fosso que separa o quotidiano dos cidadãos brasileiros do ideário embutido na Constituição Federal e consagrado nos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos em que o Brasil é Parte. Antônio A ugusto Cançado T rindade Augusto Trindade César Oliveira de Barros Leal 10 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ REINVENTANDO LA CIUDADANÍA: NUEVAS DEMANDAS SOCIALES EN LA ARENA GLOBAL ••••••••••••••••••••••••••• ALFONSO DE JULIOS-CAMPUZANO Profesor Titular de Filosofía del Derecho de la Universidad de Sevilla 1 . POLÍTIC A Y DERECHOS EN LLA A POLÍTICA GLOBALIZACIÓN En nuestro tiempo el mundo se está viendo drásticamente transformado merced a la irrupción de nuevos procesos sociales desencadenados por la integración económica y la revolución de las nuevas tecnologías. No hay ámbito de la vida social que no se vea afectado de una u otra manera por el impacto de los nuevos procesos que se están desencadenando. La globalización es, sin duda, mucho más que la simple aceleración de los procesos económicos mediante la supresión de las coordenadas espaciotemporales. Estamos, pues, ante un proceso de amplias proporciones, que implica a naciones, regímenes políticos, proyectos nacionales, grupos y clases sociales, culturas y civilizaciones, y que señala la emergencia de la sociedad global como una totalidad comprensiva, compleja y contradictoria; una realidad cuyo impacto genera una redefinición de los distintos ámbitos de la vida social. La aceleración de la economía provoca una mutación profunda del modo de producción capitalista y la transnacionalización de las fuerzas productivas sobrepasa las fronteras geográficas, históricas y culturales, destruyendo o recreando otras formas sociales de vida o de trabajo (Ianni, 1999a, 7-13). Tras esta palabra, que no resulta demasiado elegante, se esconde todo un conjunto variado y pluriforme de complejas transformaciones sociales que anuncian un periodo crucial de transición histórica. Su alcance es difícil de prever, pero pocos dudan que la globalización está alterando nuestra imagen del mundo y que comporta una transformación sin precedentes que, tal como ha mostrado Giddens, no se reduce a una zona concreta del globo sino que penetra todos los espacios geográficos y todos los ámbitos vitales: no hay sector de la vida social que no quede afectado por esta compleja red de fenómenos concatenados (Giddens, 2000, 13). La globalización entraña un complejo heterogéneo de transformaciones cuyas consecuencias se prefiguran ya como irreversibles. Un mundo nuevo está emergiendo a partir del mundo existente. Y no se trata de un proceso exento de choques, de conflictos y de rupturas. La globalización entraña quiebra, ruptura y discontinuidad. Es lo nuevo que pugna con fuerza por abrirse paso a través del esquema consolidado de relaciones, conceptos y categorías. Vivimos, pues, una época de confusión, de zozobra y de conflicto. Lo nuevo que rompe y lo viejo que se resiste a ser desplazado. Es necesario comenzar a percibir esta realidad, porque estamos ante una transformación sin precedentes. Afrontarla exige una actitud decidida en la construcción del futuro, consciente de la responsabilidad que nos cumple en la realización de una sociedad más humana, de un mundo menos inhóspito. La globalización representa (Ianni, 1999a, 11) un nuevo ciclo de expansión del capitalismo, como modo de producción y proceso civilizatorio de alcance mundial; un ciclo caracterizado por la integración de los mercados de forma avasalladora y por la intensificación de la circulación de bienes, servicios, tecnologías, capitales e informaciones a nivel planetario. De este modo, la globalización aparece concebida como la “integración sistémica de la economía a nivel supranacional, deflagrada por la creciente diferenciación estructural y funcional de los sistemas productivos y por la subsiguiente ampliación de las redes empresariales, comerciales y financieras a escala mundial, actuando de modo cada vez más independiente de los controles políticos y jurídicos a nivel nacional”(Faria, 2000, 52). Es lo que Wallerstein (1979 y 1991) ha denominado “economía mundial capitalista”: un nuevo marco económico mundial regido por el sistema capitalista cuya dinámica expansiva alcanza así su culminación. De un extremo a otro del planeta, el capitalismo se ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 11 Alfonso de Julios-Campuzano extiende y se ramifica en múltiples derivaciones locales, un único sistema cuyos desdoblamientos crean una imagen de particularidad. La economía mundial capitalista aparece, entonces, como un marco de referencia regido por tres elementos básicos: el principio de maximización de los beneficios, la existencia de estructuras estatales que intervienen en los procesos económicos en aras de la máxima productividad de determinados grupos y la estratificación del espacio internacional en virtud de las condiciones de explotación que imperan en las relaciones entre Estados como consecuencia de un orden económico internacional inícuo. Estas alteraciones de la economía provocan un conjunto concatenado de reacciones que van desde la disminución de la capacidad de reglamentación de los gobiernos a la aparición de nuevas configuraciones geopolíticas con poder para controlar los flujos productivos, mercantiles, monetarios y migratorios (Faria, 2000, 7-8). La globalización genera una multiplicidad de conexiones y relaciones entre Estados y sociedades, multiplicidad que trastoca y que quiebra los esquemas de un orden socio-político basado en la diferenciación a través de las estructuras propias de los mercados nacionales1. La globalización es algo más que un proceso de superación de las economías parciales de los Estados y su suplantación acelerada por un único espacio de intercambio de carácter global. Implica, fundamentalmente, un salto cualitativo en la expansión del capitalismo, un capitalismo que, al desvincularse del modelo económico estatal, se convierte en apátrida, un capitalismo sin raíces y sin territorio, que va de acá para allá buscando el máximo beneficio. La interconexión, propiciada por las comunicaciones y por las nuevas tecnologías, ha provocado la reducción espacial del mundo, cuyos confines resultan ahora fácilmente abarcables. No hay camino inexplorado ni tierra ignota: lo desconocido ya no existe. Evocando la tesis de Fukuyama sobre el fin de la historia, Richard O´Brien (1992) ha proclamado el “fin de la geografía”: las distancias ya no importan y la idea de frontera geográfica es cada vez más insostenible en el mundo real. En efecto, la distancia no es un dato objetivo, sino que es, ante todo, un producto social, una magnitud relativa asociada a la capacidad humana para salvarla (Bauman, 1999, 19). En nuestro tiempo no hay nada demasiado lejano e inaccesible. En este sentido, nuestra era viene marcada por dos fenómenos fundamentales: la reducción del espacio geográfico y la creación del espacio cibernético. Una red de comunicaciones abraza el planeta de un extremo a otro: carreteras, rutas marítimas y aéreas, satélites, fibra óptica, 12 ondas electromagnéticas... Un manto tupido y enmarañado de comunicaciones que elimina los obstáculos y diluye las fronteras (Shawcross, 1993). Los límites se difuminan y desaparecen, las puertas se abren, las dificultades se allanan. Es lo que Castells ha denominado la sociedad red: una sociedad construida por la revolución de las tecnologías de la información y la reorganización del capitalismo. La sociedad red representa un nuevo modelo de organización socioeconómica mediante la globalización de las actividades económicas y el desarrollo de un sistema de medios de comunicación omnipresentes, interconectados y diversificados. La acción combinada de estos elementos ha provocado una “transformación de los cimientos materiales de la vida, el espacio y el tiempo, mediante la constitución de un espacio de flujos y del tiempo atemporal” (Castells, 1998, 23). El capitalismo se expande a ritmo de vértigo, los intercambios se multiplican, y el dinero se mueve por los circuitos virtuales de la telemática: nuevos flujos financieros que escapan a todo control. En este escenario, los Estados-nación pierden de manera alarmante su propia capacidad de dirección, de regulación y de control sobre los procesos socioeconómicos. Estamos, como ha recordado Ianni, ante una “crisis generalizada del estado-nación” (Ianni, 1999b, 17): el capitalismo ha conseguido liberarse de los grilletes, zafarse de la guardia y esquivar los controles. Libre de trabas, sigue sus propios instintos, dicta sus reglas y ordena el mundo. Y mientras el capital se frota las manos, la democracia se vacía de contenidos y el Estado se convierte en una especie de convidado de piedra del orden económico internacional: sometido a las reglas del sistema económico global, termina por ceder en la pugna y tirar la toalla. Convencido de que la victoria no es posible, el Estado renuncia a sus pretensiones y se pliega a las de su contrincante. Y si la racionalidad económica demanda concesiones, habrá que satisfacer sus exigencias: no vaya a ser que desatemos las iras del fugitivo, convertido ahora en guardián. Que la paz tiene un precio eso nadie lo duda, pero nadie podía aventurar que ese precio pudiera ser tan alto: la conversión del Estado en aliado del capitalismo transnacional, el arrinconamiento de los contenidos sociales del programa keynesiano, el vaciamiento de la democracia y la instrumentalización de los derechos humanos, cuya precariedad constituye una de las grandes incertidumbres de nuestro tiempo. Y es que, como ha apuntado Capella, esos nuevos fenómenos históricos sintetizados en el término globalización, “desgarran el tejido conceptual de la “teoría política” moderna”. La teoría política ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reinventando la Ciudadanía: Nuevas Demandas Sociales en la Arena Global tradicional ha perdido capacidad explicativa ante el empuje de este vasto conjunto de fenómenos que limitan fácticamente el propio ámbito de actuación del Estado como actor principal del orden jurídicopolítico: “Estos límites son impuestos por la concentración y la transnacionalización del poder económico, en el pasado enormemente fragmentario. La mundialización subvierte el mercado “nacional”, uno de los fundamentos del poder del Estado-Nación” (Capella, 1999, 104 y 106). 2 . MITOLOGÍA DEL MERCADO Y DESREGUL ACIÓN No podemos soslayar, sin embargo, que este proceso está alimentado por una urdimbre ideológica que ensalza las bondades del mercado, resucitando aquel viejo aforismo de Mandeville en La fábula de las abejas que convertía los vicios privados en virtudes públicas. La ideología del mercado proclama enfáticamente su adhesión a la democracia y a los derechos humanos al tiempo que los convierte en instrumentos del sistema económico: una suerte de mito cuya imposible realización plena sostiene la expansión y desarrollo del capitalismo. Todos saben, sin embargo, que hay una especie de contradicción interna, que el sistema tiene aporías que no pueden ocultarse y que la lógica del capital entra en colisión con la lógica de la democracia y de los derechos humanos. La ideología del capitalismo global actúa justamente en esta dirección: la de ocultar la realidad, exaltando la propia capacidad del sistema para corregir sus desequilibrios, como si toda intervención constituyera una distorsión inadmisible. Retornamos así a la vieja creencia de la “mano invisible” y en el orden espontáneo del mercado. Es claro que desde estas posiciones teóricas los avances científico-tecnológicos constituyen un magnífico expediente para la expansión del capitalismo, como también que el modelo de globalización que postulan se contruye sobre la ausencia de control político sobre el poder económico. Conviene, sin embargo, advertir, como ha apuntado Beck, que el sistema económico desafía sus propias exigencias de legitimidad al erigirse en amenaza contra el sistema de libertades de la democracia capitalista, pues el nuevo sistema de producción escapa con facilidad, a través de la desterritorialización de los centros productivos, de las pretensiones recaudatorias de los Estados que se ven abocados, como consecuencia de ello, a una crisis financiera que amenaza los niveles de bienestar social. La descentralización productiva provoca, entonces, una crisis de la sociedad del trabajo que alcanza de lleno a los sistemas de prevención social pues “cuando el capitalismo global de los países más desarrollados destruye el nervio vital de la sociedad de trabajo, se resquebraja también la alianza histórica entre capitalismo, Estado asistencial y democracia” (Beck, 1998, 97). La amenaza a los contenidos sociales es, en definitiva, una amenaza a la libertad política y a la democracia, pues el capitalismo socialmente “amortiguado” no es una buena obra social, sino un hecho de Ilustración aplicada: “Se sustenta en el razonamiento de que sólo los hombres que tienen una vivienda y un puesto de trabajo seguro, y con ello un futuro material, son o llegan a ser ciudadanos que se apropian de la democracia y la convierten en algo vivo. La verdad desnuda es ésta: sin seguridad material no puede existir libertad política, ni por tanto democracia alguna” (Beck, 1998, 98). Estamos, como Lash y Urry (1987) han puesto de relieve, ante el fin del capitalismo organizado. Desde esta perspectiva la globalización se nos presenta como un reto al proceso de expansión de la racionalidad occidental que, durante siglos, pugnó por domesticar el poder, la política y la economía a través del derecho y que ahora se ve asediada por el proceso de autonomización de la racionalidad económica. La globalización se caracteriza, justamente, por la ausencia de control, por la pérdida de referentes, por la liberación de un sistema económico que repele toda tentativa de control desde el poder político. Esta idea, como ha apuntado Bauman, subyace al fenómeno de la globalización: “El significado más profundo transmitido por la idea de la globalización es el del carácter indeterminado, indisciplinado y de autopropulsión de los asuntos mundiales; la ausencia de un centro, de un panel de control, de una comisión directora, de un gabinete administrativo” (Bauman, 1999, 67). La nueva era que se abre ante nuestros ojos se distingue, justamente, por la ausencia de control sobre el sistema económico: la era del capitalismo desorganizado, un capitalismo incontrolado cuya desorganización es sólo aparente, pues encubre todo un entramado normativo que se sobrepone a los ordenamientos jurídicos estatales y que condicionan drásticamente la efectividad y el alcance de las legislaciones estatales. Es el laissez faire a nivel internacional, construido a partir de la fragilidad de los Estados para responder a estos procesos económicos globales. La globalización manifiesta, entonces, su rostro más nauseabundo: el de un capitalismo depredador que puede exhibirse sin disfraz. No precisa ya recurrir al engaño de ocultarse bajo la apariencia tierna y conmovedora de una abuelita desvalida. Sólo nos resta saber si Caperucita está aún a tiempo de salvar su vida, conscientes de ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 13 Alfonso de Julios-Campuzano que el final del cuento es, en realidad, una mentira piadosa. Queda claro, a la luz de lo anterior, que la debilidad del Estado ante los procesos socioeconómicos globales constituye un sólido aliado para la expansión frenética del capitalismo depredador. La brutalidad de la globalización está en relación directamente proporcional a la fragilidad de las estructuras institucionales del modelo estatal que se ve forzado a ceder a la lógica, pretendidamente inexorable, de un sistema económico que reclama la supresión de límites y la remoción de obstáculo para su desarrollo. Ello provoca un repliegue de las funciones del Estado, que renuncia a la tradicional concepción reguladora propia del modelo social en beneficio de una concepción gerencial del sistema político. El Estado asistencial se debilita empujado por un modelo gerencial de la organización estatal, cuyo cometido principal es la gestión de las condiciones económicas, laborales y productivas que permitan la maximización del beneficio y el desarrollo sin restricciones del sistema económico. El Estado gerencial no renuncia a la regulación, pero desplaza los objetivos de ésta: ahora no se trata de conseguir la justicia social sino de potenciar la competitividad económica. La incapacidad palmaria del Estado para articular respuestas eficaces ante los desafíos del orden global propicia el desarrollo de un capitalismo salvaje, fuera de todo control, cuyas reglas consagran la ausencia de límite a la racionalidad del cálculo costo/beneficio. Esta situación evidencia un desajuste profundo entre el proceso de globalización económica y las instituciones jurídico-políticas. Movidos por un decidido empeño clarificador algunos autores han tratado de acotar el fenómeno al ámbito de la economía, aunque al hacerlo han incurrido en la actitud reduccionista de concebir la economía como un compartimento estanco, completamente al margen de otros fenómenos sociales. Me parece que una actitud de este tipo es demasiado simple, por cuanto prescinde de las interacciones que se producen en la vida social entre los ámbitos de la economía, de la política, del derecho y de la cultura. No es lícito desconocer la implicación mutua de los distintos ámbitos de la vida social y, menos aún, proyectar análisis de esta naturaleza en el espacio de las ciencias sociales. Ciertamente, la globalización comporta un conjunto de transformaciones económicas como consecuencia de la acción combinada de las nuevas tecnologías y las fuerzas del libre mercado, pero sus implicaciones van mucho más allá del ámbito restringido de la economía. 14 En esta línea, Ulrich Beck ha distinguido dimensiones diferentes de la globalización: implicaciones de un fenómeno poliédrico que alcanzan de lleno a los ámbitos informativo, cultural, ecológico, económico, laboral (Beck, 1998, 37)... La complejidad del fenómeno exige una tarea previa de delimitación conceptual sobre su extensión, contenido y alcance 2. Por eso, el sociólogo germano se aplica con esmero a esta tarea de deslinde y acotación de las distintas dinámicas del fenómeno, lo cual le lleva a distinguir entre globalismo, globalidad y globalización: a) El globalismo es la ideología del mercado mundial, el soporte ideológico de un capitalismo global indiscriminado que ensalza el orden espontáneo del mercado y vitupera todo tentativa reguladora y redistributiva del Estado, al reputarle una distorsión inadmisible. Se trata, por tanto, de una ideología que reduce la pluridimensionalidad de la globalización al fenómeno ecónomico como única clave explicativa, anulando la autonomía del resto de los espacios sociales que quedan, por obra de esta exaltación economicista, sumergidos en el mercado; una suerte de virus mental instalado en el imaginario colectivo merced al cual todo ha de supeditarse al primado de la economía. El globalismo suprime así la distinción clásica de la primera modernidad entre política y economía; b) por globalidad ha de entenderse el complejo conjunto de las relaciones políticas, sociales y culturales que establece una continuidad espacial a nivel planetario y que convierte a las fronteras en una ficción inasumible. La globalidad traduce la realidad de la interdependencia en los sistemas sociales, de su hibridación y de su mezcolanza; una realidad plural cuya integración no significa heterogeneidad; c) la globalización se concibe como el resultado de la interacción de las distintas lógicas globales, un conjunto de procesos cuyo desarrollo altera la organización económica, social y política de los Estados en su relación con actores transnacionales3. La interacción de estas dinámicas revela que el predominio del globalismo ejerce una influencia perversa y que debe ser juzgado como la principal fuerza negativa de la globalización. El globalismo la “ideología del discurso dominante” en palabras de Amin (1999, 120-121)- encubre una suerte de perversión ideológica que presenta como inexorable lo que no es más que una opción por un determinado modelo de organización socioeconómica. En efecto, para Beck no es la globalización (esto es, el ensanchamiento de espacios y vínculos sociales transnacionales) la que produce efectos nocivos, sino que éstos deben atribuirse al globalismo (entendiendo como tal a la ideología que ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reinventando la Ciudadanía: Nuevas Demandas Sociales en la Arena Global da soporte al imperialismo del mercado). Es necesario deshacer este equívoco que algunos tratan de perpetuar estableciendo un nexo indisoluble entre globalización y exaltación del capitalismo irrestricto. Por eso es necesario, señala Beck, acudir al “médico del lenguaje” pues con su ayuda podemos identificar la sintomatología y advertir que “lo que parece una degeneración podría, si sale bien, superar las ortodoxias que han hecho fracasar a la primera modernidad y auspiciar la irrupción de una segunda modernidad” (Beck, 1998, 26). Con estos propósitos, Beck trata de zafarse de la mitología del mercado, enfrentándose a la idea de un mercado, mundialmente poderoso, “con el tirachinas de una simple diferenciación”, justamente, la ya comentada entre globalismo, globalización y globalidad (Beck, 1998, 26). La reciprocidad de estas dinámicas no nos puede inducir a confusión: la interdependencia es una realidad irreversible y no es necesariamente negativa. Nos recuerda que el mundo fraccionado del Estadonación está dejando de existir, que, en su configuración tradicional, está próximo a exhalar su último aliento, que la realidad no puede escindirse en espacios geográficos aislados, pues las partes son, cada vez más, piezas de una totalidad en la cual se insertan. Entiendo, por ello, que la globalización de los mercados no ha ido acompañada de un proceso simultáneo de carácter global en los ámbitos jurídico y político. Esta situación ha propiciado la emergencia de un capitalismo global cuya capacidad de gestión se superpone a las propias estructuras estatales y limita severamente los ámbitos de decisión política a nivel interno. El impacto de la crisis del Estado en el ámbito jurídico se traduce en una creciente pérdida de capacidad reguladora, en el debilitamiento del estatuto de las libertades y en amenazas para la garantía de los derechos humanos. El desajuste estructural entre la globalización del mercado y las instituciones locales del Estado-nación resulta ya alarmante. Los desafíos de nuestro mundo reclaman con premura un reajuste a partir del desarrollo de nuevos procesos institucionales de carácter global en los ámbitos jurídico y político. El déficit institucional que la globalización genera exige respuestas inmediatas para neutralizar los efectos perversos de la expansión incontrolada de un capitalismo depredador, pues, como dice Samir Amin, la globalización a través del mercado es una utopía reaccionaria que debemos contrarrestar mediante el desarrollo de “un proyecto humanista y alternativo de globalización” (Amin, 1999, 19) cuyo desarrollo institucional requiere la articulación de un sistema político de carácter global que no esté al servicio del mercado. La globalidad, a tenor de ello, es en palabras de Beck, “una condición impostergable de la actividad humana en las postrimerías de este siglo”(Beck, 1998, 35). Asumir esta situación es algo prioritario: hay que caer en cuenta de que el mundo ya no volverá a ser lo que era, que un nuevo orden comienza a emerger y que nos atañe la responsabilidad de modelarlo. Por eso, frente al conformismo de los apologetas del mercado, hay que reivindicar la capacidad del hombre para diseñar la ordenación social. Nuestra capacidad de respuesta reclama una conciencia decidida a favor de la emergencia de un modelo conceptual e institucional que nos permita afrontar los desafíos de este mundo que comienza a emerger. Recuperar la política en una dimensión global se antoja una necesidad inaplazable: precisamos nuevas instituciones y organizaciones desde las que abordar los retos del presente. Nunca se ha sentido, como ahora, la insuficiencia de los modelos organizativos e institucionales inaugurados por la primera modernidad: el agotamiento del Estado-nación y la crisis del modelo internacional establecido a raiz de la paz de Westfalia son indicadores irrefutables de esta urgencia. Nuestra era está marcada por el retroceso de la capacidad del Estado para articular las relaciones sociales: su crisis pone de manifiesto el declive de uno de los principios característicos de la primera modernidad: el “nacionalismo metodológico”, que entendía la ordenación social, política y económica como una proyección del modelo institucional del Estado-nación (Beck, 1998, 99). La globalización, subraya Ianni, ha tornado anacrónico el Estado-nación y quimérica la soberanía: el paradigma de las relaciones internacionales que otorga prioridad a la figura del Estado-nación como actor principal ya no resulta suficiente (Ianni, 1999a, 94-95). Las nuevas realidades de la sociedad global requieren nuevos paradigmas institucionales de aliento global. Esta pérdida progresiva de protagonismo del Estado ante el empuje de un poder económico transnacional precisa ser contrarrestada. La fragmentación política y la globalización económica son, como ha apuntado Bauman, aliados íntimos y conspiradores afinados. La integración y la división, la globalización y la territorialización, son procesos mutuamente complementarios (Bauman, 1999, 77). La globalización ha generado un desajuste, una disfunción, entre el desarrollo del mercado y el de las instituciones políticas y jurídicas de carácter ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 15 Alfonso de Julios-Campuzano global, cuya precariedad es, justamente, la mejor baza para el avance de un capitalismo frenético, posesivo y desbocado. En esta tesitura, la transnacionalización de los modelos jurídico-políticos a nivel organizativo e institucional es la única respuesta al interrogante sobre la viabilidad del proyecto ilustrado en la era de la globalización. La réplica del imperialismo de mercado que inaugura el globalismo exige un esfuerzo redoblado por colocar la política y el derecho por encima de los flujos económicos transnacionales. La globalización no tiene por qué traducirse en un sometimiento servil a los dictados de un capitalismo transnacional autorregulado cuya lógica del máximo beneficio se traduce, finalmente, en un colapso del proyecto de la modernidad4. Urge desenmascarar este mito de la globalización que hace inviable todo proyecto de realización de los ideales ilustrados y que quiebra la alianza entre sociedad de mercado, democracia y Estado asistencial. En las coordenadas de la globalización, el proyecto de la modernidad puede aún rescatarse, reformulando, eso sí, algunos de sus planteamientos, cuya redefinición resulta imprescindible en orden a la realización de lo más puro y valioso de su mensaje: el proyecto universalista compendiado en los derechos humanos. 3 . CIUDADANÍA Y RESISTENCIA: NUEVOS CONTORNOS DE UN VIEJO DERECHO En estas circunstancias, se hace cada vez más patente que el mundo global demanda nuevos contextos cívicos que permitan articular una respuesta también global a problemas de alcance planetario. Con frecuencia, las nuevas expresiones de participación articulan una respuesta cívica contra las consecuencias perversas de la globalización económica, mediante movilizaciones ciudadanas y organizaciones no gubernamentales, abriendo paso así a lo que Richard Falk (Falk, 1999a, 72-73) ha denominado “neocosmopolitismo”: un conjunto de fuerzas sociales de carácter transnacional que tratan de articular respuestas cívicas frente a las devastadoras consecuencias de la globalización económica5. Estas manifestaciones emergentes, embrionarias, fragmentarias y parciales de globalización de la ciudadanía tratan de satisfacer los apremios que nos acechan, avanzando en la búsqueda de nuevas sendas para la formación de la voluntad colectiva y de cauces inexplorados de participación política, de colaboración y de solidaridad más allá de los estrechos confines de las fronteras estatales. 16 En Predatory globalization, Richard Falk realiza una crítica severa, lúcida y penetrante de los efectos que la globalización tiene sobre los ámbitos de decisión política, cuya reducción amenaza a la ciudadanía y a la democracia. La globalización comporta una serie de desarrollos colaterales asociados a la dinámica de reestructuración económica a nivel global, cuyo objetivo es la limitación del poder del Estado y la acomodación de los gobiernos a la disciplina del capital global. Entre las consecuencias principales de este fenómeno destaca una despolitización unilateral del Estado (“a one-sided depolitizacing of the state”), a resultas de la apoteosis del neoliberalismo económico en detrimento de alternativas políticas menos propicias a la expansión del capitalismo global. La globalización propaga, así, un credo político del que se sirve para su avance, una mentalidad librecambista que dispensa complaciente la píldora de la austeridad social y proclama sin remilgos su oposición al sector público, al bienestar social, a la creación de puestos de trabajo, a la protección del medio ambiente, a la salud pública, a la educación e, incluso, a la lucha contra la pobreza6. Esta nueva política “despolitizada” ensalza sin rubor los beneficios de la globalización mientras ignora sus desviaciones torticeras y execrables. Estos aspectos ideológicos de la globalización están asociados con la forma en que las fuerzas del mercado transnacional dominan la escena política, incluyendo la significativa cooptación del poder del Estado. En la trastienda de la globalización, la escena política se va poblando progresivamente de todo un arsenal ideológico, un conjunto de fuerzas y de ideas legitimadoras que dan soporte a las estrategias globales del mercado, mientras el poder político se pliega a la inevitabilidad de los flujos globales y asume con agrado su papel de “señorita de compañía” obediente, sumisa y ejemplar. Frente a ese modelo de globalización desde arriba (“globalization-from-above”), que se construye sobre la resignación y la desesperación de la ciudadanía, hay otro paradigma posible, el de la resistencia ciudadana frente a los desmanes de un capitalismo ruin e insaciable. La globalización desde abajo (“globalization-from-below”) entraña, a juicio de Falk, un potencial normativo que comporta la neutralización de los efectos negativos de la globalización económica, y que pretende conceptualizar un orden mundial de valores ampliamente compartidos: la minimización de la violencia, la maximización económica del bienestar, la realización de la justicia social y política y el mantenimiento de la calidad medioambiental. Con ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reinventando la Ciudadanía: Nuevas Demandas Sociales en la Arena Global toda probabilidad, la globalización podría ser diferente y más positiva. La realización de formas más benévolas del orden mundial puede lograrse a través de un consenso ampliamente compartido (Falk, 1999b, 127-130). La resistencia contra la globalización desde arriba implica una revitalización de la democracia y una apuesta por la construcción de una sociedad civil global, basada en la acción de actores políticos con incidencia transnacional. La sociedad civil global, según es caracterizada por Falk, sería, entonces, el campo de acción y pensamiento ocupado por iniciativas ciudadanas voluntarias individuales y colectivas que operan dentro de los Estados y transnacionalmente (Falk, 1999b, 137152). Estas iniciativas actúan desde una orientación global y son respuestas, al menos en parte, a ciertas tendencias globalizadoras que son percibidas como parcial o totalmente adversas7. Sin embargo, el paisaje de la resistencia antiglobalización no es homogéneo, pues en él confluyen elementos de muy diversa procedencia que tratan de desarrollar las más variadas aspiraciones políticas. Es obligado notar que determinados sectores de los movimientos de resistencia contra la globalización-desde-arriba liberan peligrosas y extremistas energías sociales que amenazan los logros del mundo secular moderno, basados en la dimensión normativa de la evolución de una sociedad anárquica de Estados en la dirección acumulativa del gobierno humano. Falk agrega que existen consecuencias fuertemente positivas y potencialidades dimanantes de diversos aspectos de la globalización-desde-arriba y que el papel histórico de la globalización-desde-abajo consiste en la transformación de los rasgos negativos de la globalización-desde-arriba; esto es, “la globalización-desde-abajo no está dogmáticamente opuesta a la globalización-desde-arriba, sino que se orienta a evitar los efectos adversos y a proporcionar un contrapeso global a la influencia esencialmente desenfrenada ejercida normalmente por los negocios y las finanzas sobre el proceso de decisión a nivel del estado y más allá de él”(Falk, 1999b, 138-139). Las fuerzas de la globalización-desde-arriba han tomado el control de la globalización y están empujándola en una dirección economicista que intrumentaliza al Estado en nombre de un conjunto de actitudes y políticas: privatización, libre comercio, austeridad fiscal y competitividad; pero hay otras opciones como el “desarrollo sostenible” o el “bienestar global” que están quedando postergadas a causa del empuje irrefrenable del capitalismo depredador. La movilización social bajo los auspicios de la globalización-desde-abajo estimula la democracia y reinserta el debate sobre la globalización en las coordenadas de lo público y de la decisión colectiva, reformulando la propia democracia en relación a las aspiraciones básicas de todos las gentes a participar en los procesos que configuran sus vidas. De este modo la globalizacióndesde-abajo es también un vehículo para la promoción transnacional de una democracia substantiva que actúe de contrapeso a las fuerzas del capitalismo global, una democracia que pueda neutralizar las presiones de la privatización y de la mercantilización de los bienes públicos, una democracia, en suma, que establezca un equilibrio social que tome plena cuenta de las realidades de la globalización en sus más variados aspectos (Falk, 1999b, 146 y 150). La resistencia antiglobalización abre un nuevo espacio transnacional para la política, un espacio menos constreñido por los cauces formales de representación y de decisión. Y es que, como ha mostrado Mittelman, la política más allá de los parámetros del Estado es más fluida que dentro del Estado. La sociedad civil que trasciende al Estado está emergiendo, aunque sólo de manera incipiente, como un lugar principal de contestación en el que los diversos grupos tratan de reformar la política (Mittelman, 2000,29), incluyendo sus dimensiones espacio-temporales. Por eso, a pesar de las múltiples sombras que se elevan sobre este fenómeno (en particular, sobre sus variantes violentas), los movimientos antiglobalización suponen un intento de vertebrar una respuesta ciudadana ante la voracidad y el desenfreno de un sistema de producción y distribución de la riqueza que desvanece promesas, destroza esperanzas, acrecienta las desigualdades, socava la dignidad y pisotea los derechos. Allí donde esas instancias todopoderosas se congregan en foros impenetrables, opacos y nebulosos, los movimientos antiglobalización convocan a la resistencia activa de la ciudadanía para combatir las desordenadas, irracionales e inícuas reglas del capitalismo transnacional. ¿Un aldabonazo a las conciencias? Sin duda. ¿Un ejercicio de responsabilidad cívica? También. La oposición que estos movimientos exhiben a la globalización tiene un valor que no es meramente simbólico, puesto que estimulan la conciencia cívica, despertando una actitud crítica y de rebeldía contra la injusticia. Hoy como ayer el hombre sigue teniendo en sus manos la posibilidad de resistir frente a todo ejercicio abusivo del poder. Desde antiguamente la antigüedad, el derecho de resistencia ha ocupado un lugar privilegiado en la tradición doctrinal del iusnaturalismo desde la Grecia Clásica hasta nuestros días. La resistencia frente a las ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 17 Alfonso de Julios-Campuzano disposiciones injustas, frente a la arbitrariedad y el abuso. El derecho de resistencia como expresión suprema de la dignidad humana frente al poder ilegítimo. Es justo resistir toda norma alienante, opresiva y avasalladora (Torres Caro, 1993). Ese es el derecho al que se acoge Antígona cuando invoca las leyes firmes y no escritas de los dioses para dar sepultura a su hermano Polínice, muerto en batalla contra el tirano Creón. Esa es también la actitud de Tomás Moro cuando rechaza el juramento de obediencia al rey Enrique VIII como jefe de la Iglesia Anglicana, y se niega a reconocer la nulidad del matrimonio contraído con Catalina de Aragón y la validez de sus nupcias con Ana Bolena. La historia está plagada de actitudes de resistencia, ejercicios responsables del derecho a no acatar la norma injusta, de oponerse al poder ilegítimo. Por eso, toda una fecunda y riquísima tradición doctrinal, desde Aristóteles a Tomás de Aquino, desde Cicerón a Grocio, desde Séneca a Bartolomé de las Casas, avalan el recurso a la resistencia, la “invocación al cielo”, como la denomina Locke en su Segundo Tratado sobre el Gobierno Civil. No por casualidad el derecho de resistencia encontró espacio en diversos textos jurídico-positivos, desde declaraciones de derechos hasta constituciones estatales y pactos internacionales. Así, la Declaración de Derechos del Buen Pueblo de Virginia de 12 de junio de 1776, después de proclamar solemnemente los derechos inalienables de la persona, advierte, en su apartado tercero, que “cuando un Gobierno resulta inadecuado o es contrario a estos principios, una mayoría de la comunidad tiene el derecho indiscutible, inalienable e irrevocable de reformarlo, alterarlo o abolirlo de la manera que se juzgue más conveniente al bien público”; y más modernamente la ya cincuentenaria Declaración Universal de Derechos Humanos en uno de sus considerandos declara sin paliativos la licitud del recurso a la resistencia: “Considerando esencial que los derechos humanos sean protegidos por un régimen de Derecho, a fin de que el hombre no se vea compelido al supremo recurso de la rebelión contra la tiranía y la opresión”. Entiendo que la resistencia a la globalización económica se encuadra en estas coordenadas: la defensa de la dignidad humana allí donde es inmolada por intereses y pretensiones injustas, opresivas y tiránicas que vulneran de forma flagrante el catálogo universal de derechos humanos. Se podría alegar que no puede haber resistencia para esa instancia difusa de poder que es el gran macropoder económico transnacional, pero creo que eso es tan absurdo como decir que el delito cometido 18 por medios informáticos no es delito. ¿O es que el poder económico de las grandes instancias transnacionales no resulta opresivo, avasallador, tiránico e insultante? ¿Cuántas víctimas sufren las atrocidades de un poder que escapa a todo control y cuya única finalidad es satisfacer, con desenfrenado afán, un ansia ilimitada de acumular? ¿Acaso alguien dijo que los perfiles de este derecho no podrían renovarse en sus formas históricas? El elemento nuclear del derecho de resistencia, aquello que lo constituye como tal es, justamente, la existencia de un poder cuyas reglas quebrantan derechos básicos, humillan a las personas y conculcan su dignidad. El contenido de la violación que motiva la acción resistente debe referirse a cualquier acción que atente contra la dignidad humana, concretada en diferentes niveles: en sus necesidades primarias (derechos de libertad); en sus necesidades básicas intercomunicables (derechos de igualdad) o en sus objetivos programáticos (derechos de solidaridad). Y queda claro que la acción que se emprenda debe ser proporcionada y no causar males mayores que los que se trata de evitar. Conviene tener aquí muy presente los aportes teóricos de los clásicos sobre los límites del derecho de resistencia, puesto que no toda acción resistente es legítima. Además de lo establecido por la doctrina clásica, especialmente las consideraciones de Santo Tomás sobre el bien común, hay que tener en cuenta tres límites principales: a) debe reputarse ilegítima toda manifestación de violencia contra las personas, dado que actitudes de esta naturaleza suponen una negación de la dignidad intrínseca de todo ser humano; b) tampoco lo es el daño premeditado e indiscriminado a propiedades muebles o inmuebles cuyos titulares no son acreedores a la acción resistente; c) cuando la violencia fuere inevitable como consecuencia de alguna agresión externa sólo será aceptable la respuesta violenta que se ajuste íntegramente a las exigencias de la legítima defensa. Los movimientos antiglobalización encarnan una nueva expresión de la ciudadanía transnacional: aquella que reivindica, que demanda, que exige participar en un ámbito de gobierno más amplio y más inaccesable: el del orden económico transnacional. La resistencia actúa así como un estilete de ese nuevo paradigma transnacional de la ciudadanía, reactualizando la doctrina clásica del derecho natural de resistencia que, ahora, en virtud del surgimiento de nuevas formas de opresión, adopta también nuevas ropajes. La versatilidad de la opresión sólo puede ser combatida desde la reivindicación de los derechos. Por último, last but not least, la resistencia cívica a la globalización no debe ser considerada como ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reinventando la Ciudadanía: Nuevas Demandas Sociales en la Arena Global una oposición anacrónica y estéril a una tendencia irrefrenable de nuestras sociedades, sino como una llamada de atención hacia los efectos devastadores de determinadas formas de expansión comercial, industrial y financiera que amenazan con convertir a los derechos humanos en una caricatura desleída y sarcástica. Los movimientos antiglobalización no blanden la bandera de la nostalgia, no huyen precipitadamente hacia el pasado, sino que tratan de encarar con esperanza el futuro abordando con coraje el presente. Nunca las grandes conquistas históricas fueron logradas sin esfuerzo. Quienes denostan con irreprimible locuacidad la carencia de altenativas en los movimientos antiglobalizadores deben conocer algunos de sus resultados y algunas de sus propuestas. Entre los primeros debe mencionarse la suspensión de las negociaciones para la constitución del acuerdo multilateral de Inversiones (AMI), impulsado a nivel mundial por el selecto club de la Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico (O.C.D.E.) que integra a los veintinueve paises más ricos del mundo. El Acuerdo Multilateral de Inversiones pretendía forjar una compleja estructura jurídica sobre la cual asentar el nuevo orden económico global. Partiendo de una valeroso y resuelto compromiso democrático, el AMI trató de convertirse en una estructura ajena a todo control y blindada contra las posibles renuncias de los países firmantes, basándose para ello en varios recursos: a) en primer lugar, se instrumentó como tratado internacional, con lo que resultaba inaccesible a los controles económicos, sanitarios, ambientales o laborales de las leyes nacionales; b) por otro lado, sus disposiciones antigarantistas trataban de eliminar la capacidad de los gobiernos para regular la entrada y salida de capitales; c) igualmente, el AMI pretendía nacer asegurando su longevidad, ya que la denuncia del acuerdo por cualquiera de los países firmantes sólo tendría validez una vez transcurridos cinco años y, en caso de proceder de esta manera, las compañías inversoras quedarían protegidas por él durante quince años más. Por todas estas razones, Renato Ruggiero, a la sazón secretario general de la Organización Mundial del Comercio (O.M.C.), declaró con tono de irreprimible satisfacción que la finalidad del AMI era la de redactar la “Constitución de una economía global única”8. Afortunadamente, la movilización cívica que se produjo en diciembre de 1998 en Francia provocó la retirada del gobierno francés y la suspensión de las negociaciones. Entre las principales propuestas que abanderan estos movimientos considero que deben reseñarse: a) La creación de la Tasa Tobin, propuesta por el premio Nobel de Economía James Tobin, profesor de la Universidad de Yale, que preconiza la implantación de un impuesto sobre las transacciones internacionales especulativas con el fin de estimular el desarrollo de los países más pobres que serían los destinatarios de las cantidades recaudadas. El gravamen oscilaría entre el 1y el 5 por mil; en el caso de que se optara por el gravamen más bajo podrían llegar a recaudarse alrededor de 150.000 millones de dólares. Naciones Unidas sostiene que con la mitad de este montante se cubrirían las necesidades del planeta durante todo 9 un año . b) La condonación de la deuda externa, que impide el desarrollo de los países pobres y asfixia sus economías, mediante una espiral de crecimiento imparable que incorpora los intereses no satisfechos al capital pendiente de amortización, lo cual genera, a su vez, nuevos intereses. Entre 1980 y 1992, la ratio de servicio de la deuda con respecto a las exportaciones para los países de rentas bajas se incrementó desde el 11,8 hasta el 24,5%, excluyendo a China e India. Como consecuencia de ello, muchos países en situación de pobreza extrema y prácticamente en bancarrota han visto crecer el capital al acumularse los retrasos: 10.100 millones de dólares para Sudán; 4.500 millones para Nicaragua, 3.400 para Nigeria y más de 1.000 para Egipto, Madagascar, Mozambique, Myanmar, Somalia, Tanzania, Yemen y Zambia. En muchos de estos casos hay profundas debilidades estructurales, entre las que se destacan la grave carencia de infraestructuras y la existencia de exportaciones no diversificadas, amén de las secuelas ocasionadas por los conflictos armados. Hasta la reunión del Club de París en 1988 no se planteó la reducción de la deuda como una alternativa dentro de un programa más amplio. Las condiciones fueron tan insuficientes que tuvieron que ser ampliadas en 1991. A pesar de ello la situación sigue siendo insostenible y provoca situaciones surrealistas a medida que la deuda se incrementa por la aplicación 10 del interés compuesto . c) Finalmente, el programa de medidas que los movimientos antiglobalización proponen en el ámbito de la producción y ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 19 Alfonso de Julios-Campuzano del comercio agrícolas, pues en este sector se concentra la mayor parte de la renta de los países en vías de desarrollo que, paradójicamente, se ven sometidos al dominio de los mercados y de las reglas de producción e intercambio establecidas por la coalición entre Europa y Estados Unidos. No es ocioso recordar que el bloque compuesto por Estados Unidos y la Unión Europea controla el 50% de los mercados agrícolas, con peligrosas veleidades monopolísticas de algunas empresas transnacionales, especialmente en el ámbito de la producción agroquímica en la que el 90% del mercado está bajo el control de 10 corporaciones empresariales. Entre las propuestas concretas que componen ese programa sobresalen: la firma por los Estados de la Convención sobre Biodiversidad Biológica; la regulación de la exportación, importación e investigaciones de los Organismos Genéticamente Modificados (O.G.M.) u organismos transgénicos; la exigencia de que no se eliminen los subsidios al campo y de control y establecimiento de precios justos; una política para combatir la tendencia a la formación de monopolios en la producción alimentaria y de semillas y la defensa de los derechos de los trabajadores. En suma, frente a la globalización-desde-arriba (globalization-from-above), los movimientos de resistencia reivindican una globalización-desdeabajo (globalization-from-below): una globalización no desde el mercado sino desde el individuo y sus derechos; globalizar desde abajo es integrar, globalizar-desde-arriba es discriminar. La gravedad y la relevancia de los problemas que la globalización plantea determinan que éstos no puedan ser abordados con éxito ni por los Estados de manera exclusiva o unilateral ni por el mercado global desregulado. Ante esa constatación, los movimientos contra-hegemónicos, multiformes y temáticamente diversificados de lucha contra la globalización, afectados sin duda por problemas serios en cuanto a la posibilidad de implementar 20 acciones y vertebrar proyectos tendentes a la constitución de una política democrática en escala global y regional, se multiplican por doquier reactivando los nexos de vinculación entre los ciudadanos del mundo y propiciando con ello la constitución de espacios públicos de carácter global, movidos por la aspiración de participar activamente en la construcción de una identidad ciudadana desterritorializada y más cosmopolita (Gómez, 2000, 137-138). La alternativa no es el retroceso sino la humanización: una apuesta por el desarrollo pleno de la democracia y de los derechos humanos en la época de la economía global; un empeño por articular repuestas globales a situaciones hasta ahora desconocidas y de alcance mundial. Los movimientos ciudadanos de resistencia antiglobalización reubican en un contexto mundial el debate sobre la ciudadanía, la política, la democracia y los derechos e introducen con ello un elemento trascendental en la dinámica expansiva de la gobernabilidad sistémica. Seguramente estemos asistiendo al triunfo del capitalismo pero queda claro que este mundo sólo conseguirá ser más humano si ese triunfo no se construye sobre la muerte de la democracia. Por eso, globalizar-desdeabajo es movilizar, concienciar, estimular y azuzar, avivar la llama de un compromiso cívico cuyos rescoldos aún no se extinguieron, introduciendo, en estas lánguidas sociedades del capitalismo desorganizado, el estilete del inconformismo y de la reivindicación y reinventando, con ello, la ciudadanía: espacios nuevos de participación que impulsen la recuperación de lo público por los individuos, desde la responsabilidad para construir el futuro. Una nueva teoría de la ciudadanía está emergiendo: aquella que sin ignorar la articulación local de las concretas demandas y necesidades históricas tiene muy presente también la interconexión global de los problemas, de las inquietudes y de las esperanzas del hombre, superando el localismo pacato y alicorto del Estado-nación en beneficio de una visión global, compleja, interdependiente y ecuménica de las condiciones de vida sobre el planeta y del futuro de la especie humana. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reinventando la Ciudadanía: Nuevas Demandas Sociales en la Arena Global REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amin, Samir (1999): El capitalismo en la era de la globalización, Barcelona: Paidós. Bauman, Zygmunt (1999): Globalizaçao. As consequências humanas, Rio de Janeiro: Zahar. Beck, Ulrich (1998): ¿Qué es la globalización? Falacias del globalismo, respuestas a la globalización, Barcelona: Paidós. 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Para un análisis de las implicaciones de la globalización en el ámbito de la economía puede acudirse a De la Dehesa (2000). 2. Ferronato (2000) realiza un análisis sintético de las diversas y complejas dimensiones del fenómeno. 3. Como consecuencia de la interacción de esas dinámicas se genera una globalidad irrevisable que surge como uno de los elementos diferenciadores entre la primera y la segunda modernidad; un conjunto de elementos característicos de nuestro momento histórico que tornan irreversible el proceso de globalización. Sus componentes principales son los siguientes: a) el ensanchamiento del campo geográfico y la densidad de los flujos culturales, económicos, financieros y migratorios a nivel transnacional; b) las innovaciones tecnológicas en el campo de las industrias de la información y la comunicación; c) la exigencia de respetar los derechos humanos como uno de los principios de la democracia; d) la homogeneización cultural a través de ciertos iconos difundidos por corporaciones transnacionales de información y comunicación; e) la aparición de nuevos actores políticos a nivel transnacional que inauguran el declive definitivo del orden de Westfalia con la pérdida de protagonismo del Estado-nación; f) el problema de la pobreza global; e) la amenaza de daños ecológicos irreversibles a escala planetaria; y g) la aparición de conflictos interculturales en sociedades anteriormente homogéneas (Beck, 1998, 29-30). 4. Sobre la vigencia del proyecto de la modernidad, sus críticas y la conveniencia de una reconstrucción de sus elementos teóricos: De Julios-Campuzano, 2000. Acerca de las relaciones entre modernidad y globalización, Robertson ha mostrado que el problema de la modernidad se expande y, en cierto sentido, se subordina al problema de la globalidad. Muchos de los temas específicos de la modernidad son exacerbados en el proceso de globalización (Robertson, R., 1992, cap. IX). 5. El autor cita como ejemplo de ello, los esfuerzos que Greenpeace realiza para evitar que la compañía Shell Oil provoque daños mediambientales irreversibles en el mar del Norte mediante el hundimiento de una plataforma petrolífera. También se refiere a la campaña 22 mundial iniciada en 1995 para protestar por la reanudación de las pruebas nucleares francesas en el sur del Pacífico. Todos podríamos añadir una larga lista de organizaciones internacionales que contribuyen a forjar afanosamente esa conciencia cosmopolita fundada en un ethos democrático, pero no puedo resistirme a traer a colación ahora la meritoria labor que durante décadas viene realizando Amnistía Internacional con la publicación anual de sus informes mundiales sobre tortura, prisión política y represión ideológica (Falk, 1999a, 72-73). 6. La relación entre la globalización y el Estado social de Derecho ha sido estudiada, entre otros, por Navarro (2000). Me he ocupado de los problemas que la globalización suscita para el mantenimiento de los derechos sociales en De Julios-Campuzano, 2000, 173-207. 7. Añade Falk que la sociedad civil global se articula a través de movimientos sociales transnacionales, como las Organizaciones No Gubernamentales que implican una drástica alteración del orden internacional establecido tras la paz de Westfalia basado en el protagonismo de los Estados-nación en el ámbito internacional, con la incorporación de nuevos actores en el contexto internacional ajenos al control de los Estados. Haciéndose eco de esta situación James Rosenau ha propuesto sustituir la denominación ya consolidada de las Organizaciones No Gubernamentales por la de actores libres de soberanía (“sovereignty free actors”) (Falk.,1999b, 137-138). 8. Cfr. Pisarello, G., “Globalización, constitucionalismo y derechos: las vías del cosmopolitismo jurídico”, en Del Cabo, A. y Pisarello, G. (eds.), Constitucionalismo, mundialización y crisis del concepto de soberanía. Algunos efectos en América Latina y en Europa, Universidad de Alicante, Alicante, 2000, pp. 30-31. Para un análisis completo de las implicaciones del Acuerdo Multilateral de Inversiones, cfr. Crespo Hernández, A., El acuerdo Multilateral de Inversiones: ¿crisis de un modelo de globalización?, Fundación Centro de Estudios Comerciales/Eurolex, Madrid, 2000. 9. En 1972, durante un coloquio, este universitario keynesiano, premio Nobel de Economía en 1981, presenta por primera vez su idea de crear un impuesto sobre todas las transacciones de cambio de divisas, “echando un grano de arena” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Reinventando la Ciudadanía: Nuevas Demandas Sociales en la Arena Global en estos mecanismos, para desalentar “las especulaciones que hacen viaje de ida y vuelta en pocas semanas”. Para Tobin y los economistas que han apoyado su propuesta, el principal efecto y la principal ventaja de este filtro sería devolver a las políticas monetarias nacionales un poco de la autonomía que han perdido ante los mercados financieros. Este impuesto permitiría, dentro de ciertos límites, sustraer la determinación de las tasas de interés nacionales a la necesidad de defender la paridad de la moneda. El segundo efecto de la tasa Tobin sería crear una forma de impuesto sobre el capital que tendría la ventaja, sobre todas las demás, de ser uniforme a escala mundial (Cfr. Mittelman, J.H., The Globalization Syndrome. Transformation and Resistence, cit., p. 244; cfr. también, Lidón Lehnhoff, L., “El mundo posible de Attac”, Diario de Sevilla, 19 de agosto de 2001, p. 25; vid. también Dourson, F., “¿Qué es la tasa Tobin?”, en Los Documentos de AttacMoselle, disponible en http://www.local. attac.org/moselle/documents/tobin/ tobin_es.html, página web de la Asociación por una Tasa a las Transacciones financieras especulativas de Ayuda a los Ciudadanos). 10. Cfr. Nuestra comunidad global. Informe de la Comisión de Gestión de los Asuntos Públicos Mundiales, cit., pp. 171-173. Sobre la problemática que suscita el desarrollo en el Tercer Mundo y su relación con la deuda externa resultan especialmente clarificadoras las observaciones de Samir Amin en El fracaso del desarrollo en África y en el Tercer Mundo. Un análisis político, IEPALA, Madrid, 1994. Un análisis exhaustivo de la problemática jurídica de la deuda externa puede encontrarse en Zafra Espinosa de los Monteros, R., La Deuda Externa. Aspectos jurídicos del endeudamiento internacional, Universidad de Sevilla, Sevilla, 2001. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 23 Ana Laura Becker Aguiar e Gabriel Gualano de Godoy 24 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Ampliação do Conteúdo Material do Conceito Normativo de Jus Cogens CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS E A AMPLIAÇÃO DO CONTEÚDO MATERIAL DO CONCEITO NORMATIVO DE JUS COGENS ••••••••••••••••••••••••••• ANA LAURA BECKER AGUIAR Bacharel em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília; Mestranda em Direito Internacional e Direitos Humanos pela Universidade das Nações Unidas para a Paz; ex-Estagiária da Corte Interamericana de Direitos Humanos GABRIEL GUALANO DE GODOY Bacharel e Mestre em Direito pela Universidade Federal do Paraná; Pesquisador do Núcleo de Direitos Humanos da mesma Universidade; ex-Estagiário da Corte Interamericana de Direitos Humanos I. INTRODUÇÃO As normas que pertencem ao domínio do jus cogens são normas peremptórias de direito internacional público. Trata-se de conceito definido na Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969. O artigo 53 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados define jus cogens e dispõe ser nulo o tratado internacional que, no momento de sua conclusão, esteja em conflito com uma norma imperativa de direito internacional: “Artigo 53. Tratado em conflito com uma norma imperativa de direito internacional geral (jus cogens). É nulo o tratado que, no momento de sua conclusão, conflita com uma norma imperativa de direito internacional geral. Para os fins da presente Convenção, uma norma imperativa de direito internacional geral é uma norma aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos Estados no seu conjunto, como uma norma da qual nenhuma derrogação é permitida e que só pode ser modificada por norma de direito internacional geral da mesma natureza”. A expressão “norma de direito internacional geral, aceita e reconhecida pela comunidade internacional dos estados no seu conjunto”, revela que uma norma, para ser imperativa, deve ser universal. De acordo com Tatyana Sheila Friedrich, basta a manifestação da maioria dos Estados para satisfazer a idéia original dos legisladores. Entretanto, tal maioria deve abranger exatamente a universalidade, ou seja, “o jus cogens deve exprimir a conjugação dos valores de todas as diferentes visões da humanidade, ainda que esta não esteja representada pela sua plenitude”1. Frise-se que, quando o texto do artigo 53 da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados reza que a norma jus cogens “só pode ser modificada por norma de direito internacional geral da mesma natureza”, o que se está dizendo é que a norma imperativa é irrevogável, podendo ser substituída apenas por outra norma que tenha iguais características e força perante a comunidade internacional. A partir deste entendimento pode-se constatar que a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados previu a possibilidade de mudanças dos valores internacionais com a transformação ou evolução da sociedade. Além disso, a relevância do conceito de jus cogens na Convenção de Direito dos Tratados está na imposição de uma limitação ao voluntarismo e discricionariedade dos Estados. A partir de então, uma norma aceita pela comunidade internacional tem o poder de limitar, anular ou invalidar um acordo entre Estados. Nessa linha de raciocínio, a jurisprudência de uma corte internacional pode contribuir com o desenvolvimento da matéria ao pronunciar-se sobre as normas peremptórias de direito internacional geral em um determinado momento histórico. Ao analisar a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH)2 é possível perceber uma preocupação com a identificação da matéria de jus cogens, especialmente por meio dos votos dos seus juízes, com destaque aos votos proferidos por Antônio Augusto Cançado Trindade. Este jurista brasileiro defendeu clara e ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 25 Ana Laura Becker Aguiar e Gabriel Gualano de Godoy bravamente a tese da necessidade de expandir o domínio do jus cogens para além do âmbito do direito dos tratados e do voluntarismo estatal. Os principais casos que demonstram essa ampliação da matéria de jus cogens serão analisados em seguida. I I . CASOS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS 3 O caso Blake vs. Guatemala de 1998 da Corte IDH é o primeiro a mencionar o jus cogens. Foi a primeira vez que a Corte IDH interpretou o delito de desaparecimento forçado como crime que viola norma de jus cogens, tese defendida pelo juiz brasileiro com mais detalhamento no seu voto justificado. O caso refere-se a uma sentença de exceções preliminares em que a Corte IDH determinou ser incompetente para decidir acerca da suposta responsabilidade do Estado da Guatemala sobre a detenção e morte de Nicholas Chapman Blake. A Corte definiu que os fatos em discussão ocorreram anteriormente ao depósito do instrumento de declaração de submissão à jurisdição da Corte pela Guatemala. No entanto, o juiz Cançado Trindade, em seu voto separado, discordou da decisão da maioria da Corte por considerar o crime de desaparecimento forçado como um delito continuado que gera violações de direitos conexos que poderiam ter sido analisados pela Corte. Em suas palavras: “(…) el énfasis de esta Sentencia de la Corte sobre excepciones preliminares debía recaer (...) en la naturaleza de las presuntas violaciones múltiples e interrelacionadas de derechos humanos protegidos, y prolongadas en el tiempo, de que se trata en el presente 4 caso de desaparición” . No seu voto, o juiz Cançado Trindade defendeu que a proibição do crime de desaparecimento forçado de pessoas entra no domínio do jus cogens por envolver direitos humanos inderrogáveis: “En casos de desaparición, como el presente, figuran, entre los derechos conexos, derechos fundamentales inderogables, lo que, a mi modo de ver, sitúa la prohibición de aquel delito en el dominio del jus cogens, de las normas imperativas del derecho internacional 5 general” . 26 O juiz Cançado Trindade entendeu não apenas a proibição do desaparecimento forçado de pessoas como norma de jus cogens, mas também a proibição de outras graves violações de direitos humanos, como as práticas de tortura, execuções sumárias e extrajudiciais: “Los desarrollos doctrinales más recientes en el presente dominio de protección revelan una tendencia hacia la ‘criminalización’ de violaciones graves de los derechos humanos, - como las prácticas de tortura, de ejecuciones sumarias y extra-legales, y de desaparición forzada de personas. Las prohibiciones de dichas prácticas nos hacen ingresar en la tierra 6 nova del jus cogens internacional” . Pela primeira vez na história da Corte IDH, Cançado Trindade explicitou a crença de que a existência de normas imperativas de direito internacional não estão limitadas à violações resultantes de tratados e que se estendem a toda e qualquer violação, ação ou ato dos Estados7. Nesse passo, o juiz brasileiro buscou demonstrar que o conceito de jus cogens é incompatível com a concepção meramente voluntarista de direito internacional8. Nesta oportunidade, Cançado Trindade detalhou a tese da emergência de obrigações erga omnes de proteção e da necessidade de desenvolvêlas no campo do direito internacional dos direitos humanos. Segundo ele, “a consagração das obrigações erga omnes de proteção, como manifestação da própria emergência de normas imperativas do direito internacional, representaria a superação do padrão erigido sobre a autonomia da vontade do Estado”9: “Nuestro propósito debe residir precisamente en el desarrollo doctrinal y jurisprudencial de las normas perentorias del Derecho Internacional (jus cogens) y de las correspondientes obligaciones erga omnes de protección del ser humano. Es por medio del desarrollo en este sentido que lograremos traspasar los obstáculos de los dogmas del pasado, así como las actuales inadecuaciones y ambigüedades del derecho de los tratados, de modo a aproximarnos de la plenitud de la 10 protección internacional del ser humano”. O caso Blake vs. Guatemala é emblemático exatamente pela defesa feita pelo juiz Cançado Trindade. Em seu voto separado, Trindade sublinhou a importância do conceito de jus cogens para a proteção internacional dos direitos humanos e a necessidade do seu desenvolvimento ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Ampliação do Conteúdo Material do Conceito Normativo de Jus Cogens jurisprudencial. Ao fazer isso, o jurista brasileiro estava a buscar a ampliação do domínio do conteúdo material do conceito normativo de jus cogens e, conseqüentemente, o reconhecimento pela Corte IDH das obrigações que esta norma impõe aos Estados. O caso Villagrán Morales y otros vs. Guatemala de 2001 foi o segundo da Corte IDH em que o tema jus cogens foi mencionado. Neste julgamento, também conhecido como Niños de la Calle, foram denunciados os homicídios de cinco “meninos de rua”, bem como a tortura e seqüestro de quatro deles. A Corte IDH considerou que havia evidências numerosas e concorrentes de que tais atos foram perpetrados por dois agentes da Polícia Nacional. Considerou comprovado, também, que quatro dos jovens foram arbitrariamente detidos, em plena luz do dia, sem que lhes fosse garantido o direito de acesso à justiça. A Corte IDH concluiu que houve violação do direito à vida não apenas pela constatação de privação arbitrária da vida de todos os meninos assassinados, mas também pela violação da obrigação positiva do Estado em proteger e preservar esse direito. Tal decisão reconhece a amplitude do direito à vida e fortalece os direitos econômicos, sociais e culturais ao indicar que sua observância é condição necessária para assegurar a completa realização do próprio direito à vida. Nessa linha de raciocínio, os juízes Cançado Trindade e Abreu Burelli destacaram que o direito fundamental à vida pertence ao domínio do jus cogens: “El derecho a la vida implica no solo la obligación negativa de no privar a nadie de la vida arbitrariamente, sino también la obligación positiva de tomar las medidas necesarias para asegurar que no sea violado aquel derecho básico. Dicha interpretación del derecho a la vida, de modo que abarque medidas positivas de protección por parte del Estado, encuentra respaldo hoy día tanto en la jurisprudencia internacional como en la doctrina. Ya no puede haber duda de que el derecho fundamental a la vida pertenece al 11 dominio del jus cogens” . O caso Cantoral Benavides vs. Peru de 2001 tratou sobre a violação de direitos de Cantoral Benavides, que foi detido arbitrariamente e torturado por agentes policias do Estado peruano e condenado pelo delito de terrorismo por decisão do “Tribunal Especial sem rosto de Foro Comum”. Durante sua detenção, Cantoral Benavides sofreu tortura e tratamento cruel, desumano e degradante. Ficou privado de sua liberdade, não obteve proteção judicial, foi julgado duas vezes pelo mesmo delito e não teve suas garantias judiciais respeitadas. Tal caso destaca-se porque permitiu que a Corte IDH fizesse referência ao caráter jus cogens da proibição do delito de tortura. A Corte IDH não meciona explicitamente o termo jus cogens em sua sentença, mas destaca que existe hoje um regime jurídico internacional de proibição absoluta de todas as formas de tortura: “(…) se ha conformado un verdadero régimen jurídico internacional de prohibición absoluta 12 de todas las formas de tortura” . Outro caso que merece menção é Barrios Altos vs. Peru de 2001, que tratou sobre a temática das leis de “auto-anistia”. No caso, apesar de a Corte IDH não tratar da matéria jus cogens, o juiz Cançado Trindade fez referências expressas ao tema em diferentes momentos. No seu voto concorrente, o juiz brasileiro defendeu novamente o conceito de direito à vida como norma de jus cogens, afirmando que o direito à integridade pessoal também é um direito inderrogável, de modo que esse direito recai no âmbito das normas de jus cogens: “Hay otro punto que me parece aún más grave en relación con la figura degenerada - un atentado en contra el propio Estado de Derecho - de las llamadas leyes de autoamnistía. Como los hechos del presente caso Barrios Altos lo revelan - al llevar la Corte a declarar, en los términos del reconocimiento de responsabilidad internacional efectuado por el Estado demandado, las violaciones de los derechos a la vida y a la integridad personal dichas leyes afectan derechos inderogables - el minimum universalmente reconocido - que 13 recaen en el ámbito del jus cogens” . Essa foi a primeira vez que um juiz da Corte IDH mencionou o caráter de jus cogens das leis de humanidade da cláusula Martens. Nas palavras do juiz Cançado Trindade: “La doctrina jurídica contemporánea también ha caracterizado la cláusula Martens como fuente del propio derecho internacional general; y nadie osaría hoy negar que las ‘leyes de humanidad’ y las ‘exigencias de la conciencia pública’ invocadas por la cláusula Martens pertenecen al dominio del jus cogens. La referida cláusula, como un todo, ha sido concebida y reiteradamente afirmada, en última instancia, en beneficio de todo el género humano, manteniendo así su gran actualidad. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 27 Ana Laura Becker Aguiar e Gabriel Gualano de Godoy Se puede considerarla como expresión de la razón de la humanidad imponiendo límites a 14 la razón de Estado (raison d’État)” . Em que pese a importância dos casos já mencionados, o caso paradigmático da Corte IDH sobre jus cogens é o Parecer Consultivo nº 18 sobre a Condição Jurídica e Direitos dos Migrantes Indocumentados de 2003. O parecer foi solicitado pelo México em função da preocupação crescente deste país com as violações de direitos humanos cometidas contra migrantes, especialmente contra os trabalhadores migrantes indocumentados. A principal preocupação do México era a prática de subordinação dos direitos trabalhistas ao status jurídico migratório do trabalhador, corriqueiramente implementada por alguns Estados. O México questionou se tal subordinação seria compatível com as obrigações dos Estados Americanos de garantir os princípios de igualdade jurídica, nãodiscriminação e igualdade perante a lei, consagrados nos instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos. Uma das questões levantadas pelo México referiu-se ao caráter que tem hoje o princípio de não-discriminação e o direito de igualdade perante a lei na hierarquia normativa que estabelece o direito internacional geral. Nesse contexto, perguntou também se seria possível considerar tais princípios como expressões de normas de jus cogens. A Corte IDH afirmou, pela primeira vez, que o jus cogens não tem se limitado ao direito dos tratados. Ao contrário, tal categoria tem se ampliado e manifestado inclusive no direito da responsabilidade internacional dos Estados e tem também “incidido, em última instância, nos próprios fundamentos do ordenamento jurídico internacional”15. A Corte IDH, unanimamente, considerou que os princípios de igualdade e não-discriminação podem ser considerados como normas imperativas do direito internacional geral, pois são aplicáveis a todos os Estados, independente do fato destes serem parte ou não de determinado tratado. Assim sendo, tais princípios geram efeitos com respeito a terceiros, inclusive particulares. Na sua primeira manifestação sobre a materia de jus cogens a Corte pronunciou-se da seguinte maneira: “este Tribunal considera que el principio de igualdad ante la ley, igual protección ante la ley y no discriminación, pertenece al jus cogens, puesto que sobre él descansa todo el andamiaje jurídico del orden público nacional 28 e internacional y es un principio fundamental 16 que permea todo ordenamiento jurídico” . Além disso, a Corte IDH explicitou os efeitos de sua interpretação ao mencionar a emergência das obrigações erga omnes de proteção, nos seguintes termos: “precisamente por pertenecer dicho principio al dominio del jus cogens, revestido de carácter imperativo, acarreta obligaciones erga omnes de protección que vinculan a todos los Estados y generan efectos con respecto a terceros, 17 inclusive particulares” . Antônio Augusto Cançado Trindade, em um voto que acompanha o parecer, afirmou que a opinião consultiva 18 da Corte IDH deu importante passo rumo à humanização do direito internacional. O juiz Cançado Trindade defendeu mais uma vez a interpretação de que jus cogens é uma categoria aberta que se expande na medida em que se desperta a consciência jurídica universal, fonte material de todo direito, para a necessidade de proteger os direitos inerentes a todo ser humano em toda e qualquer situação18. Por tudo isso, a opinião consultiva sobre migrantes indocumentados entrou para a história da jurisprudência da Corte IDH como a primeira decisão a incluir o tema jus cogens, contribuindo para o avanço dessa matéria no direito internacional e influenciando decisões de outras cortes e documentos internacionais. Posteriormente, nos casos Yatama vs. Nicaragua de 2005 e Servellón García y otros vs. Honduras de 2006, a Corte reafirmou seu entendimento de que o princípio de nãodiscriminação e o direito de igualdade perante a lei são normas de jus cogens: “Este Tribunal considera que el principio de igualdad ante la ley y no discriminación pertenece al jus cogens el cual, revestido de carácter imperativo, acarrea obligaciones erga omnes de protección que vinculan a todos los Estados y generan efectos con respecto a 19 terceros, inclusive particulares” . O caso Massacre Plan de Sánchez vs. Guatemala de 2004 tratou sobre o tema do genocídio, ainda sem fazer referência ao jus cogens. O massacre ocorreu na aldeia de Plan de Sánchez, em julho de 1982. A população indígena que habitava aquela área recusou-se a fazer parte do exército, especialmente da “Patrulha de Auto-Defesa Civil”. Na época, a Guatemala estava sob o comando de uma ditadura militar e tal ação foi considerada verdadeira insurgência. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Ampliação do Conteúdo Material do Conceito Normativo de Jus Cogens Em um dia de domingo, quando acontecia a feira e o povoado era mais frequentado, o exército invadiu a área massacrando toda população presente. Mulheres e meninas foram violentadas e assassinadas, homens foram sumariamente excutados. Os militares atearam fogo nas casas e nos corpos das vítimas, ato que impediu a tradicional cerimônia de enterro dos familiares. A população sobrevivente sofreu perseguições e ameaças durante anos. Segundo a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, “o massacre foi perpetrado no marco de uma política genocida do Estado da Guatemala realizada com a intenção de destruir total ou parcialmente o povo indígena maia”20. Os peticionários solicitaram que a Corte considerasse se o Estado da Guatemala havia cometido atos de genocídio, mas, em sentença de exceções preliminares, a Corte declarou-se incompetente para julgar este tema. Em suas considerações finais, a Corte asseverou que: “(...) hechos como los señalados, que afectaron gravemente a los miembros del pueblo maya achí en su identidad y valores y que se desarrollaron dentro de un patrón de masacres, causan un impacto agravado que compromete la responsabilidad internacional del Estado que esta Corte tomará en cuenta al momento 21 de resolver sobre reparaciones” . Apesar de não se pronunciar sobre o tema de genocídio, matéria de jus cogens, a Corte fez referência e levou em conta para efeitos de reparação a responsabilidade internacional do Estado agravada, que é a responsabilidade gerada por uma violação de norma peremptória do direito internacional. Assim como em outros casos semelhantes, o juiz Cançado Trindade defendeu a necessidade de a Corte considerar, na interpretação e aplicação da Convenção Americana de Direitos Humanos, além do direito internacional convencional, o direito internacional geral, especialmente sobre temas reconhecidos universalmente pelo principio da humanidade - como a questão do genocídio e dos crimes contra a humanidade. Lembrou o juiz brasileiro as considerações da Corte Internacional de Justiça em 1951, no parecer consultivo sobre Reservas à Convenção contra o Genocídio, que reconheceu princípios obrigatórios para os Estados, mesmo na ausência de qualquer obrigação convencional22. Para Cançado Trindade, o fato de a Corte IDH não ter jurisdição para determinar violações da Convenção contra o genocídio não significa que a Corte não possa tomar conta dos atos que aquela Convenção tipifica como genocídio como circunstâncias agravadas de violações de direitos protegidos pela Convenção Americana de Direitos Humanos23. A segunda vez em que a Corte IDH manifestou-se sobre o tema de jus cogens foi no caso Hermanos Gómez Paquiyauri vs. Peru de 2004. Rafael Samuel Gómez Paquiyauri e Emílio Moisés Gómez Paquiyauri tinham apenas 17 e 14 anos, respectivamente, quando foram mortos. Eles habitavam a província de El Callao, no Peru, localidade em que o estado de emergência era comumente invocado e no qual ocorreu o episódio do “Cerco Noventiuno”, com o objetivo de exterminar terroristas24. Tratados pela polícia como inimigos a serem eliminados, os jovens irmãos foram torturados e assassinados. Os corpos sem vida foram deixados em um necrotério e apresentados pelos agentes de polícia como terroristas sem identificação, mortos após enfrentamento armado25. Sobre a violação ao direito à liberdade, a Corte considerou a detenção arbitrária e agravada pela tortura e execução sumária de jovens indefesos em nome de um pretenso combate ao terror: “(...) la responsabilidad del Estado se ve agravada por existir en el Perú en la época de los hechos una práctica sistemática de violaciones de derechos humanos, entre ellas ejecuciones extrajudiciales, de personas sospechosas de pertenecer a grupos armados realizadas por agentes estatales siguiendo órdenes de jefes militares y policiales. Dichas violaciones graves infringen el jus cogens internacional. Asimismo, para la determinación de la responsabilidad agravada, se debe tomar en cuenta que las presuntas 26 víctimas de este caso eran niños” . Assim sendo, a Corte IDH interpretou as violações cometidas contra os jovens como infrações às normas imperativas do direito internacional. As proibições da tortura e de execuções extrajudiciais integram o domínio das normas peremptórias de direito internacional, normas que não podem ser derrogadas mesmo em situações de exceção. Como no caso Barrios Altos vs. Peru de 2001, a Corte IDH determinou que existe um regime de proibição absoluta da tortura (tanto física, como psicológica), indo mais além ao finalmente identificar a proibição deste delito como uma norma de jus cogens: “Se ha conformado un régimen jurídico internacional de prohibición absoluta de todas las formas de tortura, tanto física como ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 29 Ana Laura Becker Aguiar e Gabriel Gualano de Godoy psicológica, régimen que pertenece hoy día al 27 dominio de jus cogens internacional” . Também no caso Tibi vs. Ecuador de 2004, a Corte reafirmou sua tese de proibição absoluta da tortura física e psicológica28. Importante mencionar que, na sentença do caso Ximenes Lopes vs. Brasil de 2006, a Corte IDH também advertiu que o direito à integridade pessoal, consagrado na Convenção Americana, tem por finalidade principal a proibição imperativa da tortura e penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes, não admitindo, pois, suspensão em circunstância alguma. Em outras palavras, a referida proibição recai no domínio do jus cogens29. O juiz Cançado Trindade em diversas oportunidades manifestou em seus votos sua compreensão sobre a leitura conjugada dos artigos 8 (Garantias Judiciais) e 25 (Proteção Judicial) da Convenção Americana de Direitos Humanos como um dispositivo garantidor do “direito ao direito”, ou seja, do direito de acesso à justiça como um imperativo do jus cogens: “La indisociabilidad que sostengo entre los artículos 25 y 8 de la Convención Americana (supra) conlleva a caracterizar como siendo del dominio del jus cogens el acceso a la justicia entendido como la plena realización de la misma, o sea, como siendo del dominio del jus cogens la intangibilidad de todas las garantías judiciales en el sentido de los artículos 25 y 8 tomados conjuntamente. No puede haber duda de que las garantías fundamentales, comunes al Derecho Internacional de los Derechos Humanos y al Derecho Internacional Humanitario, tienen una vocación universal al aplicarse en todas y cualesquiera circunstancias, conforman un derecho imperativo (perteneciendo al jus cogens), y acarrean obligaciones erga omnes 30 de protección” Mas foi somente no caso Goiburú e outros vs. Paraguai de 2006 que a Corte pronunciou-se sobre a matéria. O caso tratou da detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado de Agostinho Goiburú Gimenez, Jose Carlos Mancuello Bareiro e irmãos Rodolfo e Benjamin Feliciano de Jesus Ramirez Villalba, cometidos por agentes estatais entre 1974 e 1977, bem como parcial impunidade de todos os responsáveis pelos crimes. Os acontecimentos tiveram lugar dentro de um contexto no quais agentes estatais paraguaios detiveram ilegalmente, mantiveram incomunicáveis, torturaram, assassinaram e depois esconderam os 30 restos mortais de pessoas que discordavam do regime militar presidido por Alfredo Stroessner. O Estado paraguaio reconheceu sua responsabilidade internacional em relação ao mérito, bem como em relação às alegações dos peticionários, no que se refere à violação dos direitos das vítimas que foram presas ilegalmente e que desapareceram durante o regime de Alfredo Stroessner (entre 1954 e 1989). A Corte reconheceu que durante a ditadura no Paraguai, houve uma prática sistemática de detenções arbitrárias, prolongadas detenções sem julgamento, tratamentos cruéis, desumanos e degradantes, mortes por tortura e assassinatos políticos de pessoas identificadas como “subversivas” ou contrárias ao regime militar. A Corte IDH reconheceu, ainda, a existência da Operação Condor. Tratava-se de união das forças armadas e policiais do Cone Sul para uma “cruzada anticomunista” que possibilitou a detenção de cidadãos estrangeiros sem julgamento, recondução clandestina dessas pessoas às prisões do seu país de origem, e, em diversos casos, a desaparição forçada dessas vítimas. A Corte IDH determinou como comprovado que os desaparecimentos forçados de Agostinho Goiburu Gimenez, Jose Carlos Mancuello Bareiro e irmãos Rodolfo e Benjamin Ramirez Villalba tinham características semelhantes e se referiam a um mesmo contexto. A Corte considerou também que, em absoluta contradição com os principais objetivos e finalidades de organização da comunidade internacional, estabelecidos por normas universais na Carta das Nações Unidas e em nível regional pela Carta da OEA e pela Convenção Americana, durante a década de setenta, os serviços de inteligência de vários países do Cone Sul do continente americano formaram uma organização de fins criminosos e complexamente articulada, cujo alcance continua revelando-se hoje, ou seja, havia uma prática sistemática de “terrorismo de Estado” em nível inter-estatal. A Corte IDH destacou que as proibições da tortura e do desaparecimento forçado têm caráter de normas peremptórias de direito internacional ou jus cogens31. Destacou, também, que, dada a gravidade de certos crimes, as normas do direito internacional consuetudinário e convencional estabelecem o dever de julgar os responsáveis. Casos assim, em contextos de violações graves e sistemáticas dos direitos humanos, que constituem crimes contra a humanidade, geram aos Estados e particulares a obrigação de assegurar que esses comportamentos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Ampliação do Conteúdo Material do Conceito Normativo de Jus Cogens sejam apurados, seus autores punidos e as vítimas reparadas. A Corte reafirmou sua jurisprudence constante sobre o caráter jus cogens da proibição da tortura e desaparecimento forçado: que no caso específico executou um professor e 9 estudantes da Universidade La Cantuta. A importância dessa decisão foi considerar o acesso à justiça como norma imperativa do direito internacional: “En definitiva, la Corte estima que, tal como se desprende del preámbulo de la Convención Interamericana señalada, ante la particular gravedad de estos delitos y la naturaleza de los derechos lesionados, la prohibición de la desaparición forzada de personas y el correlativo deber de investigarlas y sancionar a sus responsables han alcanzado carácter de 32 jus cogens” . “Ante la naturaleza y gravedad de los hechos, más aún tratándose de un contexto de violación sistemática de derechos humanos, la necesidad de erradicar la impunidad se presenta ante la comunidad internacional como un deber de cooperación interestatal para estos efectos. El acceso a la justicia constituye una norma imperativa del Derecho Internacional y, como tal, genera obligaciones erga omnes para los Estados de adoptar las medidas que sean necesarias para no dejar en la impunidad esas violaciones, ya sea ejerciendo su jurisdicción para aplicar su derecho interno y el Derecho Internacional para juzgar y, en su caso, sancionar a los responsables de hechos de esa índole, o colaborando con otros Estados que lo hagan o procuren hacerlo. La Corte recuerda que, bajo el mecanismo de garantía colectiva establecido en la Convención Americana, en conjunto con las obligaciones internacionales regionales y universales en la materia, los Estados Partes en la Convención deben 35 colaborar entre sí en ese sentido” . Ainda, a Corte reconheceu categoricamente mais uma norma de jus cogens: “De manera consecuente con lo anterior, ante la naturaleza y gravedad de los hechos, más aún tratándose de un contexto de violación sistemática de derechos humanos, la necesidad de erradicar la impunidad se presenta ante la comunidad internacional como un deber de cooperación inter-estatal para estos efectos. La impunidad no será erradicada sin la consecuente determinación de las responsabilidades generales – del Estado – y particulares – penales de sus agentes o particulares –, complementarias entre sí. El acceso a la justicia constituye una norma imperativa de Derecho Internacional y, como tal, genera obligaciones erga omnes para los Estados de adoptar las medidas que sean necesarias para no dejar en la impunidad esas violaciones, ya sea ejerciendo su jurisdicción para aplicar su derecho interno y el derecho internacional para juzgar y, en su caso, sancionar a los responsables, o colaborando con otros Estados que lo hagan o procuren 33 hacerlo” . O acesso à justiça constitui uma norma imperativa de direito internacional e, como tal, gera obrigações erga omnes de proteção para os Estados, que devem tomar as medidas necessárias para não deixar essas violações impunes. Aos Estados cumpre exercer sua competência para aplicar a legislação interna e o direito internacional34. O caso La Cantuta vs. Peru de 2006 também apresenta uma contribuição da Corte IDH para a expansão do conteúdo material das normas de jus cogens. O caso tratou, como no caso Barrios Altos vs. Peru, de violações graves de direitos humanos, como execuções sumárias, desaparecimento forçado de pessoas e tortura executadas pelo “esquadrão da morte” do Estado peruano, chamado Grupo Colina, Esta foi a última sentença em que Cançado Trindade participou como juiz titular da Corte, oportunidade em que reafirmou sua tese sobre a inadmissibilidade de violações de jus cogens, da necessidade de reconhecimento e identificação do jus cogens e da imposição de suas correspondentes obrigações erga omnes de proteção. III. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em suas decisões e interpretações, a Corte IDH fez avançar o direito internacional ao identificar normas gerais do direito internacional que ensejam responsabilidades para toda a comunidade internacional. A proibição da prática de genocídio, da tortura, o princípio de não-discriminação e da igualdade perante a lei, o direito fundamental à vida, e o direito ao acesso à justiça são exemplos de normas de jus cogens identificadas pela jurisprudência da Corte IDH. Portanto, qualquer ato que vá contra esses princípios pode ser invalidado segundo o direito internacional geral. Este processo de identificação, no entanto, é um processo lento, contínuo e não unânime. A própria Corte IDH não tem sido linear em algumas de suas interpretações. No caso Goiburú e outros vs. Paraguai de 2006, a Corte identificou o direito ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 31 Ana Laura Becker Aguiar e Gabriel Gualano de Godoy ao acesso à justiça como norma de jus cogens; no entanto, optou por não fazê-lo no caso Trabajadores Cesados del Congreso vs. Peru de 2007. Um dos aspectos desenvolvidos pela jurisprudência da Corte IDH diz respeito ao reconhecimento da emergência das obrigações erga omnes de proteção. Trata-se de obrigações incondicionais, exigíveis por todo Estado independente de sua participação em um determinado conflito e cujo integral cumprimento interessa à comunidade internacional como um todo36. Esse reconhecimento fortaleceu a compreensão de que o direito internacional não está limitado ao direito dos tratados e a vontade dos Estados, mas que, nas palavras do jurista Antônio Augusto Cançado Trindade, “o direito emana da consciência comum do que é juridicamente necessário (opinio juris communis necessitatis)”37. Cançado Trindade observa o despertar de uma consciência jurídica universal, cuja manifestação inequívoca é o reconhecimento de normas de direito internacional com caráter de jus cogens. O jus cogens não se limita ao direito dos tratados, mas é próprio também do direito da responsabilidade internacional dos Estados. Para o jurista Cançado Trindade, é neste ponto que o jus cogens assume sua real amplitude, ao alcançar todos os atos jurídicos que lhe sejam contrários. Como juiz, Cançado Trindade expôs sua convicção sobre a incompatibilidade do conceito de jus cogens com a concepção voluntarista do direito internacional. Assim também o fez nos debates da Conferência de 32 Viena sobre Direito dos Tratados entre Estados e Organismos Internacionais em que esteve presente, em março de 1986, como membro da delegação brasileira38. No seu voto dissidente no caso das Hermanas Serrano Cruz vs. El Salvador de 2004, o juiz brasileiro destacou que: “Con las distorsiones de su práctica en la materia, los Estados se ven hoy ante un dilema que debería estar ya superado hace mucho: o siguen apegándose a la anacrónica concepción voluntarista del derecho internacional, abandonando de una vez la esperanza en la preeminencia del Derecho sobre los intereses políticos, o retoman y realizan con determinación el ideal de construcción de una comunidad internacional más cohesionada e institucionalizada a la luz del primado del Derecho y en la búsqueda de la Justicia, moviendo resueltamente del jus dispositivum al jus cogens, convencidos de que el ordenamiento jurídico internacional es, al fin y al cabo, más que voluntario, 39 necesario . Resta claro o posicionamento de hierarquia superior dos direitos humanos em face de atos violatórios dos Estados, o que afirma a humanização do direito internacional. A ampliação do conteúdo material do conceito normativo de jus cogens pela Corte IDH fortalece a proteção internacional dos direitos humanos e sua acolhida representa o fortalecimento de um modelo comunitário em construção, comprometido com a dignidade humana. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Corte Interamericana de Direitos Humanos e a Ampliação do Conteúdo Material do Conceito Normativo de Jus Cogens NOT AS NOTAS 1. FRIEDRICH, Tatyana Sheila. As normas imperativas de direito internacional público – jus cogens. Belo Horizonte: Fórum, 2004, p. 34. 2. Corte IDH, ou simplesmente Corte. 3. Todos os casos estão disponíveis na página da Corte IDH: http://www.corteidh.or.cr (acesso em 31 de julho de 2008). 4. Corte IDH. Caso Blake Vs. Guatemala. Mérito. Sentença de 24 de janeiro de 1998. Serie C No. 36. Voto do juiz Cançado Trindade, parágrafo 12. 19 de novembro de 2004. Serie C No. 116, parágrafo 39. 21. Idem, parágrafo 51. 22. Corte Internacional de Justiça. Parecer Consultivo sobre Reservas à Convenção de Genocídio 28 de maio de 1951, parágrafo 15. 23. Corte IDH. Caso Masacre Plan de Sánchez Vs. Guatemala. Mérito. Sentença de 29 de abril de 2004. Serie C No. 105. Voto Justificado do Juiz A. A. Cançado Trindade, parágrafo 24. 7. Idem, parágrafo 25. 24. Corte IDH. Caso de los Hermanos Gómez Paquiyauri Vs. Perú. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 8 de julho de 2004. Serie C No. 110, parágrafo 67. 8. Idem, parágrafo 23. 25. Idem. 9. Idem, parágrafo 28. 26. Idem, parágrafo 76. 10. Idem, parágrafo 40. 27. Idem, parágrafo 112. 11. Corte IDH. Caso dos “Niños de la Calle” (Villagrán Morales y otros) Vs. Guatemala. Mérito. Sentença de 19 de novembro de 1999. Serie C No. 63. Voto Concorrente Conjunto dos Juizes A. A. Cançado Trindade e A. Abreu Burelli, parágrafo 2. 28. Corte IDH. Caso Tibi Vs. Ecuador. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 7 de setembro de 2004. Serie C No. 114, parágrafo 143. 5. Idem, parágrafo 11. 6. Idem, parágrafo 15 12. Corte IDH. Caso Cantoral Benavides Vs. Perú. Mérito. Sentença de 18 de agosto de 2000. Serie C No. 69, parágrafo 103. 13. Corte IDH. Caso Barrios Altos Vs. Perú. Mérito. Sentença de 14 de março de 2001. Serie C No. 75. Voto Concorrente do Juiz A.A. Cançado Trindade, parágrafo 10. 14. Corte IDH. Condición Jurídica y Derechos de los Migrantes Indocumentados. Parecer Consultivo OC-18/03 de 17 de setembro de 2003. Serie A No. 18, parágrafo 25. 15. Idem, parágrafo 99. 16. Idem, parágrafo 101. 17. Idem, parágrafo 110. 18. Idem, Voto do juiz A. A. Cançado Trindade, parágrafo 68. 19. Corte IDH. Caso Servellón García y otros Vs. Honduras. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 21 de setembro de 2006. Serie C No. 152, parágrafo 94; e Corte IDH. Caso Yatama Vs. Nicaragua. Exceções Preliminares, Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 23 de junho de 2005. Serie C No. 127, parágrafo 184. 20. Corte IDH. Caso Masacre Plan de Sánchez Vs. Guatemala. Reparações e Custas. Sentença de 29. Corte IDH. Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 4 de julho de 2006. Serie C No. 149, parágrafo 126. 30. Corte IDH. Caso de la Masacre de Pueblo Bello Vs. Colombia. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 31 de janeiro de 2006. Serie C No. 140. Voto Justificado do Juiz Cançado Trindade, parágrafo 64. 31. Corte IDH. Caso Goiburú y otros Vs. Paraguay. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 22 de setembro de 2006. Serie C No. 153, parágrafos 84, 85 e 128. 32. Idem, parágrafo 84. 33. Idem, parágrafo 131. 34. Idem. 35. Corte IDH. Caso La Cantuta Vs. Perú. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 29 de novembro de 2006. Serie C No. 162, parágrafo 160. 36. TRINDADE, A. A. Cançado. Tratado de Direito Internacional. Porto Alegre: SAF Editor, 2ed., tomo I, 2001, p. 357. 37. TRINDADE, A. A. Cançado. A Humanização do Direito Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2006, p. 88. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 33 Voto del Juez Sergio García Ramírez 38. U.N., United Nations Conference on the Law of Treaties between States and International Organizations or between International Organizations (Vienna, 1986) - Official Records, volume I, N.Y., U.N., 1995, pp. 187-188 (intervenção de A.A. Cançado Trindade). 34 39. Corte IDH. Caso de las Hermanas Serrano Cruz Vs. El Salvador. Exceções Preliminares. Sentença de 23 de novembro de 2004. Serie C No. 118. Voto Dissidente do Juiz A. A. Cançado Trindade, parágrafo 32. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Responsabilidad, Perdón y Justicia como Manifestaciones de la Conciencia Jurídica Universal RESPONSABILIDAD, PERDÓN Y JUSTICIA COMO MANIFESTACIONES DE LA CONCIENCIA JURÍDICA UNIVERSAL1 ••••••••••••••••••••••••••• ANTÔNIO AUGUSTO CANÇADO TRINDADE Ph.D. (Cambridge); Ex-Presidente da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Professor Titular da Universidade de Brasília e do Instituto Rio-Branco; Doutor Honoris Causa e Professor Honorário de distintas Universidades latinoamericanas (na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México, Paraguai e Peru); Membro Titular do Institut de Droit International e do Curatorium da Academia de Direito Internacional da Haia I. INTRODUCCIÓN Constituye para mí motivo de gran honor poder comparecer a esta ceremonia de incorporación, como Profesor Visitante Honoris Causa, de la Universidad Mayor de Nuestra Señora del Rosario, por decisión de su ilustre Claustro. Esto me proporciona (...) la ocasión de compartir algunas reflexiones con los Profesores y estudiantes de la Universidad del Rosario, así como los integrantes del Diplomado en los Sistemas Internacional y de Derecho Interno de Protección de Derechos Humanos copatrocinado por el Ministerio de Relaciones Exteriores de Colombia y la Universidad Nacional de Colombia, así como estudiantes de postgrado de la Pontificia Universidad Javeriana, de la Universidad Externado de Colombia, de la Universidad Autónoma de Colombia, y de la Universidad de la Sabana, todos aquí reunidos en una demostración del noble espíritu de cooperación inter-institucional, de la verdadera Universitas. Extiendo al Claustro de la Universidad del Rosario, una de las más prestigiosas Universidades de Colombia y de América Latina, que está completando 353 años de existencia y densa trayectoria cultural e intelectual, mis más sinceros agradecimientos por la alta distinción que me concede, en esta bella Aula Máxima, repleta de historia y pensamiento, - distinción ésta que para mí se reviste de gran significación no sólo profesional sino también personal. (...) Quisiera (...) pasar al tema de mi intervención en esta solemnidad, que me permito denominar “Responsabilidad, Perdón y Justicia como Manifestaciones de la Conciencia Jurídica Universal”. (...) En la reciente audiencia pública del 10 de marzo de 2005 en el caso Gutiérrez Soler (2005) ante la Corte Interamericana de Derechos Humanos, la Delegación de Colombia procedió a un emblemático gesto de pedido de perdón a las víctimas. Con todos los graves problemas que tiene2, Colombia se ha mantenido hasta la fecha fiel al sistema interamericano de protección que ayudó a construir, y, en las audiencias públicas ante la Corte, ha dado muestras de una postura constructiva hasta el presente. Tengo confianza en que seguirá siempre fiel a su valiosa tradición jurídica, dando fiel cumplimiento a las Sentencias de la Corte, para lo que cuenta con la solidaridad de los latinoamericanos, sobre todo ante la tragedia humana que vive. II. LA TRÍADA RESPONSABILIDAD/ PERDÓN/ JUSTICIA COMO MANIFEST ACIÓN DE LLA A MANIFESTACIÓN CONCIENCIA JURÍDICA UNIVERSAL A propósito de lo ocurrido en la referida audiencia pública del 10 de marzo de 2005, quisiera, ahora que diviso en el horizonte cercano el crepúsculo de la era de mi actuación como Juez titular de la Corte Interamericana, - la labor más gratificante de toda mi vida profesional, - trazar una breve línea de reflexiones sobre el despertar de la conciencia humana para los imperativos de protección de la persona humana y de reparación de los agravios contra ésta perpetrados. Quisiera, en la noche de hoy en este acto académico en la Universidad del Rosario en Bogotá, referirme a la tríada responsabilidad/perdón/justicia como manifestación de la conciencia jurídica universal, esta última como fuente material de todo el Derecho. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 35 Antônio Augusto Cançado Trindade 1. Responsabilidad Todavía me acuerdo del primer caso de reconocimiento de responsabilidad internacional del Estado en audiencia pública ante la Corte Interamericana, en el caso Aloeboetoe y Otros versus Suriname (fondo, 1991), así como de las reuniones informales que lo precedieron, de las cuales participé, realizadas en el Hotel Aurola en San José de Costa Rica. Ya pasaron 15 años, el caso ya fue archivado por la Corte después que Suriname, - país económicamente pequeño, pero de respetable cultura, dio un bello ejemplo a los países grandes mediante el cabal cumplimiento de la Sentencia. Ya pasaron 15 años desde aquel reconocimiento pionero y pleno, que fue, en aquel entonces, un evento ejemplarizante, con amplia repercusión en los círculos jusinternacionalistas latinoamericanos y caribeños. Hoy día, de un total de 84 casos contenciosos tramitados ante la Corte Interamericana, se han resuelto 68, y, de este total, ya son 20 los casos de allanamiento bajo la Convención Americana, - de los cuales 15 casos de aceptación total de responsabilidad3 y 5 de aceptación parcial de responsabilidad4. Además, de los casos todavía en trámite ante la Corte, en 5 otros de ellos ha habido aceptación parcial de responsabilidad5. Esto significa que, en este inicio del año 2006, los Estados Partes a la Convención Americana y sometidos a la jurisdicción de la Corte Interamericana han logrado alcanzar una impresionante cifra de 29,76% de casos contenciosos ante la Corte en que ha habido reconocimiento de responsabilidad internacional, de los cuales 85% corresponden a la aceptación total de responsabilidad y 11,90% a la aceptación parcial de responsabilidad. Este porcentaje no encuentra paralelo en la práctica de ningún otro tribunal internacional contemporáneo. No me consta que estos dados encuentren paralelo o precedente en otros sistemas de protección internacional de los derechos humanos. Aquí, una vez más, los países latinoamericanos han dado muestras inequívocas y marcantes de su rica cultura jurídica, que no queda a deber nada a la europea y aún menos a la norteamericana. Todo lo contrario, constituyen hoy un ejemplo para otros países, en el presente dominio del Derecho Internacional, en beneficio de las personas protegidas. En varias de sus Sentencias en aquellos casos, la Corte Interamericana ha valorado positivamente dichas aceptaciones de responsabilidad internacional. Me siento verdaderamente privilegiado en haber podido participar en la adjudicación de todos 36 estos casos de reconocimiento de responsabilidad hasta la fecha, - desde el primero de ellos, la Sentencia del 04.12.1991 en el caso Aloeboetoe versus Suriname, - y acompañar así de muy cerca ese proceso alentador de concientización por parte de los Estados Partes en la Convención Americana de sus deberes de protección hacia todos los individuos que se encuentren bajo sus respectivas jurisdicciones. Éste ha sido uno de los aspectos más gratificantes de mi labor de más de una década como magistrado de la Corte Interamericana, que identifico como manifestaciones de la propia conciencia humana, que, en última instancia, es la que hace avanzar el Derecho. 2. PPer er dón erdón Además, se multiplican significativamente los casos en que los Estados de nuestra región han pedido perdón a las víctimas, sea después de las respectivas Sentencias de la Corte, sea incluso antes de ellas, como, por ejemplo, lo hizo Colombia, de modo ejemplar, en el mencionado caso Gutiérrez Soler. Los países de nuestra región han, así, dado expresión al despertar de su conciencia, y han dado una muestra del renovado vigor de la respetable cultura jurídica latinoamericana y caribeña, - como buen ejemplo para otros países, como los de América del Norte, que hasta el presente ni siquiera ratificaron la Convención Americana sobre Derechos Humanos. ¿Cómo apreciar tales pedidos de perdón en el marco del Derecho Internacional de los Derechos Humanos? Se enmarcan ellos, a mi modo de ver, ineluctablemente, a lo que me permito denominar la trilogía indisociable de responsabilidad/perdón/ justicia, como manifestaciones de la conciencia jurídica universal, fuente material última del Derecho Internacional así como de todo el Derecho. En mi Voto Razonado en el caso Gutiérrez Soler versus Colombia (2005), me permití señalar (párrafos 19-28) la relevancia de la concientización, en nuestros días, de la importancia de la búsqueda del perdón por la perpetración de las graves violaciones de los derechos humanos. En una obra reciente, P. Ricoeur señala oportunamente que “c’est dans notre capacité à maîtriser le cours du temps que paraît pouvoir être puisé le courage de demander pardon”6 En el continente americano, tal como fue señalado por la Corte Interamericana en la presente Sentencia sobre el caso Gutiérrez Soler, en la audiencia pública del 10 de marzo de 2005, los integrantes de la delegación del Estado demandado, reiteraron su reconocimiento de responsabilidad internacional en el cas d’espèce8, y pidieron perdón ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Responsabilidad, Perdón y Justicia como Manifestaciones de la Conciencia Jurídica Universal en nombre del Estado a la víctima y sus familiares en el cas d’espèce, a modo de contribuir, como fue expresado por la representación del Estado, a la “dignificación” de estos últimos9. Otro ejemplo significativo encuéntrase en la presentación de los resultados de la labor de la Comisión de la Verdad y Reconciliación de Chile. Al dar al público el Informe final de la Comisión, en marzo de 1991 (el cual planteó la necesidad de rehabilitación del honor de las víctimas), el entonces Presidente de Chile (Sr. Patricio Aylwin) observó, en su discurso, que era “la hora del perdón y la reconciliación”, para mirar “hacia el futuro que nos une, más que al pasado que nos separa”, y agregó: “(...) Hay que empezar por precisar quiénes son los ofendidos llamados a perdonar y quiénes son los ofensores que han de ser perdonados. Yo no puedo perdonar por otros; el perdón no se impone por decreto. El perdón requiere arrepentimiento de una parte y de la otra generosidad. Cuando fueron agentes del Estado los que ocasionaron tanto sufrimiento, y los órganos competentes no pudieron o no supieron evitar o sancionarlos y tampoco hubo necesaria reacción social para impedirlo, son el Estado y la sociedad entera los responsables, bien sea por acción o por omisión. Es la sociedad chilena la que está en deuda con las víctimas de las violaciones de los derechos humanos. (...) Por eso yo me atrevo, en calidad de Presidente de la República, a asumir la representación de la nación entera para, en su nombre, pedir perdón a los familiares de las víctimas. Por eso también pido solemnemente a las fuerzas armadas y de orden y a todos los que hayan tenido participación en los excesos cometidos que hagan gestos de reconocimiento del dolor causado y colaboren para 10 aminorarlo” . En el continente asiático, recientemente, en la Cumbre de Países de África y Asia realizada en abril de 2005 en Jakarta, Indonesia, el Primer Ministro del Japón (Sr. J. Koizumi) pidió perdón a los victimados (sobre todo asiáticos) por los excesos perpetrados por los militares de su país en la II guerra mundial. En su discurso del 22.04.2005 en la referida Cumbre, expresó, en nombre del Estado japonés, sus sentimientos de “deep remorse” y “heartfelt apology always engraved in mind”11. Este no fue el primer gesto del género, por cuanto solicitudes similares de perdón fueron formuladas por los gobernantes de aquel país en ocasiones anteriores12. A partir de diciembre de 1991, Japón emprendió una operación de fact-finding, cuyos resultados fueron anunciados en julio de 1992 y agosto de 1993, sobre el tema denominado de “wartime comfort women”; al anunciarlos, las autoridades japonesas expresaron sus “sincere apologies and remorse” por la “grave afrenta al honor y a la dignidad” de las mujeres victimadas durante la guerra. Aceptando su “responsabilidad moral”, Japón tomó una serie de iniciativas (a partir de julio de 1995), como el desarrollo de proyectos y fondos de asistencia a las víctimas (y familiares) en las Filipinas, República de Corea, Taiwan, Indonesia y Holanda, a fin de “ensure that such an issue may never be repeated”13. En el continente europeo, en el año 2000, el Papa Juan Pablo II, en un documento histórico (titulado Memoria e Riconciliazione - La Chiesa e le Colpe del Passato), pidió perdón por las culpas de la Iglesia en el pasado. Explicó que “Purificare la memoria significa eliminare dalla coscienza personale e collettiva tutte le forme di risentimento o di violenza che l’eredità del 14 passato vi avesse lasciato (...)” . Este proceso de purificación de la memoria se rige, en su formulación, por tres principios, a saber, el “principio de conciencia” (como un “juicio o imperativo moral”) el “principio de historicidad”, y el “principio de cambio de `paradigma’”15. Entre los ejemplos históricos citados figuran los de las cruzadas (la “tragedia dell’uso delle armi per proteggere la fede”), de los indígenas, de la Inquisición, además de casos individuales como los de Giordano Bruno y Galileo16. En el continente africano, al recibir el Informe de la Comisión de la Verdad y Reconciliación de Sudáfrica, el Presidente de aquel país (Sr. Nelson Mandela), en discurso pronunciado en Pretoria el 29.10.1998, advirtió: “It will be difficult for the victims of gross violations of human rights to accept the philosophical account of the trade-off between punitive justice and a peaceful transition. It may be difficult for many to accept the finding the apartheid State was the primary perpetrator of gross human rights violations. Yet if we are true to our founding pact, we cannot equivocate about a system which exacted such inhumanity. There can be no dissonance with 17 regard to the clarion call: never again!” . Poco después, en su evaluación de la labor de la Comisión de la Verdad y Reconciliación sudafricana, publicada en enero de 1999, el Arzobispo Desmond Tutu concentró sus reflexiones en el tema del arrepentimiento y la búsqueda del perdón. Ponderó él que ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 37 Antônio Augusto Cançado Trindade “Forgiveness and reconciliation are not the normal terms of political discourse. They are playing on home ground in the religious area (...) to bear on the delicate business of healing a traumatised and deeply wounded people. (...) Forgiveness in an important way is making it possible for the wrongdoer to make a new beginning and not to be imprisoned in a paralysing past. (...) But the only way forgiveness can be appropriated is by the perpetrator confessing because he is penitent. Something 18 similar is true for communities and people” . En seguida, el Arzobispo D. Tutu se refirió a la tragedia de Ruanda: “I visited Rwanda soon after the genocide there. I said that if retributive justice was to be the last word in dealing with that awful happening, then Rwanda had had it, for her history has been one of reprisal followed by counter-reprisal, as first Tutsi and then Hutu took the opportunity for revenge, as each in turn toppled the previous top dogs. Their hope lay in something which went beyond retributive justice, and that something was forgiveness. (...) And so we see that without 19 forgiveness there can be no future” . En su decisión emitida en Arusha, el 02.10.1998, en el caso Prosecutor versus Akayesu20 el Tribunal Penal Internacional ad hoc para Ruanda (Trial Chamber) señaló que el acusado (Sr. J.-P. Akayesu), condenado a prisión por el Tribunal (párrafo 3), a pesar de haber aceptado su responsabilidad por los hechos tan sólo por omisión (por falta del cumplimiento del deber de proteger a la población de Taba), sin embargo insistió en “públicamente expresar pesar por todas las víctimas de los trágicos eventos que ocurrieron en Ruanda, sea tutsis, hutus, o twas. Pidió el perdón del pueblo de Ruanda en general y específicamente el del pueblo de la comuna de Taba (...)” (párrafo 2). 3. Justicia El perdón, de suma importancia como otra de las manifestaciones de la conciencia humana, sin embargo no puede ser apreciado de modo aislado: encuéntrase ineluctablemente vinculado a la responsabilidad - a la cual ya me referí, - así como a la justicia, tercer dato de la tríada que me propongo aquí desarrollar. Así como el pasar del tiempo es, de cierto modo, una medicina doloris, el perdón es un acto de redención y de liberación (de la punición de la vida interior), de parte tanto de las víctimas como de sus victimarios arrepentidos, es un intento de superación de la miseria de la condición humana21. 38 El perdón es pedido por los victimarios arrepentidos, pero puede ser aceptado o no por las víctimas. Estas esperan tener sus sufrimientos reivindicados, de conformidad con las lesiones sufridas; para algunas, el pedido de perdón puede ser considerado como un acto satisfactorio de justicia. Pero, para otras, víctimas de violaciones particularmente graves, el perdón debe ser acompañado de otros actos de justicia que reivindiquen y reconozcan debidamente sus sufrimientos, y pongan fin a la impunidad. En un libro magistral, - de aquéllos que ya no se escriben más en nuestra nueva era de la informática, - titulado Le problème du mal - l’histoire (1948), su lúcido autor, R.P. Sertillanges, observó con acierto que el pensamiento positivista, insensible a los valores, se tornó simplemente inconsciente del problema del mal22. El despertar de la conciencia jurídica universal viene, a mi modo de ver, a sepultar en definitiva la indiferencia de la miopía del positivismo jurídico, - siempre connivente con el poder, y sumiso al mismo, inclusive cuando es ejercido en grave violación de los derechos básicos inherentes a la persona humana. Todo el capítulo de las reparaciones de violaciones de los derechos humanos requiere un mayor desarrollo conceptual y jurisprudencial, a partir del reconocimiento de la estrecha relación entre los derechos a la verdad, a la reparación y a la justicia. Tal desarrollo se impone particularmente ante violaciones graves y sistemáticas de los derechos humanos, que requieren reparaciones de cuño disuasivo, precisamente para garantizar la norepetición de las graves violaciones de los derechos humanos. La jurisprudencia de la Corte Interamericana en materia de reparaciones es particularmente rica, y, en los últimos años, esto ha sido objeto de reconocimiento internacional por parte de la doctrina especializada. Sin embargo, aún resta un largo camino que recorrer. Por ejemplo, todo este capítulo fue erigido, en otras areas del Derecho, a partir de la óptica de reparación de daños, - con base en una analogía inadecuada con soluciones propias del Derecho Civil, - y no de reparación del sufrimiento humano. La determinación de los hechos se reviste de fundamental importancia para los victimados y sus familiares.En los últimos años, la Corte Interamericana ha advertido sobre la importancia del derecho a la verdad, en sus dimensiones tanto individual23 (como medio de reparación para la víctima y sus familiares) como social (que atañe a todo el tejido social). A partir de la Sentencia sobre reparaciones en el memorable caso Bámaca Velásquez ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Responsabilidad, Perdón y Justicia como Manifestaciones de la Conciencia Jurídica Universal versus Guatemala (del 22.02.2002), - célebre caso de tanta densidad cultural, - la Corte pasó a señalar también la dimensión social (a la par de la individual) del derecho a la verdad, al ponderar que “La sociedad tiene el derecho a conocer la verdad en cuanto a tales crímenes con el propósito de que tenga la capacidad de prevenirlos en el futuro” (párr. 77). Desde entonces la Corte ha reiterado dicha dimensión social en sucesivas Sentencias24. El derecho a la verdad se vincula al deber ineludible del Estado de realizar una investigación seria y efectiva de los hechos que generaron las violaciones de los derechos humanos e identificar, juzgar y sancionar a los responsables, para evitar la indefensión de las víctimas y de sus familiares, y garantizar la no-repetición crónica de las violaciones de sus derechos. En cuanto a las reparaciones, quisiera aquí rescatar algunas de las reflexiones que me permití desarrollar en mi Voto Razonado en el caso de los “Niños de la Calle” (Villagrán Morales y Otros versus Guatemala, reparaciones, 2OO1). Al destacar la relevancia de la satisfacción, como forma de reparación no-pecuniaria a los familiares inmediatos de las víctimas asesinadas (párr. 27), agregué: ¿“Cuál es el precio de una vida humana? ¿Cuál es el precio de la integridad de la persona humana? ¿Cuál es el precio de la libertad de conciencia, o de la protección de la honra y de la dignidad? ¿Cuál es el precio del dolor o sufrimiento humano? ¿Si se pagan las indemnizaciones, el “problema” estaría “resuelto”? Lo cierto es que todos los derechos protegidos bajo la Convención Americana sobre Derechos Humanos tienen un valor autónomo y un contenido jurídico propio, y además, encuéntranse todos relacionados inter se, indivisibles que son. (...) El día en que la labor de determinar las reparaciones debidas a las víctimas de violaciones de derechos humanos fundamentales se reduciese exclusivamente a una simple fijación de compensaciones en la forma de indemnizaciones, (...) la propia labor de un tribunal internacional de derechos humanos estaría irremediablemente desprovista de todo sentido. (...) (...) La vida y la integridad de cada ser humano efectivamente no tienen precio. Tampoco tienen precio la libertad de conciencia, la protección de la honra y de la dignidad de la persona humana. Y tampoco tiene precio el dolor o sufrimiento humano. El mal perpetrado en las personas de las víctimas (directas e indirectas) no es removido por las reparaciones: las víctimas siguen siendo víctimas, antes y después de las reparaciones, - por lo que se impone mayor importancia a ser atribuída a las medidas en pro de su rehabilitación. En cuanto, particularmente, a los familiares inmediatos de víctimas directas de violaciones de derechos humanos, temo que sólo a través del intenso sufrimiento asumido (que me parece tener un efecto sobre todo autodidáctico) podrán, como víctimas indirectas, frente a la pérdida de un ser querido, agravada por la extrema violencia, reconstruir su vida interior, - la cual es el único lugar seguro donde cada uno puede refugiarse de las injusticias y los insultos de ese mundo. Pero el mal cometido no desaparece por el otorgamiento de reparaciones, y sigue afectando a los familiares inmediatos de la persona torturada y asesinada en sus relaciones entre sí, y con otras personas, y con el mundo exterior. Las víctimas directas han sufrido un daño irreparable, al haber sido privadas de su vida arbitrariamente (en los términos del artículo 4(1) de la Convención Americana sobre Derechos Humanos). Pero también las víctimas indirectas (padres, hijos, cónyuges, y, en determinadas circunstancias, hermanos) han sufrido una pérdida irreparable, pues sus vidas nunca más serán las mismas. (...) La realización de la justicia contribuye al menos a estructurar su psiquismo, redespertar su fe y esperanza, y ordenar las relaciones humanas con sus próximos. Todo verdadero jurista tiene, así, el deber ineluctable de dar su contribución a la realización de la justicia, desde la perspectiva de la integralidad de la personalidad de las víctimas. Mi conclusión es en el sentido de que, en circunstancias como las del caso de los Niños de la Calle, no hay, stricto sensu, reparación verdadera o plena posible, en el sentido literal del término (del latín reparatio, derivado de reparare, “preparar o disponer de nuevo”), lo que revela los límites del Derecho (a ejemplo de los límites de otras ramas del conocimiento humano). (...) La imposibilidad de una plena reparación - la restitutio in integrum - se verifica, en mi entendimiento, no sólo en cuanto a las víctimas directas y al derecho fundamental a la vida, como comúnmente se supone, sino también en cuanto a las víctimas indirectas (sobrevivientes) y a otros derechos (como el ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 39 Antônio Augusto Cançado Trindade de no ser sometido a tortura, ni a tratos crueles, inhumanos o degradantes). Jurídicamente, sobre todo en circunstancias como las del caso de los Niños de la Calle, las reparaciones - de las consecuencias de la medida o situación lesiva de los derechos humanos protegidos (en los términos del artículo 63(1) de la Convención Americana), en lugar de verdaderamente reparar, más bien alivían el sufrimiento humano de los familiares sobrevivientes, buscando rehabilitarlos para la vida, - y por eso tórnanse absolutamente necesarias. Es éste, en mi entender, el verdadero sentido, con las inevitables limitaciones de su real alcance, de que se reviste el concepto jurídico de reparaciones, en el marco del Derecho Internacional de los Derechos Humanos. El mal cometido, como ya señalé, no desaparece: es tan sólo combatido, y mitigado. Las reparaciones otorgadas tornan la vida de los familiares sobrevivientes quizás soportable, por el hecho de que, en el caso concreto, el silencio y la indiferencia y el olvido no han logrado sobreponerse a las atrocidades, y de que el mal perpetrado no ha prevalecido sobre la perenne búsqueda de la justicia (propia del espíritu). En otras palabras, las reparaciones otorgadas significan que, en el caso concreto, la conciencia humana ha prevalecido sobre el impulso de destrucción. En este sentido, las reparaciones, aunque no plenas, se revisten de innegable importancia en la labor de la salvaguardia de los derechos inherentes al ser humano” (párrs. 36-43). III. LA EMANCIP ACIÓN DEL EMANCIPACIÓN INDIVIDUO VIS-ÀVIS SU VIS-À-VIS PROPIO EST ADO ESTADO ADO:: EL ACCESO DIRECTO DE L A PERSONA A JUSTICIA HUMANA A LLA INTERNACIONAL sido impulsado por la propia persona victimada, emancipándose de ese modo de su propio Estado, como verdadero sujeto del derecho tanto interno como internacional. Esa gran conquista del espíritu humano se ha reflejado en el actual Reglamento de la Corte (del 24.11.2000, en vigor desde el 01.06.2001), con el otorgamiento del locus standi in judicio a los peticionarios, en todas las etapas del procedimiento ante la Corte, quizás el avance jurídico-procesal más importante en pro del perfeccionamiento del mecanismo de protección de la Convención Americana desde su entrada en vigor hace más de un cuarto de siglo. Dicho avance se consolidará el día en que sea plasmado en definitivo en un Protocolo de enmiendas a la Convención Americana sobre Derechos Humanos reconociendo el jus standi de los individuos, su acceso directo a la Corte, - como vengo sosteniendo por tanto tiempo25. Aquí, una vez más, los avances ya logrados hasta la fecha son manifestaciones de la conciencia humana, para atender a una real necesidad de protección de los seres humanos. Estos avances, a mi juicio, forman parte de un proceso más amplio, de humanización del Derecho Internacional, de reconstrucción de un nuevo jus gentium, en la línea de un jusnaturalismo renovado, en este inicio del siglo XXI, como sostuve el año pasado en la Academia de Derecho Internacional de la Haya, en mi Curso General de Derecho Internacional Público (del 25 de julio al 12 de agosto de 2005), que tuvo por subtítulo “El Derecho Internacional para la Humanidad Rumbo a un Nuevo Jus Gentium”26. Es ésta una tarea que me parece crucial en nuestros días, en un mundo dilacerado por conflictos y disparidades, con el propósito de tornar al Derecho Internacional capaz de responder a las necesidades y aspiraciones de la humanidad en la actualidad. (...) Todo el desarrollo jurisprudencial y conceptual en ese sentido - y es ésta mi última reflexión - ha 40 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Responsabilidad, Perdón y Justicia como Manifestaciones de la Conciencia Jurídica Universal NOT AS NOTAS 1. Trechos del discurso proferido por el Autor en la sesión solemne de la otorgación del título de Professor visitante Honoris Causa de la Universidade Mayor de Nuestra Señora del Rosario, realizada en su salón noble, en la ciudad de Bogotá, Colombia, la noche del 26 del enero del 2006. 2. Particularmente el de la violencia crónica, arraigado en su historia reciente; cf. G. Guzmán Campos, O. Fals Borda y E. Umaña Luna, La Violencia en Colombia - Estudio de un Proceso Social, 8a. ed., tomo I, Bogotá, Ed. Punta de Lanza, 1977, pp. 252, 294-297 y 416-418. Sobre los desplazamientos internos forzados, cf., v.g., ACNUR, Balance de la Política Pública de Prevención, Protección y Atención al Desplazamiento Interno Forzado en Colombia (2002-2004), Bogotá, ACNUR, 2004, pp. 15-361; y cf. M. Gómez Giraldo, Desterrados - las Cicatrices de la Guerra en Colombia, Bogotá, Intermedio, 2001, pp. 47-63 y 125-137. Sobre el proceso de desmovilización, cf., inter alia, J.A. Cárdenas Sarrias, Los Parias de la Guerra Análisis del Proceso de Desmovilización Individual, Bogotá, Ed. Aurora, 2005, pp. 9-270; N. Springer, Desactivar la Guerra - Alternativas Audaces para Consolidar la Paz, Bogotá, Aguilar, 2005, pp. 21-355. 3. Casos Aloeboetoe y Otros versus Suriname, Barrios Altos versus Perú, Benavides Cevallos versus Ecuador, Blanco Romero versus Venezuela, Bulacio versus Argentina, Caracazo versus Venezuela, Carpio Nicolle y Otros versus Guatemala, El Amparo versus Venezuela, Garrido y Baigorria versus Argentina, Gutiérrez Soler versus Colombia, Huilca Tecse versus Perú, Masacre de Plan de Sánchez versus Guatemala, Molina Theissen versus Guatemala, Myrna Mack Chang versus Guatemala, y Trujillo Oroza versus Bolivia. 4. Casos Blake versus Guatemala, García Asto y Ramírez Rojas versus Perú, Gómez Palomino versus Perú, Maritza Urrutia versus Guatemala, y Masacre de Mapiripán versus Colombia. 5. Casos Baldeón García versus Perú, Goiburú y Otros versus Paraguay, Ituango versus Colombia, Servellón García versus Honduras, y Vargas Areco versus Paraguay. 6. P. Ricoeur, La mémoire, l’histoire, l’oubli, Paris, Éd. du Seuil, 2000, p. 630. 7. Cf. ibid., p. 616. 8. Formulado anteriormente en su escrito del 09 de marzo de 2005. 9. Párrafos 104 y 59, y cf. párr. 92(a) de la referida Sentencia. 10. P. Aylwin Azocar, “La Comisión de la Verdad y Reconciliación de Chile”, in Estudios Básicos de Derechos Humanos - II (eds. A.A. Cançado Trindade y L. González Volio), San José de Costa Rica, IIDH, 1995, pp. 115-116, y cf. p. 113. 11. Discurso reproducido in: www.infojapan.org/ region/asia-paci/meet0504, el 22.04.2005, pp. 1-3. 12. A saber, los días 29.09.1972, 24 y 26.08.1982, 06 y 07.09.1984, 18.04.1990, 24 y 25.05.1990, 16 y 17.01.1992, 06.07.1992, 04 y 11.08.1993, 23.08.1993, 29.09.1993, 31.08.1994, 15.08.1995, 23.06.1996, 08.10.1996, 28.08.1997, 06.09.1997, 13 y 16.01.1998, 15.07.1998, 08.10.1998, 26.11.1998, 10 y 17.08.2000, 30.08.2000, 03.04.2001, 08.09.2001, 15.10.2001, 17.09.2002, 15.08.2003, 13.04.2005, y, en fin, 22.04.2005. 13. Datos constantes de un dossier (de marzo de 2003, pp. 1-6) que recibí del Ministerio de Relaciones Exteriores del Japón, en Tokyo, durante mi visita académica a aquel país, como invitado oficial, en diciembre de 2004. 14. [Commissione Teologica Internazionale/ Vaticano,] Memoria e Riconciliazione - La Chiesa e le Colpe del Passato: II Papa Chiede Perdono - Purificare la Memoria, Roma, Ed. Piemme, 2000, p. 98. 15. Ibid., pp. 98-99. 16. Cf. ibid., pp. 131-180. Y cf. también John Paul II, Crossing the Threshold of Hope, N.Y., Knopf, 2004, pp. 63-66; Dalai Lama y V. Chan, The Wisdom of Forgiveness, N.Y. Riverhead Books, 2004, pp. 234-236. 17. South African Government, www.info.gov.za/ index, Statement of 29 October 1998, p. 2. 18. D. Tutu, “Seeking Reconciliation in South Africa”, in Franciscan magazine, European Province of the Society of Saint Francis (January 1999 issue), reproducido in: www. franciscans.org.uk/1999jan-tutu, pp. 1 y 3. 19. Ibid., p. 3. 20. Caso n. ICTR/96-4-T. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 41 Antônio Augusto Cançado Trindade 21. V. Jankélévitch, Forgiveness, Chicago, University of Chicago Press, 2005, pp. 10, 39, 41 y 144. 22. R.P. Sertillanges, Le problème du mal - l’histoire, Paris, Aubier, 1948, p. 292, y, para la importancia de los valores, cf. pp. 395-397. 23. La dimensión individual ha sido señalada por la Corte desde sus Sentencias en los casos Castillo Páez versus Perú (del 03.11.1997, párr. 90), Bámaca Velásquez versus Guatemala (del 25.11.2000, fondo, párr. 201), Barrios Altos referente al Perú (del 14.03.2001, párrs. 47-48), Paniagua Morales y Otros versus Guatemala (del 25.05.2001, reparaciones, párr. 200), Villagrán Morales y Otros (“Niños de la Calle”) versus Guatemala (del 26.05.2001, reparaciones, párr. 100), Cantoral Benavides versus Perú (del 03.12.2001, reparaciones, párr. 69), Bulacio versus Argentina (del 18.09.2003, párr. 114), Molina Theissen versus Guatemala (del 03.07.2004, reparaciones, párrs. 80-81), y Hermanos Gómez Paquiyauri versus Perú (del 08.07.2004, párrs. 229-230). 24. En los casos Trujillo Oroza versus Bolivia (del 27.02.2002, reparaciones, párr. 114), Myrna Mack Chang versus Guatemala (del 25.11.2003, párr. 274), 19 Comerciantes versus Colombia 42 (del 05.07.2004, párr. 259), Masacre de Plan de Sánchez relativo a Guatemala (del 19.11.2004, reparaciones, párr. 98), Carpio Nicolle y Otros versus Guatemala (del 22.11.2004, párr. 128), Hermanas Serrano Cruz versus El Salvador (del 01.03.2005, párrs. 62 y 169), Huilca Tecse versus Perú (del 03.03.2005, párr. 107), Comunidad Moiwana versus Suriname (del 15.06.2005, párr. 204), Gutiérrez Soler versus Colombia (del 12.09.2005, párr. 96), Masacre de Mapiripán referente a Colombia (del 15.09.2005, párr. 298), y Blanco Romero y Otros versus Venezuela (del 28.11.2005, párr. 93). 25. A.A. Cançado Trindade, Bases para un Proyecto de Protocolo a la Convención Americana sobre Derechos Humanos, para Fortalecer Su Mecanismo de Protección, vol. II, 2a. ed., San José de Costa Rica, Corte Interamericana de Derechos Humanos, 2003, pp. 1-1015, esp. pp. 3-64. 26. A.A. Cançado Trindade, “General Course on Public International Law - International Law for Humankind: Towards a New Jus Gentium”, in Recueil des Cours de l’Académie de Droit International (2005), capítulos I-XXVII, 997 pp. (en prensa). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Responsabilidad, Perdón y Justicia como Manifestaciones de la Conciencia Jurídica Universal EL DERECHO COMUNITARIO EUROPEO Y EL DEFENSOR DEL PUEBLO DE ESPAÑA ••••••••••••••••••••••••••• ANTONIO COLOMER VIADEL Director del Área de Derecho Constitucional de la Universidad Politécnica de Valencia (España) 1 . INTRODUCCIÓN Cabe analizar la actuación del Defensor del Pueblo como garante del Derecho Comunitario y nacional desde una doble perspectiva. De una parte, profundizar en el conocimiento de nuestras respectivas instituciones en la búsqueda de un espacio jurídico común para la mejor defensa de los derechos de los ciudadanos, dentro del marco de actuación que cada Ombudsman tiene en su país. En este sentido, y desde la experiencia española, se puede afirmar años después de su puesta en práctica efectiva que el Defensor del Pueblo es una institución totalmente consolidada, sin ignorar tampoco las dificultades, carencias y defectos que una experiencia como ésta comporta. Pero la visión general es positiva. Es más, está admitido incluso por aquellos que al principio contemplaban con escepticismo esta figura inédita en el ordenamiento jurídico español, que hoy no se puede entender el constitucionalismo moderno sin analizar el papel de esta institución. El Defensor del Pueblo es, además, una de las instituciones con más aceptación ante la opinión pública quizá porque ha sabido, por su novedad, adaptarse al dinamismo de los cambios jurídicos, institucionales y sociales que exigía la nueva y plural sociedad española. En este primer punto quiero subrayar como ideas claves para entender la figura del Defensor del Pueblo de España las palabras consolidación institucional, dinamismo y evolución hacia nuevas posibilidades de actuación que permitan mejorar su proyección hacia el futuro. El segundo aspecto es que el Defensor del Pueblo Europeo previsto en el artículo 138.E del Tratado de Maastricht representa, además de otras consideraciones que se expondrán, un paso adelante en el proceso de internacionalización creciente de las eficaces garantías de los derechos humanos. La evolución de la Comunidad Europea hacia la Unión Política y la introducción de la ciudadanía europea, aconseja el establecimiento de garantías insisto en esta expresión- que tutelen los derechos propios de esta ciudadanía dando credibilidad y eficacia al proceso propuesto. 2 . L A EXPERIENCIA ESP AÑOL A ESPAÑOL Haremos una breve exposición sobre el papel de la institución española, y sus perspectivas de futuro, sobre todo desde el punto de vista de la incidencia comunitaria en las actuaciones del Defensor del Pueblo. Todos sabemos que no es tarea fácil tratándose de analizar la rica experiencia de esta institución en España. Es cierto que esa experiencia, comparada con otras figuras homólogas, como son las nórdicas, puede parecer muy corta en el tiempo, pero, parafraseando aquella famosa frase del primer astronauta que pisó la Luna, han sido años, que representan quizá un paso muy pequeño dentro, de la historia general de los Ombudsman, pero un avance gigante en la consolidación de garantías constitucionales extrajuridiccionales para los ciudadanos españoles tal y como preveía nuestra Constitución de 1978. Me voy a centrar, pues, en analizar, brevemente qué representa hoy esta institución y, lo que es más novedoso, como se está aplicando el Derecho comunitario europeo de forma habitual y cuáles son las experiencias en este sentido. El Ombudsman no es un lujo de sociedades desarrolladas, no es un experimento de laboratorio. Es simplemente una ineludible realidad de nuestros ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 43 Antonio Colomer Viadel días y una necesidad evidente de todo Estado de Derecho, e inherente a una democracia avanzada. La experiencia nos lo muestra y su incorporación a los más variados sistemas jurídicos y estructuras políticas también. De esta forma la original institución escandinava se ha adaptado a sistemas políticos parlamentarios o presidencialistas; al Estado unitario, al federal o al de las regiones autónomas, tanto como al ámbito municipal o local. Ha sabido igualmente adaptarse a las características propias del sistema del “Common Law”, como al europeo de derecho administrativo y control jurisdiccional especializado (contencioso-administrativo). Nada en todo este proceso histórico ha sido gratuito, ni debido al azar o modas pasajeras. Los hechos, siempre tan constantes, lo demuestran. Lo cierto es que la sociedad de nuestros días, en términos generales conoce una presencia activa e interventora de los llamados poderes públicos, las administraciones públicas (en sus distintas manifestaciones) que no ha tenido parangón en otras épocas. Desde la sanidad a la educación, pasando por los transportes, las comunicaciones o la seguridad, la sociedad reclama cada vez más prestaciones que no son fáciles de resolver individualmente y a ello viene a subvenir la sociedad misma globalmente a través de las administraciones públicas, actuando éstas directa o indirectamente. Como es natural, es necesario pagar el precio no sólo de sostener esas administraciones portadoras de servicios, sino también el de los errores o arbitrariedades de sus servidores o funcionarios en el ejercicio de sus competencias. Incluso la necesidad de intervenir en los más diversos campos lo más eficazmente, hace que (además de las leyes estrictamente dichas, en cuanto emanación de la voluntad de los legislativos) el ciudadano se vea obligado a abrirse paso cada día entre un bosque no sólo de leyes, sino también de las disposiciones de rango inferior cada vez más complejas y en no pocos casos arbitrarias y lejanas del fin original querido por el legislador. En relación a este fenómeno, que se dice universal, los tratadistas nos han argumentado con la tesis de que resultan suficientes los controles tradicionales: una adecuada fiscalización parlamentaria directa-control político- y un control jurídico mediante los diferentes órganos jurisdiccionales-control jurídico-. La actuación de ambos controles legislativo y judicial, autónomos e independientes son, se ha venido afirmando, más 44 que suficientes para actuar de contrapeso de los ejecutivos y las administraciones. Es bien conocido, hasta qué punto no puede hablarse de Estado de Derecho sin esa división de poderes y sin ese juego de controles y contrapesos en su ejercicio. Pero es cierto que en una sociedad tan compleja como la actual esos instrumentos no son suficientes. Que es positivo y útil dotar al ciudadano de a pie, sobre todo a aquellos que no son poderosos en medios económicos o culturalmente, de un instrumento sencillo y operativo como el Ombudsman, para facilitar o acrecentar un control más real de las Administraciones. Los ciudadanos de cualquiera de los países que disponen de la institución del Ombudsman saben que ante una irregularidad administrativa, el abuso de poder de una administración o un funcionario, que daña a su legítimo derecho o interés, o simplemente frente al silencio de la administración ante sus peticiones o recursos, pueden no sólo acudir ante los tribunales, sino también al Defensor del Pueblo. Una institución que gratuitamente y de forma rápida va a averiguar qué ha ocurrido y procurará solucionar su problema ahorrándole, si fuera posible, el penoso camino de los tribunales. Puedo asegurarles que sin duda alguna los ciudadanos que han vivido una experiencia positiva de esta naturaleza, son conocedores de que llegado el caso pueden acudir a esa vía, comprenden y sienten como mucho más cercanos y vivos los elementos positivos de la democracia. España incorpora el Ombudsman a su Constitución en 1978 y empieza a funcionar a finales de 1982. Desde entonces ha venido actuando el Defensor del Pueblo vinculado al Parlamento, que lo elige gozando de un estatuto propio de real autonomía e independencia, con un acceso libre, directo y gratuito de los españoles y los extranjeros y con poder de investigar las quejas contra todas las administraciones, incluidas la militar y judicial; pudiendo investigar directamente en oficinas administrativas, comisarías, cárceles, cuarteles, etc., con la obligación de los funcionarios y responsables administrativos de colaborar con el Defensor del Pueblo. Con la posibilidad incluso de acudir ante el Tribunal Constitucional para impugnar una ley o demanda de amparo para un ciudadano individual. La experiencia ha permitido constatar cómo muchas de las trabas o resistencias de los detractores convencidos o interesados de la institución del Ombudsman se han revelado como irreales. La institución se ha adaptado a un sistema parlamentario, en la estructura de un Estado ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Derecho Comunitario Europeo y el Defensor del Pueblo de España fuertemente descentralizado (sistema de regiones o Comunidades autónomas con Parlamento y competencias propias), coordinando en este momento su actuación con otros Ombudsman regionales. Se ha demostrado que la institución funciona en un país con una población numerosa y unas administraciones plurales y complejas. Que se ha adaptado al sistema jurídico de derecho administrativo y no ha sido obstáculo al funcionamiento de los tribunales de justicia en el control de esas mismas administraciones. Una institución a la que se han dirigido varios cientos de miles de ciudadanos, que ha resuelto millares de quejas individuales, pero que también ha recomendado cambios normativos que ha recogido el Parlamento en forma de leyes o las propias administraciones en disposiciones de rango inferior. Una institución que, en el ejercicio de su plena independencia, ha recurrido varias leyes que afectaban a derechos fundamentales de la persona y ha obtenido del Tribunal Constitucional, en varias ocasiones, el reconocimiento de sus tesis y la anulación de aquellos preceptos contrarios a la Constitución. Esta experiencia ha venido a reafirmarme en lo que siempre ha sido una de mis creencias más firmes en esta materia: que el Ombudsman no debe ser entendido como una alternativa excluyente de los sistemas tradicionales de control del poder y en consecuencia de las administraciones, sino complementario. Que el Ombudsman ha de ser una pieza más en el engranaje delicado de la maquinaria del Estado de Derecho. En la tarea de defensa y protección de los derechos de las personas todo instrumento jurídico e institucional que se revele útil y funcional debe ser bienvenido. Y que las exclusiones puramente dogmáticas me parecen a estas alturas de la evolución de las sociedades democráticas el ejercicio gratuito y negativo del más absoluto voluntarismo. Recientemente ha habido una campaña promovida por partidos nacionalistas en el Congreso de los Diputados para destituir al Defensor del Pueblo por haber usado este su prerrogativa de interponer un recurso de inconstitucionalidad contra el Estatuto de Cataluña. En el fondo se ponía en tela de juicio la autonomía e independencia plena del Defensor para poder recurrir incluso a leyes aprobadas en el Congreso. Se llegó a decir que era una incongruencia que el Congreso hubiera aprobado el Estatuto y un miembro elegido por este Congreso, el Defensor, recurre lo que ha aprobado el Congreso que le nombró a él. A esa “incongruencia” se apuntaron los constituyentes al elaborar la Constitución. Por este motivo he propuesto una posible reforma constitucional para que el Defensor del Pueblo sea de elección popular directa, en vez de por el Congreso1. 3 . L A APLIC ACIÓN DEL DERECHO APLICACIÓN COMUNIT ARIO POR EL COMUNITARIO DEFENSOR DEL PUEBLO Debo resaltar también la incidencia del Derecho Comunitario Europeo sobre la actuación de la institución, no sólo en cuanto se reciben peticiones de ciudadanos que alegan vulneración de las normas comunitarias, sino también, porque en las resoluciones del Defensor, en sus recomendaciones o sugerencias se tiene en cuenta la normativa de la Unión Europea (UE) a la hora de dirigirse a la Administración española. Como sería demasiado extenso exponer toda la amplia problemática suscitada me referiré solamente a los sectores más relevantes en los que se está trabajando con incidencia en la aplicación o transposición del Derecho Comunitario en nuestro país, cualquiera que sea la Administración, Central, Autónoma o Local que debe realizarlo o simplemente aplicarlo. Los tres aspectos que en principio señalaría serían: - Primero: Ámbito de la Seguridad Social, Sanidad y protección a los consumidores. - Segundo: Protección al medio ambiente y derecho a la información medioambiental. - Tercero: Cuestiones relativas a la libertad de circulación y establecimiento, no sólo en relación a la obtención de la tarjeta de residente comunitario, sino también, a la expedición de títulos académicos o universitarios. En el primer aspecto la institución ha proporcionado información sobre la conversión en moneda española de la pensión que debe recibir un trabajador de otro país de la Comunidad según el Reglamento CEE núm. 2615/1979 del Consejo adaptado a nuestro ordenamiento interno mediante resolución de la Dirección General del Instituto Nacional de la Seguridad Social de 24 de enero de 1990. Dicho Reglamento regulaba que la Comisión de las Comunidades Europeas establecía con carácter periódico el tipo de conversión en una moneda nacional de los importes expresados en otra moneda nacional, tomando como base de cálculo la media mensual de las cotizaciones oficiales de las distintas monedas de los Estados miembros, de ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 45 Antonio Colomer Viadel acuerdo con los datos comunicados por los bancos centrales, en el marco de la aplicación del sistema monetario europeo. Evidentemente desde la creación del euro y su entrada en vigor como moneda única europea fue ya innecesaria esta regulación entre los países que comparten la moneda común. En estos supuestos el Defensor del Pueblo también ha informado que la Comisión Administrativa para la Seguridad Social de los trabajadores emigrantes, es quién fija la fecha de referencia para la determinación de los tipos de concesión, que aparecen publicados, como es conocido, en el Diario Oficial de las Comunidades Europeas (luego, UE), en el curso del penúltimo mes precedente al trimestre en que habrán de ser publicados. Dentro del campo de protección de los trabajadores, son constantes los escritos que se reciben sobre retrasos en la tramitación de pensiones que deben ser concebidas conforme a los Reglamentos Comunitarios, en relación con los Convenios internacionales suscritos por España, fundamentalmente con Francia y Alemania, y en las que se alega la vulneración de los Reglamentos CEE 1408/1971 y 574/1974. Otras cuestiones formuladas, son la necesidad de acreditar 365 días de cotización en España para que sean de aplicación los Reglamentos Comunitarios antes citados. En la protección a los consumidores merece ser mencionada la Directiva 93/13 CEE, del Consejo de 5 de abril de 1993, sobre las cláusulas abusivas de los contratos celebrados por consumidores sobre todo en su aplicación, a un fenómeno todavía no bien regulado como es la multipropiedadd o time sharing que abre un campo nuevo en la aplicación del Derecho comercial y sus particulares incidencias en el registro de la Propiedad, como garantía en la adquisición de bienes inmuebles. En segundo lugar, unas breves reflexiones sobre la importancia cada día más reciente que las cuestiones de medio ambiente tienen para el Defensor del Pueblo, no sólo por la cantidad de asuntos referidos a este tema, sino también por la complejidad técnico jurídica que implican y por la incidencia que el Derecho Comunitario tiene en estos supuestos. La degradación del medio ambiente constituye uno de los problemas más significativos de nuestra sociedad, el cual tiene lógico reflejo en el contenido de los escritos dirigidos al Defensor del Pueblo. 46 La desertización del suelo y daños de su flora y fauna, las crecientes y a veces excesivas urbanizaciones de zonas específicas del territorio nacional, los vertidos incontrolados de residuos sólidos urbanos, industriales y tóxicos, la degradación del aire de algunas ciudades, así como de las aguas continentales o marinas, la contaminación acústica, han sido algunos de los temas que con mayor o menor intensidad tienen su reflejo en el Derecho Comunitario. Así, por ejemplo la Directiva 74/464 CEE sobre contaminación de aguas, o el Real Decreto Legislativo 1302/1986, que incorpora la Directiva 85/377/ CEE, de 27 de junio de 1985, sobre medidas de evaluación de impacto ambiental en proyectos con incidencia importante en el medio ambiente. Merece, en este sentido, destacarse aquellos casos sobre el derecho a la información en materia de medio ambiente, cuestiones objeto de la Directiva 90/313/CEE, de 7 de junio de 19902 . En un principio, la Administración se negaba porque entendía que en este expediente además de la información administrativa y medio ambiental se contenía otra información de carácter técnicoeconómico de tipo confidencial (tecnología, producción, etc.) que no debían ser accesibles sin autorización de los titulares de las empresas3. El Defensor del Pueblo replicó que, efectivamente, tales razones habían de ponderar el acceso a esta información, pero señaló que el acceso que se solicita podía limitarse pero no tanto que restringiese al legítimo derecho a conocer los datos más relevantes máxime cuando así lo indica el artículo 105 de nuestra Constitución y la Directiva sobre información medio ambiental antes señalada. Un tercer y último aspecto serían aquellas cuestiones que afectan a la libertad de residencia o establecimiento como son los casos de denegación de tarjeta de residente comunitario en aplicación del Real Decreto 1099/1986, que transponía el Reglamento 638/60/CEE. Debo indicar que el ordenamiento español ha regulado nuevamente la entrada y permanencia en España de los nacionales de los Estados miembros de las Comunidades Europeas (luego, UE) mediante el Real Decreto 766/1992, de 26 de junio. Las nuevas disposiciones derogan expresamente las incluidas en el Real decreto 1099/1986 de 26 de mayo. Esta ordenación responde, como se menciona en el Preámbulo del Real Decreto, a las obligaciones impuestas a España por el Derecho Comunitario. En este sentido, si la imperatividad de los artículos 48, 52 y 59 del Tratado de la CEE hizo necesario dictar la disposición antes mencionada (1099/1986) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Derecho Comunitario Europeo y el Defensor del Pueblo de España estableciendo las formalidades administrativas para el ejercicio de los derechos de entrada y permanencia en España por parte de los nacionales de los Estados pertenecientes a la CEE, para la realización de actividades asalariadas o no asalariadas, o para prestar o recibir servicios: por su parte, las bases jurídicas de la regulación actual son fundamentalmente dos: de un lado, la obligatoriedad del Reglamento CEE 2194/1991, de 25 de junio, relativo al periodo transitorio aplicable a la libre circulación de los trabajadores para España y Portugal y, por otro, la necesaria incorporación en el plano interno del contenido de tres Directivas: 90/364/CEE, relativa al derecho de residencia; 90/365/CEE, relativa al derecho de residencia de los trabajadores por cuenta ajena o por cuenta propia que hayan dejado de ejercer una actividad profesional, y 90/366/CEE, relativa al derecho de residencia de los estudiantes, todas ellas de 28 de junio de 1990. Especialmente significativos además son los casos de doble nacionalidad ligados a la libertad de establecimiento; como fue el caso de un ciudadano ítalo-argentino que pretendía trabajar y establecerse en España, amparándose en su condición de ciudadano comunitario. La Administración española en principio se negó entendiendo que la nacionalidad “emergente” era la argentina no la italiana y, por tanto, no le era de aplicación el artículo 52,53 y 56 del Tratado de CEE. Contra esta resolución esta persona ejercitó todas las actuaciones posibles que permite el ordenamiento jurídico, acudió al Defensor del Pueblo, así como a los Tribunales de Justicia. El órgano jurisdiccional competente en virtud del artículo 177 del Tratado CEE planteó una cuestión prejudicial ante el Tribunal de Justicia Europeo, en Luxemburgo, quien reconoció en una importante sentencia la prevalencia en estos casos de la situación de ciudadano comunitario. Otra cuestión significativa ha sido la homologación de títulos acreditativos de especialidades médicas obtenidos en un Estado miembro de la Comunidad Económica Europea, (luego UE). La Directiva 75/362/CEE del Consejo de las Comunidades Europeas, completada por la Directiva 81/1057/CEE, regula el reconocimiento mutuo de diplomas, certificados y otros títulos de médico, y comporta asimismo medidas destinadas a facilitar el ejercicio efectivo del derecho de establecimiento y de libre prestación de servicios de los titulados correspondientes, dentro del ámbito comunitario. En cumplimiento de la citada Directiva, el Real Decreto 1691/1989 de 29 de diciembre, vino a regular el reconocimiento de diplomas, certificados y otros títulos de médico y de médico especialista de los Estados miembros de la Comunidad Económica Europea, el ejercicio efectivo del derecho de establecimiento y la libre prestación de servicios. Esta disposición normativa recogió los títulos de la Comunidad Económica Europea que en España son reconocidos para el acceso a las actividades médicas especializadas, así como los requisitos exigidos. No ha sido éste el problema sino las excesivas demoras en la tramitación de los expedientes de reconocimiento de los títulos de especialidades médicas obtenidos en algún país miembro de la Comunidad Económica Europea. Como el artículo 8 de la Directiva 75/362/CEE – modificada por la Directiva del Consejo de 26 de enero de 1982, y sustituida actualmente por artículo 8, de la Directiva 93/16/CEE - del Consejo de las Comunidades Europeas recoge la posibilidad de reconocer, en determinadas condiciones, programas formativos realizados en países de la Comunidad Europea como parte de la formación necesaria para autorizar el ejercicio de la profesión en España en calidad de médico especialista, la Administración competente confirmó al Defensor del Pueblo, cuando fue inquirida por éste, que se encontraba ya en avanzada elaboración la normativa que incorporaría al ordenamiento jurídico español el citado artículo 8 en donde se establece la autoridad competente, los requisitos y el procedimiento para su aplicación. A pesar de las promesas al Defensor de una rápida regulación de esta materia, fue, años más tarde, por el Real Decreto 2072/1995, de 22 de diciembre por el que se modifica y amplía el anterior Real Decreto 1691/1989 sobre regulación del conocimiento de diplomas, certificados y otros título de médico y médico especialista de los Estados miembros de la Unión Europea. La entrada en vigor del Acuerdo sobre el Espacio Económico Europeo, el 1 de enero de 1994 también afecto a la regulación posterior de esta materia, para introducir en el derecho interno español, lo dispuesto en el artículo 8 de la Directiva 93/16/CEE. 4 . CONSIDERACIONES FINALES De todo lo expuesto caben las siguientes conclusiones: - La figura del Defensor del Pueblo de España ha venido a completar los instrumentos claves de garantía de los ciudadanos frente a la actuación de los poderes públicos. Con una doble misión, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 47 Antonio Colomer Viadel no sólo la defensa de los derechos y libertades fundamentales de la persona, sino también el control ordinario de las Administraciones públicas, o lo que es lo mismo, la “mala administración”, que abre nuevas posibilidades de actuación para definir lo que debe ser el campo propio de actuación del Ombudsman. - En todas sus actuaciones, tanto de oficio como a instancia de parte, el Defensor del Pueblo tiene presente el Derecho Comunitario tanto el originario como el derivado utilizando para ello todos los amplios recursos que permite la Constitución y la Ley Orgánica reguladora; investigaciones “in situ”, acceso a todo tipo de documentos administrativos; recomendaciones o sugerencias. - Desde esta perspectiva de subsidiaridad en la vigilancia de la aplicación del Derecho Comunitario se puede afirmar que junto a los mecanismos clásicos de vigilancia en la aplicación y control de este Derecho: Comisión Europea, Tribunal de Justicia de la Unión Europea o Comisión de Peticiones del Parlamento Europeo; el Defensor del Pueblo de España constituye un instrumento eficaz para la implementación y seguimiento del Derecho Comunitario tanto por su proximidad al ciudadano como por el control del Defensor de las Administraciones públicas que lo aplican. - Por último, España ha tenido un indudable protagonismo en la idea de ciudadanía europea, por ello el Defensor del Pueblo Europeo previsto en el Tratado de la Unión Europea servirá para un acercamiento de los ciudadanos europeos a las instituciones incrementando su confianza en las mismas. El Defensor del Pueblo Europeo es un símbolo emblemático de la ciudadanía de la Unión. - En definitiva, asistimos también con esta figura, a otro paso más en la construcción europea, proceso de integración comenzado en Roma, que a pesar de su economicismo inicial y de todas sus complejidades debe interpretarse en términos histórico-culturales, en clave de esfuerzo por la continuación, en una nueva dimensión, del siempre inacabado proceso de construcción del mejor Estado, es decir aquella instancia de aseguramiento de la convivencia pacífica y justa. 48 ADDENDA EL DEFENSOR DEL PUEBLO EUROPEO Los primeros antecedentes se encuentran en el intento del Consejo de Europa de crear en los años setenta un Defensor vinculado al Consejo para la defensa de los derechos humanos. La segunda tentativa proviene del Parlamento Europeo que aprueba la resolución 140/153 de 11 de mayo de 1979 para crear esta institución pero no acaba de prosperar. Finalmente, es en el Tratado de la Unión Europea o Tratado de Maastricht de 7 de febrero de 1992, en su artículo 138. E, donde se regula el Ombudsman europeo. Lo nombra el Parlamento Europeo y cualquier persona natural o jurídica puede dirigirse a él en queja contra la mala administración de las Instituciones comunitarias. Sigue pues un modelo nórdico y también, el español del Defensor. El Parlamentó Europeo aprobó su estatuto el 9 de marzo de 1994. Existe una novedad en cuanto a su posible cese por destitución, ya que no corresponde al Parlamento el ejercicio de tal facultad, si no al Tribunal de Justicia Europeo, a petición, eso sí, del Parlamento si el Defensor ha dejado de cumplir las condiciones necesarias para el ejercicio de sus funciones o ha cometido una falta grave. Conviene destacar que el Defensor Europeo no puede conocer quejas referidas a la actividad de la Administración de los países integrantes de la Unión, aunque actúen en desarrollo, ejecución y aplicación del Derecho comunitario. La reclamación debe ser realizada por un europarlamentario o cualquier persona física o jurídica que tenga su sede social en un Estado miembro de la Unión o a través de un ciudadano de la Unión Europea, lo que equivale a toda persona que ostente la nacionalidad de uno de los Estado miembros. Es interesante destacar algunos datos relevantes sobre el funcionamiento en los últimos años del Defensor del Pueblo Europeo para observar el número de reclamaciones que es significativamente inferior a las que tiene el Defensor español y que la mayoría de las quejas van dirigidas contra la Comisión Europea. La mayoría de las reclamaciones son archivadas o se sugiere a los denunciantes presentar una reclamación al Defensor del Pueblo nacional o ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Derecho Comunitario Europeo y el Defensor del Pueblo de España regional o una petición al Parlamento Nacional o al Europeo; o también dirigirse a la Comisión Europea u otros organismos (Los datos pueden consultarse en la página web del Defensor europeo: www.eurooumbudsman.euro). directamente por ciudadanos. Los países de los que más reclamaciones se reciben son Alemania, Francia, España, e Italia. La mayor parte de las reclamaciones se refieren a casos de mala administración por parte de la Comisión Europea. EL DEFENSOR DEL PUEBLO EUROPEO ATOS DE RELEV EUROPEO:: D DA RELEVANCIA ANCIA La mayoría de las reclamaciones recibidas por el Defensor del Pueblo Europeo son enviadas NÚMERO DE RECLAMACIONES EXAMEN DE LAS RECLAMACIONES INSTITUCIONES SOMETIDAS A INVESTIGACIÓN RESULTADO DE LAS RECLAMACIONES El número total de reclamaciones desde 01.01.2000 hasta 30.04.2002 ha sido de 4698 (284 reclamaciones o iniciativas de oficio no archivadas a 31.12.1999; 4408 reclamaciones registradas; y 6 iniciativas de oficio abiertas desde 01.01.2000). En el período entre 01.01.2000 y 30.04.2002, 4558 casos fueron examinados. Aproximadamente el 30% de ellas eran competencia del Defensor del Pueblo. En 517 casos se inició una investigación preliminar (en 6 de estos casos a iniciativa del Defensor del Pueblo). La mayor parte de las reclamaciones concernían a aspectos tales como denegación del acceso a información, retrasos administrativos no justificados o dilación en los pagos, procedimientos de reclutamiento entre los que se incluyen los concursos-oposición, disputas, derechos ciudadanos, cooperación para el desarrollo, medioambiente, y la actuación de la Comisión Europea en su el papel de guardian de los Tratados. Las principales instituciones y los principales organismos sometidos a investigaciones son: la Comisión Europea (428 casos); el Parlamento Europeo (40 casos); el Consejo de la Unión Europea (15 casos) el Banco Europeo de Inversiones (7 casos), el Tribunal de Justicia de las Comunidades Europeas (7casos) y el Banco Central Europeo (4 casos). También se llevaron a cabo investigaciones en relación con otros 16 organismos. Algunas investigaciones han afectado a más de una institución u organismo. El Defensor del Pueblo ha realizado investigaciones respecto a 709 casos desde 01.01.2000 (517 fueron iniciadas durante este período, mientras que 192 tuvieron su origen en 1999). 572 investigaciones fueron archivadas a 30.04.2002 (incluyendo 11 casos iniciados de oficio). Las investigaciones se archivaron por una o más de las razones siguientes: • 174 casos fueron resueltos por la propia institución después del iniciode la investigación por el Defensor del Pueblo • en 12 de los casos, el denunciante retiró la reclamación; • en 272 de los casos (incluyendo 8 casos iniciado de oficio) no se constató la existencia de mala administración; • 5 de los casos fueron concluidos por el Defensor del Pueblo Europeo por medio de una solución amistosa; • 83 investigaciones se archivaron con un comentario crítico destinado a la institución afectada; • en 31 casos, las investigaciones realizadas dieron como resultado el envío de proyectos de recomendación; desde el 01.01.2000, la institución u órgano responsable aceptó los proyectos de recomendación en 25 casos (de entre los que 1 eran iniciativas de oficio). En 4 casos, el Defensor del Pueblo presentó un informe especial al Parlamento Europeo. En 2 de estos casos, el Parlamento; (continua) ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 49 Antonio Colomer Viadel (conclusão) REMISIÓN DE RECLAMACIONES SOLICITUDES DE INFORMACIÓN 50 Europeo adoptó resoluciones apoyando las conclusiones y las recomendaciones efectuadas por el Defensor del Pueblo. El Parlamento Europeo todavía no ha concluido la tramitación de los otros 2 informes. En aquellos casos en los que las reclamaciones se consideraron inadmisibles, el Defensor del Pueblo sugirió a los denunciantes que: • presentaran una reclamación a un Defensor del Pueblo nacional o regional o una petición al Parlamento nacional (1070 casos); • presentaran una petición al Parlamento Europeo (304 casos; el Defensor del Pueblo ha transmitido directamente al Parlamento Europeo 19 reclamaciones con el consentimiento del denunciante); • se dirigieran a la Comisión Europea (408 casos, cifra que incluye a aquellos casos en los que una reclamación contra la Comisión se declaró inadmisible al no haberse realizado las adecuadas gestiones administrativas); • Dirigirse a otros organismos (363 casos) Desde el 01.01.2000 hasta 30.04.2002, el Defensor del Pueblo también ha llevado a cabo 4 investigaciones en casos que le habían sido transmitidos por Defensores del Pueblo nacionales y/o regionales. Todos ellos han sido archivados a 30.04.2002. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Derecho Comunitario Europeo y el Defensor del Pueblo de España NOT AS NOTAS 1. Colomer Viadel, Antonio, “Algunas reflexiones sobre la regeneración democrática y la conciencia ciudadana”, Revista Acontecimiento nº 83, pp. 33 y siguientes. El debate parlamentario se encuentra en el Diario de Sesiones de las Cortes, Comisión Mixta Congreso-Senado de Relaciones con el Defensor del Pueblo nº 84, 14 de febrero de 2007. 2. Cuyo sexto considerando manifiesta que “...es necesario garantizar que cualquier persona física o jurídica tenga libre acceso en la Comunidad a la información sobre medio ambiente disponible en forma escrita, visual sonora o de base de datos que obre en poder de las Administraciones públicas y que se refiere a la situación del medio ambiente, las actividades o medidas que afecten adversamente al medio ambiente, así como las destinadas a protegerlo”. 3. Añade el considerando 11 que dentro de una estrategia global de divulgación de información sobre el medio ambiente, es conveniente que se comunique al público de forma activa la información general sobre la situación del medio ambiente. Este fue el caso por el que se consiguió por el Defensor que una Asociación de Consumidores y Usuarios accediera a una información sobre vertidos a los ríos de una determinada ciudad. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 51 César Oliveira de Barros Leal 52 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Mito Sobrevivente da Reabilitação: Uma Análise à Luz dos Direitos Humanos O MITO SOBREVIVENTE DA REABILITAÇÃO: UMA ANÁLISE À LUZ DOS DIREITOS HUMANOS ••••••••••••••••••••••••••• CÉSAR OLIVEIRA DE BARROS LEAL Mestre em Direito pela UFC; Doutor em Direito pela Universidade Nacional Autônoma do México; Procurador do Estado do Ceará; Membro da Assembléia Geral do Instituto Interamericano de Direitos Humanos, de San José, Costa Rica 1. INTRODUÇÃO Em diversos artigos temos buscado demonstrar que é a execução da pena, convertida em metástase social,1 onde a seletividade do sistema prisional se expõe em toda sua exuberância, sem nenhum pudor, visto que – salvo casos excepcionais – tão somente os que nunca foram socializados,2 os deserdados, ingressam e permanecem no cárcere, no qual quase nunca se recolhem os criminosos de colarinho branco dado que a justiça é “uma fera faminta e discriminatória que morde o fraco, porém o poderoso nem sequer o arranha”, consoante o testemunho de José Raúl Bedoya, 3 a mesma conclusão à que chegou Jeffrey Reiman, em The Rich Get Richer and the Poor Get Prison.4 Na palestra Direitos Humanos e o Sistema Penal, ministrada no Fórum Permanente dos Direitos Humanos Prof. Dr. Antônio Augusto Cançado Trindade, em sua 8ª Sessão Anual, aos 21 de setembro de 2006, em Fortaleza, Emerson Castelo Branco, defensor público e professor universitário, assinalou que os presos dos países periféricos (como o Brasil e o México) levam o cárcere consigo (agrego eu: como uma Túnica de Nesso ou a flor de lis, gravada a fogo virtual em seu corpo) um estigma incorporado a suas vidas, do berço até a sepultura, posto que, a raiz da exclusão à que se submeteram desde muito jovens e as dificuldades de ascender socialmente, são condenados a povoar os centros de internação de menores e depois as prisões, aonde regressam amiúde, em um ciclo retroalimentador que se perpetua às vezes até a morte. Ao longo desta via-crúcis, renovam o ódio para com a sociedade que os rechaçou e à qual têm que se ajustar (como se fosse em um leito de Procusto) para sobreviver (em geral não o logram; nunca se esqueça que os piores crimes se cometem quase sempre pelos que se diplomaram em prisões). E isso é, aliás, algo que soa muito estranho: “quando o delinqüente, envilecido e piorado nessas prisões, volta para a convivência coletiva, pode a sociedade se jactar de que, por seus órgãos competentes, o castigou exemplarmente; ela, em verdade, não fez outra coisa senão se degradar, porque restituiu à sociedade uma parte deteriorada de si mesmo.”5 Estranho proceder, repito, pois “Ninguém, depois de ter isolado e tornado inofensivos micróbios nocivos, se lembraria de reintroduzi-los, com uma virulência maior, no organismo de que os extraíra. Seria a lógica da insensatez.”6 2. OS MALES DA PRISÃO Sob o olhar indiferente e cúmplice do Estado, na prisão se pratica toda sorte de ações que traduzem uma desatenção aos direitos humanos, na medida em que, muito mais do que a própria liberdade (já que sem esta, no dizer de Berdiaeff, nem sequer há pessoa7) e contrariamente aos princípios essenciais do Estado de Direito Democrático, o presidiário perde muitos outros de seus direitos, num locus decrépito e lutuoso, no qual se amalgamam a coabitação compulsiva, a violência intrínseca ao encerro e a estigmatização, opondo-se a qualquer fim de readaptação. Não muitos conseguiram, como o jurista Teodolindo Castiglione, fazer uma síntese tão precisa dos desvalores do cárcere: “Imaginai uma grande prisão, em que moços e velhos vivam em promiscuidade: criminosos primários e reincidentes; trabalhadores honestos segregados do convívio social em virtude de irreflexões ou fraqueza de um momento, e vagabundos estéreis calejados na senda do crime: homens que medem a extensão de sua desgraça ao lado de outros, de uma inconsciência pasmosa; indivíduos sensíveis que mataram, em uma passageira explosão emocional, seres que amavam, e que definham castigados pelo remorso, e oram nas ocasiões de recolhimento espiritual, ou tentam contra a própria vida em momentos de angústia, convivendo com facínoras ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 53 César Oliveira de Barros Leal monstruosos, que dormiam tranqüilos logo depois de terem trucidado as suas vítimas; pessoas facilmente sugestionáveis que, em lugar de uma educação apropriada que lhes poderia fornecer benefícios, recebem o influxo pernicioso de delinqüentes decididos a prolongar a sua conduta nociva; assassinos, ladrões, estelionatários, falsários, incendiários, estupradores, criminosos de todos os tipos, vencidos pela prepotência do impulso sexual, entregues à prática de atos aviltantes, ou subjugados pelo assalto feroz dos mais fortes e atrevidos; todos vivendo no mesmo ambiente, na mesma estufa, em que o micróbio do mal se desenvolve, multiplica e rebaixa... Uma casa assim não pode ser a escola que educa, a pedagogia que emenda, o estabelecimento que reabilita, a instituição que redime, socorre ou purifica as consciências transviadas. Nesse viveiro de germens malignos, nenhum doente se cura ou vê atenuada a sua doença. Nesse retiro, a alma não se retempera, o homem não se refaz... Antes havia dito: “Prisões assim não educam: corrompem; não diminuem: aumentam os reincidentes; não elevam a conduta dos criminosos: rebaixam, aviltam; não robustecem a força moral que, pequena seja, se esconde em todos os homens; dificultam uma possível recuperação; não preparam uma reintegração harmônica na sociedade e, por vezes, chegam a esfacelar a 8 personalidade do delinqüente.” Em La Isla de los Hombres Solos, o costarriquense José León Sánchez externa seu espanto ao ver no presídio pessoas que se transformavam em coisas, homens que se convertiam em mulheres, inocentes transmudados em criminosos, “bobos em espertos; inteligentes em loucos; loucos em cabos de varas; criminosos de negro coração em homens de respeito frente aos quais havia que baixar a voz por estarem investidos de autoridade.”9 José Raúl Bedoya impacta por sua capacidade de captar, com grande potência expressiva, esta realidade tão crua: “Te assusta ver como se matam entre si por um cigarro (transformado em moeda na prisão: nota do autor), um empurrão ou um olhar. Te inspira dor ver tantos seres separados de suas famílias e te dá asco ver que um núcleo de homens que antes foram normais tomaram o caminho do homossexualismo, da drogadição e do assassinato, convertendo-se em farrapos humanos e carne de presídio, vítimas de sua 10 debilidade de critério e da promiscuidade.” 54 3 . A FRAUDE DA AGÊNCIA TERAPÊUTICA Ao fazer do cárcere, geralmente, um lixeiro de seres-pessoas, o Estado, em sua cegueira e inação, deixa em suas vidas marcas que o mesmo dificilmente logrará apagar, como fez ver o poeta David González, em Depósito Legal: “me disse minha mãe. / A ela também disseram: / Escute-me senhora, eu, / o único que posso lhe garantir / é que seu filho entrou / vivo aqui; pois bem, / o que já não sei, / o que já não posso / garantir-lhe, / é como vai sair.” 11 Entretanto, em antagonismo à própria indolência e ao compasso de envelhecidas e contrafáticas ideologias, segue pulsando a tecla anódina da ressocialização, enquanto cresce o convencimento, compartilhado pela quase totalidade dos penitenciaristas, de que esta (exceto nas ilhas de excelência do arquipélago presidial, onde se procura reabilitar a reabilitação) é quase sempre um mito inalcançável, visto que praticamente “a única verdade no interior dessas prisões é a luta pela sobrevivência e o espaço vital”12 e o tratamento penitenciário, fortemente vinculado ao conceito de periculosidade (Gefährlichkeit em alemão), incompatível com a clausura, resultou uma grande mistificação. Indefectivelmente presente na peroração oficial e nas Cartas Fundamentais de um sem-número de países hispano-americanos (México, art. 18; El Salvador, art. 27; Guatemala, art. 19; Nicarágua, art. 39; Honduras, art. 87; Panamá, art. 28) e europeus (Itália, 1948, art. 7º: As penas não poderão consistir em tratos contrários ao sentido de humanidade e deverão se dirigir à reeducação do condenado; Espanha, 1978, art. 25, num. 2: As penas privativas de liberdade e as medidas de segurança estarão orientadas para a reeducação e reinserção social e não poderão consistir em trabalhos forçados), assim como em documentos de caráter regional e universal, como seu fim prioritário (reza o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, art. 10 [3]: O regime penitenciário consistirá em um tratamento cujo objetivo principal seja a reforma e reabilitação moral dos prisioneiros), a proposta de reabilitação – de que se servem alguns com o único propósito de legitimar o sistema – colide com uma práxis que a rechaça e “perdeu toda credibilidade e todo valor no campo criminológico”,13 porque “sua base fática decorre de uma inconseqüência: Como privar da liberdade para ensinar a viver nela?”14 Como se pode aprender a viver em liberdade onde não há liberdade? Ao fim e ao cabo, “educar para a liberdade em condições de ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Mito Sobrevivente da Reabilitação: Uma Análise à Luz dos Direitos Humanos não-liberdade é não somente de difícil realização senão que constitui também uma utopia irrealizável.”15 Na imaginação inventiva de alguns autores, seria como ensinar a nadar em uma piscina sem água ou a correr em um elevador ou submarino, ou simplesmente deitado numa cama. E mais: “o pior da prisão é a própria prisão, isto é, a idéia de que a liberdade humana foi anulada.”16 De fato, nos valhacoutos da justiça em que se transformaram, em sua maioria, as prisões da América Latina e do Caribe há uma completa inversão do intento de readaptação ou repersonalização, convertida, por suas aporias, em uma meta fantasma, uma mentira institucional (nobre, para alguns) que sobrevive de mãos dados com o embuste e a hipocrisia. Sempre são válidas as pontualizações do exMinistro da Justiça Miguel Reale Júnior: “Re-socializar perante o quê? Re-socializar perante que conjunto normativo? Re-socalizar perante que ideologia? Que normas? Que conjunto de valores? O conjunto de valores próprios de uma comunidade? O conjunto de valores defendido por um determinado pensamento político? O conjunto de valores propugnado por uma religião? Ou o conjunto de valores que se encontra encartado na legislação penal? Ressocializar seria condicionar ou amoldar o homem condenado à legalidade penal? Mas qual legalidade penal? Amoldá-lo a toda legislação penal, inclusive à legislação extravagante? Mas submetê-lo, então, a uma lavagem cerebral e fazer inserir no seu espírito tudo aquilo que consta do Estatuto Penal e de toda a legislação penal? Ou apenas inserir no seu espírito a validade do valor que ele desrespeitou pela prática delituosa? E mais uma pergunta se faz obrigatória: por que métodos e por que meios realizar esta propalada re-socialização social? É de se admitir que o delito é apenas uma oportunidade que o delinqüente dá para que o Estado recupere pela utilização de métodos das ciências comportamentais, transformando a figura etérea, porque não existe na realidade científica, do ‘criminoso’, em outra realidade também etérea que é a do ‘não criminoso’? É certo e possível utilizar todo um cabedal de conhecimentos científicos para impingir ao condenado em um meio inatural, que lhe desvirtua a personalidade, padrões de comportamento amoldados, adequados à convivência social para que ele seja útil e acomodado ao mundo livre. Mas, ao se admitir que ele deve ser cientificamente transformado, para se amoldar ao mundo livre e à sociedade, se está assumindo um papel muito pouco crítico e muito mais totalitário do que se imagina; totalitário, na medida em que se vê o delinqüente como patológico, em que se vê o delito como anormal, em que se atribui ao condenado a posição irremediável de errado; mas o errado que filantropicamente o Estado recolhe e retira da liberdade para lhe devolver depois ao seio social acomodado, transformado no bom moço que será útil a todos nós que vivemos numa sociedade homogênea, perfeita, coerente, desfeita de males porque o mal, o mal está sendo desfeito ao se transformar o 17 condenado, que é o único mal.” 4 . A ANTINOMIA ENTRE AS MET AS METAS Ao uníssono se aponta a antinomia entre as metas de manutenção da ordem e da disciplina (sobretudo em maximum security prisons) e as de reabilitação (Hohmeier, citado por Francisco Muñoz Conde, fala de Sicherung oder Socialisierung,18 é dizer, segurança ou socialização). As metas formais da pena de privação de liberdade são a punição, a prevenção e a regeneração e, por sua vez, as informais (“os meios necessários para cumprir esse programa, no recinto das prisões fechadas”) são a segurança e a disciplina; no confronto dessas metas “percebe-se que surge uma incompossibilidade de realização de ambas, ao mesmo tempo, pois são excludentes umas das outras.”19 Em A Questão Penitenciária, um clássico da literatura prisional, Augusto F. G. Thompson aponta que a longa experiência penitenciária, de que não convém fazer tábua rasa, deixou claro que “em nenhuma época e em nenhum lugar” a prisão punitiva logrou ser reformativa.20 5. O TRA TAMENTO TRAT RESOCIALIZADOR MÍNIMO Faz vinte e tantos anos, ao ser apresentado a um ex-preso supostamente reabilitado – porquanto havia constituído uma família, tinha um emprego fixo e se jactava de ser um cidadão atento às leis –, fiz-lhe uma única pergunta: em que medida a prisão contribuiu para sua recuperação? A resposta foi imediata: em absolutamente nada; ao revés, o que, sim, lhe resultou fundamental foi manter-se apartado da massa, de suas práticas daninhas. E agregou peremptoriamente: – não havia outra saída. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 55 César Oliveira de Barros Leal Suas palavras me fazem rememorar Miguel Hernández, o poeta espanhol que cumpriu pena em uma prisão espanhola e deixou versos contundentes: “Não, não há cárcere para o homem. Não poderão me atar, não. Este mundo de cadeias 21 Me é pequeno e exterior.” Deveras, a única preservação ou melhora factível é aquela que emana de um projeto pessoal do sentenciado, que natural e voluntariamente – com ou sem ajuda alheia – se evade da infecção perniciosa da clausura. À prisão (ou talvez seja melhor dizer ao Estado, que se apresenta como Benfeitor ou Salvador) não corresponde constranger o apenado a se envolver em programas de reeducação - coercive therapy (muitos nem sequer deles necessitam posto que nunca chegaram a ser anti-sociais), tentando manipulá-lo, transformá-lo, reestruturar sua personalidade (como se fosse um coelhinho das Índias) e evitar que cometa delitos (a imagem de Alex, o protagonista de A Clockwork Orange, não se esfumou no esquecimento). Em lugar da coação (na Alemanha, uma decisão recente da Corte Suprema Constitucional define que o tratamento ressocializador se efetuará mesmo contra a vontade do preso), o consentimento (daí o termo consensualismo22), como ponto de equilíbrio entre a intervenção institucional e os direitos e garantias de seu receptor. Concordo, pois, com Cezar Roberto Bittencourt, Membro da Academia Brasileira de Direito Criminal e Doutor em Direito Penal pela Universidade de Sevilha, Espanha, quando sentencia que o esforço ressocializador só é concebível quando se oferece uma oportunidade ao delinqüente que “de forma espontânea, ajude a si próprio a, no futuro, levar uma vida sem praticar crimes.” Dito entendimento, que equivale ao chamado tratamento ressocializador mínimo, “afasta-se definitivamente do denominado objetivo ressocializador máximo, que constitui uma invasão indevida na liberdade do indivíduo, o qual tem o direito de escolher seus próprios conceitos, suas ideologias, sua escala de valores.”23 Sugerindo, incentivando, dialeticamente, sem imposições de qualquer natureza (Giuseppe Bettiol já fazia esta admoestação, reiterada por Carlos García Valdés), talvez seja possível ao Estado (do qual, certamente, é inexigível uma total e quimérica neutralidade) não só impedir a dissocialização do encarcerado senão promover sua não dissocialização, de sorte que não resvale costa abaixo pelas tortuosos declives da recaída. 56 6. O DESCRÉDITO D A MET A DE DA META RESSOCIALIZAÇÃO A falta de confiança na tarefa de ressocialização (o cárcere simplesmente afunda a cisão com o mundo externo e logra moldar bons presos, tal como afiança Concepción Arenal) e “a conseqüente perda de credibilidade da pena privativa de liberdade, ao lado do princípio da humanidade”24, vem a ser, a juízo de Luiz Flavio Gomes, ex-Juiz e Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri, quiçá a característica dominante da recente Política Criminal, sobressaindo o desaparecimento ou a limitação da pena capital (no Brasil e México, dita pena é prevista somente em tempo de guerra para delitos gravíssimos de natureza militar; ambos firmaram o Protocolo à Convenção Americana sobre Direitos Humanos Relativo à Abolição da Pena de Morte [A-53], que entrou em vigor em 28 de agosto de 1991; no Brasil a última execução foi em 1855; no México, em 1937), assim como o deslocamento da posição central da pena detentiva em relação às demais sanções e sua substituição por sistemas de tratamento e outras medidas alternativas…25 7. OS ESTERTORES DE UM MITO De modo claro e simples Sergio García Ramírez logra sintetizar o sofisma (ou o paradoxo) da proposta substantiva de readaptação social: “Os cárceres são, de alguma maneira, o reflexo mais impressionante do que é uma sociedade, e é delas que esperamos, como dramático contraste, alcançar o que a própria sociedade não soube dar em seu tempo a quem agora 26 está recluído em prisão.” Creio que, de um modo ou outro, temos que questionar o papel da própria sociedade e repensar a pena de detenção e seus respectivos fins. Daí que devem ser objeto de maturação idéias como a de resguardar o direito do preso de não ser submetido a nenhum tratamento, de ser diferente, buscandose cada vez mais reduzir a sombra de sua vulnerabilidade e tornando a prisão muito mais humana e menos deteriorante, isto é, redesenhandoa, normalizando-a, para que seja o mais parecido possível com o exterior27 (que se proclama melhor, não obstante o fato de que existam mais delinqüentes em liberdade do que em prisão, e ao qual – a suas pautas de convivência, a suas leis – se quer incorporar o apenado). As Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento dos Reclusos (60.1) estabelecem: O regime do estabelecimento deve procurar reduzir as diferenças que podem existir entre a vida na prisão ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Mito Sobrevivente da Reabilitação: Uma Análise à Luz dos Direitos Humanos e a vida em liberdade na medida em que essas diferenças tendam a debilitar o sentido de responsabilidade do detento ou o respeito pela dignidade da sua pessoa. Com a mesma orientação se escreveu no Manual de Buena Práctica Penitenciaria: Implementación de las Reglas Mínimas de Naciones Unidas para el Tratamiento de los Reclusos que a prisão não é normal por sua própria definição e que as iniciativas no sentido de fazer a vida intramuros semelhante à vida normal “nunca podem contra-arrestar as limitações que envolvem o fato de perder a liberdade, mas podem reduzir o efeito alienante do encarceramento.” Ademais, aquelas iniciativas que buscam conservar os vínculos do preso com o exterior “são uma parte importante para fazer normal a vida em prisão, como o são as oportunidades para permitir aos presos usar sua própria roupa, e que limpem e cozinhem para si mesmos. Permitir tais atividades cumpre muitos propósitos. Reduzir as diferenças entre a vida dentro e fora da prisão fortalece a independência e a responsabilidade, outorga prática em habilidades básicas e reduz a dependência nos serviços que entrega a administração da prisão.”28 Sobre este ponto comenta Anabela Miranda Rodrigues, Professora da Universidade de Coimbra: “Se ponderarmos os efeitos negativos do sistema penitenciário tradicional, o princípio nihil nocere, tomado verdadeiramente a sério, implica modificações profundas da vida quotidiana dos estabelecimentos penitenciários. Algumas proposições iluminam este princípio: a configuração concreta da prisão não deve reforçar a carga de estigmatização social traduzida pelo julgamento e pela pena; as limitações de direitos não podem autorizar-se, a não ser na medida em que sejam impostas por razões de força maior, urgentes e em função do recluso (e não de necessidades de funcionamento do estabelecimento); as condições gerais de vida do recluso devem aproximar-se das que caracterizam a vida em liberdade (normalização da vida penitenciária); deve favorecer-se as 29 relações do recluso com o mundo exterior.” A expectativa é de que, mudando o eixo das discussões no marco penitenciário, se reavaliem conceitos que, malgré tout, ainda estão demasiado presentes, como obrigatórios pontos de referência, na agenda de boas intenções, românticas e visionárias de nossos coetâneos. E, a partir daí, se possa aplainar a rota para uma nova época. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 57 César Oliveira de Barros Leal NOT AS NOTAS 1. Esta postura sustenta Elías Neuman: “O cárcere, por mais novo e com mais elementos tecnotrônicos à mão de que disponha, tomou nessa última década o caráter de metástase social: depósito e guarda de pessoas às quais há que lhes quebrar a individualidade e, se assim for, cimentar-lhes a vida ou deixar que entre elas celebrem o necrófilo ritual dos homicídios.” (El Estado Penal y la Prisión-Muerte. Buenos Aires: Ediciones Universidade, 2001, p. 159) 2. Segundo Richer G., socialização é o “processo pelo qual a pessoa aprende e interioriza, no transcurso de sua vida, os elementos socioculturais de seu meio ambiente, os integra na estrutura de sua personalidade, sob a influência de experiências e de agentes sociais significativos, adaptando-se assim ao entorno social em que há de viver.” (Citação extraída do texto “El Impacto Carcelario”, de ESPÍ, Josep García-Borés, em BERGALLI, Roberto (coord. e colab,). Sistema Penal y Problemas Sociales. Valência: Editora Tirant lo Blanch, 2003, p. 412. 3. BEDOYA, José Raúl. Infierno entre Rejas. México: Editora Posada, 1984, p. 11. 4. REIMAN, Jeffrey. The Rich Get Richer and the Poor Get Prison: Ideology, Class, and Criminal Justice. United States of América: Ally and Bacon, 1997. 5. CASTIGLIONE, Teodolindo. Estabelecimentos Penais Abertos e Outros Trabalhos. São Paulo: Editora Saraiva, 1959, p. 18. 6. Ibidem, p. 18. 7. Em FUNEZ, Mariano Ruiz. A Crise nas Prisões. São Paulo: Editora Saraiva, 1953, p. 23. 8. Ibidem, p. 12. Sergio García Ramírez fala de um paradoxo máximo que consiste num “serviço às avessas, que desqualifica para a liberdade e confere grau para a reclusão. E o fenômeno não só se apresenta entre os reincidentes, entre aqueles que nunca deveriam sair da prisão senão também entre aqueles que jamais deveriam ingressar nela.” (La Prisión. México: Fundo de Cultura Econômica, Universidade Nacional Autônoma do México/Instituto de Investigações Jurídicas, 1975, p. 58) 9. SÁNCHEZ, José León. La Isla de los Hombres Solos. México: Editora Grijalbo, 1984, p. 83. Leia-se o que descreveu um apenado sobre seu processo de conversão: “Na prisão a gente se converte no contrário do que deveria se converter. 58 Vira associal. Primeiro é excluído da sociedade, logo começa a excluir-se por si mesmo. Esquece a responsabilidade; aqui não se tem nenhuma. Não se quer tampouco voltar a tê-la. A gente aprende o ódio maligno, insidioso, contra o opressor; converte-se num hipócrita; aprendese a furtar, caso ainda não saiba.” (VON HENTIG, Hans. La Pena, Volume II [Las Formas Modernas de Aparición], trad. e notas de José María Rodríguez Devesa. Madri: Editora Espasa-Calpe, 1968, p. 377) 10. BEDOYA, José Raúl, op. cit., p. 194. 11. GONZÁLEZ, David. Los Mundos Marginados (Poemas de la Cárcel), Biblioteca Babab (www.babab.com/biblioteca), setembro de 2000. 12. BREMAUNTZ, Emma Mendoza. Delincuencia Global. México: M.E.L. Editor, 2005, p. 144. 13. NEUMAN, Elías, op. cit., p. 153. 14. Ibidem, p. 72. Alguns de tal modo se integram na vida da prisão que, pouco antes do término de sua pena, chegam a cometer um crime com o propósito de permanecer intramuros. Em suas notas sobre a pena, conta Hans von Hentig: “Quando puseram em liberdade o anarquista Berkman, estava aturdido, angustiado pelos ruídos da rua, assustado. Rodeado de amigos compassivos, tinha saudade da cela, temia os espaços fechados, as palavras de simpatia e a presença de seres humanos. Vera Figner abandonou sua tumba de pedra Schliselburgo cheia de ‘desesperação’ pela irreparável ‘perda’ dos amigos que deixava atrás. Hau exigiu que fosse sua mãe a recolhê-lo depois de estar dezoito anos preso ou que, em outro caso, lhe dessem um guia para sair em liberdade. Não sabia o que fazer fora, e rogou em vão que o deixassem estar dois dias mais… Em Leavenworth não era raro o caso de presos que não queriam ir embora, que pediam com insistência que não os soltassem, e quando viam que não adiantava, planejavam uma evasão para ser condenados a uma nova pena… Em 19 de outubro de 1950 chamou à porta da prisão de Kilby, no estado de Alabama, J. D. Rhodes, de sessenta e cinco anos, pretendendo voltar à sua cela. Havia sido liberado provisoriamente de sua reclusão perpétua. Seu rogo foi atendido. O diretor opinou que provavelmente por causa de sua idade não havia podido acomodar-se à ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ O Mito Sobrevivente da Reabilitação: Uma Análise à Luz dos Direitos Humanos vida em liberdade.” (VON HENTIG, Hans, op. cit., pp. 236-237) 15 QUEIROZ, Paulo de Souza. Funções do Direito Penal. Legitimação versus Deslegitimação do Sistema Penal. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2001, p. 63. 16. RUIZ FUNES, Mariano. A Crise nas Prisões, trad. de Hilário Veiga de Carvalho. São Paulo: Editora Saraiva, 1953, p. 101. 17. REALE JÚNIOR, Miguel et al. Penas e Medidas de Segurança no Novo Código. Rio de Janeiro: Editora Forense, 1985, pp. 166-167. 18. CONDE, Francisco Muñoz. Derecho Penal y Control Social. Bogotá: Editora Temis, 2004, p. 85. 19. PIMENTEL, Manoel Pedro. O Crime e a Pena na Atualidade. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1983, p. 38. 20. THOMPSON, Augusto F. G. A Questão Penitenciária. Petrópolis: Editora Vozes, 1976, p. 42. 21. HERNÁNDEZ, Miguel. Poemas, Editora Plaza y Janes, Barcelona, 1978, citado por DEL PONT, Luis Marco. Derecho Penitenciario. México: Cárdenas Velasco Editores, 2005, p. 570. 22. Edmundo Oliveira opina que “é apropriada a nova concepção do Consensualismo Penitenciário, pugnando pela tônica de uma política de socialização e de ressocialização, nos domínios da execução penal, com o reforço da legitimidade de uma cultura saudável fundada na conscientização, no consentimento, na adesão e na aquisição ou conservação do senso de responsabilidade do condenado, na vida profissional participativa, em comum, a qual, na dinâmica da restauração pessoal, com a busca constante de soluções dos problemas humanos do preso, deve ser encarada como uma parcela indissociável da sociedade, onde o condenado viverá, no futuro livre, sem prescindir da aceitação e do apoio da comunidade.” (O Futuro Alternativo das Prisões. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2002, pp. 403-404) O autor menciona também o sinalagma penitenciário, ou seja, “o caráter premial do ordenamento penitenciário através da concessão de benefícios progressivos estipulados em um contrato, sem se limitar ao reconhecimento de direitos e sem descurar do aspecto disciplinar. O modelo prisional sinalagmático estabelece uma escala para medir o índice de socialização ou ressocialização pelos valores correspondentes à evolução do comportamento do condenado.” (Ibidem, p. 97). 23 BITTENCOURT, Cezar Roberto. Novas Penas Alternativas. Análise Político-Criminal das Alterações da Lei n. 9.714/98. São Paulo: Editora Saraiva, 1999, p. 18. 24. A respeito deste princípio: ele “nos alerta sobre o fato de que, se toda a sociedade tem os criminosos que merece, os criminosos, ao contrário, em especial os jovens, muitas vezes não têm a sociedade que merecem. Se a sociedade, de variadas formas, contribui para a formação do criminoso, não deve trabalhar com a lógica simplista do castigo. A intervenção punitiva deve contribuir para a realização de um projeto socialmente construtivo e para proveito do próprio condenado.” (GALVÃO, Fernando. Direito Penal: Parte Geral, 2ª edição, revista, atualizada e ampliada. Belo Horizonte: Editora Del Rey, 2007, p. 69) 25. GOMES, Luiz Flávio. Penas e Medidas Alternativas à Prisão. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1999, pp. 19-20. 26. TAVIRA, Juan Pablo de. ¿Por qué Almoloya? Análisis de un Proyecto Penitenciario. São Paulo: Editora Edina, 1995, p. 60. 27. É o que também pondera Raúl Carrancá y Rivas: “O regime penitenciário deve reduzir, tão logo seja possível, as diferenças entre a vida de reclusão e a liberdade, que contribuam para debilitar o sentimento de responsabilidade do preso ou o respeito à dignidade de sua pessoa, motivo pelo qual antes do cumprimento da pena deve assegurar ao preso seu retorno progressivo à vida normal em sociedade, já porque estabelece um regime preparatório para a liberação, já porque estabelece a liberação condicional sem intervenção da policia.” (CARRANCÁ Y RIVAS, Raúl, Derecho Penitenciario. México: Editora Porrúa, 2005, p. 445) 28. San José, Costa Rica: Instituto Interamericano de Direitos Humanos, 1998, p. 118. 29. RODRIGUES, Anabela Miranda. Novo Olhar Sobre a Questão Penitenciária: Estatuto Jurídico do Recluso e Socialização; Jurisdicionalização; Consensualismo e Prisão. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2001, p. 160. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 59 Emma Mendoza Bremauntz 60 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos JUSTICIA PENAL Y DERECHOS HUMANOS ••••••••••••••••••••••••••• EMMA MENDOZA BREMAUNTZ Profesora por oposición en la Faculdad de Derecho de la UNAM (México) 1 . LOS DERECHOS HUMANOS PREVISTOS Y GARANTIZADOS CONSTITUCIONALMENTE El reconocimiento de la existencia de ciertos Derechos que resultan no de una declaración legal sino de la naturaleza misma del ser humano, ha sufrido, a través de la historia, avatares sin fin que han conducido, en algunas épocas y por muchos legisladores y gobernantes, inclusive por muchos teóricos, a su desconocimiento y negación. Sin embargo, podríamos afirmar que en especial los decenios finales del siglo pasado estuvieron impregnados de un impulso internacional, propiciado por la Organización de las Naciones Unidas, en el sentido de hacer un reconocimiento de estos Derechos, llamados Humanos, como absolutos e innatos de toda persona humana. Una de las formas de dicho reconocimiento consistió en la creación de organismos que en principio deberían tener un carácter civil, autónomo e independiente del Estado, precisamente para impulsar el respeto de los Gobiernos a estos Derechos Humanos. Históricamente, los Derechos humanos se concibieron como “naturales” por considerárseles absolutos en cuanto que no se les puede ceder ya que están irremisiblemente unidos al ser de los hombres en sentido neutro, y no pueden negárseles a ninguna persona. Kant afirma que lo único que importa es el hecho de que los seres humanos son seres racionales dotados de voluntad y que por el hecho de serlo están en un plano de igualdad con cualquier otro ser racional y en la medida en la cual su voluntad o deseo sea racional, actúa autónomamente sobre la base de los principios requeridos por su naturaleza racional o por la índole de cualquier otro ser también racional1 No siempre se ha dado en las sociedades humanas este reconocimiento; por ejemplo, en lugares donde la esclavitud era reconocida como legal, los seres humanos estaban concebidos de dos formas ya que los libres sí eran humanos poseedores de derechos y reconocimiento de libertad, de ciudadanía y de familia, pero los esclavos eran hombres y cosas propiedad de sus dueños y no personas; al carecer de estos tres estados. En el Derecho moderno ha de considerarse que todo hombre es persona, pues este carácter es esencial e inseparable del hombre de acuerdo con su naturaleza de ser racional, con una dignidad que debe ser reconocida y respetada y por ello considerársele libre y responsable para regular su actividad, proponerse objetivos y límites en el obrar. Debe entonces ser primaria para el Derecho una categoría ontológica y moral, no sólo histórica y jurídica. Ahora bien, su calidad de persona poseedora de valor y dignidad implica el respeto por sí misma, en la medida en que contribuye a la justa distribución de los beneficios y las cargas, teniendo el reconocimiento de la importancia esencial que existe en cuanto a los derechos de los individuos, el reconocimiento de sus obligaciones como correlativas. Por ello es válido afirmar que cuando, con justicia se sanciona a una persona y se le encierra para purgar su culpa, no se le despoja de su derecho humano a la libertad sino de ciertas oportunidades para ejercer este derecho. Sin embargo, la negación injusta de ese derecho o cualquiera otro derecho humano sí produce daño moral o perjuicio a la persona, en una categoría totalmente diferente de la que corresponde a la violación de un derecho especial, como el que puede derivar del incumplimiento de un contrato. No se hace necesario el reconocimiento legal expreso de la calidad de persona para el ser humano ya que ésta es un prius para el Derecho, pues la persona no empieza con el Derecho, sino que es una realidad que ya existe fuera y antes del Derecho.2 Así pues, persona es un ser que por tener no sólo instintos, sino también entendimiento y ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 61 Emma Mendoza Bremauntz libertad, es capaz de sentir necesidades morales, tanto en relación con su cuerpo como respecto a su espíritu y por ello también tiene derecho a satisfacer esa doble clase de necesidad. Se implica que tiene dignidad en cuanto a la superioridad o importancia que corresponde a un ser, independientemente de la forma en que se comporte; por ejemplo, cuando se habla de la dignidad de la persona humana no se hace referencia sólo al valor de los hombres que actúan rectamente sino a que todo hombre, por el hecho de ser persona, tiene una categoría superior a la de cualquier ser irracional.3 Esta categoría o dignidad de toda persona humana es completamente independiente de la situación en que uno pueda hallarse y de las cualidades que posea. Entre dos hombres de distinta inteligencia no cabe duda de que, en igualdad de condiciones, es el mejor dotado el que puede obtener más ventajas, pero esto no le da ningún derecho a proceder como si el otro no fuera igualmente una persona. Y lo mismo puede afirmarse si se compara un hombre que obra moralmente bien y otro cuya conducta es reprochable. La dignidad de la persona no es superioridad de un hombre sobre otro, sino la de todo hombre, en general, sobre los seres que carecen de razón.4 Se dice que las diferencias entre los hombres, sean adquiridas o naturales, deben subordinarse a los principios de “dignidad de la persona humana” que requiere que todos satisfagan sus necesidades materiales y espirituales; al de “igualdad”, que no se opone al legítimo provecho personal de cada cual pero que implica comportarse de tal forma que no sólo se respeten los derechos de los demás, sino que activamente se procure el mayor bien posible para ellos: el bien común. Esta idea de persona que si bien tiene sus raíces en una concepción cristiana de la vida, es defendida y desarrollada por la doctrina jusnaturalista. La ética y la filosofía kantiana atribuyen al hombre, por ser persona, una dignidad por la cual debe considerarse al hombre como un fin en sí mismo. “Los seres irracionales tiene solamente un valor relativo, como medios, y por ello se llaman cosas; en cambio, los seres racionales son llamados personas, pues su naturaleza les distingue ya como fines en sí mismo, esto es, algo que no está permitido emplear simplemente como medio.”5 Precisamente de este planteamiento resulta para Kant el primer principio de toda su Ética, el imperativo ético fundamental: “Obra de tal forma que utilices a la humanidad, tanto en tu persona 62 como también en la persona de cualquier otro, en cuanto fin, nunca en cuanto un simple medio”. En este sentido, la Declaración Universal de los Derechos Humanos de la Organización de las Naciones Unidas, de 1948, en su artículo 1º declara que “todos los seres humanos nacen libres e iguales en dignidad y derechos...” y proclama en el artículo 6° que “todo ser humano tiene derecho, en todas partes, al reconocimiento de su personalidad jurídica.” El imperativo kantiano influye decisivamente inclusive en el lenguaje de la iglesia católica que encontramos en la Encíclica Pacem in Terris de Juan XXIII que expresa que “En toda comunidad bien organizada y fecunda, hay que colocar como fundamento el principio de que todo ser humano es persona, es decir, una naturaleza dotada de inteligencia y de voluntad libre y que, por tanto, de esa misma naturaleza directamente nacen al mismo tiempo derechos y deberes, que al ser universales e inviolables, también son absolutamente inalienables.” En el Derecho español se reconocen como características de los derechos de la personalidad que: 1. Son derechos innatos u originarios, en cuanto nacen y se extinguen con la persona, sin necesidad de que concurra circunstancia, requisito o formalidad alguna. 2. Son derechos necesarios en cuanto corresponden a toda persona y, por tanto, el Ordenamiento tiene que reconocerlos necesariamente, si bien pueden suprimirse o suspenderse total o parcialmente, como es el caso del derecho a la vida del condenado a muerte, o el derecho a la libertad del condenado a prisión. 3. Son derechos privados en cuanto garantizan a su titular el disfrute y protección de su propia persona en la esfera del Derecho privado, sin perjuicio de que sean también protegidos por el Derecho público (Derecho Administrativo, Derecho Penal, etc.) 4. Son derechos absolutos o de exclusión en cuanto son oponibles frente a todos, incluso frente al Estado (erga omnes); es decir, confieren un poder inmediato y directo sobre el bien de que se trate y cualquiera tiene la obligación de respetarlos y no lesionarlos. No son, en cambio, absolutos (ilimitados) en cuanto a su contenido pues “están condicionados a las exigencias de orden moral y las de orden público que obligan a ponerlos en relación con los derechos de los demás hombres y los imperativos del bien común.”6 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos 5. Son derechos extrapatrimoniales en cuanto no son susceptibles de valoración económica. Sin embargo, aunque no contienen en sí una inmediata utilidad de orden económico, ante la imposibilidad de reparación in natura, se admite la reparación económica por los daños morales a que haya dado lugar la violación del derecho, aparte de la reparación en dinero de los posibles daños económicos. 6. Son derechos inherentes a la persona, en cuanto se encuentran necesarios vinculados a esta, razón por la cual se les denomina derechos personalísimos o de la personalidad. De este carácter se derivan, a su vez otros de orden negativo: a) son intransmisibles e indisponibles, b) son irrenunciables, c) son inexpropiables e inembargables, d) son imprescriptibles y e) no son susceptibles de acción subrogatoria. También se hace una clasificación de los derechos de la personalidad de derechos relativos a la esfera corporal o física de la persona y derechos sobre la esfera espiritual o moral de la misma. Entre los primeros encontramos: derecho a la vida, derecho a la integridad física y derecho a la libertad. Entre los segundos se incluyen: Derecho al honor, derecho a la intimidad, derecho a la propia imagen y derecho al nombre. De los primeros se considera el más importante el Derecho a la vida, pues es el que permite a la persona realizar su destino; ningún otro derecho es realizable sin éste y es connatural al hombre porque la vida no tiene puramente un valor individual sino también familiar y social, lo cual explica que la defensa de la vida constituya uno de los casos que pueden eximir de responsabilidad criminal. La Constitución mexicana aunque no hace una declaración expresa de considerarlo como más importante respecto a los demás derechos consagrados como garantías constitucionales, sí lo protege expresamente al señalar en su artículo 14: ..... Nadie podrá ser privado de la vida, de la libertad o de sus Propiedades, posesiones o derechos, sino mediante juicio Seguido ante los tribunales previamente establecidos, en el Que se cumplan las formalidades esenciales del Procedimiento y conforme a las leyes expedidas con Anterioridad al hecho. ..... Se hace, en este precepto, referencia clara a los derechos protegidos: la vida, la libertad, propiedades, posesiones y derechos, con la desafortunada expresión de que, cumpliéndose las formalidades procesales y legales, aún se conserva la posibilidad de privar de la vida a las personas (ojo reforma). Sin embargo aún cuando es una suerte de “horca caudina” suspendida sobre la cabeza de todos los militares y mas remotamente de los civiles, ha quedado hace ya mucho tiempo solamente como una amenaza constitucional, aunque a mi criterio, aún así debería desaparecer. La Constitución española señala que “todos tienen derecho a la vida y queda abolida la pena de muerte, salvo lo que puedan disponer las leyes militares en tiempo de guerra”, con lo que se defiende y consagra el derecho a la vida y se hace una cierta reserva al derecho castrense y sólo en caso de guerra. El derecho a la integridad física, entendido como el derecho de la persona sobre su propio cuerpo y atributos corporales, se encuentra explícitamente reconocido en el párrafo primero del artículo 22 de la Constitución Política de los Estados Unidos Mexicanos, al señalar que: Quedan prohibidas las penas de mutilación y de infamia, la marca, los azotes, los palos, el tormento de cualquier especie, la multa excesiva, la confiscación de bienes y cualesquiera otras penas inusitadas y trascendentales. ..... Con ello se proscriben las penas bárbaras que otrora sirvieron a una justicia penal cruel quizá apropiada para un mundo medieval cruel pero absolutamente inaceptables en una sociedad que reconoce lo innecesario de la brutalidad penal y que sabe que el castigo salvaje no sirve ni al ser humano ni a la sociedad. Este artículo y las leyes de él derivadas sirven para precisar la integridad física y la dignidad de todo ser humano, especialmente vulnerable cuando se encuentra privado de su libertad en virtud de una sentencia condenatoria o sujeto a una investigación, prohibiéndose las penas que tengan un carácter inusitado y trascendental, es decir, tanto las no previstas en la legislación como las que pudieran afectar a personas distintas al inculpado y ajenas al delito cometido. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 63 Emma Mendoza Bremauntz Se vincula este precepto con el párrafo cuarto del artículo 19 de la misma Carta Magna al referirse a la detención ante autoridad judicial y a la fracción II del artículo 20 en su parte primera, referida a las garantías del inculpado en todo proceso penal. “Párrafo cuarto, Art. 19. Todo maltratamiento en la aprehensión o en las prisiones, toda molestia que se infiera sin motivo legal, toda gabela o contribución, en las cárceles, son abusos que serán corregidos por las leyes y reprimidos por las autoridades.” “Art. 20. En todo proceso de orden penal, tendrá el inculpado las siguientes garantías: ..... fr. II. No podrá ser obligado a declarar. Queda prohibida y será sancionada por la ley penal, toda incomunicación, intimidación o tortura....... .....” En cuanto al Derecho a la libertad que se considera como una consecuencia de la condición de persona que todo ser humano tiene, ha de entenderse como el derecho a actuar libre y responsablemente sin más límites que los que la ley, la moral y el orden público imponen pues todo deber supone libertad. La libertad que capacita al hombre para obrar por deber y no solamente por instinto es también la que lo hace ser persona y no un simple animal, como dice Antonio Millán, pues hace diferentes a las personas, de los animales y de las cosas. Se dice que todo hombre es persona por tener cierta libertad, aun en las peores circunstancias y aunque sea una libertad limitada, no suprime la categoría de personas sino la mantiene como “persona humana”.7 La libertad como Derecho humano, desde luego es un concepto muy amplio que abarca varios aspectos o libertades especiales, protegidas constitucionalmente, como: La libertad y la seguridad personal, que se encuentran reconocidas en los artículos constitucionales siguientes: El Art. 14, en su párrafo segundo, ya comentado, al establecer como requisito para cualquier acto de privación de bienes la celebración de un juicio legal por tribunales previamente establecidos y sometido a leyes preexistentes. El Art. 16 al prohibir actos de molestia sin el mandamiento escrito por autoridad competente, debidamente fundado y motivado en la causa legal del procedimiento. 64 El Art. 18 párrafo primero, al señalar que sólo por delito que merezca pena corporal habrá lugar a prisión preventiva, en sitio diferente de la correspondiente a la extinción de la pena de prisión. El Art. 19 en su párrafo primero, al establecer términos precisos para la detención ante autoridad judicial, la declaración o no del auto de formal prisión debidamente fundamentado en los datos que arroje la averiguación previa que deberán ser los necesarios para comprobar el cuerpo del delito y hacer probable la responsabilidad del indiciado, y solamente prorrogables en el caso preciso que se especifica en el texto. Se ordenará la liberación del detenido si no se recibe copia del auto de formal prisión o de la solicitud de prórroga, previa consulta con el juez. El art. 103 en relación con el 107, en los cuales se fundamenta el juicio de amparo o de protección de garantías que es un procedimiento judicial para garantizar la legalidad en el ejercicio del poder público y para proteger los derechos de los individuos frente a las autoridades, al otorgar precisamente la protección y amparo de la justicia federal.8 Se encuentran previstas también en nuestra constitución, la libertad ideológica, religiosa y de culto, en el artículo 24; el Derecho a circular libremente por el territorio nacional y elegir igualmente el lugar de residencia, en el art. 11; el Derecho a la inviolabilidad del domicilio que también prevé el art. 16 en el párrafo octavo y en el décimo tercero; el derecho al secreto de las comunicaciones, en el párrafo décimo segundo del multicitado artículo 16. Se protegen también los derechos a la libre expresión del pensamiento, producción y creación literaria, artística, científica y técnica, a la libertad de cátedra y a comunicar y recibir libremente información, previstos en el art. 6 y en el párrafo primero del art. 7 de la misma Carta Magna así como la libertad de escoger profesión contemplada en la parte primera del artículo 5. Igualmente, se protege el derecho de asociación o reunión que fuera perseguido en otros tiempos inclusive penalmente, siempre y cuando sea pacífico, en el párrafo primero del artículo 9 y la libertad de enseñanza y creación de centros docentes, como derecho a la educación, en el párrafo primero del artículo 3º. Relacionados con el derecho de asociación comentado en el párrafo anterior, se establecen asimismo el derecho a la sindicación y el derecho de huelga en el artículo 123, fracs. XVI y XVII. Se han consagrado asimismo otros Derechos que realmente se contemplan como meras declaraciones ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos como el Derecho al Trabajo o a la salud, que si bien tienen el carácter de derechos humanos, la posibilidad material de cumplirlos los deja en ese estado declarativo. 2 . DERECHOS HUMANOS. CONCEPTO Y EVOL UCIÓN EVOLUCIÓN Los Derechos humanos han sido distinguidos de los demás derechos de los hombres al reconocérseles como derechos naturales, al sostenerse que tienen su fundamento en la propia naturaleza, o bien como derechos originarios o innatos ya que se afirma que nacen con el hombre y no requieren de ninguna otra condición.9 También se les ha denominado derechos fundamentales o esenciales del hombre, cuando se afirma primero, que sirven de fundamento a otros más particulares, subordinados a ellos y que son esenciales porque son permanentes e inherentes al ser humano10 La expresión “derechos individuales” aún se reconoce y por ejemplo, en nuestro país se utiliza como “garantías individuales” contempladas en la Constitución Política, como comentamos en el inciso anterior, reconociéndose que el individuo humano lo es como una unidad de su especie pero es persona, a diferencia de los seres del resto del mundo animal, Ello da lugar a otro sinónimo de mayor calidad: Derechos de la persona humana o del hombre, cuya individualidad tiene carácter personal. Existen otros sinónimos que hacer referencia al origen y sentido trascendente de estos derechos y se puede afirmar que todos se orientan a realzar la dignidad y la autonomía de la persona humana, contemplada dentro del marco de la convivencia social y del régimen político ya que el hombre tiene una naturaleza que observa exigencias provenientes del orbe del valor que deben ser reconocidas en el ámbito cultural de la vida humana denominado mundo jurídico-político.11 Se puede afirmar que la existencia de un sistema de Derechos humanos constituye un poderoso argumento en favor de la legitimidad de un ordenamiento jurídico y refuerza la obligación de obediencia que se tiene respecto a éste, pero a partir de su reconocimiento, no a posteriori, mediante una jurisprudencia analítica sino como una reflexión preliminar al mismo. De ahí se concibe la visión dualista de los derechos fundamentales que “constituyen una categoría jurídica del Derecho positivo y sólo adquieren eficacia allí donde éste los reconoce; pero no son un invento del Derecho positivo sino que, al margen y con independencia de la determinaciones del poder, encarnan unos valores costosamente labrados desde la filosofía del humanismo, valores que gozan de un fundamento suficiente y en favor de los cuales es posible aportar razones morales. Justamente, en eso consiste fundamentar los derechos, en mostrar las razones que imponen o respaldan el deber moral de su reconocimiento jurídico.” 12 Algunos autores consideran que los Derechos humanos o fundamentales carecen de un significado técnico jurídico preciso y bien delimitado, debido quizás a su fuerte carga emotiva y su dimensión moral. Los Derechos Humanos se han convertido en uno de los terrenos más fértiles de la demagogia política y de la insustancialidad teórica. Tal vez por esa carga emotiva o porque tienden a situarse en la frontera del orden jurídico, donde éste deja de serlo para enlazarse con alguna utopía ética, pero parece que los Derechos humanos se hallan sometidos a un abuso lingüístico que hace de ellos una bandera de colores imprecisos, capaz de amparar ideologías de cualquier color ya que todos los credos políticos se proclaman adalides de los Derechos humanos y ninguna revolución ni reacción de los dos últimos siglos ha dejado de exhibir en su programa la defensa de los “verdaderos” derechos del hombre y, sin embargo, es evidente que no todos implican los mismos objetivos ni tienen una misma idea a cerca de lo que dicen defender. Es algo semejante a lo que en los primeros años de este siglo ha sucedido en nuestro país en el cual todos los políticos hablan de la vigencia del Estado de Derecho sin entender su significado que permanentemente es violentado con las actitudes arbitrarias o corruptas de algunas autoridades. Prieto Sanchis, a quien hemos citado líneas arriba, señala que el núcleo de certeza o contenido mínimo del concepto de Derechos humanos comprende dos elementos: El primero que identifica a los Derechos humanos como la traducción normativa de los valores de dignidad, libertad e igualdad, como el vehículo que en los últimos siglos ha intentado conducir determinadas aspiraciones valiosas de las personas desde el mundo de la moralidad a la órbita de la legalidad. El segundo que significa la cualidad legitimadora del poder que asumen los derechos que se erigen en reglas fundamentales para medir la justificación de las formas de organización política y, por tanto, para que éstas se hagan acreedoras de la obediencia voluntaria de los ciudadanos.13 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 65 Emma Mendoza Bremauntz 3 . LA VISIÓN INTERNACIONAL DE LOS DERECHOS HUMANOS Los Derechos humanos en cualquiera de sus concepciones han sido reconocidos por diferentes ordenamientos legales y definidos por gran cantidad de filósofos del Derecho y escuelas y corrientes filosóficas y jurídicas. Sin embargo, no es la idea de este trabajo profundizar en los aspectos históricos y el origen de estos derechos sino analizar primero su reconocimiento más cercano que ha significado la relación entre los Derechos humanos y la justicia penal, por ser quizá el área en la cual con mayor facilidad pueden ocurrir las violaciones a estos derechos. El reconocimiento de los Derechos humanos, con una visión ya más sistemática aún cuando no de una absoluta uniformidad, deriva en mi criterio de la visión internacional que se tiene, a partir del siglo pasado de los multicitados Derechos. Encontramos que la Declaración internacional de los Derechos Humanos, adoptada por el Instituto de Derecho Internacional de Nueva York en 1929, es el antecedente directo de la Declaración Universal de los Derechos Humanos de la Organización de las Naciones Unidas (ONU) pero realmente la internacionalización de los Derechos del hombre se inicia en 1945, en el seno de la misma Organización que a su vez dio lugar a la Organización de los Estados Americanos y a la Comunidad europea que, sin embargo, no son las únicas organizaciones e instituciones que buscan obtener la tutela de los Derechos fundamentales que se promueven en todo el mundo mediante la promoción y firma de tratados y convenciones sobre la materia. En 1945, la Carta de las Naciones Unidas fue en realidad el heraldo de la preocupación de los Derecho humanos que reafirma, en su preámbulo, la fe en los derechos fundamentales del hombre, en la dignidad y en el valor de la persona humana, en la igualdad de hombres y mujeres, y más adelante confirma la determinación de los pueblos de las Naciones Unidas para promover el progreso social y elevar el nivel de vida dentro de un concepto más amplio de libertad.14 En esta etapa, faltaba la enumeración de los derechos que considerados fundamentales deberían garantizarse, cuestión que se consolida en la Declaración Universal de los Derechos Humanos de las Naciones Unidas, que constituye, pudiéramos 66 decir, el primer catálogo intencional de estos derechos al enunciar: Los Derechos Civiles y Políticos, los Derechos Económicos y Sociales, poniendo énfasis en la igualdad y la libertad frente a la discriminación, constituyendo la estructura sustantiva adecuada y necesaria para la creación de un maquinaria de protección, por lo que se convirtió en un vínculo importante para generar una conciencia general , un cierto ambiente entre los Estados americanos y se le consideró como la guía para el contenido de los derechos y deberes fundamentales de la persona humana y así se constituyó en la base para la Convención América de Derechos Humanos de San José de Costa Rica de 1959. En 1966 surgen los primeros mecanismos contemplados en dos pactos denominados uno Pacto de los Derechos Civiles y Políticos y otro Pacto de Derechos Económicos, Sociales y Culturales, que entraron en vigor en 1976 y contaban hasta 1998 con 90 y 71 Estados adherentes respectivamente.15 En 1969 se adoptó la Convención Americana sobre Derechos Humanos o Convención de San José y dio las bases definitivas para la Comisión Interamericana de Derechos Humanos que de alguna manera operaba desde 1960. Así mismo esta Convención establece la Corte Interamericana de Derechos Humanos, con sede en San José de Costa Rica. El mismo año, aunque en un ámbito mas limitado, se pactó la Convención Americana de Derechos del Hombre, subsiguiente de la Declaración Americana de Derechos y Deberes del Hombre, aprobada en la IX Conferencia Internacional Americana de Bogotá, celebrada en 1948. Sin duda la Carta constitutiva de la Organización de las Naciones Unidas, llamada también Carta de San Francios, firmada en ese lugar el 26 de Junio de 1945, fue el punto de partida para el desarrollo del reconocimiento internacional de los Derechos Humanos, así como del mismo derecho internacional actual que sobrepasó así los ideales de la Sociedad de las Naciones, la Carta del Atlántico de 1941, la Declaración de las Naciones Unidas de 1942 y los demás antecedentes normativos que la historia reconoce respecto a los Derechos Humanos. Se mencionan de diferentes formas los Derechos humanos en la Carta de la ONU, en el preámbulo que ya comentamos así como en los artículos 13, 55, 56, 62, 68 y 76, a partir de que en el Capítulo Primero, en el título de Propósitos y Principios, se enumeran los objetivos de las Naciones Unidas, señalándose en el numeral 3: el de Realizar la cooperación internacional en la ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos solución de los problemas internacionales de carácter económico, social, cultural o humanitario, y en el desarrollo y estímulo del respeto a los derechos y a las libertades fundamentales de todos, sin hacer distinción por motivos de raza, sexo, idioma o religión. Igualmente, en el inciso b) del artículo 13 de la Carta se establece, entre otras, como atribución de la Asamblea General, la de ayudar a hacer efectivos los Derechos humanos y las libertades fundamentales de todos, sin hacer distinción por motivos de raza, sexo, idioma o religión. El citado artículo 55 en su inciso c) señala como cometido de la Organización el de promover el respeto universal a los Derechos humanos y a las libertades fundamentales de todos, sin hacer distinción por motivos de raza, sexo, idioma o religión y la efectividad de tales derechos y libertades. Lo cual se complementa en el artículo 56 que señala que los Estados miembros se comprometen a tomar medidas conjunta o separadamente, en cooperación con la Organización, para la realización de los propósitos consignados en el artículo 55. En realidad, la firma de la Carta de la ONU que la constituye es además un tratado multilateral suscrito y ratificado, ya actualmente, por casi todas las naciones del mundo, incluyendo aquellas que surgieron mucho después de la constitución de las Naciones Unidas. Por ello se tiene que considerar que las normas contenidas en la Carta tienen un alcance histórico único pues a partir de ella, en especial los Derechos humanos de los individuos en cada Estado, dejaron de ser asunto de jurisdicción interna y por primera vez en la historia de la humanidad, los Estados asumieron la obligación legal internacional de respetar estos Derechos de todos los seres humanos que viven dentro de sus fronteras. Es a partir de ese momento que las Naciones Unidas pudieron exigir a sus Estados miembros que rindieran cuentas ante ese máximo organismo internacional frente a la violación de los Derechos humanos y no resulta válido jurídicamente alegar que con dicha actitud se lesiona la soberanía de los Estados por cuanto ellos admitieron, al suscribir este tratado multilateral, ceder cierta soberanía respecto a esta materia. Aún cuando la Carta no contiene ni una definición ni una enumeración de los Derechos humanos se deriva de ella misma la posibilidad de incluir derechos y libertades que la ONU vaya determinando, por actos posteriores y mediante los procedimientos de aprobación de sus documentos y propuestas. Precisamente la recomendación de la UNESCO recoge la interpretación evolutiva del concepto de Derechos humanos y determina que son aquellos que se especifican en la Declaración Universal de los Derechos humanos y en el Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y Culturales y en el Protocolo Facultativo del Pacto Internacional e Derechos Civiles y Políticos.16 Originalmente, en la Conferencia de San Francisco en la cual se aprobó la Carta de la ONU, se había adjuntado una declaración sobre los derechos esenciales del hombre pero por la amplitud de su contenido, se consideró que requería un tiempo excesivo por lo que se decidió posponer su sanción para otro momento aún cuando su contenido general quedaría implícito en la Carta de la ONU. Posteriormente, en 1946 en la reunión de la Asamblea General de la Organización celebrada en Londres se analizó un proyecto que posteriormente pasó por el Consejo Económico y Social y por la Comisión de Derechos humanos para luego introducirse en un comité de redacción. Para 1947 la Comisión de Derechos Humanos de la Organización de las Naciones Unidas comenzó a referirse a una Carta Internacional de Derechos humanos que comprendería una Declaración, una Convención que se sancionaría bajo la denominación de Pacto y algunas otras medidas de aplicación. Fue así como finalmente vio la luz la aprobación y proclama de la Declaración Universal de Derechos Humanos como primer instrumento que se aprobó por la Asamblea General en su reunión en París el 10 de diciembre de 1948 con 48 votos a favor y ninguno en contra, con 8 abstenciones, documento en el cual se reafirman no sólo los derechos inalienables de todo ser humano sino que proclama otros jamás expresados hasta entonces en ningún otro documento. 17 Sin duda, el respeto a los Derechos humanos es una aspiración de todos los pueblos de todas las naciones, por lo cual la legislación internacional, más que ninguna otra, marca las tendencias en cuanto a ideales y principios filosóficos que han alcanzado cierto consenso en cuestiones que son fundamentales para la convivencia internacional por ser portadores de un ideal de aceptación mundial, generándose así obligaciones y derechos para los Estados que suscriben los documentos o tratados multilaterales que los contienen para procurar su vigencia permanente independientemente de los ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 67 Emma Mendoza Bremauntz cambios que acontezcan en las sucesiones gubernamentales. Con esta Declaración de derechos se pretende establecer verdaderos modelos de conducta internacional que intenten mantenerse efectivos en medio de la turbulencia de los hechos internacionales que muchas veces hace difícil una aplicación como es querida y que exige de los hombres y de los gobiernos un esfuerzo permanente en la ponderación y en el equilibrio en especial de los Derechos humanos cuya protección, en definitiva debe interesas tanto a los gobernados como a los gobernantes porque se ha creado e institucionalizado en beneficio de todos los hombres. Es un hito en el momento actual, en que revelaciones de violencia y abuso se presentan internacionalmente y se conservan internamente en nuestros pueblos por lo que su conocimiento demanda una constante supervisión y estudio en búsqueda de un “ideal común por el que todos los pueblos y naciones deben esforzarse a fin de que tanto los individuos como las instituciones, inspirándose constantemente en la Declaración, difundiéndola mediante la enseñanza y la educación y luchando por el respeto de estos derechos y libertades, aseguren, con medidas progresivas de carácter nacional e internacional, su reconocimiento y aplicaciones universales y efectivos, tanto entre los pueblos de los Estados miembros como en los que no lo sean, aun los colocados bajo su jurisdicción.18 4 . PODER PENAL DEL EST ADO A ESTADO ADO.. LLA LEGITIMACIÓN DEL EJERCICIO DEL JUS PUNIENDI El hombre es un animal gregario en el que la vida asume manifestaciones muy complicadas por lo que sus sociedades, como las de todos los animales gregarios, presentan una estructura de poder, con grupos que dominan y grupos que son dominados, con sectores más cercanos o más lejanos a los centros de decisión y conforme a esta estructura, se puede controlar socialmente, al menos se intenta, la conducta de los hombres, control que se ejerce sobre todos los grupos para conservar el propio poder. Es notoria la extensión y complejidad del fenómeno del control social que se demuestra en las sociedades, cuando son más o menos autoritarias o más o menos democráticas, según sea más o menos amplio el control social vigente, no solamente el control social institucionalizado o explícito sino también el control social implícito. 68 Este control social, necesario para la convivencia pacífica de los pueblos, es amplísimo y no siempre resulta evidente, utilizándose a veces medios más o menos difusos y encubiertos y otras veces abiertos y explícitos, como resulta el sistema penal que se encuentra integrado por la policía, los jueces, el personal penitenciario y en general todos aquellos que trabajan para el área penal.19 En el campo de los Derechos humanos, las libertades del ser humano, los derechos públicos subjetivos, los derechos del gobernado o garantías constitucionales de las personas nacieron universalmente con una fuerte carga de defensa contra las autoridades en el fuero de lo penal, a través de todos los tiempos y todas las sociedades. Si bien todas las ramas de la normatividad jurídica precisan regulaciones a la conducta humana o prevenciones relacionadas con ella, que afectan la libre determinación y actuación de los seres humanos, ha sido necesario por no llamar indispensable, legitimar esta intromisión de las autoridades en las libertades de las personas por lo que se ha hecho indispensable hacer un cesión parcial de nuestros derechos y libertades para permitir que se normen jurídicamente, mediante la coacción de un órgano estatal que imponga sus determinaciones.20 El Derecho Penal, que es un derecho represivo por naturaleza, llega a cabo esa afectación en valores destacadísimos del individuo, su vida, su libertad, su integridad corporal, su desplazamiento, sus propiedades y posesiones, así como el ejercicio de otros derechos o libertades connaturales a él. Es por ello que cuando nacen los primeros documentos mediante los cuales el soberano, las autoridades en general y el Estado reconocen no sólo los derechos fundamentales del individuo sino la manera legal de afectarlos, haciéndose mención de respetar a la persona humana al verse afectados estos valores esenciales, principalmente en el campo del Derecho Penal. El sistema penal es la parte del control social que resulta institucionalizado en forma punitiva y por ello llamado control social punitivo institucionalizado que en la práctica abarca desde que se detecta o sospecha la ejecución de un delito hasta que se impone y ejecuta una pena bajo el imperio de la ley que institucionaliza el procedimiento, la actuación de los funcionarios y señala los casos y condiciones para actuar. Esto es a lo que se llama sistema penal que además incluye, de manera más amplia, la actividad del legislador, del público, de la policía, de los jueces y funcionarios de la procuración de justicia y de la ejecución penal.21 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos Es importante enmarcar al Derecho Penal dentro del sistema penal y de control social para no caer en la ficción de que se respetan los Derechos humanos cuando en realidad las violaciones se comenten por la vía de sustraer en lo penal aspectos materiales de la punición o peor aún, introducir en el ámbito legal del sistema penal aspectos de punición de discursos diferentes. Porque si bien la justificación del poder punitivo del Estado se da ante la necesidad de hacer posible la convivencia social pacífica de los hombres, encausando su conducta externa a través de normas jurídicas que se imponen por medio del poder coercitivo del estado y cuya sistematización está inspirada en ideas del mas alto valor ético y cultural para obtener la paz y la seguridad sociales, es precisamente el conocimiento de estas ideas y valores lo que debe fundamentar el derecho a la sanción penal que ejerce el Gobierno sin llegar al exceso en la aplicación de penas y procedimientos y por ende a un exceso en la ejecución de las sanciones, aún bajo la observancia de la ley vigente. Es así que la Constitución Política de un Estado de Derecho constituye el primer ordenador del sistema penal que tiene o debe tener un determinado contexto social; sin embargo, un Estado de Derecho de corte democrático no sólo es aquel que se ciñe a un orden jurídico sino que reconoce y respeta los derechos del hombre y se auto limita en virtud de esos derechos.22 El Derecho Penal o jus puniendi representa una potestad cuya titularidad es compartida por los tres poderes del Estado. Así, al Poder Legislativo le corresponde generar las leyes sobre penas para los autores de conductas infractoras a las normas penales, el Poder Judicial se ocupa de aplicar las penas en los casos concretos luego del correspondiente proceso penal y al Poder Ejecutivo le corresponde la ejecución de la sentencia condenatoria y el cumplimiento de las penas, cuyo ejercicio debe estar limitado por el reconocimiento y respeto de los Derechos humanos. En suma, el sistema penal, entendido como el conjunto de medidas de control social de carácter penal, constituye un sector de las medidas estatales adoptadas para el logro de las funciones encomendadas al propio Estado. Igualmente, la legislación penal sustantiva constituye un aspecto del sistema de justicia penal institucionalizado, es decir, del sistema de justicia penal. Es un instrumento en manos del Estado y, como tal, sirve para los fines de éste y, debe revestir las características especiales de cada Estado. Es decir, si el Estado que lo detenta posee un régimen jurídico y político que limita su soberanía y poder penal, es probable que el Derecho Penal y todos los demás sectores del control penal sean utilizados limitada y ponderadamente por sus representantes en su ejercicio, respetando los derechos humanos. En cambio, si el Estado posee un régimen diferente que permita un desbordamiento de su poder, el Derecho Penal será utilizado, seguramente de manera ilimitada, como medio para someter y manipular al individuo. Porque de cualquier forma, aun cuando un Estado consagre en su ley fundamental el reconocimiento de determinados derechos del hombre y formalmente se auto limite, no es garantía suficiente para que el control penal sea utilizado sólo dentro de estos límites constitucionales y haya un total respeto de los Derechos humanos. Teóricamente, a mayor reconocimiento de los Derechos humanos en el ámbito legislativo, menor será el alcance del poder punitivo, en razón de una mayor auto limitación y, a menor respeto de los Derechos humanos, corresponderá un mayor abuso del poder. En general, el Estado está legitimado para adoptar las medidas necesarias con el fin de prevenir y reprimir las conductas criminales, pero cuando se ha optado por el ejercicio del Derecho Penal, debe tener en cuenta los siguientes principios: 1. El Derecho Penal deberá intervenir como último recurso, ya que no le corresponde corregir toda conducta desviada de los ciudadanos ya que el Estado cuenta con otros recursos y medidas no punitivas pues, como señala Claus Roxin, el Derecho penal es un medio resultado de la reflexión científica sobre los presupuestos de la coexistencia social y medio para defender la libertad contra ataques de terceros.23 2. Aunado a lo anterior, está el principio del bien jurídico, pues la tutela penal debe utilizarse solamente para bienes jurídicos esenciales que permitan un desarrollo armónico en sociedad. Otros bienes de menor importancia deberán estar protegidos por legislaciones secundarias y con sanciones de tipo administrativo. La imposición de una pena sólo está justificada donde el comportamiento prohibido perjudique de manera insoportable la coexistencia libre y pacífica de los ciudadanos y no sean adecuadas para impedirlo otras medidas jurídicas y políticosociales menos radicales.24 3. El Derecho Penal debe partir de una culpabilidad de acto y no de autor ya que el juicio de reproche contenido en la ley penal se hace por hechos propios, contrarios a la norma específica de Derecho Penal (acto típico) y contrarios al ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 69 Emma Mendoza Bremauntz ordenamiento jurídico en su totalidad (aspecto antijurídico) En esta cuestión es importante aclarar que el estudio criminológico del procesado o sentenciado no implica en ningún momento que se trate de castigar al autor con el criterio mencionado sino que, especialmente en el caso de los procesados, se apoye al juzgador con los elementos técnicos necesarios proporcionados por profesionales especialmente capacitados, para que conozcan en realidad al que va a sentenciar y no juzguen solamente “de vista” o basado en los papeles procesales sino conozcan al ser humano que van a sentenciar, para ayudarlo a decidir en la amplitud fundada de su arbitrio legal. El aspecto del estudio para el ámbito ejecutivo tiene la finalidad de buscar adecuar el manejo del sentenciado a sus necesidades para lograr mejorarlo y convencerlo de no reincidir y aprender a respetar los derechos ajenos. 4. En cuanto al principio de culpabilidad como fundamento para imponer y ejecutar una pena, debe entenderse a partid del fundamento del juicio de reproche hecho al autor del ilícito: haber podido obrar de manera diferente, reconociendo que tenía la libertad para escoger entre actuar conforme o contrario a lo dispuesto por las normas. En este momento, este principio aparece como la garantía del fundamento de la aplicación de la pena, en cuya virtud sólo puede ser aplicada por un hecho anterior, imputable a dolo o culpa, a persona que conociendo lo que debía hacer y la significación jurídica de lo que hacía, lo hizo a pesar de todos. Pudiendo haber hecho algo diferente. Ahora bien, el Derecho Penal reprime o sanciona el delito donde éste se manifiesta, pero no lo hace donde se produce, donde se genera, pues no está dentro de sus funciones atacar las causas, cuestión que corresponde al control social que lo fundamenta y que debe prever un amplio sistema criminológico, es decir, el estudio de dichas causas, la manera de prevenirlas y su aplicación. Sin embargo, sigue siendo el Derecho Penal, así sustantivo como adjetivo y ejecutivo por encima de cualesquiera otros órdenes jurídicos, el escenario crítico de los Derechos humanos. Acaso por ser el derecho de los delitos y de las penas el refugio elemental, inderogable, de la dignidad del hombre, en él cobra peculiar intensidad y alcanza más doloroso dramatismo la acción autoritaria del Estado y adquiere alzado rigor, en contrapartida, la resistencia a la opresión por la sociedad y por el individuo.25 Señala con razón Juventino Castro que, históricamente, la vida misma de los individuos ha 70 sido y es el primero de los valores protegidos, contra sanciones privativas de ella, y si es de oponerse a la determinación legal de privar de ella por cualquier causa, más lo es privarla ilegalmente en general y peor por manos de las autoridades responsables del ejercicio de la ley penal. Sin embargo, como actualmente sigue siendo la pena privativa de la libertad la más usada, es la que más preocupa pues es de esperarse un respeto absoluto a la libertad de los individuos salvo cuando una sentencia firme e irrecurrible se haya dictado por un órgano jurisdiccional perfectamente legal y legitimado. Pero ante el riesgo de que los delincuentes se sustraigan a la procuración e impartición de la justicia, se ha buscado una solución intermedia que permita asegurar materialmente a los individuos para evaluar su conducta en la investigación y durante el proceso en todas las instancias, impidiendo así toda evasión, con la grave desventaja de que se abuse de este poder por la autoridad para retener materialmente al indiciado o acusado hasta que se dicte la sentencia definitiva y, pueda concluirse con una libertad por falta de méritos o de elementos para proceder.26 Es en este sentido por el cual en años recientes ha optado la legislación mexicana, bajo pretexto de seguridad y con la idea de mayor castigo y mayor libertad para la procuración de justicia, al utilizarse el arraigo y la prisión preventiva obligatoria como instrumentos para obtener mayor tiempo para la investigación y mayor seguridad para el procedimiento, llegándose a extremos verdaderamente violatorios de los derechos humanos dentro del marco legal, con el pretexto de la protección social y sin tomar o impulsar medidas de una investigación más sólida y científica de los delitos. Resulta entonces que la libertad personal de los individuos puede legalmente ser afectada y en vez de ser el resultado de una sanción impuesta en resolución final, es por el contrario una medida cautelar o preventiva, cuyo sujeto de la previsión es el propio ser humano, medida que se ordena antes del juicio y no después de agotar todos los procedimientos jurídicos. Hoy por hoy, el Derecho Penal es una realidad existente y no podemos prescindir de él, pero está en nuestras manos ponerle límites, por lo pronto, para lograr después “no un derecho penal mejor sino algo mejor que el Derecho Penal” y fijar los lineamientos generales que permitan a las autoridades correspondientes que se respeten los derechos de las personas.27 Es triste observar que cada vez se constriñen más, en las leyes ordinarias penales y en la práctica, algunos Derechos humanos, con el pretexto de la ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos lucha contra la delincuencia organizada, incluyendo especialmente el tráfico de drogas y el terrorismo y que los individuos ajenos a todo delito, en gran cantidad, ven cada vez mas agredidos sus derechos personales al ser sujetos de revisiones e inclusive privados de objetos personales sin ninguna garantía de devolución, con el pretexto de la seguridad. La problemática constitucional consiste en disponer y llevar a cabo, por parte de las autoridades correspondientes, una regulación congruente en las leyes ordinarias y procesales secundarias, teniendo en cuenta tanto las necesidades y presupuestos elementales para procesar y aplicar las sanciones penales con respeto a la dignidad y a las libertades de los individuos. Estructurar un sistema de sanciones cuyo criterio orientador sea el respeto a los Derechos humanos es un verdadero problema al que debe enfrentarse con toda seriedad y cuidado el legislador que renueva o crea un código penal, en virtud de que no puede olvidar los principio de prevención general y especial en el momento de incorporar las sanciones a la conducta típica en particular, intentando con ello alcanzar los fines sociales reconocidos. Es así que la búsqueda de la pena justa es el objetivo prioritario del Derecho Penal y sin embargo éste ha sido el menos estudiado. La punibilidad y sus determinaciones no ha producido mayores debates como se aprecia en la creación indiscriminada de los llamados delitos graves y en el incremento excesivo de los límites superiores de la pena de prisión, que en reforma reciente se ha llegado al extremo de sesenta años y con la posibilidad de incrementarlos, sin haberse hecho los estudios necesarios, además para conocer la eficacia de dichas penas. La ejecución de la pena, además, dejada en las manos de simples ejecutores de sentencia, nos ha llevado a permitir los excesos y arbitrariedades que actualmente conocemos de internos que viven en condiciones verdaderamente inhumanas de abuso e inmundicia, sin trabajo y sin alimentación, dentro de las cárceles, lo cual se trata de justificar siempre con el estribillo de que hay otros que viven peor. 5 . EL DERECHO PENAL Y SUS CRISIS Está señalado por algunos autores que el Derecho Penal está en crisis aún cuando podemos considerar que, en realidad, el Derecho Penal como conjunto normativo para su evolución hacia un Derecho Penal moderno, ha requerido de la pugna que surge entre el enfrentamiento de las autonomías de la libertad y la seguridad, cuando ambas ya no se resuelven automáticamente mediante la ley vigente, y empieza a surgir una crisis o tensión interna que permanece hasta el encuentro de una solución mediante reformas en una evolución dialéctica. Dicha dialéctica se plasma en síntesis sucesivas de signo ascendente humanitario y garantista, pese a lo que en algunos momentos de antítesis pueden llevar a pensar los resultados aparentemente fascistas y represivos. El Derecho Penal en la actualidad, entendido como potestad punitiva del Estado, podemos decir que se halla en crisis, una crisis de legitimación pues se cuestiona la justificación del recurso por parte del Estado al utilizar la maquinaria penal, como su instrumento más poderoso. También se encuentra en crisis la llamada “ciencia del Derecho Penal”, crisis de identidad en la que lo cuestionado es el modelo a adoptar y su auténtica utilidad social así como una crisis de “legitimidad epistemológica” de validez científica. En los dos casos nos enfrentamos con fenómenos nuevos, por decir que la crisis actual del Derecho penal se inicia en los años sesenta, en el momento en que se quiebra de modo aparentemente definitivo el esquema tradicional de un Derecho Penal de la retribución, cuando se rechaza por muchos sectores que el Derecho Penal se justifique por la realización de la justicia.28 De lo referido se puede deducir que, en el marco de la ciencia del Derecho Penal, la crisis comienza al ponerse en cuestión el modelo clásico de ciencia deductivo-axiomática, abstracta y en suma, ajena a la realidad social del delito. El desencadenamiento de ambas crisis viene dado por la necesidad de proceder a una legitimación del Derecho Penal que resulta inmanente a la sociedad y no trascendente a la misma. Es cierto que sigue discutiéndose acerca de cuál es la legitimación empírica de la intervención penal (la función social del Derecho Penal) y también si cabe el atribuir el estatus de ciencia a una disciplina que incorpora tantos elementos valorativos y se muestra tan inmediatamente condicionada por la coyuntura social como la dogmática jurídico-penal. Y es que además en los últimos años, a esa crisis global de legitimación se le han superpuesto nuevos fenómenos conflictivos que han contribuido a agudizar lo problemático de la situación, al parecer porque pasados los años de los procesos legislativos de despenalización, volvemos a encontrarnos perfectamente inmersos en nuevos procesos de incriminación. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 71 Emma Mendoza Bremauntz Estos procesos aparentan que no cabe oponerles un concepto de bien jurídico que no es adecuado para justificar la exclusión en el ámbito jurídico penal de intereses sobre cuya necesidad de protección aparentemente es inexcusable. Esta tendencia que es muy pluriforme en su interior, es difícilmente reducible a un juicio unitario y adopta la forma de una legislación claramente simbólica o retórica, sin posibilidades reales de aplicación útil. Tal legislación expansiva conlleva a la aparición del Derecho excepcional que choca con dos tendencias: una, la que aboga por un Derecho Penal mínimo, resaltando la vertiente garantista del Derecho Penal y la otra que pone de manifiesto un total escepticismo ante la eficacia preventiva especial (resocializadora en concreto) del mecanismo punitivo más característico: la pena privativa de libertad. Pero también choca con una realidad del propio sistema de penas privativas de libertad como son las modernas instituciones de política criminal de el Derecho Penitenciario. En resumen, con base en lo expuesto, podemos constatar la superposición de tres “crisis” la inmanente al Derecho Penal moderno, la de legitimidad del Derecho Penal y su dogmática y la que enfrenta una legislación penal expansiva con un sistema penal en retroceso. Estas son las tres posturas de política criminal que se nos presentan a la hora de decidir desde cuál punto de vista se va a analizar el fenómeno jurídico-penal, que continúa siendo mixto en la realidad y que serían: la abolicionista, la resocializadora y la garantística o garantista.29 En este caso, la primera postura se opone a toda forma de Derecho Penal, pretendiendo construir alternativas al sistema punitivo, la segunda y la tercera en cambio pretenden, desde perspectivas diversas, la consecución de un mejor Derecho Penal. 6. EL MODELO AB OLICIONIST A ABOLICIONIST OLICIONISTA El problema de la justificación de la pena, es decir, del poder de una comunidad política cualquiera, de ejercitar un violencia programada sobre uno de sus miembros, es quizá el problema más clásico de la filosofía del Derecho.¿En qué se basa este poder, llamado a veces “pretensión punitiva” o “derecho a castigar”? Son cuestiones que han tenido históricamente dos tipos de respuesta, una en línea de principio positivo y otra en línea de principio negativo. Las respuestas positivas son las proporcionadas por las doctrinas llamadas justificacionistas en cuanto justifican los costos del Derecho Penal con fines o razones, o funciones moral o socialmente 72 irrenunciables. Las respuestas negativas son, por el contrario, las ofrecidas por las llamadas doctrinas abolicionistas que no reconocen justificación alguna al Derecho Penal y propugnan por su eliminación, bien porque impugnan de raíz su fundamento éticopolítico, bien porque consideran que las ventajas proporcionadas por él son inferiores al costo de la triple construcción que produce: la limitación de la libertad de acción para los cumplidores, el sometimiento a juicio de todos aquellos de quienes se sospecha que son incumplidores y el castigo de cuantos se juzgue que realmente lo son. Ferrajoli considera abolicionistas “sólo aquellas doctrinas axiológicas que impugnan como ilegítimo el Derecho Penal, bien porque no admiten moralmente ningún posible fin como justificador de los sufrimientos que ocasiona, bien porque consideran ventajosa la abolición de la forma jurídico-penal de la sanción punitiva y su sustitución por medios pedagógicos o instrumentos de control de tipo informal e inmediatamente social. Por el contrario, no son abolicionistas sino exactamente sustitucionalistas aquellas doctrinas criminológicas, a veces libertarias y humanitarias en su intención, pero convergentes en la práctica con el correccionalismo positivista, que bajo el programa de la “abolición de la pena”, proponen en realidad la sustitución de la forma penal de la reacción punitiva por “tratamientos” pedagógicos o terapéuticos de tipo informal, pero siempre institucional y coercitivo y no meramente social. Son simplemente reformadoras las doctrinas penales que propugnan la reducción de la esfera de la intervención penal o, por otro lado, la abolición en favor de sanciones penales menos aflictivas de esa específica pena moderna que es la reclusión carcelaria.”30 El citado autor sostiene, por un lado, la necesidad de rebajar y como horizonte, abolir las penas privativas de libertad en tanto que excesivas, inútilmente aflictivas y en muchos aspectos dañinas, así como de limitar las prohibiciones penales sólo a las exigencias de tutela que definen el esquema del Derecho Penal Mínimo. Por otro, defiende en contra de las hipótesis abolicionistas propiamente dichas y de las sustitucionistas, la forma jurídica de la pena como técnica institucional de minimización de la reacción violenta a la desviación social no tolerada y de garantía del inculpado frente a las arbitrariedades, los excesos y los errores ligados a sistemas ajurídicos de control social. El abolicionismo penal que representó una corriente teórica, y práctica ante la crítica radical que se dio al sistema de justicia penal y que plantea su reemplazo, constituye un conjunto un tanto heterogéneo de doctrinas, teorías y actitudes ético- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos culturales unificadas bajo el rubro general de la negación de cualquier clase de justificación o legitimación de la intervención punitiva sobre la desviación social por parte del Estado. Se encuentra representado básicamente en Europa por Nils Christie que se refiere principalmente a la abolición del Derecho Penal, Louk Ulsman al concepto del delito y Thomas Mathiesen que se ubicó sobre el sistema carcelario.31 El fondo de la ideología abolicionista no subyace en la idea de una sociedad sin delito (entendiendo por éste que hay una situación problemática que resolver), sino la propuesta de manejar los conflictos de forma diversa a la actual, con una negociación entre la comunidad, la víctima y el ofensor, atendiendo a la compensación o reparación del daño causado a la víctima.32 Quizá un principio de abolicionismo lo podemos encontrar en la mediación penal que poco a poco ha logrado introducirse en la legislación penal de algunos países, incluyendo al nuestro en Quintana Roo, Sonora, etc., con variantes en cuanto al nivel de participación del grupo social o las autoridades de la procuración de justicia, pero ajena a la intervención procesal penal. Esto se produce en buena parte mediante un retorno a los planteamientos y principios informadores de la sociedad liberal del S: XIX, que en algunos autores adquiere la denominación explícita de un retorno a Kant, de lo que deriva la expresión de “neoclasicismo”, corriente que en los Estados Unidos ha recibido la denominación de justdeserts theory o just-desert-movement. Esta corriente utiliza la idea de que el castigo es el postre aplicable a los que disfrutaron practicando actividades prohibidas por la ley y que en el castigo tendrán los postres como final obligado de sus actitudes que no corresponden a la abstinencia de los demás que no violentaron la ley. Una de las críticas más profundas que se han hecho al “neoclasicismo” es en cuanto a su limitación a los aspectos exclusivamente formales sin poner la necesaria atención a cuestiones de contenido que traten de conciliar el principio preventivo-general de protección de la sociedad, mediante la disuasión de los delincuentes, con los principios de proporcionalidad y humanidad, por un lado y de resocialización por el otro. 7. LA CORRIENTE GARANTIST A GARANTISTA Esta última cuestión se observa como punto de referencia de modo que no pueda renunciarse al tratamiento en tanto se plantee como un ofrecimiento al condenado que éste puede aceptar o no. En esta vía y mediante la formulación de alternativas a la pena, se ha abierto paso la concepción del llamado “Derecho Penal Mínimo” que concibe a la pena como una “amarga necesidad” y se inspira de manera general en las ideas de la tradición liberal, utilizando el mínimo de penas necesario para evitar la violencia social informal. Según Ferrajoli, Un sistema penal está justificado únicamente si la suma de las violencias –delitos, venganzas y puniciones arbitrarias- que él puede prevenir, es superior a la de las violencias constituidas por los delitos no prevenidos y por las penas para ellos conminadas.33 Este Derecho se desenvuelve por el triple sentido de una máxima reducción cuantitativa de la intervención penal, de la más amplia extensión de sus vínculos y límites garantistas y de la rígida exclusión de otros métodos de intervención coercitiva. La construcción de un Derecho Penal garantista en lo formal y en lo material, demanda una profunda depuración de los objetos de protección penal. Lo mínimo ha de manifestarse también en una construcción restrictiva de la teoría del bien jurídico penal. Además, en segundo lugar, hay que tomar en cuenta que no nos movemos en magnitudes exactas, que no se puede fijar el punto exacto en el que la reacción penal sigue siendo necesaria para “prevenir”. Ya se hizo mención en otra parte de que en todos los temas sociales y jurídicos, especialmente en los penales, nos encontramos en continua evolución, marcada por la tensión dialéctica entre el interés prevencionista y algún otro, como el humanitario o el resocializador, centrados en la protección de las garantías individuales. Lo que en cada momento histórico se estima como el “mínimo necesario” de la intervención penal constituye el punto de equilibrio alcanzado por la referida tensión dialéctica en cierto momento. Esta idea de las garantías no se queda en el ámbito formal de la prevención general sino que profundiza en ámbitos materiales, es decir, no se piensa sólo en la seguridad jurídica y en la proporcionalidad sino que se insiste en la humanización como uno de los intereses a valorar junto con la prevención general. Otra forma de ver las cosas como un puro funcionalismo nos acerca más a las dictaduras que a las ideas planteadas desde el siglo XIX y que en su instauración han constituido un progreso para las sociedades humanas. No se trata pues sólo de instaurar las garantías formales, sino de tener presente la progresión humanizadora, la valorización de todos los seres humanos, delincuentes o no, no ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 73 Emma Mendoza Bremauntz procurando redituarles un sufrimiento igual o mayor que el que ellos ocasionaron sino tratándolos al detectar las posibles causas de su desviación y su actitud delictiva para evitar mayor violencia social como su reacción ante el castigo. Si se observa el nivel de violencia delictiva en los Estados Unidos, el tipo de delitos que se cometen, profusamente y en todos los Estados, nos percatamos que la violencia institucional sólo está generando mayor violencia delictiva que finalmente es lo que se trata de evitar para permitir una pacífica convivencia social. 8 . EL MODELO A UTORIT ARIST A AUTORIT UTORITARIST ARISTA Este aspecto del Derecho Penal es contemporáneo a su nacimiento y desde luego una tendencia realmente jamás interrumpida. Es una tradición, fruto irreflexivo y consolidado de las prácticas legislativas, jurisdiccionales o policiales, que también enlaza doctrinas y modelos teóricos y políticos del Derecho Penal en todo o en parte antitéticos del anterior modelo comentado. Un gobierno autoritario es un sistema político basado en la autoridad indiscutida de quienes controlan el poder, en el que el pueblo está sometido a una autoridad rígida y de manera incondicional. Es un régimen basado en la subordinación absoluta al poder de una persona, un rey o funcionario al que se le han concedido poderes especiales que lo dotan de un poder supremo. Este individuo no está sometido en su actuación gobernativa, a normas jurídicas preestablecidas, que no provengan de su voluntad sino a normas que precisamente puede variar a su arbitrio, siendo un estilo contrario al de una democracia y puede tener dos significados: 1. Comprende a todos los sistemas no democráticos, incluyendo los totalitarios. 2. Se contrapone al totalitarismo y comprende los sistemas no democráticos caracterizados por un bajo grado de movilización y de penetración en la sociedad. También se denominan autoritarios a los regímenes que privilegian el aspecto del mando y menosprecian de un modo más o menos radical el de consenso, concentrando el poder político en un hombre o en un solo órgano y restando valor a las instituciones representativas, reduciendo a la mínima expresión a la oposición y a la autonomía de los subsistemas políticos y la anulación o la sustancial eliminación del contenido de los procedimientos y de las instituciones encargadas 74 de transmitir la autoridad política de la base hacia lo más alto. Zaffaroni nos comenta estos sistemas penales, cuyo más claro ejemplo es el Derecho Penal fascista, el cual se caracterizó por asignar al Derecho Penal la función de proteger al Estado, de establecer gravísimas penas para los delitos políticos definidos subjetivamente, proteger al partido oficial y con un amplio predominio de la prevención general mediante la intimidación. El Código penal italiano de 1930 es un ejemplo claro de este tipo de sistema y legislación. Este Código, llamado Rocco en memoria del ministro Alfredo Rocco, extiende desmesuradamente el ámbito de la punibilidad, no distingue entre actos preparatorios y tentativa, aplica medidas de seguridad a los que los cometan sin que se inicie la ejecución del hecho y equipara los actos de todos los concurrentes. No sólo esto, sino que agrava las penas bajo el pretexto de medidas de seguridad a los delincuentes habituales, profesionales o con tendencia a delinquir. Su autoritarismo se manifiesta más con la indeterminación de las medidas de seguridad segregatorias y el establecimiento de la pena de muerte por delitos contra el Estado y algunos delitos contra las personas. Este Código sirvió para apuntalar a un Estado que ejercía su totalitarismo con miras a un desarrollo acelerado que le permitiese superar el subdesarrollo que había impulsado importantes masas de población a la emigración y que había impedido la consolidación de la unidad política, dificultando la integración de las regiones más pobres. De ahí que fuese un estatismo chauvinista con una grave pérdida del sentido de la realidad por lo que asumió las formas simbólicas romanas y degeneró en un delirio imperialista que acabó catastróficamente en la Segunda Guerra Mundial. Su carácter “estatista” se nutrió del idealismo neo-hegeliano y de positivismo. Conforme a su concepción del “derecho”, la pena no tenía contenidos vindicativos ni preventivos sino que era la simple segregación de los que atacaban la integridad del pueblo (alemán o italiano) y todos los delitos se consideraban ataques de esta naturaleza, habiéndose suprimido el principio de legalidad e introducido la analogía penal justificándose por el “sano sentimiento del pueblo”, lo cual garantizaba el carácter irracional de la legislación y la dictadura de la costumbre.34 En el plano de la técnica jurídica se observa una desvalorización del papel de la ley como criterio exclusivo y exhaustivo de definición de los hechos desviados y cuestiones que llegan a la identificación ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos del tipo de autor con criterios éticos, sociales o naturalistas y en todo caso, ontológicos. Podemos mencionar figuras que recuerdan este moderno oscurantismo penal como la concepción positivista-antropológica del “delincuente natural”, la doctrina nazi del Derecho Penal de la voluntad o del “tipo de autor” o la estalinista del “enemigo del pueblo” o de “la revolución.” También se asemejan a diversas medidas de prevención como las cautelares de policía utilizadas, como el arraigo penal, no como consecuencia de hechos legalmente denotados y judicialmente probados como delitos sino derivados de presupuestos variadamente subjetivos, como la sospecha de haber cometido delitos o, peor, la peligrosidad social del sujeto, legalmente presumida, conforme a condiciones personales o de estatus, como las de “vago”, “vagabundo”, “reincidente”, “delincuente habitual”, “profesional”, “de tendencias delictivas “ y similares que de repente resurgen en nuestra legislación.35 Encontramos en todos estos casos la reiteración de la tentación común de atenuación o disolución de la estricta legalidad penal para perseguir no tanto por lo que se ha hecho sino por lo que se es. Además, se agrega a la atenuación o disolución de la estricta legalidad la de la estricta jurisdiccionalidad, es decir, una acentuación, hasta los límites, de la arbitrariedad del etiquetamiento y la inquisición del juez, que viene a configurarse según la ocasión como confesor, psicoanalista o terapeuta social, en todos los casos, desvinculado de criterios rígidos y ciertos de calificación y juicio penal, ético y estético, degenerando en juicios “sin verdad” no motivados por juicios de hechos, afirmaciones verificables o refutables sino por juicios no verificables porque en su propia naturaleza no son verdaderos ni falsos y no están basados en procedimientos cognoscitivos expuestos a controles objetivos y racionales, sino basados en decisiones potestativas, confiados en “la sabiduría de los jueces y en la verdad sustancial que ellos poseen.” Es evidente que este modelo de juicio penal potestativo en vez de cognoscitivo, tiene una naturaleza intrínseca autoritaria. Su fundamento es exactamente el inverso del modelo garantista: sin una predeterminación normativa precisa de los hechos que se han de comprobar, el juicio se remite en realidad mucho más a la autoridad del juez que a la verificación empírica de los supuestos acusatorios. Además, su carácter no cognoscitivo ni estrictamente vinculado a la ley contradice su naturaleza jurisdiccional. La estricta legalidad constituye al fin y al cabo, el rasgo distintivo de la jurisdicción penal en el sentido de que de sus pronunciamientos, a diferencia de lo que ocurre en cualquier otra actividad pública, la ley aspira a predeterminar no sólo las formas sino también los contenidos. 9 . CONCL USIONES CONCLUSIONES Lo expuesto es solamente un revisión muy superficial de las características y tendencias que incluyen a los tres modelos, pero sin duda, aún sin profundizar, dejando al margen un poco por remota, la aceptación de un modelo abolicionista. Resulta evidente la pugna y las profundas diferencias en cuanto al carácter y consecuencias de los otros dos modelos garantismo y autoritarismo. La alternativa epistemológica entre los dos modelos -uno estrictamente iuspositvista y el otro tendencialmente iusnaturalista- se manifiesta por cuanto en el distinto tipo de verdad jurídica por ellos perseguida. La verdad a la que aspira el modelo sustancialista del Derecho Penal es la llamada verdad sustancial o material, es decir, una verdad absoluta y omnicomprensiva en orden a las personas investigadas, carente de límites y de confines legales, alcanzable con cualquier medio más allá de rígidas reglas procedimentales. Esa verdad sustancial, al ser perseguida fuera de reglas y controles y sobre todo, de una exacta predeterminación empírica de las hipótesis de indagación; degenera en juicio de valor, ampliamente arbitrario de hecho, así como el cognositivismo ético sobre el cual se basa el sustancialismo penal resulta inevitablemente solidario con una concepción autoritaria e irracionalista del proceso penal. A la inversa, la verdad perseguida por el modelo formalista como fundamento de una condena es, a su vez, una verdad formal o procesal, alcanzada mediante el respeto a reglas precisas y relativa sólo a hechos y circunstancias perfilados como penalmente relevantes. Esta verdad no pretende ser la verdad; no es obtenible mediante indagaciones inquisitivas ajenas al objeto procesal, está condicionada en sí misma por el respeto a los procedimientos y las garantías de defensa. Es el valor y a la vez, el precio del formalismo, que en el derecho y en el proceso penal preside normativamente la indagación judicial, protegiendo la libertad de los ciudadanos precisamente contra la introducción de verdades sustanciales tan arbitrarias como incontrolables. En resumen, la oposición entre garantismo y autoritarismo en el Derecho Penal corresponde a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 75 Emma Mendoza Bremauntz una alternativa entre dos epistemologías judiciales diferentes: entre congnositivismo y decisionismo, entre comprobación y valoración, entre prueba e inquisición, entre razón y voluntad, entre verdad y potestad. Si una justicia penal completamente basada en la verdad constituye una utopía, una justicia penal completamente sin “verdad” equivale a un sistema de arbitrariedad. En algunos momentos como el actual, parecería exagerado exigir el cumplimiento mínimo de los diez requisitos que caracterizan al garantismo penal considerados como garantías del ciudadano contra la arbitrariedad o el error penal. Según este modelo, no se admite ninguna imposición de pena sin que se produzca la comisión de un delito, su previsión por la ley como tal, la necesidad de su prohibición y punición, sus efectos lesivos para terceros, el carácter exterior o material de la acción criminosa, la imputabilidad y la culpabilidad de su autor y además, su prueba empírica llevada por una acusación ante un juez imparcial en un proceso público y contradictorio con la defensa y mediante procedimientos legalmente preestablecidos. Sin embargo, analizadas estas garantías constituyen la única manera de evitar los abusos y desvaríos del autoritarismo que absolutamente fractura la posible existencia de un Estado de Derecho. Con el pretexto del terrorismo, de la lucha 76 contra la delincuencia transnacional, contra el tráfico de drogas, frecuentemente se han reformado leyes penales para endurecer el manejo de la administración de justicia, pero ello constituye un grave peligro de caer abiertamente en el autoritarismo. Tal vez la traducción a un lenguaje más llano de las garantías indispensables para evitar el abuso de poder y la injusticia, verificando su análisis y explicación cuidadosa, poniéndola al alcance de autoridades y población, harían comprensible lo indispensable que resulta optar por un modelo garantista y un estricto cumplimiento de la legislación penal. Y como se mencionó en el inicio del trabajo, considerando que las garantías son la expresión legal de los derechos humanos exigibles internamente, sin eludir las responsabilidades que se tienen como país para incluir en la legislación, especialmente la penal, todos estos derechos reconocidos internacionalmente para ser consagrados, respetados y cumplidos en todo el sistema penal nacional es importante cobrar conciencia de que lo exigible, en principio, es el cumplimiento y respeto de los Derechos humanos y el cumplimiento de las responsabilidades de prevención del delito más que la persecución y la represión salvaje de la delincuencia. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Justicia Penal y Derechos Humanos NOT AS NOTAS 1. Kant, Immanuel, citado por A.I. Melden en Los derechos y las Personas. México, FCE, 1992, (Colección Popular) p. 221. 16. Travieso, Juan Antonio, Derechos humanos y Derecho internacional. Buenos Aires, R.L., 1990, p. 133. 2. Lete del Río, José Manuel,. Derecho de la Persona. Madrid, Tecnos, 2ª ed, 1991, p. 22. 17. Laviña, op. cit. p. 20. 3. Millán Puelles, Antonio, Persona humana y justicia social. Madrid, Rialp, 1962, p. 15. 18. Zaffaroni, Raúl Eugenio, Manual de Derecho Penal. Parte general. México, Cárdenas Editor y Distr., 1994, p. 23. 4. Luna Guerra, Florencia de las Mercedes. Tesis Doctoral Los Derechos Humanos de los reclusos en el sistema penitenciario mexicano. México, ed. mecanográfica, 1998, p.13. 19. Castro y Castro, Juventino, Las garantías constitucionales y la libertad personal que ellas regulan. México, Miguel Angel Porrúa, 1990, p. 6 (Col. Varia Jurídica. Esc. Libre de Derecho) 5. Kant, Immanuel, Fundamentación de la Metafísica de las Costumbres. Madrid, EspasaCalpe, 1932, en Lete del Río, op. cit. p. 23. 20. Zaffaroni, op. cit. p. 30 6. Castán Tobeñas, José, Los Derechos de la personalidad. Madrid, R.G.L.J. Editores, 1952, p. 5. 7. Millán Puelles, Antonio, Persona humana y justicia social. Madrid, Rialp, 1962, p. 13. 8. CNDH, Los derechos humanos de los mexicanos. México Comisión Nacional de Derechos Humanos, 1992, p. 62. 9. Castan Tobeñas, Los. Derechos del hombre. Madrid, Reus, 2ª ed., 1976, p. 9. 21. Terrazas, Carlos R., Los derechos humanos y las sanciones penales. México Instituto Nacional de Ciencias Penales, 1992, p. 59 (Cuadernos INACIPE, 32) 22. Roxin, Claus, Inacción al Derecho penal de hoy. Sevilla, Universidad de Sevilla, 1982, p. 31. 23. Roxin, op. cit. p. 31 y sig. 24. García Ramírez, Sergio, Los derechos humanos y el Derecho Penal. México, Porrúa, 1988, p. 19. 25. Castro y Castro, Porrúa. Cit. p.7. 26. Luna Guerra, op. cit. p.74. 10. Del Vechio, Persona, estado y derecho. citado en Teoría general de los Derechos Humanos. México, UNAM, IIJ, 1989, p. 15. 27. Silva Sánchez, Jesús María, Aproximación al Derecho Penal contemporáneo. Barcelona, Bosch, 1992, pp.14 y 15. 11. Sanchis Prieto, Luis, Estudios sobre Derechos fundamentales Madrid, Debate, 1990, p. 18.. 28. Ibidem. p. 17 12. Idem. 29. Ferajoli , Luigi, Derecho y Razón. Teoría del garantismo penal. Madrid, Trotta, 1995, p. 248. 13. Sepúlveda, Cesar, Estudio sobre derecho internacional y derechos humanos, México, CNDH, Colección Manuales 91/7. p. 18. 30. Fernández Muñoz, Dolores Eugenia, La pena de Prisión. Propuesta para sustituirla o abolirla. México, UNAM, IIJ., 1993, p. 172. 14. Luna Guerra, Florencia, op cit. p.51. 31. Luna Guerra, op. cit. p. 87. 15. Laviña, Félix, Sistemas Internacionales de Protección de los Derechos humanos Buenos Aires, Depalma, 1987, p. 16. 32. Ferrajoli, Luigi, op. cit. p. 39. 33. Zaffaroni, op. cit. p. 286 y sig. 34. Ferrajoli, op. cit. p. 48. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 77 Florabel Quispe Remón 78 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos EL AGOTAMIENTO DE RECURSOS INTERNOS EN LOS SISTEMAS REGIONALES DE PROTECCIÓN DE LOS DERECHOS HUMANOS ••••••••••••••••••••••••••• FLORABEL QUISPE REMÓN Doctoranda en Derecho Internacional de los Derechos Humanos (Universidad Carlos III de Madrid) INTRODUCCIÓN El derecho internacional de los derechos humanos es uno de los sectores del Derecho Internacional contemporáneo donde el fenómeno del regionalismo tiene una presencia más acusada, donde los derechos humanos han alcanzado un mayor desarrollo. La experiencia histórica del sistema interamericano de protección de los derechos humanos hasta la fecha ha demostrado que es posible fortalecer la posición de los particulares en el ámbito internacional a través de órganos de protección de sus derechos. Permitir a un individuo acudir a la justicia a nivel internacional representa una verdadera revolución jurídica. Es el medio jurídico que sitúa en sus justos términos el funcionamiento del sistema internacional de protección a los derechos humanos. Sin embargo, existen ciertos requisitos de admisibilidad para acudir ante un órgano internacional, los cuales deben ser cumplidos por el denunciante al momento de presentar la denuncia. En el presente trabajo abordaremos brevemente uno de estos requisitos –el agotamiento de los recursos internos- en el sistema interamericano de protección de derechos humanos, el cual desde nuestro punto de vista se trata no sólo de una cuestión procesal, planteada como condición de admisibilidad, sino también de una cuestión relacionada a la interacción entre el derecho internacional y el derecho interno en el sistema de protección de derechos humanos. La razón de este requisito es brindar la oportunidad al Estado de poder reparar, en el ámbito de su propio ordenamiento jurídico interno, la supuesta violación de el o los derechos involucrados en el caso, antes de que el órgano internacional pueda pronunciarse sobre la responsabilidad. El trabajo contendrá una referencia a los antecedentes del sistema interamericano de derechos humanos, el agotamiento de recursos internos en el sistema universal, europeo y africano, la regulación de dicho requisito en la Convención Americana de Derechos Humanos o llamada también Pacto de San José de Costa Rica y en el Reglamento de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos. Asimismo, teniendo en cuenta la gran labor de la Corte Interamericana en la protección de derechos humanos mencionaremos alguna jurisprudencia referida al tema materia del presente trabajo. I . ANTECEDENTES DEL SISTEMA AMERICANO El sistema regional americano de promoción y protección de los derechos humanos supone, al igual que el europeo, una forma política común, aceptada como consecuencia de una tradición jurídicamente reconocida por todos los Estados partes en el sistema1. La Convención Americana sobre Derechos Humanos se inspiró en la Europea, su desarrollo ha sido progresivo y ambas se coadyuvan y en ocasiones comparten jurisprudencia. La afirmación de la necesidad de la promoción y protección internacional de los derechos humanos en el sistema interamericano fue la consecuencia de la proclamación de la existencia de una democracia común y solidaria en el continente. Algunos autores señalan que la preocupación por los derechos humanos en América aparece ligada al fenómeno del panamericanismo. Así, la protección de los derechos humanos tiene lugar bajo el impulso de la Organización de los Estados Americanos (OEA), creada el 2 de mayo de 1948 en Bogotá en ocasión de la Novena Conferencia Interamericana, donde los Estados americanos aprobaron dos importantes instrumentos jurídicos en materia de derechos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 79 Florabel Quispe Remón humanos: La Carta de la Organización de los Estados Americanos2, aprobada por unanimidad sin reserva alguna por veintiún países3, y la Declaración Americana de los Derechos y Deberes del Hombre, aprobada en dicha fecha, siete meses antes de la adopción de la Declaración Universal de Derechos Humanos por la Organización de Naciones Unidas. Es preciso mencionar que los instrumentos antes indicados tuvieron importantes antecedentes que fueron adoptados en anteriores reuniones y conferencias interamericanas. Destacaremos alguno de ellos, como la Conferencia Interamericana sobre Problemas de la Guerra y de la Paz que se desarrolló en la ciudad de México en 1945, cuando el mundo se encontraba inmerso todavía en la segunda guerra mundial. Los Estados americanos, que de un modo u otro padecían las consecuencias de la guerra, comenzaron a examinar los problemas de la misma y a prepararse para la Paz. En esta Conferencia se adoptaron, entre otras, dos resoluciones de mucha importancia sobre el desarrollo del sistema interamericano de promoción y protección de los derechos humanos: la Resolución XXVII, sobre libertad de información, y la Resolución XL, sobre la Protección Internacional de los Derechos Esenciales del Hombre. Esta última proclamó “la adhesión de las Repúblicas Americanas a los principios consagrados en el Derecho internacional para la salvaguardia de los derechos esenciales del hombre”, y se pronunció a favor de un sistema de protección internacional de los mismos, señalando en su preámbulo que “para que esa protección sea llevada a la práctica se requiere precisar tales derechos y los deberes correlativos en una Declaración adoptada en forma de Convención por los Estados 4. Esta segunda resolución fue la predecesora de la Declaración Americana. La Conferencia consecuentemente encomendó al Comité Jurídico Interamericano la redacción de un anteproyecto de declaración que debía ser sometido a los gobiernos. También encomendó al Consejo Directivo de la Unión Panamericana “la convocatoria de la Conferencia Internacional de Jurisconsultos Americanos a fin de que la declaración encomendada sea adoptada en forma de convención por los Estados del Continente”. Así el proyecto encargado en 1945, que fue aprobado en 1948 como primer instrumento internacional de su tipo, no se adoptó como Convenio, sino como Declaración Americana de los Derechos y Deberes del Hombre. La Declaración, además de un preámbulo, comprende 38 artículos donde se definen los derechos protegidos, así como los deberes correlativos. Para la Declaración, los derechos del hombre no nacen del hecho de ser nacional de un 80 determinado Estado, sino que tienen como fundamento los atributos de la persona humana, reconociendo los derechos que existían antes de la formación del Estado. Posteriormente, en la Quinta Reunión de Consulta de Ministros de Relaciones Exteriores que se llevó a cabo en Santiago de Chile en 1959, se adoptaron importantes resoluciones respecto al desarrollo y fortalecimiento del sistema, siendo la resolución más importante la referida a “Derechos Humanos”. En ella, se declaró que dados los progresos alcanzados en materia de derechos humanos después de once años de proclamada la Declaración Americana y los avances que paralelamente se experimentaron en el seno de las Naciones Unidas y el Consejo de Europa en la reglamentación y ordenación de la materia, “se halla preparado el ambiente en el hemisferio para que se celebre una convención”. Así, en la Parte I de la resolución se encomendó al Consejo interamericano de Jurisconsultos la elaboración de un proyecto de convención sobre derechos humanos y de un proyecto de convención para la creación de una Corte Interamericana de Protección de los Derechos Humanos. Asimismo, en la Parte II de la resolución mencionada, la Quinta Reunión de Consulta creó la Comisión Interamericana de Derechos Humanos, cuya función sería promover el respeto de los derechos humanos. El Proyecto elaborado por el Consejo interamericano de Jurisconsultos fue remitido al Consejo de la Organización para que estudiara y oyera la opinión de los gobiernos de los países miembros de la organización y de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos (en adelante CIDH). El estudio del proyecto respectivo, junto con las reuniones para su revisión, condujeron a que el Consejo de la OEA convocara a una Conferencia Especializada Interamericana sobre Derechos Humanos, la cual se llevó a cabo en San José de Costa Rica del 7 al 22 de noviembre de 1969. Sobre la base de las observaciones realizadas, la Conferencia aprobó el texto de la Convención Americana sobre Derechos Humanos (en adelante CADH), que también se acordó denominarla como Pacto de San José de Costa Rica, el cual enriquece de manera sustantiva la Declaración Americana de los Derechos y Deberes del Hombre. El Pacto de San José reconoce derechos llamados de primera generación (civiles y políticos), e incluye algunos que no están establecidos en el Convenio Europeo de Derechos Humanos (en adelante CEDH), como el derecho de rectificación y reparación por denegación de justicia, el derecho al nombre y a la nacionalidad o los derechos del ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos niño. Aunque permite la suspensión de las obligaciones en el supuesto de guerra, de peligro público o de otra emergencia que amenace la independencia o seguridad de los Estados partes, pero también reconoce la existencia de derechos inderogables, de “ius cogens” 5, derechos que constituirían el núcleo duro de los derechos y bajo ninguna circunstancia pueden ser suspendidos (art.27.2 CADH) 6. Es preciso indicar que la Convención refuerza los organismos de protección de los derechos humanos al crear una Corte Interamericana de Derechos Humanos, que viene a ser un órgano jurisdiccional “stricto sensu”7 que tiene competencia contenciosa y consultiva8. Finalmente, cabe indicar que en los últimos años se han ido aprobando Protocolos adicionales a la Convención Americana, sean relativos a los derechos económicos, sociales y culturales (1988) y a la abolición de la pena de muerte (1990). Asimismo, se han aprobado convenios de protección de alcance sectorial, como la Convención Interamericana para prevenir y sancionar la Tortura de 1989, la Convención interamericana sobre la desaparición forzada de personas de 1994, la Convención Interamericana para prevenir, sancionar y erradicar la violencia contra la mujer, de 1994 y la Convención para la eliminación de todas las formas de discriminación, de 1999. I I . AGOT AMIENTO DE RECURSOS AGOTAMIENTO INTERNOS EN LOS SISTEMAS UNIVERSAL, EL EUROPEO EUROPEO,, Y EL AFRICANO a. Sistema universal La Declaración Universal de los Derechos Humanos, adoptada por la Asamblea General de Naciones Unidas el 10 de diciembre de 1948, junto con el Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y Culturales y el Pacto internacional de Derechos Civiles y Políticos, con los dos Protocolos facultativos de este último, conforman la conocida como Carta Internacional de los Derechos Humanos, que describe el reconocimiento y protección de los derechos humanos. No obstante, como la Declaración Universal fue aprobada mediante un instrumento cuyo valor jurídico no era obligatorio, hoy en día la gran mayoría de los derechos que contiene tienen naturaleza jurídica consuetudinaria y alcance “erga omnes”, por lo que su respeto y cumplimiento es exigible a todos los Estados. Los contenidos de la Declaración Universal tienen un valor programático de gran impacto dentro y fuera del Sistema de las Naciones Unidas. Esto se observa en la continua referencia a la Declaración en otros pronunciamientos, en las resoluciones de la Asamblea General, y de otros órganos de la ONU. Lo mismo se puede decir de la adopción en otros sistemas. Esta permanente invocación a la Declaración, por organizaciones internacionales o por los Estados, ha ido conformando la convicción sobre la obligación de respetar y hacer efectivos los derechos contenidos en ella. Se ha convertido así en la inspiradora y propulsora de la protección y promoción de los derechos humanos a escala internacional, y en un estándar internacional para medir el grado de respeto de los derechos humanos. Dentro de las Naciones Unidas existen procedimientos convencionales y extra convencionales que protegen los derechos humanos. Entre los primeros se encuentra el Comité de Derechos Humanos, que puede verse facultado para conocer comunicaciones de particulares que aleguen ser víctimas de violaciones o derechos reconocidos por el Pacto de Derechos Civiles y Políticos, cumpliendo para ello los requisitos establecidos, como el agotamiento de los recursos internos. Dentro de los procedimientos extra-convencionales (Resol. 1235 y Resol. 1503), está la Comisión de los Derechos Humanos, que a partir de 1967 puede conocer las comunicaciones de los particulares relativas a violación de derechos humanos. Las comunicaciones no se toman en cuenta por si mismas, sino en cuanto contribuyan a definir una situación manifiesta de violación sistemática de derechos humanos. Por consiguiente, el objeto del control es la situación y no los supuestos individuales de violación, donde no cabe dar respuesta a denuncias concretas, excepto detenciones arbitrarias y acciones urgentes. En estos procedimientos, se exige el agotamiento de recursos internos únicamente cuando éstos son ágiles y eficaces; caso contrario, la Comisión muestra cierta flexibilidad e inicia la investigación de lo ocurrido sin tener en cuenta el agotamiento de los recursos internos como requisito de admisibilidad. b. Sistema europeo El continente europeo ha sido uno de los principales actores de internacionalización de los derechos humanos, pues se institucionaliza el primer sistema de protección a partir de la adopción por el Consejo de Europa de la Convención Europea para la Protección de los Derechos Humanos y las Libertades Fundamentales de 1950, instrumento adoptado por los Estados miembros del Consejo de Europa en Roma, el 4 de noviembre de 1950 y cuya sede se encuentra en Estrasburgo, Francia. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 81 Florabel Quispe Remón Se encuentra en intima relación con la protección de un conjunto de valores entre los que ocupan un lugar central la democracia y la garantía de los derechos humanos. Pese a incluir diversos derechos, se ven además completados con dos derechos de orden procesal que se conciben como garantías globales del sistema, a saber: a) el principio de la no discriminación en el disfrute de los derechos, y b) el derecho de interponer recursos ante la jurisdicción nacional para defender cualquiera de los derechos reconocidos. Establece un sistema de control en el que se incluye la petición individual en su artículo 34, cuando señala que el Tribunal podrá conocer de una demanda presentada por cualquier persona física, organización no gubernamental o grupo de particulares que se considere víctima de una violación por una de las Altas Partes Contratantes, de los derechos reconocidos en el Convenio o sus Protocolos. Con la entrada en vigor del Protocolo 11 el 1 de noviembre de 1998, la Corte Europea de Derechos Humanos tiene competencia para recibir y examinar peticiones individuales que contengan denuncias de violaciones de derechos consagrados en la Convención por cualquiera de los Estados partes, sin necesidad de ninguna declaración adicional por parte de los Estados. El individuo que recurre ante el Tribunal debe cumplir condiciones de admisibilidad (art. 35), entre ellas el agotar las vías internas, tal como se entiende según los principios de derecho internacional generalmente reconocidos y en el plazo de seis meses, a partir de la fecha de la resolución interna definitiva. (Art.35.1). Finalmente, cabe señalar que en el sistema europeo el derecho de petición individual se encuentra limitado por la exigencia de que el peticionario sea la víctima de la supuesta violación. En este aspecto el Sistema Interamericano es mucho más amplio. c. Sistema africano Es el sistema regional menos desarrollado comparativamente con los otros dos sistemas. El organismo básico es la Organización para la Unidad Africana (OUA), creada en 1963, que proclama el derecho a la libre determinación de los pueblos, instrumento necesario en el proceso de descolonización que se vivía en aquellos años. La existencia del Estado como el único baluarte y agente del sistema, significa una fuerte estatalización de los modelos de actuación y toma de decisiones que se proyecta incluso en el plano de los derechos humanos, con consecuencias muy negativas. De forma que la OUA no ha podido reaccionar frente a 82 graves violaciones de derechos humanos que de forma masiva y sistemática han venido azotando al continente africano, llegando en muchos casos a guardar silencio sobre la base del principio de nointervención en los asuntos internos de los Estados. Frente a este hecho surge la Carta Africana de los Derechos del Hombre y de los Pueblos, adoptada el 26 de junio de 1981 y que entró en vigor el 21 de octubre de 1996. Concebida como instrumento básico de la OUA para la promoción y protección de los derechos humanos, su característica es ser fuertemente colectivista y comunitaria, pues establece un paralelismo absoluto entre los derechos reconocidos al individuo y los deberes que se le imponen en tanto miembro de la comunidad. Cabe señalar también el reducido papel atribuido al mecanismo de protección, en el cual la denuncia individual ocupa un lugar marginal, y cuya eficacia depende de un órgano político: la Asamblea de Jefes de Estado o de Gobierno. El sistema africano cuenta con una Comisión Africana de Derechos Humanos y los Pueblos, órgano creado para promover los derechos humanos y de los pueblos y asegurar su protección en África. Conforme a la Carta, esta Comisión ejerce sus funciones de forma confidencial. Empero, su reglamento interno ha introducido una modificación que le permite celebrar sesiones públicas, salvo cuando analiza denuncias de presunta violación de derechos humanos. La principal competencia de la Comisión es la calificación de las denuncias intergubernamentales que se presenta por un Estado parte contra otro, y que debe cumplir ciertos requisitos establecidos, fundamentalmente agotar los recursos internos previamente en el Estado denunciado. Por su parte, la Comisión ejerce sus funciones de control conforme a un procedimiento contradictorio y a puerta cerrada y elabora un informe en el que constarán los hechos y las conclusiones sobre la presunta violación, incluyendo recomendaciones dirigidas a la Asamblea sobre medidas a adoptar. El informe es confidencial y sólo es público si la Asamblea de Jefes de Estado o de Gobierno así lo decide. Otra función, asumida en la práctica, es el control consistente en el estudio de las otras comunicaciones distintas a las presentadas por los Estados, entre las que se incluyen las denuncias individuales, que no están expresamente reconocidas en la Carta Africana. Estas comunicaciones están sometidas a condiciones de admisibilidad más rigurosas que las interestatales, pero no precisan el agotamiento de recursos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos internos. Faúndez Ledesma señala que la Carta Africana de los Derechos Humanos y de los Pueblos, a pesar de ser mucho más reciente que cualquiera de los otros dos sistemas regionales, y permitir el examen de comunicaciones procedentes de fuentes distintas a los Estados, no consagra el derecho de petición individual como medio de garantizar los derechos reconocidos en la misma. Simplemente, ésta contempla un procedimiento no compulsivo semejante al previsto en la Resolución 1503 del Consejo Económico y Social de la ONU, que le permite a la Comisión decidir discrecionalmente qué comunicaciones procedentes de fuentes no estatales serán consideradas. I I I . EL AGOT AMIENTO DE AGOTAMIENTO RECURSOS INTERNOS EN EL SISTEMA INTERAMERICANO El sistema regional americano de protección de los derechos humanos no puede comprenderse si no se le relaciona con el sistema universal en la materia. Universalismo y regionalismo en materia de protección internacional de los derechos humanos no son formas antitéticas u opciones contrapuestas, sino fórmulas que deben coordinarse y armonizarse en función del objetivo de lograr el imperio del derecho y la mejor defensa y garantía de los derechos humanos 9. Esta coordinación se presenta con mucha frecuencia entre los sistema regionales, especialmente entre el sistemas americano y europeo de protección de los derechos humanos, donde en ocasiones la jurisprudencia europea es recogida por la americana y viceversa. Cómo se ha mencionado, el sistema interamericano de protección de los derechos humanos, respecto a los aspectos institucionales y a los medios de garantía establecidos en la Convención de 1969, cuenta con la Comisión y la Corte Interamericana de Derechos Humanos. La primera tiene competencia bajo la Carta de la OEA, la Declaración Americana de los Derechos y Deberes del Hombre y la Convención Americana Sobre Derechos Humanos (en adelante CADH), es el órgano que tiene el primer contacto con el individuo cuyo derecho presuntamente ha sido violado, es el órgano protector de los derechos humanos de la Convención y de la Organización de los Estados Americanos(en adelante OEA), ello le faculta para actuar incluso en contra de Estados que no están sometidos a la jurisdicción de la Corte; su competencia es cuasi jurisdiccional. La segunda tiene competencia bajo la CADH, y conoce de casos que los Estados Partes10 y la Comisión le someten, en los cuales el individuo es parte procesal; sin embargo, el derecho aplicable no se limita a la Convención, sino a los demás tratados que otorgan competencia a la Corte, su competencia es jurisdiccional. Ambos son los encargados de la protección de los derechos humanos en el Sistema Interamericano11. Los mecanismos de garantía son tres: a) los informes periódicos presentados por los Estados, b) las comunicaciones o denuncias intergubernamentales y c) las denuncias de particulares. A efectos de llegar al tema materia de análisis nos detendremos en el último, las denuncias individuales, figura a la que el profesor Antônio Cançado Trindade define como el mecanismo de protección internacional más dinámico, al atribuir la iniciativa de acción al propio individuo (la parte ostensiblemente más débil frente al poder público), a diferencia del ejercicio ex oficio de otros métodos (como investigaciones e informes) por parte de los órganos de supervisión Internacional, y el que mejor refleja la especificidad del derecho internacional de los derechos humanos, en comparación con otras soluciones propias del derecho internacional público. Las denuncias individuales son obligatorias para los Estados partes que pueden ser denunciados ante la Comisión por cualquier persona, grupo de personas u organización no gubernamental legalmente reconocida, conforme lo dispone el artículo 44 de la CADH, y constituyen la técnica de control por excelencia en el sistema convencional interamericano. El acceso del individuo a los mecanismos de protección, el derecho de permitir al individuo acudir y participar ante un órgano internacional es una conquista definitiva del derecho Internacional de los derechos humanos, es la piedra angular y constituye la mejor garantía que pueden tener las personas de que sus derechos serán reconocidos y respetados, es una renovación del derecho internacional –en el sentido de su humanización– abriendo una gran brecha en el dominio reservado de los Estados o competencia nacional exclusiva, definitivamente sobrepasada. El individuo es elevado así a la categoría de sujeto en el derecho internacional, dotado de capacidad procesal12, este logro ha sido producto de una lucha constante y hoy en día no cabe duda que dentro del continente americano el individuo cada vez tiene mayor participación13 ante la Corte Interamericana de Derechos Humanos (en adelante CIDH), y la jurisprudencia de esta Corte es cada día más innovadora, progresista y acorde a la realidad. De lo dicho anteriormente tenemos que existe la legitimatio ad causam de los peticionarios ante instancias internacionales, y para el caso del sistema interamericano dicha petición se realiza ante la ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 83 Florabel Quispe Remón Comisión, órgano encargado de resolver sobre la admisión de las demandas de Estados contra Estados y de particulares contra Estados. El procedimiento que deben seguir ante la Comisión es el mismo para ambos: la Comisión primero establece su competencia para conocer el caso y seguidamente la admisibilidad del caso que se le ha sometido, estudiando el cumplimiento de los requisitos, entre ellos, el agotamiento de recursos internos. La Comisión actúa como un filtro para realizar una primera selección de aquellos casos, que en su opinión tienen un fundamento sustentado y merecen ser examinados por ella misma. Sin embargo, ni la Convención ni el Reglamento de la Comisión prevén la adopción de una decisión sobre la apertura del caso, como un requisito indispensable antes de dar curso a la petición. Al precisar las condiciones de admisibilidad, no indican en qué momento la Comisión debe pronunciarse sobre la admisibilidad de la petición (Art.46). En otros términos, no hay disposiciones que prevean la existencia de dos etapas del procedimiento: una sobre el examen de la admisibilidad y la otra sobre el examen de fondo. Pero sí se hace referencia a la inadmisibilidad en el artículo 47 de la CADH, cuando dispone que la Comisión declarará inadmisible toda petición o comunicación que no reúna las condiciones establecidas. Este hecho permite que la Comisión considere a veces la admisibilidad de la petición o comunicación conjuntamente con la cuestión de fondo que ella plantea. Para que la petición o comunicación pueda ser admitida como trámite, la Comisión debe establecer, en forma expresa o tácita, la presencia de los requisitos exigidos antes de dar curso a dicha petición, pero puede excepcionalmente sufrir una modificación.14 Dentro de los requisitos que la Convención establece para que la Comisión conozca un caso y sea admisible, se requiere que previamente se hayan interpuesto y agotado los recursos de jurisdicción interna. El artículo 61.2 de la CADH señala claramente: para que la Corte pueda conocer un caso necesita que sean agotados ante la Comisión los procedimientos previstos en los artículos 48 a 50 de la convención y condiciona la posibilidad de ejercer, por su parte, la competencia contenciosa. Pero como, a su vez, la Comisión no puede admitir una petición o comunicación sin que se hayan agotado los recursos de jurisdicción interna, resulta que estos dos extremos determinan la posibilidad de la actuación de la Corte y son así condiciones de admisibilidad de un caso a la Corte Interamericana. La propia Corte los ha denominado “presupuestos procesales”. 84 El agotamiento de los recursos internos encuentra sus antecedentes en el derecho internacional clásico, como parte de la institución del amparo diplomático, que permite al Estado hacer suyas las reclamaciones de sus nacionales en contra de terceros Estados. Sin embargo, la intervención del Estado sólo es posible después que el individuo haya agotado los recursos de jurisdicción interna, momento en que surgirá la responsabilidad internacional del Estado infractor. En el contexto de la Convención Americana, el agotamiento de los recursos internos o locales se propone evitar el sometimiento a una jurisdicción internacional de casos que podrían ser resueltos en instancia nacional. En tanto se logre solucionar un caso a nivel nacional, dichas violaciones no podrán ser consideradas como violaciones del derecho internacional de los derechos humanos. Así, este requisito debe ser considerado como una cuestión subsidiaria a ser ejercida en casos donde las garantías de protección de los derechos humanos sean ineficaces o inadecuadas en el ámbito nacional. La Comisión en ningún caso reemplaza los sistemas jurídicos penales, civiles o administrativos de los Estados miembros de la OEA. El agotamiento de los recursos internos permite que el Estado, antes de verse envuelto en un proceso internacional, pueda remediar con sus propios medios la o las violaciones ocurridas dentro de su jurisdicción; y a la vez obliga a los Estados partes en la Convención a suministrar protección judicial a través de recursos efectivos a las víctimas (Art.25) para resolver el problema según su derecho interno. El agotamiento de los recursos internos puede percibirse también como un beneficio del individuo, en cuanto a un más eficiente funcionamiento del sistema jurídico del Estado que puede garantizarle una pronta reparación del derecho cuya violación se alega, y no como una medida dilatoria o un mero privilegio a disposición del Estado15. En la práctica este requisito plantea dificultades y genera más controversia en cuanto a la interpretación de su naturaleza, alcance y efectos. Porque, a pesar de que la Comisión es bastante flexible respecto al cumplimiento del requisito de la materia de análisis, no es fácil determinar cuáles son esos recursos, y hasta dónde se pueden considerar agotados ya que ello dependerá del contexto en que suceden los hechos. Al margen de que el deber del Estado de proporcionar recursos locales constituya una ventaja para el individuo, la cuestión fundamental que plantea el agotamiento previo de los recursos internos es definir si éste es un requisito o condición de admisibilidad de la ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos petición o si, por el contrario, es un derecho del Estado que puede, por lo tanto, ser renunciado por el Estado interesado en hacerlo valer16. Asimismo, en la práctica, respecto a la competencia de quién debe conocer sobre el agotamiento de recursos internos se observa que la Corte también conoce al respecto, a pesar de que la Convención otorga competencia a la Comisión sobre la admisibilidad de las peticiones. Respecto al ejercicio de la competencia contenciosa de la Corte con relación al agotamiento de los recursos internos, Faúndez Ledesma se plantea dos cuestiones. Primero: saber si un Estado puede renunciar al agotamiento de los recursos para que su caso pueda ser considerado por la Comisión y luego por la Corte. Segundo: si la Corte puede, en la etapa procesal en que ella actúa, revisar el criterio de la Comisión respecto al agotamiento de los recursos internos, o si está ligada necesariamente por el pronunciamiento de la Comisión al respecto. Referente al primer punto, sostiene que el Estado puede renunciar válidamente a exigir que se hayan agotado los recursos internos para que la Comisión, y luego la Corte, puedan llegar a conocer de un caso. La regla del agotamiento de los recursos internos está impuesta en interés del Estado, ya que busca dispensarlo de responder ante un órgano internacional por actos que se le imputan antes de haber tenido la ocasión de remediarlos por sus propios medios. Es un medio de defensa y, como tal, renunciable. Producida la renuncia, ésta es irrevocable. En lo que respecta al segundo punto, considera que la Corte tiene el poder de revisar la decisión de la Comisión sobre el agotamiento de los recursos internos. Sería ilógico disponer que el agotamiento de estos recursos sea un requisito de admisibilidad de cualquier caso ante la Corte y negarle a este órgano jurisdiccional la competencia para decidir sobre el asunto17. A efectos de aclarar los puntos mencionados, haremos alusión a algunas características de los recursos internos a los que hace referencia el Art. 46 de la Convención que en la letra a) de su párrafo primero requiere que se hayan agotado los recursos de la jurisdicción interna conforme a los principios de Derecho Internacional generalmente reconocidos. Los recursos a los que se refiere son los de jurisdicción interna, cuyo conocimiento corresponde a la autoridad judicial conforme a los procedimientos pre-establecidos y cuyas decisiones poseen fuerza ejecutoria. Debe quedar claro que no se trata de agotar todos los medios de reparación disponibles bajo la jurisdicción del Estado, sino solamente los judiciales. Al respecto, la Comisión Interamericana de Derechos Humanos en el caso peruano Loayza Tamayo recalcó que el agotamiento versa exclusivamente sobre recursos jurisdiccionales 18 . A juicio de la Corte Interamericana, esos principios a los que hace mención el Art. 46 no se refieren sólo a la existencia de tales recursos, sino que, como se infiere de las excepciones señaladas en el párrafo 2 del artículo mencionado, a que éstos sean adecuados y efectivos. Entiende la Corte por recursos adecuados: “que la función de esos recursos, dentro del sistema del derecho interno, sea idónea para proteger la situación jurídica infringida. En todos los ordenamientos internos existen múltiples recursos, pero no todos son aplicables en todas las circunstancias. Si, en un caso específico, el recurso no es adecuado, es obvio que no hay que agotarlo. Así lo indica el principio de que la norma está encaminada a producir un efecto y no puede interpretarse en el sentido de que no produzca ninguno o su resultado sea manifiestamente razonable”. Además de que sean adecuados, requiere la Corte Interamericana que los recursos internos cuyo agotamiento previo se demanda sean efectivos, vale decir, capaces de producir el resultado para el que han sido concebidos. En opinión de la Corte un recurso puede volverse ineficaz si se le subordina a exigencias procesales que lo hagan inaplicable. En efecto, en situaciones antidemocráticas será difícil utilizar los recursos internos, e intentarlo o lograr cumplir con ese requisito será un imposible. La exigencia del agotamiento de recursos internos como requisito de admisibilidad da testimonio de la interacción entre el derecho internacional y el derecho interno en el contexto de protección de los derechos humanos, orientado esencialmente hacía las víctimas, y dirigido a los derechos de los seres humanos y no de los Estados. Asimismo, se advierte el carácter variable de la exigencia de agotar recursos internos, según los casos. Existen resoluciones que han declarado que los actos relatados en los casos constituyen prima facie violaciones de derechos humanos, o han decidido archivar los casos hasta que se conocieran los resultados de las investigaciones en curso. La Comisión ha demostrado que aquel requisito de admisibilidad no es sacrosanto, inmutable o absoluto, y ha sido aplicado -a la luz del criterio de la eficacia de los recursos internos- con mucha más flexibilidad en el contexto de protección internacional de los derechos humanos. Aquí los recursos internos forman parte integrante del propio sistema de protección internacional de los derechos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 85 Florabel Quispe Remón humanos, con énfasis en el elemento de reparación y no en un agotamiento mecánico de recursos19 . La Corte Interamericana, se pronunció en muchas oportunidades sobre casos referentes al agotamiento interno de recursos, así, en un asunto20 donde el gobierno de Costa Rica dirigió una petición a la Corte para determinar si había habido violación de los derechos humanos consagrados en la Convención Americana en el caso de la muerte de Viviana Gallardo en una prisión y de las lesiones sufridas por sus compañeras de celda, y para tal efecto el gobierno de Costa Rica había renunciado formalmente al procedimiento ante la Comisión y al requisito previo de agotamiento de recursos internos de la jurisdicción interna. Señaló la Corte primero: Respecto al procedimiento ante la Comisión, que no había sido concebido en interés exclusivo del Estado y no era renunciable. Respecto al agotamiento de la jurisdicción interna, recordó que de acuerdo con la jurisprudencia internacional y según los principios del derecho internacional generalmente reconocido y la práctica internacional, la regla que exige el agotamiento previo de los recursos internos está concebida en interés del Estado, pero busca dispensarlo ante un órgano internacional por actos que se le imputen, antes de haber tenido la ocasión de remediarlos con sus propios medios. Se le ha considerado así como un medio de defensa y como tal, renunciable, aún de modo tácito. La cuestión de saber si se habían cumplido los requisitos de admisibilidad de una petición ante la Comisión, corresponde a la Comisión-añadió la Corte-, es un tema que concierne a la propia interpretación o aplicación de la Convención (artículos 46-47) y, por ello, de competencia ratione materie de la Corte. En el caso concreto le correspondía, en principio, a la Comisión pronunciarse en primer lugar, y como esto no había ocurrido, la Corte, evitó pronunciarse acerca del alcance y valor de la renuncia del gobierno de Costa Rica a la regla del previo agotamiento de recursos internos21. La demanda no fue admitida y el caso fue remitido para examen de la Comisión, sin que ello pudiese interpretarse como una decisión de la Corte acerca de la competencia de la Comisión. En otro caso22 el Estado objetó que la petición había sido recibida por la Comisión cuando aún estaba pendiente un proceso penal contra las supuestas víctimas. La Corte, al respecto, señaló que, si bien la Comisión recibió la denuncia cuando el procedimiento se hallaba pendiente de resolución definitiva ante la justicia militar, la mera presentación de aquélla no motivó que la Comisión iniciara el trámite del asunto. Observa que el trámite comenzó varios meses después de la presentación 86 de la denuncia, cuando ya existía sentencia definitiva del órgano de justicia militar de última instancia, y fue entonces cuando la Comisión hizo saber al Estado la denuncia presentada, para que pudiera ejercer su defensa. La Corte ha advertido que hay una diferencia entre la mera presentación de la denuncia ante la Comisión y el inicio del trámite ante ella, señalando que, en rigor, “no debiera confundirse el recibo de una denuncia, que deriva de un acto del denunciante, con la admisión y tramitación de aquella, que se concreta en actos específicos de la Comisión, como lo es la resolución que admite la denuncia, en su caso, y la notificación al Estado en su caso”. La Corte agregó que, al no alegar ante la Comisión, el Estado peruano, la falta de agotamiento de los recursos internos, el Estado está prescindiendo de un medio de defensa que la Convención establece en su favor. EXCEPCIONES: La Convención hace una excepción a la regla en aras de proteger de una manera efectiva los derechos humanos y teniendo en cuenta las diversas circunstancias que puedan surgir en un determinado momento e impidan realmente ejercer los derechos en el ámbito nacional, la Convención hace tres excepciones a la regla del agotamiento de recursos internos (Art.46.2). Tales excepciones están relacionadas con la idoneidad y eficacia que, según la Corte, deben presentar los recursos internos: A) Si en la legislación interna del Estado de que se trata no existe el debido proceso legal para la protección del derecho o derechos que se alega han sido violados. Al respecto, la Comisión se ha pronunciado en diversos casos eximiendo a los peticionarios del deber de agotar los recursos internos pues resultaba a todas luces evidente que los peticionarios no habían podido lograr una protección efectiva de los organismos jurisdicciones internas por la inexistencia del Estado de derecho, o pronunciándose sobre la 23 no-existencia de legislación interna. B) Si no se ha permitido al presunto lesionado en sus derechos el acceso a los recursos de la jurisdicción interna, o si se le ha impedido agotarlos. En lo que se refiere a la imposibilidad de agotar los recursos internos, ésta puede ser provocada por terceros o de carácter económico. Al respecto, tanto la Comisión como la Corte se han pronunciado. La Comisión declaró admisibles casos en los que se encomendó a la policía militar la investigación de hechos en los ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos cuales se acusaba al núcleo militar de perpetrar las violaciones denunciadas. Es lógico pensar en la falta de voluntad de los investigadores del caso cuando son jueces y partes. En todo caso, la ausencia voluntaria del territorio del Estado por parte del peticionario no podría, por sí sola, esgrimirse como una circunstancia que le impide el agotamiento de los recursos internos24. La naturaleza especial de los tratados e instrumentos de derechos humanos, los imperativos de protección de la persona humana, la naturaleza y gravedad de ciertas violaciones de derechos humanos, constituyen importantes factores que han sido correctamente tenidos en consideración por los órganos de supervisión internacionales con el fin de evitar consecuencias injustas y asegurar con este propósito una aplicación necesariamente flexible de la regla de los recursos internos en el presente contexto25. En una Opinión Consultiva la CIDH26, ha reiterado que el artículo 1 de la Convención obliga a los Estados Partes no solamente a respetar los derechos y libertades reconocidos en ella, sino a garantizar su libre y pleno ejercicio a toda persona sujeta a su jurisdicción. Esta disposición contiene un deber positivo para los Estados. Garantizar implica la obligación del Estado de tomar todas las medidas necesarias para remover los obstáculos que puedan existir para que los individuos puedan disfrutar de los derechos que la Convención reconoce27. En esta opinión consultiva la Corte observó que el artículo 46.2 de la Convención Americana no hacía ninguna referencia a si el requisito se aplicase a un indigente que, en razón de circunstancias económicas es incapaz de hacer uso él mismo de los recursos internos, y si el requisito del agotamiento se aplicaría a un peticionario individual que por el temor generalizado de los abogados para representarlo legalmente, no puede hacer uso de los recursos internos. En cuanto al primer punto, la posición de la Corte fue que si la asistencia legal era necesaria para proteger eficazmente un derecho garantizado por la Convención y el peticionario era incapaz de obtener tal asistencia en razón de su indigencia, estaba dispensado del requisito de agotamiento interno de los recursos internos28; respecto al segundo punto la Corte sostuvo que los mismos principios básicos aplicables al primer punto también regían la situación en que un individuo era incapaz de obtener la asistencia legal necesaria debido a una situación de temor generalizado que llevaba a los abogados a no aceptar casos que a su juicio pondrían en riesgo sus vidas. De este modo, si una persona era impedida, por esta razón, de hacer uso de los recursos internos para vindicar un derecho garantizado por la Convención, tampoco se le podría exigir el agotamiento de los recursos internos, sin perjuicio de la carga de la prueba en caso de que el Estado demuestre la disponibilidad de los recursos internos. Es decir, si un Estado prueba la disponibilidad de recursos internos, corresponde al reclamante demostrar que se aplicaban las excepciones del artículo 46.2 y que se vio impedido de obtener la asistencia legal necesaria para la protección de los derechos reconocidos en la Convención. C) Si hay retardo injustificado en la decisión sobre los mencionados recursos. Realmente, es difícil definir los criterios que permiten asumir un retardo injustificado. Empero, la Comisión, como con otros requisitos y excepciones de agotamiento de los recursos internos, se pronuncia de acuerdo a cada caso concreto valorando las circunstancias particulares del mismo. En muchos casos, la Comisión ha eximido de agotar los recursos de la jurisdicción interna cuando la investigación interna del caso haya sufrido un retardo injustificado. Al respecto, es preciso señalar que para cada proceso existen plazos prudenciales dentro del sistema nacional, y si estos se han excedido en demasía, se puede entender como retardo injustificado. Es evidente la existencia de estos casos en países anti democráticos, donde se “impide” al agraviado acudir a una instancia internacional para vindicar sus derechos conculcados. Otro aspecto importante es definir a quién corresponde la carga de la prueba, quién debe probar la existencia de recursos internos, su eficacia y su agotamiento. Se tiene de la práctica de la Comisión, que puede solicitar información tanto al gobierno reclamado o a los particulares reclamantes o a ambos. Así, la carga de la prueba corresponde a ambos. En caso de que el reclamante sostenga haber agotado los recursos internos sin éxito por la inexistencia de los recursos, al momento de presentar la denuncia o por la ineficacia de ésta, el autor de la misma no tiene que presentar evidencia concluyente del agotamiento previo de los recursos internos. Por el contrario, si el Estado alega que no se han agotado los recursos internos, le corresponde demostrar tanto la existencia como la eficacia de los recursos29 cuya aplicabilidad sostiene. La falta de respuesta del Estado a las solicitudes de información formuladas por la Comisión, en el curso de la tramitación, permite presumir la no existencia de recursos qué agotar. Para la Corte Interamericana, el agotamiento de los recursos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 87 Florabel Quispe Remón internos no es, en principio, un requisito cuya concurrencia debe comprobar la Comisión, sino que tiene que ser alegado por el Estado, indicando cuales son los recursos que deben ser agotados. De la experiencia de la Comisión se tiene que el momento para que un Estado plantee la excepción de falta de agotamiento de recursos internos es ante la Comisión. De no hacerlo, se considera que el Estado ha renunciado tácitamente a hacerlo, ya que posteriormente no podrá plantearlo. Al respecto, existe jurisprudencia que deja claro que la excepción de no agotamiento de recursos internos, debe plantearse, para que sea oportuna, en la etapa de la admisibilidad del procedimiento ante la comisión, antes de cualquier consideración referido al fondo; de no ser así, existe la presunción de que el Estado renuncia tácitamente a valerse de ella30 Así como señalamos que el Estado debe probar la existencia de recursos internos, también la Corte dice que en el caso en que el Estado prueba la existencia de recursos internos que pudieron haber sido agotados, la carga de la prueba se invierte y corresponde al denunciante demostrar que esos recursos fueron agotados o que el caso se encuentra dentro de las excepciones del artículo 46.2 de la Convención. Faúndez Ledesma señala que conviene observar que una aplicación rigurosa e inflexible de estos criterios podrá anular la eficacia de las peticiones internacionales como último recurso para proteger los derechos consagrados en la Convención. IV V.. REGUL ACIÓN DEL REQUISITO DE AGOT AMIENTO EN LLA A AGOTAMIENTO CONVENCIÓN INTERAMERICANA Y EN EL REGL AMENTO DE L A COMISIÓN El artículo 46 de la Convención Americana de Derechos Humanos señala que, para que una petición o comunicación presentada conforme a los artículos 44 ó 4531 sea admitida por la Comisión exige que se hayan interpuesto y agotado los recursos de jurisdicción interna, conforme a los principios del Derecho Internacional generalmente reconocidos; que sea presentado dentro del plazo de seis meses, a partir de la fecha en que el presunto lesionado en sus derechos haya sido notificado de la decisión definitiva; que la materia de la petición o comunicación no esté pendiente de otro procedimiento de arreglo internacional, y que en el caso del artículo 44 la petición contenga el nombre, la nacionalidad, la profesión, el domicilio y la firma 88 de la persona o del representante legal de la entidad que somete la petición. El artículo 46.2 se refiere a las excepciones estudiadas en el punto anterior: Las disposiciones de los incisos 1.a. y 1.b. del presente artículo no se aplicarán cuando: 1. no exista en la legislación interna del Estado de que se trata el debido proceso legal para la protección del derecho o derechos que se alega han sido violados; 2. no se haya permitido al presunto lesionado en sus derechos el acceso a los recursos de la jurisdicción interna, o haya sido impedido de agotarlos, y 3. haya retardo injustificado en la decisión sobre los mencionados recursos RESPECTO A LLAS AS PETICIONES EL REGL AMENTO DE LLA A COMISIÓN REGLAMENTO INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS SEÑAL A: Que las peticiones dirigidas a la Comisión solicitando su atención respecto a un caso, deberán contener el nombre, nacionalidad, profesión u ocupación, dirección postal o domicilio y la firma de la persona o personas denunciantes; o en el caso de que el peticionario sea una entidad no gubernamental, su domicilio o dirección postal, el nombre y la firma de su representante o representantes legales; se exige también una relación del hecho o situación que se denuncia, especificando el lugar y fecha de las violaciones alegadas, y si es posible, el nombre de las víctimas de las mismas, así como de cualquier autoridad pública que haya tomado conocimiento del hecho o situación denunciada; por otra parte es preciso la indicación del Estado aludido que el peticionario considera responsable, por acción u omisión, de la violación de alguno de los derechos humanos consagrados en la Convención Americana sobre Derechos Humanos, en el caso de los Estados partes en ella, aunque no se haga una referencia específica al artículo presuntamente violado, y una información sobre la circunstancia de haber hecho uso o no de los recursos de jurisdicción interna o sobre la imposibilidad de hacerlo, este último requisito para efectos de que la Comisión decida la aplicación o no de las excepciones. El artículo 35 hace referencia a las cuestiones preliminares, donde la Comisión seguirá con el examen del caso, pronunciándose, ya sea señalando el agotamiento de los recursos de jurisdicción ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos interna, pudiendo determinar las providencias que considere necesarias para aclarar las dudas que subsistan; otras materias relacionadas con la admisibilidad de la petición o su improcedencia manifiesta, que resulten del expediente o que hayan sido planteada por las partes; y en caso de que existan o subsistan la dudas puede ordenar archivar el expediente. Por otro lado el artículo 37 hace referencia expresamente al agotamiento de los recursos internos, señalando que para que una petición pueda ser admitida por la Comisión, se requerirá que se hayan interpuesto y agotado los recursos de la jurisdicción interna, conforme a los principios del derecho internacional generalmente reconocidos. Al igual que en la Convención, también el reglamento hace mención a las excepciones señalando no se aplicarán las exigencias mencionadas anteriormente, cuando no exista en la legislación interna del Estado de que se trata el debido proceso legal, para la protección del derecho o derechos que se alegan han sido violados; también cuando no se haya permitido al presunto lesionado en sus derechos el acceso a los recursos de la jurisdicción interna, o haya sido impedido de agotarlos; y cuando haya retardo injustificado en la decisión sobre los mencionados recursos. Respecto a este último punto el artículo 39 del Reglamento32 de la Comisión, señala que del examen de una petición se puede presumir que los hechos en ella relatados son verdaderos si, en un plazo máximo de 120 días, el Estado denunciado no suministra las informaciones pertinentes solicitadas por la Comisión. La Comisión, con base en este artículo, ha aplicado tal presunción en numerosos casos33. Se tiene también que cuando el peticionario afirme la imposibilidad de comprobar el requisito señalado, corresponderá al Gobierno, en contra del cual se dirige la petición, demostrar a la Comisión que los recursos internos no han sido previamente agotados, a menos que ello se deduzca claramente de los antecedentes contenidos en la petición. El reglamento hace mención en su artículo 38 al plazo para la Presentación de Peticiones, indicando que la Comisión se abstendrá de conocer aquellas peticiones que se presenten después del plazo de seis meses, a partir de la fecha en que el presunto lesionado en sus derechos ha sido notificado de la decisión definitiva, en caso de agotamiento de los recursos internos. El plazo de petición a la Comisión para las circunstancias que establece el artículo 37, párrafo 2 del reglamento34, será un periodo de tiempo razonable, a criterio de la Comisión, a partir de la fecha en que haya ocurrido la presunta violación de los derechos, considerando las circunstancias de cada caso concreto. Criterio bastante ambigüo, ya que el “tiempo razonable” es difícil de determinar por el recurrente, debido a que no existen criterios específicos para ello, existiendo una amplia discrecionalidad al respecto en la Comisión. El Reglamento de la Comisión no prevé el pronunciamiento expreso sobre la admisibilidad o in admisibilidad de una petición o comunicación como una etapa ineludible. En materia de admisibilidad, como se ha venido diciendo, no se ha recurrido a soluciones rígidas e inflexibles. El Art. 33 del Reglamento dispone que, cuando se observe que la petición está incompleta, se debe notificar al peticionario, para que complete los requisitos omitidos en la petición. Asimismo, conforme lo precisa el Art. 34, párrafo 1, letra c, del Reglamento de la Comisión, ésta puede aceptar provisionalmente la admisibilidad de la petición, sin prejuzgar sobre la decisión definitiva. V. CONCL USIONES CONCLUSIONES Los sistemas regionales de protección de los derechos humanos se caracterizan por una mayor juridificación y tecnificación, tanto de los instrumentos jurídicos como de los mecanismos de control. A este respecto, baste con destacar que es en el ámbito regional donde se ha establecido la fórmula de los tribunales internacionales de derechos humanos, representados en el Tribunal Europeo y en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, así como el más reciente Tribunal Africano de Derechos Humanos. Uno de los logros importante del sistema americano de protección de los derechos humanos, es permitir la participación directa del individuo para hacer valer los derechos que considere vulnerados. Reconoce la petición individual contra un Estado, lo que permite hablar de un reconocimiento de auténticos derechos subjetivos a favor del particular. Este derecho constituye uno de los pilares básicos del mecanismo de protección internacional de los derechos humanos, al igual que la jurisdicción obligatoria de los Tribunales Internacionales de derechos humanos. El reconocimiento de la petición individual mantiene la esperanza de alcanzar justicia en el ámbito Internacional cuando ha sido negada por la justicia nacional o cuando ésta no ha sido lo suficientemente efectiva. La protección jurisdiccional es la forma más evolucionada de salvaguardia de los derechos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 89 Florabel Quispe Remón humanos, y la que mejor atiende a los imperativos del derecho y de la justicia. Podemos decir que los sistemas Internacionales tienen un carácter subsidiario, debido a que sólo entran en función cuando falla el sistema interno. Debe quedar claro que no se trata de una instancia más. Por ello la exigencia, por parte de los órganos internacionales antes de conocer el caso, del cumplimiento de ciertos requisitos como el agotamiento de los recursos de jurisdicción interna, conforme a los principios del Derecho Internacional general reconocidos. La CADH exceptúa de esta exigencia cuando en la legislación interna del Estado de que se trata no existe el debido proceso legal para la protección del derecho o derechos que se alegan han sido violados; no se haya permitido al presunto lesionado en sus derechos el acceso a los recursos existentes de la jurisdicción interna o se le impide agotarlos. Por otro lado la jurisprudencia amplía la excepción a casos de indigencia o temor generalizado de abogados, vale decir, si un reclamante ante la Comisión por razones de indigencia o temor generalizado de los abogados para representarlo legalmente, se ha visto impedido de utilizar los recursos internos necesarios para proteger un derecho garantizado por la Convención, no puede exigírsele su agotamiento. La Convención Interamericana de Derechos Humanos no precisa el plazo de presentación de denuncias, o los elementos de juicio que la Comisión debe considerar para formar un criterio al respecto. No sería justo que se castigue con la declaración de in admisibilidad de su petición a una persona que por alguna circunstancia o razón ajena a su voluntad no haya llegado a la instancia Internacional, aunque sus derechos hayan sido violados. 90 La Comisión Interamericana de Derechos Humanos al pronunciarse sobre la admisibilidad de peticiones, toma una decisión más bien administrativa que propiamente judicial. Probablemente este hecho haya permitido que actúe con flexibilidad, evitando rechazos inmediatos de peticiones con base en condiciones de admisibilidad tales como el agotamiento de recursos internos. En muchos casos, la Comisión estudia la cuestión de admisibilidad al mismo tiempo que el fondo del asunto. Tal vez este hecho haya permitido que conozca mayor cantidad de casos sobre cuya admisibilidad no se haya pronunciado con anterioridad. Asimismo, la Comisión tuvo resultados positivos en situaciones graves o de emergencia, donde sin prejuzgar sobre la admisibilidad de una denuncia, realiza las gestiones necesarias ante el gobierno referido. Comparto plenamente la opinión del profesor Cançado Trindade cuando señala que el propósito de la regla de agotamiento de recursos internos es ofrecer en la etapa de admisibilidad una oportunidad al Estado de remediar la presunta violación antes de que el órgano internacional conozca, y que un procedimiento que permite reexaminar la admisibilidad de una petición parece incompatible con el fin último de la Convención, que es la protección de la persona humana; y que la reapertura y reconsideración por la Corte de una cuestión de pura admisibilidad, ya examinada y decidida por la Comisión, acarrea una división del proceso, en una suerte de “compartimentos estancos” que le restan agilidad y transparencia. Existe duplicidad de esfuerzos, que a la larga atentan contra los principios de celeridad y economía procesal. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos BIBLIOGRAFÍA CANÇADO TRINDADE, A., Los Derechos Humanos En América, Una Perspectiva de Cinco Siglos, Cortes de Castilla y León, 1994. CANÇADO TRINDADE, A., Derecho Internacional y Derechos Humanos, Universidad de Deusto, Bilbao 1998. CANÇADO TRINDADE, Antonio A. “El acceso directo del individuo a los Tribunales Internacionales de derechos humanos”, Universidad de Deusto, Bilbao, 2001. PECES-BARBA MARTINEZ, G., LLAMAS CASCON, A, FERNÁNDEZ LIESA, C.”Textos básicos de derechos humanos”, Aranzadi, Madrid, 2001. 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Serie C Nº. 107 GROS ESPIELL, “Universalismo y regionalismo en la protección Internacional de los Derechos Humanos”, Los Tratados sobre Derechos Humanos y legislación mexicana, UNAM, México, 1981. GROS ESPIELL, H., Estudios sobre Derechos Humanos, Civitas, Madrid, 1988. OEA, Documentos Básicos en Materia de Derechos Humanos en el Sistema Interamericano, Secretaría de la Corte Interamericana de Derechos Humanos, San José, Costa Rica, 2000. Corte Interamericana de Derechos Humanos, Caso de la Comunidad de Mayagna (Sumo) Awas Tigni. Excepciones Preliminares, Sentencia de 1 de febrero de 2000. Serie C Nº. 66. Corte Interamericana de Derechos Humanos, Caso Castillo Petruzzi y otros. Excepciones Preliminares. Sentencia de 4 de setiembre de 1998. Serie C Nº. 41. Corte Interamericana de Derechos Humanos, Caso Loayza Tamayo.Excepciones Preliminares. Sentencia de 31 de enero de 1996. Serie C Nº. 25. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 91 Florabel Quispe Remón NOT AS NOTAS 1. GROS ESPIELL, H., Estudios sobre Derechos Humanos. Civitas, Madrid, 1998, pág. 128. 2. La Carta de la OEA, suscrita el 30 de abril de 1948, adquirió vigencia a partir del 13 de diciembre de 1951, esto es, cuando alcanzó los dos tercios de ratificaciones. 3. A la fecha, la Carta ha sufrido reformas mediante la aprobación del Protocolo de Buenos Aires, de 1967, el Protocolo de Cartagena de Indias, de 1985, el Protocolo de Washington de 1992 y el Protocolo de Managua de 1993. 4. ORGANIZACIÓN DE LOS ESTADOS AMERICANOS, Documentos básicos en materia de derechos humanos en el sistema interamericano, Secretaría General, Washington, 1998, Pág.6. 5. Por responder al mínimo jurídico esencial que la comunidad internacional precisa para su pervivencia como tal, así como a las necesidades morales de nuestro tiempo, incluyendo entre ellos unos derechos fundamentales de la persona que todo Estado debe de respetar y proteger. Tal es así que la Declaración Americana de los Derechos Humanos se considera como norma internacional obligatoria, que no tiene un nivel de tratado, viene a ser una norma de ius cogens que no requiere ratificación por unanimidad de todos. 6. La Corte Interamericana de Derechos Humanos en la Opinión Consultiva Nro. 8/87 señaló al habeas corpus y al amparo como garantías judiciales que tienen la calidad de indispensable para la protección de varios derechos cuya suspensión está vedada por el art. 27.2, y sirven, además, para preservar la legalidad en una sociedad democrática. 7. PECES-BARBA MARTINEZ, G., LLAMAS CASCON, A., FERNÁNDEZ LIESA, C.”Textos básicos de derechos humanos”, Aranzadi, 2001, Pág.600. 8. Respecto a la función contenciosa, sólo la Comisión y los Estados partes de la Convención que hubieran declarado reconocer la competencia de la Corte, están autorizados para someter a su decisión un caso relativo a la interpretación o aplicación de la Convención a condición de cumplir con los requisitos establecidos. Esta función se ha visto restringida en su mayor parte por el número limitado de Estados partes que han reconocido su 92 jurisdicción, y por ausencia de una legitimación activa del individuo para acudir ante ella (Art. 61). En lo referente a la función consultiva, la Convención señala en su artículo 64 que cualquier Estado podrá consultar a la Corte acerca de la interpretación de la Convención o de otros tratados concernientes a la protección de los derechos humanos en los Estados Americanos. 9. GROS ESPIELL, “Universalismo y regionalismo en la protección Internacional de los Derechos Humanos”, Los Tratados sobre Derechos Humanos y legislación mexicana, UNAM, México, 1981. 10. Si bien, el Estado cuenta con la facultad de poder presentar ante la Corte una denuncia contra otro Estado, a la fecha esto no ha ocurrido no precisamente porque no hayan en el sistema interamericano Estados donde se violan los derechos humanos, sino por intereses políticos, relaciones diplomáticas o “solidaridad”. En materia de derechos humanos no debería primar ningún interés que no sea el respeto y el reconocimiento efectivo de estos derechos, siendo ello así esperamos que un Estado pueda ser lo suficientemente valiente y denunciar hechos de violación de los derechos humanos que pudiera estar cometiendo otro Estado. 11. Estos órganos tienen una composición similar conforme se desprende del Estatuto de la Comisión Interamericana, art. 2; y el Estatuto de la Corte Interamericana, art. 4. Son 7 comisionados y 7 jueces. Los Comisionados son elegidos por todos los Estados miembros (34), mientras que los jueces son elegidos sólo por los Estados parte (21 Estados). El mandato en la Comisión es por 4 años y en la Corte por 6, renovables. Máximo 8 años en la comisión y 12 en la Corte. 12. CANÇADO TRINDADE, Antonio A. “El acceso directo del individuo a los Tribunales Internacionales de derechos humanos”, Universidad de Deusto, Bilbao, 2001, pp. 30. 13. El Reglamento de la Corte Interamericana de Derechos Humanos, inicialmente no autorizaba la participación de las víctimas durante el proceso, en el tercer reglamento se introdujo la participación de éstas en la etapa de reparaciones y en el cuarto reglamento aprobado por la Corte en su XLIX período ordinario de sesiones celebrado del 16 al 25 de noviembre de 2000, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos amplía dicha participación a todo el proceso, al señalar en el Artículo 23, Participación de las presuntas víctimas, después de admitida la demanda, las presuntas víctimas, sus familiares o sus representante debidamente acreditados podrán presentar sus solicitudes, argumentos y pruebas en forma autónoma durante todo el proceso. 14. El Art. 48, Nro. 1, letra c, de la Convención, permite declarar inadmisible o improcedente una petición o comunicación en una fase posterior del procedimiento, sobre la base de informaciones o pruebas sobrevinientes o, simplemente, debido a una reconsideración de los hechos. 15. FAUNDEZ LEDESMA, Héctor, El Sistema Interamericana de protección de los Derechos Humanos, Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José de Costa Rica, 1999, segunda edición, pp. 229. 16. Ibídem. 17. GROS ESPIELL, Héctor, “Estudios sobre Derechos Humanos II”, Civitas, Madrid, 1988, pp. 158. 18. El gobierno peruano planteó la excepción de falta de agotamiento de los recursos internos, alegando que la peticionaria tenía acceso a recursos efectivos ante la autoridad competente, entre ellos la posibilidad de acudir al Ministerio Público, a fin de que éste, que era un órgano autónomo del Estado al cual correspondía promover de oficio o a petición de parte la acción de la justicia en defensa de la legalidad de los derechos ciudadanos y de los intereses públicos tutelados por la ley, hiciera valer la acción respectiva para proteger los derechos reconocidos por la convención, Al respecto, la Comisión señaló que el recurso efectivo a que se refiere el Art. 25 de la Convención debe ejercerse ante los jueces y tribunales, y que tiene carácter jurisdiccional, por lo que no podría plantearse ante el Ministerio Público pues se convertiría en una petición ajena al Poder Judicial. 19. CANÇADO TRINDADE, Antonio, Derecho Internacional y Derechos Humanos, pp.52, San José de Costa Rica 1995. 20. Uno de los primeros pronunciamientos de la CIDH sobre este tema fue en el Asunto VIVIANA GALLARDO Y OTRAS, decisión de 13 de noviembre de 1981, párrafos 20-25. 21. Informe anual de la Corte Interamericana de Derechos Humanos 1981, Párr.11 y 1982, Párr.18-19. 22. Corte Interamericana de Derechos Humanos, Caso CASTILLO PETRUZZI Y OTROS, Sentencia de 4 de setiembre de 1998. 23. Como en el caso presentado contra Estados Unidos por una Organización no gubernamental, con motivo del bombardeo de un asilo de enfermos mentales en Grenada, donde los peticionarios sostuvieron la no-existencia de recursos internos que agotar, debido a la naturaleza ad hoc del programa de Compensación de Estados Unidos, a la evidente omisión del gobierno de los EE.UU de ponerse en contacto con las víctimas incapacitadas por ese incidente, y a la renuncia de dicho gobierno para compensar a esas víctimas con posterioridad al vencimiento del programa ad hoc de compensación. De ahí que la Comisión concluyó que no podían interponer y agotar los recursos internos, por aplicación de la disposición contenida en el Art. 37, párrafo 2, letra a), de su Reglamento. El agotamiento de los recursos internos no será exigible cuando no exista en la legislación interna del Estado de que se trata el debido proceso legal, para la protección del derecho o derechos que se alegan han sido violados. 24. FAUNDEZ LEDESMA, Héctor, El Sistema Interamericano de Derechos Humanos, Aspectos Institucionales y Procesales, segunda edición Instituto Interamericano de Derechos Humanos, San José, Costa Rica, 1999., Pp. 239. 25. CANÇADO TRINDADE, A., Los Derechos Humanos en América, Una perspectiva de Cinco Siglos, Cortes de Castilla y León, 1994, pp. 340. 26. Corte Interamericana de Derechos Humanos: “Excepciones al agotamiento de los recursos internos (Art. 46.1, 46.2.a y 46.2.b Convención Americana Sobre Derechos Humanos)”. OC-11/ 90 del 10 de agosto de 1990. Serie A N 11, solicitada por la Comisión Interamericana de Derechos Humanos. 27. Idem, Párrafo 34. Véase a PACHECO GÓMEZ, Máximo, El Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos en el Umbral del Siglo XXI, Tomo I, Corte Interamericana de Derechos Humanos, 2001, pp. 85. 28. Este Criterio es contrario a lo que sobre el particular ha señalado la Corte Europea, pero ello se explica por las condiciones propias de nuestro continente y porque en Europa existe un fondo al que las personas de bajos recursos económicos pueden acceder para sufragar los gastos de su defensa. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 93 Florabel Quispe Remón 29. Artículo 37.3 del Reglamento de la Comisión Interamericana de Derechos Humanos.. 30. Corte Interamericana de Derechos Humanos, Caso Herrera Ulloa. Sentencia de 2 de julio de 2004. Serie C Nº. 107,Párr.81; Caso de la Comunidad de Mayagna (Sumo) Awas Tigni. Excepciones Preliminares, Sentencia de 1 de febrero de 2000. Serie C Nº. 66, Párr. 40; Caso Castillo Petruzzi y otros. Excepciones Preliminares. Sentencia de 4 de setiembre de 1998. Serie C Nº. 41, Párr. 56; y Caso Loayza Tamayo. Excepciones Preliminares. Sentencia de 31 de enero de 1996. Serie C Nº. 25, Párr. 40. 31. Referidos a la competencia, el primero a la competencia individual: que cualquier persona o grupo de personas, o entidad no gubernamental legalmente reconocida en uno o 94 más Estados miembros de la Organización, puede presentar a la Comisión peticiones que contengan denuncias o quejas de violación de la Convención por un Estado parte; y el Art. 45 a la competencia de los Estados. 32. El reglamento de la Comisión interamericana de derechos humanos fue aprobada el 8 de abril de 1980. 33. Entre otros, el caso Nº. 7739, CIDH, Informe anual 1980-1981. 34. Referido específicamente a la no existencia del debido proceso legal, al retardo injustificado, y a la afirmación del denunciante sobre la imposibilidad de comprobar el requisito donde le corresponderá al Estado demostrar que los requisitos no han sido previamente agotados. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ El Agotamiento de Recursos Internos en los Sistemas Regionales de Protección de los Derechos Humanos DIREITOS HUMANOS NO 3º MILÊNIO: CAPTURA, TRANSFERÊNCIAS ILEGAIS, TORTURAS E PRISÕES SECRETAS ••••••••••••••••••••••••••• ISABEL A MAIA MESQUIT A MAR TINS ISABELA MESQUITA MARTINS Aluna do curso de Relações Internacionais da Unb JULIANA NICOLA KILIAN Aluna do curso de Bacharelado em Direito na Unb INTRODUÇÃO Embora o presente tema seja recorrente em notícias esparsas de jornal, as prisões secretas e a transferência ilegal de presos não são simplesmente comentadas em nossa pesquisa. Procuramos, na medida do possível e em conformidade com as fontes ao nosso alcance, fazer um amplo levantamento bibliográfico, reunindo neste trabalho, da forma mais sucinta e clara possível, informações ao mesmo tempo confiáveis e precisas, que abordem os aspectos legais, políticos e regionais sobre o tema. Serão também analisados casos e biografias de detentos e de ex-detentos em prisões secretas e algumas conseqüências sociológicas e psicológicas em suas vidas decorrentes destas detenções. PAR TE I – ASPECTOS LEGAIS E ARTE POLÍTICOS INTERNACIONAIS 1 . MARCOS LEGAIS Neste início de século XXI, no concernente à proteção dos direitos humanos, estar-se-ia desenrolando a mais profunda crise mundial desde a adoção, há 55 anos, da Carta dos Direitos Humanos e do desenvolvimento da arquitetura internacional de proteção e promoção dos direitos consagrados nos principais instrumentos internacionais de direitos humanos?1 Apesar da crise e do desânimo que os indícios e provas sobre prisões secretas possam suscitar, o professor Antônio Augusto Cançado Trindade2 afirma que os mecanismos de proteção internacional dos direitos humanos avançaram e têm avançado, graças à atuação crescente dos órgãos de supervisão internacionais e a iniciativas regionais e globais, unidas pela universalidade dos direitos humanos, tais como: a I Conferência Mundial de Direitos Humanos (Teerã, 1968), a II Conferência Mundial de Direitos Humanos (Viena, 1993), Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas, o Comitê para Eliminação de Todas as For mas de Discriminação Racial, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), a Comissão Européia de Direitos Humanos e Corte Européia de Direitos Humanos, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Corte Interamericana de Direitos Humanos, a Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos e o Conselho da Liga dos Estados Árabes. Para Trindade, a proteção dos direitos humanos possui papel central na agenda internacional do séc. XXI, mas reconhece que ainda existe um longo caminho a percorrer e também reitera que os direitos humanos são “anteriores e superiores ao Estado e a todas as formas de organização política”3. Atualmente, são cinco os principais instrumentos internacionais de Direitos Humanos: a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH)4; o Pacto Internacional sobre os Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC)5; o Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos (PIDCP)6; o Protocolo Facultativo referente ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos7 e o segundo Protocolo Adicional referente ao Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos com vista à Abolição da Pena de Morte8. Já no plano regional existem quatro importantes instrumentos de proteção aos Direitos Humanos: a Convenção Européia de Direitos Humanos e seus protocolos9; a Convenção Americana sobre Direitos Humanos10; a Carta Africana de Direitos Humanos e dos Povos11 e a Carta Árabe de Direitos Humanos12. Além dos instrumentos gerais de respeito ao ser humano supra-citados, destacam-se atualmente três grandes blocos de instrumentos internacionais ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 95 Isabela Maia Mesquita Martins e Juliana Nicola Kilian de direitos humanos, mais diretamente relacionados ao presente estudo: prevenção e punição da tortura e outras graves violações de direitos humanos; tratamento dos delinqüentes; e, mais especificamente, questões relativas aos jovens delinqüentes. Quanto à prevenção da tortura e outras graves violações de direitos humanos, são de especial importância quatro atos internacionais: a Convenção contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes13; a Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra a Tortura e Outras Penas ou Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes14; a Declaração sobre a Proteção de Todas as Pessoas contra os Desaparecimentos Forçados15; e também Princípios relativos a uma Prevenção Eficaz e à Investigação das Execuções Extrajudiciais, Arbitrárias ou Sumárias 16 . Quanto ao tratamento dos delinqüentes, existem cinco instrumentos de destaque: Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos17; Regras Mínimas das Nações Unidas para a Elaboração de medidas não Privativas de Liberdade 18 ; Princípios Básicos Relativos ao Tratamento de Reclusos19; Conjunto de Princípios para a Proteção de Todas as pessoas Sujeitas a Qualquer Forma de Detenção ou Prisão20; e o Acordo Tipo sobre a Transferência de Reclusos Estrangeiros e Recomendações sobre o Tratamento de Reclusos Estrangeiros21. Quanto aos jovens delinqüentes, são quatro os instrumentos internacionais nesta matéria: Regras Mínimas das Nações unidas para a Administração da Justiça de Menores 22 ; Resolução 1989/66 do Conselho Econômico e Social sobre a aplicação das Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça de Menores23; Princípios Orientadores das Nações Unidas para a Prevenção da Delinqüência Juvenil24 e Regras das Nações Unidas para Proteção dos Menores Privados de Liberdade25. Assim, a partir da análise mais aprofundada desses verdadeiros marcos legais de proibição da tortura e do tratamento cruel ou degradante, destaca-se o empenho crescente em proporcionar a todas as pessoas privadas de liberdade um tratamento com humanidade e respeito pela dignidade (condição inerente ao ser humano), a fim de que – através do cárcere – haja uma reforma e readaptação real dos prisioneiros. Os instrumentos internacionais citados servem, portanto, de parâmetros para os governos cumprirem suas obrigações legais junto aos presos e ao mesmo tempo de meta a ser buscada universalmente. É claro nestes documentos internacionais que a sociedade internacional reconhece direitos humanos e liberdades 96 fundamentais aos presos. Tanto assim o é que, em 1992, o Comitê de Direitos Humanos da ONU explicitou que os estados teriam uma obrigação positiva com relação às pessoas que estivessem particularmente vulneráveis devido à sua posição de pessoas privadas de liberdade: “Not only may persons deprived of their liberty not be subjected to [torture or other cruel, inhuman or degrading treatment or punishment], including medical or scientific experimentation, but neither may they be subjected to any hardship or constraint other than that resulting from the deprivation of liberty; respect for the dignity of such persons must be guaranteed under the same conditions as for that of free persons. Persons deprived of their liberty enjoy all the rights set forth in the [ICCPR], subject to the restrictions that 26 are unavoidable in a closed environment.” Dessa forma, o Comitê de Direitos Humanos declara que, independentemente dos recursos materiais disponíveis a um dado Estado, este tem a obrigação de tratar as pessoas privadas de liberdade com dignidade e humanidade (regra que deve ser fundamental e universalmente aplicável). 2 . DETERMINANTES POLÍTICOS O terrorismo, embora não tenha ainda um significado concreto estabelecido internacionalmente, pode ser conceituado como a violência indiscriminada para criar medo e insegurança, de modo que a tática terrorista é atacar os sistemas sociais e políticos existentes27. O terrorismo é uma construção antiga, contudo a percepção dele mudou após o 11 de setembro de 2001. Antes do 11 de setembro, países europeus (tais como a Itália, a Alemanha, a Espanha, o Reino Unido, a França e a Rússia) já eram alvos de ataques em larga-escala supostamente vinculados a grupos terroristas. Até então, os instrumentos para lidar com o terrorismo eram composto pelas instituições e sistemas legais. Contudo, após os ataques terroristas de 11 de setembro, iniciou-se um novo capítulo na história do terrorismo, já que os alvos desta vez foram os símbolos do Estado mais poderoso do mundo. A partir de então, desenvolveram-se novos conceitos legais para lidar com as novas formas de terrorismo internacional: surgiu a guerra contra o terrorismo28. Esta guerra contra o terrorismo tem sido utilizada como justificativa para o sacrifício de princípios básicos de direitos essenciais e liberdades fundamentais, que assegurariam o cumprimento das regras de direito e a administração proba da ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas justiça. Fato este investigado pelo relatório de Kevin McNamara, em que são descritas as várias decisões tomadas pela administração estadunidense após os ataques terroristas de 11 de setembro29, fruto da resolução e recomendação adotadas pela Assembléia Parlamentar do Conselho da Europa (PACE)30. Desde então, há suspeitas de que existem listas negras (black lists) com nomes de indivíduos e companhias suspeitas de manter conexões com organizações terroristas, responsáveis pela captura de suspeitos terroristas sem tratamento normativo claro (aplicação de sanções sem respeito ao devido processo legal) e sua detenção em prisões secretas (black sites), sob autoridade dos EUA -através da CIA-, mas fora do território americano. A ausência de garantias de direitos humanos e a introdução de técnicas aprimoradas de interrogação resultaram em sujeição de detentos à tortura e violações aos princípios basilares do direito internacional (direito à determinação independente da posição de prisioneiro de guerra – POWs status – absoluta proibição de tortura, punição ou tratamento desumano, cruel ou degradante; direito à liberdade e segurança da pessoa; e direito a um processo justo). Indignado perante a flagrante injustiça do CSNU (Conselho das Nações Unidas), Dicky Marty31 revelou: “The term “blacklists” within the United Nations refers to the possibility whereby a committee working under the authority of the UN Security Council may order sanctions targeting individuals or corporate entities suspected of having links with international terrorism. These sanctions include the freezing of assets and the prohibition of crossborder travel. They are considered to be solely preventive and non-criminal in nature. However, they can have very consequential or even drastic effects on the personal and working lives of those concerned. These measures can in principle last indefinitely and are based in most cases on vague, or even very 32 vague suspicions”. Este grande desrespeito aos documentos internacionais de direitos humanos vigentes decorre da valorização da segurança nacional em detrimento dos direitos humanos. Além disso, existem duas motivações para tal acontecimento. De um lado, o motivo político: perante a necessidade de combater o terrorismo de modo urgente e agressivo, o executivo estadunidense pressionou suas agências, especialmente a CIA para aumentar suas atividades anti-terroristas. De outro lado, a esta agência foi dada maior autonomia na administração de suas próprias instalações de detenção (uma vez que o suspeito de terrorismo esteja sob sua custódia, a CIA pode levá-los para prisões secretas). Possibilidade esta, condenada tanto pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU33, quanto pela sua Assembléia Geral.34 Embora não existam provas concretas da existência de fato das prisões secretas, os indícios sobre a possibilidade estão cada vez mais evidentes, graças a relatórios realizados por órgãos internacionais (Conselho da Europa), informações fornecidas por jornalistas investigativos, pesquisas de ONGs, testemunhos de ex-prisioneiros em fóruns públicos ou particulares e de prisioneiros – via cartas, diários ou documentos –, fontes internas da própria CIA e dados fornecidos pelos órgãos de monitoramento de tráfego aéreo. PAR TE II – OS EUA E AS PRISÕES ARTE SECRET AS SECRETAS 1 . A CIA (CAUSAS, FUNÇÕES E ORGANIZAÇÃO) 35 A CIA (Central Intelligence Agency) é um serviço de inteligênica dos EUA. Contrariamente ao FBI, a CIA é proibida por lei de coletar informações sobre atividades domésticas de cidadãos americanos. Comandada pelo presidente dos EUA, a CIA realiza funções de inteligência: coletar informações através de fontes humanas – e não através de sinais de comunicação –, correlacionar e avaliar os dados referentes à segurança nacional. Criada em 1947 nos EUA pelo presidente Harry S. Truman através de um ato governamental de Segurança Nacional, a CIA é fruto de necessidades estratégicas (reação ao avanço do comunismo e início da Guerra Fria). A fim de neutralizar os efeitos negativos e sanar os prejuízos em geral decorrentes de ameaças externas (espionagem estrangeira, roubo de projetos tecnológicos e de armamentos e fuga de informações), a CIA foi investida da responsabilidade de vigiar e relatar todos os assuntos referentes à segurança nacional. Através de uma Diretoria Central de Inteligência, a CIA é vinculada ao Presidente. Os agentes especiais da CIA aconselham o Presidente na tomada de decisões sobre quais seriam as melhores estratégicas possíveis e suas respectivas consequências, e também intervêm quando necessário em organizações ou Estados que ameaçam a segurança dos EUA. Como agência independente, a CIA é fonte de análise e de dados, trabalha com outras organizações ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 97 Isabela Maia Mesquita Martins e Juliana Nicola Kilian na Comunidade de Inteligência e Segurança Nacional a fim de que os dados enviados para Washington ou para o Campo de Batalha sejam o mais fiéis e precisos possível. Atualmente, perante as novas realidades globais de segurança nacional, a CIA criou grupos multidisciplinares contraterrorismo, além de cuidar da contra-informação, da proibição e do combate ao crime organizado internacional e ao tráfico internacional de entorpecentes, e da análise e monitoramento de desastres ambientais. Tudo isso a fim de assegurar a estabilidade e segurança ao povo dos EUA. A CIA interage com a comunidade de inteligência global atráves da administração de serviços de interesse comum, da análise de imagens,da coleta e processamento de dados nas áreas de pesquisa, desenvolvimento e tecnologia. Os mais importantes departamentos da CIA são os seguintes: Diretoria de Inteligência Central no Congresso (prestação de contas ao Congresso e controle das ações dos congressistas); Diretoria Executiva da CIA (controle, inspeção e tomada de decisões da administração central para melhorar o desempenho e administração interdiretorias)36; Diretoria de Inteligência (analise e processamento de dados e estatísticas, vigia as diretorias e departamentos)37; Diretoria de Ciência e Tecnologia (cria possibilidade de usos para as tecnologias de informação)38; Serviço Clandestino Nacional (dá as ordens de serviço e execução de ações em território nacional ou estrangeiro)39; Centro de Estudos de Inteligência e materiais históricos e estatística (armazena os dados processados e catalogados)40; Escritório de Deliberação Geral (processamento de decisões importantes e suporte legal)41; Escritório de Negócios Públicos (contatos com o Presidente)42; e Escritório de Negócios Militares (informações e suporte às Forças Armadas Americana).43 2 . A TEIA DE ARANHA GLOBAL 44 A teia de aranha global ( “global spider’s web”) se caracteriza por um sistema de mirar, apreender e deter suspeitos terroristas, que não é uma criação da noite para o dia, nem foi construída a partir dos ataques terroristas de 11 de setembro. Esta teia de aranha global vem sendo tecida há muitos anos, através da utilização de técnicas e táticas que foram desenvolvidas em resposta às novas ameaças de guerras, aos novos termos de engajamento e às ameaças imprevisíveis. Os EUA, arquiteto desta teia, tem a capacidade de capturar alvos individuais fora de seu país e carregá-los para diferentes partes do mundo. Para tanto, a CIA criou o Programa Rendição na década de 90. Assim, indivíduos seriam 45 98 transportados de seus países para outro lugar onde seriam julgados ou detidos sem seguir o devido processo legal46, e também interrogados através de “enhanced interrogation techniques”47. Além dos “black sites”48 da CIA, a teia de aranha também engloba uma rede maior de instalações de detenção, organizada por outros ramos do governo dos EUA. Como, por exemplo, a Base Aérea Naval dos EUA na Baía de Guantánamo49 ou as prisões militares tais como a de Bagram no Afeganistão e de Abu Ghraib no Iraque50. Segundo Dicky Marty, existem pelo menos 100 “ghost detainees”.51 52 53 O transporte entre os diferentes pontos da teia é feito por amplos aviões cargueiros e por navios militares. A teia de aranha mostra os vôos dos navios civis e militares, operados pelos EUA, que parecem estar ligados a detenções secretas e transferências ilegais de presos entre Estados, incluindo membros do Conselho da Europa (baseado nos dados do Eurocontrol ou European Organisation for the Safety of Air Navigation em combinação com informações devidas de 20 autoridades nacionais de aviação).54 Há quatro categorias de pistas de pousos para aviões conforme os diferentes graus de conspirações entre países: stopover points (pontos de reabastecimento de combustível); staging points (pontos em que as operações começam – preparação dos aviões e tripulações); pick-up points (pontos em que um detido ou um grupo de detidos são pegos para rendição ou transferências ilegais, sem, contudo se tratar de uma ocorrência sistemática); detainee transfer/drop-off points (lugares freqüentemente visitados, onde aviões tendem a parar por curtos períodos, geralmente longe de rotas óbvias, mas próximos de um lugar ou de uma instalação de detenção conhecida). De uma maneira geral podem ser elencados os seguintes supostos “black sites” divididos por área do mundo: 1) No Oriente Médio a) Afeganistão - a Base Aérea de Bagram, conhecida como “Salt Pit”, localizada próxima a Cabul onde havia uma antiga fábrica de tijolos (detentos de Guantánamo disseram ter sido torturados numa prisão próxima a Cabul)55 56; “Eight detainees now held at Guantánamo described to their attorneys how they were held at a facility near Kabul at various times between 2002 and 2004. The detainees, who called the facility the “dark prison” or “prison ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas of darkness,” said they were chained to walls, deprived of food and drinking water, and kept in total darkness with loud rap, heavy metal music, or other sounds blared for weeks at a 57 time.” 3) Na África – todos os países suspeitos de possuir black sites (Djibouti, Egito, Líbia, Marrocos) negaram as suspeitas74. 4) Na Ásia b) Iraque – a prisão de Abu Ghraib58, o Camp Bucca e Camp Cropper foram denunciadas como lugares secretos59; a) Tailândia – uma estação retransmissora (Udon Thani) da rádio Voice of América foi denunciada como black site. O primeiro-ministro, no entanto, negou tudo75. c) Jordânia – o jornal israelense publicou que a prisão Al Jafr seria um lugar secreto60; 5) No Oceano Índico d) Paquistão – há relatos de que haveria prisões secretas nas regiões Alizai, Kohat e Peshawar61. 2) Na Europa62 – todos países europeus negam ter prisões secretas, além disso falta vontade para cooperar nas investigações das mesmas, o que é evidenciado pela renúncia ao controle de seus aeroportos e espaço aéreo63. a) Ilha Diego Garcia – a base naval dos EUA nesta ilha foi apontada como black site, mas as autoridades britânicas negaram as suspeitas.76 d) Espanha – pousos em Ilhas Canárias e Palma de Mallorca64. Além das suspeitas acerca dos países listados, ainda existem outras a respeito de black sites móveis, como navios de guerra e aviões77 usados para realizar interrogatórios78. Apesar de todas estas suspeitas e certas evidências, o relatório de Dick Marty, a pedido do Conselho da Europa, foi criticado por levantar muitas alegações, mas apresentar poucos fatos.79 Embora até abril de 2006, o Chefe europeu antiterror tenha declarado que não havia provas concludentes sobre a existência de prisões secretas da CIA na Europa80, em maio de 2006, o Comitê da ONU Contra a Tortura recomendou a cessação da detenção em prisões secretas e o fim da prática de captura de pessoas e sua transferência para locais de tortura81. Assim, em setembro de 2006, o presidente Bush admitiu a existência de prisões secretas.82 e) França – Aeroporto francês Bourget é tido como suposta rota de deslocamento de presos ilegais65. PAR TE III – ESTUDO DE C ASOS ARTE CASOS f) Irlanda – aeroportos de Dublin e Shannon.66 1 . O DIREITO INTERNACIONAL HUMANITÁRIO a) Alemanha – a base aérea de Ramstein é acusada de ter servido para transferência ilegal de presos. b) Bósnia-Herzegovina – a base aérea estadunidense Tuzla Air Base. c) Eslováquia – um porta-voz do governo disse que o país não possuía black sites, enquanto um portavoz do serviço de inteligência revelou que não seriam reveladas informações de prováveis black sites no país. g) Itália – a base aérea estadunidense Aviano Air Base h) Polônia – o Aeroporto polonês Sczytno-Szymany é considerado black sites67 i) Portugal – suspeita-se de que Açores 68 e aeroportos portugueses69 fizeram parte de rota de vôos ilegais da CIA. j) Romênia – Há relatos de que o Aeroporto Internacional Mihail Kogalniceanu é usado como ponto de detenção (um fax interceptado do Ministério de Relações exteriores egípcio para sua embaixada em Londres declara que 23 prisioneiros foram interrogados clandestinamente pelos EUA neste local) 70 71. l) Ucrânia 72 e Macedônia, Bulgária e Kosovo73 também foram acusadas de possuir black sites. Os Direitos Humanos são universais e a cada homem corresponde um conjunto de direitos fundamentais que não pode ser derrogado em hipótese alguma. Não podem ser estabelecidas “diferenças em termos de dignidade dos cidadãos” 83 e também por isso esses direitos são considerados indivisíveis, já que conformam um todo que se orienta para o alcance da dignidade humana. Mesmo com esses preceitos e características, existem tentativas incessantes de fazer com que os direitos humanos sejam minorados ou que sua aplicação seja restringida quando em uma situação excepcional, isso sem mencionar as reais violações a eles. No âmbito internacional, tudo está voltado a uma efetiva proteção da vítima de uma violação, tanto que para ela existe a possibilidade da escolha do procedimento internacional a ser acionado. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 99 Isabela Maia Mesquita Martins e Juliana Nicola Kilian Existe também o critério de primazia na aplicação da norma mais benéfica a este que foi vítima de uma violação de seus direitos (escolha do plano normativo interno ou internacional). Sobre o assunto, Trindade explicita que: “Tal complementaridade de instrumentos de direito humanos em níveis global e regional reflete a especificidade e autonomia da proteção internacional dos direitos humanos, um domínio do direito internacional caracterizado 84 como um direito de proteção”. Com isso, há uma minimização dos conflitos entre instrumentos legais e é aumentada a eficácia da proteção. Assim, não importa se a norma aplicada é de direito interno ou internacional, mas a efetividade que ela alcança na proteção das pessoas. Além disso, como já explicitamos, o que se percebe é uma constante tentativa de derrogação de tratados de direitos humanos principalmente quando em situações de guerra. Esse é um fato muito comum, mas que não pode ocorrer devido à extrema necessidade de regulamentação dos conflitos e para que se tente minorar suas conseqüências trágicas. Os EUA utilizaram-se do argumento de que a necessidade de derrogação existiria por causa de a Convenção de Genebra (claramente um instrumento de Direito Humanitário) ser uma lex specialis, ou seja, uma “anomalia”, uma “exceção” que não poderia ser mais aplicada desde o 11 de setembro85. O que ocorre, no entanto, é uma situação completamente diferente. Segundo Garbor Rona, o Direito Humanitário é lex specialis na medida em que sua necessidade de utilização surge somente em condições especiais. No entanto, essa lex specialis prevalece quando estiver em conflito com uma lex generalis, ou seja, uma lei de aplicação geral.86 Para Rona, o Direito Humanitário é então aplicável especificamente em tempos de conflitos armados, mas, ao contrário do que certos especialistas argumentam, ele não toma o lugar do direito aplicado na região em tempos de paz. O que acontece é que ambos (o direito interno e o humanitário) se complementam de maneira a melhor tratar as situações de violações a direitos. Outro ponto a ser ressaltado é o de que mesmo que sejam utilizadas medidas de exceção durante algum conflito, estas têm de ser compatíveis com os princípios de Direito Internacional Humanitário, bem como têm de se adequar a critérios de estrita necessidade na utilização de tal medida e na proporcionalidade de sua aplicação e utilização. Ou seja, há de se verificar se a medida é adequada, 100 necessária e se seus efeitos são compatíveis com o fato que gerou a necessidade de sua implementação. Existem vários princípios, também chamados princípios comuns, que são referidos ao Direito Humanitário. Entre eles estão princípio da inviolabilidade da pessoa (que engloba o respeito à vida, à integridade, e aos atributos da personalidade), o princípio da não-discriminação e o princípio da segurança da pessoa (que inclui também a proibição de represálias e de penas coletivas e de tomadas de reféns, as garantias judiciais, a inalienabilidade dos direitos e a responsabilidade individual) 87. Em um mesmo sentido, o artigo 3º comum às quatro Convenções de Genebra estabelece que: “Em caso de conflito armado de caráter nãointernacional que ocorra em territórios de uma das Altas Partes Contratantes, cada uma das Partes em conflito deverá aplicar, pelo menos, as seguintes disposições: 1) As pessoas que não tomarem parte diretamente nas hostilidades, incluindo os membros das forças armadas que tiverem deposto as armas e as pessoas que ficarem fora de combate por enfermidade, ferimento, detenção ou qualquer outra razão, devem em todas as circunstâncias ser tratadas com humanidade, sem qualquer discriminação desfavorável baseada em raça, cor, religião ou crença, sexo, nascimento ou fortuna, ou qualquer outro critério análogo. Para esse efeito, são e continuam a ser proibidos, sempre e em toda parte, com relação às pessoas acima mencionadas: a) atentados à vida e a integridade física, particularmente homicídio sob todas as formas, mutilações, tratamentos cruéis, torturas e suplícios; b) tomadas de reféns; c) ofensas à dignidade das pessoas, especialmente os tratamentos humilhantes e degradantes; d) condenações proferidas e execuções efetuadas sem julgamento prévio realizado por um tribunal regularmente constituído, que ofereça todas as garantias judiciais reconhecidas como indispensáveis pelos povos civilizados. 2) Os feridos e enfermos serão recolhidos e tratados. Um organismo humanitário imparcial, tal como o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, poderá oferecer seus serviços às Partes em conflito. As Partes em ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas conflito deverão empenhar-se, por outro lado, em colocar em vigor por meio de acordos especiais todas ou parte das demais disposições da presente Convenção. A aplicação das disposições anteriores não afeta o estatuto jurídico das Partes em conflito.” Percebe-se que este artigo trata de “pessoas que não tomaram parte diretamente nas hostilidades” excluindo, portanto, os prisioneiros de guerra. Mas mesmo estes, como já explicitado na Parte I, não estão excluídos do âmbito de proteção internacional. A eles é assegurado que a potência detentora garanta sua vida e saúde, sua assistência médica, que não os exponha a riscos desnecessários, que permita o envio e recebimento de correspondências, entre outras coisas. No tocante às sanções, os prisioneiros estão submetidos à lei da Potência que os detiver88 . É interessante ressaltar que há um entendimento internacional no sentido de considerar que o artigo 3º comum às Convenções não está sujeito a nenhum tipo de derrogação, em nenhuma circunstância. 2 . VIOL AÇÕES CONST ATAD AS CONSTA ADAS NOS CASOS Parte-se então para a exemplificação das violações aos princípios básicos de Direito Internacional Humanitário que ocorreram durante as rendições e prisões arbitrárias a partir dos relatos de pessoas que foram libertadas das prisões secretas ou que permanecem em Guantánamo. No entanto, há uma clara dificuldade em se considerar uma “Guerra contra o Terror” como sendo uma guerra que poderia ser estendida a vários países, já que não há um país específico contra o qual se esteja lutando, nem um campo de batalha concreto. Pode-se perceber que os pontos em que tanto os reféns (“prisioneiros”) são mantidos (black sites), como os locais em que são “capturados” ou rendidos (pick-up points), abarcam quase todos os continentes. Para facilitar a análise, primeiramente será considerado que os capturados não são prisioneiros de guerra (uma vez que não são membros da Forças Armadas de uma das partes conflitantes e nem são combatentes, conforme definição da própria Convenção de Genebra). Em um segundo momento, será analisada sua situação caso estivessem realmente em conflito com a Potência que os capturou, enquadrados, portanto, como prisioneiros de guerra. Isso ocorreria no caso de a premissa utilizada pela Potência que efetua as capturas fosse verdadeira. Convém ressaltar que, em ambas as situações, o que se terá por base são os princípios de Direito Humanitário, principalmente os explicitados na Convenção de Genebra e que em muito se aproximam dos de Direitos Humanos em geral. Sabese que há uma grande aproximação entre o Direito Humanitário e os Direitos Humanos e que isto é essencial para que a proteção internacional da pessoa humana seja fortalecida89. Pode-se dizer, sem dúvida, que todas as vítimas das rendições tiveram um extenso rol de direitos violados, tais como o direito à inviolabilidade da pessoa humana, à sua integridade física e moral, à intimidade; viram, enfim, sua dignidade ser violada. O relato de Binyam Mohamed al Habashi, cidadão Etíope, residente em Londres e que atualmente encontra-se em Guantánamo, é bastante elucidativo: “One of them took my penis in his hand and began to make cuts.[…]. I was in agony, crying, trying desperately to suppress myself, but I was screaming. They must have done this 20 to 30times, in maybe two hours. There was blood all over. They cut all over my private parts. One of them said it would be better just to cut it 90 off, as I would only breed terrorists”. Os relatos de Binyam Habashi foram coletados por meio de um diário que mantém na prisão, de cartas que enviou aos familiares e de informações trazidas por informantes de Dick Marty. O trecho aqui exposto não precisa de maiores explicações, está mais que evidente que não só torturas, mas graves sofrimentos físicos e psicológicos foram infligidos a este cidadão, violando-se completamente seu direito à integridade, à dignidade, a não sofrer um tratamento cruel ou degradante e vários outros. É desnecessário mencionar que, mesmo se fosse um prisioneiro de guerra, ou até mesmo prisioneiro comum, semelhante tratamento não poderia ser dado a ele. Um dos poucos direitos lhe que foi assegurado foi o de enviar correspondências (mas isso ocorreu somente quando chegou a Guantánamo) e por meio destas é que sua família descobriu onde estava. No entanto, seus familiares nunca puderam visitá-lo ou enviar-lhe um advogado. Desde 2001 estava desaparecido, sua família relata que ele simplesmente “sumiu” no verão daquele ano e que apenas em 2003 foram obtidas notícias de seu paradeiro, através das cartas que chegaram e de agentes do FBI que procuraram a família. Binyam explicita que estava fazendo uma viagem pelo Paquistão e que quando estava em Carachi foi detido por autoridades paquistanesas por supostamente portar passaporte falso. Os interrogatórios iniciais foram feitos por autoridades ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 101 Isabela Maia Mesquita Martins e Juliana Nicola Kilian locais e 10 dias depois passou a ser interrogado por agentes americanos e britânicos. Quando terminaram seus interrogatórios no Paquistão, foi levado à Islamabad e de lá seguiu, sob a custódia americana, para o Marrocos. Relata que antes de ser forçado a embarcar no vôo que partiu de Islamabad, as autoridades que o detinham (pessoas que utilizavam roupas pretas e máscaras) deixaram-no despido, tiraram fotos suas e depois o vestiram, colocaram uma espécie de “headphone” em seus ouvidos (impedindo-o de ouvir) e uma venda impossibilitando-o de enxergar; somente após vestir toda essa “indumentária” é que seu embarque foi realizado. Já no Marrocos, foi submetido a mais uma série de torturas, como as que anteriormente mencionamos; foi interrogado por diversas vezes, e sempre seus interrogadores procuravam fazer com que confessasse algo, a pretexto de que cessassem as torturas caso cooperasse. Binyam foi submetido a mais uma transferência ilegal, que seguiu os mesmos procedimentos da primeira, e que o levou para o Afeganistão, mais especificamente para Kabul (Dick Marty com suas pesquisas, chega até mesmo a precisar o número do vôo no qual Binyam foi levado, já que o próprio detido não seria capaz de identificar os locais onde esteve). A rotina de torturas, sessões de tortura entremeadas de interrogatórios, e de transferências ilegais se perpetrou, até que foi levado à Baía de Guantánamo, local em que permanece detido. Até hoje não há nenhuma acusação formal contra Binyam. Tal fato demonstra, mais uma vez, a violação de direitos e princípios de Direito Humanitário e de Direitos Humanos. Não houve o devido processo legal, Binyam não pode se defender (ampla defesa) nem lhe foi assegurada qualquer outra garantia judicial dos “povos civilizados”. Ademais, foi transferido entre o Paquistão, Afeganistão e Cuba sem o respeito a qualquer norma internacional de transferência de detentos. Outro caso que deve ser ressaltado é o de Mustafa Ait Idir, um dos 6 argelinos que moravam na Bósnia e foram acusados de ataques às Embaixadas dos EUA e UK. São conhecidos como “The Algerian Six” e, mesmo após terem sido julgados e absolvidos pela Suprema Corte do país em que moravam (Bósnia), foram detidos pelas forças americanas que se encontravam na região. Mustafa Idir, segundo relatório da Anistia Internacional, trabalhava em uma organização humanitária e foi detido em 2002. Também sofreu torturas de todas as formas e foi transferido ilegalmente, assim como Binyam, mas seu caso 102 apresenta mais uma violação (a um direito que deveria ser assegurado tanto aos cidadãos comuns quanto aos prisioneiros de guerra): a assistência médica. Durante as sessões de tortura (ou da aplicação de “métodos apurados de interrogatório”) a que foi submetido, seu corpo e sua cabeça foram arremessados contra paredes e camas de aço; sua cabeça foi colocada em um vaso sanitário e a descarga foi acionada por diversas vezes; uma mangueira de jardim foi posta em sua boca e ligada até que saísse água por seu nariz e ele não conseguisse mais respirar e teve que ficar deitado no chão ou em brita para que os “agentes” pulassem em cima de seu corpo e cabeça; além disso seus dedos das mãos foram girados até que saíssem das juntas. Entretanto, em umas dessas sessões de tortura, Mustafa Idir sofreu um derrame cerebral e permaneceu 10 dias sem qualquer atendimento médico, mesmo com sua insistência para que fosse tratado. Há um trecho no seu processo na US Court (datado de abril de 2005) no qual expressa que, após o derrame, metade de seu rosto ficou paralisado, sua boca passou a funcionar muito mal e isto dificultava a ingestão de alimentos e líquidos. Além disso, sua situação tornou-se motivo de zombaria de todos os tipos feitas pelos carcereiros. Isso, no entanto, não acontece com todos os detidos, já que alguns relatam terem seus ferimentos tratados justamente para que não se comprovasse a existência da violência. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Maher Arar. Este é um cidadão sírio naturalizado canadense que foi capturado em Nova York, no ano de 2002, durante uma escala do vôo que o trazia de volta da Tunísia, país onde havia passado férias. Sua detenção ocorreu no aeroporto JFK e foi realizada por autoridades americanas. Ademais, passou duas semanas em uma prisão de segurança máxima em Nova York. Dos EUA foi transferido ilegalmente e passou por países como Grécia e Itália (que teriam dado suporte logístico à operação de transferência) até chegar ao seu destino final – uma prisão do serviço de inteligência da Síria – e neste país passou 10 meses. Durante todo o período em que ficou detido, foi constantemente interrogado sobre suas ligações com grupos terroristas. Foi também torturado e acabou confessando fatos que não havia feito somente para que cessassem as agressões. Maher é um dos poucos detidos que foi liberado e ainda sofre com os efeitos de sua prisão, é acometido de stress pós-traumático. É interessante notar que atualmente Maher promove uma campanha para a investigação da ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas verdade não só em relação à sua situação, como também a das centenas (de acordo com estimativas da Anistia Internacional) de vítimas de rendições que permanecem em situações deploráveis. Outro caso que deve ser ressaltado é o de Khaled El-Masri, uma vez que evidencia uma intensa cooperação entre diversos países na realização de seqüestros arbitrários e violações de direitos humanos. Khaled é um cidadão alemão nascido no Kuwait e que reside na Alemanha. Estava realizando uma viagem de ônibus, em 2003, para a Macedônia, local em que celebraria o Ano-Novo, quando foi detido na fronteira da Macedônia. Desde o momento de sua detenção não pode mais se comunicar (e por isso sua esposa achou que ele a tivesse a abandonado) foi torturado e constantemente interrogado sobre relações que supostamente teria com extremistas islâmicos. Vinte e três dias após sua detenção na Macedônia, passou pelos mesmos procedimentos “padrão” para a realização de embarques forçados em aeronaves que são realizados em outras vítimas, mas com um diferencial: nele foram colocadas fraldas e durante o vôo permaneceu sedado e acorrentado ao chão. Foi então levado para Kabul, e lá permaneceu por quatro meses na prisão de The Salt Pit. Durante esse período, foi submetido a outros interrogatórios e por diversas vezes torturado, sendo que em uma das sessões de torturas foi obrigado a se alimentar por meio de um tubo nasal inserido em seu nariz, isso porque iniciara uma greve de fome juntamente com outros detentos e estava praticamente um mês sem comer. Por fim, foi transferido ilegalmente para a Albânia, local onde acabou por ser liberado e conseguiu voltar para a Alemanha. Suspeita-se que a motivação de sua captura tenha sido a confusão entre seu nome e o do terrorista líder da Célula de Hamburgo da Al-Caeda, Khaled AL-Masri.91 Na Alemanha, iniciou-se uma investigação para apurar o caso. Não se sabe ao certo se houve a participação deste país na rendição; mas Khaled alega que nenhum dos seus pedidos para ser ouvido por autoridades alemãs, no período em que esteve detido, foi atendido. Para comprovar suas alegações, Khaled fez exames laboratoriais e nos folículos de seus cabelos, que comprovaram resquícios de alimentação oriunda do sul da Ásia. Além disso, testemunhas que estavam no mesmo ônibus em que ele viajava comprovam que Khaled não prosseguiu sua viagem; e ainda, em seu passaporte constam os carimbos de saída tanto da Macedônia quanto da Albânia, mas não os de entrada. CONSIDERAÇÕES FINAIS De uma maneira geral, os relatos, tanto dos que foram liberados quanto dos que permanecem detidos, apresenta muitas semelhanças. Basicamente, todos foram capturados de maneira repentina, sem saber quem eram os seqüestradores ou o que ocasionara aquela situação. Foram levados de um país para outro por meio de vôos que não sabiam de onde partiam ou para onde iam e, durante o percurso, permaneciam em posições incômodas, algemados e encapuzados. Além disso, as prisões em que as vítimas de rendições foram detidas (ou em que permaneceram até outra transferência) são insalubres, com celas pequenas e sem qualquer contato com o mundo exterior (não existiam janelas) ou com outros presos (à exceção de algumas prisões no Iraque ou Afeganistão). Muitos dos detidos não possuem acusação formal pelo cometimento de crimes ou apenas acusações por crimes comuns, como falsificação de documentos. Durante os interrogatórios são utilizados vários métodos de tortura e constantemente se perquire sobre envolvimentos com grupos terroristas. Por fim, quando (e se) liberados, não há nenhuma explicação, nenhum pedido de desculpas, os detidos são simplesmente liberados. A Anistia Internacional vem desenvolvendo um importante trabalho no esclarecimento das situações em que se encontravam (e se encontram) os detidos, bem como exerce pressão na liberação de outros tantos que foram presos arbitrariamente. Considera que o sistema de seqüestros (rendições ou extradições ilegais) e prisões secretas impetrados pelas autoridades americanas é um sistema global de violações aos direitos humanos. Isso fica realmente claro quando, pela análise de situações concretas, percebe-se a grande colaboração dos serviços de inteligência de vários países no sentido de tornar eficientes as transferências e os “interrogatórios” dos detidos. Por tudo que explicitamos anteriormente, é evidente a necessidade de criação de um sistema de determinação dos fatos ou investigações efetivas para os casos dos desaparecimentos forçados e torturas realizadas em “supostos” criminosos. Este trabalho precisa ser duradouro e detalhado, bem como efetuado tanto pelos países acusados de possuírem black sites ou de auxiliarem logisticamente as detenções e as extradições, bem com pela sociedade civil, pelas ONG e por outros órgãos internacionais de proteção aos direitos humanos. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 103 Isabela Maia Mesquita Martins e Juliana Nicola Kilian REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANISTIA INTERNACIONAL. United States of America / Below the radar: Secret flights to torture and ‘disappearance, 5 de abril de 2006. Disponível em: www.amnestyusa.org ANISTIA INTERNACIONAL. Tortura e MausTratos no Brasil: desumanização e impunidade no sistema de justiça criminal. 2001. AMNESTRY INTERNATIONAL. USA – Who are the Guantánamo detainees? Maio de 2005. Disponível em: www.amnestyusa.org. Marty, Dick. Alleged secret detentions and unlawful inter-states transfers involving Council of Europe member states. Parliamentary Assembly: Draft Report- Part II (Explanatory Memorandum), pg 3-67, 2006. RONA, GABOR . Interesting Times for International Humanitarian Law: Challenges from 104 the “War on Terror”. The Fletcher Forum of World Affairs: vol. 27:2, Summer/Fall 2003. Disponível em: http://www.icrc.org. SWINARSKI, Cristophe. Introdução ao Direito Internacional Humanitário. Brasília: Instituto Interamericano de Direitos Humanos, 1996. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional dos Direitos Humanos. Volume I. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1997. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado, PEYTRIGNET,Gérard e RUIZ DE SANTIAGO, Jaime. As três vertentes da proteção internacional dos direitos da pessoa humana. Direitos Humanos, Direito Humanitário, Direito dos Refugiados. Disponível em: http://www.icrc.org. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas NOT AS NOTAS Governo da OUA em Nairóbi, Quênia, em 27 de julho de 1981. 1. Opinião positiva apresentada por Paulo Sergio Pinheiro, co-organizador e prefaciador do livro “Os Direitos Humanos no Séc. XXI” (IPRI: Brasília -2002), resultado do Seminário homônimo, realizado em 10 e 11 de setembro de 1998. 12. Carta adotada pela Liga dos Estados Árabes em 14 de setembro de 1994. Embora já tenha sido assinada Algéria, Arábia Saudita, Egito, Tunísia e Iêmen, somente a Jordânia já ratificou a Carta. 2. Juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos; Professor Titular do Instituto Rio Branco e da Universidade de Brasília; Membro dos Conselhos Diretores do Instituto Internacional de Direitos Humanos (Estrasburgo) e do Instituto Interamericano de Direitos Humanos (Costa Rica). 13. Convenção adotada e aberta à assinatura, ratificação e adesão a partir da resolução n.º 39/ 46 da Assembléia Geral das Nações Unidas (AGNU), de 10 de Dezembro de 1984. Esta convenção entrou em vigor na ordem internacional somente em 26 de junho de 1987 (art 27). 3. Op. Cit. , p. 19-22. (Direitos Humanos no séc. XXI, 2002, p. 19-22) 14. Declaração adotada pela AGNU na sua resolução 3452 (XXX), de 9 de Dezembro de 1975. 4. Declaração adotada e proclamada pela AGNU na sua Resolução 217A (III) de 10 de Dezembro de 1948. 15. Declaração proclamada pela AGNU na sua resolução 47/133, de 18 de Dezembro de 1992. 5. Pacto adotado e aberto à assinatura, ratificação e adesão pela resolução 2200A (XXI) da AGNU, de 16 de Dezembro de 1966. 6. Pacto adotado e aberto à assinatura, ratificação e adesão pela resolução 2200A (XXI) da AGNU, de 16 de Dezembro de 1966. Entrada em vigor na ordem internacional em 23 de Março de 1976 (art. 49). 7. Protocolo adotado e aberto à assinatura, ratificação e adesão pela resolução 2200A (XXI) da AGNU, de 16 de Dezembro de 1966. Entrada em vigor na ordem internacional em 23 de Março de 1976 (art. 9). 8. Protocolo adotado e proclamado pela resolução n.º 44/128 da AGNU, de 15 de Dezembro de 1989. Entrada em vigor em vigor na ordem internacional em 5 de Dezembro de 1991. 9. Convenção, cujo nome oficial é Convenção para proteção dos Direitos dos Homens e das Liberdades Fundamentais, adotada pelo Conselho da Europa em 1950 e entrou em vigor em 1953. 10. Convenção, também denominada Pacto de San José da Costa Rica, adotada e aberta á assinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José da Costa Rica, em 22 de novembro de 1969. 11. Carta, também denominada Carta de Banjul, aprovada pela Conferência Ministerial da Organização da Unidade Africana (OUA) em Banjul, Gâmbia, em janeiro de 1981, e adotada pela XVIII Assembléia dos Chefes de Estado e 16. Princípios recomendados pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC) na sua resolução 1989/65, de 24 de Maio de 1989. 17. Regras aprovadas pelo ECOSOC através das resoluções 663C (XXIV), de 31 de Julho de 1957 e 2076 (LXII), de 13 e Maio de 1977. Estas regras foram adotadas pelo Primeiro Congresso da ONU sobre Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinqüentes, realizado em Genegra em 1955. 18. Regras, também conhecidas como Regras de Tóquio, adotadas pela AGNU na sua resolução 45/110, de 14 de Dezembro de 1990. 19. Princípios adotados e proclamados pela AGNU na sua resolução 45/111, de 14 de Dezembro de 1990. 20. Princípios adotados e proclamados pela AGNU na sua resolução 43/173, de 9 de Dezembro de 1988. 21. Acordo aprovado pela AGNU na sua resolução 45/119, de 14 de Dezembro de 1990, adotado pelo Sétimo Congresso da ONU para Prevenção do Crime e o Tratamento dos Delinqüentes, realizado em 1985. 22. Regras, conhecidas como Regras de Beijing, adotadas pela AGNU na sua resolução 40/33, de 29 de Novembro de 1985. 23. Resolução, também conhecida como Regras de Beijing, adotada pelo ECOSOC na sua 15.ª sessão plenária, a 24 de Maio de 1989. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 105 Isabela Maia Mesquita Martins e Juliana Nicola Kilian 24. Princípios, conhecidos como Princípios Orientadores de Riade, adotados e proclamados pela AGNU na sua resolução 45/112, de 14 de Dezembro de 1990. 25. Regras adotadas pela AGNU na sua resolução 45/113, de 14 de Dezembro de 1990. 26. Interpretação autorizada (sobre o PIDCP) do Comitê de Direitos Humanos da ONU presente no Comentário Geral 21, parágrafo 21. 27. Conceito desenvolvido por Dick Marty, na página 3 do Draft Report – Part II (Explanatory Memorandum),intitulado Alleged secret detentions and unlawful inter-state transfersinvolving Council of Europe member states disponível no site: http://assembly.coe.int. 28. Conceito consubstanciado na ordem presidencial assinada pelo Presidente George W. Bush em 13 de Novembro de 2001, intitulada “Military Order on the Detention, Treatment and Trial of Certain Non-Citizens in the War against Terrorism”, disponível no site: http://www.whitehouse.gov/news/releases/2001/ 11/20011113-27.html. 29. Documento intitulado Lawfulness of Detentions by the United States in Guantanamo Bay, disponível no site: http://assembly.coe.int//Main.asp?link=http:// assembly.coe.int/Documents/WorkingDocs/ Doc05/EDOC10497.htm 30. Resolução 1699 (2005) do PACE, adotada em 26 de abril de 2006, disponível no site: http://assembly.coe.int//Main.asp?link=http:// assembly.coe.int/Documents/WorkingDocs/ Doc05/EDOC10497.htm. 31. Investigador e relator de relatórios importantes do PACE. 32. Declaração presente no relatório “UN Security Council black lists”, disponível no site: http://assembly.coe.int/CommitteeDocs/2007/ 20070319_ajdoc14.pdf 33. Comentário Geral Nº. 29, parágrafo 13 (b), “The prohibitions against taking of hostages, abductions or unacknowledged detention are not subject to derogation. The absolute nature of these prohibitions, even in times of emergency, is justified by their status as norms of general international law.” 34. Conforme a Declaração de proteção de todas as pessoas contra desaparecimento forçado (A/RES/ 47/133, 18/12/92), a AGNU qualificou os desaparecimentos forçados como “a grave and flagrant denial of human rights and fundamental 106 freedoms” e sua prática sistemática como tendo “nature of a crime against humanity”. 35. Todas as informações aqui destacadas estão disponíveis no site oficial da CIA: https://www.cia.gov/cia/information/info.html 36. Office of Inspector General (OIG), com mais informações no site: http://www.fas.org/irp/agency/doj/oig/ops.htm 37. Directorate of Intelligence, com mais informações disponíveis no site: https://www.cia.gov/cia/di/org_chart_section. html 38. Directorate of Science & Technology (DST), com mais informações disponíveis no site: https://www.cia.gov/cia/dst/home.html 39. National Clandestine Service (NCS), com mais informações disponíveis no site: https://www.cia.gov/careers/clandestine.html 40. Center for the Study of Intelligence (CSI), com mais informações disponíveis no site: https://www.cia.gov/csi/index.html 41. Office of General Counsel (OGC), com mais informações disponíveis no site: https://www.cia.gov/ogc/index.htm 42. Office of Public Affairs (OPA), com mais informações disponíveis no site: https://www.cia.gov/cia/public_affairs/pas.html 43. Office of Military Affairs (OMA), com mais informações disponíveis no site: https://www.cia.gov/oma/oma.html 44. Ver mapa intitulado “The global spider´s web of secret detentions and unlawful inter-state transfer”, disponível no site: http:// assembly.coe.int/Documents/WorkingDocs/ doc06/edoc10957-1.jpg 45. Também denominada pela Anistia Internacional de “Gulag Archipelago” em referência ao romance do escritor Aleksandr Solzhenistsyn baseado em testemunhas oculares e pesquisas primárias sobre o sistema de trabalho forçado em campo de concentração. 46. Informações disponíveis no relatório de Dick Marty, na página 9 do Draft Report – Part II (Explanatory Memorandum),intitulado Alleged secret detentions and unlawful inter-state transfersinvolving Council of Europe member states disponível no site: http://assembly.coe.int. 47. “CIA Puts Harsh Tactics On Hold: Memo on Methods Of Interrogation Had Wide Review”, Washington Post, 27/6/2004, disponível no site: http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/ articles/A8534-2004Jun26.html ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas 48. Priest, Dana. “CIA Holds Terros Suspects in Secret Prisons”. Washington Post, 2/11/2005, disponível no site: http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/ content/article/2005/11/01/AR2005110101644_ pf.html 49. Para saber mais sobre as condições dos presos em Guantàmo, ler o documento “Estados Unidos de América: Justicia postergada y también denegada?”, disponível no site: h t t p : / / w e b . a m n e s t y. o r g / l i b r a r y / I n d e x / ESLAMR510442007 50. “CIA Holds Terror Suspects in Secret Prisons”, Washington Post, 2/11/2005. Para mais informações ler a reportagem “From Bagram to Abu Ghraib”, Mother Jones, March/April 2005, disponível no site: http://www.motherjones.com/news/feature/ 2005/03/03_2005_Bazelon.html 51. Termo oficial empregado pela Administração do Presidente George W. Bush para designar alguém mantido escondido em algum centro de detenção, e cuja identidade não é registrada e, portanto, esta pessoa é mantida anonimamente presa. 52. “List of ‘Ghost Prisoners’ Possibly in CIA Custody”, Media with Conscience, 30/5/2005, disponível no site: http://mwcnews.net/index.php?option= com_content&task=view&id=2592 53. Para maiores informações consultar o documento “ The United States ‘Disappeared’ The CIA’s Long-Term ‘Ghost Detainees’ “ , Human Rights Watch, outubro de 2004 , disponível no site: http://www.hrw.org/backgrounder/usa/us1004/ us1004.pdf http://www.dni.gov/announcements/content/ DetaineeBiographies.pdf 54. Para maiores informações sobre mecanismos de controle de serviços de inteligência e trânsito aéreo, vale a pena verificar o relatório de Terry Davis, disponível no site: http://www.coe.int/t/E/Com/Press/Source/ SG_Inf(2006).doc 55. Ver a foto “The Salt Pit - CIA Interrogation Facility outsitde Kabul”, disponível no site: http://www.globalsecurity.org/intell/world/ afghanistan/saltpit05.htm 56. “Revealed: the full story of the Guantanamo Britons The Observer’s David Rose hears the Tipton Three give a harrowing account of their captivity in Cuba”, The Guardian, March 14, 2004, disponível no site: http://www.guardian.co.uk/guantanamo/story/ 0,13743,1169147,00.html 57. “U.S. Operated Secret ‘Dark Prison’ in Kabul”, Human Rights Watch, 19/12/2005, disponível no site: http://www.hrw.org/english/docs/2005/12/19/ afghan12319.htm 58. Para maiores informações sobre o tratamento dos presos em Abu Ghraib, ler “The “Taguba Report” On Treatment of Abu Ghraib Prisoners In Iraq”, Maio de 2004, disponível no site: http://news.findlaw.com/nytimes/docs/iraq/ tagubarpt.html 59. White, Josh. “Army, CIA Agreed on ‘Ghost’ Prisoners”, Washington Post, 11/3/2005, disponível no site: http://www.washingtonpost.com/ac2/wp-dyn/ A25239-2005Mar10?language=printer 60. “Secret CIA centre in Jordan”, News24, 13/10/ 2004, disponível no site: http://www.news24.com/News24/World/News/ 0,,2-10-1462_1604532,00.html 60. Risen, James & Shanker, Thom. “Hussein Enters Post 9/11 Web of U.S. Prisons”, The New York Times, 18/12/2003, disponível no site: http://www.commondreams.org/headlines03/ 1218-07.htm 61. Huizinga, Johan. “Is Europe being used to hold CIA detainees?”, Radio Netherlands, 25/11/ 2005, disponível no site: http://www. radionetherlands.nl/currentaffairs/region/ internationalorganisations/eur051125 62. Para maiores detalhes, ler o relatório de Giovanni Claudio Fava, fruto do “Temporary Committee on the alleged use of European countries by the CIA for the transportation and illegal detention of prisoners (2006/2200(INI))”, disponível em: http://www.europarl.europa.eu/comparl/ tempcom/tdip/pe382246.pdf 63. “La Fiscalía de Canarias investigará las escalas de vuelos de la CIA en Tenerife y Gran Canaria”, El Mundo, 18/11/2005, disponível no site: http://www.elmundo.es/elmundo/2005/11/ 18/espana/1132315880.html 64. “La France enquête sur les avions de la CIA”, Le Figaro, 2/2/2006, disponível no site: http://www.lefigaro.fr/france/20060302. FIG000000200_la_france_enquete_sur_les_avions_ de_la_cia.html 65. “Abductions via Shannon”. Ireland Village Magazine, 26/2-4/3/2005, disponível no site: http://www.village.ie/Ireland/Government/ Abductions_via_Shannon/ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 107 Isabela Maia Mesquita Martins e Juliana Nicola Kilian 66. “Secret Prisons in Poland and Romania?”. Deutsch Welle, 11/4/2005, disponível no site: h t t p : / / w w w. d w - w o r l d . d e / d w / a r t i c l e / 0,2144,1765288,00.html 67. “Un supuesto avión de la CIA aterriza en la base portuguesa de Azores”, Canarias 7, 28/11/ 2005, disponível no site: http:// w w w. c a n a r i a s 7 . e s / a r t i c u l o . c f m ? Id=14607&dia=29/11/05 68. Ferro, Patrícia. “Portugal/CIA.- La Fiscalía General abre una investigación sobre los supuestos vuelos ilegales de la CIA en Portugal”, Europa Press, 2/5/2007, disponível no site: http://www.europapress.es/noticia.aspx? cod=20070205202548&ch=69 69. “Swiss intercept fax on secret CIA jails”, Vive le Canada, January 10, 2006, disponível no site: http://www.vivelecanada.ca/article.php/ 20060110084310922 70. Ritchie, Kerri. “Swiss paper claims proofs of secret US torture camp”, Australian Broadcasting Corporation, 12/1/2006, disponível no site: http://www.abc.net.au/am/content/ 2006/s1546440.htm 71. “Ukraine denies hosting secret CIA prisons”, United Press International(UPI), 13/3/2006, disponível no site: http://www.upi.com/SecurityTer rorism/ view.php?StoryID=20060313-125031-1031r 72. Dombey, Daniel. CIA faces new secret jails claim. 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Declaração de JOHN BILLINGER conselheiro jurídico de Condoleeza Rice. 85. RONA, GABOR. Interesting Times for International Humanitarian Law: Challenges from the “War on Terror”. The Fletcher Forum of World Affairs: vol. 27:2, Summer/Fall 2003. Disponível em: http://www.icrc.org 86. TRINDADE, Antônio Augusto Cançado, PEYTRIGNET,Gérard e RUIZ DE SANTIAGO, Jaime. As três vertentes da proteção internacional dos direitos da pessoa humana. Direitos Humanos, Direito Humanitário, Direito dos Refugiados. Disponível em: http://www.icrc.org. 87. SWINARSKI, Cristophe. Introdução ao Direito Internacional Humanitário. Brasília: Instituto Interamericano de Direitos Humanos, 1996, pág 38-39; 88. TRINDADE Antônio Augusto Cançado. Tratado de direito internacional dos Direitos Humanos. Volume I. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1997, pág. 309; ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Direitos Humanos no 3º Milênio: Captura, Transferências Ilegais, Torturas e Prisões Secretas 89. Extraído do relatório de MARTY, Dick. Alleged secret detentions and unlawful inter-states transfers involving Council of Europe member states. Parliamentary Assembly: Draft ReportPart II (Explanatory Memorandum), pg 3-67, 2006. Todos os casos aqui tratados estão pormenorizados no relatório elaborado por Dick Marty; 90. A suposição de que ele teria sido confundido com Khaled Al-Masri, chefe da Célula de Hamburgo da Organização Al-Caeda provém de várias agências de notícias internacionais, como se percebe pela reportagem: El-Masri war Mitglied bei el-Tawhid do jornal Alemão Focus. Disponível em: http://www.focus.de/politik/ deutschland/geheimbericht_nid_25363.html. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 109 Jeffrey B. Hall 110 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs JUST A MATTER OF TIME? EXPANDING THE TEMPORAL JURISDICTION OF THE INTER-AMERICAN COURT TO ADDRESS COLD WAR WRONGS ••••••••••••••••••••••••••• JEFFREY B. HALL Vice President for Academic Affairs at Covenant College (Georgia, USA) INTRODUCTION During the latter half of the 20th century, the Cold War in the global north spawned several hot wars in the global south, as the competing ideologies of capitalism and communism collided. In consequence, many governments employed increasingly violent and repressive measures to control their populations and quash the rising tide of Marxist revolution. These measures often constituted widespread and systematic abuses of fundamental human rights by governments against their own people.1 In the wave of democratic transition following the fall of the Berlin Wall and disintegration of the Soviet Union, Latin American states meted out varying measures of justice to the perpetrators of human rights abuses.2 The transitional justice strategies of Latin American regimes have fluctuated from nearly comprehensive to nearly completely absent. During this long transitional period, the InterAmerican System for human rights has developed from an obscure tool of political lip-service to a powerful regional barrier to governmental abuse. Few would have thought, after the first ten years of the Inter-American Court (in which it did not issue a single contentious opinion) that two decades later, it would effectively strike down Chilean amnesty laws,3 demand an investigation into the acts of a Peruvian dictator,4 authoritatively establish the truth of state-sponsored massacres, 5 and compensate thousands of victims for injuries perpetrated by government agents.6 Thus, the Inter-American Court has risen to play a fundamental role in the process of transitional justice7 in Latin America.8 Nonetheless, the Court’s role has been severely restricted by its temporal jurisdiction. According to the Vienna Convention on the Law of Treaties, as well as the general legal principle of non-retroactivity,9 a treaty like the InterAmerican Convention cannot be applied to events which occurred prior to the State’s consent to be bound by the treaty.10 Because many states only recognized the Court’s contentious jurisdiction once they had returned to democratic rule and ended their civil wars, many of Latin America’s most serious cases of abuse lie outside of the Court’s temporal reach. This article will examine how the temporal limitations on the Court’s jurisdiction have affected its jurisprudence, and how the Court has interpreted the American Convention on Human Rights to extend its reach into the past. In particular, it will examine three judicial tools employed by the Court which have broadened its temporal jurisdiction. These three tools are the use of contextual considerations, the continuing violations doctrine, and the autonomous events doctrine. But first, a brief explanation is due with respect to the parameters of the Court’s jurisdiction as established by the Inter-American Convention. I . THE TEMPORAL JURISDICTION OF THE INTER AN INTER--AMERIC AMERICAN COURT Essentially, the jurisdiction of the InterAmerican Court relies upon the consent of states parties. This article refers to the date on which the State expresses such consent as the “critical date”. However, the “critical date” should not be confused with the date on which the state ratifies the American Convention on Human Rights and recognizes it as binding international law. In the Inter-American system, not only must State Parties ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 111 Jeffrey B. Hall sign and ratify (or accede to) the American Convention; they must also file a separate declaration in which they expressly recognize the jurisdiction of the Court.11 Once a state has ratified the InterAmerican Convention, it is internationally bound by the human rights norms included therein; once a state has recognized the Court’s jurisdiction, the Court can review the state’s compliance with those norms.12 It is this second step, in which the state files an affirmative declaration, which is considered the “critical date” for the Court’s jurisdiction. Following a state’s recognition of the Court’s jurisdiction, the Court’s power of judicial review is prospective, and should conform to the Vienna Convention on the Law of Treaties, which states: Unless a different intention appears from the treaty or is otherwise established, its provisions do not bind a party in relation to any act or fact which took place or any situation which ceased to exist before the date of the entry into force of the treaty with respect to that party.13 Prospective review drastically limits the Court’s power to examine cold war abuses. As stated in the introduction, the vast majority of the abuses which accompanied the period of upheaval in Latin American occurred before states recognized the Court’s contentious jurisdiction. In fact, nearly all of the 21 states which recognize the Court’s contentious jurisdiction only did so once democracy had been restored and civil wars had ended.14 Thus, the Court’s ability to compel a program of transitional justice is greatly restricted. Yet the Court has employed the jurisprudential tools at its disposal to extend its temporal jurisdiction as much as possible. I I . EXP ANDING TEMPORAL EXPANDING JURISDICTION: Contextual Considerations by the Court First, and most basically, the Court will generally consider a factual context that surrounds the alleged violation, even if that context occurred before the state’s critical date. These contextual considerations do not provide the basis for legal consequences; they only provide background for a proper understanding of the factual situation of the petitioner and the state. The Court has distinguished between determining the truth of the facts alleged and its ability to declare a violation as a direct result of those facts. As the Court stated in Serrano Cruz Sisters v. El Salvador: 112 When pronouncing on the facts or events related to judicial guarantees and protection following [the critical date…] at times the Court must make reference to the subject matter investigated. This should not be understood as a pronouncement on the State’s responsibility for acts that occurred prior to [its recognition of the Court], since the Court lacks the jurisdiction to do so.15 This type of contextualization is basic to judicial structures, and has very little impact on the jurisdiction ratione temporis of the Court. For example, the Court may examine facts which the parties have expressly accepted as true,16 as well as notorious or uncontroverted events.17 Without this authority to take into account what the parties already accept as true, absurd results would flow. For example, in a case in which the victim of an extrajudicial execution was born prior to the competence of the Court, the Court would have to find that it lacked jurisdiction, since it could not determine that the individual was ever born. Thus, the Court does not operate in a temporal vacuum, but rather, must always take into account the past as accepted by the parties. However, as described below, (infra, section IV) a fine line separates determining “context” from determining facts from which legal consequences may flow. I I I . EXP ANDING TEMPORAL EXPANDING JURISDICTION: Continuing Violations Doctrine The concept of the “continuing violation” is the second tool which the Court employs to extend its reach into the past. The Court has recognized that violations of the Convention can be continuous from its very first case. In Velásquez Rodríguez v. Honduras 18 the Court characterized the disappearance of the victim by state agents as a continuous violation of several articles of the Convention. However, because the Court’s temporal jurisdiction was not in question in Velásquez, the Court’s assessment in that case should be understood as dicta.19 It was not until Blake v. Guatemala that the potential implications of the continuing violations doctrine would materialize. In Blake, the Court considered the disappearance and murder of an American journalist by the Guatemalan military. Guatemala recognized the Court’s contentious jurisdiction on March 9, 1987, and explicitly filed a “declaration”20 that “cases in which the Court’s competence is accepted relate exclusively to events that occurred after the date on ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs which the declaration is presented.”21 Although the military abducted and killed Mr. Blake two years prior to the critical date, neither the truth of his death nor his remains were discovered until 1992.22 Guatemala asserted a preliminary objection based on lack of jurisdiction ratione temporis and requested the equivalent of summary judgment.23 The state argued that all of the events at issue had occurred prior to the critical date.24 The Court agreed that the deprivation of Mr. Blake’s liberty and his murder were completed in March 1985,25 and could not be considered to have continued per se past the critical date.26 However, the Court found that the government authorities or agents “committed subsequent acts which implied complicity in, and concealment of, Mr. Blake’s arrest and murder” which occurred past the critical date.27 Moreover, the Court found that although the state knew of Mr. Blake’s death, it did not inform the family or help them to dispose of the remains.28 Most importantly, from the perspective of the victim’s family, the time during which Mr. Blake was considered “disappeared” extended past the critical date. As a result, the Court found that Guatemala had violated the rights of Mr. Blake’s family to due process and effective judicial recourse29 (under articles 8 and 25 of the Convention30) In several cases following Blake, the Court has found the state liable for a violation of the Convention due to its conduct prior to the critical date which extended by act or omission beyond the critical date.31 However, not all violations of the Convention may be considered continuous. The Court has limited the continuing violations doctrine to certain types of state conduct. For example, as demonstrated in the Blake case and others,32 forced disappearances continue in time until the individual (or, more likely, his or her remains) is discovered and the family is notified. Likewise, in the case of Yean and Bosico Children v. Dominican Republic, the Court found that the denial of the right to nationality under article 2033 was a continuing violation for which the State could be held responsible. But the Court has found that other violations of the Convention are consummated upon their commission and are not continuous. For example, in Alfonso Martín del Campo Dodd v. Mexico, the Court held that torture (a violation of the right to personal integrity under article 5 of the Convention) was not a continuous violation because: [e]ach act of torture is consummated or terminated within itself, the perpetration thereof not extending over time, for which reason the alleged act, or acts, of torture to the detriment of Mr. Martín-del-Campo falls short of the Court’s jurisdiction in that it is an instantaneous act and because of the fact that it occurred prior to [the critical date]. In like manner, the [effects] of torture alleged by the representatives of the alleged victim and his next of kin are not equivalent to a 34 continuous offence. When the facts in Blake, Yean and Bosico Children and Alfonso Martín del Campo Dodd, are compared, the Court’s disparate conclusions make sense. First, torture is different from a forced disappearance or the denial of nationality because the state conduct at issue ceases to exist with the physical or psychological act. Forced disappearances, like the denial of citizenship, may still be effectively terminated by the state. So long as the State stands in relationship to the victim such that it continues to deny Convention rights to him or her, it continues to violate the Convention. Second, the “effects” of torture, alleged in Alfonso Martín del Campo Dodd, are conceptually different from the torture itself. Of course, reparations may address the effects and provide redress for the suffering caused by torture or any other violation of the Convention. But the Court must have temporal jurisdiction not only over the moment in which reparations might redress a violation, but also over the violation itself. This approach, which distinguishes continuous violations from instantaneous acts based upon the type of violation at issue, can also be seen in the Court’s jurisprudence with respect to violations of the right to property, under article 21 of the Convention.35 Whether a violation of the right to property is considered “continuous” seems to depend on the type of property right involved. First, in the case of Cantos v. Argentina, the Court refused to consider the Commission’s claims that the state’s denial of the petitioner’s property rights before the state’s acceptance of the Court’s jurisdiction extended beyond the date of acceptance. In rather terse language, the Court found that: The Commission argues that some of the facts of which the State is accused are ongoing illicit acts; that is, the illicit acts continue to exist today. The Court does not consider it necessary to examine here the legal theory of ongoing illicit acts[.]36 In contrast, in the case of Moiwana Community v. Suriname, the Court found the state liable for a violation of the right to property of a maroon tribe, based on a massacre and forced ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 113 Jeffrey B. Hall displacement which occurred a year before the critical date.37 Clearly, the petitioners in Moiwana Community were much more sympathetic as plaintiffs than the petitioner in Cantos. Mr. Cantos was a wealthy businessman deprived of tangible and intangible business property,38 while the Moiwana are a threatened tribal group composed of runaway African slave descendants who were deprived of their ancestral lands.39 A more principled distinction might lie in the Court’s analysis of the reasons that indigenous property rights should be protected.40 Although the Court’s reasoning in Moiwana did not distinguish Cantos explicitly, it did emphasize that a connection with land was inherent in the Moiwana cosmological vision.41 According to the Court, a government that dispossesses an indigenous or tribal group of its lands has deprived the group of one of the fundamental elements of its identity.42 Because their survival depends upon their right to their lands, this right may be said to arise directly from their status as an indigenous or tribal people.43 Such status is without temporal limitation; it can be neither created nor destroyed by the state.44 As a result, the violation of rights inherent to that status may be deemed to arise continuously. In contrast, it was not Mr. Cantos’ status that gave rise to his right to the property he claimed. Rather, he had acquired his property rights through ordinary market interactions governed by domestic law. These interactions provided temporal limits for when his rights accrued, and when they were violated or terminated. The deprivation of his rights, therefore, could be understood as temporally limited, while indigenous property rights may be understood as temporally infinite. As a result, the different results in Cantos and Moiwana may be reconciled by an understanding of the differing nature of the property rights at issue. A. The Failure to Provide Effective Recourse for Human Rights Abuses as a Continuing Violation Whatever the Court’s reasoning for determining which violations of the Convention may be deemed “continuous”, it is clear that the most complex and far-reaching consequences of the “continuing violations” doctrine arise in the context of the state’s failure to investigate and prosecute human rights abuses. The Inter-American Court has made important jurisprudential strides with respect to affirmative due process guarantees over the past quarter century. Specifically, the Court has found that 114 articles 8 (Right to a Fair Trial) and 25 (Right to Judicial Protection)45 of the American Convention require the state to provide effective recourse for the violation of substantive rights of the Convention by effectively investigating, prosecuting and punishing those responsible for human rights abuses.46 This right to effective recourse extends both to the individual who suffered from the substantive violation as well as his or her family.47 The Court has established that the denial of an effective recourse is a continuing violation of the American Convention.48 In Moiwana Community, Suriname ratified the American Convention and recognized the Court’s jurisdiction a year after the massacre and forced displacement of the petitioners’ families by government troops.49 Nonetheless, the Court found that Suriname’s duty to provide an effective recourse for the events, as well as the Court’s jurisdiction to examine Suriname’s compliance with that duty, arose on the critical date: In the case sub judice, the Court distinguishes between alleged violations of the American Convention that are of a continuing nature, and those that occurred after November 12, 1987. With respect to the former, the Tribunal observes that the perpetration of a massacre in 1986 has been alleged; in consequence, an obligation arose for the State to investigate, prosecute and punish the responsible parties. In that regard, Suriname initiated an investigation in 1989. Yet, the State’s obligation to investigate can be assessed by the Court starting from the date when Suriname recognized the Tribunal’s competence. Thus, an analysis of the State’s actions and omissions with respect to that investigation, in light of Articles 8, 25 and 1.1 of the Convention, falls 50 within the jurisdiction of this Court . The effects of this line of jurisprudence are potentially far reaching. Because states are obligated to investigate violations prior to their recognition of the Court’s jurisdiction, many past abuses are swept into the Court’s jurisdiction under the obligation to provide effective recourse. Given Moiwana Community, which first established that the duty to investigate is continuous, are any events immune from the Court’s jurisdiction with respect to the state’s duty to investigate? If Suriname can be held liable for failing to investigate events that occurred before it recognized the Court’s jurisdiction, what is the limit to the Court’s temporal reach? For example, can the failure to investigate abuses of slavery in Brazil be examined? The genocide of Amerindians ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs during the Conquest? Could the Court compel an investigation of all the abuses perpetrated by Latin American states at the height of the Cold War? Although the Court did not place any temporal limits upon the state’s obligation to investigate the past in Moiwana Community, more recent case law may indicate the Court’s disposition to establish such limits. B. Limits on the Duty to Provide Effective Recourse for Crimes of the Past lacks the jurisdiction to examine the State’s obligation to investigate such events. This limitation on the Court’s jurisdiction is substantial; the American Convention did not come into force until 1978,55 and many states did not ratify until much later.56 Nonetheless, the Court’s holding in Vargas Areco is tempered by its earlier holding in Moiwana, in which Suriname was found responsible for failing to investigate events which occurred prior to the State’s ratification of the Convention. As a result, the effect of the Court’s dicta in Vargas Areco remains unclear. 1. Date of State Ratification as a Temporal Limitation 2. The Special Case of Crimes Against Humanity First, the Court has suggested that the state’s obligation to investigate may be limited to violations of the American Convention which occurred subsequent to the state’s ratification of the instrument.51 In Vargas Areco v. Paraguay, the parents of a young boy who was extrajudicially executed by the military alleged several due process violations.52 However, the extrajudicial execution occurred several years prior to the state’s recognition of the Court’s jurisdiction.53 The Court explained: In the present case, the Court finds that the obligation to investigate the violations of the right to life and to personal integrity arose from facts which occurred prior to [the state’s recognition of the Court’s jurisdiction]. Although it is impossible for the Court to pronounce upon these violations, it is important to note that the obligation to investigate them was pending on the date of the state’s recognition of the Court’s jurisdiction. In this respect, it should be noted that the State ratified the American Convention on August 24, 1989, that is to say, several months prior to the death of the child Vargas Areco […]. Therefore, the state was obligated, from that date to fulfill all of its obligations which arose from the Convention, even though the Tribunal might not have had the jurisdiction to adjudicate alleged violations of it by the State.54 Thus, the Court emphasized that that the state had already voluntarily bound itself to the norms of the Convention at the time of the events. As a result, it was obligated to investigate events which violated those norms, and the Court was competent to evaluate that investigation once the state recognized the Court’s jurisdiction. Inversely, the Court’s position in Vargas Areco implies that the State is not obligated to investigate events which occurred prior to the State’s ratification of the American Convention, or, at any rate, the Court The Court has also suggested that the state’s duty to investigate prior events may depend upon their quality as crimes against humanity. In Almonacid Arellano v. Chile, the Court considered the Chilean amnesty law of April 18, 1978 which provided impunity to those who committed abuses during the early days of the Pinochet dictatorship.57 The Commission alleged that the law violated due process because it relieved the state of its duty to investigate and sanction those responsible for the extrajudicial execution of Mr. Arellano on September 17, 1973.58 As in Moiwana Community, the Court found that the state was obligated to investigate and prosecute events which occurred well before the state’s ratification of the Convention or its acceptance of the Court’s jurisdiction.59 However, the Court emphasized that the extrajudicial execution of Mr. Arellano, in the context of the systematic abuses of the Pinochet regime of those years, constituted a crime against humanity, which was against the law of jus cogens.60 In the end, the Court found that the state had violated articles 8 and 25 for failing to investigate and prosecute those responsible for Mr. Arellano’s death, and that this failure was rooted in the application of the amnesty law.61 Implicit in the Court’s opinion was the suggestion that the State’s duty to investigate Mr. Arellano’s death stemmed from its character as a crime against humanity, but that otherwise the Court would have lacked the jurisdiction to consider the State’s compliance with that duty.62 At first blush, this reasoning may seem inconsistent with Moiwana Community. In that case, the Court held the state liable for failing to investigate events which occurred prior to the state’s ratification of the Convention, without mention of crimes against humanity. Yet, the massacre of the Moiwana certainly constituted a crime against humanity, even ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 115 Jeffrey B. Hall if the Court did not characterize it as such.63 Thus, Moiwana Community and Almonacid Arellano may be read consistently. If Almonacid Arellano indicates that investigations of events prior to the Court’s jurisdiction are only within its competence when they concern jus cogens offenses, it must be queried, at what point did crimes against humanity become prohibited jus cogens? In Almonacid Arellano, the Court highlighted the fact that the extrajudicial execution of Mr. Arellano was a jus cogens crime against humanity recognized in 1973.64 But what if the execution had occurred in 1944? On the other hand, this limitation would probably, at the very least, provide a principled distinction for limiting the Court’s jurisdiction to events which occurred subsequent to the London Charter of the Nuremberg Trials in August of 1945.65 Read in conjunction with the Court’s opinions in Moiwana Community and Vargas Areco, the Court’s holding in Almonacid Arellano suggests that the Court seeks to impose at least some limits to its jurisdiction over the state’s duty to investigate. Such limits will most likely restrict the State’s duty to investigate to conduct which was already prohibited (either by the Convention or by jus cogens) at the time it occurred. These limits make sense, because the basic idea underlying ratione temporis restrictions on jurisdiction is to punish the state only for those acts for which it had notice were prohibited. IV ANDING TEMPORAL IV.. EXP EXPANDING JURISDICTION: Failure to Provide Effective Recourse for Human Rights Abuses as an “Autonomous Event”66 A. The Limited Scope of the Autonomous Events Doctrine The previous section examined how the doctrine of continuing violations allows the InterAmerican Court to examine on events which occurred before the state’s acceptance of the Court’s jurisdiction. This doctrine has allowed the Court to examine violations of the rights to life (under article 4) in cases of forced disappearances, the right to nationality (under article 23), the right to property (under article 21) in cases of indigenous land deprivations, and finally, in cases of the denial of an effective recourse (under articles 8 and 25). This section will analyze how a second doctrine, which will be called here the doctrine of “autonomous 116 events”, extends the Court’s temporal jurisdiction in another way. The “autonomous events” doctrine is important, but its importance should not be overstated. The doctrine only applies in cases in which the accused state has limited its temporal jurisdiction to exclude “continuing violations” from the Court’s jurisdiction. Four states have done so: Chile, El Salvador, Nicaragua, and Argentina.67 These states have accomplished this limitation by filing a declaration with their recognition of the Court’s jurisdiction. Chile’s declaration is representative in this respect: […] The Government of Chile places on record that this recognition of the competence and 68 jurisdiction of the Commission[ ] applies to events subsequent to the date of deposit of this instrument of ratification or, in any case, to events which began subsequent to March 69 11, 1990 [the critical date.] By limiting the Court’s jurisdiction to events which began subsequent to the critical date, states avoid litigation with respect to continuing violations.70 Because the Court is the ultimate interpreter of the American Convention, it could have struck down this type of declaration as contrary to the object and purpose of the American Convention. Instead, it seems, the Court has chosen to kill them with paper cuts.71 Thus, the Court has found that the failure to provide effective recourse (under articles 8 and 25) can be divided into “autonomous events” which can be said to “begin” at a moment in time distinct from the investigations or judicial proceedings themselves. According the Court in Almonacid Arellano: This Court has found that in the course of proceedings, autonomous events may arise which may constitute specific and independent violations of the right to effective recourse. For example, the decision of a judge to refuse to allow the defense to participate in the proceedings, meet confidentially with its client, timely access the case file, challenge evidence presented, present counter-evidence, or adequately prepare the case; the use of “faceless” judges and prosecutors, the submission of the accused to tortures or mistreatment in order to force a confession, the failure to communicate to an accused foreigner his or her right to consular assistance, and the violation of the principle of coherence or correlation between crime and punishment, among others.72 The Court went on to find that the application of the Chilean amnesty law constituted an ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs autonomous event which the Court was competent to evaluate.73 The Court held that the application of the law was an autonomous violation because it denied effective recourse to the victims of the Pinochet regime. At the same time, the Court admitted that the mere existence of the law violated the Convention from the moment Chile ratified the Convention, many years before the critical date, and continued to the present.74 This holding demonstrates how the categories of “continuing violations” and “autonomous events” may overlap, since ordinarily the mere existence of the law would constitute a continuing violation of the Convention. It was the special circumstance of the Chilean declaration which excluded “continuing violations” from the Court’s temporal jurisdiction that prompted the Court to employ the autonomous events doctrine. Likewise, in the Cantos case, the Commission claimed that the petitioner had been denied effective recourse throughout the domestic proceedings beginning in 1972.75 However, the Court only examined those proceedings which occurred after the critical date.76 This conclusion was based on Argentina’s declaration upon recognition of the Court’s jurisdiction,77 which limited the Court’s temporal jurisdiction. Nonetheless, the Court found that it was competent to consider state acts within the context of the domestic proceedings which could be considered “per se” violations of the Convention. 78 In its examination of the proceedings, the Court found that the court costs imposed upon the petitioner as a result of his domestic lawsuits (which totaled $125,100,688.60), were excessive. As a result, the Court found that the costs were an undue burden on access to justice and an autonomous violation of article 8 of the American Convention.79 Cantos and Almonacid Arellano illustrate a stable position with respect to “autonomous events” that excludes from the Court’s jurisdiction any allegation which necessarily depends on a legal conclusion based on facts which occurred prior to the critical date. Only those allegations which could be considered in isolation as a violation of the American Convention, and without any factual context of the case, would remain within the court’s purview. In other words, according to the Court, an “autonomous event” may only be found when the state’s conduct violates the Convention as a matter of law. These types of violations are impervious to the temporal limitations made by the state, because they do not depend on prior acts or context; there is no factual context which could possibly justify the state’s actions. B. The FFurthest urthest Reaches of the Autonomous Events Doctrine In the above examples, the Court found violations based on autonomous events which were more or less instantaneous (i.e., the application of the amnesty law or the imposition of excessive court costs). Questions arise, however, with respect to whether different stages of proceedings, which may lie partially or entirely within the Court’s jurisdiction, may be considered “autonomous events”. For example, in Alfonso Martín del Campo Dodd v. Mexico, the Court held that it lacked jurisdiction over secondary proceedings, because the primary proceedings occurred completely outside the Court’s temporal jurisdiction.80 Thus, it would seem, the Court reasoned that the “beginning” of the violation occurred prior to the Court’s jurisdiction and was excluded from the Court’s competence. However, Alfonso Martín del Campo Dodd seems to have been directly overruled by Serrano Cruz Sisters v. El Salvador, in which the Court found that different stages in the investigative or judicial proceedings may be considered autonomous.81 In Serrano Cruz Sisters, the Court considered allegations that the state had failed to provide effective recourse in investigative and judicial proceedings related to the forced disappearance of two girls in 1982.82 El Salvador did not recognize the Court’s jurisdiction until 13 years after the disappearance, in 1995.83 Although El Salvador had opened and closed an investigation in proceedings prior to the Court’s jurisdiction,84 the Court found that the secondary proceedings begun after the date of the Court’s jurisdiction constituted an autonomous event over which it could exercise its jurisdiction.85 Thus, it seems, the Court has determined that when one piece of the investigation or proceedings related to human rights abuses occurs within the Court’s temporal jurisdiction, the Court is competent to examine them. Paradoxically, this position could plausibly encourage states not to open new investigations into human rights abuses, since such an investigation, and the underlying facts, would come under the Court’s microscope. Similarly, the “autonomous” nature of events is difficult to discern when the petitioner alleges a lack of due diligence or unjustified delay in the investigative or judicial proceedings over which the Court has jurisdiction. Concepts like “due diligence” depend on the totality of circumstances, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 117 Jeffrey B. Hall and when the circumstances of the case lie outside the Court’s jurisdiction, difficult questions arise. For example, in Serrano Cruz Sisters the Court analyzed the secondary proceedings to determine their compliance with the American Convention and found that the proceedings had been ineffective and hampered by inexplicable delay.86 This analysis required an indirect examination of events which occurred prior to the Court’s jurisdiction. First, in its analysis of the effectiveness of the investigation, the Court found that the domestic court 87 failed to take into account testimony by Red Cross officials concerning the circumstances of the girls’ disappearance.88 This testimony concerned events which occurred in 1982, many years before the Court’s jurisdiction.89 Therefore, although the Court did not examine events of 1982 directly in its analysis of the State’s compliance with the duty to investigate, the Court did consider how the State responded to testimony by third parties (in this case the Red Cross) about events of 1982. This testimony affected the diligence required of the State in its investigation of the matter.90 For the Court, it was important that the State had knowledge of credible allegations of Convention violations, but failed to investigate them. The fact that the allegations concerned events prior to its jurisdiction was irrelevant, since it was not the truth of the events, but rather, the State’s response to their alleged occurrence. Second, the Court examined the American Convention’s requirement that states provide judicial recourse within a “reasonable time”. The Court acknowledged that an evaluation of the reasonableness of the length of proceedings depended in part upon the complexity of the matter investigated. The evaluation of the complexity of the matter investigated could have required an indirect analysis of facts over which the Court lacked jurisdiction. But the Court avoided this analysis by placing the burden upon the state to explain how the complexity of the case had caused several long periods of procedural inaction. Because the State offered no such explanation, said the Court, the delays could not be deemed reasonable. As a result of these delays, the Court found the State responsible for a violation of the right to judicial recourse under the American Convention. The Court’s holding in Serrano Cruz Sisters marks the outer boundaries of the Court’s expansion of its temporal jurisdiction. Allegations that investigations or proceedings were ineffective will generally depend upon the factual context of the matter investigated. Thus, the amount of diligence or process due depends upon the gravity 118 and circumstances of the underlying facts. In Serrano Cruz Sisters, the Court got at these facts indirectly, by evaluating the state’s response to credible allegations of abuse. But upon determining the credibility of such allegations, the Court discreetly makes a finding of fact with respect to events which occurred prior to the critical date, from which legal consequences may flow for the state. Likewise, by making it the State’s burden to establish that delays in proceedings were justified, the Court avoided a direct analysis of facts over which it lacked jurisdiction. Had the state justified the delay by producing evidence of the complexity of the events investigated, it would have become incumbent upon the Court to make a factual determination of the truth of the state’s justification. Again, the Court would have been forced to reach a legal conclusion based upon facts which occurred prior to the critical date. Seen from the perspective that the principle of non-retroactivity should preclude decisions on issues prior to the critical date, this position is dangerously close to the retroactive application of the Inter-American Convention. However, from an alternative perspective, the Court’s mission is fundamentally about evaluating a state’s behavior subsequent to the critical date. While this evaluation may require factual determinations about events prior to the critical date, the principle of non-retroactivity should not preclude such decisions; the principle of non-retroactivity should preclude findings of law prior to the critical date, not findings of fact. In Serrano Cruz Sisters, the finding of law was based upon El Salvador’s diligence in providing an effective recourse subsequent to the critical date. Because the basis of the principle of non-retroactivity is that a state should not be held accountable for prohibited conduct if the state had no notice that the conduct was prohibited, this latter position makes more sense; the Court’s findings of fact about events prior to the critical date (which inform an evaluation of the state’s response to the events after the critical date) are unrelated to the state’s notice with respect to prohibited conduct (in this case, the failure to diligently respond to alleged human rights abuses). CONCL USION CONCLUSION From a comparative perspective, the tools used by the Inter-American Court in interpreting its jurisdiction are relatively well supported in international law. First, the ability of a court to take into account a historical context when making its judgments is logically inherent to the judicial process. Second, the doctrine of continuing ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs violations has been recognized by several international institutions,91 although the types of violations to which these institutions apply the doctrine vary.92 In particular, the European Court takes a strikingly different position with respect to the continuing nature of the duty to investigate and other issues related to the state’s duty to provide effective recourse.93 Third, although the European Court has not adopted something similar to the “autonomous events” doctrine, this fact is most likely rooted in the European Convention’s prohibition on reservations of a general nature,94 which precludes temporal limitations on its jurisdiction. As a result, the complex issues which arose in Serrano Cruz Sisters will likely not be seen in the European Court. Finally, from a purely consequentialist perspective, the fewer limits on the Court’s temporal jurisdiction, the better human rights will be protected in the hemisphere. As the Court has often stated, the American Convention must be interpreted in favor of the individual. On a continent where so many individuals have been affected by state violence, a comprehensive program of transitional justice depends upon the investigation and prosecution of perpetrators of past crimes, and the compensation of victims for their injuries. The Court has found creative ways to use the state’s duty to provide effective recourse for human righs abuses as the “hook” on which it hangs several legal conclusions based on factual situations which occurred prior to its jurisdiction. As a result, the Court basically compels states to pursue a transitional justice program, lest they violate the American Convention. Thus, the consequences of the Court’s positions with respect to its temporal jurisdiction could have far-reaching impacts throughout Latin America, and force a reckoning that, in many states, has never really occurred. Of course, the political restraints on the Court’s work are obvious and need not be detailed here. Nonetheless, should the Court continue to grow in prestige, acceptance, and power, the effects of its extensive reach into the past will likely become more apparent. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 119 Jeffrey B. Hall NOTES 1. See, e.g., Kathryn Sikkink, MIXED SIGNALS: U.S. HUMAN RIGHTS POLICY AND LATIN AMERICA (Cornell University Press 2004), Cecilia Manjívar and Néstor Rodríguez, WHEN STATES KILL (University of Texas Press 2005), REPORT OF THE CHILEAN N ATIONAL C OMMISSION ON T RUTH AND RECONCILIATION (University of Notre Dame Press, 1993), vol. I/II, FROM MADNESS TO HOPE: THE 12YEAR WAR IN EL SALVADOR: REPORT OF THE COMMISSION ON THE TRUTH FOR EL SALVADOR, S/25500 (United Nations Security Council 1993), GUATEMALA: MEMORY OF SILENCE: REPORT OF THE COMMISSION FOR H ISTORICAL C LARIFICATION (Historical Clarification comisión, 1999). 2. See, e.g. Neil Kritz, ed. H OW E MERGING DEMOCRACIES RECKON WITH FORMER REGIMES, VOL. I-III (United States Institute for Peace, 1995); Priscilla B. Hayner. U NSPEAKABLE T RUTHS : C ONFRONTING S TATE T ERROR AND A TROCITY . (Routledge, 2001) and Slaking a Thirst for Justice, THE ECONOMIST, April 12, 2007, available at http://www.economist.com/world/la/ displaystory.cfm?story_id=9017531, (last accessed August 3, 2007). 3. Case of Almonacid Arellano et al v. Chile. Judgment of September 26, 2006. Series C Nº. 154, para. 115 to 129. 4. Case of the Miguel Castro Castro Prison v. Peru. Judgment of November 25, 2006. Series C Nº. 160, para. 386, 393, and 407. 5. See, e.g., Case of 19 Tradesmen v. Colombia. Judgment of July 5, 2004. Series C Nº. 109, Case of the “Mapiripán Massacre” v. Colombia. Judgment of September 15, 2005. Series C Nº. 134, Case of the Pueblo Bello Massacre v. Colombia. Judgment of January 31, 2006 Series C Nº. 140. 6. Summaries of reparations ordered by the Court can be found in the Annual Reports of the Court, available on the Court’s website at http:// www.corteidh.or.cr/informes.cfm?&CFID =9403&CFTOKEN=75647937 (last accessed on August 3, 2007). 7. For purposes of this Article, transitional justice includes four elements defined by Juan Mendez: (1) investigation, prosecution, and punishment of the perpetrators of human rights abuses, (2) disclosure to the the victims, their families, and society of all that can readily be established about the abuses (3) adequate reparations to the victims and (4) the separations of known perpetrators 120 from law enforcement bodies and other positions of authority. See Juan Mendez, Accountability for Past Abuses, 19 HUMAN RIGHTS QUARTERLY 255, 261 (1997). 8. The European Court of Human Rights plays a similar role with respect to the states of the former Eastern Bloc, and has faced challenges similar to those of the Inter-American Court. See Tom Allen, Restitution and Transitional Justice in the European Court of Human Rights COLUMBIA JOURNAL OF EUROPEAN LAW (2006/2007); Mikael Rask Madsen, From Cold War Instrument To Supreme European Court: The European Court Of Human Rights At The Crossroads Of International And National Law And Politics 32 LAW & SOC. INQUIRY 137 (2007). 9. The General Commentary on Article 24 of the Vienna Convention on the Law of Treaties states “The general rule […] is that a treaty is not to be regarded as intended to have retroactive effects unless such an intention is expressed in the treaty or is clearly to be implied from its terms”. See Y EARB OOK OF THE I NTERNATIONAL L AW COMMISSION, 1966, VOL. II., 211 (1966). 10. Article 24, Vienna Convention on the Law of Treaties. 11. American Convention, Article 62. See BASIC DOCUMENTS PERTAINING TO HUMAN RIGHTS IN THE INTER-AMERICAN SYSTEM 53 (General Secretariat of the Organization of American States) (hereafter, “Basic Documents”). 12. This distinction between the state’s obligation under international law, and the Court’s ability to review the state’s compliance with that obligation is important in the context of the investigation of events prior to the Court’s jurisdiction. See infra sections III.B and IV. 13. Vienna Convention, Article 24. 14. Of course, the criteria which correspond to “democratic rule” are highly debatable, and could provide ample material for a separate Article. For the purposes of the rough estimate necessary for the present study, only two criteria were examined: the end of internal conflict and the presence of multiparty elections. Of the 21 states party to the American Convention which have recognized the Court’s contentious jurisdiction, 17 have experienced authoritarian rule or civil war in the past 30 years (in order by state name, and corresponding dates of return to democracy ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs and recognition of the Court’s jurisdiction: Argentina: 1983, 1984; Bolivia: 1982, 1993; Brazil: 1985, 1998; Chile: 1990, 1990; Colombia: civil war ongoing, but recognized Court in 1985; Ecuador: 1979, 1984; El Salvador: 1992, 1995; Guatemala: 1996, 1987; Haiti: 2006, 1998; Honduras: 1982, 1981; Nicaragua: 1990, 1991; Panama: 1989, 1990; Paraguay: 1993, 1993; Peru: 2001, 1981; Dominican Republic: 1996, 1999; Suriname: 1987, 1987; Uruguay: 1985, 1985) Nonetheless, only four of these states have experienced such turmoil subsequent to their recognition of the Court’s jurisdiction (Colombia, Guatemala, Haiti, Honduras, and Peru). It is unsurprising that these states have also been the Court’s most frequent defendants (Peru: 20 cases; Colombia: 7 cases; Guatemala: 11 cases; Honduras: 6 cases). All historical data taken from the CIA World Factbook at https:// www.cia.gov/cia/publications/factbook.html (last accessed March 23, 2007) except data on Nicaragua, Panama, and Paraguay taken from Microsoft® Encarta® Online Encyclopedia 2007 http://encarta.msn.com ©1997-2007 Microsoft Corporation. All Rights Reserved (last accessed March 23, 2007). Data on state recognition of Court’s jurisdiction taken from Basic Documents, page 59. 15. Case of the Serrano Cruz Sisters v. El Salvador. Judgment of March 1, 2005. Series C Nº. 120, para. 28. See also Case of Nogueira de Carvalho et al. v. Brazil. Judgment of November 28, 2006. Series C Nº. 161, para. 67. 16. Case of Nogueira de Carvalho v. Brazil, supra note 15 para. 67.1-67.3; Case of Almonacid Arellano v. Chile, supra note 3, para. 82-82.23 17. Almonacid Arellano v. Chile, supra note 3, para. 82.3-82.23; Case of the Serrano Cruz Sisters v. El Salvador, supra note 15, para. 48.1; Goiburú et al. v. Paraguay, Merits, Reparations and Costs. Judgment of September 22, 2006. Series C Nº. 153, para. 61.1-61.14. 18. Case of Velásquez-Rodríguez v. Honduras. Judgment of July 29, 1988. Series C Nº. 4, para. 155. 19. Honduras filed its declaration of acceptance of the Court’s jurisdiction on September 9, 1981, just three days before the disappearance of the victim. Velásquez Rodríguez v. Honduras, supra note 18, para. 3; Basic Documents 60. 20. The Court has characterized this type of statement as a “temporal limitation”, not technically a reservation, because “the ‘recognition of jurisdiction’ of the Court is a unilateral act of each State, conditioned by the terms of the American Convention as a whole and, as such, is not subject to reservations”. See Case of Alfonso Martín del Campo Dodd. Preliminary Objections. Judgment of September 3, 2004. Series C Nº. 113, para. 68. 21. Basic Documents, 68. 22. Case of Blake v. Guatemala. Judgment of January 24, 1998. Series C Nº. 36, para. 52. 23. Case of Blake v. Guatemala. Preliminary Objections. Judgment of July 2, 1996. Series C Nº. 27, para. 22 24. Id., at para. 23. Note that the State accepted responsibility for “the unwarranted delay in the administration of justice” up until 1995 but denied that Mr. Blake had been kidnapped and killed by state agents. 25. Id., at 33. 26. Id. 27. Id., at 34 28. Id. 29. The Court also found that Guatemala violated the personal integrity (under Article 5 of the Convention) of Mr. Blake’s family because of the pain they suffered as a result of the state’s failure to investigate. See Case of Blake v. Guatemala, supra note 22, para. 116. 30. Together, Articles 8 and 25 of the American Convention form the normative framework for the Court’s jurisprudence on the State’s duty to provide due process. The text of Article 8 is the following: Article 8. Right to a Fair Trial 1. Every person has the right to a hearing, with due guarantees and within a reasonable time, by a competent, independent, and impartial tribunal, previously established by law, in the substantiation of any accusation of a criminal nature made against him or for the determination of his rights and obligations of a civil, labor, fiscal, or any other nature. 2. Every person accused of a criminal offense has the right to be presumed innocent so long as his guilt has not been proven according to law. During the proceedings, every person is entitled, with full equality, to the following minimum guarantees: a. the right of the accused to be assisted without charge by a translator or interpreter, if he does not understand or does not speak the language of the tribunal or court; b. prior notification in detail to the accused of the charges against him; ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 121 Jeffrey B. Hall c. adequate time and means for the preparation of his defense; d. the right of the accused to defend himself personally or to be assisted by legal counsel of his own choosing, and to communicate freely and privately with his counsel; e. the inalienable right to be assisted by counsel provided by the state, paid or not as the domestic law provides, if the accused does not defend himself personally or engage his own counsel within the time period established by law; f. the right of the defense to examine witnesses present in the court and to obtain the appearance, as witnesses, of experts or other persons who may throw light on the facts; g. the right not to be compelled to be a witness against himself or to plead guilty; and h. the right to appeal the judgment to a higher court. 3. A confession of guilt by the accused shall be valid only if it is made without coercion of any kind. 4. An accused person acquitted by a nonappealable judgment shall not be subjected to a new trial for the same cause. 5. Criminal proceedings shall be public, except insofar as may be necessary to protect the interests of justice. The text of Article 25 is the following: Article 25. Right to Judicial Protection 1. Everyone has the right to simple and prompt recourse, or any other effective recourse, to a competent court or tribunal for protection against acts that violate his fundamental rights recognized by the constitution or laws of the state concerned or by this Convention, even though such violation may have been committed by persons acting in the course of their official duties. 2. The States Parties undertake: a. to ensure that any person claiming such remedy shall have his rights determined by the competent authority provided for by the legal system of the state; b. to develop the possibilities of judicial remedy; and c. to ensure that the competent authorities shall enforce such remedies when granted. 31. See, for example, Case of the girls Yean and Bosico v. Dominican Republic. Judgment of September 8, 2005. Series C Nº. 130, para. §130, Case of the Moiwana Community v. Suriname. Judgment of June 15, 2005. Series C Nº. 124, para. 39; Case of Goiburú et al. v. Paraguay, supra note 17, para. 94, Case of Vargas-Areco v. 122 Paraguay. Judgment of September 26, 2006. Series C Nº. 155, para. 79. 32. Case of Goiburú et al. v. Paraguay, supra note 17, para. 82, Case of Molina-Theissen v. Guatemala. Judgment of May 4, 2004. Series C Nº. 106. 33. Article 20 of the American Convention states: Article 20. Right to Nationality 1. Every person has the right to a nationality. 2. Every person has the right to the nationality of the state in whose territory he was born if he does not have the right to any other nationality. 3. No one shall be arbitrarily deprived of his nationality or of the right to change it. 34. Case of Alfonso Martín del Campo Dodd v. Mexico. Preliminary Objections. Judgment of September 3, 2004. Series C Nº. 113, para. 78. Moreover, in a footnote, the Court defined the difference between a “continuing violation” and an “instantaneous” one: “The offence is construed as instantaneous when the execution of its constituting elements marks the end of its consummation […] It is maintained that the offence is continuous or permanent when its consummation extends over time.” Id., footnotes 12 and 13. 35. Article 21 of the American Convention states that: Article 21. Right to Property 1. Everyone has the right to the use and enjoyment of his property. The law may subordinate such use and enjoyment to the interest of society. 2. No one shall be deprived of his property except upon payment of just compensation, for reasons of public utility or social interest, and in the cases and according to the forms established by law. 3. Usury and any other form of exploitation of man by man shall be prohibited by law. 36. Case of Cantos v. Argentina. Preliminary Objections. Judgment of September 7, 2001. Series C Nº. 85, para. 39. It is important to note that Argentina issued a “temporal limitation” to its acceptance of the Court’s jurisdiction, stating that “the obligations undertaken by virtue of the Convention shall only be effective as regards acts that have occurred after the ratification of the abovementioned instrument”. The Court went on to state that: it is sufficient that it confirm that, if any of the facts imputed to the State were of this nature, it would not be a ‘fact that had occurred after September 5, 1984’, the only ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs category of facts for which Argentina accepted the jurisdiction of this Court”. It is difficult to distinguish the state’s limitation from the general limitation on ex post facto treaty interpretation contained in Article 28 of the Vienna Convention on the Law of Treaties, which states “Unless a different intention appears from the treaty or is otherwise established, its provisions do not bind a party in relation to any act or fact which took place or any situation which ceased to exist before the date of the entry into force of the treaty with respect to that party ”. Although clearly applicable to the Court in all contentious cases, this provision has not prevented the Court from examining continuing violations in other cases. As a result, the state’s limitation does not seem to be the source of the Court’s reasoning for refusing to apply the continuing violations theory to the context of property violations under Article 21. 37. Case of the Moiwana Community v. Suriname. Judgment of June 15, 2005. Series C Nº. 124, para. 164. 38. Case of Cantos v. Argentina, supra note 36, para. 2. 39. Case of the Moiwana Community v. Suriname, supra note 31, para 86.1-86.3. 40. Alternatively, as described below, the Court may have rejected Mr. Cantos claim based on Argentina’s temporal limitation, which might have limited the Court’s jurisdiction over continuing violations. See section IV below. 41. Case of the Moiwana Community v. Suriname, supra note 31, para 129-135. See also Case of the Mayagna (Sumo) Awas Tingni Community v. Nicaragua. Judgment of August 31, 2001. Series C Nº. 79, para. 149, 151; and Case of the Yakye Axa Indigenous Community v. Paraguay. Judgment of June 17, 2005. Series C Nº. 125, para. 127-131. 42. Case of the Moiwana Community v. Suriname, supra note 31, para. 129-135. 43. This status may be forfeited if the community ceases to practice their indigenous culture. See Case of Sawhoyamaxa Indigenous Community v. Paraguay. Judgment of March 29, 2006. Series C Nº. 146, para. 131. 44. The European Commission has taken a similar position with respect to the freedom of expression. According to the Commission, freedom of expression arises from an individual’s status as a human being. As a result, even when a court decision which denies freedom of expression to a particular individual occurred prior to the critical date, the violation continued past the critical date. See De Becker v. Belgium App. Nº. 214/56, decision of June 9, 1958. 45. For a summary of the development of the Court’s due process jurisprudence, see Cecilia Medina Quiroga, LA CONVENCIÓN AMERICANA: TEORÍA Y JURISPRUDENCIA. (Universidad de Chile 2003) pp 265-340 and 357-380. See also Case of La Cantuta v. Perú. Judgment of November 29, 2006. Series C Nº. 162, §140; Case of the Miguel Castro Castro Prison v. Perú, supra note 4, para. 381; Case of Goiburú et al. v. Paraguay, supra note 17, para. 110. 46. See Case of Acosta Calderón v. Ecuador, Judgment of June 24, 2005. Series C Nº. 129, para. 92: “This Tribunal has established that the protection of the person before the arbitrary exercise of public power is the main objective of international human rights protection. In this sense, the non-existence of effective internal recourses makes a person defenseless. Article 25(1) of the Convention establishes, in ample terms, the obligation of the States to offer all people submitted to its jurisdiction an effective judicial recourse against acts that violate their fundamental rights”. See also Case of Yatama v. Nicaragua. Judgment of June 23, 2005 (Only in Spanish). Series C Nº. 127, para. 167; Case of Tibi v. Ecuador. Judgment of September 7, 2004. Series C Nº. 114, para. 130. 47. Case of Juan Humberto Sánchez v. Honduras. Request of Interpretation of the Judgment of Preliminary Objections, Merits and Reparations. (Art. 67 American Convention on Human Rights). Judgment of November 25, 2003. Series C Nº. 102, para. §57; Case of Bulacio v. Argentina. Judgment of September 18, 2003. Series C Nº. 100, para. 78; Case of the “Street Children” (Villagrán-Morales et al.) v. Guatemala. Reparations (Art. 63(1) American Convention on Human Rights). Judgment of May 26, 2001. Series C Nº. 77, para. 65. 48. In Campo Dodd, the Court determined that it lacked temporal jurisdiction to consider the “denial of justice” claims put forward by the Commission, because the judgment of the domestic court occurred before the Court’s jurisdiction, even though the Commission argued that the alleged victim had submitted an appeal after the Court’s jurisdiction. (See §80). This holding, which implies that the denial of justice is not continuous, seems to have been overruled by Moiwana. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 123 Jeffrey B. Hall 49. Basic Documents, 59. 50. Case of the Moiwana Community v. Suriname, supra note 31, para. 43. 51. Vargas Areco v. Paraguay, supra note 31, para. 84. Recall that the date of ratification often precedes the date of recognition of the Court’s jurisdiction. See supra section I. 52. Case of Vargas Areco v. Paraguay, supra note 31, para. 2. 53. Vargas Areco was executed on December 30, 1989. Paraguay recognized the Court’s jurisdiction on March 26, 1993. See Vargas Areco v. Paraguay, supra note 31, para. 71.6, and Basic Documents, 59. 54. Case of Vargas Areco v. Paraguay, supra note 31, para. 84-85. 55. The American Convention came into force on July 18, 1978. Basic Documents, 59. 56. See supra note 14. 57. Case of Almonacid Arellano v. Chile, supra note 3, para. 3-4. 58. Case of Almonacid Arellano v. Chile, supra note 3, para. 83. 59. Id., at 127-128. 60. Id., at 93-104. 61. Id., at 127-128. 62. Id., at 127-128. 63. See Moiwana Community v. Suriname, supra note 31, para. 86.12-86.13: “On February 25, 1980 Desire Bouterse led a violent coup of Suriname’s young democratic government and established a military regime that would commit gross and systematic human rights violations. […]On November 29, 1986 a military operation was conducted at Moiwana Village. State agents and collaborators killed at least 39 defenseless community members, including infants, women and the elderly, and wounded many others. Furthermore, the operation burned and destroyed Village property and forced survivors to flee.” Compare definition of crimes against humanity as defined at Nuremberg: “CRIMES AGAINST HUMANITY: namely, murder, extermination, enslavement, deportation, and other inhumane acts committed against any civilian population, before or during the war; or persecutions on political, racial or religious grounds in execution of or in connection with any crime within the jurisdiction of the Tribunal, whether or not in violation of the domestic law of the country where perpetrated.” London Charter, Article 6(c). 124 64. Case of Almonacid Arellano v. Chile, supra note 3, para. 99. 65. Most authorities agree that the modern concept of crimes against humanity was born at the Nuremberg Trials. See M. Cherif Bassiouni, C RIMES AGAINST H UMANITY IN INTERNATIONAL CRIMINAL LAW 60-69 (Kluwer Law International 1999); Geoffrey Robertson, C RIMES AGAINST HUMANITY: THE STRUGGLE FOR GLOBAL JUSTICE 217220 (New York Press 1999) 217-220; Steven Ratner and Jason Abrams, ACCOUNTABILITY FOR HUMAN RIGHTS ATROCITIES IN INTERNATIONAL LAW (Oxford University Press 2001) 46-49. 66. The Court refers to this concept as either “Hechos Independientes” or “Actuaciones Autónomos” or “Hechos Autónomos”. 67. Basic Documents, 60, 62, 70, 65. Argentina’s temporal limitation states: “the obligations undertaken by virtue of this Convention shall only be effective as regards acts that have occurred after the ratification of the abovementioned instrument”. Because Cantos precedes other Court cases which suggest that the denial of effective recourse is a continuing violation, it is unclear whether it was Argentina’s temporal limitation or simply the fact that the proceedings began prior to the critical date which excluded the proceedings in Cantos. Recall that the Court also rejected Mr. Cantos’ claims with respect to alleged continuing violations of the Right to Property (supra, Section III). However, the Court did not state that it was the State’s temporal limitation that had precluded the argument. See Jo Pasqualucci, THE PRACTICE AND PROCEDURE OF THE INTER-AMERICAN COURT OF HUMAN RIGHTS, 112 (Cambridge 2003). 68. By limiting the Inter-American Commission’s ability to consider cases, Chile in effect limited the Court’s ability as well, since cases may only be brought to the Court by the Commission or another State Party. See American Convention, Article 61. 69. Basic Documents, 60 70. Case of Serrano-Cruz sisters v. El Salvador. Judgment of March 1, 2005. Series C Nº. 120, para. 79; Case of Cantos v. Argentina. Judgment of November 28, 2002. Series C Nº. 97, para. 39; 71. There is considerable support for the position that this type of declaration should have been rejected outright. See Dissenting Opinion of Judge A.A. Cançado Trindade, Case of the Serrano Cruz Sisters, Preliminary Objections. Judgment of November 23, 2004. Series C Nº. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs 118; See also Jessica Tillson, Reservations and the Future of Inter.-American Justice, 6 CHI.KENT J. INT’L & COMP. L. 82, 98 (2006). 72. Case of Almonacid Arellano v. Chile, supra note 3, para. 48. 73. Case of Almonacid Arellano v. Chile, supra note 3, para. 48-49. 74. Id., at para. 50, 121. 75. Case of Cantos v. Argentina, merits, supra note 70, para. 44c. 76. Case of Cantos v. Argentina. Preliminary Objections. Judgment of September 7, 2001. Series C Nº. 85, para. 39. 77. Basic Documents, 62 78. Case of Cantos, preliminary objections, supra note 75, para. 40, Case of Cantos, merits, supra note 70, para. 25. 79. Case of Cantos, merits, supra note 70, para. 54. 80. Case of Alfonso Martín del Campo Dodd v. Mexico, supra note 43, para. 81. It is important to note that Dodd preceded Moiwana. As a result, the Court did not consider the denial of justice as a continuing violation. For this reason, it was not necessary that Mexico declare a temporal limitation in its recognition of the Court (similar to that of Chile, El Salvador, Nicaragua or Argentina) in order to avoid the Court’s jurisdiction over the domestic proceedings. 81. Interestingly, Serrano Cruz Sisters followed Alfonso Martín del Campo Dodd by just 3 months. 82. Case of the Serrano Cruz Sisters v. El Salvador, supra note 70, para. 48.2. 83. Basic Documents, 59. 84. Case of the Serrano Cruz Sisters v. El Salvador, supra note 70, para. 48.22-48.23 85. Id., at para. 66-74. 86. Id., at para. 65, 106. 87. El Salvador’s legal system is based largely upon civil law in which the judge directs the investigation. 88. Case of the Serrano Cruz Sisters v. El Salvador, supra note 70, para. 97, 98. 89. Case of the Serrano Cruz Sisters v. El Salvador, supra note 70, para. 48.18, 48.47. 90. Moreover, although the Court was impeded from issuing its own binding assessment of the events of 1982, its analysis provided it with the opportunity to include the vivid Red Cross testimony in its final judgment, thus giving an implicit recognition to the petitioners, and subtly acknowledging the truth of the facts at the heart of the case. 91. P ERMANENT COURT OF INTERNATIONAL J USTICE, Phosphates in Morocco Case (Italy v. France), P.C.I.J., Series A/B Nº. 74 (1938); HUMAN RIGHTS COMMITTEE, Ivan Somers v. Hungary, Comm. Nº. 566/1993 (July 29, 1996) U.N. Doc. CCPR/C/ 53/D/1993 (1996); HUMAN RIGHTS COMMITTEE, Patrick Holland v. Ireland, Comm. Nº. 593/ 1994, (November 22, 1996), U.N. Doc. CCPR/ C/58/D/593/1994 (1996); EUROPEAN COURT ON HUMAN RIGHTS, Montion v. France, App. Nº. 11192/84, EComHR, decision of May 14, 1987; EUROPEAN COURT ON HUMAN RIGHTS, Posti and Rahnko v. Finalnd, App. Nº. 27824/95, decision of September 24, 2002; I NTERNATIONAL L AW C OMMITTEE , Draft Articles on State Responsibility, Article 14, UN GA Res. 56/83, UN Doc. A/Res/56/83/Annex 92. See Kerem Alt Parmak, The Application of the Concept of Continuing Violation to the Duty to Investigate, Prosecute and Punish under International Human Rights Law, T URKISH YEARBOOK OF HUMAN RIGHTS (1994-2004). For example, in apparent contrast to the InterAmerican court’s decision in Cantos, the European Court considers property deprivation to be a continuous violation. See Louzidou v. Turkey (Merits) judgment of December 18, 1996; Papamichalopoulos and others v. Greece, judgment of June 24, 1996, and Iatridis v. Greece, judgment of March 25, 1999. In addition, the European Commission has found that a domestic court decision issued before the critical date which restricted an individual’s freedom of expression was a violation that continued past the critical date. See De Becker v. Belgium, App. Nº. 214/56, decision of June 9, 1958. The Human Rights Committee has found in order for property violations to be deemed “continuous” a fresh violation or affirmation of the prior conduct must occur after the critical date. See Evan Drake and Carla Maria Drake v. New Zealand, Comm. Nº. 601/ 1994, decision of April 3, 1997, U.N. Doc. CCPR/C/59/D/601/1994, para. 8.2 93. Parmak, supra note 91. 94. CONVENTION FOR THE PROTECTION OF HUMAN RIGHTS AND F UNDAMENTAL F REEDOMS AS AMENDED BY PROTOCOL Nº. 11 WITH PROTOCOL NOS. 1, 4, 6, 7, 12 AND 13, Article 57: “Reservations. 1. Any State ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 125 Jeffrey B. Hall may, when signing this Convention or when depositing its instrument of ratification, make a reservation in respect of any particular provision of the Convention to the extent that 126 any law then in force in its territory is not in conformity with the provision. Reservations of a general character shall not be permitted under this Article.[…]” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Just a Matter of Time? Expanding The Temporal Jurisdiction of the Inter-American Court to address Cold War Wrongs PROTECTING TRADITIONAL KNOWLEDGE FOR INDIGENOUS PEOPLES: THE EFFECTIVENESS OF INTERNATIONAL HUMAN RIGHTS REMEDIES ••••••••••••••••••••••••••• JORGE CALDERÓN GAMBOA Attorney at the Inter-American Court of Human Rights; JD, Universidad Iberoamericana, Mexico; LL.M. International Law, American University-Washington College of Law 2007 INTRODUCTION Traditional Knowledge (TK) from indigenous communities is a crucial aspect of indigenous peoples lives. It is also the means through which they have preserved their culture throughout thousands of years. Therefore, TK must be effectively protected at the domestic as well as at the international level. Due to a lack of recognition of fundamental indigenous rights in domestic law, traditional knowledge rights have not been included in most legislation nor protected in most of the countries that have indigenous populations.1 At the international level, the intellectual property system developed by the TRIPS (Traderelated aspects of intellectual property rights) agreement has negatively impacted the way of life of indigenous peoples, especially in the area of agriculture and plants.2 Bio-piracy3 cases have been presented where multinational corporations have patented seeds or plants used by indigenous groups, obligating them to then pay for their own traditional sources of livelihood, appropriating knowledge obtained by others,4 or in other cases misusing their cultural and spiritual characteristics for the commercialization of different products.5 In recent years, the Intellectual Property system (Doha WTO Ministerial Declaration, WIPO, UNCAT), has explored the possibility of using the current Intellectual Property Rights (IPR) system in order to cover TK.6 This intent has not been successful, mainly because IPR are based on the idea of individual rights7 that require indigenous communities to fit into a corporation’s framework, rather than respecting the communal nature of indigenous communities.8 However, the necessity of developing a new sui-generis system that provides protection to TK has been recognized.9 In the arena of human rights, TK has not been effectively protected. This is because the issue of TK was mainly developed in the arena of IPR. With regards to this, different HR bodies therefore present inconsistencies in considering whether IP is a human right or not, and whether IP should be considered a property right or as an economic, social and cultural right.10 Second, indigenous rights are still the matter of an inconclusive debate in the arena of human rights, mainly over the recognition of collective cultural rights, which impedes defining the scope of the protection of TK.11 Indigenous peoples have demanded a solution before both systems (IP & HR) without receiving a concrete answer in the TK sphere. In recent years, indigenous groups have started to shift their TK complaints to a human rights approach,12 arguing TK as a human right of indigenous peoples rather than just expressions subject to protection of IPR. A very important advance has been taken during the process of discussion and the recently adoption of the UN Declaration on the Rights of Indigenous Peoples (UN Declaration), which recognizes the rights of indigenous peoples “to maintain, control, protect and develop their cultural heritage, traditional knowledge and traditional cultural expressions… Also to maintain their intellectual property over such… and the right to redress for a cultural or intellectual property”.13 Presently, indigenous communities (collective and individual victims) do not have an effective international remedy to claim violations of the right to protect their TK, nor to the right to receive a redress for the damages occasioned in their communities. No international IP system provides ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 127 Jorge Calderon Gamboa standing for indigenous communities to claim biopiracy or misappropriation, and there are no ways in which to enforce the initiatives that have been created at the international level (CBD, WIPO, Doha, FAO, UNESCO, etc). As opposed to this, however, the HR system has mechanisms to receive indigenous community petitions, although the TK matter has not been explored and could present some problems in the recognition of TK as a right. Given this context, two basic and fundamental rights have been denied; the right to an effective remedy and the right to repair damages for a violation of a right. This paper argues that human rights have to take an important role in the protection of TK. Human rights approaches have the advantage of eventual recognition of some collective rights within indigenous peoples’ rights. Moreover, at a judicial level HR provides a system of integral reparations of damages in benefit of the community that goes further than the compensatory measures included in the IP system.14 Therefore, the HR system could provide the indigenous communities with the opportunity to claim an effective protection of TK and also guarantee them access to an effective international remedy and redress. Finally, this article does not analyze in depth the characteristics of the protection of IPR, domestic protections, or human rights conflicts with collective rights. Rather, it analyzes whether traditional knowledge is effectively protected under international human rights remedies, examining both regional systems as well as universal ones, and judicial and non-judicial remedies. For this purpose the paper is divided in five sections. First, a background description of the interrelation of TK with IP and HR. Second, a theoretical analysis as to the right to an effective remedy and redress. Third, an analysis of the existing international HR remedies available for the protection of TK. Fourth, TK through an effective remedy and redress. Finally, an analysis of the implications of the lack of protection, based on a critique in light of international protections. I. Traditional Knowledge: inter relation interrelation and conflicts with Intellectual Property and Human Rights. Defining the right a) Conceptualization of TK Traditional knowledge has been defined as “the totality of all knowledge and practices, whether 128 explicit or implicit, used in the management of socio-economic and ecological facets of life. It is usually a collective property of a society”.15 In a different approach, the Convention on Bio Diversity (CBD) refers to TK as innovations and practices of indigenous and local communities embodying traditional lifestyles relevant for the conservation and sustainable use of biological diversity.16 The Permanent Forum on Indigenous Issues has further stated that “TK of indigenous peoples is their inalienable cultural heritage and embodies their cultural identity”.17 The discussion about TK also includes other terminologies such as folklore, heritage, community resources, traditional cultural expression (TCE),18 traditional group knowledge and practice (TGKP).19 TK is not exclusive of indigenous peoples because it belongs to all ancestral cultural expressions and knowledge that are still maintained in societies.20 This paper refers to TK as the general traditional knowledge, folklore and cultural expressions exercised by indigenous peoples. The main concerns regarding TK have been identified by WIPO as follows: i) loss of traditional lifestyles; ii) lack of respect for traditional knowledge and holders; iii) misappropriation of TK; iv) use of TK without any benefit sharing or in a derogatory manner; v) no efforts to preserve and promote the use of TK.21 TK could be considered an economic, social and cultural right because some parts of its expressions could be necessarily considered as the “right to benefit of the protection of moral and material interest of the author ”, 22 such as handicrafts, folklore, arts or spiritual expressions. Moreover, some other components of TK could be better protected under the idea of the rights to property, especially those linked with land rights and the environment. Nevertheless, both rights could be fulfilled in part for the protection of intellectual property rights, which provide some mechanisms such as trademarks or geographical indicators or patents that could be effective for specific circumstances (defensive and positive protection measures).23 Other sui generis systems could be the solution for the protection of TK. The focus of this analysis concentrates on the fundamental right of indigenous peoples to the protection of their TK based on the rights established in the UN Declaration on Indigenous Rights mentioned above24, stressing the “right to protect” TK, rather than maintain, promote or develop it. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies b) The conflict between IP and TK IP is a double-edged sword: it has strongly affected the right of indigenous peoples and farmer rights, but it is also presented as one of the main solutions for protecting TK. However, the different nature and characteristics of both present fundamental problems. TK differs fundamentally from conventional IPR in the following ways: “a) TK is a communal right, often vested in clan, family or other sociopolitical groups; (b) TK cannot be readily associated with a single, identifiable individual creator, author or producer; (c) TK is managed and owned in accordance with customary rules and codes of practice, and is usually not sold or alienated like conventional intellectual property rights; (d) They include rights to all forms of traditional knowledge such as intangible cultural products and expressions, all of which are not protected under conventional intellectual property laws; (e) Indigenous traditional knowledge is usually transmitted orally and is therefore not subject to the same requirements regarding material forms that pertain to conventional intellectual property systems”.25 Professor Farley mentions that “the underlying rationale of intellectual property law privileges individual ownership, economic exploitation, and the dissemination of new expressions of ideas. IPR are driven by the economics of free enterprise and profit.”26 IPR have evolved effectively in order to protect and develop innovation. In the legal framework of the WTO, the Trade Related Intellectual Property Rights Agreement (TRIPS) was implemented and negotiated during the Uruguay Round. One of the main conflicts presented with IPR and TK is Article 27.3 (b) of TRIPS, which includes an exception of patentability. It is established that Members may exclude plants, animals and essentially biological processes for the production of plants or animals from patentability. Microorganism and nonbiological and microbiological processes may not be excluded. “However, Members shall provide for the protection of plant varieties either by patents or by an effective sui generis system or by any combination thereof.”27 Article 27.3(b) of TRIPS became highly controversial because it meant that any plant or animal that was genetically modified could be considered “processed” and thus could not be excluded from patentability. This was also the first time that life forms were considered patentable under global intellectual property rules. Vandana Shiva explained it in the following way: “TRIPS has become the major “legal” means by which global corporations have been able to steal and patent the medicinal knowledge and the seeds of indigenous peoples through the world: global bio-piracy”.28 During the Doha Ministerial Declaration, the WTO instructed the Council for TRIPS to examine the conflict between TRIPS and TK.29 Developing countries had called for the harmonization of TRIPS and the CBD regarding the use of genetic resources and the protection of TK. Some had argued for the extension to exclude all life forms, and that the principle of informed consent should be incorporated into TRIPS.30 Other proposals are to include provisions of disclosure of origin and evidence of fair and equitable benefit sharing under the national regime of the country of origin.31 The review of Article 27.3(b) is still in process. The World Intellectual Property Organization (WIPO) has made important efforts to harmonize IPR with social conflicts. WIPO has been working on a draft provision for a policy to cover protection of Traditional Cultural Expressions and Folklore.32 The overall goal is to try to protect them from misappropriation, without necessarily creating exclusive property rights over TK. It also recognizes that traditional IP law does not always provide a comprehensive protection of TK.33 Many academic authors, civil society members, as well as indigenous leaders have concluded that the traditional IPR system is not able to protect traditional knowledge and therefore a sui generis system is needed with a more holistic approach that also provides enforceability.34 c) Interrelation and conflicts between IP and HR In the HR arena, IPR have been controversial. However, IPR have tried to fit into the right to property as well as the right to benefit from the protection of the moral and material interest (ESCR). At the same time, different groups have tried to place HR into the IP sphere and vise versa (For example WIPO). The Committee on Economic, Social and Cultural Rights established in its General Comment 17 (2005) an analysis of article 15(1)(c) of the Covenant on ESCR, concerning the right of everyone to benefit from the protection of the moral and material interest resulting from any scientific, literary or artistic production of which he or she is the author. It mentioned that HR are fundamental (inherent to the human person), inalienable and universal entitlements belonging to individuals ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 129 Jorge Calderon Gamboa and, under certain circumstances, groups of individuals and communities. On the contrary, IPR are means by which States seek to provide incentives for inventiveness and creativity and preserve the integrity of scientific, literary and artistic products. It emphasizes that in contrast to HR, IPR are generally of a temporary nature, and can be revoked, licensed or assigned to someone else. Also, they can be limited in time scope, traded, amended and even forfeited. IPR primarily protects business and corporate interests and investments. It concludes that is important not to equate IPR with the human right recognized in Article 15.35 Accordingly, it appears that the General Comment considered IPR not as a fundamental right inherent to the person, but rather as an eventually effective mechanism to protect the human right to benefit from the protection of the moral and material interest of the author. In other words, IPR could be a tool to protect a fundamental right but the scope of the human right included in Article 15 is broader and contains different characteristics than IPR. The other link between both areas could be found in the right to property, which is a human right recognized in almost every human rights treaty. Even their social and economic nature has been included in the civil and political rights catalogs for historical reasons. Many arguments exist about whether IPR could be considered property rights. The Inter-American and European Courts of Human Rights have dealt with and recognized specific cases of IPR within the right to property provisions in the Palamara v. Chile case and Anheuser-Bush Inc v. Portugal case respectively.36 The Sub-Commission on the Promotion and Protection of Human Rights in the United Nations Commission on Human Rights has adopted some resolutions about the conflicts presented between IPR and HR. The Sub-Commission has requested that the UN High Commissioner for HR seeks observer status with the WTO for the review of TRIPS. Moreover, it has called for the protection of traditional knowledge and cultural values of the heritage of indigenous people.37 On the other hand, WIPO has included the relevance to respect international human rights law in its policy provisions for the protection of TK.38 d) Interrelation between HR and TK From the start, HR has been established based on the conception of individual rights. A conflict that TK could face under the HR umbrella would 130 be the lack of recognition of collective rights of communities. For instance, the UDHR was founded upon this idea. Even though ESCR were incorporated in the UNDHR, they originally stemmed from the concept of the interrelation of the individual with these rights.39 The question now will be whether TK is a collective property and generates collective rights. Recently, broader interpretations have been made regarding important HR provisions that have allowed for the protection of collective rights. For example, some of the Articles that have been argued for the protection of collective rights of indigenous peoples are the following: According to Art 27 (2) of the Universal Declaration of Human Rights (UDHR), “everyone has the right to the protection of the moral and material interest resulting from any scientific, literacy or artistic production of which one is the author”. The same provision is established in Article 15(1)(c) of the International Covenant on ESCR (ICESCR) as well as Article 14(1)(c) of the Protocol of San Salvador. The Committee on ESCR has interpreted Article 15(1)(c) in General Comment 17, imposing the following obligations for the state parties: to protect, respect and fulfill. The Committee mentions “State parties should adopt measures to ensure the effective protection on the interest of indigenous peoples relating to their products, which are often expressions of their cultural heritage and TK”.40 Such measures are mentioned as individual or collective protection under the IP regimes. Those measures should respect the principle of free, prior and informed consent of indigenous authors and they should provide for the collective administration by indigenous peoples of the benefits derived from their products. Within this right, the Committee has established as a core obligation (which has immediate effect), the right of equal access for marginalized groups to an appropriate remedy and redress in the case that their moral and material interests have been infringed upon.41 General Comment 17 clearly recognizes collective rights in the case of indigenous peoples.42 Article 27 of the International Covenant on Civil and Political Rights (ICCPR) provides that “In those States in which ethnic, religious or linguistic minorities exist, persons belonging to such minorities shall not be denied the right, in community with the other members of their group, to enjoy their own culture, to profess and practice their own religion, or to use their own language.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies Even thought the word used is “minorities,” this Article has been used to cover indigenous communities.43 In the interpretation of this Article, the meaning of culture has to be understood in a broader sense including some aspects of economic activities. Nevertheless, it must be interpreted case by case.44 The UN HR Committee in General Comment 23 (50), has established that “the enjoyment of this right may require positive legal measures of protection and measures to ensure the effective participation of members of communities in decisions which affect them”.45 ILO Convention No. 169, concerning Indigenous and Tribal Peoples in Independent Countries, is the only legally binding instrument of international law regarding indigenous peoples.46 Although the Convention does not mention TK and folklore, this instrument could be articulated in order to protect TK. Article 23 establishes that “handicrafts, rural and community-based industries, and subsistence economies and traditional activities of the peoples concerned… shall be recognized as important factors in the maintenance of their cultures and in their economic self-reliance and development.” Moreover, Article 13 states that all States “shall respect the special importance of the cultures and spiritual values of the peoples concerned of their relationship with [their lands]…” The UN Declaration on Indigenous Peoples Rights, approved by the HR Council, and recently adopted by the UN General Assembly “is the most comprehensive statement of the rights of Indigenous Peoples to date, establishing collective rights to a greater extent than any other document in international human rights law. It establishes the rights of Indigenous Peoples to the protection of their cultural property and identity as well as the rights to education, employment, health, religion, language and more. It also protects the right of indigenous peoples to own land collectively”.47 According to Article 31 “indigenous peoples have the right to maintain, control, protect and develop their cultural heritage, traditional knowledge and traditional cultural expressions… Also to maintain their intellectual property over such… (Above mentioned)”48. Article 12 recognizes the right to “manifest, practice, develop and teach their spiritual and religious traditions, customs and ceremonies; the right to maintain, protect, and have access in privacy to their religious and cultural sites; the right to the use and control of their ceremonial objects; and the right to the repatriation of their human remains”, which also include the right to practice and enjoy culture. Article 24 mentions the right to “their traditional medicines and to maintain their health practices, including the conservation of their medicinal plants, animal and minerals…”. Finally Article 34 establishes the link between indigenous development in accordance with international human rights standards. The Proposed American Declaration on the Rights of Indigenous Peoples49 contains collective rights of indigenous peoples. In a different approach to the UN Declaration, the American Declaration in Article XX expressly includes IPR provisions, which includes: “Indigenous peoples have the right to the recognition and the full ownership, control and protection of their cultural, artistic, spiritual, technological and scientific heritage, and legal protection for their intellectual property through trademarks, patents, copyright and other such procedures as established under domestic law; as well as to special measures to ensure them legal status and institutional capacity to develop, use, share, market and bequeath that heritage to future generations”. They also have the right to “control, develop and protect their sciences and technologies, including their human and genetic resources in general, seed, medicine, knowledge of plant and animal life, original designs and procedure”. The key issue is that indigenous peoples’ rights are necessarily collective rights. It includes the right to land, natural resources, self-determination and culture.50 It is under this umbrella that TK has been understood. Following this line, the InterAmerican Court of HR has also recognized collective rights for indigenous peoples. In some cases, they have linked this with the right to property and in others they have provided collective reparation measures to benefit the affected community.51 e) Defining the right To conclude this section, TK is one of the areas of law that intersects different disciplines and requires the understanding and protection of different laws such as HR, IP, the environment and indigenous rights. Therefore, it is logical that there have been conflicts of law. However, this should not be an excuse for the lack of protection of a fundamental right for indigenous peoples. The position of this paper is that, first of all, TK is an indigenous peoples’ right based on the recently adopted Declaration on Indigenous Peoples Rights, and supported in other treaties such as, inter alia ICCPR, CESCR, Convention 169 ILO (Article 23), CBD, the Protocol of San Salvador, and the African Charter on Human and Peoples’ Rights (Article 20). Second, this right, as a human right, has multiple dimensions. Some of these are part of ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 131 Jorge Calderon Gamboa the sphere of ESCR, protecting moral and material interests, and some others are part of the sphere of the right to property as a human right. Third, TK is not IPR, but IPR, in some cases, can serve as a form of effective protection. Fourth, for the other aspects that cover TK, it is necessary to implement a sui generi system of protection of TK, which includes the indigenous rights approach (especially customary law52), as well as HR, environmental rights, and administrative law. Finally, it is fundamental that all of these systems provide effective mechanisms to protect collective rights in the context of indigenous peoples; otherwise, they will never be effective.53 So far, the HR system has more possibilities for approaching the rights of indigenous peoples in a holistic way than does the IP system. Moreover, the HR system offers international mechanisms that could integrate all of these interrelations. II. The right to an effective remedy and to reparation in international law for the protection of TK The recognition of a right implies as a consequence the implementation of an effective remedy that provides protection and therefore redress.54 In other words, the remedy includes the ways that a violation of a right could be claimed and the reparation that could be granted in cases where such a violation is found. Therefore, in this case, three different independent55 but interrelated rights exist: the right to protect TK, the right to an effective remedy, and the right to receive integral reparation of damages. These rights apply before the violation of a right that is recognized and must be protected. The right to an effective remedy is not necessarily a judicial remedy; hence, this could also be supplied by a non-judicial body.56 This paper will refer to remedies from judicial, quasi-judicial, and nonjudicial remedies in international law. a) The right to an effective remedy It is fundamental to mention, “the right to access to a judicial remedy [including reparation] is widely guaranteed in international human rights treaties and can be considered as part of the corpus of the customary international law of human rights”.57 An example of HR treaties that recognize the right to an “effective remedy” are the following: Article 8 of the UDHR (customary international law) provides that “everyone has the right to an 132 effective remedy by the competent national tribunal for acts violating the fundamental right granted by the constitutions or laws”. Article 25 of the American Convention on Human Rights disposes that: Everyone has the rights to simple and prompt recourse, or any other effective recourse, to a competent court or tribunal for protection against acts that violate his fundamental rights recognized by the Constitution or laws of the States or by this Convention… Other provisions that include this right are: Article 2(3) of the ICCPR; Article 6 of the Convention on the Elimination of Racial Discrimination; Article 2(c) of CEDAW; Article 13 of the European Convention for the Protection of Human Rights and Fundamental Freedoms; Article 7 and 21 of the African Charter on Human and Peoples Rights58 (ACHPR), amongst others. In the case of TK, the Committee has established in General Comment 17 regarding the rights protected in Article 15 of the ICESCR (protection of the moral and material interest of authors), that within these rights, the right to equal access for marginalized groups to an appropriate remedy and redress in the case that their moral and material interests have been infringed 59 constitutes a core obligation, which has immediate effect. Other specific provisions of the right to effective remedy applied to indigenous peoples are found in the following instruments: (Table 1) The UN Declaration on Indigenous Rights provides the better standard of the right to remedy because it focuses not only in the framework protection of rights, but also in the right to an effective remedy in an individual and collective way. Regional tribunals have interpreted that the remedy has to be timely, adequate and effective. Adequate domestic remedies are “those which are sustainable to address an infringement of a legal right… If a remedy is not adequate in a specific case, it obviously need not to be exhausted”.60 Effective remedies are those “capable of producing the result for which it was designed.”61 One of the main principles in international law applicable to international tribunals is that they are subsidiaries and only activated when the state has failed to afford the required relief.62 As a consequence a basic rule consists of the exhaustion of domestic remedies in order to apply to the international system.63 For instance, Article 46(2) of the ACHR establishes the following exception: ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies ILO 169 Article 8 1. In applying national laws and regulations to the peoples concerned, due regard shall be had to their customs or customary laws. 2. These peoples shall have the right to retain their own customs and institutions, where these are not incompatible with fundamental rights defined by the national legal system and with internationally recognized human rights. Procedures shall be established, whenever necessary, to resolve conflicts which may arise in the application of this principle. UN Declaration on Indigenous Peoples Rights Article 40 Indigenous peoples have the right to have access to and prompt decision through just and fair procedures for the resolution of conflicts and disputes with States or other parties, as well as to effective remedies for all infringements of their individual and collective rights. Such a decision shall give due consideration to the customs, traditions, rules and legal systems of the indigenous peoples concerned and international human rights. i) the domestic legislation does not afford due process of law; ii) the parties have been denied access to the remedies under domestic law or have been prevented from exhausting them, or iii) there has been unwarranted delay in regarding a final judgment under the aforementioned remedies. In order for indigenous rights to be used for the protection of TK, a first step must be that domestic legislation protects it in an adequate and effective manner. For instance, a non-effective protection of TK through some traditional IPR could be a violation of the right to remedy under the bases established above. Furthermore, in the case that such a right is not afforded due process in domestic legislation, for example because it does not allow collective claims or does not recognize indigenous collective rights, this would be an exception for the exhaustion of domestic remedies, opening the door for the activation of the international system of HR protection. A more specific application for TK will be analyzed in section C). b) The Right to Reparation or Redress The reparation of damages is an important principle under international law and it is a consequence of the responsibility of the State. In other words, the breach of its international obligations stems from a duty of the State to provide adequate reparation.64 Article 31 of the Text of the Responsibility of States for International Wrongful Acts, requires full reparation for the injury caused Propose American Declaration… on Indigenous Article XVIII. 4 4. Indigenous peoples have the right to an effective legal framework for the protection of their rights with respect to the natural resources on their lands, including the ability to use, manage, and conserve such resources; and with respect to traditional uses of their lands, interests in lands, and resources, such as subsistence. by international wrongful acts.65 In the HR context, States have C&PR and ESCR obligations stipulated in their treaties. Moreover, the scope of this obligation includes an obligation to respect, protect and fulfill such rights.66 Under international law, when a State or other actor signs a treaty, convention, declaration or any other instrument (soft law), the State assumes the obligation to achieve the goals of the laws as a consequence of its commitment. Therefore, all these instruments bring obligations upon the States, some are binding instruments, and the others are under the scope of international responsibility of the States to be accomplished under the principle of good faith.67 Examples of that are the Universal Declaration on Human Rights (which could be considered customary international law), the ICCPR (without the protocol), the ICESCR or the UN Declaration on the Rights of Indigenous Peoples. Further proof of this is that many of these instruments have implemented special bodies, which declare whether a violation of the instrument has taken place and follows through with recommendations, including reparation measures.68 Some of the provisions that offer the obligation to “redress” a violation are inter alia: Article 63(1) of the American Convention on Human Rights, which established that: If the Court finds that there has been a violation of a right or freedom protected by this Convention… if appropriate, that the consequence of the measure or situation that ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 133 Jorge Calderon Gamboa constituted the breach of such right or freedom be remedied and that fair compensation be paid to the injury party. Other instruments that include redress are: Article 15(2), 16(4)(5) ILO Convention No. 169; Article 13, 50 (41) ECHR; Article 3 of Protocol 7 of the ECHR; Article 7, 21, 26 of the ACHPR; Article 10, ACHR; Article 2(3), 9(5), 14(6) of the ICCPR; 5 of the First Protocol of the ICCPR69; Article 75 (1), 79, 98 of the Statute and Rules of procedures and Evidence of the ICC, and many more.70 As was mentioned above, in the case of TK the Committee has established in General Comment 17, regarding the right protected in Article 15 of the ICESCR (protection of the moral and material interest of authors), that within these rights includes one of the core obligations, which has immediate effect, corresponding to the right with equal access for marginalized groups to an appropriate remedy and redress in the case that their moral and material interest have been infringed.71 Other specific provisions of the right to reparation in the context of indigenous peoples are found in the following instruments: (Table 2). In general these provisions focus on the compensation or restitution of indigenous lands. However, the UN Declaration talks about cultural and intellectual property. Article VII.2 of the Proposed American Declaration, disposes this right to “property” in general terms, which when read with the first paragraph could be linked to a broader conception of property. Also, the provisions state that the restitution must be in accordance with international law standards. 1. Reparation Principles It is necessary to present a brief overview of the concept of reparation of damages in the human rights system based on the following four points: First, it is extremely relevant to visualize the reparation of damages with a double dimension; as a State obligation derived from its responsibility and as a fundamental right for the victims.72 That means that as a right, the indigenous communities are entitled to demand integral reparation for the violation of the protection of TK, which also, under the principles of reparation, must be adequate, effective, and fast.73 ILO 169 UN Declaration Article 15 (2) 2. In cases in which the State retains the ownership of mineral or sub-surface resources or rights to other resources pertaining to lands… The peoples concerned shall wherever possible participate in the benefits of such activities, and shall receive fair compensation for any damages which they may sustain as a result of such activities. Article 28 1. Indigenous peoples have the right to redress, by means that can include restitution or, when this is not possible, of a just, fair and equitable compensation, for the lands, territories and resources which they have traditionally owned or otherwise occupied or used, and which have been confiscated, taken, occupied, used or damaged without their free, prior and informed consent. 4. When such return is not possible, as determined by agreement… these peoples shall be provided in all possible cases with lands of quality and legal status at least equal to that of the lands previously occupied by them, suitable to provide for their present needs and future development. Where the peoples concerned express a preference for compensation in money or in 2. Unless otherwise freely agreed upon by the peoples concerned, compensation shall take the form of lands, territories and resources equal in quality, size and legal status or of monetary compensation or other appropriate redress.Article 323. States shall provide effective mechanisms for just and fair Proposed American Declaration… Article VII 1. Indigenous peoples have the right to their cultural integrity, and their historical and archeological heritage… 2. Indigenous peoples are entitled to restitution in respect of the property of which they have been dispossessed, and where that is not possible, compensation on a basis not less favorable than the standard of international law. Article XVIII 7. Indigenous peoples have the right to the restitution of the lands, territories and resources which they have traditionally owned or otherwise occupied or used, and which have been confiscated, occupied, used or damaged, or when restitution is not possible, the right to continua 134 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies conclusão ILO 169 UN Declaration Proposed American Declaration… kind, they shall be so compensated under appropriate guarantees. redress for any such activities, and appropriate measures shall be taken to mitigate adverse environmental, economic, social, cultural or spiritual impact. compensation on a basis not less favorable than the standard of international law . Article XXI 3. Indigenous peoples have the right to restitution or compensation no less favorable than the standards of international law, for any loss which, despite the foregoing precautions, the execution of those plans or proposals may have caused them; and measures taken to mitigate adverse environmental, economic, social, cultural or spiritual impact. 5. Persons thus relocated shall be fully compensated for any resulting loss or injury. Article 11 2. States shall provide redress through effective mechanisms, which may include restitution, developed in conjunction with indigenous peoples, whit respect to their culture, intellectual, religious and spiritual property taken without their free, prior and informed consent or in violation of their laws, traditions and customs. Second, According to international law, there are direct, indirect and collective victims. 74 Violations of indigenous rights could affect direct victims individually or collectively, and also indirect victims, such as the relatives or other members of the community, who also have the right to obtain reparation.75 Another interesting conception of victims, which has been litigated internationally, is the notion of “the potential victim”, which also could be used in the protection of collectivities such as indigenous communities.76 Third. It is necessary to identify what kind of damage the victims suffer from. Here it is important to distinguish between the damages occasioned to the victims and the specific measures to repair these damages. In a medical context, this relationship is similar to the injury and the remedy to alleviate the sickness. International HR law recognizes the existence of two generic damages: Pecuniary and Nonpecuniary. Furthermore, within these divisions we can find more specific damages,77 such as: Material Damage, which is divided into special damages (daño emergente) and loss of earnings (lucro cesante); Moral Damage is caused as a result of misrecognition of the human dignity of the victim, the pain and suffering as a consequence of a human rights violation.78 This particular damage could have important relevance in the context of TK, because of its moral and psychological content; Damages to the Life Plan (Proyecto de vida), recognized by the Inter-American Court on Human Rights (IACHR),79 is a kind of damage that affects the personal realization of the individual through the affectation of their freedom to conduct their planned projects.80 This kind of damage has also been argued by legal witnesses and indigenous communities in the context of the life plan of the community.81 Even the life plan damage could be presented in cases that have strong infringements of communal cultural expression. For instance, in a violation of the protection of TK, such as bio-piracy or misappropriation, economic and moral damages could be incurred by the community. Fourth: The next step consists of identifying the measures available to repair the specific damages at the concrete case level. As an example, the IA Court of HR includes five distinct elements: restitution in integrum; fair compensation; rehabilitation; satisfaction and guarantees of nonrepetition.82 In the case of pecuniary damages caused by bio-piracy of TK, the reparation measures could consist of restitution of the rights over the plant or seed, and compensation for the economic damages and also guarantees of non-repetition through adequate protective legislation. In the case of misappropriation of TK, moral damages could be compensated inter alia but satisfactory measures are also granted, such as public apologies or revindicatory measures. Other forms of reparations could be performed depending on the nature of the specific case. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 135 Jorge Calderon Gamboa Professor Theo van Boven described three additional Special Measures to take into consideration: (i) Affirmative Action regarding people who are racially and ethnically disadvantaged and marginalized; considering that additional resources should also be granted in order to enjoy their ESCR and also through the implementation of development programs. (ii) The Moral Imperative of Reparation “requires that the victim’s dignity and worth as a human being be restored,” through the concept of moral reciprocity or integrity with each other. (iii) Dealing with Historical Wrongs, special measures should be taken in order to create better conditions and carry out justice, contributing to the realization of economic and social rights for racially and ethnically disadvantaged and deprived groups.83 All these principles analyzed above should be taken into consideration in order to bring a claim before human rights mechanisms for a violation of indigenous peoples’ right to benefit from the protection of TK. In the context of IPR, the reparation of damage system does not provide real redress for indigenous peoples. First of all, the system has mainly served as a remedy for the cessation of the measure; Second, in cases of damages the assessment is based on the economic harm, which does not work in favor of indigenous expressions, and Third; because it does not provide for collective compensation. Professor Farley considers that the system of damages is the only way to ensure that outsiders will respect the copyrights of indigenous groups. Under some copyright laws, only actual damages are awarded for economic harm caused by infringement. Many indigenous expressions cannot be valued economically. Thus, the real harm done, which lies in the moral, spiritual or social sphere, would go unpunished and would not be redressed.84 Given these problems “the copyright law, as it is currently formulated, may not be entirely adequate to protect indigenous peoples… [cultural expressions]”85 In order for the IP system to provide adequate compensation, due to the particular characteristics of community and indigenous rights and the characteristics of the damages, it would be necessary to develop an integral reparation catalogue (i.e. WIPO, Article 8 of the Provisions protecting TCE/ Folklore), which includes a cultural perspective which would recognize material pecuniary damages (including IP damages), and moral, social and life plan damages. Reparations must include measures of restitution, compensation, satisfaction, guarantees of non-repetition, and affirmative actions. 136 As a consequence, the current human rights approach to the integral reparation of damages is a more adequate mechanism for the kind of damages suffered by indigenous peoples. c) Implications of the right to remedy and redress in the context of TK In order to fulfill the right to benefit from the protection of TK for indigenous peoples, it has to be protected in domestic law through effective and adequate remedies, including sui generis mechanisms, as well as civil, administrative, criminal and principally customary law remedies. But at the same time, these effective remedies must be able to grant individual and collective redress for the collective violations. The nature of the rights included in TK is that “protection” is needed in order to maintain and promote the expressions as a fundamental part of the culture and survival of indigenous peoples. Therefore, the mechanism of protection could be different, inter alia, establishing IPR, sui generis systems, a public domain clause, the management of interest by governmental agencies. The right to include TK does not mention which kind of protection has to be granted, but the idea is that this protection be adequate for the indigenous TK. The right to an effective remedy is also a fundamental autonomous right, which is necessary for the fulfillment of other rights, in order to claim violations. The effective remedies that could monitor the effectiveness of such protection of TK could be established through criminal, civil or administrative remedies. The main problem concerning TK is that it is not sufficiently recognized in domestic legislation, and indigenous peoples in most of the cases do not have standing before the “existent local remedies” because collective rights do not apply, impeding the access to remedy for community rights. In this context, international remedies are indispensable as the last forum to effectively make a legitimate right. The exhaustion rule should be covered, or qualified by some of the exceptions. For instance, in some countries where TK is not effectively protected at the domestic level, the community could challenge the effectiveness and adequacy of these remedies before the international HR system. In the second example where the country does not provide any remedy available for TK or collective rights for indigenous communities, indigenous communities could access the international HR system directly, claiming the protection of a right recognized at the international ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies level. In this case, the violation would have to be linked with one of the conventional rights monitored by the HR body, for example, through a broader interpretation of the right to property, or the protection of material and moral interest of the authors, cultural rights, freedom of religion or expression. The same right to access remedies at the domestic level has been covered in the international forum. The international system has to provide for an effective remedy to hear about claims of violations of rights recognized in international instruments. In this context, the international HR system is the only forum that provides this possibility in a more holistic approach to indigenous rights. In the context of reparation, the HR system may recognize collective damages and therefore could provide collective measures for the communities. An example of integral reparations of damages granted for indigenous communities before the Inter-American system could be found in the Plan Sanchez case, 86 concerning the massacre of an indigenous community in Guatemala by the military police. The abuses presented included the destruction of housing and other methods of daily subsistence, and the displacement of the survivors. The court granted individual monetary compensation for the survivors and next of kin of the murdered victims and pointed out that the non-monetary forms of redress ordered would benefit all the members of the community. 87 Therefore, the court established that due to the victims losing their houses, the government had to implement a housing program, providing adequate housing for people who required it, according to the criteria established by the UN CESCR in General Comment No. 4. 88 Furthermore, the court required the implementation of an integral development program, including health, education, production and infrastructure.89 The government also had to organize different programs in the region, including: a) teaching and diffusion of the Mayan culture; b) maintenance and improvement of the system of road communication; c) potable water and a sewer drainage system; training of more teachers for the affected communities, and e) building a health center with adequate personnel in order to provide medical and psychological assistance.90 This case is a good example of an integral reparation not only for individual damages, but also for damages to the community. It is important to consider that only through these integral measures is it possible to redress these kinds of violations that have a significant impact in all aspects of life of the community,91 such as TK. III. Analysis of the International Remedies available for the Protection of TK a ) Current International Mechanisms available for the protection of TK: NON HR bodies The current mechanisms available for the protection of TK, do not provide effective mechanisms of enforceability, nor do they provide an effective remedy for local indigenous communities. Although these mechanisms contain the most requested TK provisions for the international community, they have a different approach to the context of TK; in some cases through environmental rights and in others through the protection of IP rights. For example: the Rio Declaration on Environment and Development; the Convention on Biological Diversity; WTO-GATT Art. XX (f). the Durban Declaration. The World Bank Operational directive; the IADB; WIPO; FAO; CBD. (see Table 3). Some of these mechanisms include relevant provisions for the protection of TK, however, none of these mechanisms provide standing for indigenous communities in order to enforce the protection provisions. Moreover, in general there are no clear provisions that recognize collective indigenous rights and others contain technical problems. Some examples include the following: On one hand, the CBD does not contain adequate legal obligations to protect any property rights of indigenous peoples in their TK because first of all, it defined this protection as “subject to the national legislation” and referred to it “as far as possible appropriate” (see Table 3), which does not create any international legal obligation. Second, Article 8(j) calls for respect, maintenance, and protection, but does not consider any protection nor guarantees any right in TK.92 Finally, this Convention does not provide any standing for indigenous peoples. On the other hand, WIPO is currently working on Draft Provisions for the Protection of TCE/ Expression of Folklore: Policy Objectives and core principles. This provision recognizes the value of TK and the need for its protection through customary law, respect of HR and the promotion ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 137 Jorge Calderon Gamboa of defensive and positive protection of TK. Also, it recognizes as a core principle the creation of mechanisms of enforceability, including sanctions, remedies and exercise of the rights. In the commentaries of Article 8, it mentions that “communities have pointed out that the remedies available under current law may not be appropriate to deter infringing uses of indigenous copyright holder, or may not provide for damages equivalent to the degree of cultural and non-economic damage caused”.93 Therefore, these provisions provide important guidelines for the countries regarding the interrelation of IP in TK with a HR approach. However, this document would not be binding, nor would it provide any standing for indigenous communities. One provision in GATT that has not been explored yet is Article XX (f), which recognizes a general exception regarding “the protection of national treasures of artistic, historic or archeological value”. In some countries, many indigenous cultural expressions or TK are considered national treasures, and therefore an argument could be articulated in this regard (See table 3). A current possibility of an international forum in this regard would be the Inspection Panel of the World Bank, which according to its Operational Directive (Direction 4.10), provides a definition and interest in indigenous peoples. This forum provides a complaint system regarding the application of the Bank policies and their projects.94 Some experiences of cancellations of Bank projects affected indigenous communities by not using a holistic approach. Furthermore, there are no directives about TK, which would make it hard to link this with the general policies of the Bank. Another interesting international approach is the Proposed Free Trade Agreements (PFTA) between Colombia, Peru and Panama, which include an “understanding” regarding biodiversity and traditional knowledge (Peru95-Colombia96) and a “side letter” on TK (Panama97) that states: “The Parties recognize the importance of traditional knowledge and biodiversity, as well as the potential contribution of traditional knowledge and biodiversity to cultural, economic, and social development. The Parties recognize the importance of the following: (1) obtaining informed consent from the appropriate authority prior to accessing genetic resources under the control of such authority; (2) equitably sharing the benefits arising from the use of traditional knowledge and genetic resources; and (3) promoting quality patent examination to ensure the conditions of patentability are satisfied”. These provisions represent an important step for the recognition of the need to protect TK in the trade arena. Nevertheless, these provisions do not recognize a right, but only recognize the importance of the issue, which does not provide pathways to real enforcement. What is positive about these understandings, however, is that these would have to be interpreted in intellectual property disputes, opening the door for future fairer trade negotiations. In closing, the protection of the bodies analyzed above do not provide adequate standing for indigenous communities in order to enforce the recognized right of TK. Furthermore, the means established for the protection of TK are not effective because they were not created under the logic of indigenous peoples rights. The following table presents an analysis of the remedies available in non-HR mechanisms. It is clear that hardly any of the instruments provide standing for indigenous peoples. Thus, they cannot be considered effective remedies. (Table 3). Table 3 - Cur rent International instruments for the pr otection of TK: Non HR bodies Current protection International HR Treaty Body WIPO Instruments Right Protected Draft Provisions for - Prevent misappropriation of the Protection of TK TCE/EF - Customary law as a way to protect TK. - Respect for HR - Promote defensive and positive protection of TK. Indigenous collective standing No Effective International Remedy No, because it does not provide complain system. - Principle Art. 8: Call for mechanism of enforceability, including sanctions, remedies and exercise of the rights. Reparations for the Victims No. Only in domestic level. (Art. 8) (continua) 138 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies (conclusão) International HR Treaty Body Instruments Right Protected Indigenous collective standing Effective International Remedy Reparations for the Victims - TRIPS Agreement (Art. 27(3)) - Article XX. General exception. No (f) “Protection of national treasures of artistic, historic or archeological value” - Members provide for protection of plant variety either by patents or by an effective sui generis system. No. No for the right holders. Only between states. UNESCO Universal Declaration on cultural Diversity - Link cultural diversity to human dignity. Especial protection for indigenous groups. No No No. FAO International Treaty on Plant Generic Resources for Foods and Agriculture - Promote conservation of wild No crop relatives and wild plants for food production, supporting efforts of indigenous and local communities. (Art. 5(1)(d)). No No. No - Call upon respect, preserve and maintain TK (Article 8(j), 10(c), 18.4) - Protection of customary use of biological resources (Art. 10(c)) No. No. - Refer the protection to the “subject to national legislation” (Art. 8(j)). - No rights for indigenous on TK. No - No recognition of collective rights. No WTO - GATT, art. XX (f) UN Conference CBD on environment and Development - Rio Declaration98 - Agenda 21. - Indig. has vital role in environment because their traditional practices (Principle 22) - Shared benefit for the utilization of their TK No Partial Partial - Mechanism to revert projects that could affect indigenous communities. World Bank Inspection Panel. - World Bank’s definition of Operational and interest in Indigenous Directive(Direction Peoples. 4.10) WB GroupCompliance Advisor Ombudsman. Safeguard Policies, guidelines and procedures, in investing (IFC) or projects (MIGA). Groups or - Complaints from persons who are affected (or are likely organizations to be affected) by the social and environmental impacts - Public Recommendations to the President of the WB group. Trade Promotion Agreements Between US-Peru/ Colombia/Panama. No The Parties recognize the importance of traditional knowledge and biodiversity (Understandings – Side letters). No. Partial, because Possibility of interpreted is not a right. in the intellectual property disputes (IFC – MIGA) Bilateral Free Trade Agreements Partial - The cancellation of the project and some compensatory measures. - No. (It could prevent damages and recommend some remedies). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 139 Jorge Calderon Gamboa b) International HR T reaty bodies Treaty available for the protection of TK The international human rights system, based on the treaty bodies, provides standing for indigenous peoples for violations of collective rights. Specifically, TK could be better protected through regional systems. The Inter-American system has extensive jurisprudence recognizing collective property rights for indigenous communities and granting collective measures of reparations.99 Article 25 of the American Convention recognizes the right to an effective remedy for violations not only of the rights recognized in the Conventions, but also in countries’ constitutions. The African system is broader. In Article 7 of the ACHPR, includes a remedy for “rights recognized and guaranteed by conventions, laws, regulations and customs in force”. This provision opens the possibility to claim for an effective remedy that protects indigenous rights, such as TK. The universal systems provided standing for indigenous communities before the UN Human Rights Committee, base on the ICCPR and protocols, which has been ratified by many nations.100 These are effective mechanisms for indigenous communities in order to bring an international complaint regarding the protection of TK. However, how this organism would rule depends on the construction of the arguments. On the other hand, the specific indigenous peoples’ rights instruments are extremely important for the interpretation of other treaties. For instance, in the Inter-American Commission on HR, in the case of Mary Dann v. US, Convention 169 was used as well as the UN Draft Declaration and American Declaration on Indigenous Rights in order to interpret the American Convention with an indigenous rights’ approach. 101 The recently adoption of the UN Declaration is a very relevant statement for consensus regarding indigenous rights as well as an important guideline as soft law. The following table presents an analysis of the remedies available in the HR mechanism (treaty bodies): universal and regional system. It demonstrates that in almost all of them, indigenous communities could find an effective remedy for the protection of TK. However, not all of them provide a reparation system. (Table 4) Table 4 - International HR Remedies for the pr otection of TK protection International HR Treaty Body Instruments Right Protected Convention No. 169 - Cultural rights ILO - Collective rights I/A Court on HR - ACHR - Protocol of San Salvador. (ESCR) I/A Commission on HR - ACHR- ADRDMProtocol of San Salvador. (ESCR) African system. African Charter …(ACHPR) Court and Commission. Effective International Remedy Indigenous collective standing No. No. (Art. 26-34 Recommendations (Art. 33 ILO). ILO) Reparations No. Recom. Rights to private property Yes (Art. 21) Progressing on ESCR (Art. 26). Right to protect moral and material interest of the authors. (Art. 14) Yes Article 25 effective remedy for rights recognize in the convention or constitutions. Judicial Decision (jurisprudence) Biding Yes Collective reparations for indigenous communities.102 Article (63.1) Id. Benefit of the culture. (Article XIII of the American Declaration) - Eventually, American Declaration on Indigenous Rights. Yes Yes. Id.Recommendation (Non binding) Yes. But Recommendations. - Right to Private Property (Art. 14)- Right to self determination (Art. 20)Collective rights (Art. 21) Yes Yes - Protecting right recognize in the Charter, as well constitution, laws and customary law. - Judicial Decisions (bindings) / Commission: Recommendations. Yes. (continua) 140 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies (conclusão) International HR Treaty Body Instruments Indigenous collective standing Right Protected European Court European Convention of Human Rights - Right to Private Property No European Committee of Social Rights. (European Council) European Social Charter(Protocol 1995) - No right related Yes. (Art. 8) UN Commission on HR ICCPR Right for minorities to practice Yes in the culture (Art. 27). General Comment 23. (Interpretation of the UN Declaration on Indigenous). Effective International Remedy Reparations Yes Partial - Only for violations of the rights recognize in the convention. - Judicial decision (Bindings) Partial. Some Partial. Reporting Procedure. recom. (No monetary Recommendations compensation) (Art. 21) Yes. Article 5(4) of the Protocol. (individual Petitions). Resolutions. (Cuasijurisdictional) Yes. Recommendations. UN Committee ICESCR on ESCR - Protection the material and moral interest. (Art. 15). - Protection of TK. General Comment 17. No. - NGO’s have consultant status. Non standing for victims. System of Resolutions and Interpretation. Country Reports. (Eventually optional Protocol). No. UN Declaration UN Organs.Working Group Indigenous Rights. (WG) on Indig Peop. (Art. 42) - Permanent Forum Indigenous peoples human rights. No direct Partial - To promote the application and efficacy of the UN Declaration. No The rights in the UN Declaration on indigenous rights. - WG on the Draft Declaration - Special Rapporteur on indig people. IV IV.. Implications of the lack of protection: A critique under the light of the International HR system The lack of effective domestic remedies has impeded the ability of local communities to complain about abuses of their TK. The same has occurred at the international level, where no cases that specifically deal with TK have been presented. For a long time, indigenous peoples have seen their TK affected, mainly due to misappropriation or because of the lack of measures to maintain and promote it. In general, indigenous peoples have been marginalized from obtaining legal protection. Lately, however, due to the increase in international The different organism do: - Studies - Annual Reports - Experts’ advices in indigenous issues. - Meetings - Guidelines and recommendations. trade, bio-piracy cases around the world have been presented, as well as misappropriation cases, especially due to increments of IPR system. In some of these cases, indigenous communities have suffered serious damages to their economic, social and cultural rights without receiving an integral redress. In many other cases, no compensation for their stolen product has been granted. For example in the Ayahusca case, where an American citizen, Loren Miller, obtained a US plant patent from the shamans indigenous community in the Amazon, the community was not able to effectively claim their TK rights, and therefore the USPTO103 granted the patent to the patentee.104 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 141 Jorge Calderon Gamboa In the Hoodia Cactus case, the San in southern Africa, who use this plant to stave off hunger and thirst on long hunting trips, were faced with losing the right to the TK of this plant by the patenting of Hoodia by Pfizer. At the end, the dispute was resolved with an understanding granting the share of a small percentage of the future royalties.105 In both cases, the IPR mechanisms were challenged without success.106 The local indigenous communities could feel that their rights were neither respected nor redressed. In these cases, it is vital that there is an effective international system that could address the problem under an indigenous rights-based approach and therefore grant a fair and integral redress for the communities. As was concluded in Section II A, so far the regional HR system is the only adequate international forum to bring forth these kinds of cases. For instance, even in the case of patents granted in the US, these cases could be submitted before the Inter-American Commission based on the American Declaration on the Rights and Duties of Man, such as the Dann v. US case.107 Therefore, the HR system provides a remedy for TK. CONCL USIONS AND CONCLUSIONS RECOMMEND ATIONS RECOMMENDA The current international HR system could effectively protect TK, rather than the IP or environmental system for four main reasons: i) it recognizes collective indigenous peoples’ rights; ii) it calls upon domestic protection and effective domestic remedy; iii) it is the only international mechanism that grants standing for indigenous communities, and iv) the integral reparation system assesses the damages and the reparation measures with a holistic approach that included indigenous rights that could benefit the community as a whole. The HR system must start to seriously address issues such as IPR and TK, that were previously considered a part of other arenas, such as IP or the 142 environment. That means that the HR system has to be prepared to receive indigenous complaints for violations of the protection of TK, and to start to expand its analysis, approach and scope, through mechanisms such as General Comments, Advisory Opinion and Recommendations. Civil society has to become aware of the current lack of effectiveness of the IPR system for protecting TK, and must begin to shift their concerns to the HR system. This could pressure international organizations such as the WTO to adapt its standards in a more holistic and humane way. In order to perfect the enforceability of the right to protect TK, it would be relevant to recognize traditional knowledge in a binding treaty, such as a convention or protocol that would be monitored by a treaty body. This would open the possibility for claiming protection of TK rights in a direct way and would increase the focus on the need for more domestic measures of protection and implementation. Meanwhile, TK could be protected through the right to property (civil right) mechanism as well as the right to benefit from the moral and material interest of the author (ESCR), depending on the nature of the manifestation of the TK. The implementation of the recently adopted UN Declaration on the Rights of Indigenous Peoples by the UN General Assembly, as well as the Proposed American Declaration, will provide a good tool for the interpretation of TK rights by the existent systems, 108 such as the UN HR Committee and the I/A Commission on HR respectively. Finally, the IPR system faces the significant challenge of including in its existing initiatives (WIPO, Doha, UNCAT, FAO), an indigenous peoples HR approach that allows for the protection of TK in the IP system.109 TK is an indigenous peoples’ right that must be protected, maintained and promoted. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies NOTES 1. Examples of countries with very limited protection of TK are: Canada, Australia, Peru, Panama, and Costa Rica. 2. Graham Dutfield, Protecting Traditional Knowledge and Folklore: A review of progress in diplomacy and policy formulation, UNCTAD-ICTSD, Issue paper No. 1 (2003), at. 16 See also Lars Anders Bears, Protection of Rights of Holders of Traditional Knowledge, Indigenous Peoples and Local Communities. WORLD LIBRARIES, Vol. 12, No. 1, (2005). at 5. 3. Define as the “appropriation of the knowledge and genetic resources of framings and indigenous communities by individuals or institutions seeking exclusive monopoly control over these resources and knowledge”. Cited in CIPR, Integrating Intellectual Property Rights and Development Policy, at 74-8. 4. I.e. Cases such as Ayahusca, Hoodia Catus, Neem, Tumeric. 5. I.e. Cases of Misappropriation: Milpurrurru (Australia). 6. Other Convention that includes TK is the Convention on Biodiversity (CBD); 7. Christine Haight Farley, Protecting Folklore of Indigenous People: IS Intellectual Property the Answer?, 30 Conn. L. Rev. 1, 5 (1997). See also U.N. Econ. & Soc. Council [ECOSOC}, General Comment No 17 (2005), E/C.12/GC/17. 8. These IPR mechanisms are inter alia: Collective Trade Marks, Geographical indicators, Patents, Copyrights, and Certification Marks. lands and territories”. Para 259. The case is pending of resolution before the Inter-American Court on HR). See also ECOSOC, Permanent Forum on Indigenous Issues, Report of the Secretariat on Indigenous Traditional Knowledge. E/C.19/2007/10 (March 2007), (Hereinafter, “Report on Indigenous TK”). 12. Mugabe John, Intellectual Property Protection and Traditional Knowledge, WIPO, Panel discussion on Intellectual Property and Human Rights, (1998), at. 8. available at: http:// www.wipo.int/tk/en/hr/paneldiscussion/papers/ index.html. (Considering two reasons: I) the bio-piracy cases contriving fundamental moral, ethical and legal norms, and ii) knowledge of indigenous peoples is their property and there are no reason why international law should discriminate them creating barriers to their enjoyment of their property). See also, Debates before the Sub-Commission on the Promotion and Protection of Human Rights. 13. UN-GA. Resolution, A/RES/61/295, (A/61/ PV.107, 13 Sept. 2007 GA/10612) The United Nations Declaration on the Rights of Indigenous Peoples has been approved after 143 Member States voted in favour, 11 abstained and four – Australia, Canada, New Zealand and the United States – voted against the text. Antecedent: Human Rights Council Res. 2006/ 2, Working group of the Commission on Human Rights to elaborate a Draft Declaration in accordance with paragraph 5 of the General Assembly res. 49/214 of 23 December 1994 (2006). 9. Sui generis refers to an area where country practice differs –a unique system of protection. E.g. a country may pass a specialized TK law rather than incorporating such protections into one of the universal categories (copyrights, patents, TM, etc). 14. See Farley, suppra note 8, at 39. 10. See U.N. Econ. & Soc. Council [ECOSOC}, General Comment No 17 (2005), E/C.12/GC/ 17. See also European Convention on HR, American Convention on HR. 17. Report of the Permanent Forum on Indigenous rd Issues, 3 Sess., UN Doc. E/2004/43/e/C.19/ 2004/23 (2004), at. 27. 11. Cf. The Twelve Saramaka Clans v. Suriname, Case 12.338, Inter/Am. C. H. R., Report No. 9/ 06, OEA/Ser/L/V/II.124,Doc.16, (2006). (Concluding that “The State of Suriname violated Articles 1 and 2 of the Convention by failing to recognize or give effect to the collective rights of the Saramaka people rights to their 15. John Mugabe, suppra note 12, at 3. 16. Convention on Biological Diversity, G.A. res. 51/182, 51 U.N. GAOR Supp. (No. 49) at 166, U.N. Doc. A/51/49 (Vol. I) (1996). 18. See WIPO, Draft Provisions on Traditional Cultural Expressions/Folklore and Traditional Knowledge. 19. See Peter Drahos, Towards an International Framework for the Protection of Traditional Groups Knowledge and Practice, UNCTAD, (2004). 20. John Mugabe, suppra note 13,a t 12 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 143 Jorge Calderon Gamboa 21. WIPO, “Intellectual Property Needs and Expectations of Traditional Knowledge Holders”, WIPO Report on Fact-Finding Missions, Geneva, (1998-1999), cited in CIPR, Integrating intellectual Property Rights and Development Policy. at. 75. 22. General Comment No 17, suppra, note 11, para. 1,2,3. 23. See Graham Dutfield, suppra, note 3. 24. See note 14. 25. ESCOR, Committee on Economic, Social and Cultural Rights, Protecting the rights of Aboriginal and Torres Strait Islander traditional knowledge, 24th Sess., Provisional Agenda item 3, U.N. Doc. E/C.12/2000/17 (2000). 26. Farley, suppra, note 8, st. 54. 27. Article 27.3 (b). 28. Vandana Shiva, TRIPS Agreement: From the Commons to Corporate Patents on Life, PARADIGMS WARS, INDIGENOUS PEOPLE’S RESISTANCE TO G LOBALIZATION , I NTERNATIONAL F ORUM ON GLOBALIZATION, (2006), at. 81. 29. Doha Ministerial Declaration, adopted on November 14, 2001, Para 19, WT/MIN(01). DEC/1 30. Peter Drahos, suppra, note 20, at. 12. 31. Graham Dutfield, suppra, note 3, at 16 32. WIPO, The Protection of Traditional Cultural Expressions/Expressions of Folklore, WIPOGRTKF/IC/8/4, Geneva, June 6 –10 (2005). 33. Id para. 10. 34. Some authors: Peter Jazzy; Peter Drahos; John Mugabe; Farley; Eliana Torelly; Meghana RaoRane. Organizations such as WIPO, UNCTAD. ECOSOC. See also the recently Report on Indigenous TK, note 12. 35. General Comment No 17, suppra, note 11, para 1,2,3. 36. IACtHR. Case Palamara Iribarne Vs. Chile. Judgment of November 22, 2005. Serie C No. 135, and European Court of Human Rights (hereinafter “European Court”), Case of Anheuser-Busch Inc. v. Portugal, Judgment of January 11, 2007. 37. UN Commission on HR, Sub-Commission on the Protection and Promotion of Human Rights (2001), Intellectual property and human rights, Resolution 2001/21 E/CN.4/SUB.2/RES/2001/21. cited in Dutfield Graham, suppra note 3 at. 17 144 38. WIPO, Draft Provisions, suppra note 19, para g). 39. Donnelly, Universal Human Rights in Theory and Practice, Corn. Univ. Press, NY, (1989), at. 144. (Stressing that any rights that might arise from solidarity would not be human rights). 40. General Comment No 17, suppra, note 11, para. 32. 41. Id. para. 40 d). 42. Cfr. Peter-Tobias Stoll et. al, Indigenous Peoples, Indigenous Knowledge and Indigenous Resources in International Law, INTERNATIONAL HERITAGE AND INTELLECTUAL PROPERTY, Kluwer Law International, (2004), at. 19 (considering that the ICESCR do not provide for basis in the context of indigenous resources and indigenous TK). 43. U.N. Human Rights Committee, Ominayak and the Lubicon Lake Band v. Canda, (fn. 68). 44. Peter-Tobias Stoll et all, suppra note 43, at. 20. 45. U.N. HR Committee [HRC}, General Comment No 23, art 23 (1994), UN. Doc. HRI GEN 1 Rev. 1. para 50. 46. Convention concerning Indigenous and Tribal Peoples in Independent Countries (ILO No. 169), 72 ILO Official Bull. 59, entered into force Sept. 5, 1991, (Ratified by 14 States). 47. University of Minnesota, HR Library, The Right of Indigenous Peoples, (2003), available at: http:// www1.umn.edu/humanrts/edumat/ studyguides/indigenous.html. 48. UN Declaracion on Indigenous Rights, suppra note, 14. 49. Proposed American Declaration on the Rights of Indigenous Peoples (Approved by the InterAmerican Commission on Human Rights on February 26, 1997, at its 1333rd session, 95th Regular Session), OEA/Ser/L/V/.II.95 Doc.6 (1997). 50. Mugabe, suppra note 13, p. 19 51. See cases: I/A Court H.R., Case of the Mayagna (Sumo) Awas Tingni Community v. Nicaragua. Judgment of August 31, 2001. Series C No. 79, para 148; I/A Court H.R., Case of the Moiwana Community v. Suriname. Judgment of June 15, 2005. Series C No. 124; I/A Court H.R., Case of Yatama v. Nicaragua. Judgment of June 23, 2005 (Only in Spanish). Series C No. 127; I/A Court H.R., Case of Aloeboetoe et al v. Suriname. Judgment of December 4, 1991. Series C No. 11; I/A Court H.R., Case of the Indigenous Community Yakye Axa v. Paraguay. Judgment of June 17, 2005 (Only in Spanish). Series C No. 125; /A Court H.R., Case of ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies Sawhoyamaxa Indigenous Community v. Paraguay. Judgment of March 29, 2006. Series C No. 146; I/A Court H.R., Case of the Plan de Sánchez Massacre v. Guatemala. Judgment of April 29, 2004. Series C No. 105. See also, The recently The Twelve Saramaka Clans, pending resolution before the IA Court HR. 2007. 66. See U.N. Econ. & Soc. Council [ECOSOC}, General Comment No. 16, U.N. E/C.12/2005/ 3 (May 13, 2005.) (supporting the obligation of the State to protect human rights). See also GC 12, p 15, 14 para 37; 15, para 25. 52. See Report on Indigenous TK, note 12. 67. Convention on the Law of Treaties, 1155 U.N.T.S. 331, 8 I.L.M. 679, entered into force Jan. 27, 1980. 53. Prof. Daes, Draft principles and Guidelines for the protection of the heritage of indigenous Peoples (holding that indigenous peoples are recognized as collective legal owners of their knowledge, in perpetuity). 68. See UN Committee on Human Rights, Wilson v. The Philippines 868/1999 (158) 30 October 2003. (The UN Human Rights Committee specified the nature of the damages caused and provided remedies for each one.) 54. Professor Dina Shelton clarifies that the word “remedies” contains two separate concepts: procedural and substantive. The first case refers to the process but is arguably where claims human rights are decided. The second notion refers to the outcome of the proceeding; the relief afforded to the successful claimant. D INA S HELTON , REMEDIES IN I NTERNATIONAL H UMAN RIGHTS LAW, at. 7, Oxford, (2005). 69. See Manfred Nowak, The Right of Victims of Gross Human Rights Violations to Reparation. RENDERING JUSTICE TO THE VULNERABLE, (Liber Amicorum in Honour of Theo van Boven), at. 203 – 224. Kluwer Law International, Netherlands, (2000). 55. There is a debate about whether the right to an effective remedy is an independent right. Article 25 of the American Convention on Human Rights have been considered, in contrast with Article 13 of the European Convention for the Protection of Human Rights and Fundamental Freedoms. 56. I.e. Article 2(3)(b) of the International Convention on Civil and Political Rights. Cited in Dina Shelton suppra note 55 at, 114. 57. SHELTON, suppra note 55. 58. Article 7 includes a remedy for “rights recognized and guaranteed by conventions, laws, regulations and customs in force”. 59. General Comment No 17, note 11, Id. para. 40 d). 60. Corte IDH. Caso Velásquez Rodríguez Vs. Honduras. Sentencia de 29 de julio de 1988. Serie C No. 4, para 64. 61. Id, at para. 66. 62. Dina Shelton, suppra note 55, at. 114 63. See, A.A. Cancado Trinidade, The Application of the Rule of Exhaustion of Local Remedies in International Law 1, at 57 (1983). 64. See Factory at Charzow, 1927, P.C.I.J., No. 8 (ser. A), No. 9, at 21. (July 26). 65. See supra, note 55, Text adopted by the Commission at its Fifty-third session, in 2001 70. I.e. Article XI (1) of Annex 6 of the Dayton Peace Agreement for Bosnia and Herzegovina DPA; Article 6 Convention on the Elimination of Racial Discrimination; CEDAW; Article 14 of the UN Convention against Torture; Article 15(2) ILO convention No. 169; Article 19 of the Declaration on the Protection of all Personas from Enforced Disappearance, GC Working Group; Protocol I to the Geneva Conventions of 12 August 1949 (related with Victims in international Armed Conflicts); and Article 31 – 39 of the Text on the Responsibility of the Sate for its Wrongful acts. 71. General Comment No 17, suppra, note 11, para 40 d). 72. Reparations Principles. infra, note 74., Preamble (victim’s right to benefit from remedies and reparation). 73. See Basic Principles and Guidelines on the Right to a Remedy and Reparation for Victims of Gross Violations of International Human Rights Law and Serious Violations of International Humanitarian Law G.A. Res. 60/147, U.N.Doc. A/RES/60/147 (Dic. 16, 2006). (Reparation Principles). 74. See U.N. Declaration of Basic Principles of Justice for Victims of Crime and Abuse of Power, adopted by General Assembly Resolution 40/34 of 29 November 1985. 75. Case: Aloebatoe, Moiwana, Zarayaku, etc. See, note 52. 76. See Morales de la Sierra v. Guatemala, Case 11.625, Inter-Am. C.H.R., Report No. 4/01 (2001) (recognizing that all the women in ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 145 Jorge Calderon Gamboa Guatemala were potential victims of discrimination due to the fact that the civil law relating to the role of women in society and in the family was discriminatory). This concept helps to understand the magnitude of the violation more than seek to repair every potential victim. 77. The following classification is based on the InterAmerican System of Human Rights (Commission and Court), but it is important to stress that the European Court of Human Rights has also recognized the same damages except for the life plan damages so far. 78. F UANDEZ L EDESMA , H ECTOR , E L SISTEMA INTERAMERICANO DE PROTECCION DE LOS DERECHOS HUMANOS, p. 516., IIDH, (2000). 79. This damage has been recognized also in domestic level legislations such as in Peru and Colombia. 80. JORGE CALDERON GAMBOA, REPARACION DEL DAÑO AL PROYECTO DE VIDA POR VIOLACION A LOS DERECHOS HUMANOS. 77, Porrua, Breviarions Juridicos, (2005). (establishing 7 criteria to asses the existence of a plan life damage) 81. Cfr. I/A Court H.R., Case of the Plan de Sánchez Massacre v. Guatemala. Reparations (Art. 63.1 American Convention on Human Rights). Judgment of November 19, 2004(Only in Spanish). Series C No. 116. (In the court reports of experts, the victims representatives’ testimonies, as well as the IACHR team argued the existence of a life plan damage not only to the specific victims, but also to the community. Thus, although the court only mentioned at non-pecuniary damages in its decision, in general we can consider that the court granted reparations that address this specific damage of the life plan for the collectivity) 82. See I/A Court H.R., Case of Loayza-Tamayo v. Peru. Judgment of September 17, 1997. Series C No.. para. 85. 83. Theo van Boven, The Right to Compensation and Related Remedies for Racial Discrimination Concluding observations. H UMAN R IGHTS IN D EVELOPMENT Y EARBOOK 2001, R EPARATIONS : REDRESSING PAST WRONGS, p. 429 – 431. (2001). 84. Christine Farley, suppra note 8, at 39 []. 85. Id. , at 40 (The Milpurrurru case in Australia is an adequate way to approach the damages). Malpurrurru, 54 F.C.R. at 277. 86. I/A Court H.R., Case of the Plan de Sánchez Massacre v. Guatemala. Reparations (Art. 63.1 American Convention on Human Rights). 146 Judgment of November 19, 2004(Only in Spanish). Series C No. 116 87. Id. Para 62 88. Id. para. 105 89. Id. para. 109 90. Id. para 111. 91. Tara J. Melish, The Inter-American Court of Human Rights: Beyond Progressivity, IN SOCIAL R IGHTS J URISPRUDENCE : E MERGING T RENDS IN COMPARATIVE AND INTERNATIONAL LAW. (Malcom Langford ed., 2007), at. 31. 92. Jonh Mugabe, suppra note 13 at, 24. 93. WIPO Draft Provisions suppra note 19, at 38. 94. University of Minnesota, suppra note 48. 95. Final Text of the United States - Peru Trade Promotion, Signed April 12, 2006 available at: http://www.ustr.gov/Trade_Agreements/ B i l a t e r a l / P e r u _ T P A / F i n a l _ Te x t s / Section_Index.html 96. United States - Colombia TPA Final Texts, signed on November 22, 2006. available at: h t t p : / / www.ustr.gov/Trade_Agreements/ B i l a t e r a l / C o l o m b i a _ F TA / F i n a l _ Te x t / Section_Index.html 97. Proposed United States - Panama TPA, Letter on Traditional Knowledge, in the context of Chapter Fifteen (Intellectual Property Rights). available at: http://www.ustr.gov/assets/ Trade_Agreements/Bilateral/Panama_FTA/ Draft_Text/asset_upload_file752_10510.pdf 98. Rio Declaration of Environment and Development; Convention on Biological Diversity CPR, suppra note 16. 99. See note 50 and 12. Cfr. Discussion in Twelve Saramaka clans case. 100. ICCPR has been ratified by more than 150 countries and its optional Protocol, which includes a petitions system has been ratify fore more that 100 countries. Ratification list available at: http://www.unhchr.ch/pdf/ report.pdf 101. Mary and Carrie, Dann v. United States, Case 11.140, Inter/Am. C. H. R., Report No. 75/02, OEA/Ser.L/V/II.117, Doc. 1 rev. 1 (2003). 102. See note 50. 103. United State Trade Patent and Trademark Office, which is an Agency of The United States Department of Commerce. 104. CIPR, Integrating Intellectual Property Rights and Development Policy, at 74-8. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Protecting Traditional Knowledge for Indigenous Peoples: The Effectiveness of International Human Rights Remedies 105. Id. 106. Id. 107. Mary and Carrie, Dann v. United States, Case 11.140, Inter/Am. C. H. R., Report No. 75/02, OEA/Ser.L/V/II.117, Doc. 1 rev. 1 (2003). (addressing whether the administrative procedure of the US Indian Claim Commission (ICC), which extinguished the indigenous ancestral rights over their territories, violated the right to property, fair trial and equal protection under the American Declaration) 108. See, Dann v. US case, suppra note 108 (ruling that when examining the claims of indigenous peoples, the American Declaration should be interpreted and applied broadly with due regard to other principles of international human rights law that governs the individual and collective interest of indigenous peoples. In accordance with the purpose of the Declaration, it must safeguard the integrity, livelihood and culture of indigenous peoples through the effective protection of their individual and collective human rights). (see paras. 128, 129, 130, 131). 109. Daniel Gervais, Traditional Knowledge & Intellectual Property: A TRIPS Compatible Approach. Mich. L. Rev. – (2005), (Proposing a Declaration on TK and Trade for the WTO). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 147 Laurence BURGORGUE-LARSEN e Edouard DUBOUT 148 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” EXTREMA POBREZA: ENTRE OS DIREITOS HUMANOS E O DESENVOLVIMENTO, UM LIMIAR MÍNIMO PARA A DIGNIDADE HUMANA ••••••••••••••••••••••••••• LEONARDO CASTILHO Diplômé de Sciences-Po Paris (Instituto de Estudos Políticos); Mestre em Desenvolvimento Internacional (anteriormente Organizações Internacionais); Assistente de Programa do UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) para o Projeto de Suporte aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio para América Latina e Ponto Focal para DHs 1 . INTRODUÇÃO “Mais de um bilhão de pessoas no mundo vivem com menos de um dólar por dia. Outros 2.7 bilhões lutam para sobreviver com menos de dois dólares por dia. A pobreza nos países em desenvolvimento, no entanto vai muito além da pobreza de renda. Significa ter de caminhar mais de 1,5 quilômetros todos os dias, apenas para ir buscar água e lenha; significa sofrer de doenças que, nos países ricos, foram erradicadas há décadas. Todos os anos, morrem onze milhões de crianças, a maioria das quais com menos de cinco anos; e mais de seis milhões morrem devido a causas totalmente evitáveis como a malária, a diarréia e a pneumonia. Em alguns países extremamente pobres, menos de metade das crianças freqüentam o ensino primário e uma percentagem inferior a 20% passa para o ensino secundário. No mundo inteiro, 114 milhões de crianças não recebem instrução sequer ao nível básico e 584 milhões 1 de mulheres são analfabetas.” Na esfera internacional dois inovadores paradigmas surgem após a Segunda Guerra Mundial: os Direitos Humanos (DHs) e o Desenvolvimento Internacional. Um busca evitar que as atrocidades cometidas contra a dignidade humana (como o genocídio contra judeus, ciganos e outros na Alemanha Nazista) voltem a acontecer. Para alcançar tal objetivo, elaboram-se tratados e regimes internacionais, dotando o indivíduo de direitos através dos quais se impõem obrigações aos Estados. O outro, findo o conflito, visa a estabelecer as condições para o desenvolvimento por meio de instituições e cooperação internacionais. Não podemos negar que nos últimos 50 anos se desenvolveram os dois paradigmas mencionados; contudo, ainda há muito que se fazer para promover a dignidade humana, mesmo em níveis mínimos, o que não condiz com a característica de ser humano. O mundo contemporâneo viu, principalmente na década de 90, uma série de Conferências internacionais – das quais resultaram acordos e tratados – estabelecendo prioridades para o desenvolvimento em suas diversas facetas. Mais recentemente, em setembro de 2000, 147 chefes de Estado e de Governo assinaram a Declaração do Milênio, que sintetiza vários dos importantes compromissos internacionais assumidos nas diferentes conferências nos anos 90. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs) são pontos fundamentais para a luta contra a pobreza em suas diferentes vertentes, não só a monetária. No entanto, como bem apresenta Philip Alston, ainda falta à comunidade de Desenvolvimento reconhecer e fundamentar seu trabalho com DHs, basear seu trabalho nos tratados internacionais e apoiar-se sobre os regimes para sua implementação. Mesmo o trabalho com os ODMs padece desse mal: “Em um número de aspectos pareceria existir um encaixe natural entre os ODMs e uma gama limitada de normas específicas de direitos humanos. No entanto, nem a comunidade de direitos humanos, nem a de desenvolvimento abraçaram sem reservas um casamento entre 2 as duas abordagens.” É certo, a aproximação dos dois paradigmas é um processo recente e lento, mas que dá seus passos e pode-se reconhecer vários exemplos de iniciativas nesse sentido, como veremos mais adiante. Nesse ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 149 Leonardo Castilho crescente leque de experiências, um item de fundamental importância, tanto para a agenda dos DHs quanto para a agenda de Desenvolvimento, é a questão da extrema pobreza e, dessa forma, se apresenta como um dos possíveis temas para estreitar a relação entre os dois paradigmas, no debate acerca dos Direitos Humanos no Desenvolvimento3. Assim sendo, o trabalho visa articular um état d’art da extrema pobreza desde a perspectiva do Desenvolvimento e dos DHs, propondo a hipótese de um conceito de extrema pobreza como o conjunto mínimo de DESCs, comum aos DHs e ao Desenvolvimento. Esse conteúdo mínimo constitui então uma linha multidimensional de pobreza (não somente monetária) abaixo da qual nenhuma pessoa poderia se encontrar. A proposta toca ainda difícil questão da progressividade e justiciabilidade dos DESCs, sugerindo um acordo entre a abordagem de DHs e a de Desenvolvimento. 2 . CONCEPÇÕES CONTEMPORÂNEAS DOS PARADIGMAS E SUA APROXIMAÇÃO Toda atividade humana é passível de mudanças ao decorrer do tempo e o mesmo vale para os dois paradigmas mencionados. De um lado, bastante se evoluiu da parte dos DHs; tratados internacionais foram elaborados, instituições foram criadas, Cortes internacionais estabelecidas e desenvolve-se jurisprudência, com conseqüências também para a política (doméstica e internacional). Segundo o Relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) do ano 2000, dedicado ao Desenvolvimento Humano e aos DHs: “Direitos humanos são direitos possuídos por todas as pessoas, em virtude de sua humanidade, a viver uma vida de liberdade e dignidade. Eles dão às pessoas reivindicações morais ao comportamento de indivíduos e ao desenho de arranjos sociais – e são universais, inalienáveis e indivisíveis. Direitos humanos expressam nossos compromissos mais profundos para garantir que todas as pessoas são seguras no gozo dos bens e liberdades que 4 são necessários à viver em dignidade.” De outro lado, o Desenvolvimento, surgido inicialmente para a reconstrução dos países europeus no pós-guerra, amplia-se também para os países em desenvolvimento e modifica-se recentemente também no sentido de passar de Desenvolvimento econômico (preocupação 150 puramente com o crescimento econômico, equilíbrio financeiro e o Produto Interno Bruto dos países) para Desenvolvimento humano (buscar melhorar as condições de vida das pessoas, através de investimento em capital humano; educação, saúde e analisando o Índice de Desenvolvimento Humano, elaborado pelo PNUD). Por sua vez; “Desenvolvimento humano é o processo de crescimento das escolhas das pessoas, ao expandir o funcionamento humano e suas capacidades. Desenvolvimento humano reflete também resultados humanos nesses funcionamentos e capacidades. Representa um processo, bem como um fim. Em todos os níveis de desenvolvimento as três capacidades essenciais para que todas as pessoas tenham uma vida longa e saudável, sejam eruditos e tenham acesso aos recursos necessários para um nível decente de vida. Mas o reino do desenvolvimento humano alcança mais longe; outras áreas de escolha altamente valorizadas pelas pessoas incluem participação, segurança, sustentabilidade, direitos humanos garantidos – todos necessários para ser criativo e produtivo e para gozar respeito próprio, empoderamento e um sentido de pertencimento à comunidade. Em primordial, o desenvolvimento humano é o desenvolvimento 5 das pessoas, pelas pessoas e para as pessoas.” Os dois paradigmas são pontos fundamentais das relações internacionais contemporâneas. Dessa forma, o Secretário-Geral da ONU, Kofi Annan, apresentando à Assembléia Geral o relatório In Larger Freedom: towards development, security and human rights for all, identifica os DHs e o Desenvolvimento como dois dos três grandes propósitos das Nações Unidas6. “Direitos humanos e Desenvolvimento humano são ambos sobre garantir liberdades básicas. Direitos humanos expressam a audaz idéia que todas as pessoas têm reivindicações a arranjos sociais que os protegem dos piores abusos e privações – e garantem a liberdade para uma vida com dignidade. Desenvolvimento humano, por sua vez, é um processo de aumentar as capacidades humanas – expandir as escolhas e oportunidades para que cada pessoa possa levar uma vida com respeito e valor. Quando desenvolvimento humano e direitos humanos avançam juntos, reforçam um ao outro – expandindo as capacidades das pessoas e protegendo seus direitos e liberdades fundamentais. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” (...) Em resumo, o desenvolvimento humano é essencial para a realização dos direitos humanos e os direitos humanos são essenciais 7 para o pleno desenvolvimento humano.” Embora observe-se hoje uma maior aproximação dos DHs e o Desenvolvimento, essa convergência, nas palavras de Mary Robinson não é algo novo. “Esforços para promover uma integração significativa e produtiva entre as agendas dessas duas comunidades são dificilmente algo novo. De fato, uma das maiores realizações da primeira Conferencia Mundial de Direitos Humanos, organizada em Teerã em 1968, foi precisamente sua assertiva que ‘a realização de um desenvolvimento duradouro na implementação dos direitos humanos é dependente de políticas nacionais e internacionais racionais e efetivas de 8 desenvolvimento econômico e social.” Entre alguns exemplos da convergência entre os DHs e o Desenvolvimento, podemos citar a fundamentação de alguns programas de agências internacionais em termos de direitos. Por exemplo, a UNICEF toma como ponto de referência para o seu mandato a Convenção dos Direitos da Criança e os direitos da criança, assim, os programas desta agência são fundamentados em direitos. No sistema das Nações Unidas um novo conceito vem ganhando espaço e terreno: a abordagem de DHs para a programação (human rights-based approach to programming). A idéia central é que todos os programas de desenvolvimento, políticas e assistência devem colaborar à realização dos DHs internacionalmente reconhecidos. Assim, essa nova forma de cooperação contribui às capacidades dos detentores de obrigações (duty bearer) a cumprir seus papéis perante os portadores de direitos (right holders). Com essa nova abordagem, são introduzidos também princípios que devem ser aplicados em todas as fases do trabalho das agências, tais como; universalidade e inalienabilidade, indivisibilidade, interdependência e interrelação, igualdade e não-discriminação, accountability9 e Estado de Direito. Vale notar ainda que vários desses princípios são também reconhecidos pela área de desenvolvimento para a elaboração dos programas. É certa a assertiva de Alston de que a comunidade de desenvolvimento, que tanto preza os ODMs, falha em ter a visão de que poderia fundamentar seu trabalho em direitos e que todos e cada um dos objetivos da Declaração do Milênio encontra-se no DIDH há mais de trinta anos em Pactos e Tratados Internacionais. Devemos ter bem clara essa dificuldade mas, ao mesmo tempo, temos que reconhecer que existem alguns avanços. No Relatório regional de acompanhamento dos ODMs na América Latina (de responsabilidade da CEPAL), o capítulo referente à Educação Primária (ODM 2), elaborado pela UNESCO e pela CEPAL, traz uma abordagem de DHs – direito à educação – a esse Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, inaugurando o capítulo com o art. 26 da DUDH (referente à educação).10 A busca de fortalecimento dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (DESC) leva a uma maior exigibilidade de vários 3 . ÉT AT D ’AR T : O CONCEITO D A ÉTA D’AR ’ART DA EXTREMA POBREZA A definição de um conceito é passo primordial para qualquer trabalho técnico ou político, para compreender o escopo proposto da ação, seus alcances, limites e desafios. Dessa forma, a comunidade do Desenvolvimento vem, através de uma abordagem mais centrada na economia, trabalhando o conceito de pobreza há algumas décadas, passando por um processo evolutivo. 3.a A perspectiva do Desenvolvimento Historicamente, a pobreza tem sido relacionada à renda, o que se segue no centro do conceito ainda hoje. Elaboramos aqui um desenvolvimento histórico do conceito de pobreza a partir da análise da bibliografia de Peter Townsend, professor da London School of Economics, um dos principais especialistas mundiais em pobreza: “(...) ‘renda’ não é por si só um conceito menos problemático que ‘pobreza’; esse também tem que ser elaborado de uma maneira cuidadosa e precisa. Outros recursos, como bens, renda in natura e subsídios para serviços públicos e emprego podem ser imputados para chegar a 11 uma medida compreensiva e exata de renda.” Uma visão, minimalista, é a que analisa puramente os termos econômicos de uma linha de pobreza, determinada pela renda que percebe um indivíduo. No início da década de 90, chegou-se a um acordo mais político que científico para definir a pobreza, com duas medidas aplicáveis aos mundos desenvolvidos e em desenvolvimento12. Já ao final da década de 80 era aceita, como forma de improvisação, a medida proposta pelo Banco Mundial de um dólar por dia por pessoa. Essa linha seria então um parâmetro conveniente e compreensível, mas temporário para basear pesquisa e elaboração de políticas13. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 151 Leonardo Castilho “A determinação de uma linha de pobreza não pode ser baseada em uma seleção arbitrária de um baixo nível de renda. Somente critérios científicos independentes para a renda podem justificar aonde deve ser desenhada essa linha. A multiplicidade e severidade de diferentes tipos de privações pode constituir esses critérios. A chave é então definir um limiar de renda, abaixo do qual as pessoas estão em 14 situação de privação.” Uma linha puramente monetária enfrenta várias críticas, enumeradas por Townsend em seu artigo, relacionando com a modificação associada, durante as últimas décadas, da visão de desenvolvimento per se tomando o caminho do Desenvolvimento humano. Dessa forma, uma visão maximalista foi sendo elaborada ao longo do tempo. Proposta, segundo Townsend, inicialmente a partir da idéia de subsistência, passando às necessidades básicas e, finalmente, privação relativa. A idéia de subsistência, produto do trabalho de nutricionistas na Inglaterra Vitoriana definia pobreza como a situação onde a renda das famílias não era suficiente para obter o mínimo necessário para a mera manutenção física (Rowntree apud Townsend). Embora os cálculos para esse nível de renda levassem em conta vestimenta, combustível e outros itens, o valor era muito reduzido e a quantidade de comida muito próxima à subsistência15. As críticas que se seguiram argumentavam que as necessidades humanas não são somente físicas, mas também sociais; as pessoas não são meros organismos individuais que precisam de energia física. Os seres humanos são seres sociais de quem se espera a execução de papéis na sociedade (da perspectiva de direitos humanos ainda se acrescentaria os direitos da pessoa e a dignidade humana como fundamento). É certo que as necessidades materiais mais básicas fazem parte da categoria de extrema pobreza, mas estão sujeitas a mudanças rápidas pelas transformações na atividade social e os padrões de demanda; quantidade, tipo, custo da comida, trabalho, clima e costumes sociais. A noção de necessidades básicas, começa a surgir na década de 70, apoiada fortemente pela OIT com dois elementos. O primeiro, as necessidades mínimas de consumo de uma família; alimentação adequada, abrigo e vestimenta e serviços essenciais providos pela e para a comunidade, como água potável, saneamento, transporte público e saúde, instalações de educação e cultura (OIT apud Townsend). A abordagem de necessidades básicas é uma extensão do conceito de subsistência, mas termina 152 por incluir também instalações e serviços (para saúde, saneamento e educação). A subsistência, devido ao seu significado mais restrito, limitava implicações para a pesquisa e a ação política. Do outro lado, a proposta de necessidades básicas visa estabelecer algumas das condições para desenvolvimento comunitário, implementada em planos nacionais de desenvolvimento adotados pela comunidade internacional, especialmente agências da ONU. Por fim, a privação relativa é aplicada aos recursos monetários, mas também a condições materiais e sociais. Pobreza é então a situação onde a renda é insuficiente para obter as condições de vida, significando dietas, comodidades, padrões e serviços que permitem às pessoas levar a cabo seus papéis, participar nas relações e seguir o comportamento que se espera deles pela virtude do comportamento na sociedade. Considera ainda que, no mundo globalizado, é difícil de justificar um padrão de pobreza determinado em um alguma data da história, posto que as pessoas vivem baixo novas e transformantes condições. Isso implica em que uma pessoa sem acesso à educação em 1900 era privada de certas experiências sociais, enquanto que outra pessoa, sem educação primária, nos dias de hoje, é privada de outras, muito mais imprescindíveis à vida em sociedade e o pleno desenvolvimento de suas capacidades. A privação relativa enfrenta ainda o desafio de uma definição de limiar de pobreza. A proposta maximalista tem distintas posições, abarcando a pobreza como um fenômeno multidimensional. “Essas perspectivas alternativas têm dado outro foco ao conceito de pobreza como uma condição que reflete falhas em várias dimensões da vida humana – fome, desemprego, falta de moradia, doença, falta de empoderamento e vitimização e injustiça social; todos somando-se a um assalto à 16 dignidade humana.” Ainda com a forma de fenômeno multidimensional, existem várias propostas maximalistas para definição da pobreza, de certa forma, como parte desse último momento entre necessidades básicas e privação relativa. Amartya Sen propõe a abordagem de capacidades, mas que ainda é reputada lacunar em vários pontos importantes para sair da perspectiva filosófica para prática17. De acordo com Sengupta: “capacidade como a liberdade ou habilidade a levar uma vida em termos das escolhas da pessoa em fazer ou se tornar. Pobreza, nesse sentido, pode ser definida como a privação dessa capacidade e extrema pobreza a extrema privação de tal capacidade.”18 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” Agora, a perspectiva que nos interessa é a abordagem de direitos humanos para o desenvolvimento19, pesquisada inicialmente por experts ao redor do sistema de DHs das Nações Unidas desde a década de 80. 3.b A perspectiva dos Direitos Humanos 3.b.a Padre W resinski Wresinski Muitos autores20 argumentam que uma pessoa teve papel fundamental para trazer o tema da pobreza aos fóruns globais de DHs. Essa pessoa, Padre Joseph Wresinski, o fundador de ATD Quart Monde, foi o responsável por apresentar à Comissão de DHs, em 1987, o relatório “Grande pobreza e a precariedade econômica e social”. O documento, também conhecido como Relatório Wresinksi, buscava sensibilizar a consciência internacional para a questão da pobreza: “A falta de segurança básica conota a ausência de um ou mais fatores que permitiriam aos indivíduos e suas famílias a assumir responsabilidades básicas e desfrutar direitos fundamentais. A situação pode se tornar difundida e resultar em conseqüências mais sérias e permanentes. A falta de segurança básica leva à pobreza crônica quando afeta simultaneamente vários aspectos das vidas das pessoas, quando é prolongada e quando compromete seriamente as chances das pessoas retomarem seus direitos e assumirem suas responsabilidades em um futuro 21 previsível.” 3.b.b Despouy Em 1992, a Comissão de DHs da ONU solicitou a Sub-Comissão a levar a cabo um estudo sobre os DHs e a extrema pobreza, seus efeitos, esforços por parte dos pobres para alcançar o exercício dos DHs, as condições nas quais os mais pobres transmitem suas experiências e pensamentos para a realização dos direitos, bem como os meios de garantir uma melhor compreensão das experiências e pensamentos dos mais pobres e das pessoas que com eles trabalham. A Sub-Comissão, por sua vez, designou o diplomata argentino, membro da mesma, Leandro Despouy, como Relator especial à questão dos DHs e extrema pobreza. O relatório do membro da SubComissão tratou principalmente os pontos: terminologia e definição; o mal da pobreza e as condições das pessoas vivendo em tal situação, bem como, causas e remédios e; o trabalho das agências nacionais e internacionais e organizações no tema da extrema pobreza. O relator aplica o conceito de extrema pobreza, o mesmo empregado na resolução que estabelece seu mandato22. Após analisar as definições de pobreza a partir das organizações internacionais, Despouy apresenta em seu relatório final os critérios para uma definição jurídica da extrema pobreza: “Primeiramente, extrema pobreza envolve a negação, não somente de um único direito ou determinada categoria de direitos, mas dos direitos humanos como um todo. A análise precedente mostra até que ponto a pobreza é uma violação, não somente de direitos econômicos, sociais e culturais, como é reconhecido desde a perspectiva econômica, mas também, em mesmo nível, de direitos civis e políticos e do direito ao desenvolvimento. Extrema pobreza é uma ilustração particularmente clara da indivisibilidade e 23 interdependência dos direitos humanos”. É interessante registrar que o Relator apresenta o ponto da indivisibilidade e interdependência dos DHs. O autor trabalha ainda alguns pontos da pobreza como “a nova cara do apartheid”; a falta de empoderamento dos pobres mesmo em programas concebidos para eles; o preconceito que existe contra os pobres, fazendo com que pouco (ou erradamente) se saiba sobre eles. Pode-se notar uma certa disparidade da Resolução da Comissão de DHs; posto que ainda se lê – nas entrelinhas – a idéia de que os pobres o são por destino (ou por preguiça) e que, para promover os seus direitos, deveriam se apoiar somente sob seu esforço. Na linguagem do Direito Internacional dos DHs (DIDH) isso implica dizer que o Estado não teria obrigações com esses indivíduos (ainda mais por que busca-se trabalhar com as famílias, sem dotar de direitos os indivíduos perante o Estado). Ainda que relativamente vaga, o Relator endossa, em Anexo ao seu documento final, a abrangente definição de pobreza tal como elaborada pelo Padre Wresinski (mesma citação do ponto 2.b.a). 3.b.c Lizin Após os trabalhos de Despouy, a Comissão apontou a belga Anne-Marie Lizin como Expert Independente (EI) para Direitos Humanos e Extrema Pobreza. A relatora ocupou o mandato por duas vezes e, além de elaborar e apresentar seus relatórios, fez uma série de missões a países24, bem ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 153 Leonardo Castilho como a organizações internacionais (notadamente as Instituições Financeiras Internacionais). Em seu primeiro relatório, apresentado em 1999, Lizin apresenta um listado dos estándares internacionais de DHs relacionados à situação de pobreza. Primeiramente, da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), a autora lista o art. 25 sobre padrão de vida decente que, por sua vez, atrela outros direitos, a saber; alimentação; vestimenta; moradia; atenção médica; serviços sociais; segurança no caso de desemprego, doença, incapacidade, viuvez, idade avançada, ou falta de vivenda que lhe escape ao controle. A partir do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP), argumenta o direito à vida – art. 6(1) – seguindo ainda a compreensão do Comitê de DHs, segundo o qual, esse direito não pode ser interpretado de maneira restritiva e que os Estados têm a obrigação de adotar medidas positivas. O art. 11.(1) do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC) retoma o art. 25 da DUDH, relacionando-o ainda ao referente à saúde, educação – respectivamente art. 12(1), art. 13(1). A partir do texto da Convenção Internacional para eliminação de todas as formas de discriminação racial (CERD), aplicar-se-ia, segundo a Expert, a proibição de discriminação inter alia nos DESC, entre outros; trabalho e condições de trabalho, liberdade sindical, moradia, saúde, educação, participação e atividades culturais (art. 5). O outro documento contra a discriminação, a Convenção para a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher (CEDAW) trata, desde a mesma perspectiva, os direitos; emprego, saúde, outras áreas da vida econômica e social, mulheres no campo, participação nos planos de desenvolvimento, programas sociais, educação, oportunidades econômicas, atividades da comunidade, acesso ao crédito, condições de vida e outros (art. 11, 12, 13, 14). Por fim, a partir da Convenção dos Direitos das Crianças (CDC) toca a saúde (em diversos pontos), nível de vida, nutrição, vestimenta e moradia – art. 24 e 27 (1)(2) e (3). Lizin analisa, não somente os tratados internacionais, mas também a visão dos órgãos de DHs, através do Comentário geral n. 3 do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, argumentando assim que os Estados têm obrigações de implementar a realização progressiva dos direitos e que têm de tomar os passos até o máximo dos recursos disponíveis. Relaciona ainda, sem desenvolver suficientemente, que a extrema pobreza está ligada ao Direito ao desenvolvimento, reconhecido na Declaração do Direito ao 154 Desenvolvimento bem como na II Conferência Mundial sobre DHs (Viena, 1993) e seu decorrente plano de ação. Tendo tomado em conta as diferentes ações das Nações Unidas e suas agências para erradicar a pobreza, a autora indica que a luta contra a pobreza implica na transferência de recursos (tanto entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, quanto nacionalmente para os setores sociais), localizando parte da responsabilidade na comunidade internacional. Como conclusão do primeiro relatório, apresenta a belga, “Extrema pobreza é então uma violação de todos os direitos humanos, tocando ainda dois princípios dos DHs; a igual dignidade dos seres humanos e o princípio de nãodiscriminação”25. Vale a pena mencionar também a sua proposta de “direito a uma renda mínima”26 algo que retoma, ainda que brevemente, em vários dos próximos relatórios. Em seu segundo ano de mandato, Lizin visitou vários países. Um dos seus pontos principais no relatório era a necessidade de incorporar uma dimensão humana e social no processo de globalização para injetar mais vigor nas estratégias de combate à extrema pobreza, com sua natureza universal e multidimensional. A extrema pobreza é vista ainda como a negação de todos os DHs. Ainda seguindo essa visão, a relatora trabalha três direitos aos quais deveria dar-se prioridade; “Um consenso emergiu recentemente entre vários observadores internacionais e experts que deveria dar-se prioridade ao exercício de três direitos fundamentais: o direito à alimentação, o direito à educação e o direito à saúde. Sem tentar estabelecer um ranking entre direitos, o ponto dessa abordagem é de mostrar que existem direitos os quais o exercício mínimo é essencial à sobrevivência e desenvolvimento dos indivíduos e pessoas. O sr. Robert McNamara, antigo presidente do Banco Mundial, argumentou que países pobres têm o direito a um mínimo de comida, saúde e educação. O significado dessa abordagem é plenamente aparente no caso da extrema pobreza, onde medidas tomadas, se focadas nas necessidades essenciais das pessoas mais pobres, possibilitam quebrar o círculo de 27 privação e dependência.” A Comissão de DHs solicitou naquele momento aos relatores trabalhar seus temas no contexto da globalização, dessa forma, Lizin pôs sob sua lente, ainda que não muito profundamente: a incorporação da dimensão humana e social no ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” trabalho das instituições de Bretton Woods; das Nações Unidas; as mulheres como alvos principais de medidas na luta contra a extrema pobreza28. As principais conclusões do segundo relatório são que, seguindo ainda a linha de que a extrema pobreza é a violação de todos os DHs, já se aceita uma priorização para certas necessidades especiais (alimentação, saúde e educação primárias). No entanto, um difícil obstáculo à luta contra a pobreza ainda é a falta de compromisso político. Menciona também que uma efetiva arma na luta contra a pobreza é o estabelecimento de legislação garantindo uma renda mínima. No ano de 2001, Anne-Marie Lizin começava seu segundo mandato como EI, a partir de uma resolução que lhe solicitava que continuasse, entre outros, a avaliar a relação entre a promoção e a proteção dos DHs e a erradicação da extrema pobreza, identificando boas práticas nacionais e internacionais e examinando estratégias para superar a extrema pobreza e seu impacto social. Em seu terceiro relatório, a Relatora reconhece que em 2001 já existe um maior compromisso da parte das agências das Nações Unidas, governos e ONGs mas que, ao mesmo tempo, pioram os números da pobreza em várias partes do mundo, refletindo até em maiores fluxos migratórios. Também apresenta nesse documento o Fundo Monetário Internacional (FMI) como um dos temas centrais. É interessante notar que, embora a Relatora não discorra o suficiente sobre o tema, apresenta os números de pobreza, não somente considerando a linha de um dólar por dia, mas também outros indicadores, como alfabetização de adultos, acesso à água potável, acesso à saúde e acesso ao saneamento. E, para enfrentar tal situação, reconhece um crescimento no número de atores-interlocutores no tema, com a inclusão de ONGs, Instituições nacionais de DHs, bem como indivíduos, mais envolvidos no tema. Depois de analisar alguns programas e procedimentos para a implementação de seu mandato, Lizin comenta o diálogo com o FMI e com o Banco Mundial para a integração dos DHs em seus programas de redução da pobreza (i.e. PRSP; Poverty Reduction Strategy Papers e PRGF; Poverty Reduction and Growth Facility), ainda que sejam instituições não plenamente democráticas, começaram a incorporar algumas preocupações de DHs. Após o 11 de Setembro, no documento de 2002, a Relatora comenta que uma estratégica eficaz contra o terrorismo não pode deixar de fora a luta contra a pobreza, já que “O terrorismo é uma expressão ideológica inaceitável, que fundamenta seu discurso de recrutamento no analfabetismo, a pobreza e a comparação de situações de desenvolvimento.”29. Talvez otimista demais, Lizin argumenta que; “A ação contra o terrorismo pode conduzir a uma nova dinâmica para o desenvolvimento, em termos de prioridades, de respeito aos direitos humanos, educação para todos, formação de educadores, as iniciativas que dão poder às mulheres, a evolução em direção à democracia e a expressão dos mais pobres, o pôr em marcha um estado civil mundial – tantos campos de obras têm de ser abertos e reabertos à luz dos acontecimentos dramáticos 30 do 11 de setembro.” A autora acredita ser necessário incorporar os DHs e a questão da extrema pobreza para que qualquer estratégia contra o terrorismo seja eficiente. Buscando assim, continuar seu trabalho para colaborar à maturação da comunidade internacional em vistas de se obter uma declaração contra a pobreza. O Relatório de 2002 segue analisando as práticas de algumas Instituições nacionais de DHs, alguns Estados e ONGs. Toca também o tema da migração internacional e algo que nos parece melhor situado, dentro do mandato, que é a questão da participação dos pobres nos processos de tomada de decisão; algo fundamental para a noção de empoderamento. Por fim, trata a questão das Instituições de Bretton Woods e a continuidade que se dá sob a forma de diálogo interativo. Com um diálogo com mais de dois anos entre a relatoria e essas instituições, toma nota do trabalho das mesmas, por exemplo, ao reconhecer que a pobreza é um fator multidimensional que inclui a privação de direitos humanos e direitos fundamentais e, por esses motivos, os DHs precisam fazer parte dos processos de desenvolvimento (como os PRSP, a ser um processo de envolvimento nacional). Lizin propõe ainda a inclusão dos DHs em suas cartas constitutivas, mas também a prática dessas organizações e a garantia dos meios para a real implementação das políticas necessárias ao gozo de esses direitos. A expert sugere ainda que as Instituições Financeiras Internacionais (IFIs) reconheçam os DESC e sua justiciabilidade. Um tema mais concreto em relação aos processos de desenvolvimento, Lizin enumera recomendações para integrar os DHs no PRSP de Benin, para garantir os seguintes direitos: à saúde, educação, alimentação, direito a um estado civil, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 155 Leonardo Castilho direito à propriedade e acesso à terra, direito à informação e direitos culturais. No ano de 2003, bem como em 2004, a Relatora continua trabalhando pela inserção dos DHs (principalmente os DESC) no trabalho das IFIs; as boas práticas dos países analisados; a questão da migração internacional e outros (como a descentralização e a reorganização dos serviços de registro civil). 3.b.d Sengupta Após Lizin, assume esse mandato o indiano Arjun Sengupta, anteriormente EI para o Direito ao Desenvolvimento. Em seu primeiro relatório, Sengupta se debruça sobre a definição de extrema pobreza, sua relação com DHs e sugere ações concretas para uma maior erradicação da pobreza baseada na realização de DHs. A extrema pobreza normalmente é tratada como falta de renda ou poder de compra para assegurar necessidades básicas. Porém, essa forma de ver a questão tem várias dificuldades pois não analisa a possibilidade de modificação do nível de vida de um país para outro, de um momento para outro, ou em contextos culturais diferentes. É importante notar que o discurso de pobreza se moveu muito além o critério de renda. Propõe então uma definição de extrema pobreza associada ao desenvolvimento humano; desenvolvimento de capacidades, com inspiração em Amartya Sen, que foi também responsável, em grande medida, pela visão contemporânea de desenvolvimento (por exemplo, com o IDH). Dessa forma, dois elementos fundamentais para o conceito de pobreza, segundo Sengupta, seriam a privação de capacidades (falta de desenvolvimento humano) e pobreza monetária, completados por sua vez pela; a exclusão social31. “No presente e próximos relatórios do expert, usaremos, como definição de pobreza, um composto de pobreza de renda, pobreza de desenvolvimento humano e exclusão social. Pobreza extrema poderia ser vista como uma privação extrema, em termos de algumas definições consensuadas da severidade da privação, especialmente quando todos esses elementos de privação coexistem.” No que se refere ao tratamento da questão pela abordagem de DHs, o conceito de “erradicação da pobreza como direitos humanos supõe obrigações executáveis em titulares de deveres” 32. O EI relaciona então esse conceito com o DIDH, seus tratados e convenções internacionais, de forma que, provocaria-se grande pressão ao esforço internacional 156 se a erradicação da pobreza pudesse ser vista em termos de realização de DHs. “Se a extrema pobreza pode ser identificada em si mesma como uma violação dos direitos humanos, ela se torna uma obrigação para ambos os Estados concernidos e a comunidade internacional para fazer os melhores esforços 33 diretamente à sua remoção.” Um outro ponto interessante que aborda o expert é o papel das ações nacionais para a condução das políticas nacionais de DHs (por exemplo, através das Comissões Nacionais de DHs). Nesse sentido, para a erradicação da extrema pobreza, Sengupta comenta a importância de programas nacionais para desenvolvimento dos DHs, o que implicaria adotar um programa coordenado de ações para eliminar restrições através do aumento de recursos e ajustes institucionais. “(...) tais programas devem ter focos mais específicos. Eles devem desenvolver ações específicas a aliviar as condições das pessoas vivendo em pobreza ou dos grupos identificados como os mais vulneráveis em carência essencial de renda e desenvolvimento humano e mais excluídos de participar nas 34 interações sociais.” Do lado das ações internacionais, os Estados têm, segundo o expert, obrigações na realização dos DHs através da cooperação internacional, a qual todos os Estados se comprometeram sob a forma dos artigos 55 e 56 da Carta de São Francisco, bem como outros tratados. O autor comenta ainda as ações e políticas das agências internacionais de desenvolvimento (tanto do Sistema Nações Unidas mas também bilaterais), bem como das IFIs para a erradicação da pobreza. Em seu segundo relatório, Sengupta recomenda a seguinte resolução ou declaração à Comissão de DHs: “Extrema pobreza deve ser vista como a negação de direitos humanos básicos e todos Estados, seja diretamente ou em cooperação entre si, devem tomar urgentemente passos para erradicar a extrema pobreza da face da Terra, como obrigação nuclear a ser executada com efeitos imediatos. Para esse propósito, cada Estado deve identificar uma pequena porcentagem (menos de 10%) de sua população como o grupo mais vulnerável sofrendo de extrema pobreza, que é composta de pobreza de renda, pobreza de desenvolvimento humano e exclusão social. Qualquer pessoa que pertence a esse grupo sofre, seja de todas essas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” formas de privação, ou mais severamente de alguma destas. Isso pode ser resolvido pela realização de um nível mínimo de alguns direitos reconhecidos em pactos internacionais. O custo para a realização destes direitos, em termos de recursos e modificação nos sistemas legais e institucionais, quando necessários, devem ser arcados por todos os Estados, suplantando todas outras demandas, e tomando os passos necessários através da cooperação internacional para ajudar qualquer Estado nos melhores esforços para erradicar 35 as condições da extrema pobreza.” Nessa perspectiva, Sengupta propõe que a qualificação da erradicação da extrema pobreza como questão de DHs, “faria trunfar essas obrigações sobre outras políticas sociais, dando primeira prioridade entre todas as ações de políticas significa que as autoridades têm de resistir as compensações entre os diferentes grupos de interesses beneficiados por suas ações.”36 “(...) a mais alta prioridade para a erradicação da pobreza seria resultado direto do reconhecimento, por parte do Estado, dos DHs e a visão da pobreza como privação destes direitos. Aceitando a retirada da pobreza como objetivo de DHs proporciona a base para reorganizar prioridades e acomodar as compensações entre os diferentes grupos de interesse. Para permitir uma implementação efetiva de política de retirada da pobreza usando quais sejam os recursos necessários exigiria um consenso social, seja gerado internamente ou derivado externamente do fato de ser membro da comunidade 37 internacional que aceitou o direito dos DHs” Por fim, o expert propõe que a retirada da condição de pobreza seja vista como a principal obrigação (core obligation) que deve ser realizada imediatamente e não deve estar sujeita à realização progressiva. Vale lembrar ainda que Sengupta defende, assim como os outros experts supramencionados, que as obrigações não repousam somente sob os ombros dos Estados em desenvolvimento mas também sob toda a comunidade internacional. A comunidade internacional e todos os países membros devem então tomar as obrigações de erradicar a extrema pobreza como elemento principal de suas obrigações de DHs”38 3.b.e Bengoa A Comissão de DHs solicitou ainda à sua Subcomissão, estabelecer um grupo de experts, baixo a coordenação do professor José Bengoa (Chile)39, para considerar o interesse em preparar princípios diretores para a implementação das normas e padrões existentes de DHs no contexto da luta contra a pobreza. O relatório, que foi apresentado recentemente (Junho de 2006), retoma alguns pontos da discussão de extrema pobreza e DHs e, ao final, apresenta um projeto desses tais princípios40. Em seu relatório, o grupo de experts lista alguns pontos para o conceito de pobreza e renova pelo argumento de que a exclusão é a característica que define a extrema pobreza. Assim, extrema pobreza seria a combinação de um problema econômico (falta de renda), um problema político (negação de direitos civis e políticos básicos) e um problema social e cultural (falta de oportunidades). “Pobreza extrema é a situação onde direitos humanos fundamentais são negados. Quando essa situação persiste e afeta um número amplo de pessoas, ela constitui uma violação contínua de direitos humanos. Essa é a situação que os Estados e a comunidade internacional têm o dever sagrado, tanto 41 político quanto legal, a reparar.” No documento, dâ-se ênfase a alguns argumentos já conhecidos como o efeito imediato de algumas obrigações que se relacionam à vida humana (como comida, água, e abrigo) posto que esses não estariam sujeitos à realização progressiva. Os experts defendem que existem pontos fundamentais à da pobreza, como a educação, a luta contra a corrupção, o direito à associação (importante instrumento para que os pobres tenham um papel pró-ativo) e a participação em geral (especialmente das mulheres). Em algumas situações, as pessoas encontramse sujeitas a múltiplas formas de discriminação e, nos momentos de crise, essas são as vítimas que mais sofrem, assim sendo, faz-se mister ainda a proteção dos mais vulneráveis (e discriminados)42. Duas esferas que necessitam ainda atenção, segundo o grupo, é o exercício efetivo dos direitos e a participação. O primeiro quesito espelha-se na justiciabilidade dos direitos, através do simples argumento de que as vítimas de violações de direitos possam demandar a restauração de seus direitos violados e receber compensação e reparação. Dessa maneira, é deveras importante que os remédios estejam disponíveis às vítimas43. O segundo quesito é hoje em dia um princípio também do desenvolvimento internacional: a participação. A pobreza só será de fato erradicada com a presença de mecanismos participativos para os pobres e para as pessoas vivendo em pobreza. Para a restauração ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 157 Leonardo Castilho (ou talvez promoção) desses direitos, os Estados devem elaborar planos detalhados para a erradicação da pobreza baseados nos princípios mencionados com uma significativa participação das pessoas interessadas. Por último mas não menos importante, foi ressaltado que uma declaração internacional sobre DHs e Extrema Pobreza, dirigida aos direitos dos pobres, seria extremamente útil e relevante, incluindo através do estabelecimento de uma estrutura normativa para combater a pobreza. Vale mencionar aqui um fato político do atual Conselho de DHs, no final de Novembro de 2006 foi adotada uma resolução44. Esta reafirma os compromissos internacionais e afirma que a luta contra a extrema pobreza deve permanecer como alta prioridade para a comunidade internacional. Toma nota do projeto de princípios diretores elaborado pela Subcomissão e convida o Alto Comissariado de DHs a circulá-lo para a obtenção de opiniões dos Estados, agências das Nações Unidas, organizações intergovernamentais, órgãos de supervisão dos tratados de DHs e instituições nacionais de DHs. 3.c Componentes do conceito Seguindo a abordagem de desenvolvimento, o conceito de pobreza engloba hoje a esfera meramente monetária, mas também outras esferas do desenvolvimento humano como educação, saúde, moradia, passando assim à noção de um fenômeno multidimensional. Como vimos, a pobreza passou então por três fases; subsistência que se seguiu de necessidades básicas e chegou ao ponto da privação relativa. Hoje em dia, reconhece-se ainda a importância de princípios (comuns aos DHs) como não-discriminação, participação e empoderamento, bem como o ponto dos direitos – constituir o sujeito do desenvolvimento como um sujeito de direitos. Exatamente nesse momento que entram, com mais importância os DHs, a complementar a abordagem de desenvolvimento. Então, desde a perspectiva dos DHs, o debate se acumulou de forma a delinear alguns dos pontos mais importantes para tratar esse desafio. Historicamente, o padre Wresinski teve um papel muito importante em trazer essa discussão à tona nos fóruns internacionais (como a Comissão de DHs) e também colaborou muito com a proposição de um conceito inicial. Despouy, a partir do conceito inicial de Wrasinski, retoma as características dos DHs de indivisibilidade e interdependência mas também relaciona a questão da pobreza a todos os DHs, não somente os DESCs mas também aos DCPs. 158 Lizin, por sua vez, faz uma análise dos tratados de DHs (e da interpretação dos órgãos de supervisão, como o Comitê DESC e o Comentário Geral n.3) e associa a pobreza ao Direito ao Desenvolvimento. Para Lizin a pobreza é uma violação que ameaça a todos os direitos dos pobres e, por isso, é importante enfatizar a igualdade e não-discriminação. A Relatora contribui também a partir de seus relatórios de país e seu intenso diálogo com as IFIs. Nos últimos anos, Sengupta apresenta outras inovações ao debate, sendo mais essencial a sua proposta de definição e o assunto das ações (e políticas). Sengupta inova então, com uma definição mais estrita de pobreza, sendo esta a privação de capacidades (falta de desenvolvimento humano), acompanhada da pobreza monetária e exclusão social. Esse conceito, por sua moldura de DHs, traria assim obrigações executáveis exigíveis de titulares de deveres. No plano das políticas, o indiano menciona a importância de enfrentar a pobreza também através das políticas nacionais de DHs mas não deixa esquecer que as obrigações de DHs também têm reflexos internacionais (outros países), com compromissos internacionais a serem satisfeitos através da cooperação internacional e outros mecanismos. O relatório do grupo coordenado por Bengoa sugere novos pontos e princípios para a implementação de normas e padrões de DHs na luta contra a pobreza, desenvolvidos sob a forma de uma declaração. Articula-se a abordagem de que, ainda que os Estados tenham a obrigação progressiva de promover os direitos, alguns direitos são de efeito imediato. Entre os princípios que se nota para essa declaração são de suma importância; a participação (e empoderamento) e o exercício efetivo dos direitos (e a justiciabilidade dos mesmos). Por conseguinte, os componentes abaixo são essenciais a um conceito de extrema pobreza que possa ser elemento de convergência entre o Desenvolvimento e os DHs: • A pobreza é definida pela renda, mas não somente, outros fatores também são importantes (desenvolvimento humano). A pobreza é um fato multidimensional. • deve-se considerar a evolução que partiu da linha de subsistência, passando por necessidades básicas para chegar à idéia de privação relativa • A pobreza toca várias esferas da vida humana, por isso, é importante considerar as características dos DHs de indivisibilidade e interdependência. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” • Para uma abordagem de DHs, deve-se • • • observar os tratados e convenções internacionais bem como a compreensão jurídica. A questão da extrema pobreza está associada ao Direito ao Desenvolvimento Os programas de luta contra a pobreza devem observar os princípios de: igualdade e não-discriminação (provendo especial atenção aos mais vulneráveis), participação e justiciabilidade (existência de remédios para o exercício efetivo dos direitos). As obrigações na luta contra a pobreza não envolvem somente os Estados e o desenvolvimento de suas políticas nacionais mas também a comunidade internacional a participar através da cooperação internacional. 4. UMA PROPOST A DE CONCEITO PROPOSTA Os elementos mencionados são essenciais; contudo, um debate que parece enfrentar problemas é a dificuldade em definir per se o conceito de extrema pobreza. Ainda que exista o consenso que as características acima são adequadas, o mesmo não existe para outros pontos, tais como: o escopo da extrema pobreza; se essa situação viola DESCs, DCPs ou ambos; quais seriam as obrigações dos diferentes atores, entre outros. A perspectiva do presente trabalho é de propor mais um fator de convergência entre o Desenvolvimento e os Direitos Humanos e tal motivação fundamenta algumas posições tomadas. 4.a Abrangência do conceito Para alguns, o conceito de extrema pobreza deveria tomar uma forma muito ampla e abrangente, englobando tanto os DCPs, quanto os DESCs (Wresinski, Despouy, Lizin, Bengoa et al). No entanto, para influenciar políticas públicas, programas de desenvolvimento e mesmo fundamentar uma declaração internacional, faz-se mister uma definição mais restrita e assim, precisa da extrema pobreza (como a proposta por Sengupta). De outra forma, tudo poderia ser questão de extrema pobreza e assim, nada também o seria. Segundo Barry Buzan, um conceito de explica tudo, não explica nada.45 É imperativa uma noção mais restrita para que estejam claras as prioridades a se dedicar plenamente na busca da erradicação da extrema pobreza. É certo, sem embargo, que a situação de extrema pobreza toca outras partes da vida humana, tais como a participação política, discriminação e outros. Porém, esses são de fato DCPs, interrelacionados, mas, desde a perspectiva do desenvolvimento, é importante trabalhar com as capacidades e tal pode ser alcançado através de uma abordagem (com perspectiva de DHs) ao desenvolvimento humano. “O princípio da indivisibilidade dos direitos humanos não exige que a pobreza se define em referência a todos os direitos estabelecidos na Carta Internacional de Direitos Humanos mas sim exige uma estratégia global para abordar a pobreza. (...) Ainda que a pobreza se possa definir em referência a um conjunto reduzido de direitos humanos, uma estratégia eficaz de luta contra a pobreza terá certamente que abordar um conjunto mais amplo de 46 direitos humanos.” Na busca dessa convergência, é imprescindível conciliar as prioridades para fortalecer a aproximação das agendas e perspectivas. Isso implica assumir uma definição que seja interessante para o Desenvolvimento e os DHs, que teria de ser restrita ao ponto de considerar: a extrema pobreza como renda mas também o desenvolvimento humano. Vale lembrar que também Sengupta, ao apresentar um conceito mais restrito de pobreza inclui esses dois pontos; renda e desenvolvimento humano. Analisar o desenvolvimento humano a partir dos direitos humanos é um dos meios para fortalecer essa convergência. Assim, algumas prioridades seriam comuns e fortalecidas pela abordagem de DHs, tais como a educação, saúde e moradia. Isso implica em reconhecer educação sob a forma de direito à educação, bem como saúde como direito à saúde e moradia como direito à moradia. Deve-se tomar a compreensão mais integral desses direitos contemporaneamente, isto é, a jurisprudência (das Cortes de Direitos Humanos), bem como o entendimento dos instrumentos especiais de DHs (tais como órgãos de supervisão e os relatores especiais do sistema Nações Unidas), mas também, na medida do possível, a posição das agências de desenvolvimento internacional que trabalham com esses temas. Por fim, a situação de pobreza é a ausência ou não respeito destes direitos (DESCs no caso da extrema pobreza). 4.b Extrema pobreza: um limiar mínimo A discussão acerca dos direitos econômicos, sociais e culturais não é assunto pacífico e, nesse ponto, várias abordagens foram sugeridas para tratar a questão. Para alguns autores, uma das dificuldades para a justiciabilidade destes direitos é a falta de clareza dos conceitos. Afinal, o conhecimento e ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 159 Leonardo Castilho construção jurídica acerca dos direitos civis e políticos é de mais longa data que a dos DESCs. Sepulveda tem razão em afirmar que um dos imperativos para um maior respeito e observância aos DESCs como tais é clareza dos conceitos, o que se quer dizer por direito à educação ou direito à saúde. Essa dificuldade precisa ser abordada, ainda mais para solucionar o desafio da extrema pobreza com uma abordagem de DHs. No entanto, na escola nórdica de DHs existe há bastante tempo uma noção que pode ser aplicada; estabelecendo assim um limiar mínimo (de DESCs) que constituiria a noção de extrema pobreza. Segundo Andreassen et al (apud A. Eide) uma interessante abordagem aos DESCs é a perspectiva operacional de um limiar mínimo para realização de DHs47. Ainda que possa existir diferenças na realização de direitos entre países, essa linha mínima deve ser garantida universalmente (seja através de políticas nacionais, seja através da cooperação internacional e outros agentes, como ressalta Sengupta). A proposta aqui subjacente é a determinação de uma linha mínima de dignidade (referente aos DESCs), qualquer situação abaixo dessa linha (definida pelos direitos mencionados), seria encontrar-se em extrema pobreza. 4.c Imediata realização dos direitos Ainda no tocante à clareza dos direitos e das obrigações do Estado, a compreensão atual dos DESCs possibilita a articulação dos níveis mínimos (minimum core) destes direitos. A visão mais simples das obrigações de DESC é que os Estados têm o dever de tomar passos, até o máximo dos recursos disponíveis, para alcançar progressivamente os direitos reconhecidos no Pacto (art. 2(1) do Pacto Internacional de Direitos Econômicos Sociais e Culturais). Porém existem as obrigações de efeito imediato. As obrigações de efeito imediato são amplamente reconhecidas na literatura, bem como pelos órgãos de supervisão (principalmente o Comitê DESC). Em 1986, as obrigações de efeito imediato já eram reconhecidas pelos Princípios de Limburgo (§ 16 e 21), são explícitas no Comentário Geral n.3 e n.9 do Comitê DESC, bem como em outros Comentários Gerais e também os relativos a direitos específicos48. Segundo nos ensina Cançado Trindade; “36. No comentário seguinte (n. 3 de 1990), de real importância, insistiu o Comitê nas ‘obrigações mínimas’ de todos os Estados Partes de assegurar, ao menos, a satisfação de 160 níveis essenciais mínimos de cada m dos direitos consagrados no Pacto. 37. Ao examinar a natureza das obrigações sob o Pacto (artigo 2(1)), o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais significativamente assinalou que, se, por um lado, o Pacto dispõe sobre a realização progressiva dos direitos consagrados, por outro lado impõe várias obrigações de efeito imediato, a saber: a) ‘obrigação de adotar medidas’ pouco após a entrada em vigor do Pacto (artigo 2(1)); b) compromisso de garantir o exercício dos direitos protegidos ‘sem discriminação’; c) aplicabilidade ‘imediata’ de determinadas disposições por órgãos judiciais e outros nos ordenamentos jurídicos internos (artigos 3; 7(a)(1); 8; 10(3); 13(2)(a), (3) e (4); e 15(3)); d) obrigação geral de buscar constantemente a realização dos direitos consagrados sem retrocessos; e) ‘obrigações mínimas’ (‘minimum core obligations’) em relação a todos os direitos consagrados, e, em caso de não-cumprimento, obrigação de provar que ‘o máximo de recursos disponíveis’ (tanto no plano nacional como mediante a cooperação e assistência internacionais) foi utilizado, ou se tentou utilizá-lo, para a realização dos direitos consagrados (artigos 11, 15, 22 e 23 do Pacto); f) em épocas de crises econômicas graves, de processos de ajuste, de recessão econômica, obrigação de proteger os setores e membros mais vulneráveis da sociedade por meio de programas específicos de relativamente baixo 49 custo” Esse limiar, compreendido pelas obrigações mínimas de realização imediata destes determinados direitos (que compõem a noção de desenvolvimento humano e ainda incluem a renda), definiria então a extrema pobreza, uma linha abaixo da qual nenhuma pessoa poderia se encontrar. 4.d Justiciabilidade do limiar mínimo O limiar mínimo, compreendido através das obrigações mínimas (e imediatas) dos direitos, estabelece uma lista de prioridades para o desenvolvimento, tanto a partir de políticas nacionais, quanto a partir do trabalho da cooperação internacional. Esse seria assim um denominador mínimo comum entre a perspectiva de desenvolvimento e a perspectiva de DHs. No entanto, como vimos, mesmo a abordagem de desenvolvimento está aperfeiçoando seu paradigma através da inclusão de noções caras à abordagem de DHs, tal como a passagem do aspecto de necessidades para o de direitos. Em meio a essas ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” mudanças encontramos também outro fator muito estimado pela comunidade de DHs; a justiciabilidade. Isso implica que, no caso da elaboração de programas de desenvolvimento, a educação não é meramente vista como uma necessidade, mas sim um direito e, como tal, pode ser exigido perante tribunais. Há muito a compreensão dos DHs é de que, na aplicação doméstica dos direitos, segundo o CG n.9 do Comitê DESC, devem existir meios apropriados para reparar, ou remédios, disponíveis a qualquer indivíduo ou grupo prejudicado. Segundo os Princípios de Limburgo, o Estado deve prover remédios efetivos incluindo, quando apropriado, remédios judiciais. Os meios judiciais não são somente apropriados, são indispensáveis mas, na ausência destes, deve-se poder recorrer a remédios administrativos, desde que sejam acessíveis, disponíveis, oportunos e efetivos (CG n.9 § 9). Dessa forma, em países onde ainda não se reconhece a justiciabilidade dos DESCs, uma proposta, para garantir a justiciabilidade de um mínimo destes direitos, seria reconhecê-lo para o limiar mínimo das obrigações imediatas e mínimas. Essa proposição serve também para colaborar com a convergência entre os DHs e o Desenvolvimento em outros pontos. Primeiro, por estabelecer um limiar mínimo abaixo do qual ninguém deve se encontrar. Esse mínimo é então de realização imediata e justiciável. Mas esse mínimo se aplica em média aos países com desenvolvimento humano muito baixo e baixíssima renda por capita; as duas perspectivas se interessam em melhorar também a qualidade de vida das pessoas em países que estão um pouco melhor mas aonde todavia há muito para se desenvolver. Assim, uma proposta para o dilema realização imediata v. Progressividade (em convergência entre as duas abordagens) seria que, acima deste mínimo pode-se discutir a progressividade (considerando ainda os Programas de Desenvolvimento dos Países). 5 . CONCL USÃO CONCLUSÃO Em um mundo onde os números dos efeitos multidimensionais da pobreza ainda são abomináveis, faz-se mister uma maior convergência de dois paradigmas que buscam melhorar a qualidade de vida das pessoas, principalmente as mais vulneráveis, os DHs e o Desenvolvimento. Essa convergência, de recente aperfeiçoamento, já produz alguns resultados e a própria definição de extrema pobreza pode ser mais um desses elos. Para tal, apresentamos a evolução do conceito de extrema pobreza, tanto como visto pelo Desenvolvimento, quanto pelos DHs. De uma visão minimalista e restrita à renda, passou-se a uma perspectiva mais ampla e multidimensional. E, com o acúmulo dos trabalhos desde a perspectiva de DHs, alguns componentes deste conceito foram estabelecidos. Ressaltou-se a aplicabilidade dos princípios de DHs à extrema pobreza: indivisibilidade, interdependência, universalidade, igualdade e não-discriminação. No panorama dos DHs no Desenvolvimento, inseriu-se a questão da extrema pobreza no Direito ao Desenvolvimento. E, de um conceito demasiado abrangente, passouse a um conceito mais restrito e melhor definido, em vistas a estabelecer obrigações executáveis. Assim sendo, da luta contra a pobreza decorrem obrigações tanto nacionais (políticas de desenvolvimento nacionais) quanto internacionais (obrigações da comunidade internacional para a assistência através da cooperação internacional). O conceito per se, restrito à falta de desenvolvimento humano (educação, saúde e moradia) e renda, é melhor definido em termos de um limiar mínimo, abaixo do qual nenhuma pessoa poderia se encontrar. Esse limiar mínimo encontrase então fora do debate acerca da progressividade dos DHs, posto que é demarcado pelas obrigações mínimas e de realização imediata (minimun core) de cada direito. E, hoje em dia, outro fenômeno da convergência dos DHs e o Desenvolvimento é a abordagem de DHs para o desenvolvimento, a partir do qual a justiciabilidade (além do empoderamento e participação dos envolvidos) é um dos princípios. Afinal, os programas de desenvolvimento devem promover direitos ao invés de meras necessidades. Assim sendo, todos os componentes deste limiar mínimo devem ser vistos como justiciáveis, pela sua imperatividade e urgência, enquanto que acima disso se aceitaria (como forma de compromisso entre as duas abordagens) a progressividade. Como food for thought, da mesma forma que os DCPs têm um núcleo duro irrevogável sob qualquer circunstância, essa noção de extrema pobreza – composta dos níveis mínimos dos direitos de desenvolvimento humano e a renda – de natureza imediata e justiciável, a ser promovida tanto pela perspectiva de DHs quanto de Desenvolvimento, poderia ser considerada como o núcleo duro dos DESCs. A proposta não é radical nem exagerada, na verdade, busca somente estabelecer um limiar mínimo abaixo do qual nenhuma pessoa pode se encontrar. Esse mínimo é ínfimo demais para ser negociável. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 161 Leonardo Castilho BIBLIOGRAFIA ALSTON, Philip. A human rights perspective on the Millennium Development Goals. Disponível em: www.ohchr.org/english/issues/milleniumdevelopment/resources.htm. FUKUDA-PARR, Sakiko. The Human Poverty Index: a multidimensional measure. In Poverty in focus. International Poverty Centre (UNDP), Dezembro 2006. ALSTON, Philip e ROBINSON, Mary (eds). Human rights and development: towards mutual reinforcement. New York. Oxford University Press, 2005. LIZIN, Anne-Marie. Human Rights and Extreme Poverty. Relatórios 1999, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004. BENGOA, José. Implementation of existing human rights norms and standards in the context of the fight against poverty. A/HRC/Sub.1/58/16*, 2006. Projeto do Milênio; Números da crise, www.pnud.org.br/numeroscrise.php. OHCHR, Los derechos humanos y la reducción de la pobreza, un marco conceptual, Genebra 2003. BUZAN, Barry, What is Human Security, comments by 21 authors. SENGUPTA, Arjun. Human rights and extreme poverty. Relatórios 2005, 2006. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos, volume I, Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris Editor, 1997. TOWNSEND, Peter. What is poverty? An historical perspective. In Poverty in focus, International Poverty Centre (UNDP), Dezembro 2006. CEPAL. The Millennium Development Goals; a Latin American and Caribbean perspective. Santiago, ONU-CEPAL, 2005. DESPOUY, Leandro. Final report on Human Rights and extreme poverty. E/CN.4/Sub.2/1994/19. EIDE, Asbjorn, ‘Realization of Social and Economic Rights and the Minimum Threshold Approach’, Human Rights Law Journal, Vol. 10, No. 1–2, 1989. 162 _________________. Poverty and Human Rights, trabalho apresentado na Conferência The many dimensions of poverty, organizada pelo International Poverty Centre (UNDP), Brasília 2931 Agosto 2005. UNDP. Human Development Report. New York, Oxford University Press. WRESINSKI, Grande pauvreté et précarité économique et sociale, Conselho Econômico e Social Francês, Journal Officiel, 1987. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” NOT AS NOTAS 1. Projeto do Milênio, Números da crise; www.pnud.org.br/milenio/numeroscrise.php acessado em 14.12.2006, 11:00. 2. ALSTON, Philip. A human rights perspective on the Millennium Development Goals, pg. 7. Disponível em: www.ohchr.org/english/issues/ millenium-development/resources.htm acessado em 12.02.2007 às 19:00. 3. Hoje em dia já se encontra considerável produção bibliográfica na área dos DHs no Desenvolvimento mas, principalmente na literatura de língua inglesa (Human Rights in Development) articulada, além da academia, por organismos internacionais (por exemplo, agências da ONU) e ONGs internacionais. Entre algumas das recentes publicações mais pertinentes, encontram-se Human Rights and Development; towards mutual reinforcement, organizado por Philip Alston e Mary Robinson, bem como Development as a human right; legal, political, and economic dimensions, organizado por Bård A. Andreassen e Stephen Marks. 4. UNDP. Human Development Report. New York, Oxford University Press, p. 30. O Glossário presente no Relatório de Desenvolvimento Humano do PNUD do ano 2000 explica brevemente: a universalidade dos DHs; a inalienabilidade; a indivisibilidade; a realização dos DHs; o correlato de DHs e os portadores de deveres; tratados internacionais, pactos e convenções; assinatura, ratificação e reservas aos tratados; órgãos de tratados e declarações de DHs. 5. UNDP, op. cit., p. 31. 6. Igualmente, desde a sua criação, a ONU tem por outro grande propósito, a segurança. Hoje em dia, se reconhece a importância de um determinado modelo de segurança, interdependente e inter-relacionado com os Direitos Humanos e o Desenvolvimento. Da fusão desses três conceitos, surge ainda a idéia da Segurança Humana que, por sua vez, também se insere no debate entre Direito e Desenvolvimento. 7. UNDP, op. cit., p. 16. 8. ALSTON, Philip e ROBINSON, Mary (eds). Human rights and development: towards mutual reinforcement. New York. Oxford University Press, 2005. p. 1. 9. O termo “accountability” não nos parece de simples tradução posto que o conceito mais correto engloba em si vários componentes. Em algumas situações, pode-se traduzir por “transparência” ou por “responsabilidade”. Em certos dicionários também encontra-se “responsabilidade final”. 10. CEPAL. The Millennium Development Goals; a Latin American and Caribbean perspective. Santiago, ONU-CEPAL, 2005. Capítulo III. 11. TOWNSEND, Peter. What is poverty? An historical perspective. In Poverty in focus, International Poverty Centre (UNDP), Dezembro 2006. p.5. 12. TOWSEND, Peter. Poverty and Human Rights, trabalho apresentado na Conferência The many dimensions of poverty, organizada pelo International Poverty Centre (UNDP), Brasília, 29-31 Agosto 2005. 13. Townsend apresenta em seu artigo várias das críticas à linha de pobreza de um dólar por dia. 14. TOWNSEND, op. cit. p. 5. 15. Tal idéia influenciou a prática e ciências internacionais, bem como políticas nacionais. Entre estas, medidas estatísticas internacionais; o salário mínimo na África do Sul; planos de desenvolvimento na Índia e Malásia. Até hoje “subsistência” segue como a base da medida oficial de pobreza. 16. Sakiko Fukuda-Parr. The Human Poverty Index: a multidimensional measure. In Poverty in focus. International Poverty Centre (UNDP), Dezembro 2006. 17. Vale mencionar ainda que a abordagem de capacidades, de Sen, é a mais próxima da abordagem de DHs. 18. SENGUPTA, Arjun. Human rights and extreme poverty. E/CN.4/2005/49. 2005. §10. 19. Tradução do autor para human rights-based approach (to program or policy). 20. Ramcharan, Lizin, Sengupta e outros. 21. WRESINSKI, Grande pauvreté et précarité économique et sociale, Conselho Econômico e Social Francês, Journal Officiel, 1987. 22. Ainda que existam vários adjetivos para cobrir essa situação de pobreza: absoluta, extrema, crítica, indigência profunda, Despouy trata todos como “mais ou menos” o mesmo conceito, uma categoria extrema dentro da pobreza. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 163 Leonardo Castilho 23. DESPOUY, Leandro. Final report on Human Rights and extreme poverty. E/CN.4/Sub.2/1994/ 19. § 176. 35. SENGUPTA, Arjun. Human rights and extreme poverty. E/CN.4/2006/43, 2006, §10. 24. A relatora visitou uma série de países, tais como: Portugal, Yêmen, Bulgária, Albânia, Argélia, Benin, Burundi, Equador, Gabão, antiga república Iugoslava da Macedônia, Líbano, Estados Unidos entre outros. 37. SENGUPTA, op. cit. § 33. 25. LIZIN, Anne-Marie. Human Rights and Extreme Poverty. E/CN.4/1999/48, 1999, § 116. 26. § 131. Toda legislação doméstica deve garantir o direito de cara pessoa a quem se aplique uma renda mínima através das devidas apropriações orçamentárias. Esse direito deve facilitar o acesso à direitos individuais que são base aos serviços sociais essenciais: bem-estar médico e social, alimentação, moradia, treinamento, ensino escolar, educação e cultura. A extrema pobreza não deve, em nenhuma circunstância ser uma justificativa para a violação de direitos humanos. No que concerne à saúde, o Estado deve implementar programas cobrindo as tarifas para atenção primária à saúde, questões de higiene e doenças específicas ligadas à extrema pobreza. 27. LIZIN, Anne-Marie. Human rights and extreme poverty. . E/CN.4/2000/52, 2000 § 15. 28. Entre as recomendações, a autora sugere uma Aliança mundial contra a extrema pobreza, com a participação das Nações Unidas, IFIs, Organização Mundial do Comércio. 36. SENGUPTA, op. cit. § 32. 38. SENGUPTA, op. cit. § 70. 39. Além do coordenador, o grupo ad hoc de experts é composto pelos seguintes membros indicados a caráter regional dentro da Subcomissão: IuliaAntoanella Motoc (Romênia), Emmanuel Decaux (França), El-Hadji Guissé (Senegal) e Yozo Yokota (Japão). 40. Guiding principles no original em inglês. 41. BENGOA, José. Implementation of existing human rights norms and standards in the context of the fight against poverty. A/HRC/ Sub.1/58/16*, 2006, § 15. 42. O documento menciona ainda a importância, para a proteção dos mais vulneráveis, de adotar medidas de discriminação positiva, tanto nacionalmente quanto internacionalmente, nos programas e políticas. 43. Comentário Geral n. 9 do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. 44. Resolução 2/2 do Conselho de Direitos Humanos: Human rights and extreme poverty, adotada sem voto em 27 Novembro de 2006. 45. BUZAN, Barry, What is Human Security, comments by 21 authors, p. 369. 29. LIZIN, Anne-Marie. Human rights and extreme poverty. E/CN.4/2002/55, 2002, §5. 46. OHCHR, Los derechos humanos y la reducción de la pobreza, un marco conceptual, Genebra 2003. 30. LIZIN, Anne-Marie. Human rights and extreme poverty. E/CN.4/2002/55, 2002, §7. 47. Em inglês: minimum threshold for human rights realization. 31. O Relator explica a noção através de sua visão francesa, “exclusão social é a disrupção dos laços sociais que possibilitam um desenvolvimento harmonioso e ordenado da sociedade”. SENGUPTA, op. cit. §14. 48. Comentário Geral n. 4 §8, CG n. 9 §10, CG n. 11 § 10, CG n. 12 § 16, CG n. 13 § 31 e 43, CG 14 § 30. 32. SENGUPTA, op. cit. § 23. 33. SENGUPTA, op. cit. § 27. 34. SENGUPTA, op. cit. § 40. 164 49. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos, volume I, Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris Editor, 1997. pp. 376-377 (sublinhado nosso). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ “Extrema Pobreza: entre os Direitos Humanos e o Desenvolvimento, um limiar mínimo para a dignidade humana” LA JURISPRUDENCIA DE LA CORTE INTERAMERICANA DE DERECHOS HUMANOS ••••••••••••••••••••••••••• LORET TA OR TIZ AHLF LORETT ORTIZ Profesora de Derecho Internacional Público, y Mecanismos de Protección de los Derechos Humanos en la Universidad Iberoamericana Ciudad de México; Participación en la Conferencia Fridmann 2008, en Columbia University, en honor del Dr. Antônio Augusto Cançado Trindade El análisis de las fuentes del derecho internacional de los derechos humanos en el sistema interamericano nos revela la evolución particular y distinta de estas normas, frente al resto de las normas del derecho internacional, esta particularidad es notoria en la jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos en el período de 1991 a 2006, gracias al mayor peso que se le otorgó a las fuentes materiales sobre las formales y a la labor humanista, creadora e innovadora de Antônio A. Cançado Trindade quien apunta: “Espero, sinceramente, que la doctrina jurídica del siglo XXI dedique a este punto considerablemente más atención que la dedicada por la doctrina jurídica a lo largo de todo el siglo pasado, el siglo XX. Hay que prestar mayor atención a la cuestión básica de los fundamentos y la validez del derecho internacional. La actitud más común de los iusinternacionalistas del siglo XX, al abordar el capítulo atinente a las fuentes del derecho internacional, era atenerse a sus aspectos meramente formales, repitiendo ad nauseam la enumeración de las fuentes consagradas en el artículo 38 del Estatuto de la Corte Internacional de Justicia, una disposición enteramente anacrónica, - como tantas otras, mero fruto de su tiempo, originalmente redactada al inicio de los años veinte. “Los desafíos del siglo XXI no admiten más tanta reserva mental, y tampoco la actitud, tan generalizada y cómoda, de eximirse de examinar la cuestión muchísimo más difícil de la fuente material del derecho internacional contemporáneo. Esta cuestión no puede ser abordada adecuadamente desde una perspectiva positivista, y haciendo abstracción de los valores y del propio fin del derecho, en el presente contexto, la protección del ser humanos. El derecho internacional no se reduce, en absoluto, a un instrumental a servicio del poder; su destinatario final es el ser humano, debiendo atender a sus necesidades, entre las cuales se encuentra la 1 realización de la justicia”. Surgieron en el mencionado período, normas de ius cogens, obligaciones erga omnes, se fortaleció el régimen de las medidas provisionales para convertirlas en un instrumento efectivo de protección, se cristalizó el ius standi de los víctimas de violaciones de derechos humanos en los procesos y se generó una gran diversidad de modos de reparar los daños ocasionados en caso de vulneración de los derechos humanos. Dichos avances se encuentran contenidos en sentencias y opiniones consultivas, votos concurrentes y disidentes de Antônio Augusto Cançado Trindade durante el período que fungió como Presidente o Juez de la Corte. Cabe mencionar dentro de las opiniones consultivas la OC/16 y la OC/18, las cuales revolucionaron el derecho internacional común y modificaron radicalmente el estándar mínimo derechos, estatus de los inmigrantes irregulares y su derecho de acceso a la justicia. La opinión consultiva 16 fue solicitada en relación al derecho de información sobre la asistencia consular en el marco de las garantías del debido proceso. Dicha opinión fue presentada por México, en razón de la pena de muerte impuesta judicialmente a mexicanos por gobierno de los Estados Unidos, sin informar de su detención al Cónsul de México. Para mediados de los noventa, México enfrentaba un patrón de persistente violación del artículo 36.1.b de la Convención de Viena sobre Relaciones Consulares, en los procedimientos que conllevan la pena capital de sus nacionales en diversas entidades federativas estadounidenses. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 165 Loretta Ortiz Ahlf México argumentó que el aviso consular oportuno habría sido determinante para evitar la imposición de la pena capital porque entre otras cosas, la asistencia consular evitaba la auto-incriminación de los nacionales. En la consulta se plantearon 10 preguntas concernientes a la interpretación de la Convención de Viena de Relaciones Consulares, el Pacto de Derechos Civiles y Políticos, la Carta de la Organización de Estados Americanos y la Declaración Americana de Derechos y Deberes del Hombre. La Corte, reformuló la consulta, a efecto de interpretar la Convención Americana, en lugar de la Carta y la Declaración. .2 El procedimiento suscitó un interés sin precedente. Además de las observaciones de la Comisión, la Corte recibió escritos y escucho los argumentos orales de ocho naciones, incluyendo a Estados Unidos, 18 organismos no gubernamentales, académicos e individuos que participaron con amici curiae, y un sentenciado a muerte3. En dicha opinión la Corte concluyó que el derecho a la asistencia consular debe proveerse “sin dilación”, significa que el Estado debe cumplir con su deber de informar al detenido sobre los derechos que reconoce dicho precepto al momento de privarlo de libertad y en todo caso antes de que rinda su primera declaración ante autoridad.4. Puntualiza la Corte en relación a la asistencia consular “que gracias a ella se permite que adquiera eficacia, en los casos concretos, el derecho del debido proceso legal consagrado en el artículo 14 del Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos; y que este precepto que establece garantías mínimas susceptibles de expansión a la luz de otros instrumentos internacionales, como la Convención de Viena sobre Relaciones Consulares”..5 La Opinión establece con claridad que el extranjero goza dentro de sus derechos del derecho de asistencia consular, al cual le corresponden los deberes correlativos a cargo del Estado receptor, que debe informar al detenido sobre los derechos que le corresponden al momento de privarlo de la libertad. La no observancia del derecho contemplado en el artículo 36, de la Convención de Viena, afecta las garantías del debido proceso legal del extranjero, y por ello, la imposición de la pena de muerte constituye una violación del derecho a no ser privado “arbitrariamente” de la vida, en los términos de diversos tratados en materia de derechos humanos. En su voto concurrente, el Juez Antônio Augusto Cançado Trindade, entonces Presidente de la Corte Interamericana de Derechos Humanos, llama la atención sobre el sentido de la evolución 166 del derecho frente a nuevas necesidades de protección al precisar que,”las soluciones jurídicas no pueden dejar de considerar el tiempo de los seres humanos. Lo cual obliga a tomar una postura enteramente distinta de la indiferencia y autosuficiencia del positivismo jurídico. La ciencia jurídica actual debe partir de que el contenido y la eficacia de las normas jurídicas, que van acompañadas de la evolución de la conciencia jurídica universal, no siendo independiente de éste. En este aspecto el aporte proporcionado por el Derecho Internacional de los Derechos Humanos es fundamental. Los tratados de derechos humanos son efectivamente instrumentos vivos, que acompañan la evolución de los tiempos y del medio social en que se ejercen los derechos protegidos.” 6 En esta opinión como en otras y en varias sentencias el Dr. Antonio Augusto Cançado Trindade acuña el concepto de conciencia jurídica universal fundamento de validez de las normas internacionales y de manera especial de las obligaciones internacionales de los Estados en materia de los derechos humanos, concepto que humaniza el derecho y por virtud del cual no deja a la simple voluntad del Estado el fundamento de obligatoriedad del derecho internacional de los derechos humanos. También en el caso Bámaca Velásquez versus Guatemala, de 25 de noviembre de 2000, en su voto razonado Antonio alude a la conciencia jurídica universal en los siguientes términos:”la existencia de una conciencia jurídica universal constituye a mi entender, la fuente material por excelencia (más allá de las fuentes formales) del derecho de gentes, responsable por los avances del genero humano no sólo en el plano jurídico sino también en el espiritual”. 77 Cançado Trindade Antônio, Derecho Internacional de los Derechos Humanos. Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 1991-2006), Ed. Porrúa y UIA, México 2007, pág. 323. Afortunadamente para la humanidad ya no podrá institucionalizarse en un futuro nuevamente la esclavitud, la trata de mujeres y niños, y otras violaciones graves a los derechos humanos, se ha gestado ya una conciencia jurídica universal que no permitiría nunca la comisión de dichos crímenes de lesa humanidad. Esta conciencia jurídica universal constituye un límite jurídico y ético fundamental que impide la realización de dichos crímenes independientemente de que los Estados de la Comunidad Internacional hayan aceptado o no el sancionar y castigar dichos crímenes. Antonio ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ La Jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos A. Cançado Trindade es el primer internacionalista que de manera clara y contundente se refiere a dicha fuente material de las normas internacionales en materia de derechos humanos. Por su parte, la Opinión Consultiva OC/18 afirma que”el principio fundamental de igualdad y no discriminación forman parte del derecho internacional general, en cuanto es aplicable a todo Estado, independiente de que sea Parte o no en determinado tratado internacional. En la actual etapa de la evolución del derecho internacional, el principio fundamental de igualdad y no discriminación ha ingresado en el dominio del ius cogens, …revestido de carácter imperativo, acarrea obligaciones erga omnes de protección que vinculan a todos los Estados y generan efectos con respecto a terceros, inclusive con particulares”.8 En el Voto Concurrente de la Opinión Consultiva No. 18 de la Corte Interamericana de Derechos Humanos, sobre la Condición Jurídica y los Derechos de los Migrantes Indocumentados, del 17 de diciembre de 2003, señala, Cançado Trindade, al referirse a los principios generales del derecho y dentro de ellos, los de igualdad y no discriminación, que “todo sistema jurídico tiene principios fundamentales que inspiran, informan y conforman normas. Son los principios generales del derecho (prima principia) que confieren al ordenamiento jurídico (tanto nacional como internacional) su ineluctable dimensión axiológica: son ellos que revelan los valores que inspiran todo el ordenamiento jurídico y que, en última instancia, proveen sus fundamentos.”9 La enorme trascendencia de la Opinión Consultiva OC-18 constituye sin lugar a dudas la determinación del principio fundamental de respeto al derecho de igualdad y no discriminación en normas de ius cogens. Al considerar las normas de igualdad y no discriminación en normas obligatorias para todos los Estados de la Comunidad Internacional, se obliga a los Estados a garantizar de manera efectiva, el ejercicio de los derechos humanos de los migrantes regulares o irregulares, bajo cualquier circunstancia. También se amplió sin lugar a dudas el estándar mínimo de derechos de los extranjeros obligando a los Estados independientemente de cual sea la situación de los extranjeros legales o indocumentados, a garantizar a todos los extranjeros de manera efectiva, sus derechos fundamentales en igualdad de condiciones que a los ciudadanos. A partir de la Opinión Consultiva OC/18 como efecto colateral se limita la enorme discreción de los Estados en esta materia, no habrá que aguardar a que un mayor número de Estados ratifiquen la Convención sobre la Protección de los Derechos de Todos los Trabajadores Migratorios y de sus Familiares adoptada por la Asamblea General el 18 de diciembre de 1990, para que queden obligados todos los Estados de la Comunidad Internacional a respectar los derechos humanos de los inmigrantes irregulares o indocumentados, en igualdad de condiciones que a cualquier otra persona. Gracias a las opiniones OC 16 y OC 18, se gesto nuevo marco jurídico más justo y equitativo para los inmigrantes, ejemplo de ello, es la sentencia de la Corte Internacional de Justicia en el Caso Avena y otros (México v. Estados Unidos), en la cual se puntualiza que la obligación contenida en el artículo 36 de la Convención de Viena de Relaciones Consulares constituye una obligación erga omnes.10 Por lo que se refiere, a las sentencias de la Corte Interamericana de Derechos Humanos, en los casos Benavides v. Perú del 18 de agosto de 2000, Mariza Urrutia v. Guatemala del 27 de Noviembre de 2003, los Hermanos Gómez Paquiyauirí v. Perú, del 8 de julio de 2004, Tibi v. Ecuador del 7 de septiembre de 2004 y la Cantuta v. Perú de 2006, determinó la Corte Interamericana que se violaron normas ius cogens al torturar y cometer ejecuciones extrajudiciales. Muchas de estas violaciones tuvieron origen en lo que Cançado denomina Crimen de Estado, en uno de sus votos razonados por su indignación frente a tales actos señala “ante este estado de cosas, los que laboramos en el dominio de la protección de los derechos humanos seguimos luchando movidos ya no por el conocimiento de la disciplina puesta a servicio de la salvaguardia de los oprimidos, sino más bien por un sentimiento de indeclinable indignación y una inclinación hacia el misticismo. Al fin y al cabo, la crueldad humana no parecen tener límites y los extremos de la maldad parecen estar constantemente superando la propia imaginación. Ese cuadro es agotador, para quien realmente se preocupa con la suerte de sus semejantes”11. En este voto razonado se observa como se duele Antonio Cançado de los sufrimientos ocasionados a las víctimas por las violaciones tan graves de derechos humanos, frente la insensibilidad absoluta de las autoridades del Estado de diversos países de América Latina, con estos votos razonados se materializa en palabras la conciencia jurídica universal, única esperanza para miles de personas que viven en regimenes autoritarios en América hoy en el Siglo XXI. En lo referente a las medidas provisionales, en la actualidad casi 12 mil personas se encuentran ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 167 Loretta Ortiz Ahlf bajo la protección de las medidas provisionales, a partir de la transformación de dicho mecanismo de protección en un sistema de protección efectivo y preventivo, con el nuevo Reglamento de la Corte a instancias de Don Antônio Cançado. Sin embargo, apunta Don Antonio en su voto disidente razonado en el Caso Mery Naranjo y Otros V. Colombia de 2006, su preocupación de que en los últimos 5 años como consecuencia directa del crecimiento de la violencia y deshumanización, se ha acrecentado la violación de las medidas, enfatiza que se ha olvidado fortalecer las medidas provisionales obligatorias y la importancia de la prevención de daños irreparables a la persona humana, razón por la cual se debe precisar su régimen jurídico, en pro de las personas protegidas y de las víctimas de su incumplimiento. Puntualiza: Urge en nuestros días, que se desarrolle un régimen jurídico, y, en el marco de éste último, que se desarrollen las consecuencias jurídicas del incumplimiento o violación de las medidas provisionales de protección dotadas de 12 autonomía propia. En el caso de las medidas provisionales, el nuevo Reglamento abría una ventana de esperanza a las victimas de violaciones de derechos humanos, a pesar de ello, se ha dado una interpretación por demás absurda de la Comisión Interamericana, en el sentido de que previamente a la solicitud de las mismas se requiere agotar las medidas cautelares, dejando en estado de indefensión a los peticionarios y a las víctimas, con la agravante de que la resolución negativa de enviar a la Corte el asunto se redacta en escasas dos líneas sin fundar y motivar dicha negativa. Sobre este punto particular Antônio Cançado enfatiza: “…ya ha ocurrido en numerosos otros casos, en que la Comisión insiste en ordenar sus medidas cautelares para solamente después, con el agravamiento de la situación de los peticionarios, enviar solicitudes de medidas provisionales a la Corte, en situaciones-limite. 168 Un ejemplo clásico de esta situación se encuentra en los conocidos casos de Trinidad y Tobago relativa a la pena de muerte. Tanto en recientes reuniones conjuntas de la Corte y la Comisión Interamericana, como en numerosas audiencias públicas ante esta Corte, y en deliberaciones de la misma, me he permitido expresar mi profunda preocupación con esta práctica y eh señalado que, en determinados casos, más vale enviar directamente a la Corte solicitudes de medidas provisionales de protección sin insistir la Comisión en sus medidas cautelares. …a mi juicio no existe requisito alguno de previo agotamiento de medidas cautelares de la Comisión antes de acudir a la Corte Interamericana para solicitar medidas provisionales de protección. Así lo he señalado en mi Voto Concurrente en una resolución reciente de la Corte sobre Medidas Provisionales de Protección. Asimismo, las medidas cautelares de la Comisión tienen base tan sólo reglamentaria, y no convencional, y no pueden retardar –a veces injustificadamente-la aplicación de Medidas Provisionales de Protección de la Corte, 13 dotadas éstas de base convencional”. Un estudio de los votos concurrentes, disidentes, o razonados de Antonio Cançado Trindade durante el período que fungió como Juez o como Presidente, evidencian las aportaciones realizadas tanto en el ámbito del derecho internacional como en el derecho interno de los Estados. En ellos se observa el trabajo de uno de los más destacados humanistas del Siglo XX y XXI, por cuanto se constata que son congruentes con el objetivo central de buscar una efectiva protección de los derechos humanos, además de la transformación del pensamiento jurídico formal estatista imperante por uno acorde con la esencia misma del derecho que es la protección de los derechos humanos de las personas. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ La Jurisprudencia de la Corte Interamericana de Derechos Humanos NOT AS NOTAS 1. Profesora de Derecho Internacional Público, y Mecanismos de Protección de los Derechos Humanos en la Universidad Iberoamericana Ciudad de México. Participación en la Conferencia Fridmann 2008, en Columbia University, en honor del Dr. Antônio Augusto Cançado Trindade. 2. Cançado Trindade, Op, cit, pág. 65. 3. Opinión Consultiva 16, 1 de octubre de noviembre de 1999, sobre “El derecho de notificación consular en el marco de las garantía del debido proceso legal”, págs. 29,30 y 31. 4. Opinión Consultiva 16, 1 de octubre de noviembre de 1999, sobre “El derecho de notificación consular en el marco de las garantía del debido proceso legal”, Transcripción de la audiencia pública de 12 y 13 de junio de 1998,págs. 58 y s.s. 5. Opinión Consultiva 16, 1 de octubre de noviembre de 1999, “El derecho de notificación consular en el marco de las garantía del debido proceso legal”, pág.97. Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 19912006), Ed. Porrúa y UIA, México 2007, pág. 323. 9. Corte Interamericana de Derechos Humanos, Opinión Consultiva OC-18/03, párr: 27 a 30. 10. CANCADO TRINDADE Antônio Augusto Prólogo, José Antonio Guevara y Narciso Dal Maso Compiladores, La Corte Penal Internacional, Una visión Iberoamericana, México, Ed..Porrúa y Universidad Iberoamericana, 2005, págs XV y XVI. 11. Case concerning Avena and Others Mexicans Nationals (Mexico v. United Status of America), Judgement of February 5 th. , 2003, ICJ, Reports 2003. 12. Cançado Trindade Antônio, Derecho Internacional de los Derechos Humanos. Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 19912006), Ed. Porrúa y UIA, México 2007, pág. 855. 6. Opinión Consultiva 16, 1 de octubre de noviembre de 1999, “El derecho de notificación consular en el marco de las garantía del debido proceso legal”, pág.108 y s.s. 13. Cançado Trindade Antônio, Derecho Internacional de los Derechos Humanos. Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 19912006), Ed. Porrúa y UIA, México 2007, pág. 992 y s.s. 7. Opinión Consultiva OC-16/99 del 1 de Octubre de 1999. El Derecho a la Información sobre la Asistencia Consular en el Marco de las Garantías del Debido Proceso Legal.” Voto Concurrente del Juez Antônio Augusto Cançado Trindade, pág.126 y s.s. 14. Cançado Trindade Antônio, Derecho Internacional de los Derechos Humanos. Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 19912006), Ed. Porrúa y UIA, México 2007, pág. 993 y s.s. 8. Cançado Trindade Antônio, Derecho Internacional de los Derechos Humanos. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 169 María Emma Silva Romano 170 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ La Supranacionalidad de los Derechos Humanos LA SUPRANACIONALIDAD DE LOS DERECHOS HUMANOS ••••••••••••••••••••••••••• MARÍA EMMA SIL VA ROMANO SILV Profesora e investigadora de la Facultad de Derecho de la Universidad Anáhuac (México) INTRODUCCIÓN La efectividad de los Derechos Humanos tiene una vinculación con el régimen político de gobierno que permite su reconocimiento jurídico y plena vigencia. El Estado de Derecho no sólo debe prohibir toda acción (ya sea de los particulares o de la autoridad) que vulnere estos derechos, sino que también debe fomentar todo tipo de instituciones que impidan el avasallamiento de éstos y un Poder Judicial independiente que permita una correcta administración de justicia. Frente a la dicotomía individuo–Estado, el fortalecimiento de la protección del ser humano en el plano supranacional es un punto a favor del individuo que permite el beneficio y desarrollo de su libertad individual, y genera la posibilidad de una exigencia política legítima de los presupuestos básicos del proceso democrático para reconocimiento de estos Derechos como fundamentales. Las formas de participación política autónoma llevadas a cabo por movimientos sociales o por las organizaciones que difunden los Derechos Humanos contribuyen al respeto de los Derechos Humanos a través de la discusión de los principios, sus límites, sus fundamentos y principalmente fomentan la conciencia social acerca del valor moral de los derechos del hombre. 1 . FUND AMENT ACIÓN Y FUNDAMENT AMENTACIÓN CONCEPTO DE LOS DERECHOS HUMANOS La fundamentación de los Derechos Humanos Básicos descansa sobre la existencia de un sistema moral objetivo. Tanto el subjetivismo moral, como el relativismo, son incompatibles con la defensa de estos Derechos y su universalidad e internacionalización. La diferencia entre una teoría moral subjetiva y una teoría basada en una moral objetiva consiste en que, mientras la primera afirma que los principios y valores morales1 dependen del sujeto o grupo social que los formula2; la segunda sostiene la existencia de principios y valores morales independientemente de éstos.3 Las teorías que sostienen que la moral es subjetiva (tanto el subjetivismo como el relativismo) caen en el error de explicar los motivos y los deseos que se tuvieron al realizar cierta acción y no justificarla. 4 El relativismo constituye un obstáculo, dada la diversidad de ideologías, de condiciones económicas y sociales para el reconocimiento de los Derechos Humanos básicos. Por el contrario, quienes sostenemos que existe una moral objetiva, más allá de los sujetos, coincidimos en que al pretender formular juicios de valor y definir los valores morales, como el de la vida, o al argumentar moralmente, esperamos que nuestras afirmaciones reúnan como mínimo la característica de universalidad. Valorar moralmente un curso de acción implica la pretensión de ajustar su realización a principios de orden superior, constituyendo una razón justificativa.5 La justificación de esta universalidad sólo es posible desde una teoría moral objetiva. Aún quienes sostienen la visión opuesta están de acuerdo en el punto de que la objetividad le otorga racionalidad a la discusión para valorar la universalidad de ellos en cada caso.6 Esta moral objetiva está constituida por las reglas instrumentales de razonamiento que garantizan la imparcialidad de los principios obtenidos por resultado. Sostener una teoría moral objetiva instrumental es necesario para fundamentar la universalidad de los Derechos Humanos Básicos. A partir de esta teoría moral objetiva se desprende un conjunto finito de Principios Morales; entre los cuales podemos afirmar con cierta certeza: a) la vida; b) la autonomía; c) la dignidad e igualdad de todos; e) la individualidad de ser humano. De ellos se deducen lógicamente los Derechos Humanos Básicos (la vida, el reconocimiento de la personalidad, la identidad, la integridad, la libertad de opinión, de tránsito, el derecho a la salud, etc.).7 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 171 María Emma Silva Romano La fundamentación de los Derechos Humanos Básicos se logra por medio de la racionalidad práctica en la definición y aplicación los valores morales. En este plano de justificación las teorías éticas constructivistas y las discursivas permiten una visión pragmática para la resolución de problemas al desarrollar principios morales básicos que justifican instituciones jurídicas y acciones sociales. Las razones últimas son exclusivamente morales. Una razón para actuar debe ser objetiva y tener necesariamente relevancia práctica. Además, debe ser capaz de determinar y justificar acciones. Una teoría moral debe reunir ciertos requisitos para su validez: en primer lugar, tener formalidad procesal por medio de reglas que establezcan los modos y formas de aplicación o realización de sus normas universales o razonamiento práctico8. Las teorías de moral objetiva constructivistas tienen como característica principal la justificación del resultado por la imparcialidad y el apego a las reglas del procedimiento 9. En segundo término, deben fundamentarse en juicios de valor universales. Y, por último, tener en cuenta los intereses de los principales afectados. El razonamiento práctico moral se perfecciona en formación de consensos y la argumentación racional sobre cuáles son esos Derechos morales. Los pactos acerca de los Derechos Humanos constituyen un acuerdo de responsabilidades, en el cual la Humanidad debe asumir una responsabilidad ética común para la formación de un consenso acerca de los Derechos Humanos Básicos10. Esta responsabilidad en común es lo que hace el reconocimiento institucional que les imprime fuerza normativa y exigibilidad11. En la doctrina el uso de los términos Derechos Humanos, Derechos de la Persona y Derechos Fundamentales tienen significados muy diversos.12 A pesar de las diversas acepciones, la referencia a la condición humana o dignidad humana y el concepto de universalidad es común a todas ellas.13 A los fines de este trabajo entenderemos que Los Derechos Humanos son valores morales universales inherentes a todos los seres humanos. Los Derechos humanos tienen las siguientes características: ellos son: inalienables, inviolables, absolutos, inatos e inherentes a la naturaleza del hombre. Inmutables, eternos, universales, no se pueden enajenar y son imprescriptibles. Ellos son límites, pautas para demandar, hacer o disfrutar, e imponen limitaciones morales a los demás y al Estado para abstenerse de interferir. Los Derechos humanos son Derechos primarios que tienen como característica ser derechos anteriores al Estado 172 mismo, son previos y fundantes y su principal función es limitar el poder de la autoridad estatal.14 Los Derechos Humanos son valores morales15 que corresponden universalmente a todos los seres humanos, es decir, que conceden tomando como única propiedad la de pertenecer a la especie humana. Los Derechos humanos son derechos primarios de la persona humana. Las normas morales16 derivadas de los principios morales son razones que fundamentan su exigibilidad, limitando incluso al propio Estado y constituyen una de las principales garantías del ejercicio democrático. El proceso democrático garantiza la discusión racional (al menos en una mínima medida) en el fundamento de las normas jurídicas. Democracia y Derechos Humanos básicos deben ser los cimientos de toda organización política. El debate prelegislativo es discusión moral, es un proceso deliberativo instrumental, el ámbito de la argumentación moral. La democracia en su dimensión participativa es deliberativa17 e instrumental en la medida que permite la discusión basada en la razón práctica, la imparcialidad y la deliberación pública como proceso para obtener resultados. La democracia deliberativa consiste fundamentalmente en discusión racional y pública. La práctica social de la democracia constituye una defensa argumentativa-moral de los Derechos Humanos básicos. La democracia, así entendida, es una democracia sustancial donde los principios que subyacen en ella constituyen un conjunto mínimo de “principíos no discutibles” y son sus fundamentos. Estos principios no discutibles forman un conjunto de valores morales prohibidos o coto vedado que no pueden ser objeto de discusión sustentado en la universalidad de principios morales y la aceptación generalizada de éstos por parte de la comunidad internacional y su puesta en práctica. Este coto vedado tiene el carácter de inviolable, constituye un minimun invulnerable que todo orden jurídico debe asegurarlos como absolutos. Uno de los Principios básicos dentro de este “coto vedado” es el Principio de Autonomía. Éste consiste en la libertad de proponerse fines y diseñar un plan de vida, es decir, un conjunto de intereses mediatos o inmediatos variables que puede tener una persona;18 es definitorio porque la autonomía en sí y la capacidad de proponerse fines es uno de los rasgos característicos de humanidad. Entonces, de la naturaleza de ser moral de los seres humanos se derivan dos características comunes a todos ellos: libre y racional. 19 La autonomía es la máxima expresión de los Derechos Humanos. Todo ser humano tiene un valor ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ La Supranacionalidad de los Derechos Humanos intrínseco y constituye un fin en sí mismo. El hombre se determina a sí mismo en los fines que persigue. De esta realidad ontológica objetiva, los Derechos Humanos obtienen su carácter supranacional que los hace independientes del tiempo y espacio; siendo este carácter la expresión de su universalidad y al ser reconocido en normas de derecho internacional éste debe estar dirigido a garantizar y proteger los derechos básicos de cada ser humano. 2 . LA PROTECCIÓN INTERNACIONAL DE LOS DERECHOS HUMANOS Tanto la comunidad internacional y cada Estado nacional deben proteger los Derechos Humanos como bienes jurídicos de mayor entidad, realizando un esfuerzo progresivo y convergente para establecer las condiciones institucionales políticas y sociales que garanticen en forma integral la universalidad de este “coto vedado” El reconocimiento efectivo de los Derechos Humanos en normas jurídicas positivas tanto del Derecho Internacional como de los Derechos nacionales materializa las normas morales en ellos contenidos y da cuenta de su carácter supranacional.20 La supranacionalidad de los Derechos Humanos implica comprender a la persona, y un progresivo reconocimiento normativo por parte de los Estados con su aceptación universal por parte de la comunidad internacional. Es obligación de este último garantizarlos y asegurar la eficacia de los Derechos Humanos por medio de instituciones y procedimientos jurisdiccionales que permitan superar las amenazas y privaciones. Las violaciones de los Derechos humanos más aberrantes fueron cometidas por el poder público, a través de las potestades, competencias y atribuciones que éste pone a disposición de sus funcionarios. Durante siglos los Derechos Humanos han constituido la bandera de la participación social y de movimientos de protesta, articulando demandas políticas, económicas y sociales (los movimientos de mujeres, los movimientos indígenas, minorías raciales, los ambientalistas), logrando una expansión en su reconocimiento jurídico y tomando conciencia acerca del valor moral de estos derechos. La tendencia de los tratados internacionales, declaraciones, convenciones y la institucionalización de los organismos internacionales se dirigen hacia la tutela supranacional de los Derechos Humanos y las garantías personales y procesales de manera generalizada. Las organizaciones internacionales deben asumir los compromisos correspondientes a la aplicación efectiva de las normas jurídicas por las cuales se reconocen los Derechos Humanos Básicos. Estas organizaciones son los actores principales y deben garantizar el respeto y la aplicación de estas normas. Esto debe ir de la mano con el establecimiento de mecanismos procesales para su protección.21 Sin embargo, todavía queda mucho por hacer puesto que el reconocimiento jurídico en el ámbito internacional, si bien ha tenido un avance importante para el hombre, se limita a la soberanía de cada Estado, quedando así el Derecho internacional limitado por las ratificaciones y reservas que este realice para la incorporación de estas normas al Derecho interno. La defensa social de estos Derechos Humanos ha tenido antecedentes tan remotos como las cartas inglesas, los fueros españoles y las declaraciones americanas. A pesar de ello no fue hasta 1789 cuando con la Declaración de los Derechos del Hombre y del Ciudadano se hace completamente explícito el acuerdo de voluntades de que la sola cualidad de ser hombre constituye razón suficiente para gozar de tales derechos. A partir de este momento histórico muchos países reconocieron a los derechos humanos como parte de sus Constituciones nacionales. Sin embargo, recién fue tratado en forma global hasta después de la creación de las Naciones Unidas (1946) y como consecuencia de las atrocidades cometidas durante la segunda guerra mundial. En Bogotá, 1948, la Conferencia Internacional Americana aprueba la Declaración Universal de Derechos Humanos y surgen entonces los llamados (en una categorización criticada por muchos) Derechos Humanos de primera generación. Son considerados Derechos humanos de Primera Generación: el derecho a la vida, a la integridad física y moral, a la libertad personal, seguridad personal, igualdad ante la ley, libertad de pensamiento, de conciencia y de religión, libertad de expresión y de opinión, inviolabilidad del domicilio, libertad de movimiento o de libre tránsito, a la justicia, a una nacionalidad, a contraer matrimonio y fundar una familia, a participar en la dirección de asuntos políticos, a elegir y ser elegido a cargos públicos, a formar un partido o afiliarse a alguno, a participar en elecciones democráticas. La dimensión práctica de la validez universal de los Derechos Humanos es dada por la misma comunidad internacional de la Declaración ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 173 María Emma Silva Romano Universal de 1948 y los pactos internacionales posteriores. Al respecto el Art. I de la Declaración Universal de los Derechos Humanos, dice que “todos los seres humanos nacen libres e iguales en dignidad y derechos y dotados como están de razón y conciencia, deben comportarse fraternalmente los unos con los otros.” Y el Art. II de la misma sostiene: “Toda persona tiene los derechos y las libertades proclamadas en esta declaración, sin distinción alguna de raza, color, sexo, idioma, religión, opinión política o de cualquier otra índole, origen nacional o social, posición económica, nacimiento o cualquier otra condición. Además, no se hará distinción alguna fundada en la condición política, jurídica o internacional del país o territorio de cuya jurisdicción dependa una persona, tanto si se trata de un país independiente, como de un territorio bajo administración fiduciaria, no autónomo o sometido a cualquier otra limitación de soberanía.” El Desarrollo de los Derechos Humanos extendió estos a los Derechos Sociales, Económicos y Culturales: (Derechos de 2ª Generación)22; y a los Derechos Colectivos y Del Ambiente: (Derechos de 3ª Generación)23. Otros pactos internacionales posteriores recogieron derechos civiles y políticos, derechos económicos sociales y culturales. Los más importantes fueron: Convención sobre Prevención y la Sanción del Delito de Genocidio (1948); Pacto Internacional de Derecho Económicos Sociales y Culturales (1966); Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos (1966); Convención Internacional sobre la Eliminación de Todas las Formas de Discriminación Racial (1967); Convención Americana sobre Derechos Humanos (conocida como Pacto de San José de Costa Rica, 1969); Convención sobre Eliminación de Todas las Formas de Discriminación contra la Mujer (1979), Convención contra la Tortura y otros Tratos y Penas Crueles, Inhumanos y Degradantes (1987); y Convención sobre los Derechos del Niño (1989). El desarrollo y la búsqueda de una jurisdicción internacional de los Derechos Humanos contribuyen a la protección y reconocen la supranacionalidad de estos derechos básicos. Un ejemplo de ello es la Corte Interamericana de Derechos Humanos, organismo establecido en José de Costa Rica, La Corte Interamericana es una institución judicial autónoma que tiene por objeto 174 la aplicación e interpretación de la Convención Americana de Derechos Humanos. Su jurisdicción es voluntaria.24 Otro ejemplo es la Corte Penal Internacional, cuya autoridad, como la de todos los tribunales internacionales, dependerá en gran parte de la percepción de su legitimidad moral, imparcialidad y transparencia. La Corte Penal Internacional es vista por muchos países como una instancia adicional, como una permanente apelación; mientras otros esperan encontrar en ella el mecanismo supranacional que les permita juzgar a quienes escapan de sus competencias ordinarias. 25 La protección de los Derechos Humanos es materia de la comunidad internacional, y reclamar su efectividad está en las manos de todos, respaldados por el Derecho Internacional tanto convencional y consuetudinario.26 Sin embargo, para el desarrollo de una norma de competencia supranacional y de jurisdicción efectiva universal todavía hay tarea pendiente. 27 El marco normativo del Derecho Internacional necesita adecuarse a los cambios políticos y sociales, producidos en la comunidad internacional, con nuevos actores transnacionales, para garantizar la protección de los Derechos Humanos. La comunidad internacional debe estar en constante búsqueda de acuerdos, mecanismos y órganos jurisdiccionales nacionales que impongan límites a los poderes públicos y desarrollen un organismo efectivo similar en el plano internacional donde los efectos de las resoluciones sean cumplidos de manera obligatoria para todos los Estados miembros. Son muchos los países que han reflejado los avances en materia de Derechos Humanos ya sea incorporándolos a sus Constituciones Nacionales o incorporando una norma o cláusula abierta que permita extender los Derechos y Garantías por él reconocidos cada vez que un tratado internacional es incorporado a su Derecho interno. La eficacia de los Derechos Humanos depende de la democracia deliberativa como una práctica social donde los individuos participen activamente en su defensa por medio de los canales institucionales legítimos. A MANERA DE CONCL USIÓN CONCLUSIÓN I. Los valores morales no son subjetivos ni relativos, sino objetivos y comunes a todos los seres humanos por el solo hecho de serlo. Sostener una teoría moral objetiva instrumental es necesario para fundamentar la universalidad de los Derechos Humanos Básicos. Esta moral objetiva está constituida ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ La Supranacionalidad de los Derechos Humanos por las reglas instrumentales de razonamiento que garantizan la imparcialidad de los principios obtenidos como resultados. II. A partir de esta teoría moral objetiva se desprende un conjunto finito de Principios Morales, entre los cuales podemos afirmar con cierta certeza: a) la vida; b) la autonomía; c) la dignidad e igualdad de todos; e) la individualidad de ser humano. III. El conjunto de Derechos Humanos Básicos se deduce lógicamente de estos Principios Morales. IV. Los Derechos Humanos Básicos constituyen un “coto vedado” o conjunto mínimo de valores morales, que es intocable en todos los casos sin excepción alguna y que no admite tolerancia. El “coto vedado” es en sí un doble límite: al accionar del Estado por los posibles abusos de autoridad e impedir el daño a terceros. V. Estos Derechos Humanos Básicos están reconocidos de manera positiva en los llamados Derechos Fundamentales. VI. El criterio de aplicación de los principios morales y Derechos Humanos básicos es la tolerancia que facilita la convivencia entre particulares de aquellas situaciones de hecho en las que el “coto vedado” no se vea afectado. El “coto vedado” queda fuera de la misma tolerancia. VII. En todo régimen jurídico democrático el límite a la discusión está dado por este “coto vedado” que no se deriva de la discusión intersubjetiva. VIII. Frente a la resolución de casos de intereses en conflicto, tanto en la aplicación de normas jurídicas como en la discusión prelegislativa, el debate debe llevarse a cabo teniendo en consideración la argumentación moral racional universal y el llamado “coto vedado”. IX. La institucionalización reconoce a estos valores morales y los convierte en derechos en el sentido jurídico del término y por lo tanto exigibles. Es uno de los fines del Derecho considerar a este “coto vedado” como bienes que debe proteger en todos los casos. X. La instrumentación de los Derechos Humanos en el plano internacional ha cobrado relevancia en las últimas décadas; sin embargo, no ha sido suficiente frente a casos críticos. XI. El análisis del desarrollo histórico demuestra que durante las últimas décadas la humanidad se inclina hacia la defensa o mejor protección de los Derechos Humanos individuales. Este esfuerzo social generalizado por su reconocimiento y vigencia es inherente al carácter supranacional dado por los principios morales universales contenidos en los Derechos Humanos. XII. Una regulación de la jurisdicción internacional brindaría una mejor protección de estos derechos tanto ante el caso de ulterior revisión de sentencias como en las recomendaciones a gobiernos nacionales. XIII. Los procesos de Constitucionalización modernos van dirigidos a ampliar los Derechos y las Garantías, protegiendo incluso los llamados Derechos de Tercera Generación, señalándose, una vez más, las críticas a esta categorización. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 175 María Emma Silva Romano BIBLIOGRAFÍA APEL, Karl Otto, Estudios Éticos, Fontamara, México, 1999. __________, “Sobre los Derechos Morales”, Revista Doxa Nro. 7, Alicante, 1990, págs. 311-325. 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En consecuencia, afirman que tales juicios, y los términos éticos como bueno o correcto tienen significado cognoscitivo y se les atribuye verdad o falsedad. Dentro de esta corriente, encontramos a los naturalistas éticos que se caracterizan por sostener que los juicios de valor designan propiedades observables que son empíricamente verificables: por ejemplo el subjetivismo moral donde lo bueno depende de cada uno y se refiere a actitudes o sentimientos de la gente, se refieren a una aptitud de aprobación de quien emite el juicio; y el relativismo moral que identifica lo bueno con los sentimientos de la mayoría del grupo social. Cfr. Carlos S. Nino, Introducción al Análisis del Derecho, Astrea, Buenos Aires, pp. 355 y ss. 3. Las teorías morales descriptivistas sostienen que lo bueno es una meta definida. Por su parte el emotivismo afirma que cuando emitimos juicios de valor lo hacemos para expresar ciertas actitudes y provocarlas en los demás, utilizando las definiciones persuasivas. Los términos éticos se usan para dar recomendaciones o consejos u orientación para la realización de acciones y elecciones, tienen un significado prescriptivo; los juicios de valor en esta teoría son equivalentes a imperativos. Cfr. Ibidem 4. En ocasiones, al dar cuenta a los demás de la realización de un curso de acción, identificamos los motivos, los antecedentes causales de ciertas acciones, una combinación de creencias y deseos. Tener un motivo implica creer que un cierto fin se obtiene a través de un curso de acción determinado y además ese es el fin querido. Estos argumentos son razones explicativas o subjetivas. El relativismo y el subjetivismo moral basan su análisis de los problemas en las razones explicativas, en los motivos y circunstancias personales para inclinarse a determinada decisión y no en razones justificativas objetivas. 5. Cfr. Carlos Santiago Nino, La validez del derecho y otros ensayos, Astrea, Buenos Aires, 1985, pp.125-143. 6. La opinión contraria es sostenida por varios autores. En el sentido opuesto a mi tesis MacIntyre sostiene que “La ficción de los derechos suministra un simulacro de racionalidad al proceso político moderno.” Cfr., A. MacIntyre, Tras la virtud, Crítica, Barcelona, 1987,p. 98. 7. Carlos S. Nino sostiene respecto a los objetivos de su teoría del discurso moral que: “Cuando intenté derivar el principio de autonomía de la persona de los presupuestos del discurso moral en Ética y derechos humanos, (...) estamos comprometidos con un principio fundamental de filosofía política y moral del que derivan los derechos humanos básicos. Carlos S. Nino, “Replica a María Inés Pazos”, Revista Doxa Nro. 12, Alicante 1992, pp. 371-373. 8. Habermas sostiene una serie de reglas procedimentales para la discusión moral. Las Reglas Fundamentales que se refieren a la no contradicción, la sinceridad y la igualdad de los participantes; Las Reglas de la Razón que consisten en dar razones objetivas; Las Reglas de la Carga de la argumentación que sirven para identificar a quien argumentar; Las Reglas de Fundamentación o reglas de universalización e identificación con los intereses en juego; y Las Reglas de Transición o coherencia narrativa. Cfr. Jürgen HABERMAS, Teoría de la Acción comunicativa, Taurus, Buenos Aires, 1987. 9. Entre otros destacan John Rawls y Carlos S. Nino. Rawls propone una teoría metaética que denomina “posición originaria” de la que deduce dos principios que son organizadores y coordinadores de las acciones sociales y de toda la vida social. Estos principios dicen: 1) “Cada persona debe tener un derecho igual al sistema total más extenso de libertades básicas que sea compatible con un sistema similar de libertades para todos.” (Este principio se refiere a la igualdad de oportunidades). 2) “Las diferencias sociales y económicas deben ser dispuestas de modo tal que ellas satisfagan estas dos condiciones a.ellas deben ser el mejor beneficio para los que se encuentran en la posición social menos aventajados; b.- ellos deben adjudicarse a funciones y posiciones abiertas todas bajo condiciones de una equitativa igualdad de oportunidades.” (Este principio hace referencia a la distribución de recursos).Cfr. Rawls, John, Teoría de la Justicia, Fondo de Cultura Económica, México, 1979. Carlos S. Nino, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 177 María Emma Silva Romano propone la teoría del discurso moral ideal de los que derivan tres principios liberales básicos que le servirán para justificar la existencia y aplicación de los Derechos Humanos. Dichos principios son: 1. de dignidad de la persona humana, 2. De inviolabilidad; y 3. De autonomía. Cfr. Carlos Santiago Nino, Etica y Derechos Humanos, Paidos, Buenos Aires, 1985, pp. 133-184. 10. Al respecto Habermas y Apel han trabajado en la elaboración y fundamentación de una ética comunicativa o discursivo consensual. Véase APEL, Karl Otto, Estudios Éticos, Fontamara, México, 1999. 11. Juan Cruz Parcero realiza una distinción interesante entre derechos morales e institucionales, sin embargo estos últimos, tal como están definidos, presentan cierta ambigüedad. Al respecto sostiene que “Los derechos morales son aquellos cuya existencia no se deriva de ningún acto de promulgación y no son susceptibles de ser alterados por la voluntad humana, son aquellos que son reconocidos más que inventados o creados. (...) Los derechos institucionales son aquellos derechos conferidos por normas jurídicas, por normas de una moral positiva, por reglas sociales, o por cualquier regla de alguna organización o corporación.” Juan Cruz Parcero, “Derechos Morales: Concepto y Relevancia”, Revista ISONOMÍA No. 15 / Octubre 2001. Pp. 55-78 12. No quiero detenerme en este texto en cuestiones terminológicas; pero suele llamarse a los Derechos Humanos de diversas maneras, así: Derechos del hombre: se usa el termino “hombre” para referirse a aquellos derechos que son inherentes al ser humano; Derechos individuales: referido al término individuo; Derechos de la persona humana: está condición lo convierte en titular de derechos; Derechos fundamentales: Derechos anteriores a la norma jurídica positiva pero que está reconocidos por esta; Derechos naturales: se basa en la idea del iusnaturalismo teológico que sostiene la tesis de la subordinación a un Derecho Natural; Derechos Innatos: en el sentido de que pertenecen a la naturaleza misma del hombre y son anteriores. 13. Álvarez Ledesma, da una explicación lingüística del significado de la expresión “Derechos Humanos”, haciendo un análisis jurídico y axiológico. La percepción política se concentra en cuestionar el absolutismo defendiendo los bienes como la vida, la libertad y la propiedad, con lo que hacer el bien toma el significado de 178 la adopción de cierta clase de comportamiento moral, que implica un desprendimiento para beneficiar a los demás. Mario I. Alvarez Ledesma, Acerca del concepto de Derechos Humanos, McGraw Hill Interamericana, México, 1998, pp. 31-93. 14. En el mismo sentido Cruz Parcero afirma que ...”El concepto de derechos humanos a su vez tiene claramente funciones políticas importantes como la de servir de límite al poder, la de servir de promoción de ciertas condiciones de vida para sus titulares, y tener además una función legitimadora del poder y la autoridad que los reconoce y protege.” Juan Cruz Parcero, Op. Cit., pp. 55-58. 15. Carlos Nino afirma esta identidad (...) la relación entre normas jurídicas -entendidas como juicios normativos o como razones justificatorias- y las normas morales es una relación de identidad de caso, es decir, hay casos de normas morales que son normas jurídicas…” Carlos S. Nino, “Sobre los Derechos Morales”, Revista Doxa Nro. 7, Alicante, 1990, pp. 311-325. 16. La expresión Derechos Humanos en su sentido ético debe entenderse como valores morales. La expresión derechos morales es equivoca ya que el término “derecho” alude a su formalización en el sistema jurídico. Cruz Parcero afirma que “varios autores han propuesto explicar el concepto de derechos humanos en términos de derechos morales, algunos usándolos como sinónimos, otros entendiendo los derechos humanos como una subespecie de los derechos morales.(...) los derechos morales son un tipo de razones morales de especial peso que facultan a un sujeto a exigir, demandar, hacer o disfrutar algo.” Juan Cruz Parcero, Op. Cit pp. 55-78. 17 Al respecto el autor define justificación de la democracia deliberativa así: “¿Qué es una concepción deliberativa? Es una concepción por supuesto conectada con el constructivismo epistémico en materia moral y es la concepción según constituye a través del método democrático. Esta concepción deliberativa de la democracia en la forma que yo la defiendo deja fuera del proceso democrático otras dos cosas: primero las condiciones del mismo proceso democrático, que es lo que llamo «derechos a priori» (...) y también quedan afuera (...) las preferencias de tipo personal, de planes de vida, etc.” Carlos S. Nino, “Derecho, Moral, Política”, Revista Doxa Nro. 14, Alicante 1993, pp. 35-46. 18. Carlos S. Nino define el principio de autonomía diciendo: “siendo valiosa la libre elección individual de planes de vida y la adopción de ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ La Supranacionalidad de los Derechos Humanos ideales de excelencia humana, el Estado (y los demás individuos) no debe interferir con esa elección o adopción, limitándose a diseñar instituciones que faciliten la persecución individual de esos planes de vida y la satisfacción de los ideales de virtud que cada uno sustente e impidiendo la interferencia mutua en el curso de tal persecución” Carlos S. Nino, Ética y Derechos Humanos, Op. Cit., p. 135. 19. Un individuo puede ser considerado una persona autónoma cuando posee o ha desarrollado cierta capacidad racional de decisión que le permite optar por un curso de acción que beneficia sus propios intereses. Esta racionalidad atribuida al hombre es un presupuesto. El problema al pretender asignar derecho al embrión o al enfermo inconsciente o a quien sufre algún padecimiento. La racionalidad no determina la humanidad. Tampoco hay que confundir la racionalidad con la inteligencia. La racionalidad es un presupuesto y no es un concepto susceptible de ser medido de manera objetiva. La racionalidad es distinta de la inteligencia, está última es susceptible de grados, su puede medir y observar con resultados empíricos concretos. Piaget, ha dicho al respecto que: “Las funciones esenciales de la inteligencia son: comprender e inventar. En todos sus niveles la inteligencia es la asimilación de lo dado a estructuras de transformaciones, de estructuras de acciones elementales a estructuras operatorias superiores, y estas estructuras consisten en organizar lo real, en acto o en pensamiento, no simplemente en copiarlo.” Jean Piaget, Psicología y Pedagogía, Planeta, 1986. Pág. 86-98 20. En este sentido Eugenio Buligyn sostiene que (...) «positivización» por la legislación o la constitución, los derechos humanos se convierten en algo tangible, en una especie de realidad, aun cuando esa «realidad» sea jurídica. Pero cuando un orden jurídico positivo, sea éste nacional o internacional, incorpora los derechos humanos, cabe hablar de derechos humanos jurídicos y no ya meramente morales. Eugenio Buligyn, “Sobre El Status Ontológico De Los Derechos Humanos”, Revista Doxa 4, Alicante, 1987 pags.79-84. 21. Son múltiples los pactos internacionales que han consagrado mecanismos de protección: Declaración americana de los derechos y deberes del hombre, (art. XVIII); Declaración universal de los derechos del hombre, (art. 8º); Pacto internacional de las Naciones Unidas sobre derechos civiles y políticos, (numeral 3º del art. 2º); Pacto de San José de Costa Rica (art. 25) Protocolo Adicional de San Salvador, (art. 1º). 22. Surgen a comienzos del siglo XX como resultado del llamado constitucionalismo social surgido en México y consagrado en su Constitución de 1917. Ellos son a) Derechos económicos: a la propiedad (individual y colectiva), a la seguridad económica; b) Derechos sociales: a la alimentación, al trabajo (a un salario justo y equitativo, al descanso, a sindicalizarse, a la huelga), a la seguridad social, a la salud, a la vivienda, a la educación; c) Derechos culturales: a participar en la vida cultural del país, a gozar de los beneficios de la ciencia, a la producción e investigación científica, literaria y artística. 23. De los Derechos de tercera generación se discute, dado su carácter de derechos colectivos, si integran o no a los Derechos Humanos. También llamados Derechos de los pueblos ya que surgen de las desigualdades políticas sociales y económicas entre las Naciones. Ellos son Derecho: a la paz, a la autodeterminación, al desarrollo económico, a un medio ambiente sano, a la solidaridad. 24. Durante las dictaduras militares del cono sur, en la década de los setenta, las violaciones a los derechos humanos fueron brutales y llevadas a cabo por el aparato de Estado. A propósito del enjuiciamiento a las Juntas militares de gobierno Carlos Nino sostuvo que:...”sería mucho más útil para el Derecho Internacional reconocer el derecho de la comunidad internacional de castigar las violaciones de derechos humanos en un foro internacional. (...) Las violaciones a los derechos humanos (...) junto con crímenes como el terrorismo, el narcotráfico y la desestabilización de gobiernos democráticos, (pueden) exceder la capacidad de las cortes nacionales para manejarlos internamente (...) se podrían implementar soluciones intermedias, tales como la internacionalización de la jurisdicción y el rechazo de los tribunales extranjeros a reconocer amnistías, perdones o prescripciones para esta clase de crímenes.” Cfr. Carlos S. Nino, “The Duty to Punish Past Abuses of Human Rights Put into Context: The Case of Argentina”, en The Yale Law Journal, Vol.100, (1991), pp. 2619 - 2640. 25. Cfr. Juan de Dios Gutiérrez Baylón, “La Doctrina de la Jurisdicción o competencia universal y la del unilateralismo en materia de Derecho Humanitario Internacional”, Revista Mexicana de Derecho Público, ITAM, Fontamara, México, Abril 2004, p. 111. 26. En este mismo sentido Gutiérrez Baylón sostiene que: ...”la regla de derecho internacional ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 179 María Emma Silva Romano que permitiese a los Estados calificar preliminarmente los crímenes como internacionales, declararse competente y de manera ulterior reclamar a cualquier otra jurisdicción la presentación de un sujeto presuntivamente responsable…” Ibid, P. 107. 27. Al respecto Gutiérrez Baylón afirma que incluso: “la propia Corte –internacional de Justicia, (...) detiene su jurisdicción incluso frente a 180 obligaciones erga omnes, si las condiciones procesales preparatorias de su competencia no se han satisfecho por la vía convencional (prueba de Timor).” (....) “También existe el riesgo de denigrar las instancias jurisdiccionales domesticas del Estado en donde se produjo el daño y que decidió por razones políticas o jurídicas de su conveniencia no actuar en determinado sentido.” Ibid, pp. 111 y 107. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ La Supranacionalidad de los Derechos Humanos GLOBALIZAÇÃO E O CONCEITO DE HUMANIDADE: RACIONALIDADE E IRRACIONALIDADE. DESAFIANDO O TRATAMENTO JURÍDICO DAS RELAÇÕES ECONÔMICAS INTERNACIONAIS ••••••••••••••••••••••••••• RICARDO ANTÔNIO LUCAS CAMARGO Doutor em Direito Econômico pela UFMG; Membro da Fundação Brasileira de Direito Econômico e do Instituto Brasileiro de Advocacia Pública - IBAP/RS 1 . INTRODUÇÃO Era uma vez uma princesa dotada de poderes mágicos chamada Medéia, que vivia num país bárbaro conhecido como Cólquida, onde se realizavam sacrifícios de estrangeiros para possibilitar boas colheitas. Seu pai, o rei Eetes, tinha como preciosa relíquia a pele dourada do carneiro voador Crisómalos, conhecido também como Velocino de Ouro, e pô-lo sob a vigilância de um dragão insone. Instintiva e bárbara, Medéia veio a encontrar a racionalidade grega num homem que, comandando o navio Argos, vencera obstáculos que desafiavam a razão - pedras que se atiravam por iniciativa própria contra embarcações, uma estátua que guardava tesouros imensos e se movia para destruir os intrusos, monstros alados com rosto humano, sereias -: Jasão era seu nome. O representante da racionalidade grega conquistara o afeto da irracionalidade bárbara e, para vencer o dragão insone e levar consigo o Velocino, valeu-se de um narcótico que lhe fizera presente Medéia. Esta, por lhe haver ajudado, viu que não teria espaço entre os seus e, totalmente atraída pelo mundo da racionalidade, da ordem, em contraposição com o mundo da irracionalidade, da desordem, resolveu segui-lo. Seu irmão mais novo, Absirto, fielmente acompanhou o casal. Eetes, entretanto, perseguiuos. Medéia somente conseguiria garantir a fuga se realizasse a plena ruptura com o seu passado bárbaro. E o fez, matando Absirto e retalhando-o, fazendo com que Eetes retardasse a marcha, recolhendo os pedaços da vítima inocente. Na Corte de Iolcos, onde reinava Pélias, que incumbira Jasão de conquistar o Velocino de Ouro, que funcionaria como moeda de troca para as pretensões do herói ao trono, o comandante do Argos foi recebido por uma surpresa: Pélias resolvera não cumprir a palavra. Medéia, então, convenceu as filhas do soberano a matarem o próprio pai, ensinando-lhes uma suposta fórmula que o rejuvenesceria. A magia bárbara ao se encontrar com a racionalidade grega teve como resultado duas crianças. Retirou-se, então, em função do assassinato de Pélias, Jasão com Medéia e as crianças para a cidade de Corinto. E ali, vendo o acolhimento que lhe dava o rei Creonte, que tinha uma bela filha chamada Creúsa ou Glauce, achou que seria melhor desvencilhar-se do contacto com a bárbara, que não lhe era mais útil, para voltar para os gregos, seus iguais. O repúdio de Medéia por Jasão, o retorno deste à civilização, teria, ainda, como conseqüência, a nulificação de Medéia e seus filhos enquanto seres no mundo, porque, temendo por sua filha, Creonte decidiu bani-los. Medéia, então, no espaço de um dia, conseguiu preparar a subversão do belo mundo de racionalidade auto-referente que Jasão pretendia reconstruir: sabedora de que, uma vez tendo contato com a civilização grega não teria como retornar à condição de plena barbárie, aproveitou a visita do rei Egeu, de Atenas, para obter a promessa de asilo. Preparou um vestido de noiva para Glauce que seria enviado pelos seus filhos, vestido que, uma vez envergado, provocou-lhe a morte por combustão, matando também o rei Creonte, que tentara auxiliar a filha. O casamento de Jasão com Glauce, pois, tornou-se uma união estéril e, assim, Jasão resolveu voltar os seus olhos para os filhos que tivera com Medéia, porque neles é que estaria a esperança de sua perpetuação. Mas a vingança da barbárie desprezada é completa: a mulher ofendida supera a mãe e mata os próprios filhos, impedindo Jasão de lhes fazer inclusive as exéquias. Claro que um mito não tem apenas um significado, nem todos os significados possíveis têm como ser explicitados, pena de ele morrer inclusive ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 181 Ricardo Antônio Lucas Camargo como símbolo. O mito de Medéia, de acordo com a tragédia de Eurípides, acima resumida, presta-se a exames no que tange às relações de parentesco, aos conflitos que se travam no interior da alma da personagem-título, à condição feminina, e outras questões. Entretanto, gostaríamos justamente de o trabalhar como metáfora dos paradoxos jurídicoeconômicos da globalização. Após a queda do Muro de Berlim, passou a ganhar força o discurso de que o mercado não precisava de mais nenhuma outra fonte de legitimação que não ele mesmo (casamento de Jasão com Glauce). O mundo passaria, assim, a merecer a conformação que melhor atendesse às necessidades do mercado, excluindo-se, pois, tudo o que representasse restrição a seus interesses. Quem fosse dotado de pujança suficiente para participar das operações mereceria ter protegidos juridicamente os seus interesses, quem fosse desprovido de tal pujança só mereceria consideração na medida da sua utilidade ao mercado, como ferramenta com alma, a ser descartada uma vez cessada a utilidade (Medéia deixou de ser útil, que se retire com seus filhos). Trabalhadores e consumidores só merecem ser ouvidos e atendidos quando isto seja útil para conjurar ameaças externas, não podem ter força sob pena de virem a constituir ameaças internas (Medéia e os filhos são banidos por Creonte justamente por causa disto). “A mobilidade dos meios de produção e a volatilidade do capital internacional atuam hoje no sentido de libertar os agentes econômicos transnacionais das amarras do direito interno dos países em que operam. A fragmentação das suas atividades empresariais entre diversos países permite que os grupos econômicos multinacionais acatem seletivamente as legislações nacionais em matéria tributária, trabalhista, administrativa etc., concentrando seus investimentos onde esta lhe seja mais favorável”1. Quando se coloca, pois, a questão da globalização econômica e os paradoxos que gera, é necessário ter presente que não se está, em absoluto, a adotar uma postura de combate ou adesão, algo muito fácil, em realidade, porque se pode ter opinião sobre tudo, inclusive sobre o que não se sabe, como já recordava Platão. O necessário é, antes de nos posicionarmos, saber do que estamos falando. “O mínimo que se pode esperar do operador do direito, antes que possa entregar-se a quaisquer outras especulações epistemológicas, políticas ou sociológicas, é que seja capaz de dominar o seu ofício, conhecer-lhe o instrumental teórico e prático. Sem isso, tudo o mais é mero discurso”2. 182 2 . GLOBALIZAÇÃO Globalização econômica é o nome que se dá à homogeneização jurídica do espaço territorial, tomada em consideração mais especificamente a homogeneização das relações jurídico-econômicas. Entre os seus efeitos, costuma-se apontar para a paulatina substituição dos ordenamentos jurídicos estatais pela lex mercatoria, o reforço do poder econômico privado, mormente das empresas transnacionais, de sorte a se impor a retirada do Estado do domínio econômico, privatizando tanto empresas estatais como a própria prestação de serviços públicos, e determinando a desregulamentação da economia, flexibilizando sobretudo direitos laborais, eliminando tudo o que possa implicar restrições à maximização dos lucros3. Trabalhando sob viés marxista, Sérgio Alberto de Souza4 considera a globalização uma “ideologia”, no sentido de “falsa consciência”, voltada a convencer a população mundial de que certas nações devem mandar e outras obedecer. Mesmo não aceitando o enfoque marxista - sobretudo porque, para se falar em uma “falsa consciência” é preciso que alguém tenha, efetivamente, acesso à verdadeira5 -, não se pode negar que os entusiastas da globalização econômica, quando vêm a sustentar estar ela acima de quaisquer possibilidades de crítica, com os benefícios presumidos em caráter absoluto, estariam a lançar a objeção de Jasão a Medéia: “em lugar de um país bárbaro, agora habitas a Grécia. Aprendeste a conhecer a justiça, a recorrer às leis em lugar da força”6. Gerson de Britto Mello Boson7 visualiza na globalização econômica a possibilidade do estabelecimento de fortes esteios de sustentação de padrões culturais universais. A razão parece estar com Ricardo Lobo Torres8, neste particular: “a globalização, como processo eminentemente econômico e político, vem trazendo extraordinárias vantagens para a humanidade no campo do desenvolvimento tecnológico, da afirmação da democracia e do respeito aos direitos humanos. Mas, sendo ambivalente, produz desvantagens à sociedade e ao Estado em escala planetária, principalmente sob a forma de aumento da pobreza e do incremento dos riscos ambientais, das drogas, do crime organizado, do terrorismo e, sem dúvida, dos riscos fiscais”. Claro que as empresas de comunicação social têm desempenhado um papel significativo na disseminação do culto à globalização do mercado em que naturalmente se selecionem os indivíduos que merecem ser considerados dignos de integrarem o gênero humano9. Nilo Baptista10, embora tratando a matéria sob o prisma penal, oferta importantes subsídios para a compreensão da mídia tanto como ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos instrumento de outros segmentos do poder econômico privado quanto como geradora, em si e por si, de poder econômico para os agentes que a exploram, especialmente pelo papel de despersonalização dos integrantes de segmentos sociais havidos como “descartáveis” no que tange às exigências da globalização, reduzindo-os, de preferência, à condição de inimigos objetivos a serem segregados sem sequer quaisquer direitos de natureza processual, para não estorvarem a eficiência do mercado. Não está sendo feita a confusão entre “iniciativa privada”, “mercado” e “neoliberalismo”, até porque, em relação a este último termo, existe uma curiosidade: designa duas vertentes diferentes. Até o início da década de 80, a doutrina juseconomista designava como neoliberalismo a linha keynesiana, do Estado intervindo justamente para salvar o capitalismo do naufrágio após o “crack” de 1929, embora já tivesse havido um interessante precedente brasileiro, em 1906, quando os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais celebraram na cidade de Taubaté/SP convênio voltado a adotar medidas para a valorização do café11. Foi a partir da queda do Muro de Berlim que o termo passou a designar a idolatria do mercado defendida desde o final da II Grande Guerra por um Friedrich August von Hayek12, que exacerba, como se sabe, a caracterização do egoísmo como virtude feita por Adam Smith no século XVIII. É deste neoliberalismo que hoje se fala e que se pretende converter na matriz filosófica daqueles que defendem a instauração de uma nova lex mercatoria. E é evidente que nem toda a iniciativa privada se mostra tributária desta visão, justamente porque ela não se compõe apenas das grandes corporações transnacionais, mas, ao contrário, também entram ali as microempresas, por exemplo, que ingressam no mercado já em posição de desvantagem. A idéia de valorização do trabalho e do trabalhador enquanto estratégia empresarial, assumindo, de algum modo, um compromisso com a tese sustentada por Léon Duguit13, a partir de ensinamentos de Émile Durkheim, da caracterização da propriedade - inclusive empresarial - como uma função social implica uma visão para além do imediato, para além da visão voltada a extrair o máximo de todos os recursos materiais e humanos à disposição, que, no curto prazo, aparentemente se mostra apta a possibilitar o aumento da competitividade mas, ao final, conduz ao esgotamento da própria empresa, porque esta, em realidade, é a organização dos fatores da produção, dentre eles, o próprio trabalho. E, por outro lado, o próprio mercado, realmente, não se confunde com o neoliberalismo nem com a iniciativa privada: pode, perfeitamente, haver iniciativa privada em regime de economia planificada - exemplo disto era a extinta Iugoslávia, que, a despeito de ser um país socialista, não tinha empresas estatais e adotava o regime de auto-gestão empresarial (os empregados eram proprietários da própria empresa) -, como também pode existir mesmo economia sem mercado, como ainda ocorre no âmbito de algumas tribos na Amazônia. Mas, no momento, temos de ser realistas, no sentido de trabalhar com um mercado, isto é, um ponto de encontro entre a oferta e a procura, cujo funcionamento, entretanto, está longe de ser totalmente espontâneo, justamente porque os agentes que nele se encontram não estão em posição de igualdade, podendo, inclusive, ocorrer os mais variados expedientes para a manipulação dos preços dos bens e serviços, como é o caso dos estoques regulatórios. O mercado, antes que uma relação entre bens e serviços, é uma relação entre pessoas, e pessoas que estão perseguindo um objetivo egoístico, que é o lucro, de um lado, e a obtenção de um bem, de outro. 3 . EX CL USÃO SOCIAL EXCL CLUSÃO 3.1 Generalidades Exclusão social não se confunde com a exclusão do mercado ou a exclusão de mercado, porquanto diz respeito à exclusão de direitos. Podese perfeitamente ser excluído social sem ser excluído do mercado, assim como se pode ser excluído do mercado sem ser excluído social14. Como observou Dyrceu Dias de Aguiar Cintra Júnior15, não se deve confundir a situação de excluído social, nem tampouco as reivindicações para se deixar tal condição, com a prática de crime, embora ainda haja os que considerem tal questão como um simples caso de polícia. Messias Pereira Donato16 refere, também, como manifestações da exclusão social a tolerância com as situações de redução à condição análoga à de escravo, bem como a retenção de salários. Vinicius Moreira de Lima17 vem a identificála na aplicação seletiva da ordem jurídica, aplicação esta que se choca com o valor “fraternidade universal” e que tem estimulado, inclusive, o tráfico ilícito de pessoas no âmbito internacional 18 . Philippe Delmas19 chega a considerar até perigosa a idéia de uma fraternidade universal: “ninguém pode censurar que o médico cuide de uns e outros, mas o homem público é culpado de querer fazer acreditar que o juramento de Hipócrates é um programa político. O sofrimento, a morte próxima de um homem justificando o olhar daquele que o suporta e daqueles que o rodeiam. Frente a esses inimigos universais e memoriais da humanidade, desperta uma última solidariedade da espécie”. A questão que se coloca, a bem de ver, é quem detém a legitimidade - e a que ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 183 Ricardo Antônio Lucas Camargo título esta lhe foi conferida - para distinguir entre os amigos e inimigos da humanidade, para que estes dela sejam devidamente excluídos. Ermes Pedro Pedrassani20 considera que a ereção da máxima capacidade de gerar lucros à condição de fim único de toda política econômica teria conduzido à despersonalização do ser humano, levando à sua colocação entre o rebanho dócil e amestrado e as feras bravias. Saliente-se que o fato de integrar minoria não implica, necessariamente, a exclusão social21, embora, por vezes, ela se fundamente nesta circunstância, atraindo o interesse do Direito Econômico no que tange à possibilidade de discriminação não só no mercado de trabalho como mesmo no de consumo, qual ocorre com a minoria sunita curda, na Turquia22. Seja como for, os seres humanos havidos como descartáveis passam a compor a massa dos banidos, dos desempregados ou subempregados. É desta descartabilidade que se pretende falar quando se toca no multicitado tema da exclusão social, algo que ultrapassa a pobreza enquanto condição que impede o acesso do ser humano aos meios aptos a satisfazerem a maior parte das suas necessidades23. 3.2 Desemprego Desemprego é a situação em que o cidadão não se encontra a exercer qualquer atividade remunerada. Uma das primeiras distinções que se colocam é entre o desemprego voluntário – normalmente tratado como vadiagem – e o desemprego involuntário. Os desempregados, antes considerados como “exército de reserva” permitindo o aumento da oferta da força de trabalho e, conseqüentemente, a diminuição da respectiva remuneração24, passam à condição de excluídos sociais, no sentido de excluídos de direitos, no contexto da globalização25. Observa Messias Pereira Donato 26 que, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho, especialmente nas Convenções 122 e 168, toma como referência tanto o trabalho subordinado quanto o trabalho independente. A referência ao desemprego involuntário diz com a ausência do exercício de atividade remunerada por motivos alheios à vontade daquele que nela se encontra27. Messias Pereira Donato 28 , a este respeito, informa que é ao desemprego involuntário que se referem as manifestações da Organização Internacional do Trabalho. Toma especial relevo o desemprego tecnológico, decorrente da impossibilidade de, diante das conquistas da tecnologia, ser encontrada ubicação no mercado de trabalho pela exigência maior de qualificação29. Arnoldo Wald30, a propósito, fala na “economia do saber”, em que o braço de 184 grande número de operários na produção em série é substituído por robots controlados por empregados qualificados. Max Weber31 aponta como uma das grandes características do capitalismo a substituição do “homem culto” pelo especialista, voltado ao atendimento da necessidade econômica mais imediata. O desemprego tecnológico, então, é algo que transcende a pura e simples ausência de instrução: diz com a ausência do conhecimento adequado à obtenção de uma colocação no mercado de trabalho32. A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 7º, XXVII, a esta modalidade de desemprego se refere. Francisco Osni de Lavor33 indica, como exemplo de legislação voltada a proteger o trabalhador contra os efeitos negativos da automação a Lei 7.232, de 29 de outubro de 1984, que, ao introduzir a reserva de mercado no que tange à informática, determinou o equilíbrio entre os ganhos de produtividade e os níveis de emprego, e o Decreto-lei 2.284, de 1986, que criou entre nós o seguro-desemprego. Maria Garcia34, por seu turno, observa que já não provém apenas da automação o fato gerador do desemprego tecnológico, porquanto da engenharia genética surge a possibilidade de se gerarem seres humanos mais convenientes para o funcionamento do mercado, mediante a clonagem, a produção de uma ou mais células idênticas a partir de uma célula retirada de um embrião35. Edna Raquel Rodrigues Santos Hogemann36 observa que o ritmo acelerado da urbanização e da modernização tecnológica conduziu a que os desempregados deixassem de ser o exército de reserva, passando a constituir a massa de seres humanos descartáveis. 3.3 Subemprego Já o subemprego é o trabalho, geralmente penoso, desempenhado em condições normalmente precárias, de caráter rotineiro, e ao qual não se liga qualquer espécie de prestígio para o que o desempenha37. Classifica-se em visível e invisível. Subemprego visível é a relação de trabalho caracterizada pelo período normalmente inferior ao que normalmente perduraria o desempenho de outras atividades, com a menor margem de autodeterminação por parte do trabalhador, ao mesmo tempo em que presente a busca de trabalho suplementar 38. Liga-se em muito à economia informal, o conjunto das atividades econômicas que se desenvolvem à margem dos registros e dos controles tributários e trabalhistas, embora sejam levadas em consideração na composição do Produto Interno Bruto 39 . Isto porque seu desenvolvimento, em regra, se deve à busca de remédio por parte daqueles que a ela se dedicam para as insuperáveis dificuldades, quando não ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos impossibilidade, de acesso ao mercado de trabalho formal40. O subemprego invisível caracteriza-se pelo subaproveitamento do indivíduo quanto a sua capacidade e qualificação41, podendo eventualmente caracterizar assédio moral, de acordo com a jurisprudência laboral. 4. MOVIMENTOS POPUL ACIONAIS POPULACIONAIS 4.1 Generalidades Tanto o desemprego, em todas as suas manifestações como o subemprego rendem ensejo a movimentos migratórios que, paradoxalmente, vêm a colocar-se como um desafio diante de disposições que assegurem o trabalho como um direito – como o artigo 6º da Constituição brasileira de 1988 e o artigo 6º do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais – e que falem na expansão das oportunidades de emprego42. Claro que não falta quem dê tais situações como meros efeitos colaterais do bom funcionamento do sistema, a serem suportadas com estoicismo e resignação43. A morte dos filhos de Jasão e Medéia é um efeito colateral, pois, como diz a mãeassassina ao infiel marido, “a esse preço, não sou mais teu objeto de zombaria” 44. Esta postura, embora se mostre coerente com as críticas que se ouvem dos setores interessados em políticas de minimização do Estado e maximização do espaço privado, cria sérias dificuldades quando se observa a tendência cada vez mais nítida no sentido de considerar os direitos econômicos, sociais e culturais como complementos indispensáveis à realização dos direitos civis e políticos45. Claro que se poderia obtemperar que tal tendência seria demagógica 46 porque só seriam direitos verdadeiros aqueles que tomassem em consideração o ser humano independentemente de considerações classistas47, mas a objeção também viria a perder em substância com a constatação de que, sem a visão da complementariedade, os destinatários dos direitos seriam somente os integrantes de uma parcela da humanidade48. E justamente por não existir, atualmente, qualquer modo de fundamentar racionalmente a possibilidade de discriminar entre os seres humanos a que se pode reconhecer o status de sujeito de direito e aqueles a quem se o pode denegar que a Corte Interamericana de Direitos Humanos considerou condenável a execução e tortura de meninos de rua na República da Guatemala, ainda que esta erguesse como fundamento o fato de que a existência de tais seres se mostrava inútil e, até mesmo, prejudicial ao funcionamento da vida social e econômica do país49. A última trincheira da busca de um fundamento racional para a denegação de direitos a determinadas categorias está no combate ao que alguns insatisfeitos com o fato de o emissor da norma as haver contemplado está na negação de juridicidade a estas mesmas normas, criticando a “ingenuidade positivista”50, contrariando o cânone segundo o qual não existem palavras inúteis em qualquer diploma normativo, que há de incidir independentemente de desconfortos individuais. Ainda e sempre o legalismo seletivo, a que já nos referimos em outra ocasião51. 4.2 Êxodo rural Tema particularmente relevante em se tratando dos movimentos migratórios é o do êxodo rural, que é o deslocamento da população rural para os meios urbanos, via de regra, em razão da impossibilidade de encontrar meios de vida com dignidade no local de origem52. Com efeito, a ocupação do solo rural, por vezes, realizada mediante a grilagem, o apossamento violento53, vem a ser fonte de conflitos pela distância das populações afetadas em relação ao centro das decisões políticas e do rápido esgotamento dos recursos naturais54. Governada a propriedade imobiliária rural tão-somente pela livre vontade do respectivo titular, exercida em caráter absoluto55 e sujeito ao princípio segundo o qual “duas pessoas não ocupam o mesmo espaço jurídico, deferido com exclusividade a alguém, que é o sujeito do direito real”56, os conflitos pelo espaço físico provocam o deslocamento das famílias que não querem neles se engajar nem ser vítimas de balas perdidas para as cidades. Washington Peluso Albino de Souza57 refere o papel desempenhado pelo rurícola migrante no que tange à subtração do posto de trabalho ao trabalhador urbano dispensado, contribuindo, assim, para a formação do exército de reserva. Raimundo Bezerra Falcão58 aponta para o papel desempenhado pelos instrumentos tributários na mitigação do problema, estimulando a fixação do homem à terra, recordando a lição de Peter Drucker sobre as influências das alterações demográficas na relação oferta/demanda, fazendo variar o poder aquisitivo da moeda, dado que a diminuição de braços no desempenho da atividade agropecuária implica o escasseamento dos produtos de primeira necessidade, e, pois, a tendência ao encarecimento. Por outro lado, como diz Washington Peluso Albino de Souza59, a partir do exame dos Textos Constitucionais de diversos países, “o problema da distribuição da propriedade abrange de modo especial o solo, a terra arável. Daí o tema vir estreitamente ligado aos programas chamados de ‘colonização’ para a realização do objetivo de ‘fixar o homem no campo’”. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 185 Ricardo Antônio Lucas Camargo 4.3 Emigração Além do êxodo rural, apresenta-se o problema da emigração, o movimento migratório consistente na saída de pessoas para um país estrangeiro, para nele residirem, com ânimo definitivo. Em regra, a motivação para a emigração reside em busca de melhores condições de vida, com melhores perspectivas de emprego e de níveis de estipêndio e acesso a benefícios sociais, quando se realiza de um país de menor nível de desenvolvimento para outro mais desenvolvido60. Para o Estado de onde sai o migrante, a sua saída é considerada como diminuição da pressão demográfica, bem como da obtenção das divisas enviadas do estrangeiro para a família respectiva61. Nem sempre a emigração é considerada benéfica para o Estado de origem do migrante, sendo de chamar a atenção – e, em sede de Direito Econômico, é um dos pontos mais importantes – o problema da evasão de cérebros, com que se deparava, já no século XVII, Colbert, ministro das Finanças do Rei Luís XIV62. Por outro lado, o problema resultante dos deslocamentos de pessoas em busca de melhores condições de habitabilidade do espaço conduziu o Alto Comissariado das Nações Unidas – ACNUR a, a partir do início da década de 90, ampliar o conceito de refugiado, deixando de o restringir à condição de perseguido, para buscar as medidas de prevenção a tais movimentações63. Como se sabe, refugiado, em princípio, seria toda pessoa que, por fundado receio de perseguição por motivos de raça, credo religioso, filosófico ou político, ou por pertencer a determinado grupo social, se encontre fora de seu país de origem64. Medéia e Jasão chegaram a Corinto como refugiados, e é nesta condição que, depois de exterminar a casa de Jasão, vai para a Atenas governada por Egeu. Muitas vezes os que emigram são integrantes de alguma minoria, isto é, de uma coletiviidade habitante de determinado território que, com base em determinada tradição, diversa da que se verifica no todo nacional, apresentando em relação a este sensível diferença cultural, concede atributos singulares a seus integrantes65. 4.4 Imigração A contraface da emigração é a imigração, o ingresso, com ânimo de residir, de estrangeiro no território nacional. Cabe chamar a atenção para as medidas relativas à fixação de estrangeiros no país, podendo ser voltadas ao incentivo, à restrição ou à proibição. Na Europa, a motivação da imigração seria a admissão de mão-de-obra barata, para o desempenho de trabalhos recusados, normalmente, pelos nacionais. No Brasil, o interesse estava posto 186 tanto em trazer braços para a lavoura quanto para a indústria, especialmente após a abolição da escravatura, com as limitações necessárias para se obviarem as agitações66. João Barbalho67, com efeito, considerava que em país de extenso território e “escasso povoamento”, a imigração se apresentava como importante meio de aumentar a população e fomentar o crescimento da indústria. Friedrich von List68 atribuía a supremacia conquistada pela Inglaterra em face da Europa continental, dentre outras causas, à imigração de homens bem preparados dos países do Continente. Por vezes, entretanto, o migrante é tratado, mesmo que tenha tido estimulado o seu ingresso, como se fora um intruso 69 . Em sede de Direito Econômico, o interesse aparece no que tange aos efeitos sobre a oferta de trabalho, à contribuição para o desenvolvimento do país a partir da formação cultural de origem, à apropriação do espaço imobiliário, à capacidade de absorção dos alimentos no mercado interno etc.70 Merecem destaque duas políticas francamente aptas a denegar direitos aos migrantes: o clientelismo nacionalista e o conceito de estrangeiros excluíveis. Clientelismo nacionalista é a política de configuração do migrante como responsável pela escassez de postos de trabalho e de gêneros de primeira necessidade e pela precariedade da prestação de serviços públicos, para o fim de autorizar-lhes a denegação da condição de sujeito de direitos71. É de se observar, porém, que não se podem confundir os conceitos de “clientelismo nacionalista” e “nacionalização do trabalho”. Esta traduz medida destinada a evitar que venha a ser impedido o acesso ao emprego por parte de nacionais do país onde a empresa atue, em virtude de esta, porventura, visualizar maior vantagem em empregar estrangeiros Quanto ao conceito de estrangeiros excluíveis, trata-se de ficção jurídica estabelecida nos EUA para determinadas categorias de estrangeiros que, apesar de estarem em território norte-americano, são considerados como ausentes deste para o fim de não se lhes reconhecer qualquer acesso a direitos72, o que entra em franca rota de colisão com a tese que se afirma cada vez mais no âmbito da doutrina e jurisprudência internacionais, isto é, a de que na afirmação dos Direitos Humanos “o critério deverá ser sempre a vedação do retrocesso e a afirmação da liberdade em um processo evolutivo dentro dos padrões de justiça histórica, constituído na convivência da comunidade internacional”73. Nem se pretenda sustentar que se está, aqui, a debater questões metajurídicas. Ao contrário, os fatos que estão sendo trazidos ao exame comportam a consideração pelo jurista, quando nada, para o efeito de verificar se as medidas que em relação a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos eles são tomadas seriam adequadas ou se, ao contrário, estaria configurada demagogia apta a se qualificar como “desvio de poder”. Se a omissão do poder público seria, no caso, condenável ou se, pelo contrário, caberia falar na inexigibilidade de conduta diversa. 4.5 Economia subterrânea e exclusão social Estes movimentos migratórios, por vezes, dão origem ao desenvolvimento de atividades lucrativas no âmbito da economia subterrânea. Dentre tais atividades, o aliciamento, que é o patrocínio do deslocamento de migrantes para sua exploração à margem dos direitos sociais74. Estes dados mostram como os ordenamentos não estatais, muitas vezes, podem constituir verdadeiras formas de denegação da condição de sujeitos de direito a seres a que tanto o Direito Internacional quanto os ordenamentos jurídicos estatais internos tratam como tais. Talvez por isto que tenha surgido o movimento no sentido de se modificarem as Constituições, principalmente, do Terceiro Mundo, de sorte a escoimá-las de tudo quanto represente direitos para a ralé, que há sempre de ser tratada como inimiga. E, presente tal tratamento, a ralé vem a assumir a condição de inimiga e, nos termos do que ela representa, tem-se a guerra declarada75. Com efeito, é pela ausência de atuação no âmbito institucional ou pela presença de tal atuação em níveis inferiores à necessidade que se tem verificado as invasões de propriedade imobiliária por parte de movimentos, normalmente massivos, destinados à realização de protestos, em regra, concernentes à busca da sensibilização para os problemas concernentes à política de ocupação do solo. Mesmo não apoiando a prática da ilegalidade76, não há como deixar de reconhecer, aqui, uma reação drástica como o assassinato dos filhos de Medéia por parte da própria mãe77. 5 . LEX MERC ATORIA MERCA Dito isto, vejamos no que consiste a lex mercatoria. Trata-se de um sistema privado de legislação que se caracteriza pelo fundamento de validade de qualquer obrigação residir na livre manifestação da vontade, exacerbando, assim, a visão exposta por Waldírio Bulgarelli78 quanto ao papel do contrato como lei entre as partes, em que pelo reconhecimento legal da obrigatoriedade da relação jurídica nascida das convenções, nasceriam a certeza, a segurança, a efetividade dos negócios jurídicos. José Carlos de Magalhães & Agostinho Toffoli Tavolaro79 localizam a sua formação no direito dos mercadores, que tinha as seguintes características: (1) não eram restritos por qualquer regulação nacional; (2) tinha como base a origem comum e a observância de costumes mercantis; (3) no caso de conflito, a solução cabia aos próprios mercadores, através das corporações ou cortes comerciais; (4) processo rápido e informal; (5) liberdade contratual e decisão ex aequo et bono. Embora a maioria da doutrina localize a origem da lex mercatoria na atuação dos mercadores europeus ao final da Idade Média80, o fato é que podemos encontrá-la também nas caravanas árabes que cortavam os desertos e estepes, ligando o Oriente e o Ocidente. Estes aglomerados ambulantes de mercadores e peregrinos, além de transportarem mercadorias de um ponto a outro, realizavam, por si, operações de mercancia, e eram dotados de elementos especiais para a realização das negociações, para a aplicação da justiça e a auto-defesa, isto é, de sistema jurídico-econômico próprio, estabelecido consuetudinariamente81. Dever algo aos árabes, os “modelos do atraso”? Jamais se poderia admitir isto, porque introduziria um elemento de “barbárie” no direito82. Amílcar de Castro83 localiza o precedente doutrinário mais específico do que se chamaria lex mercatoria na tese da autonomia da vontade urdida pelo advogado parisiense Charles Dumoulin em 1525. Não deixa de ser a oferta de fundamento pleno de validade na autonomia da vontade para a lex mercatoria uma extensão da importância dos usos e costumes comerciais como fonte do Direito 84. Segundo Irineu Strenger85, tendo os contratos o caráter de grandes veículos de instauração da lex mercatoria, são o veículo primordial de afastamento da ordem jurídica estatal, permitindo às empresas o uso da criatividade na solução dos mais intrincados problemas da atividade negocial. Um de seus documentos-base seria o Acordo Multilateral de Investimentos – AMI. No affaire 5.904, a Câmara do Comércio Internacional francesa tratou-a como complemento da lex for 86. A questão que mais se coloca, porém, no que tange à substituição do Direito estatal ou inter-estatal pela lex mercatoria, é a dos limites da negociabilidade de várias situações jurídicas. “Um imenso mercado mundial, regulado apenas por regras auto-geradas, certamente há de ignorar qualquer razão que não seja razão de mercado”87. Com efeito, os principais argumentos em prol da lex mercatoria: eliminação da intranqüilidade da diversidade de legislações econômicas, a agilização das negociações, com o aumento do número de produtos no mercado à disposição dos consumidores e o impedimento à formação de cartéis88. Arnoldo Wald89 também aponta para a lex mercatoria como um instrumento notável para a abertura da economia brasileira, entendida esta como a mais ampla privatização e a facilitação do ingresso de capitais estrangeiros como receita infalível ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 187 Ricardo Antônio Lucas Camargo para que o Brasil viesse a entrar no clube dos Países desenvolvidos. Quanto à assertiva do Professor carioca, caberia meditar sobre a Turquia do Póskemalismo, período republicano entre 1945 e 1960, ainda na vigência da Constituição de 1924, cuja política econômica esteve voltada às medidas de liberalização, sobretudo pela privatização das empresas e bancos nacionais e pela atração de investimentos estrangeiros90 e acabou conduzindo à crise de 1960, que culminou em um golpe militar. De outra parte, a razão de mercado não se mostra suficiente para fundamentar a legitimidade de várias dentre as situações jurídicas, qual dissemos anteriormente. Sob o ponto de vista do mercado, por exemplo, pode-se mostrar menos custosa a eliminação de um ser humano improdutivo do que a sua sobrevivência. Não se pode negar, por exemplo, por mais importante que seja o direito à saúde, que “os cuidados médicos são produtos oferecidos em um mercado que responde às leis da economia”91. Ao matar os filhos, Medéia sacrifica o amor de mãe à reparação do ultraje feito pelo marido e à destruição dos últimos elos com este, ainda abre o caminho para Atenas, obtendo em Egeu a possibilidade de ser respeitada sem volver à barbárie: reage como bárbara, mas não sacrifica os confortos da posição de grega, seu lucro é pleno. A capacidade de renúncia é sotoposta e, na luta entre dois egoísmos, prevalece o da astuta bárbara. Eis, pois, como a razão de mercado funciona. Não é casual que Ermes Pedro Pedrassani92 refira o caráter de reificação do ser humano quando este não sirva à potencialidade de geração de lucros. 6 . CONCL USÃO CONCLUSÃO O raciocínio puramente economicista, pois, explica a observação posta por Artur José Almeida Diniz 93: “inúmeros economistas chegaram a denunciar a preocupação com os direitos humanos como perigoso entrave ao desenvolvimento econômico. Perdemos todo o referencial de uma economia humana. O deus sangüinário do mercado tritura muito mais vítimas do que todos os sacrifícios realizados pelas antigas civilizações. Vivemos um irracional assustador. Mais grave ainda, não nos demos conta de uma civilização necrófila, que ameaça destruir grande parte do legado espiritual de milênios. [...] ‘Não é infinita a paciência dos que caíram fora. O mundo único, finalmente realizado e reconhecido como tal, mas condenado à forma fetichista, atacada por crises do sistema produtor de mercadorias, revelase produtor de uma guerra civil mundial que está por vir, guerra em que já não haverá frentes firmes, mas apenas surtos de violência cega em todos os níveis...Quando esses homens, povos, regiões e 188 Estados perceberem que nunca mais terão alguma chance de vencer e que as futuras derrotas inevitáveis os privarão de qualquer possibilidade de viver, lançarão, mais cedo ou mais tarde, o tabuleiro no chão e dispensarão todas as regras da civilização mundial. Essas regras democráticas da razão mundial burguesa e iluminista são em sua essência abstratas e insensíveis, pois seu verdadeiro fundamento é o automovimento do dinheiro, abstrato e privado de sensibilidade, movimento que faz nascer suas leis históricas destrutivas e as executa mecanicamente até o seu terrível fim’. [...] Decadente ou não, o EstadoNação ainda é o melhor caminho para uma ordem internacional menos iníqua. Criticável ou não, a família é a forma viável para a educação e formação de personalidades psicologicamente menos mutiladas. As pressões vividas pelos povos do Terceiro Mundo não chegaram, ainda, a romper o tecido social. Este se mantém, miraculosamente, em virtude de duas forças aglutinadoras: a família (tradicional) e o Estado. O rompimento seria o caos social, a ‘anomalia’, o retrocesso a formas de selvageria”. O Estado e a família: as duas instituições feridas de morte por Medéia em sua vingança, e “o mundo retomba no caos do qual Ésquilo o supunha redimido pelo claro entendimento das instituições democráticas. Eurípides nos reconduz ao clima dos estágios iniciais da Teogonia”94. Acordemos para a necessidade de equilibrar a mente e o coração, antes que tenhamos, como Jasão, de dizer: “volto, ai de mim! privado para sempre de meus dois filhos!”95. Não é, pois, mera pieguice ou quixotismo a sustentação de que a sobrevivência da humanidade e do próprio mundo depende da superação da concepção que os resume em Estado e mercado. A isto nem o mundo nem a humanidade se reduzem, isto é, eles transcendem estas duas noções. O envenenamento da água pelo uso do mercúrio na extração de ouro, por exemplo, não traduz um dano ao interesse do Estado ou do mercado, mas ao de toda a humanidade. A recusa dos EUA em aderir ao Protocolo de Quioto se deu em virtude de a restrição à emissão de poluentes parecer agressiva tanto aos interesses daquele país em manter a posição hegemônica na economia mundial quanto aos interesses do empresariado norte-americano em não aumentar os seus custos de produção. Assim é que a preocupação se coloca, precisamente, em arredar a rotulação quando se tenha de examinar os problemas do homem, porque, do contrário, o perigo de heresia interdita aos julgadores de Galileu olhar pelas lentes do telescópio, aparelho diabólico que fundamentaria a contradição à passagem das Escrituras concernente à interrupção da trajetória do Sol por Josué, para prorrogar o combate dos hebreus contra os amorreus. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos NOT AS NOTAS 1. Sarmento, Daniel. 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Não existe maior desgraça que nos vermos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos privados da terra natal” - Eurípides. Medéia. Trad. Miroel Silveira & Junia Silveira Gonçalves. In: Ésquilo. Prometeu Acorrentado/ Sófocles. Édipo Rei/ Eurípides. Medéia. São Paulo: Abril, 1980, p. 185. 51. Camargo, Ricardo Antônio Lucas. Advocacia Pública – mito e realidade. São Paulo: Memória Jurídica, 2005, p. 45; Souza, Washington Peluso Albino de. Teoria da Constituição Econômica. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 540. 43. Costa, Dilvanir José da. Sistema de Direito Civil à luz do novo Código. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 684; Guerra, Sérgio. As privatizações no contexto jurídico-constitucional brasileiro. in: Plures. Direito Administrativo Empresarial. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 392. 52. Camargo, Ricardo Antônio Lucas. Ordem jurídico-econômica e trabalho. 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A natureza jurídica da limitação constitucional ao poder de tributar as entidades sindicais de trabalhadores. In: Ventura, Zênio & Fagúndez, Paulo Roney Ávila [org.]. As perspectivas da Advocacia Pública e a nova ordem econômica. Florianópolis: OAB/SC Editora, 2006, p. 1.020; Torres, Ricardo Lobo. Curso de Direito Financeiro e Tributário. Rio de Janeiro: Renovar, 2005, p. 75. 48. Silva, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 285. 49. Camargo, Ricardo Antônio Lucas. Lex mercatoria, exclusão social e direitos humanos. In: Plures. Os rumos do Direito Internacional dos Direitos Humanos - ensaios em homenagem ao Professor Antônio Augusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005, t. 3, p. 315. 50. Amaral, Gustavo. Direito, escassez & escolha. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 211-212. 53. Lima, Ruy Cirne. Terras devolutas. Porto Alegre: Globo, 1935, p. 46. 54. Furtado, Celso. Teoria e política do desenvolvimento econômico. 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Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1962, v. 6, p.254. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 191 Ricardo Antônio Lucas Camargo 57. Direito Econômico do trabalho. Belo Horizonte: Fundação Brasileira de Direito Econômico, 1985, p. 180. 58. Tributação e mudança social. Rio de Janeiro: Forense, 1981, p. 301. 59. Teoria da Constituição Econômica. Belo Horizonte: Del Rey, 2002, p. 176. 60. E. Mendez, Juan, Olea, Helena & Feldmann, Andreas. El Derecho Internacional y los derechos laborales de los trabajadores migratorios. In: Plures. Os rumos do Direito Internacional dos Direitos Humanos - ensaios em homenagem ao Professor Antônio Augusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérigo Antônio Fabris, 2005, t. 4, p. 340-341. 61. Mello, Celso Duvivier Albuquerque. Direito Constitucional Internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 239. 62. Souza, Washington Peluso Albino de. Direito Econômico do trabalho. Belo Horizonte: Fundação Brasileira de Direito Econômico, 1985, p. 296-297. 63. Trindade, Antônio Augusto Cançado. Tratado do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1997, v, 1, p. 322-324; Elizondo, Gonzalo & Casafont, Paola. Migración y dinámica de los Derechos Humanos hoy. In: Plures. Os rumos do Direito Internacional dos Direitos Humanos - ensaios em homenagem ao Professor Antônio Augusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005, t. 4, p. 292. 64. Ortiz Ahlf, Loretta. Derechos humanos de los perseguidos y de los pobres. In: Plures. Os rumos do Direito Internacional dos Direitos Humanos - ensaios em homenagem ao Professor Antônio Augusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005, t. 4, p. 263. 65. Rocha, José de Moura. Minoria. In: Plures. Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1980, v. 53, p. 26. 66. Mello, Celso Duvivier Albuquerque. Direito Constitucional Internacional. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 239-241. 67. Constituição Federal brasileira – comentários. Rio de Janeiro: Typographia da Companhia Litho-Typographica, 1902, p. 141. 68. Sistema nacional de economía política. Trad. Manuel Sánchez-Sarto. México: Fondo de Cultura Económica, 1942, p. 91. 192 69. Elizondo, Gonzalo & Casafont, Paola. Migración y dinámica de los Derechos Humanos hoy. In: Plures. Os rumos do Direito Internacional dos Direitos Humanos - ensaios em homenagem ao Professor Antônio Augusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005, t. 4, p. 295 70. Augusto, Ana Maria Ferraz. Política de imigração. In: PLURES. Enciclopédia Saraiva de Direito. São Paulo: Saraiva, 1981, v. 59, p. 215-218. 71. Elizondo, Gonzalo & Casafont, Paola. Migración y dinámica de los Derechos Humanos hoy. In: Plures. Os rumos do Direito Internacional dos Direitos Humanos - ensaios em homenagem ao Professor Antônio Augusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005, t. 4, p. 293. 72. Elizondo, Gonzalo & Casafont, Paola. Migración y dinámica de los Derechos Humanos hoy. In: Plures. Os rumos do Direito Internacional dos Direitos Humanos - ensaios em homenagem ao Professor Antônio Augusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005, t. 4, p. 304. 73. Torelly, Paulo Peretti. Tratados internacionais e direitos fundamentais na reforma do Poder Judiciário. In: Plures. Temas fundamentais de Direito. Canoas: ULBRA, 2005, p. 188. 74. Elizondo, Gonzalo & Casafont, Paola. Migración y dinámica de los Derechos Humanos hoy. In: Plures. Os rumos do Direito Internacional dos Direitos Humanos - ensaios em homenagem ao Professor Antônio Augusto Cançado Trindade. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 2005, t. 4, p. 296; Hungria, Nelson. Comentários ao Código Penal. Rio de Janeiro: Forense, 1959, v. 8, p. 51-52. 75. Diniz, Artur José Almeida. Novos paradigmas em Direito Internacional Público. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1995, p. 154-155. 76. Camargo, Ricardo Antônio Lucas. Advocacia Pública – mito e realidade. São Paulo: Memória Jurídica, 2005, p. 114. 77. MEDÉIA: “eu soube, por minha vez, como era preciso ferir-te no coração” - Eurípides. Medéia. Trad. Miroel Silveira & Junia Silveira Gonçalves. In: Ésquilo. Prometeu Acorrentado/ Sófocles. Édipo Rei/ Eurípides. Medéia. São Paulo: Abril, 1980, p. 212 78. Diretrizes gerais dos contratos empresariais. In: Plures. Novos contratos empresariais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1990, p. 21; Rowe, Michael. Convenção das Nações Unidas sobre ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos lei do comércio internacional. Trad. Miguel A. C. Jambor. Revista de Direito Público. São Paulo, v. 16, n. 68, p. 324, out/dez 1983. 79. Fontes do Direito do Comércio Internacional: a lex mercatoria. In: Plures. Direito do Comércio Internacional. São Paulo: Edições Aduaneiras, 2004, p. 59-60. 80. Caliendo, Paulo. “Incoterms”: cláusulas padronizadas de comércio internacional. Revista da Faculdade de Direito Ritter dos Reis. Canoas, v. 1, n. 1, p. 128-129, 1998; Catalan, Marcos Jorge & Bussatta, Eduardo Luiz. A lex mercatoria. Revista Jurídica Consulex. Brasília, v. 7, n. 166, p. 55, 15 dez 2003; Huck, Hermes Marcelo. Lex mercatoria - horizonte e fronteira do comércio internacional. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, n. 87, p. 215-216, 1992. 81. Ferreira, Waldemar. Tratado de Direito Comercial brasileiro. São Paulo: Saraiva, 1960, v. 1, p. 27. 82. Jasão repudia a bárbara e consente no banimento dos próprios filhos, buscando, como grego, a felicidade entre os seus iguais, os gregos de Corinto; preocupa-o, como diz Medéia, “o temor de desonrar tua velhice conservando uma mulher bárbara” - Eurípides. Medéia. Trad. Miroel Silveira & Junia Silveira Gonçalves. In: Ésquilo. Prometeu Acorrentado/ Sófocles. Édipo Rei/ Eurípides. Medéia. São Paulo: Abril, 1980, p.183. 83. Direito Internacional Privado. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 439-441; Rocha, Osíris. Lex mercatoria - a superação do Estado. Revista Forense. Rio de Janeiro, v. , n. 332, p. 427, 1995. 84. Sanches, Sydney. Os contratos atípicos no Direito Privado. Revista de Direito Público. São Paulo, v. 21, n. 86, p. 240, abr/jun 1988. 85. Comentários à lei brasileira de arbitragem. São Paulo: LTr, 1998, p. 31-32; Lafer, Celso. Empresas transnacionais. Revista de Direito Público. São Paulo, v.22, n. 89, p. 242-243, jan/ mar 1989. 86. Martins-Costa, Judith Hofmeister. Contratos internacionais - cartas de intenção no projeto formativo da contratação internacional - graus de eficácia dos contratos - responsabilidade précontratual. Revista Trimestral de Direito Público. São Paulo, n. 5, p. 217, 1994. 87. Huck, Hermes Marcelo. Lex mercatoria horizonte e fronteira do comércio internacional. Revista da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. São Paulo, n. 87, p. 233, 1992. 88. Locatelli, Cláudia Cinara. Os contratos internacionais do comércio e a lex mercatoria. Revista Jurídica Consulex. Brasília, v. 5, n. 117, p. 34, 30 nov 2001. 89. A introdução da lex mercatoria no Brasil e a criação de uma nova dogmática. Revista de Direito Mercantil, Industrial, Econômico e Financeiro. São Paulo, v. , n. 100, p. 22-23, 1995; Guerra, Sérgio. As privatizações no atual contexto jurídico-constitucional. in: Plures. Direito Administrativo Empresarial Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 380-382. 90. Marcou, Jean. L’experience constitutionelle turque. Revue du Droit Public et de la Science Politique en France et à l’Étranger. Paris, n. 2, p. 443, 1996. 91. Amaral, Gustavo. Direito, escassez & escolha. Rio de Janeiro: Renovar, 2001, p. 141-142. 92. Desconsideração da personalidade. Síntese Trabalhista. Porto Alegre, v. 7, n. 88, p. 126, out 1996. 93. A fome de lucros. 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São Paulo: Abril, 1980, p. 215. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 193 Sergio García Ramírez 194 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos OMBUDSMAN Y TUTELA INTERAMERICANA DE LOS DERECHOS HUMANOS* ••••••••••••••••••••••••••• SERGIO GARCÍA RAMÍREZ Ex Presidente de la Corte Interamericana de Derechos Humanos. Investigador del Instituto de Investigaciones Jurídicas; Miembro de la Junta de la Universidad Nacional Autónoma de México; Juez de la Corte Interamericana de Derechos Humanos 1 . EL SISTEMA DE PROTECCIÓN Y SU CIRCUNST ANCIA CIRCUNSTANCIA La indispensable reflexión contemporánea acerca de los derechos humanos, su defensa, los peligros que acechan y las expectativas que existen en esta materia, conduce a reflexionar de nueva cuenta sobre la estructura, la operación y el futuro de los sistemas nacionales e internacionales de protección. En el curso de estas reflexiones surgen naturalmente el quehacer de los órganos o instituciones creados para la tutela de los derechos humanos, así como la idoneidad y el desenvolvimiento de los procedimientos establecidos para que aquéllos cumplan la función que se les ha conferido. Nada de esto puede quedar confinado en un compartimiento de la historia, como dato consumado o perfecto, exento de evolución o desarrollo. Es preciso que la meditación y la actuación consecuente tomen en cuenta la profunda mutación de las condiciones en que operan esos medios, y tengan a la vista, por supuesto, que el propio catálogo de los derechos se halla en constante revisión: expansivo, mueve sus fronteras y demanda instrumentos a la altura de los nuevos tiempos y de los requerimientos emergentes. No es mi propósito abordar aquí, para los fines del Seminario que la Universidad de Alcalá promovió en Cartagena de Indias (2007), ese catálogo de derechos. Debo revisar, en cambio, la forma y circunstancias en que ha evolucionado lo que denominamos Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos –enlazado al sistema universal y a otros mecanismos regionales, pero dotado de características propias– en el curso de los últimos años, y el desarrollo que probablemente tendrá en el futuro cercano, o el que, puesto de otra manera, debiera tener para el mejor cumplimiento de su compleja encomienda en un Continente en el que ocurren profundas transformaciones sociales, políticas y económicas. Estas mutaciones, proyectadas en la vida institucional y cultural, obligan a reconsiderar los hallazgos y las decisiones establecidos hace apenas unas décadas en la materia que nos atañe. En este contexto resulta pertinente –y acaso indispensable– meditar sobre la posición actual y el papel futuro de una ya antigua institución –pero relativamente nueva en el mundo americano–, el ombudsman, con respecto al cada vez más necesario, vigoroso y complejo enlace entre la tutela nacional de los derechos fundamentales y la tutela internacional de esos mismos derechos, que constituye un dato relevante en el perfil de nuestro tiempo. 2 . PRESENCIA DE INSTRUMENTOS INTERNACIONALES Hasta hace poco más de medio siglo, la protección de los derechos de los individuos, acogida al prestigio de las ideas liberales derivadas de los grandes movimientos políticos del siglo XVIIII, se hallaba confiado a manos domésticas. Aunque los derechos del hombre –o los derechos humanos, si se prefiere–, inherentes a la dignidad humana, tenían pretensión de universalidad, las proclamaciones contenidas en las cartas nacionales de derechos sólo hallaban eco e instrumentos de protección en textos e instituciones del mismo alcance: nacionales. No es posible ignorar lo que esto implica cuando vienen al caso transgresiones procedentes del mismo personaje que tiene a su cargo proteger al ciudadano y amparar sus derecho y libertades. ¿Quién custodia al custodio? Más allá de precedentes remotos, la superación de la idea de tutela estrictamente nacional queda de manifiesto al cabo de los grandes conflictos bélicos del siglo XX. Estos pusieron a la vista la necesidad imperiosa de proveer a los seres humanos con ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 195 Sergio García Ramírez promesas y defensas que trascendieran las fronteras nacionales. El espíritu que campea en la Declaración de 1789, al término del absolutismo interno, retorna en el Preámbulo de la Declaración Universal de Derechos Humanos, al final de la conflagración mundial: el olvido o menosprecio de esos derechos ha determinado atropellos insoportables, que no debieran reproducirse jamás. Por lo tanto, es necesario replantear el tema en el escenario internacional. Hay que hacerlo, primero, a través de derechos y libertades de alcance supranacional; luego –y necesariamente– por medio de tutelas o garantías específicas que permitan la protección o recuperación de esos derechos y libertades. De aquí proviene el Derecho internacional de los derechos humanos, en el que los individuos asumen el papel de sujetos, esto es, titulares de derechos que comprometen a la comunidad internacional y vinculan, frente a ésta, al Estado bajo cuya jurisdicción se encuentran. Al paso que se estipula ese reconocimiento en tratados que revisten carácter diferente y tienen destinatarios distintos de los acostumbrados en el orden convencional internacional, avanza la magna empresa de construir las instituciones internacionales de protección. Estas aparecen y prosperan, en general, a imagen y semejanza de las instituciones nacionales instaladas con el mismo designio. Si fronteras adentro hablamos de un amparo nacional, que se despliega con eficiencia, fronteras afuera requerimos un amparo internacional, que haga su propia parte en la misión de tutela. 3 . EL SISTEMA INTERAMERICANO En América, el Sistema Internacional de Protección –es decir, el Sistema Interamericano– alumbra en 1945. Queda previsto –precisamente en la frontera entre la contienda devastadora y el porvenir apacible que se pretende– en la Conferencia sobre problemas de la guerra y de la paz, en Chapultepec, un escenario histórico de la capital de México. La circunstancia continental no es, por otra parte, favorable al primado de los derechos humanos, que va de la mano de la democracia: un binomio inescindible cuyos términos florecen o declinan juntos. Las dictaduras reinantes en gran parte de los países americanos no constituían tierra fértil para la siembra de un nuevo orden de los derechos humanos. Empero, se hizo camino al andar. Tras la Conferencia sobre problemas de la guerra y la paz comenzó la travesía hacia un nuevo destino: la construcción del Sistema Interamericano de Protección. En 1948 –en otro contexto de violencia desbordante: el “Bogotazo”, que conmovió 196 a la capital de Colombia, sede del encuentro hemsiférico–, la Novena Conferencia Interamericana dotó al Continente de dos piezas esenciales del corpus juris general, y específicamente del orden jurídico sobre derechos humanos: la Carta de la OEA y la Declaración Americana, adelantada a la Universal. Desde ahí se anduvo un largo trecho accidentado hasta la Conferencia Interamericana Especializada, que se reunió en San José, Costa Rica, en 1969, y la Convención Americana sobre Derechos Humanos suscrita en ese foro y cuyo nombre se debe al ilustre jurista guatemalteco Carlos García Bauer. Sin embargo, la reticencia se hallaba a flor de piel. Debieron transcurrir casi diez años para que la Convención –el Pacto de San José– adquiriera vigencia. En pos de la Convención de 1969 llegarían los protocolos acerca de derechos económicos, sociales y culturales –derechos llamados de “segunda generación”, que en América, como en Europa y en el orden mundial, tendrían sede convencional separada de los derechos civiles y políticos– y abolición de la pena de muerte; y sendos convenios acerca de diversas cuestiones que atañen a los derechos generales o especiales de un sector de la población y en los que se atiende a la doble necesidad de juridicidad, por una parte, y especificidad, por la otra. Esos nuevos convenios integrados en el creciente corpus juris interamericano, han sido, hasta hoy, los instrumentos relativos a tortura, desaparición forzada, eliminación de la violencia contra la mujer y no discriminación de minusválidos. Creo pertinente agregar el convenio interamericano contra el terrorismo, que destaca el imperio de los derechos humanos inclusive en la lucha contra esa forma exacerbada de criminalidad. Queda firme la idea, que es preciso consolidar, de que no se preserva el Estado de Derecho desmontando sus libertades y garantías. He aquí, por lo que toca al espacio interamericano, el corpus juris externo, supranacional, que vincula a los Estados y, dentro de ellos, a los órganos estatales, como el ombudsman, y que reconoce y asegura derechos de los individuos. Sin embargo, esta afirmación carece todavía del alcance que debiera poseer y que el futuro habrá de afirmar. En efecto, ni la Convención Americana ha alcanzado plena vigencia en el Continente –a diferencia del Convenio Europeo de 1950, que compromete a todos los Estados del Consejo de Europa–, ni los protocolos y convenios especiales han adquirido esa misma plenitud: algunos se hallan a mitad del camino, más cerca del principio que del final. El número de ratificaciones o adhesiones es insuficiente. Que sea mayor, hasta alcanzar ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos unanimidad, es tarea de todos los americanos; también, por supuesto –y destacadamente–, de las instituciones nacionales del ombudsman, en su papel –que infra examinaré– de promotoras de la recepción nacional del orden internacional. 4 . COMISIÓN Y CORTE INTERAMERICANAS En el marco del corpus juris militan los órganos internacionales de protección, atentos a los principios y valores que se hallan en el fundamento de éste y al designio práctico que previene la Convención Americana: Comisión y Corte Interamericanas. Aquélla, desde 1959, con injerencia en todas las cuestiones de su atribución material y en todos los Estados de América; ésta, desde 1979, de manera paulatina, al paso que los Estados ratifican el Pacto de San José y aceptan, en los términos de la cláusula facultativa de éste, la competencia de la Corte para conocer de asuntos contenciosos que pudieran determinar su responsabilidad internacional por violación de derechos humanos. Con jurisdicción consultiva sobre los 34 Estados de América y contenciosa sobre 21 de ellos –en los que habitan más de 500 millones de seres humanos–, las sentencias de la Corte, no necesariamente las opiniones consultivas, poseen eficacia vinculante inmediata para los Estados litigantes. Empero, es preciso tomar en cuenta, como infra reiteraré, que la sentencia que resuelve un litigio concreto también plantea un criterio acerca de ciertos preceptos de la Convención, y en este sentido desborda el caso en el que se produce y se proyecta hacia la aplicación total de aquel instrumento. 5 . CARÁCTER JURÍDICO DE LLAS AS RESOL UCIONES RESOLUCIONES INTERNACIONALES Estas atribuciones de la Comisión y de la Corte –y especialmente las de ésta, que es el tema de la presente nota– concurren, a su turno, a integrar el Derecho internacional americano de los derechos humanos. Es verdad que la sentencia dictada por el Tribunal es vinculante para las partes que figuraron en el litigio, y en este sentido corresponde al Estado litigante, y no a otros, darle puntual cumplimiento, pero también lo es que la Corte ha recibido (por disposición soberana de los Estados, autores de la Convención, sujetos de las obligaciones internacionales generales establecidas en ésta y garantes del Sistema en su conjunto) la competencia de interpretar y aplicar esa Convención, como también los otros instrumentos interamericanos que le confieren competencia material. Si el Pacto de San José y las convenciones especiales posteriores tienen carácter de normas vigentes en los Estados, esto es, calidad de derecho objetivo dentro del ordenamiento nacional, conforme a disposiciones constitucionales explícitas, la consecuencia es que la interpretación del único órgano llamado a interpretar judicialmente los tratados sobre derechos humanos posee fuerza vinculante para los Estados en los que éstos se hallan vigentes. Así lo han entendido varias jurisdicciones constitucionales nacionales, en forma creciente. Este reconocimiento –natural y necesario– significa un hito obligado en la historia de la tutela nacional e internacional de los derechos humanos, puerto de arribo de muchos esfuerzos enderezados a consolidar la defensa de estos derechos y asegurar el respeto a la dignidad humana. Los órganos internos –uno de ellos, el ombudsman– deben tomar nota, para los fines de su propia misión, de este nuevo desenvolvimiento de la materia en diversos países americanos. 6 . SUJETOS DEL SISTEMA. SU REL ACIÓN CON EL OMBUDSMAN Me he referido al Sistema Interamericano de Protección, como puerta de entrada para el análisis de la nueva o renovada actividad del ombudsman en este contexto. En diversas oportunidades he manifestado que existen por lo menos dos versiones acerca de la identidad del Sistema. Por supuesto, no se trata apenas de versiones académicas exentas de consecuencias prácticas. Una de ellas, muy difundida, entiende que aquél se halla compuesto solamente por los dos órganos internacionales de protección: Corte y Comisión. En tal virtud, concentra sobre éstas las sugerencias y las acciones, las valoraciones y los recursos. Se trata, sin embargo, de una concepción simplista, somera, que pone en los hombros de dos instancias relativamente reducidas una función que no podrían cumplir exitosamente. Recordemos que tanto la Comisión como la Corte fueron establecidas como instancias complementarias o subsidiarias de la misión que primordialmente compete al Estado y de la que no se ha querido, en absoluto, descargarlo. Hay, pues, otros sujetos, agentes o protagonistas del Sistema que es preciso identificar, comprometer y evaluar, sin cuyo concurso la marcha resulta extraordinariamente lenta y difícil, cuando no ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 197 Sergio García Ramírez infructuosa, aunque en todo caso sea indispensable acometerla. a) El Estado El primero de esos sujetos es el Estado mismo. Suponemos, a esta altura de la historia, que existe una communis opinio acerca de la raíz ética y política y el objetivo primordial de la asociación política, es decir, del Estado: la protección de los derechos fundamentales del ser humano. No podría navegar el Estado, pues, fuera del Sistema Interamericano de Protección, ni tendría sentido concebir éste como un sistema “contra” los Estados, sino como uno “con” los Estados, en la inteligencia, por supuesto, de que existe una base común de cultura favorable a los derechos humanos, de que se coincide sobre el concepto y los deberes del Estado constitucional antropocéntrico, y de que el poder político no se ha propuesto, a pesar y por encima de las veleidades de sus “servidores” o de los “asociados” de éstos, actuar contra sus ciudadanos, reduciendo sus derechos, sino a favor de ellos, ampliándoles y dotándolos de eficacia. b) La Organización de los Estados También es protagonista necesario del Sistema la Organización de los Estados Americanos, con misión característica y actuaciones propias, como personaje de una obra en la que varios actores concurren a un fin, cada uno con sus propias evoluciones y parlamentos. En los deberes de ésta no podría hallarse ninguno de mayor jerarquía que la misma obligación sustantiva que en el plano nacional funda y justifica a cada una de sus partes, ahora proyectada a escala internacional,. La asociación comparte el designio final de los asociados, y lo persigue con medios propios. Si esa obligación estatal medular es la protección de los derechos humanos, como hemos dicho reiteradamente, la organización de los Estados debe asumir el mismo deber, por sus propias vías. En consecuencia, ésta adopta un objetivo nuclear, en pro del hombre americano, que satisface a través de numerosos fines y con diversos trabajos instrumentales. La Organización de los Estados Americanos ha dado ciertos pasos para conciliar su carácter de entidad interestatal o intergubernamental –dos conceptos diferentes– con la necesidad de acoger la presencia, los planteamientos y la colaboración de otros agentes de la vida social. Esto abarca, desde hace tiempo, a organismos no gubernamentales comprometidos en la defensa de los derechos humanos, pero podría comprender –salvando 198 algunos obstáculos prácticos, más políticos que jurídicos– a órganos de naturaleza pública que acudan a la Organización con encomienda y voz propias. El mejor ejemplo de esta posibilidad lo provee el ombudsman. Las medidas de apoyo y defensa que la organización se ha visto en la necesidad de adoptar a propósito de defensores particulares de derechos humanos podrían dirigirse también a defensores de otra condición. c) La sociedad civil y sus instituciones En el elenco de los actores o elementos del Sistema Interamericano de Protección se hallan, con gran acento, las instituciones surgidas de la denominada sociedad civil, es decir, grupos populares que adoptan objetivos públicos o sociales relevantes para un sector de la población o para el conjunto de ésta y que no forman parte del Estado, orgánicamente, ni guardan relaciones de compromiso o subordinación con éste. Son expresiones de la libertad, que hallan vías propias de servicio a los ciudadanos o a la comunidad. La importancia de estos agentes en la tarea que ahora examinamos es verdaderamente notable. De su mano llegan a la Comisión y a la Corte las causas de derechos humanos. Han sido el conducto para la atención y la solución de la mayoría de los litigios ventilados ante aquellas instancias del Sistema. El artículo 44 de la Convención Americana reconoce el papel de las organizaciones no gubernamentales. Poseen legitimación para instar la apertura de la vía internacional de protección, a partir de una queja o denuncia, aunque la supuesta violación cometida no afecte al grupo como tal, ni interese específicamente a alguno o algunos de sus integrantes. Otra cosa ocurre en el Sistema Europeo, menos abierto que el Americano en este aspecto. Ciertamente, la función protagónica de las ONG’s, ya muy relevante en el pasado inmediato, prohijada por la misma Convención Americana y prevista en antecedentes y trabajos preparatorios de ésta, ha subido de punto merced a la nueva legitimación que el Reglamento de la Corte Interamericana reconoce a las presuntas víctimas como participantes en el enjuiciamiento sobre derechos humanos, aunque todavía sea opinable su verdadera y plena condición de partes en el sentido procesal de la palabra, no así, por supuesto, en el sentido sustancial. La amplitud de esta legitimación de la víctima en el enjuiciamiento, que confiere a aquélla un papel autónomo en el proceso y un sitial propio ante la Corte, debe suscitar el análisis del ombudsman, que es acompañante ordinario en la lucha de las ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos víctimas –primero en el ámbito nacional, y luego, si es preciso, en el internacional– por la recuperación o el reconocimiento de sus derechos. d) Actores “emergentes” Los protagonistas, agentes o elementos del Sistema –la calificación varía conforme a la perspectiva que se adopte– que he mencionado hasta ahora no agotan la relación contemporánea. A ellos, que han comparecido desde el primer momento, es posible añadir otros, que llamaremos “emergentes” o “nuevos protagonistas”. Son personajes de aparición más o menos reciente en este escenario, cuya presencia es cada vez mejor advertida, admitida –no sin tropiezos– y aprovechada. Corresponden a un amplio horizonte de competencias sociales o públicas y participan con muy diversas capacidades. En el nuevo elenco figuran, por ejemplo, los miembros de la comunidad académica, que han prestado un gran servicio a la causa de los derechos humanos y siguen con atención y espíritu reflexivo los pronunciamientos de los órganos de supervisión y los tribunales internacionales. Cada vez más participativos, han generado una muy amplia bibliohemerografía en el ámbito interamericano. A ésta se añaden cursos, congresos, conferencias, postgrados, etcétera, así como programas específicos de formación y análisis, de los que es buen ejemplo la actividad desplegada por la Universidad de Alcalá, en la que se inscribe el Seminario Internacional de reflexión acerca del papel del ombudsman en la implementación de las recomendaciones y resoluciones internacionales, al que corresponde esta exposición. También es preciso mencionar en la relación de protagonistas emergentes a los medios de comunicación social: tanto los órganos que tienen este objeto social o institucional, como los periodistas y, en general, comunicadores que en ellos laboran y ejercen la libertad de expresión con los rasgos propios de la profesión periodística. Los derechos humanos son tema de todos los días, por “buenas o malas razones”, sea que vengan al caso – como sucede en forma constante– noticias alarmantes sobre violaciones individuales o masivas, sea que corresponda destacar avances importantes o cumplimientos meritorios. Alguna vez han participado organismos vinculados con la comunicación social en procedimientos ante la Corte Interamericana, como sucedió en los trabajos conducentes a la Opinión Consultiva OC-5/85, acerca de La colegiación obligatoria de periodistas, que fijó importantes criterios de la Corte Interamericana en materia de libertad de expresión. Igualmente se han sumado a los actores del Sistema Interamericano –en la versión del Sistema que ahora examino– los integrantes de ciertas profesiones, sean o no funcionarios del Estado, que concurren bajo la calidad de amicus curiae en la tramitación de algunas causas, o bien, agrupaciones profesionales, generalmente de abogados, que recientemente han iniciado tareas para la promoción y defensa de los derechos humanos y la posible actuación sistemática de sus afiliados en procedimientos internacionales. Esto abarca, por ejemplo, a las asociaciones de abogados con ejercicio libre de la profesión, así como a los defensores públicos, cuya presencia en este ámbito es cada vez más significativa. 7 . EL OMBUDSMAN a) Consideración introductoria He dejado para este momento a quien es, en mi concepto, uno de los nuevos actores más relevantes y promisorios de la relación actual de protagonistas del Sistema: el ombudsman. Esta institución ha prosperado en gran número de países bajo diversos nombres y con distintas fuentes y organizaciones. Me refiero, en consecuencia, a defensores del ciudadano, defensores de los habitantes, defensores del pueblo, procuradores de los ciudadanos, comisiones de derechos humanos, mediadores, etcétera, a los que abarcaré con la designación tradicional de ombudsman. Esta figura tutelar, que ya cuenta con una larga historia bisecular, ha ganado terreno y prestigio en América y pudiera jugar –comienza a hacerlo– un papel importante en la protección internacional de los derechos humanos, que no fue el espacio inicial de sus actividades. Es bien sabido que el ombudsman proviene de la legislación sueca, a título de comisionado del Parlamento. Llega al escenario en los primeros años del siglo XIX. Después de una buena gestión en su país de origen, transita hacia otros del conjunto escandinavo. Tiempo más tarde gana plazas en Europa e inicia su tránsito hacia América Latina. Este ha sido otro florecimiento interesante en un Continente donde millares de reformadores y activistas han luchado con ahínco en favor de los derechos humanos –y su tierra fértil, la democracia– y tantas resistencias, ocultas o manifiestas, sigilosas o violentas. Pese a todo, avanza. Cuenta con un lugar distinguido en los preceptos constitucionales derivados de recientes procesos de reforma y tiene presencia en el horizonte de las preocupaciones internacionales. Es interesante mencionar ese desarrollo en países que sólo últimamente consiguieron progresos ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 199 Sergio García Ramírez en el imperio de la efectiva democracia, porque generalmente se ha sostenido –con argumentos estimables– que la aparición y el arraigo del ombudsman se hallan condicionados a la consolidación de las costumbres democráticas, y que difícilmente podrían actuar en medios adversos, donde se cuestionan la respetabilidad misma de esos derechos y su intangibilidad por el poder político. Es verdad que la institución actúa con dificultad en ambientes que son naturalmente desfavorables no sólo al ombudsman, sino a otros medios de tutela con más prolongada historia y más vigorosa tradición, pero también lo es que precisamente en ellos libra algunas de sus batallas más necesarias y renovadoras y logra muy apreciables adelantos. Es difícil poner la pica en Flandes, y más todavía mantenerla. Pero se ha hecho y ha valido la pena. Hay ejemplos a la vista. b) Algunas condiciones sine qua non Por supuesto, cuanto diré ahora acerca del ombudsman y su presencia en la protección internacional de los derechos humanos supone ciertas condiciones insoslayables, que permitirán su operación y le brindarán crédito y respeto en el ámbito que aquí se examina. Son requisitos para que prosiga, con firmeza, su acceso a la nueva función que se analiza y apoya en este trabajo. Entre esos presupuestos sine qua non figuran, obviamente, la verdadera autonomía del ombudsman, la buena fe con que despliegue su actuación y sostenga sus exigencias, y la solidaridad social –una solidaridad de opinión, informada y activa– que le acompañe y sostenga. El ombudsman es un órgano u organismo del Estado; participa de la naturaleza de éste; ha sido instituido por disposición del Estado mismo; se integra merced a decisiones públicas, sea del Poder Legislativo, sea del Poder Ejecutivo. Todo esto es cierto y forma parte de la genealogía y el perfil de la institución, pero nada de ello debiera supeditar la misión del ombudsman a los intereses, dictados o pretensiones de las autoridades cuya actividad está llamado a investigar y valorar (como tampoco de otro género de poderes, formales o informales, éstos cada vez más vigorosos e influyentes). Cualquier concesión en este sentido desfiguraría al ombudsman y labraría su ruina. A los fines de este dato esencial del ombudsman resulta importante una adecuada regulación constitucional. A mi entender, la que mejor se aviene con sus funciones y con las expectativas en torno a ellas es la de órgano constitucional autónomo. Esta definición –como 200 otras del régimen general de la institución– debiera tomar en cuenta la necesidad de que el ombudsman sea en efecto independiente, y además lo parezca ante la mirada escrutadora de la sociedad. Dicho de diversa manera, es menester la observancia de la antigua máxima sobre la mujer del César: que sea honesta y que lo parezca. En segundo término, el ombudsman es una institución de buena fe. Esto implica que debe supeditar sus actuaciones a las normas existentes –nacionales e internacionales– y que constituye, en esencia, una magistratura de la juridicidad. Digo esto sin perjuicio –es obvio y lo subrayo– de las promociones que debe cumplir y las contiendas en que debe participar para la reinterpretación progresiva y la reforma pro homine del orden jurídico, del que no es testigo inerte. Simplemente deseo excluir la parcialidad y la arbitrariedad en el desempeño de la institución. La buena fe reclama que el ombudsman no “sesgue” o “contamine” sus tareas con criterios de política militante, intereses sectoriales, grupales o partidarios, que pudieran desviarlo y, a la postre, desacreditarlo. Por supuesto, los partidos políticos y las confesiones religiosas, las agrupaciones gremiales y profesionales, pueden –y deben– mostrar sus propias convicciones y versiones acerca de los derechos humanos; pero nada de esto es función del ombudsman, que no es ni debe ser visto como “compañero del camino”. Reitero lo que acabo de decir a propósito de la independencia del ombudsman. También aquí es relevante la máxima sobre la mujer del César: ser y parecer. El ombudsman carece de las potestades imperiosas que caracterizan a los tribunales. A veces lo olvidan quienes sugieren dotar de fuerza vinculante directa a sus resoluciones, que dejarían de ser recomendaciones. Pero este giro de ciento ochenta grados convertiría al ombudsman en un tribunal y transformaría radicalmente las reglas del procedimiento que observa desde su origen. Así se perderían muchas de las ventajas que tiene la actuación de aquél conforme a su naturaleza singular, diferente de la que corresponde a los órganos judiciales. El ombudsman se sustenta en la respetabilidad que labra y en la opinión pública que lo secunda, a partir de esa respetabilidad. De aquí deriva su fuerza: autoridad moral con la que ha podido vencer no pocos obstáculos y derribar muchas murallas. Por lo tanto, el ombudsman, acompañante de los ciudadanos y de las víctimas de violaciones a sus derechos humanos, debe hallarse acompañado en estas tareas, a su vez, por ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos una poderosa opinión que lo respalde. En suma, respeto generalizado y opinión pública favorable – más todavía: informada y militante– figuran entre las condiciones para que tenga un exitoso desempeño, lo mismo cuando actúa, como acostumbradamente lo ha hecho, en el plano nacional, que cuando inicia en el internacional labores de su vocación y competencia. c) Estado y ombudsman en la escena internacional. Legitimación del ombudsman y acceso a la justicia Cuando se pretende –como es mi propia posición– que el ombudsman opere en el ámbito de la defensa internacional de los derechos humanos, o bien, en espacios o tareas derivados de ésta, que se presentan en el plano nacional, hay que tomar en cuenta su condición como órgano del Estado. ¿Hasta qué punto un órgano del Estado puede y debe actuar frente o contra el Estado? La respuesta no es sencilla, pero tampoco desvía o cancela necesariamente la conclusión que he mencionado. En seguida formularé algunas consideraciones sobre esta importante cuestión. Entre todos los órganos del Estado, el ombudsman es el único establecido precisamente para defender los derechos humanos frente a las otras instancias públicas, sin constituir o participar en un Poder instituido conforme a los patrones clásicos sobre el ejercicio de la soberanía popular a través de los poderes reconocidos por la doctrina tradicional y la división –o distribución– de funciones entre éstos. La tarea misma de defensa inicia en el fuero doméstico, pero no siempre concluye en éste. Puede proseguir en la vía internacional –subsidiaria o complementaria de la nacional– que se franquea por admisión expresa del ordenamiento doméstico. El hecho de que en el foro internacional comparezca el Estado, a título de demandado o posible demandado, que posee personalidad jurídica internacional para comparecer (procesalmente, legitimación) y cuya responsabilidad se analiza, no impide que el otro sujeto del procedimiento –es decir, la presunta víctima– cuente con el apoyo, la asistencia, la asesoría de quien le brindó este solidario auxilio en la vía interna y pretende seguir, en la externa, la misma tarea a la que le conduce su vocación institucional. No obsta a este fin que el auxilio prestado por el ombudsman provenga de un mandato de ley y no de la benevolencia o filantropía de quienes lo brindan. Ahora no se trata, por cierto, de que el ombudsman se convierta en demandante ante la Corte. Esto es impracticable para aquél y para cualquier otro sujeto que no sea Estado o Comisión Interamericana, en los términos del Pacto de San José. Lo que viene a cuentas es que la institución a la que ahora me refiero asista a la presunta víctima en la atención del litigio en las diversas etapas del tratamiento internacional. En su hora, la víctima será parte procesal (por hoy, incompleta o relativa, a diferencia de lo que ocurre –con ventajas y desventajas– en el sistema europeo), como es parte material del litigio. En cambio, el ombudsman no lo será nunca. Esta misma cuestión conduce a indagar si el ombudsman puede ser denunciante, ante la Comisión Interamericana, de hechos violatorios de los que derive la responsabilidad internacional del Estado. El artículo 44 de la CADH, al que ya me referí, estatuye una amplísima legitimación para denunciar o plantear quejas por violaciones. Cualquier persona puede realizar esta actividad: un individuo, un grupo de individuos o una entidad no gubernamental reconocida. Se ha dicho que en el “espíritu” de esta norma prevalece la idea de que esa “persona” no sea un funcionario del Estado al que se imputa la violación, para evitar confusiones o simulaciones. En mi concepto, esto es discutible como valladar opuesto a la transmisión de conocimiento (denuncia, en rigor) de la violación perpetrada. En todo caso, la valoración de las violaciones supuestamente cometidas no quedará a cargo de quien formula la denuncia, sino del órgano internacional de protección, que en una primera etapa tiene facultades propias de investigación para esclarecer la verdad de los hechos y escapar a la trampa o al subterfugio. En suma, lo que haría el denunciante sería abrir la puerta de la indagación y el conocimiento internacional, situación que difícilmente generaría perjuicio para la presunta víctima o beneficio para el Estado transgresor. Lo que en definitiva acreditaría la pertinencia de aceptar francamente esta intervención denunciante del ombudsman será la forma en que ella se cumpla, o sea, de nueva cuenta, la independencia, buena fe y crédito público que la caractericen, probadas en la práctica. Se observará, pues, bajo la luz del ejercicio que efectivamente tenga la función del organismo en este campo. Empero, si se desea ahuyentar cualquier riesgo – pero al mismo tiempo cancelar o desfavorecer una posibilidad que pudiera ser benéfica para la tutela de los derechos–, se podría sugerir que el organismo se limite a promover la presencia de un particular – la víctima misma, o un tercero– en la presentación y el seguimiento de la denuncia. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 201 Sergio García Ramírez La presencia del ombudsman en el acercamiento de la víctima a la vía internacional – como también, en su caso, a las vías nacionales, materia que no abordo en este trabajo– contribuye a aliviar, ya que no a resolver, uno de los más graves problemas que enfrentamos en este campo, condicionante de la solución de los restantes: el acceso a la justicia, formal y material. Sobre esto abundan los diagnósticos, invariablemente inquietantes, y los requerimientos y propuestas. Hemos planteado con insistencia a la Organización de los Estados Americanos la necesidad de contar con un mecanismo de acceso a la justicia que supere la etapa de las “palabras” –proclamación del derecho a la tutela judicial– por la era de las prácticas – tutela judicial efectiva. En el mismo sentido, con iniciativas concretas, se han pronunciado algunas organizaciones no gubernamentales, como el Centro para la Justicia Internacional (CEJIL). d) Recepción del or den internacional orden Sigamos adelante con las tareas del ombudsman –tareas de Hércules– conectadas a la defensa internacional de los derechos. Desde luego, le compete una doble misión natural: por una parte, favorecer la recepción nacional de las protecciones internacionales; por otro, gestionar la tutela interna en casos concretos, como deber primordial de la jurisdicción doméstica. Ambas cosas se vinculan con la tarea preventiva de violaciones que se halla a cargo del ombudsman –no reducido, por fuerza, a reaccionar frente a violaciones cometidas, que eran probables y previsibles– y con su condición promotora de la cultura de los derechos humanos, que constituye la más preciosa garantía social de aquéllos, aunque sea insuficiente por sí sola. El ombudsman debe llevar el pulso de los movimientos internacionales en la protección de los derechos humanos, en forma sistemática, completa y puntual. Muchos de éstos entrañan una nueva normativa vinculante para el Estado y en todo caso relevante para la sociedad y sus integrantes. Otros pudieran tener menor imperio inmediato. Este depende de las fuentes y características de las recomendaciones, resoluciones, acuerdos, informes, etcétera, que abundan en el panorama internacional. Sin embargo, conviene retener que incluso los señalamientos cuya eficacia vinculante es dudosa, pueden contener la mejor interpretación pro homine de las que ya cuentan con ese imperio, o anunciar, anticipar, preparar la emisión de disposiciones vinculantes o de costumbres internacionales de obligatoria observancia. En definitiva, el ombudsman tiene aquí una importante tarea de 202 preparación normativa y orientación de políticas públicas, bajo el epígrafe del orden internacional. Por lo pronto, estimo absolutamente deseable que el ombudsman, que debe sustentar sus propias determinaciones –recomendaciones generales o especiales, informes, dictámenes, etcétera– en el orden jurídico vigente o en razones que funden el orden jurídico del futuro– utilice en aquéllas con la mayor pertinencia, amplitud y frecuencia los criterios fijados por los organismos internacionales, jurisdiccionales o no jurisdiccionales. Es obvia la relevancia de los criterios establecidos en sede jurisdiccional. Estas referencias a los criterios internacionales sirven a un doble fin. Destacan, en un extremo, la conveniencia de consolidar la fundamentación jurídica de los actos del ombudsman, y ponderan, en el otro, la necesidad de ampliar el conocimiento estatal y social sobre el Derecho internacional de los derechos humanos. Sería pueril suponer que la adopción explícita de tales criterios, su frecuente y enfático manejo, restan méritos a la preparación o a la imaginación y creatividad del ombudsman. Por el contrario, fortalecen al órgano de tutela interna con el escudo que provee el ordenamiento internacional, y contribuyen a la genuina trascendencia de éste en el espacio al que debe llegar: la efectiva protección de los derechos de todas las personas. e) Factor de opinión pública Promotor natural de la cultura de los derechos humanos, forjador de ella, el ombudsman actúa en una doble dirección: hacia el Estado y hacia la sociedad. Debe promover el convencimiento social en torno a los derechos humanos –persuasión que frecuentemente tropieza con un mito o falso dilema, sembrado con torpeza o malicia: derechos humanos o seguridad pública– y movilizar la opinión de la sociedad, proveyéndola al mismo tiempo de adecuada información. Esto atiende a un múltiple designio: fortaleza del propio ombudsman, avance en la recepción del orden internacional por el orden nacional, enriquecido con estándares avanzados, y conversión –en consecuencia– del “derecho débil” en “derecho fuerte”. f) Composición interna e internacional Mencioné la tutela interna, tomando en cuenta las consecuencias internacionales que traen consigo las omisiones o los vacíos en el plano nacional. Esto trae a consideración, de nuevo, el multicitado carácter complementario o subsidiario de la jurisdicción internacional, o bien, visto el tema desde la otra cara de la medalla, la obligación ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Ombudsman y Tutela Interamericana de los Derechos Humanos primordial, original, indeclinable del Estado de respetar y garantizar por sí mismo los derechos y libertades de los individuos. Me parece que el ombudsman debe desplegar toda su perspicacia, energía y autoridad para obtener la solución interna de los litigios, que puede ser total o parcial. Incluso en este segundo caso, servirá a la reducción de la vía internacional a los puntos litigiosos subsistentes de un conflicto que tuvo mayor amplitud. No es posible o deseable utilizar profusamente la asediada vía internacional, que en el ámbito interamericano cuenta con medios muy reducidos para atender un caudal de controversias. De ahí que convenga emprenderla sólo en la medida en que es impracticable la composición interna, a la que contribuye el ombudsman. Debo aclarar –otro énfasis necesario, para evitar interpretaciones erróneas– que no ignoro ni desecho la pertinencia de llevar ciertas causas a la jurisdicción supranacional, con el propósito de obtener definiciones del más amplio alcance –por recepción nacional de criterios internacionales– o desarrollos jurisprudenciales indispensables acerca de temas que no han recibido suficiente atención o solución, o bien, para llamar la atención, instar la justicia y favorecer la prevención de graves violaciones sistemáticas o reiteradas. La composición –autocomposición, quiero decir: unilateral y bilateral, en los sentidos que asignó a esos conceptos el profesor Niceto AlcaláZamora y Castillo– constituye una preciosa alternativa de la solución “oficial” de las controversias a través de procesos formales que culminen en sentencias. El principio de conciliación se halla presente a todo lo largo del procedimiento internacional. Lo está ante la Comisión, a través de una “solución amistosa”, y en la etapa judicial, mediante actos que permiten conocer la existencia de hechos violatorios y asumir, de común acuerdo, las consecuencias respectivas. Por supuesto, me refiero solamente a cuestiones sujetas a la disposición de las partes, no a materias indisponibles para éstas, que las trascienden e interesan directamente al orden público internacional. Hay, pues, puntos de contienda o reparación sustraídos a la composición. Además, cabe que el órgano de tutela internacional resuelva proseguir el examen del caso, por considerarlo necesario desde la perspectiva de la mejor defensa –particular o general– de los derechos humanos. En este campo puede operar con naturalidad y fluidez el ombudsman, como lo hace en la etapa doméstica. Ha crecido apreciablemente el número de casos planteados a la Corte en los que se presenta confesión de hechos y admisión de pretensiones, en forma total o parcial. Con frecuencia se designa a este fenómeno como “reconocimiento de responsabilidad internacional”. La hay, desde luego, y posee consecuencias jurídicas de primer orden, pero para establecerla es preciso que existan actos con caracteres distintivos: confesión (de hechos) y admisión (de pretensiones). El ombudsman puede favorecer, promover o facilitar, desde su trinchera nacional, pero también en el curso del trámite internacional, el entendimiento entre las partes. No siempre existe esta posibilidad en manos de la Comisión Interamericana, aunque forma parte de sus atribuciones y gestiones ordinarias. Por otra parte, la búsqueda de ese entendimiento se halla, en principio, fuera de las atribuciones regulares de la Corte, aun cuando ésta puede alentar acuerdos racionales, sobre todo en materia de reparaciones. g) Ejecución de resoluciones jurisdiccionales También es recomendable, a mi entender, la presencia del ombudsman en la fase de ejecución de resoluciones –principalmente sentencias– del Tribunal Interamericano. La Corte ha sostenido, con sólidas razones, su competencia para conocer sobre la ejecución de las sentencias. Esta facultad es inherente a las atribuciones jurisdiccionales y se halla relacionada, además, con la exigencia convencional de que el Tribunal informe a la Asamblea General de la OEA sobre el cumplimiento que los Estados prestan a sus resoluciones (artículo 65 del Pacto de San José). Las sentencias que dicta la Corte deben ser cumplidas por los Estados a los que se dirigen. No constituyen sugerencias o recomendaciones. Con respecto a ellas no se plantean las cuestiones relativas a su condición vinculante o propositiva, que vienen al caso en lo que respecta a otros acuerdos o requerimientos derivados de instancias internacionales de muy diverso género. Así las cosas, el cumplimiento es deber del Estado, como tal, aunque evidentemente compromete (conforme a la organización interna que establece las respectivas competencias y para los efectos de éstas, no de la tutela jurisdiccional internacional) a ciertos órganos o funcionarios que poseen atribuciones en la materia a la que se refieren los actos de ejecución. El ombudsman, institución del Estado sujeto a sentencia, puede y debe facilitar el cumplimiento de los compromisos adquiridos por éste y de las obligaciones específicas que de aquí resultan, cuya naturaleza y alcance son tema de la sentencia. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 203 Sergio García Ramírez Los medios de que se vale el Tribunal para observar y analizar la ejecución de las condenas son externos a la Corte: informes de los Estados, de la Comisión y de las propias víctimas. Pudiera valerse además de informes aportados por el ombudsman, oficiosamente o a petición de la Corte, una vez previstos y resueltos los problemas que esto pudiera enfrentar en cada ámbito interno. Para el estudio de esta misión, recordemos que en otros ámbitos de reflexión –cuyos argumentos pueden trasladarse a éste– se ha ponderado la pertinencia de disponer de informes o relatorías paralelas, espontáneas, de fuente social. Ofrecen gran utilidad cuando se analiza la situación que guardan los derechos humanos en un país o en una localidad, o se examina la situación que prevalece en torno a determinado derecho o conjunto de derechos o libertades. Permiten un saludable cotejo con los informes oficiales, sea que éstos provengan de los Estados obligados o requeridos, sea que procedan de órganos o mecanismos de una convención o de cierta instancia de la organización de Estados. Esto mismo, llevado a la escala de los casos particulares, puede suceder en lo que toca a las sentencias de la Corte Interamericana. Proveería elementos de juicio a la hora de emitir resoluciones sobre el cumplimiento, que constituyen un quehacer ordinario del Tribunal, o informar anualmente a la Asamblea General de la Organización. Otro tanto se podría decir, quizás, sobre la influencia práctica de las opiniones consultivas, donde existe un espacio de información hasta ahora intacto, cuya relevancia es manifiesta. h) Medidas provisionales Ha crecido la importancia y se ha multiplicado la emisión de medidas provisionales previstas en el Pacto de San José. En esta materia, como en muchas otras, la jurisprudencia de la Corte ha evolucionado significativamente. Las medidas revisten complejidad, por lo que toca a su materia, pero también por lo que concierne a sus destinatarios o beneficiarios. Esto último deriva de la extensión de las medidas a destinatarios no identificados pero individualizables, novedad que constituye una de las más interesantes aportaciones de la jurisprudencia interamericana de los últimos años. A ella me he referido en mi Voto razonado para la resolución dictada en el Caso de la Comunidad de Paz de San José de Apartadó, Colombia, resolución en la que por primera vez se dispuso esa extensión. Me remito a las consideraciones que formulo en ese Voto. La Corte suele disponer las medidas una vez que advierte, prima facie, la existencia de motivos 204 para ello, vinculados –en los términos de la CADH– a la gravedad y urgencia de la situación y al riesgo de daños irreparables para las personas. Más tarde, deberá resolver acerca de la ampliación, continuación, modificación o supresión de las medidas. Además, el Tribunal suele involucrar a los propios destinatarios, conjuntamente con las autoridades que deben adoptar las medidas, en el diseño concreto y funcional de éstas, con el propósito de generar un consenso favorable a la eficacia de las providencias dispuestas. De lo anterior se advierte la necesidad de contar con un puntual conocimiento de las personas y las circunstancias, así como con la más objetiva y completa información acerca de la situación que determina la adopción de medidas, los elementos para que éstas operen y los resultados que tienen. Nuevamente, la Corte se vale de informes provistos por el Estado, la Comisión y los beneficiarios o sus representantes. Si quedara bien establecida la autonomía, buena fe y objetividad del ombudsman, éste se hallaría en condiciones de cumplir una función de primera importancia tanto para la adopción y modificación razonadas de las medidas, como para la concertación de voluntades y acciones conducentes a la obtención de los fines propuestos. i ) Amicus curiae En la tradición de la Corte Interamericana se contempla la frecuente actuación de los “amigos de la curia”, promotores de justicia y en todo caso proveedores de argumentos y razones, que el Tribunal recibe de buen grado y considera en el análisis de las opiniones consultivas y de las sentencias que emite. En las publicaciones que recogen estas decisiones – sobre todo las opiniones consultivas– hay constancia sobre la recepción de tales elementos adicionales para la reflexión del Tribunal. Como antes señalé, el ombudsman ha intervenido a título de amicus curiae en opiniones consultivas y podría hacerlo –como ya lo hacen otras personas y organismos– en asuntos contenciosos. Mencionaré, por ejemplo, la participación que tuvo el ombudsman en el examen conducente a la Opinión Consultiva OC-18/03, del 17 de septiembre de 2003, sobre Condición jurídica y derechos de los migrantes indocumentados. La actuación de aquel órgano en este campo le permite participar en la reflexión jurídica que sustenta una opinión o una sentencia, y por lo tanto en la formación misma del Derecho internacional de los derechos humanos. Su opinión calificada aporta elementos valiosos al análisis que debe hacer el Tribunal sobre las preguntas que se le formulan o los litigios que se le someten. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Los Derechos de las Mujeres y la Jurisdicción Interamericana de Derechos Humanos 8 . EPÍLOGO He procurado exponer los nuevos territorios que puede atender el ombudsman, actor igualmente nuevo en el Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos. Hay que dar mayores pasos en este sentido. Brindaría un servicio eminente al buen cumplimiento de la misión encomendada al ombudsman o defensor del pueblo en Iberoamerica y permitiría su mejor desarrollo en la actual etapa. En ella se suceden con celeridad –y entre riesgos manifiestos– las horas de fundación y consolidación. Es preciso aprovechar este tiempo para proponer e iniciar tareas que concurran al desenvolvimiento de una institución que no debe plegarse en sus trabajos tradicionales, sino encaminar la marcha, conforme a su naturaleza y a la luz de la circunstancia cambiante, en el renovado escenario que plantean las condiciones y exigencias de nuestro tiempo. Evidentemente, el quehacer del ombudsman en el marco de la protección internacional de los derechos humanos –y el papel que adquiere de esta manera– sigue el paso e ingresa en la dirección que plantean los avances constantes de la jurisdicción interamericana. Tómese en cuenta, para valorar esta situación y sus implicaciones, la forma en que esa jurisprudencia mueve las fronteras o precisa el alcance de derechos y libertades convencionales, con aplicación del principio pro homine; detalla o amplía la atribuibilidad de hechos ilícitos al Estado (conductas omisivas de órganos y funcionarios, y comportamientos de terceros); progresa en la relación de consecuencias del hecho ilícito (reparaciones de diverso género); extiende los beneficios de las medidas provisionales, y despacha su competencia para supervisar el cumplimiento de las resoluciones que dicta. Espero que se halle cercana la hora en que el ombudsman asuma ante la Oganización de los Estados Americanos, por los medios y procedimientos pertinentes, una función coadyuvante –sin conflicto con los Estados– en alguna medida similar a la que ya tiene la sociedad civil. Esta participa con profundidad en el desarrollo del Sistema Interamericano de Protección de los Derechos Humanos y hace acto de presencia en las jornadas de reflexión sobre dicho Sistema en el foro de la Organización de los Estados Americanos. Otro tanto podría hacer el ombudsman. * Disertación en el Seminario Internacional “La implementación por las Defensorías del Pueblo de las recomendaciones de los organismos internacionales sobre derechos humanos”. Centro de Iniciativas de Cooperación al Desarrollo, Universidad de Alcalá, España/Oficina Regional para América Latina y el Caribe del Alto Comisionado de Naciones Unidas para los Derechos Humanos/Agencia Española de Cooperación Internacional. Cartagena de Indias, Colombia, 17 de abril de 2007. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 205 Sílvia Maria da Silveira Loureiro 206 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença CASO XIMENES LOPES VERSUS BRASIL: O CUMPRIMENTO INTEGRAL DA SENTENÇA ••••••••••••••••••••••••••• SÍL VIA MARIA D A SIL VEIRA LOUREIRO SÍLVIA DA SILVEIRA Mestre em Direito pela Universidade de Brasília; Especialista em Direito Processual pelo Instituto Superior de Administração e Economia da Amazônia/Fundação Getúlio Vargas; Professora da Universidade do Estado do Amazonas e Advogada INTRODUÇÃO Nas audiências públicas realizadas nos dias 29 e 30 de março de 2.006, durante o histórico XXVII Período Extraordinário de Sessões da Corte Interamericana de Direitos Humanos, celebrado pela primeira vez no Brasil, as pessoas presentes no auditório repleto do Superior Tribunal de Justiça, em Brasília, ouviram os testemunhos de luta por Justiça dos familiares das presumidas vítimas nos casos Almonacid Arellano vs. Chile e Vargas Areco vs. Paraguai, bem como o clamor dos representantes das presumidas vítimas no caso das medidas provisórias para a Penitenciária de Mendonza na Argentina contra a violação sistemática de direitos humanos. Particularmente, no caso Vargas Areco vs. Paraguai1, o testemunho, em guarani, do irmão da presumida vítima deixou registrado com o termo opa’rei o desalento e o receio sentidos, até então, por sua família, pois, se não fosse o trâmite internacional da demanda contra o Estado do Paraguai perante o sistema interamericano de proteção dos direitos humanos, o recrutamento militar ilegal e a morte violenta do adolescente Geraldo Vargas Areco certamente seria mais um acontecimento que terminaria no esquecimento e na impunidade.2 Meses depois, outro acontecimento histórico marca a trajetória da proteção dos direitos humanos no Brasil, quando em 04 de julho desse mesmo ano, a Corte Interamericana de Direitos Humanos profere a primeira sentença de mérito, reparações e custas, condenando o Estado brasileiro no caso Ximenes Lopes pela violação aos artigos 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 8 (garantias judiciais) e 25 (proteção judicial) em correlação com o artigo 1.1 (obrigação de respeitar os direitos), todos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos3. Esse caso emblemático relata a história de Damião Ximenes Lopes, pessoa portadora de transtornos mentais que faleceu no dia 04 de outubro de 1.999, sem cuidados médicos, após ter sido submetido à violenta contenção física, torturas e tratamentos desumanos, nas dependências da Casa de Repouso Guararapes, a qual era uma clínica psiquiátrica da cidade de Sobral, Estado do Ceará, conveniada ao Sistema Único de Saúde – S.U.S.4 Desde então, os familiares de Damião Ximenes Lopes recorreram aos Poderes Públicos locais, para que os fatos fossem investigados e para que os responsáveis por sua morte fossem julgados e punidos penal e civilmente, tal como se iniciam milhares de outros casos brasileiros que, após décadas de sofrimento das vítimas ou de seus familiares acabam caracterizando-se pelo opa’rei latino-americano. Porém, em 22 de novembro de 1.999, a senhora Irene Ximenes Lopes Miranda, diante dos abusos cometidos logo na fase preliminar de investigação policial do caso, apresentou uma petição perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos contra o Estado brasileiro, denunciando os fatos ocorridos em prejuízo de seu irmão. Admitido o caso perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos, o Estado brasileiro decide romper com a inércia silenciosa mantida durante o trâmite da denúncia perante a Comissão Interamericana, por meio da oposição intempestiva de uma exceção preliminar, argüindo o não esgotamento prévio da jurisdição nacional5. Sem êxito, o Estado brasileiro, no início da audiência pública realizada no dia 1º. de dezembro de 2005, na sede da Corte, manifestou o reconhecimento de sua responsabilidade internacional pela violação dos artigos 4 e 5 da ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 207 Sílvia Maria da Silveira Loureiro Convenção Americana em demonstração de seu compromisso com a tutela dos direitos humanos. No entanto, o Estado brasileiro não aceitou o pleito indenizatório e alegou, em síntese, não ter violado os artigos 8 e 25 do referido pacto, pois, considera que o trâmite interno dos processos penal e civil ajuizados pelos familiares de Damião Ximenes Lopes têm transcorrido na forma e no prazo da legislação interna, o que levou ao prosseguimento do julgamento do caso perante o Tribunal Interamericano quanto a estes pontos controvertidos até a prolação da sentença condenatória supra referida. Nesse contexto, a sentença proferida pela Corte Interamericana no caso Ximenes Lopes vs. Brasil, em 04 de julho de 2.006, é um marco histórico inquestionável6, mas o passo seguinte nessa luta contra o opa’rei latino-americano não pode ser descuidado, qual seja, o cumprimento integral desta sentença, na forma e no prazo por ela dispostos, conforme a seguir transcrito: “6. El Estado debe garantizar, en un plazo razonable, que el proceso interno tendiente a investigar y sancionar a los responsables de los hechos de este caso surta sus debidos efectos, en los términos de los párrafos 245 a 248 de la presente Sentencia. 7. El Estado debe publicar, en el plazo de seis meses, en el Diario Oficial y en otro diario de amplia circulación nacional, por una sola vez, el Capítulo VII relativo a los Hechos Probados de esta Sentencia, sin las notas al pie de página correspondientes, así como la parte resolutiva de la presente Sentencia, en los términos del párrafo 249 de la misma. 8. El Estado debe continuar desarrollando un programa de formación y capacitación para el personal médico, psiquiátrico, psicológico, de enfermería, auxiliares de enfermería y para todas aquellas personas vinculadas con la atención de salud mental, en particular, sobre los principios que deben regir el trato de las personas que padecen discapacidades mentales, conforme a los estándares internacionales en la materia y aquellos establecidos en la presente Sentencia, en los términos del párrafo 250 de la misma. 9. El Estado debe pagar en efectivo a las señoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda, en el plazo de un año, por concepto de la indemnización por daño material, la cantidad fijada en los párrafos 225 y 226 de la presente Sentencia, en los términos de los párrafos 224 a 226 de la misma. 208 10. El Estado debe pagar en efectivo a las señoras Albertina Viana Lopes e Irene Ximenes Lopes Miranda, y los señores Francisco Leopoldino Lopes y Cosme Ximenes Lopes, en el plazo de un año, por concepto de la indemnización por daño inmaterial, la cantidad fijada en el párrafo 238 de la presente Sentencia, en los términos de los párrafos 237 a 239 de la misma. 11. El Estado debe pagar en efectivo, en el plazo de un año, por concepto de costas y gastos generados en el ámbito interno y en el proceso internacional ante el sistema interamericano de protección de los derechos humanos, la cantidad fijada en el párrafo 253 de la presente Sentencia, la cual deberá ser entregada a la señora Albertina Viana Lopes, en los términos de los párrafos 252 a 253 de la misma. 12. Supervisará el cumplimiento íntegro de esta Sentencia, y dará por concluido el presente caso una vez que el Estado haya dado cabal cumplimiento a lo dispuesto en la misma. Dentro del plazo de un año, contado a partir de la notificación de esta Sentencia, el Estado deberá rendir a la Corte un informe sobre las 7 medidas adoptadas para darle cumplimiento .” O objetivo do presente estudo, portanto, reside na reflexão sobre o aspecto do efetivo cumprimento da sentença interamericana, e mais precisamente ainda, no modo como o Estado brasileiro, que é um Estado federal, poderá dar cumprimento ao dever de garantir que, em um prazo razoável, sejam investigados os fatos e sancionados os responsáveis pela morte de Damião Ximenes Lopes, transcorridos mais de seis anos sem que tenha havido uma decisão do Poder Judiciário local. Para desenvolver esta análise, necessário se faz, preliminarmente, caracterizar os tratados internacionais sobre direitos humanos, distinguindo-os dos demais tipos de tratados internacionais. Em seguida, enfocando-se as disposições da Convenção Americana sobre os deveres dos Estados e os direitos protegidos, devese examinar o impacto destas obrigações no ordenamento jurídico interno e na estrutura políticoadministrativa dos Estados Partes. Por fim, deve ser referida a questão da responsabilidade internacional dos Estados Partes desencadeada pela violação destas obrigações internacionais assumidas ao ratificar a Convenção Americana. Em uma segunda etapa, ainda com foco nas disposições da Convenção Americana, estuda-se a obrigação processual de cumprir o disposto nas sentenças da Corte Interamericana, para, em ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença seguida, no marco do caso Ximenes Lopes vs. Brasil, discutir o modo pelo qual, em um prazo razoável, será dado cumprimento, sobretudo, ao disposto no ponto resolutivo nº. 06 da sentença Interamericana, supra transcrito. Após todo o exposto, sustenta-se, em última análise, a possibilidade de aplicação imediata do incidente de deslocamento de competência introduzido no inciso V-A e parágrafo 5º. acrescidos ao artigo 109 da Constituição Federal de 1.988, pela Emenda Constitucional nº. 45 de 08 de dezembro de 2.004, para que o Estado brasileiro cumpra o disposto no ponto resolutivo nº. 6 da sentença, a fim de evitar-se a reincidência da responsabilização internacional do Brasil, desta feita, pela violação da obrigação processual de cumprir as sentenças da Corte Interamericana. 1 . A NA TUREZA JURÍDIC A NATUREZA JURÍDICA ESPECIAL DOS TRA TADOS TRAT INTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS O trauma da comunidade internacional face à sua paralisia diante dos massacres cometidos no “mundo civilizado” durante as duas grandes guerras da primeira metade do século XX, deixou como legado a consciência de que a proteção dos direitos humanos é uma questão que ultrapassava as fronteiras dos Estados, isto é, não pode mais ser vista como questão de domínio reservado estatal ou de competência nacional exclusiva. A partir de então, inicia-se o processo de elaboração e de generalização dos instrumentos de proteção internacional dos direitos humanos, elaborados principalmente após 1.948, os quais reúnem características que lhes conferem natureza jurídica especial, diferenciando-os, em múltiplos aspectos, dos demais tratados internacionais tradicionais, a começar pelos próprios elementos da relação jurídica obrigacional estabelecida em ambos os tipos de tratados, consoante se passa a analisar. Em primeiro lugar, os tratados internacionais de proteção dos direitos humanos estabelecem vínculos jurídicos intra-estatais, diferentemente dos demais tratados internacionais tradicionais que estabelecem vínculos jurídicos inter-estatais ou inter-organizacionais. Muito embora ambos os tratados sejam firmados entre Estados, de forma multilateral, geralmente sob os auspícios de uma organização internacional, é certo que os tratados internacionais tradicionais se limitam a estabelecer compromissos de concessões ou vantagens recíprocas, sujeitos ao voluntarismo dos Estados Partes. Nos tratados internacionais de direitos humanos, os Estados Partes assumem obrigações objetivas de proteção da pessoa humana, a serem cumpridas por todos, através de mecanismos de supervisão e implementação previstos nestes mesmos pactos. Dessa primeira distinção decorre o status do ser humano como sujeito ativo dos direitos protegidos pelos tratados de direitos humanos, os quais lhe conferem titularidade e legitimidade para reivindicá-los tanto em face do Estado a cuja jurisdição esteja submetido, como em face de outros Estados Partes, independentemente de vínculo de nacionalidade ou de qualquer outra formalidade diplomática como, por exemplo, o endosso. Por outro lado, os Estados Partes figuram como sujeitos passivos, titulares dos deveres de proteção do ser humano e garantes da inviolabilidade de seus direitos. Por conseguinte, os tratados internacionais de direitos humanos também não podem ser equiparados aos demais tratados tradicionais quanto ao objeto, qual seja, as obrigações de proteção dos direitos fundamentais do ser humano sob sua jurisdição, com efeitos erga omnes, e cogentes consoante serão estudadas mais detidamente na etapa seguinte deste texto. Em suma, a Opinião Consultiva nº. 2/82 proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanas pontificou que: “(...) los tratados modernos sobre derechos humanos, en general, y en particular, la Convención Americana, no son tratados multilaterales de tipo tradicional, concluidos en función de un intercambio recíproco de derechos, para el beneficio mutuo de los Estados contratantes. Su objeto y fin son la protección de los derechos fundamentales de los seres humanos, independientemente de su nacionalidad, tanto frente a su propio Estado como frente a los otros Estados contratantes. Al aprobar estos tratados sobre derechos humanos, los Estados se someten a un orden legal dentro del cual ellos, por el bien común, asumen varias obligaciones, no en relación con otros Estados, sino hacia los individuos bajo 8 su jurisdicción.” Sob esse prisma, diante da especificidade reconhecida aos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos, podem ser identificadas outras distinções importantes em relação aos tratados internacionais tradicionais, no que tange à aspectos dinâmicos, como, as reservas, a denúncia e a vigência, os quais significam limites ao voluntarismo estatal, ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 209 Sílvia Maria da Silveira Loureiro objetivando a realização dos fins dos tratados internacionais de direitos humanos. Enfim, como regra, os conflitos decorrentes do descumprimento das cláusulas de trados tradicionais estão sujeitos ao sistema clássico de solução pacífica de controvérsias, enquanto que, no caso de tratados internacionais de direitos humanos, os conflitos decorrentes da violação do dever geral de proteção ou da inobservância de suas cláusulas particulares de garantia são submetidos a mecanismos de supervisão internacional, consoante será examinado no terceiro item deste estudo. Notar esta especificidade dos tratados internacionais de proteção dos direitos humanos significa, portanto, superar o conceito formalista de que todos os tratados internacionais são um mero instrumento que veicula os mais variados conteúdos jurídicos ou não jurídicos, comparáveis de acordo com esta concepção, às leis ordinárias vigentes nos ordenamentos jurídicos internos. 2 . AS OBRIGAÇÕES MA TERIAIS MATERIAIS DA CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS Conforme supra dissertado, as obrigações subjetivas dos tratados internacionais tradicionais estabelecem prestações de benefício recíproco entre os Estados pactuantes, enquanto que as obrigações dos tratados de direitos humanos são de caráter objetivo, com efeitos erga omnes e emanadas do jus cogens, visando, sobretudo, à proteção dos indivíduos ou grupo de indivíduos sob a jurisdição estatal, independentemente de vínculo de nacionalidade ou qualquer outra formalidade diplomática. Ressalte-se, ademais, que, ao ratificar os tratados de direitos humanos, como a Convenção Americana, os Estados Partes contraem não apenas obrigações de garantia da não violação dos direitos catalogados, mas também, e principalmente, aceitam a atuação dos órgãos de supervisão e os meios de implementação das obrigações assumidas. O entendimento preciso e claro do amplo alcance dessas obrigações internacionais de proteção, de natureza material e processual, e a sua repercussão no ordenamento jurídico e na estrutura político-administrativa dos Estados Partes nesses tratados é o intuito da análise dos itens seguintes, pois, como pontifica A. A. Cançado Trindade, ao avaliar criticamente as expressões “margem de apreciação” e “Quarta Instância”: ‘No dia em que prevalecer uma clara compreensão do amplo alcance das obrigações 210 internacionais de proteção, haverá uma mudança de mentalidade, que, por sua vez, fomentará novos avanços neste domínio de proteção. Enquanto perdurar a atual mentalidade, conceitualmente confusa e portanto defensiva e insegura, persistirão as deferências indevidas ao direito interno, cujas insuficiências e deficiências ironicamente requerem a operação dos mecanismos de proteção internacional. A aplicação da normativa internacional tem o propósito de aperfeiçoar, e não de desafiar, a normativa interna, em 9 benefício dos seres humanos protegidos.” Sendo assim, ao ratificar um tratado internacional para proteção dos seres humanos, como in casu, a Convenção Americana, os Estados Partes, contraem obrigações materiais específicas relacionadas com o dever de respeitar cada um dos direitos protegidos, e assumem obrigações materiais gerais estabelecidas nos artigos 1.1 (obrigação de respeitar os direitos) e 2 (dever de adotar disposições de direito interno), ambos do pacto em exame Essas obrigações gerais implicam no compromisso dos Estados Partes na Convenção Americana de respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação de qualquer natureza, bem como gera o compromisso de adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições desta convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.10 E, nesse sentido, A. A. Cançado Trindade assevera que: “Como neste final de século o que se requer sobretudo é uma mudança de mentalidade, cabe, neste propósito, ter sempre presente que as disposições dos tratados de direitos humanos vinculam não só os governos (como equivocada e comumente se supõe), mas, mais do que isto, os Estados (todos os seus poderes, órgãos, e agentes); é chegado o tempo de precisar, por conseguinte, o alcance não só das obrigações executivas, mas também das obrigações legislativas e judiciais dos Estados 11 Partes nos tratados de direitos humanos.” Na esteira do ensinamento de A. A. Cançado Trindade, a obrigação geral de respeitar os direitos protegidos não vincula apenas o Governo, assim entendido em sentido estrito e habitual, como órgão do Estado que exerce a função executiva, mas, sim, repercute em toda a estrutura políticoadministrativa interna do ente estatal, posto que a ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença obrigação geral de respeitar os direitos protegidos prevista no artigo 1.1 da Convenção Americana gera efeitos sobre os órgãos constitucionais do Estado (Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário), sobre os órgãos da Administração Pública, sobre os agentes públicos (agentes políticos ou agentes administrativos) e, inclusive, sobre os terceiros particulares sob a jurisdição estatal. Alem disso, no caso de um Estado Parte que adota a forma federativa, como o Estado brasileiro, apesar da União ser o ente federado competente para travar relações internacionais, através do Chefe do Poder Executivo, os efeitos da adesão à Convenção Americana também repercutem sobre as demais pessoas jurídicas de direito público interno. O Estado Parte, por intermédio da União federal, não pode, por conseguinte, eximir-se de seu dever de garantia alegando que a ocorrência de violação de direitos humanos foi praticada pelos Poderes locais, pela Administração Pública local e seus agentes públicos ou pelos terceiros particulares, nos limites territoriais e da competência dos demais entes federados. Nesse sentido, dispõe o artigo 28 (cláusula federal) da Convenção Americana: “1. Quando se tratar de um Estado Parte constituído como Estado federal, o governo nacional do aludido Estado Parte cumprirá todas as disposições da presente Convenção, relacionadas com as matérias sobre as quais exerce competência legislativa e judicial. 2. No tocante às disposições relativas às matérias que correspondem à competência das entidades componentes da federação, o governo nacional deve tomar imediatamente as medida das pertinentes, em conformidade com sua constituição e suas leis, a fim de que as autoridades competentes das referidas entidades possam adotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta Convenção. 3. Quando dois ou mais Estados Partes decidirem constituir entre eles uma federação ou outro tipo de associação, diligenciarão no sentido de que o pacto comunitário respectivo contenha as disposições necessárias para que continuem sendo efetivas no novo Estado assim organizado as normas da presente Convenção.” Posta assim a questão, a obrigação geral de respeitar os direitos humanos protegidos pela Convenção Americana se traduz para o Poder Executivo, preleciona Cançado Trindade, no dever de “organizar o poder público para garantir a todas as pessoas sob sua jurisdição o livre e pleno exercício de tais direitos.”12 Isso significa que a estrutura governamental deve adotar medidas, no âmbito de sua competência constitucional, para implementar administrativamente tais direitos e garantias protegidos bem como prevenir sua violação. Ocorrendo tais violações, cabe-lhe investigar sua autoria e promover a ação judicial cabível. Comprovados os danos produzidos, deve ainda promover, além da responsabilização dos agentes, a reparação das vítimas. Para o Poder Legislativo, o dever geral de proteção dos direitos e liberdades consagrados na Convenção soma-se ao dever de adequação do direito interno à normativa internacional de proteção dos direitos humanos, prevista no referido artigo 2 da Convenção Americana. Esta adequação referida revela-se, segundo a lição de Cançado Trindade, ou na regulamentação dos tratados para assegurar-lhes eficácia no direito interno, ou na alteração das leis nacionais para harmonizá-las com as disposições convencionais internacionais, ou, ainda, permitase-nos acrescentar, na abstenção de editar leis restritivas ou supressivas de direitos e garantias assegurados.13 Ao Poder Judiciário, por sua vez, compete a interpretação e aplicação harmoniosa das normas constantes dos tratados internacionais de proteção de direitos humanos com as normas do direito interno, em conformidade com os princípios e valores democráticos que lhes são peculiares, traduzindo-se na obrigação geral de que “as sentenças dos tribunais nacionais devem tomar em devida conta as disposições convencionais dos tratados de direitos humanos que vinculam o país em questão”14, assim como, em caso de conflitos normativos, devem aplicar a norma mais favorável à vítima. Nessa esteira, necessário se faz esclarecer ainda que o artigo 2 da Convenção Americana tem o propósito de evidenciar uma regra elementar do Direito Internacional, ao estabelecer uma obrigação adicional aos Estados Partes no sentido de que devem remover qualquer óbice à plena vigência e executoriedade dos direitos internacionalmente protegidos, no plano do direito interno de cada país, afastando a interpretação dualista que, maliciosamente, poderia se utilizar para eximir um Estado Parte de dar eficácia e aplicabilidade aos referidos direitos pactuados por falta de legislação nacional. Esse entendimento reflete a Opinião Consultiva nº 7, proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, segundo a qual o artigo 2 da ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 211 Sílvia Maria da Silveira Loureiro Convenção recolhe uma regra básica do direito internacional no sentido de que todo o Estado Parte em um tratado tem “el deber jurídico de adoptar las medidas necesarias para cumplir con sus obligaciones conforme al tratado, sean dichas medidas legislativas o de otra índole.”15 Ainda conforme a Opinião Consultiva mencionada, em sua Opinión Separada, o Juiz Hector Gros Espiell deixou consignado que: “Es evidente que este artículo de la Convención impone el deber a los Estados Partes de adoptar las medidas requeridas para hacer efectivos los derechos y libertades reconocidos por la Convención. El ser de estos derechos no está condicionado a la existencia de normas pertinentes en el derecho interno de los Estados Partes. Pero estos Estados se hallan obligados a adoptar las medidas legislativas o de otro carácter, si no existieran ya, para hacer “efectivos” tales derechos y libertades. Se trata de una obligación adicional, que se suma a la impuesta por el artículo 1 de la Convención dirigida a hacer más determinante y cierto el respeto de los derechos y libertades que la Convención reconoce. Por eso es que la obligación que resulta del artículo 2, complementa, pero de ninguna manera sustituye o suple, a la obligación general y no 16 condicionada que resulta del artículo 1.” Em análise última, com fundamento no Voto Razonado de A. A. Cançado Trindade referente à recente sentença da Corte Interamericana no caso Masacre del Pueblo Bello vs. Colômbia 17 , as obrigações gerais de respeitar os direitos protegidos e de adotar disposições de direito interno (artigos 1.1 e 2) abarcam e se correlacionam com todos os direitos protegidos pela Convenção Americana e revelam o caráter erga omnes de proteção das obrigações específicas de salvaguarda de cada um destes direitos. Ainda com base no citado voto de A. A. Cançado Trindade18, é necessário frisar que as obrigações gerais dos artigos 1.1 e 2 da Convenção Americana não são um acessório das obrigações específicas referentes a cada um dos direitos protegidos neste pacto, mas são obrigações autônomas cuja violação, por si só, sem mencionar qualquer outra obrigação específica, pode gerar responsabilidade internacional do Estado. 212 3 . A RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DOS EST ADOS PAR TES PEL A ESTADOS PARTES VIOL AÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS Em linhas gerais, de acordo com o exposto no item anterior, o Estado, ao ratificar, por ato soberano e de boa fé, um tratado internacional de direitos humanos, contrai obrigações no plano do direito internacional que têm como objeto a proteção dos indivíduos ou grupo de indivíduos sob sua jurisdição. Estas obrigações com efeitos erga omnes e decorrentes do jus cogens criam para o Estado Parte os deveres convencionados de proteção e de garantia dos direitos e liberdades destinados aos seres humanos. No entanto, o descumprimento das obrigações pactuadas desencadeia para o Estado Parte a imputação da responsabilidade internacional e a conseqüente obrigação de reparar19 os danos causados às vítimas e seus familiares e de fazer cessar imediatamente as violações. Essa responsabilidade internacional imputada ao Estado Parte pela violação de quaisquer das obrigações materiais gerais ou específicas pactuadas em tratados de proteção de direitos humanos é de natureza objetiva, ou seja, o Estado Parte é internacionalmente responsável ainda que estas violações decorram das práticas comissivas ou omissivas das suas pessoas jurídicas de direito público interno, órgãos, agentes públicos ou terceiros particulares. Ademais, na esteira das considerações supra acerca do disposto no artigo 2 da Convenção Americana, alerta Cançado Trindade que: “O Estado pode perfeitamente ser responsabilizado no plano internacional pelo descumprimento de normas convencionais, ainda que busque este estribar-se em lei ou norma constitucional interna; (...). Parece-me claríssimo que leis posteriores não podem ‘revogar’ ou ‘derrogar’ normas convencionais que vinculam o Estado, mormente no presente domínio de proteção. Em nada surpreende que a Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados de 1969 (seguida pela Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados entre Estados e Organizações Internacionais ou entre Organizações Internacionais de 1986), ao dispor sobre a extinção ou suspensão de um tratado em decorrência de sua violação excetue expressamente as ‘disposições sobre a proteção ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença da pessoa humana contidas em tratados de caráter humanitário’ (artigo 60, parágrafo 5), em uma verdadeira cláusula de salvaguarda ou defesa dos seres humanos. Ademais a referida Convenção de Viena proíbe que uma Parte invoque disposições de seu direito interno para tentar justificar o inadimplemento de um tratado (artigo 27). É este um preceito, mais do que do direito dos tratados,, do direito da responsabilidade internacional do Estado, firmemente cristalizado na jurisprudência internacional. Segundo esta, as supostas ou alegadas dificuldades de direito interno são um simples fato, e não eximem os Estados Partes em tratados internacionais de direitos humanos da responsabilidade internacional pelo não cumprimento das obrigações 20 internacionais contraídas”. A imputação da responsabilidade internacional a um Estado Parte na Convenção Americana se efetua mediante a atuação judicial da Corte Interamericana de Direitos Humanos, após a determinação dos fatos relacionados a um caso concreto submetido ao conhecimento deste Tribunal através da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. É válido ressaltar, de acordo com o artigo 44 da Convenção Americana, que qualquer pessoa ou grupo de pessoas podem apresentar perante a Comissão Interamericana petições que contenham denúncias ou queixas de violações das obrigações internacionais pactuadas por um Estado Parte,21 e, para que esta petição seja admitida, é necessário, dentre outros requisitos previstos no artigo 46.1 do mencionado pacto: “a) que hajam sido interpostos e esgotados todos os recursos da jurisdição interna, de acordo com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos; b) que seja apresentada dentro do prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificada decisão definitiva;” Neste ponto, duas questões devem ser lembradas: Em primeiro lugar, deve-se destacar, mais uma vez, a importância da superação dos velhos obstáculos à proteção internacional dos direitos humanos por meio da erosão da objeção de competência nacional exclusiva ou de domínio reservado do Estado, para, nesta etapa do presente estudo, afirmar a cristalização da capacidade processual internacional do ser humano nos sistemas de petições individuais dirigidas aos órgãos de supervisão internacional e implementação dos tratados de direitos humanos. Nesse sentido, é clara a lição de Cançado Trindade: “Fator determinante da posição dos indivíduos em um sistema de proteção internacional reside no reconhecimento de sua capacidade processual, i. e., de seu direito de recorrer a um órgão de supervisão internacional. No passado, a negação de status internacional aos indivíduos (capacitados a agir apenas através de seus próprios Estados) enfatizou de modo grave as conotações políticas das relações internacionais para a solução de reclamações ou litígios. O reconhecimento e a cristalização da capacidade processual dos indivíduos (tornando irrelevante o vínculo da nacionalidade) e do direito de petição individual a nível internacional vieram, assim, no contexto da proteção dos direitos humanos, a sanar e superar as insuficiências e os defeitos do sistema tradicional de proteção diplomática interestatal discricionária. No novo sistema de proteção, em que se reconheceu acesso direito dos indivíduos a órgãos internacionais, tornou-se patente o reconhecimento de que os direitos humanos protegidos são inerentes 22 à pessoa humana e não derivam do Estado”. Cumpre registrar, neste processo de consolidação do status do ser humano como sujeito de direito internacional, no âmbito do sistema interamericano de proteção dos direitos humanos, o reconhecimento do jus standi das presumidas vítimas, seus familiares ou representantes perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos, em virtude dos artigos 2(23) e 23(1) do Regulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanos, aprovado pela Resolução de 24 de novembro de 2.000, e em vigor desde 1o. de junho de 2.001, que dispõem: “Artículo 2. Definiciones (omissis) 23. la expresión “partes en el caso” significa la víctima o la presunta víctima, el Estado, y, sólo procesalmente, la Comisión;” E, principalmente: “Artículo 23. Participación de las presuntas víctimas Después de admitida la demanda, las presuntas víctimas, sus familiares o sus representantes debidamente acreditados podrán presentar sus solicitudes, argumentos y pruebas en forma autónoma durante todo el proceso.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 213 Sílvia Maria da Silveira Loureiro Em segundo lugar, a superação desses óbices antes impostos pelo Direito Internacional clássico abre a possibilidade de interação entre o direito internacional e o direito interno dos Estados na busca da efetiva proteção do ser humano, enquanto objetivo convergente, permitindo, desta forma, que a jurisdição internacional coopere com a jurisdição nacional, para a solução das violações de direitos humanos decorrentes de abusos e impunidade. Nesse sentido, merecem ser destacados os dados estatísticos do relatório “A Corte Interamericana de Direitos Humanos 25 Anos”, a seguir transcritos, os quais revelam que os casos apresentados perante a Corte Interamericana, freqüentemente, reportam as violações do direito à proteção judicial e às garantias judiciais por um Estado Parte, previstos nos artigos 25 e 8 da Convenção Americana, sempre correlacionados com a violação da obrigação geral de respeitar os direitos protegidos prevista no artigo 1.1 do pacto.23 Os dados acima indicados são alarmantes, pois, demonstram a fragilidade da jurisdição interna dos Estados Partes latino-americanos em aplicar de forma eficaz, no âmbito do Poder Judiciário, os direitos fundamentais previstos em suas próprias constituições e evidenciam ainda a incapacidade destes Estados em cumprir as obrigações internacionais de proteção do ser humanos, contraídas na Convenção Americana. Assim, a violação, sempre simultânea, dos artigos 25 e 8 da Convenção Americana, por si só, franqueia ao ser humano o acesso ao sistema interamericano para proteção dos demais direitos fundamentais reconhecidos nos ordenamentos jurídicos nacional e internacional, porquanto o inciso 1 desses artigos vem a ser autêntica cláusula de abertura ao estabelecimento da cooperação entre a instância nacional e a instância internacional. Dispõe o artigo 25.1 da Convenção Americana: 214 “Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais. O artigo 8.1 do referido pacto, por sua vez, dispõe: “Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de 24 qualquer outra natureza.” No que tange ao entendimento do prazo razoável referido no citado artigo 8.1 da Convenção, a Corte Interamericana, na sentença proferida no caso Suares Rosero vs. Equador, assim posicionou-se:... “Esta Corte comparte el criterio de la Corte Europea de Derechos Humanos, la cual ha analizado en varios fallos el concepto de plazo razonable y ha dicho que se debe tomar en cuenta tres elementos para determinar la razonabilidad del plazo en el cual se desarrolla el proceso: a) la complejidad del asunto, b) la actividad procesal del interesado y c) la conducta de las autoridades judiciales (cf. Caso Genie Lacayo, Sentencia de 29 de enero de 1997. Serie C No. 30, párr 77; y Eur. Court H.R., Motta judgment of 19 February 1991, Series A No. 195-A, párr. 30; Eur. Court H.R., Ruiz Mateos v. Spain Judgment of 23 June 25 1993, Series A No. 262, párr. 30).” Do ponto de vista processual, a Convenção Americana prevê, em seu artigo 46.2, exceções ao princípio da subsidiariedade do acesso do indivíduo à jurisdição internacional, precisamente relacionadas com os casos em que se evidencia a insuficiência do Poder Judiciário estatal pela violação dos artigos 25 e 8 da Convenção Americana, conforme a seguir transcritas: “2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo [acima transcritas] não se aplicam quando: a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados; b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aos recursos de jurisdição interna, ou houver ter sido ele impedido de esgotá-los; e c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.” Ora, seria irrazoável cercear ao ser humano a faculdade de apresentar uma petição individual perante a Comissão Interamericana nesses casos em que a violação consiste exatamente no fato de que o Estado Parte viola o direito à proteção judicial bem como descumpre a garantia do devido processo legal, já que, nas expressivas palavras de Cançado Trindade, “el derecho de petición individual abriga, en efecto, la última esperanza de los que no encontraron justicia a nivel nacional”26. 4 . A OBRIGAÇÃO PROCESSUAL DE CUMPRIR AS SENTENÇAS DA CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS Segundo afirmado anteriormente, os Estados devem cumprir suas obrigações materiais internacionais pactuadas por ato de soberania e de boa fé, garantindo a produção de seus efeitos sobre o ordenamento jurídico interno e a vinculação de todos os Poderes e órgãos, em qualquer nível da estrutura político-administrativo estatal, bem como de terceiros particulares, sob pena de ser responsabilizado internacionalmente. Note-se, a partir da análise do presente item que o dever de cumprir as obrigações internacionais pelos Estados Partes não se refere apenas às obrigações materiais, mas também às obrigações processuais, como é por exemplo, o dever de cumprimento integral das disposições das sentenças emanadas de Tribunais internacionais No sistema interamericano, em particular, o Estado Parte que aceita submeter-se à jurisdição obrigatória da Corte Interamericana obriga-se adicionalmente ao cumprimento da sentença contra si proferida em casos de violação dos direitos e liberdades pactuados, segundo dispõe o artigo 68.1 da Convenção Americana. Ainda de acordo com o artigo 65 da Convenção Americana, a Corte deve submeter à consideração da Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos um relatório das suas atividades no ano anterior a cada período ordinário de sessões da Organização, indicando os casos em que um Estado não tenha dado cumprimento as suas sentenças, inclusive, com recomendações pertinentes. Antes, porém, a Corte deve avaliar o grau de cumprimento de suas sentenças pelos Estados Partes no caso, através do procedimento de supervisão, no qual são solicitados informes aos Estados para que estes relatem à Corte as medidas que vem sendo tomadas para tornar efetiva a decisão do Tribunal dentro da jurisdição nacional, ao passo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 215 Sílvia Maria da Silveira Loureiro que são recebidas observações da Comissão Interamericana e das vítimas, seus familiares ou representantes sobre os informes estatais. No marco do caso Ximenes Lopes, o Estado brasileiro foi notificado da sentença proferida pela Corte Interamericana em 17 de agosto de 2.006, ocasião em que iniciou a fluência do prazo para o cumprimento de sete pontos resolutivos Em 12 de fevereiro de 2.007, em cumprimento ao ponto resolutivo “7”, o Estado brasileiro, por intermédio do despacho do Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da república, fez publicar no Diário Oficial da União o Capítulo VII relativo aos Fatos Provados e Capítulo XII relativo aos Pontos Resolutivos da sentença27. Em 14 de agosto de 2.007, três dias antes do término do prazo fixado nos pontos resolutivos nºs. BENEFICIÁRIO “9, 10, e 11” da sentença. O Estado brasileiro, por intermédio do Decreto do Presidente da República nº. 6.185, de 13 de agosto de 2.00728, autorizou a Secretaria Especial dos Direitos Humanos a dar cumprimento à sentença e, em especial, a indenizar os familiares ou a quem de direito couber pelas violações de direitos humanos perpetradas, bem como custas e gastos processuais, conforme uma tabela em anexo ao decreto. A tabela a seguir, elaborada com base nos dados constantes do Decreto nº. 6.185/2007, mostra os valores pagos em Dólares estadunidenses e sua conversão em Real, de acordo com a taxa de câmbio oficial do Banco Central do Brasil de 05 de julho de 2.007, correspondente a R$ 1,9149, segundo nota ao Anexo do mencionado decreto. PARENTESCO ALBERTINA VIANA LOPES TOTAL R$ US$ Mãe 117.766,35 FRANCISCO LEOPOLDINO LOPES Pai 28,723,50 15.000,00 IRENE XIMENES LOPES MIRANDA Irmã 105.319,50 55.000,00 irmão 28.723,50 15.000,00 280.532,85 146.500,00 COSME XIMENES LOPES TOTAL GERAL Os valores acima correspondem às indenizações devidas por danos materiais (dano emergente e lucros cessantes), danos morais, custas e gastos processuais (expressos em Dólares BENEFICIÁRIO Mãe DANO EMERGENTE estadunidenses), conforme os seguintes títulos e proporções estabelecidas nos parágrafos 218, 224, 225, 226, 238, 252 e 253 da sentença. LUCROS CESSANTES 1.500,00 Irmã DANOS MORAIS29 50.000,00 10.000 15.000,00 Irmão 15.000,00 216 CUSTAS E GASTOS 10.000,00 45.000,00 Pai Sem dúvida, a iniciativa do governo federal brasileiro em dar cumprimento voluntário à sentença, no que se refere ao pagamento de indenizações, custas e gastos processuais, demonstra sua disposição em respeitar suas obrigações processuais assumidas com a ratificação da Convenção Americana e com a posterior declaração de reconhecimento da competência obrigatória da Corte Interamericana, aprovada pelo Decreto Legislativo nº. 89 de 03/12/1998 e promulgada pelo Decreto nº. 4.463, 08/11/2002. 61.500,00 Assim sendo, as medidas veiculadas no Decreto nº. 6.185/2007 afastam possíveis controvérsias que poderiam surgir no curso da execução forçada da sentença, devido à falta de uma legislação específica que discipline de forma clara o processo de execução de sentenças originárias da Corte Interamericana ou de outros organismos internacionais30, desgastando ainda mais a imagem do Brasil. Foi evitado, desta feita, por exemplo, discutir a possível exigência de homologação, ou pior, da ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença concessão de exequatur, perante o Superior Tribunal de Justiça, nos termos do novo artigo 105, I, i da Constituição Federal de 1.988, bem como os familiares foram poupados da espera de pagamento de precatórios judiciais. Todavia, o cumprimento da sentença ainda não se esgotou, pois o Estado brasileiro deve garantir, dentro de um prazo razoável, que os processos internos tendentes a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos deste caso, surtam seus devidos efeitos, nos termos do ponto resolutivo nº. “6” e dos parágrafos a seguir transcritos, referentes a outras formas de reparação (medidas de satisfação e garantias de não repetição): “Los familiares de víctimas de violaciones de derechos humanos tienen el derecho a un recurso efectivo. El conocimiento de la verdad de lo ocurrido en violaciones de derechos humanos como las del presente caso, es un derecho inalienable y un medio importante de reparación para la víctima y en su caso, para sus familiares y es una forma de esclarecimiento fundamental para que la sociedad pueda desarrollar mecanismos propios de reproche y prevención de violaciones como esas en el futuro. En consecuencia, los familiares de las víctimas tienen el derecho, y los Estados la correspondiente obligación, a que lo sucedido sea efectivamente investigado por las autoridades estatales, de que se siga un proceso contra los presuntos responsables de estos ilícitos y, en su caso, de que se les impongan las sanciones pertinentes (supra párrs.170 a 206). En el presente caso la Corte estableció que, transcurridos más de seis años de los hechos, los autores de los tratos crueles, inhumanos y degradantes así como de la muerte del señor Damião Ximenes Lopes no han sido responsabilizados, prevaleciendo la impunidad. La Corte advierte que el Estado debe garantizar que en un plazo razonable el proceso interno tendiente a investigar y sancionar a los responsables de los hechos de este caso surta sus debidos efectos, dando aplicabilidad directa en el derecho interno a la normativa de 31 protección de la Convención Americana.” Essas determinações decorrem da conclusão da Corte Interamericana pela responsabilidade internacional do Estado brasileiro quanto à violação dos artigos 25.1 e 8.1 em correlação com o artigo 1.1, todos da Convenção Americana, em prejuízo dos familiares de Damião Ximenes Lopes, após constatar, através do exame do conjunto dos procedimentos internos, a ineficiência dos órgãos judiciais locais, nos parágrafos 170 a 206 da sentença em comento. Certo é, lembrando a lição de A. A. Cançado Trindade que, diante da complexidade da estrutura político-administrativa estatal brasileira, a responsabilidade internacional imputada vai muito além da violação das obrigações judiciais gerais e específicas do Poder Judiciário local, embora estas sejam as mais evidentes, pois “(...) os atrasos desarrazoados e indevidos na administração da justiça, por exemplo, comprometem tanto o Poder Judiciário, por falta de diligência, quanto o Poder Legislativo, por não haver aprovado e concedido os recursos orçamentários necessários ao funcionamento adequado dos tribunais nacionais, assim como o Poder Executivo, por não haver tomado a iniciativa de propor ao Legislativo a realização das reformas necessárias do Poder Judiciário com vistas a seu aperfeiçoamento e 32 fortalecimento”. Por conseguinte, sem dúvida, a implementação dessas medidas, que representam apenas uma das formas de reparação não pecuniária ao dano moral dos familiares de Damião Ximenes Lopes, é o maior desafio que a Corte Interamericana, através esta sentença, impõe ao Estado brasileiro, pelas razões seguintes: Em primeiro lugar, cumpre indagar como a União, pode garantir que os processos instaurados no âmbito de competência de um Estado-membro, para a investigação dos fatos deste caso e a imposição de sanções criminais e civis aos responsáveis pelos maus tratos e morte da vítima, sejam concluídos com o esclarecimento da verdade e o fim da impunidade. Segundo consta em nota veiculada na página oficial da Presidência da República na Internet33, a Secretaria Especial dos Direitos Humanos firmou um acordo, em dezembro de 2.006, com o recémcriado Conselho Nacional de Justiça, através do artigo 103-B introduzido pela Emenda Constitucional nº. 45/2004, visando à instauração de procedimentos em relação aos casos que tramitam perante o Sistema Interamericano e, principalmente, ao caso Damião Ximenes Lopes vs. Brasil. Em que pese essa iniciativa, afigura-se-nos que a solução para este primeiro desafio, do ponto de vista jurídico, aponta para a aplicação imediata do incidente de deslocamento de competência introduzido no inciso V-A e parágrafo 5º. acrescidos ao artigo 109 da Constituição Federal de 1.988, pela Emenda Constitucional nº. 45 de 08 de dezembro ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 217 Sílvia Maria da Silveira Loureiro de 2.004, conhecido como “federalização dos crimes contra os direitos humanos”. Segundo o novo inciso V-A do artigo 109 da Constituição Federal de 1.988, compete aos juízes federais processar e julgar as causas relativas a direitos humanos a que se refere o parágrafo 5º. deste artigo, que dispõe: “§5º. Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal”. Não resta a menor dúvida de que, no caso Ximenes Lopes, houve grave violação de direitos humanos, pos, conforme foi declarado na sentença proferida pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, foram violados os direitos à vida e à integridade pessoal e, principalmente, a proteção judicial e às garantias judiciais previstos nos artigos 4, 5, 25 e 8 em correlação com o artigo 1.1 (obrigação de respeitar os direitos), todos da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Conforme visto anteriormente, é a União, por força do disposto no artigo 21, I da Constituição Federal de 1.988, que, na prática, deve assegurar o cumprimento da obrigação decorrente do artigo 68 da Convenção Americana e que, por conseguinte, deve prestar contas das medidas adotadas internamente através do informes, previsto no ponto resolutivo nº. “12”, ou ainda, ser novamente convocada perante a Corte, se instaurado o procedimento de supervisão de cumprimento de sentença. Sendo assim, a competência para investigar os fatos e sancionar os responsáveis no caso Ximenes Lopes deveria ser imediatamente deslocada para a Justiça Federal, que trata de causas que envolvem interesse da União, uma vez que já decorridos sete anos da morte da vítima, o Poder Judiciário estadual ainda não cumpriu com o dever de entrega da prestação jurisdicional e de aplicação, diretamente no direito interno, da normativa de proteção da Convenção Americana. Nesse sentido, o primeiro precedente firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, no caso do homicídio da missionária americana Dorothy Stang, permite observar-se os argumentos que foram utilizados para indeferir a aplicação deste novo instrumento processual. 218 “CONSTITUCIONAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. HOMICÍDIO DOLOS QUALIFICADO. (VÍTIMA IRMà DOROTHY STANG). CRIME PRATICADO COM GRAVE VIOLAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS. INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA – IDC. INÉPCIA DA PEÇA INAUGURAL. NORMA CONSTITUCIONAL DE EFICÁCIA CONTIDA. PRELIMINARES REJEITADAS. VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL E À AUTONOMIA DA UNIDADE DA FEDERAÇÃO. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. RISCO DE DESCUMPRIMENTO DE TRATADO INTERNACIONAL FIRMADO PELO BRASIL SOBRE A MATÉRIA NÃO CONFIGURADO NA HIPÓTESE. INDEFERIMENTO DO PEDIDO. 1. Todo homicídio doloso, independentemente da condição pessoal da vítima e/ou da repercussão do fato no cenário nacional ou internacional, representa grave violação ao maior e mais importante de todos os direitos do ser humano, que é o direito à vida, previsto no art. 4º, nº 1, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário por força do Decreto nº 678, de 6/ 11/1992, razão por que não há falar em inépcia da peça inaugural. 2. Dada a amplitude e a magnitude da expressão “direitos humanos”, é verossímil que o constituinte derivado tenha optado por não definir o rol dos crimes que passariam para a competência da Justiça Federal, sob pena de restringir os casos de incidência do dispositivo (CF, art. 109, § 5º), afastando-o de sua finalidade precípua, que é assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil sobre a matéria, examinando-se cada situação de fato, suas circunstâncias e peculiaridades detidamente, motivo pelo qual não há falar em norma de eficácia limitada. Ademais, não são próprias de texto constitucional tais definições. 3. Aparente incompatibilidade do IDC, criado pela Emenda Constitucional nº 45/2004, com qualquer outro princípio constitucional ou com a sistemática processual em vigor deve ser resolvida aplicando-se os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. 4. Na espécie, as autoridades estaduais encontram-se empenhadas na apuração dos fatos que resultaram na morte da missionária ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença norte-americana Dorothy Stang, com o objetivo de punir os responsáveis, refletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta eficiente à violação do maior e mais importante dos direitos humanos, o que afasta a necessidade de deslocamento da competência originária para a Justiça Federal, de forma subsidiária, sob pena, inclusive, de dificultar o andamento do processo criminal e atrasar o seu desfecho, utilizando-se o instrumento criado pela aludida norma em desfavor de seu fim, que é combater a impunidade dos crimes praticados com grave violação de direitos humanos. 5. O deslocamento de competência – em que a existência de crime praticado com grave violação aos direitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido – deve atender ao princípio da proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito), compreendido na demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução penal. No caso, não há a cumulatividade de tais requisitos, a justificar que se acolha o incidente. 6. Pedido indeferido, sem prejuízo do disposto no art. 1º, inc. III, da Lei nº 10.446, de 8/5/ 34 2002". É valido esclarecer que a referida lei nº. 10.446/ 2002, que dispõe sobre infrações penais de repercussão interestadual ou internacional que exigem repressão uniforme, para os fins do disposto no inciso I do § 1o do art. 144 da Constituição, permite ao Departamento de Polícia Federal do Ministério da Justiça, proceder à investigação de infrações penais relativas à violação a direitos humanos, que a República Federativa do Brasil se comprometeu a reprimir em decorrência de tratados internacionais de que seja parte (artigo 1º., III). Ressalte-se que, em decorrência do pagamento das supra referidas indenizações e ressarcimentos de custas e gastos processuais aos familiares de Damião Ximenes Lopes, é imperioso que as responsabilidade individuais dos culpados pelos crimes e abusos cometidos neste caso sejam apuradas, a fim de que estes venham a ressarcir integralmente os cofres públicos da União. Em suma, resta saber se, do ponto de vista fático, haverá interesse político em suscitar o referido incidente e, se suscitado, serão novamente utilizados pelo Superior Tribunal de Justiça os argumentos do empenho e diligência das autoridades locais bem intencionadas na apuração dos fatos e sanção dos responsáveis a descaracterizar a necessidade e razoabilidade do deslocamento de competência, à semelhança do discurso do Estado brasileiro perante a Corte Interamericana ao tentar eximir-se da imputação da responsabilidade pela violação dos artigos 25.1 e 8.1 da Convenção Americana. Em segundo lugar, aplicando-se ou não o incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal, cabe indagar também como a União, pode assegurar o cumprimento do ponto resolutivo nº. 6 da sentença interamericana que determina a investigação dos fatos e sanção dos responsáveis em um prazo razoável. Do ponto de vista jurídico, o Estado brasileiro não pode alegar óbices de direito interno, mormente porque a Emenda Constitucional nº. 45, de 08 de dezembro de 2.004, acrescentou o inciso LXXVIII ao artigo 5º. da Constituição Federal de 1.988, segundo o qual “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. Ora, o direito à razoável duração dos processos judiciais e a garantia dos meios de imprimir celeridade na tramitação antes já existiam no ordenamento jurídico brasileiro, previstos nos artigos 7.5, 8.1 e 25.1 da Convenção Americana, incorporados pela clausula final do parágrafo 2º. do artigo 5º. da Carta de 1.988, bem como na cláusula do devido processo legal prevista no mesmo artigo 5º, LIV. Inobstante a isso, a própria Emenda Constitucional nº. 45/2004 consagrou inúmeros meios de garantia da celeridade, transparência e desburocratização dos processos judiciais, como por exemplo, a vedação de férias coletivas aos juízes e tribunais, a possibilidade de delegação aos servidores do Poder Judiciário de atos administrativos de mero expediente, a instalação da justiça itinerante e a instalação do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público. No entanto, do ponto de vista fático, sem interesse político, o Congresso Nacional não concluirá a reforma infra-constitucional do sistema processual brasileiro. Sem compromisso do Poder Judiciário com seus jurisdicionados, os processos não sairão das prateleiras da varas. Em suma, sem mudança de mentalidade não será aplicada diretamente, no plano do direito interno brasileiro, a normativa de proteção internacional dos direitos humanos. Por fim, dessa mudança de mentalidade também dependerá, de forma crucial, o efetivo ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 219 Sílvia Maria da Silveira Loureiro cumprimento do ponto resolutivo nº. “8”, pois, lembrando mais uma vez o magistério do professor A. A. Cançado Trindade, atrás das instituições estão os homens. As políticas que devem reger o tratamento das pessoas que padecem de incapacidade mental, seguindo os standards internacionais e os padrões da chamada lei da Reforma Psiquiátrica no Brasil (lei nº. 10.216/2001) ainda não chegaram a muitas cidades brasileiras. O abandono desses pacientes pelas famílias, pela sociedade e pelo Estado, em condições desumanas e degradantes, continua. CONCL USÃO CONCLUSÃO O presente estudo objetivou refletir sobre o problema do efetivo cumprimento da sentença proferida pela Corte Interamericana em 04 de julho de 2.006 no caso Ximenes Lopes vs. Brasil e, particularmente, do ponto resolutivo nº. “6” que determinou ao Estado o dever de garantir, em um prazo razoável, que o processo interno tendente a investigar e sancionar os responsáveis pelos fatos do presente caso, surtam seus efeitos. Propôs-se, como medida jurídica, para garantir o cumprimento desse dever, a aplicação imediata do incidente de deslocamento de competência introduzido no inciso V-A e parágrafo 5º. acrescidos ao artigo 109 da Constituição Federal de 1.988, pela Emenda Constitucional nº. 45 de 08 de dezembro de 2.004, visto que, decorridos mais de seis anos da morte de Damião Ximenes Lopes, sem a entrega da prestação jurisdicional pelo Poder Judiciário local, o Estado brasileiro foi responsabilizado internacionalmente pela violação dos artigos 25.1 e 8.1 da Convenção Americana. Com o intuito de traçar uma clara compreensão da proposta supra formulada, se fez necessário, no primeiro item, destacar a natureza jurídica especial dos tratados internacionais de proteção dos direito humanos, diferenciando-os dos demais tratados internacionais tradicionais, em seus aspectos estáticos (sujeitos, objeto e vínculo obrigacional que compõem a relação jurídica) e aspectos dinâmicos (reservas, vigência, denúncia, inadimplemento). No item seguinte, enfocando-se os deveres do Estado e os direitos protegidos pela Convenção Americana sobre Direitos Humanos, examinou-se o impacto das obrigações materiais, gerais e 220 específicas, decorrentes dessa Convenção no seu respectivo ordenamento jurídico interno e em sua estrutura político-administrativo, ressaltado-se seus efeitos erga omnes e sua natureza cogente. No terceiro item, examinou-se a imputação da responsabilidade internacional a um Estado Parte pela violação das obrigações anteriormente mencionadas, enfatizando-se o sistema de petições individuais previsto no sistema interamericano o qual viabiliza denuncias e queixas de indivíduos ou grupo de indivíduos que não encontram amparo judicial no plano da jurisdição interna estatal. Enfim, no quarto item tratou-se do dever de cumprimento da sentença proferida pela Corte Interamericana, como obrigação processual adicional de um Estado Parte na Convenção Americana e, em seguida, sustentou-se, com base no exposto, a aplicabilidade imediata do incidente de deslocamento de competência para que a União possa assegurar o cumprimento do ponto resolutivo nº. “6” da sentença proferida em desfavor do Estado brasileiro, a respeito do qual deverá prestar contas ao Tribunal, acerca das medidas que estão sendo adotadas para dar-lhe integral cumprimento. Registrou-se, ainda, o início do cumprimento da sentença interamericana, primeiramente, com a publicação dos Capítulos VII e XII no Diário Oficial da União e, em seguida, com a indenização dos familiares de Damião Ximenes e o pagamento das custas e gastos processuais autorizado pelo Decreto da Presidência da República nº. 6.185/2007, por intermédio da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, assinalando a boa-fé do governo federal brasileiro em respeitar seus compromissos internacionais. Entretanto, o cumprimento da sentença não se esgotou ainda e, em analise última, se nenhuma medida enérgica for adotada, e aqui não se cogitou sequer da intervenção federal permitida pelo artigo 34, VII, b da Constituição de 1.988, o Estado brasileiro continuará sendo responsabilizado internacionalmente, enquanto que, internamente, seguirá fomentando a impunidade, a violência e o descaso das autoridades locais, de modo que o avanço representado pela sentença proferida pela Corte Interamericana no caso Ximenes Lopes vs. Brasil pode tornar-se um retrocesso ao tão conhecido opa’rei latino-americano. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença OBRAS CONSUL TAD AS CONSULT ADAS CANÇADO TRINDADE, A. A. A Humanização do Direito Internacional. Belo Horizonte: Del Rey, 2.006. _______________. A proteção internacional dos direitos humanos: fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. S. Paulo: Saraiva, 1.991. _______________. Tratado de direito internacional de direitos humanos. Porto Alegre: Sérgio Fabris: 1.997. v.1. _______________. Tratado de direito internacional de direitos humanos. Porto Alegre: Sérgio Fabris: 1.997. v.2. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Bases para un proyecto de protocolo a la Convención Americana sobre Derechos Humanos, para fortalecer su mecanismo de protección. Antônio Augusto Cançado Trindade (relator). Maio, 2.001. t. 2. Informe. INSTITUTO INTERAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS. Guía sobre l’aliccación del derecho internacional en la jurisdicción interna. S. José da Costa Rica: IIDH, 1.996. LOUREIRO, Sílvia Maria da Silveira. Tratados Internacionais sobre Direitos Humanos na Constituição. Belo Horizonte: Del Rey, 2.005. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS / CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. A Corte Interamericana de Direitos Humanos 25 Anos. Março de 2006. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 221 Sílvia Maria da Silveira Loureiro NOT AS NOTAS 1. Geraldo Vargas Areco, de quinze anos, faleceu no dia 30 de dezembro de 1989, em decorrência de tortura e maus tratos sofridos durante seu recrutamento forçado no Regimento da Divisão de Infantaria do II Corpo do Exército do Estado do Paraguai, o que é uma prática ilegal e contrária aos tratados internacionais firmados, conforme hoje em dia é publicamente reconhecido pelo Estado paraguaio. 11. CANÇADO TRINDADE, A. A. Tratado de Direito ... ob. cit. p. 129/130. v. 2. 2. Opa’rei é um termo em guarani que define um acontecimento que termina no nada. 15. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Opinión Consultiva OC-7/86. Exigibilidad del derecho de rectificación o respuesta (artículos 14.1, 1.1 y 2 Convención Americana sobre Derechos Humanos) 3. É válido referir que, para a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, o caso Ximenes Lopes vs. Brasil é igualmente marcante, pois, é o primeiro precedente do Tribunal acerca da violação de direitos humanos de uma pessoa portadora de transtornos mentais, e que, por tal condição, deve ser considerada especialmente vulnerável. 4. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Sentença de 04 de julho de 2006. Série C nº. 149. Capítulo VII (Hechos Probados). 5. Cf. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Sentença de 30 de novembro de 2005. Série C nº. 139. 6. Anteriormente, a Corte Interamericana havia proferido apenas Resoluções em Medidas Provisórias nos casos “Penitenciária Urso Branco” (cinco Resoluções ao longo dos anos de 2002 a 2005) e “Crianças e Adolescentes Privados de Liberdade no Complexo do Tatuapé – FEBEM” (de 30.11.2005) 7. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Ximenes Lopes vs. Brasil. Sentença de 04 de julho de 2006. Série C nº. 149. Capítulo XII (Puntos Resolutivos). 8. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Opinião Consultiva OC-2/82 sobre El Efecto de las Reservas sobre la entrada en vigencia de la Convención Americana sobre Derechos Humanos (arts. 74 y 75). 12. CANÇADO TRINDADE, A. A. Tratado de Direito ... ob. cit. p. 130. v.2. 13. CANÇADO TRINDADE, A. A. Tratado de Direito ... ob. cit. p. 136. v. 2. 14. CANÇADO TRINDADE, A. A. Tratado de Direito ... ob. cit.. p. 148. v. 2. 16. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Opinión Consultiva OC-7/86. Exigibilidad del derecho de rectificación o respuesta (artículos 14.1, 1.1 y 2 Convención Americana sobre Derechos Humanos). Opinión Separada do juiz Hector Gros Spiell. 17. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Masacre Del Pueblo Bello vs. Colômiba. Sentença de 31 de janeiro de 2006 Série C n°. 140..Voto Razonado do Juiz A. A. Cançado Trindade. par. 5.. 18. CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Masacre Del Pueblo Bello vs. Colômiba. Sentença de 31 de janeiro de 2006 Série C n°. 140..Voto Razonado do Juiz A. A. Cançado Trindade. par. 9. 19. A Corte Interamericana de Direitos Humanos dispõe, conforme constam em sua jurisprudência, de inúmeras formas de reparação, tais como, restituição, a reabilitação, a indenização por danos morais e materiais, a satisfação e a garantia de não-repetição de violações do gênero Cf. CANÇADO TRINDADE, A. A. Tratado de Direito. .ob. cit. p. 170/171. v. 2. V. tb. Artigo 63 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos. 20. CANÇADO TRINDADE, A. A. Tratado de direito ... ob. cit. p. 439/440. v.1. 9. CANÇADO TRINDADE, A. A. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1999. p. 129. v. II. 21. A Convenção Americana, em seu artigo 45, prevê um sistema de petições interestatais, porém, como se trata de um mecanismo facultativo e de pouca utilidade prática, não será objeto da presente análise. 10. Convenção Americana sobre Direitos Humanos, artigos 1.1 e 2. 22. CANÇADO TRINDADE, A. A. A Proteção Internacional dos Direitos Humanos: 222 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença Fundamentos jurídicos e instrumentos básicos. S. Paulo: Saraiva, 1991; p. 7. 23. ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS / CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. A Corte Interamericana de Direitos Humanos 25 Anos. Março de 2006. p. 97. 24. O artigo 7.5 da Convenção Americana também faz referência ao direito do preso a um recurso judicial rápido e ao julgamento dentro de um prazo razoável. 25. CORTE INTERAMERICNA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Suárez Rosero vs. Equador. Sentença de 12 de novembro de 1997. Serie C nº. 35. pár. 72. 26. ORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Castillo Petruzzi, Voto Curriente do juiz A. A. Cançado Trindade à Sentença de 04.09.98, Série C, n. 41, p. 62, par. 35 27. Diário Oficial da União, Seção 1, de 12 de fevereiro de 2.007, os. 4-7. 28. Esse Decreto foi publicado no Diário Oficial da União em 14 de agosto de 2.007, na Seção 1, p. 253. 29. O parágrafo 238, a) fixa uma indenização a título de danos morais para Damião Ximenes Lopes no valor de US$ 50.000,00, a ser rateada entre seus familiares, nos termos do parágrafo 218, ou seja, US$ 20.000,00 para sua mãe (20%), US$ 20.000,00 para sua irmão (20%), US$ 5.000,00 para seu pai (5%) e US$ 5.000,00 para seu irmão (5%), e as demais letras do parágrafo 238 atribuem indenizações individuais para a mãe (US$ 30.000,00), para a irmã (US$ 25.000,00), para o pai (US$ 10.000,00) e para o irmão (US$ 10.000,00). 30. Vide Projeto de Lei nº. 3.214/2000 do Deputado Federal Marcos Rolim que “Dispõe sobre os efeitos jurídicos das decisões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da Corte Interamericana de Direitos Humanos e dá outras providências”, arquivado desde 2.003. 31. CORTE INTERAMERICNA DE DIREITOS HUMANOS. Caso Ximenes Lopes vs.Brasil. Sentença de 04 de julho de 2006. Serie C nº. 149. pars. 275 a 278. 32. CANÇADO TRINDADE, A. A. Tratado de Direito ... . ob. cit. p. 131.v.2. 33. Cfr. http://www.presidencia.gov.br 34. SUPERIROR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. TERCEIRA SEÇÃO. IDC nº. 01/PA. Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima. D.J. 10.10.2005 p. 217. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 223 Sílvia Maria da Silveira Loureiro 224 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Caso Ximenes Lopes Vs. Brasil: O Cumprimento Integral da Sentença ANEX OS ANEXOS ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 225 Convenio de Colaboración e Intercambio que Celebran el Inecipe y el IBDH 226 ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Convenio de Colaboración e Intercambio que Celebran el Inacipe y el IBDH CONVENIO DE COLABORACIÓN E INTERCAMBIO QUE CELEBRAN, POR UNA PARTE EL INSTITUTO ESTATAL DE CIENCIAS PENALES, EN LO SUCESIVO “EL INECIPE”, REPRESENTADO POR SU DIRECTOR GENERAL, LICENCIADO MAURICIO ALEJANDRO MURILLO DE LA ROSA Y, POR LA OTRA, EL INSTITUTO BRASILEÑO DE DERECHOS HUMANOS, QUE PARA LOS EFECTOS DEL PRESENTE ACUERDO DE VOLUNTADES EN LO SUCESIVO SE LE DENOMINARA “EL IBDH”, REPRESENTADO POR SU PRESIDENTE EL MAESTRO CÉSAR OLIVEIRA DE BARROS LEAL, CONFORME A LAS DECLARACIONES Y CLÁUSULAS SIGUIENTES: DECLARACIONES I. DECL ARA “EL INECIPE” 1.1. Ser un Órgano Administrativo Desconcentrado por función, jerárquicamente subordinado a la Secretaria de Seguridad Pública, y con autonomía Técnica, Operativa y Funcional, con fundamento en el artículo 64, primer párrafo, de la Ley de Seguridad Pública del Estado de Guanajuato. 1.2. Que, dentro de las funciones de “EL INECIPE”, se encuentra la celebración de convenios con organismos afines, para la realización de programas y acciones de intercambio, cooperación, asesoría, investigación, asistencia y otras acciones relacionadas con las mismas. Lo anterior con fundamento en el artículo 64, Fracción VIII, de la Ley se Seguridad Pública del Estado de Guanajuato. 1.3. Que su Director General cuenta con las facultades suficientes para la firma del presente convenio, de acuerdo a lo dispuesto por los artículos 11 y 12 del Reglamento Interior del Instituto Estatal de Ciencias Penales, expedido por Decreto Gubernativo número 42, el cual fue publicado en el Periódico Oficial del Estado en fecha 18 de Septiembre del año 2007. 1.4. Que, para los efectos legales de este Instrumento, señala como su domicilio el ubicado en Carretera Guanajuato-Juventino Rosas, Kilómetro 7.5 de la Ciudad de Guanajuato Gto., México. II. DECL ARA “EL IBDH” DECLARA II.2. Que, dentro de sus objetivos, “El IBDH” desarrolla la enseñanza y la investigación de los Derechos Humanos, así como su promoción, buscando el intercambio en esta materia a nivel Nacional e Internacional. II.3. Que el maestro César Oliveira de Barros Leal tiene las atribuciones que le han sido concedidas por quienes representa en su carácter de Presidente de “El IBDH”, para la celebración del presente Convenio. II.4. Que, para los efectos legales de este instrumento, señala como su domicilio, el ubicado en la Calle José Carneiro da Silveira número 15, apartamento 301, Papicu, Fortaleza, Ceará, Brasil, Código Postal 60.190.760. III. DECL ARAN ‘L AS PPAR AR TES” ARTES” III.1. Reconocerse recíprocamente el carácter y las facultades con las que comparecen a la firma del presente Convenio. III.2. El presente acto lo suscriben libre de toda violencia, error, lesión, dolo o mala fe, por lo que desde ahora renuncian en su perjuicio a invocar algún vicio del consentimiento. III.3. Es su intención colaborar de la forma más amplia y respetuosa de su autonomía en las tareas de estudio, análisis e investigación de los Derechos Humanos, en los términos que se establecen en el presente instrumento. Expuesto lo anterior, las partes están de acuerdo en sujetar sus compromisos en los términos y condiciones previstos en las siguientes: II.1. Que se encuentra legalmente constituido como Asociación Civil en Fortaleza, Ceará, Brasil, bajo las normas y leyes establecidas en ese País. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 227 Convenio de Colaboración e Intercambio que Celebran el Inecipe y el IBDH C L Á U S U LLA AS PRIMERA. El objeto del presente instrumento es aprovechar la infraestructura y la experiencia de ambas partes en la formación y práctica profesional, a fin de realizar acciones conjuntas encaminadas a promover el estudio, análisis e investigación en materia de las Ciencias Penales y Derechos Humanos. SEGUNDA. Ambas partes impulsarán la realización de Cursos, Diplomados y Talleres acerca de temas relacionados con la justicia de menores, Derechos Humanos y las Ciencias Penales a fin de promover una cultura de respeto irrestricto de los Derechos Humanos y de las Ciencias Penales. TERCERA. Previo establecimiento de las bases, las partes promoverán investigaciones de manera conjunta en temas relacionados con los jóvenes en riesgo y en conflicto con la Ley Penal y su vinculación con la prevención del delito, los Derechos Humanos y las Ciencias Penales, entre otros. CUARTA. Las partes convienen que, de manera conjunta, impulsarán la creación, publicación y difusión de las obras literarias y estudios que atañen a temas relacionados con la justicia de menores, la prevención del delito, los Derechos Humanos y las Ciencias Penales. QUINTA. Las partes acuerdan que las propuestas de programas, proyectos o acuerdos de trabajo que se deriven de este convenio, serán considerados como anexos, los cuales tendrán la categoría de acuerdos específicos, una vez que sean signados por los representantes de las partes. Los acuerdos específicos describirán con toda precisión las actividades a desarrollar, la responsabilidad de cada una de las partes, el presupuesto que se destinará para cada actividad, definición de fuentes de financiamiento en caso de ser necesario, personal involucrado, instalaciones y equipo a utilizar, así como el calendario de trabajo y en general todo lo necesario para determinar con precisión los fines y alcances de cada uno de dichos acuerdos que serán los instrumentos operativos del presente convenio. SEXTA. Las partes convienen regular en el acuerdo específico que al efecto sea suscrito, lo relativo a la propiedad de los derechos de autor de los materiales que se elaboren conjuntamente, u otros que pudieran llegar a derivarse de los trabajos realizados. SÉPTIMA. En el desarrollo de los programas y acuerdos específicos, las partes se comprometen a respetar la normatividad vigente en cada una de ellas y de manera particular, la relativa a los ordenamientos legales que regulan el manejo de la información gubernamental. OCTAVA. Las partes se comprometen a facilitar el acceso al material Bibliográfico, Hemerográfico y 228 documental que esté vinculado con los temas de interés; Información que estará disponible con las limitaciones que establezcan las disposiciones legales aplicables. NOVENA. Para facilitar el cumplimiento de estas cláusulas de colaboración, ambas Instituciones podrán gestionar convenios con organismos gubernamentales y de la sociedad civil, en el ámbito nacional e internacional. DÉCIMA. El personal que las partes asignen, contraten o comisionen para el desarrollo del presente convenio, estarán bajo la dirección y dependencia directa de la parte que lo hubiere asignado, contratado o comisionado y, por consiguiente, no se generarán relaciones de carácter laboral ni de patrón sustituto con la otra, asumiendo cada uno la responsabilidad que le corresponda. DÉCIMA PRIMERA. La vigencia del presente convenio será por tiempo indefinido y surtirá sus efectos a partir de la fecha de su firma. Podrá darse por terminada, además, por cualquiera de las partes, mediante aviso dado por escrito, con una anticipación de noventa días, estando de acuerdo en que la terminación no afectará a los beneficiarios que estén recibiendo los servicios establecidos en el programa, los que continuarán hasta su finalización en fechas previstas. DÉCIMA SEGUNDA. MODIFICACIONES. El presente instrumento podrá ser modificado o adicionado por voluntad de las partes. Las modificaciones o adiciones obligarán a los signatarios a partir de la fecha de su firma. DÉCIMA TERCERA. INTEPRETACIONES Y CONTROVERSIAS. Este convenio es producto de la buena fe, en razón de lo cual las diferencias que llegaran a presentarse en cuanto a su interpretación, formalización y cumplimiento serán resueltas de común acuerdo entre las partes. Leído el presente instrumento y enteradas las partes de su contenido y alcance legal, lo suscriben por triplicado, en la Ciudad de Guanajuato Gto, a los 08 días del mes de septiembre del año de 2008. Por “EL INECIPE” Lic. Mauricio Alejandro Murillo de la Rosa Director General por “EL IBDH” Mtro Mtro.. César Oliveira de Barros Leal Presidente Testigo de honor: Lic. Baltasar Vilches Hinojosa Secretario de Seguridad Pública del Estado de Guanajuato ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Convenio de Colaboración e Intercambio que Celebran el Inacipe y el IBDH UPROOTEDNESS AND THE PROTECTION OF MIGRANTS IN THE INTERNATIONAL LAW OF HUMAN RIGHTS ••••••••••••••••••••••••••• ANTÔNIO AUGUSTO CANÇADO TRINDADE Ph.D. (Cambridge); Former President of the Inter-American Court of Human Rights; Professor of International Law at the University of Brasília, Brazil; Member of the Institut de Droit International I . PRELIMINAR Y OBSERV ATIONS PRELIMINARY OBSERVA May I start this inaugural lecture of the 2007 Annual Study Session by evoking my historical and sustained links of deep affection with the International Institute of Human Rights here in Strasbourg. Precisely here, in this same auditorium Carré de Malberg of the University of Strasbourg, I had the honour to receive, in 1974, from the hand of René Cassin himself, my Diploma of the Institute. Again in this same auditorium, I was welcomed, in 1997, as newly-elected member of the Institut de Droit International. I have had the privilege to have known, and to have accompanied the work, along more than the last three decades, of all the successive Presidents and Secretaries-General of the International Institute of Human Rights, of whom I remained a faithful and constant collaborator from the other side of the Atlantic. One of them has recently passed away (last 22 March 2007), Professor Alexandre-Charles Kiss, a visionary and inspiring jurist, to the memory of whom I allow myself to render tribute on this occasion. This auditorium being full of history of the Strasbourg Institute, and of my own academic life, it is not without emotion that I deliver this inaugural lecture. May I at first express a firm warning against the negative effects of the fact that, in a “globalized” world - the new euphemism en vogue, - frontiers are opened to capitals, goods and services, but regrettably not to human beings. National economies are opened to speculative capitals, at the same time that the labour conquests of the last decades erode. Increasing segments of the population appear marginalized and excluded from material “progress”. Lessons form the past seem forgotten, the sufferings of previous generations appear to have been in vain. The current state of affairs appears devoid of a historical sense. To this de-historization of the lifetime are added the idolatry of the market, reducing human beings to mere agents of economic production (ironically, amidst growing unemployment in distinct latitudes). As a result of this new contemporary tragedy essentially a man-made one, - perfectly avoidable if human solidarity were to have primacy over individual egoism, there emerges and intensifies the new phenomenon of massive flows of forced migration, - of millions of human beings seeking to escape no longer from individualized political persecution, but rather from hunger and misery, and armed conflicts, - with grave consequences and implications for the application of the international norms of protection of the human person. One decade ago, in a study I prepared for the Inter-American Institute of Human Rights (in Costa Rica, in 1998), published in 2001 in Guatemala, I propounded a human rights approach for the phenomenon of forced migratory fluxes, distinctly from the classic studies on the subject (pursuant to a strictly historical, or else economic, approach), - and with attention focused on human beings experiencing great vulnerability1. On the occasion, I saw it fit to warn that “The advances [in this domain] will only be achieved by means of a radical change of mentality. In any scale of values, considerations of a humanitarian order ought to prevail over those of an economic or financial order, over the alleged protectionism of the market of work and over group rivalries. There is, definitively, pressing need to situate the human being in the place that corresponds to him, certainly above capitals, goods and services. This is perhaps the major challenge of the `globalized’ world in which we live, from the perspective of human rights”2. In this inaugural lecture of the current Annual Study Session of 2007 of the International Institute of Human Rights here in Strasbourg, I shall retake ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 229 Antônio Augusto Cançado Trindade the subject, which has become a topical one, with the purpose of identifing and gathering the elements, accumulated in recent years, that would allow to advance further the aforementioned new approach, proper to human rights, to the consideration of the contemporary phenomenon of forced migrations. To this end, I shall seek to portray the drama of uprootedness and the growing need of protection of migrants, and to identify the basic principles applicable in this new domain of protection of the human person; and shall review the growing international case-law on the matter (of both the European and the Inter-American Courts of Human Rights, as well as other initiatives of protection at the United Nations and regional levels, the implications of the whole issue for the responsibility of States, and its importance for the international community as a whole. The path will then be opened for the presentation of my final reflections on the matter. II. THE DRAMA OF UPROOTEDNESS AND THE GROWING NEED OF PROTECTION OF MIGRANTS It has been rightly warned that humankind can only achieve true progress when it moves forward in the sense of human emancipation3. It is never to be forgotten that the State was originally conceived for the realization of the common good4. No State can consider itself to be above the Law, the norms of which have as ultimate addressees the human beings; in sum, the State exists for the human being, and not vice versa. Paradoxically, the expansion of “globalization” has been accompanied pari passu by the erosion of the capacity of the States to protect the economic, social and cultural rights of the persons under their jurisdictions; hence the growing needs of protection of refugees, displaced persons and migrants, in this first decade of the XXIst. century, - what requires solidarity at universal scale5. This great paradox appears rather tragic, bearing in mind the considerable advances in science and technology in the last decades, which, nevertheless, have not been able to reduce or erradicate human egoism6. Tragically, the material progress of some has been accompanied by the closing of frontiers to human beings and the appearance of new and cruel forms of human servitude (clandestine traffic of persons, forced prostitution, labour exploitation, among others), of which undocumented migrants are often victims7. The increasing controls and 230 current hardships imposed upon migrants have led some to behold and characterize a contemporary situation of “crisis” of the right of asylum8. Migrations and forced displacements, increased and intensified from the nineties onwards9, have been characterized particularly by the disparities in the conditions of life between the country of origin and that of destination of migrants. Their causes are multiple, namely: economic collapse and unemployment, collapse in public services (education, health, among others), natural disasters, armed conflicts generating fluxes of refugees and displaced persons, repression and persecution, systematic violations of human rights, ethnic rivalries and xenophobia, violence of distinct forms10. In recent years, the so-called “flexibility” in labour relations, amidst the “globalization” of the economy, has also generated mobility, accompanied by personal insecurity and a growing fear of unemployment11. Migrations and forced displacements, with the consequent uprootedness of so many human beings, bring about traumas. Testimonies of migrants give account of the sufferings of the abandonment of home, at times with family separation or disaggregation, of loss of property and personal belongings, of arbitrarinesses and humiliations on the part of frontier authorities and security agents, generating a permanent feeling of injustice12. As Simone Weil warned already in the mid-XXth century, “To be rooted is perhaps the most important and least recognized need of the human soul. 13 It is one of the hardest to define” . At the same time and in the same line of thinking, Hannah Arendt warned for the sufferings of the uprooted (the loss of home and of the familiarity of day-to-day life, the loss of profession and of the feeling of usefulness to the others, the loss of the mother tongue as spontaneous expression of feelings), as well as the illusion to try to forget the past14. Also in this line of reasoning, in his book Le retour du tragique (1967), J.-M. Domenach observed that one can hardly deny the roots of the human spirit itself, since the very form of aquisition of knowledge on the part of each human being, - and consequently his way of seeing the world, - is to a large extent conditioned by factors such as the place of birth, the mother tongue, the cults, the family and the culture15. In his novel Le temps des déracinés (2003), Elie Wiesel16 remarked the former refugees continue somehow to be refugees for the rest of their lives; they escape from one exile to project themselves into ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights another, everything looking provisional, and without feeling at home anywhere. They always keep on remembering where they originally come from17, cultivating their memories as a means of defending themselves of their adverse condition of uprooted persons. But the “celebration of memory” has also its limitations, as the uprooted are deprived of horizons, and of the sense of belonging to somewhere18. They always need help from others. The drama of the victimized seems to be overlooked and forgotten as time passes by, and the uprooted end up by having to learn to live with the slow and ineluctable diminution even of their own memories19. In my Separate Opinion in the case of the Moiwana Community versus Suriname before the Inter-American Court of Human Rights (Judgment of 15.06.2005), I dwelt upon precisely the projection of human suffering in time of the migrants of that Community (some of whom had fled to French Guyana) who survived a massacre (perpetrated on 29.11.1986 in the N’djuka Maroon village of Moiwana, in Suriname). I charaterized the harm they suffered as “a spiritual one. Under their culture, they remain still tormented by the circumstances of the violent deaths of their beloved ones, and the fact that the deceased did not have a proper burial. This privation, generating spiritual suffering, has lasted for almost twenty years, from the moment of the perpetration of the 1986 massacre engaging the responsibility of the State until now. The N’djukas have not forgotten their dead” (par. 29). Only with the aforementioned Judgment of 2005, almost two decades later, they at last found redress, with the judicial recognition of their suffering and the reparations ordered. In the framework of these latter stands the securing by the State of their voluntary and safe return to their native lands20. This was not the first time that I addressed the issue of the projection of human suffering in time and the growing tragedy of uprootedness; earlier on, I had also done so in my Concurring Opinion (pars. 1-25) in this Court’s Order of Provisional Measures of Protection (of 18.08.2000) in the case of the Haitians and Dominicans of Haitian Origin in the Dominican Republic, as well in my Separate Opinion (pars. 1014) in the Bámaca Velásquez versus Guatemala case (Reparations, Judgment of 22.02.2002)21, and retook the point at issue the more recent Moiwana Community case22. In fact, the projection of human suffering in time (its temporal dimension) has been properly acknowledged, e.g., in the final document of the U.N. World Conference against Racism, Racial Discrimination, Xenophobia and Related Intolerance (Dunbar, 2001), its adopted Declaration and Programme of Action. In this respect, it began by stating that “We are conscious of the fact that the history of humanity is replete with major atrocities as a result of gross violations of human rights and believe that lessons can be learned through remembering history to avert future tragedies” (par. 57). It then stressed the “importance and necessity of teaching about the facts and truth of the history of humankind”, with a view to “achieving a comprehensive and objective cognizance of the tragedies of the past” (par. 98). In this line of thinking, the Durban final document acknowledged and profounding regretted the “massive human suffering” and the “tragic plight” of millions of human beings caused by the atrocities of the past; it then called upon States concerned “to honour the memory of the victims of past tragedies”, and affirmed that, wherever and whenever these occurred, “they must be condemned and their recurrence prevented” (par. 99). The Durban Conference final document attributed particular importance to remembering the crimes and abuses of the past, in emphatic terms: “We emphasize that remembering the crimes or wrongs of the past, wherever and whenever they occurred, unequivocally condemning its racist tragedies and telling the truth about history, are essential elements for international reconciliation and the creation of societies based on justice, equality and solidarity” (par. 106). It at last recognized that “historical injustices” had undeniably contributed to the poverty, marginalization and social exclusion, instability and insecurity affecting so many people in distinct parts of the world (par. 158). As well pointed out by Jaime Ruiz de Santiago, the drama of refugees and migrants, - of the uprooted in general, - can only be properly dealt with in a spirit of true human solidarity towards the victimized 23 . Definitively, only the firm determination of reconstruction of the international community24 on the basis of human solidarity25 can lead to mitigating or alleviating some of the sufferings of the uprooted (whether refugees, internally displaced persons, or migrants). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 231 Antônio Augusto Cançado Trindade I I I . BASIC PRINCIPLES ON INTERNAL DISPL ACEMENT In the last three decades, the problem of internal displacement has challenged the very bases of the international norms of protection, demanding an aggiornamento of these latter and new responses to a situation not originally foreseen at the time of the drafting or elaboration of the relevant international instruments. These latter have revealed flagrant insufficiencies, such as, for example, the original lack of norms expressly directed to overcome the alleged non-applicability of the norms of protection no non-State actors, the non-tipification of internal displacement under the original norms of protection, and the possibility of restrictions or derrogations undermining protection in critical moments. Such insufficiencies have generated initiatives of protection at both global (United Nations) and regional (Latin American) levels, - initiatives which have sought a conceptual framework which allows the development responses, at operative level, to the new needs of protection. It is quite proper to move on to a brief review of those initiatives. 1. Global (United Nations) Level At global (U.N.) level, one decade ago, in the first trimester of 1998, the former U.N. Commission on Human Rights, bearing in mind the reports by the U.N. Secretary-General’s Representative on Internally Displaced Persons (F.M. Deng)26, at last adopted the so-called Guiding Principles on Internal Displacement27, despite the persistence of the problem of internal displacement along mainly the last two decades. The basic purpose of the Guiding Principles is that of reinforcing and strengthening the already existing means of protection; to this effect, the proposed new principles apply both to governments and insurgent groups, at all stages of the displacement. The basic principle of non-discrimination occupies a central position in the aforementioned document of 199828, which cares to list the same rights, of internally displaced persons, which other persons in their country enjoy29. The aforementioned 1998 Guiding Principles determine that the displacement cannot take place in a way that violates the rights to life, to dignity, to freedom and security of the affected persons30; they also assert other rights, such as the right to respect for family life, the right to an adequate standard of living, the right to equality before the law, the right to education 31. The basic idea 232 underlying the whole document32 is in the sense that the internally displaced persons do not lose their inherent rights, as a result of displacement, and can invoke the pertinent international norms of protection (of both International Human Rights Law and International Humanitarian Law) to safeguard their rights. In a significant resolution adopted in 1994, the then U.N. Commission on Human Rights, bearing in mind in particular the problem of internally displaced persons, recalled the relevant norms of, altogether, International Human Rights Law and International Humanitarian Law, as well as International Refugee Law, of pertinence to the problem at issue33. Resolution 1994/68, adopted by the Commission on 09.03.1994, further recalled the 1993 Vienna Declaration and Programme of Action (adopted by the II World Conference on Human Rights), which called for “a comprehensive approach by the international community with regard to refugees and displaced persons”34. It stressed the “humanitarian dimension” of “the problem of internally displaced persons and the responsibilities this poses for States and the international community ” 35. It further drew attention to “the need to address the root causes of internal displacement”36, as well as “to cotinue raising the level of consciousness about the plight of the internally displaced”37. More than a decade later, its considerations are likewise valid, nowadays, to migrants (cf. infra), who add an even greater dimension to the sufferings of the uprooted in our so-called and improperly called “globalized” world. 2. Regional Level In the American continent, the 1984 Declarations of Cartagena on Refugees, the 1994 San José Declaration on Refugees and Displaced Persons, and the 2004 Mexico Declaration and Plan of Action to Strengthen the International Protection of Refugees in Latin America, are, each of them, product of a given historical moment. The first one, the Declaration of Cartagena, was motivated by urgent needs generated by a concrete crisis of great proportions; to the extent that this crisis was being overcome, due in part to that Declaration, its legacy began to project itself to other regions and subregions of the American continent. The second Declaration was adopted amidst a distinct crisis, a more diffuse one, marked by the deterioration of the socio-economic conditions of wide segments of the population in distinct regions. In sum, Cartagena and San José were product of ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights their time. The aggiornamento of the Colloquy of San José gave likewise a special emphasis on the identification of the needs of protection of the human being in any circumstances 38. There remained no place for the vacatio legis39. The 1994 Declaración of San José gave a special emphasis not only on the whole problem of internal displacement, but also, more widely, on the challenges presented by the new situations of human uprootedness in Latin America and the Caribbean, including the forced migratory movements originated by causes differents from those foreseen in the Declaration of Cartagena. The 1994 Declaration recognized that the violation of human rights is one of the causes of forced displacements and that therefore the protection of those rights and the strengthening of the democratic system constitute the best measure for the search of durable solutions, as well as for the prevention of conflicts, the exoduses of refugees and the grave humanitarian crises40. Recently, at the end of consultations, with a wide public participation, undertaken at the initiative of the UNHCR, the 2004 Mexico Declaration and Plan of Action to Strengthen the International Protection of Refugees in Latin America was adopted 41 , on the occasion of the twentieth anniversary of the Cartagena Declaration (supra). For the first time in the present process, a document of the kind was accompanied by a Plan of Action. This can be explained by the aggravation of the humanitarian crisis in the region, particularly in the Andean subregion. As the rapporteur of the Committee of Legal Experts of the UNHCR observed in his presentation of the final report to the Mexico Colloquy, at its first plenary session, on 15 November 2004, although the moments of the 1984 Cartagena Declaration and the 1994 San José Declaration are distinct, their achievements “cumulate, and constitute today a juridical patrimony” of all the peoples of the region, disclosing the new trends of the development of the international safeguard of the rights of the human person in the light of the needs of protection, and projecting themselves into the future42. Thus, “the Declaration of Cartagena faced the great human drama of the armed conflicts in Central America, but furthermore foresaw the aggravation of the problem of internally displaced persons. The Declaration of San José, in turn, dwelt deeper upon the issue of protection of, besides refugees, also of internally displaced persons, but moreover foresaw the aggravation of the problem of forced migratory fluxes. Ever since anachronical compartmentalizations were overcome, proper of a way of thinking of a past which no longer exists, and one came to recognize the convergences between the three regimes of protection of the rights of the human person, namely, the International Law of Refugees, International Humanitarian Law and the International Law of Human Rights. Such convergences - at normative, hermeneutic and operative levels - were reaffirmed in all preparatory meetings of the present Commemorative Colloquy of Mexico City, and have repercussions nowadays in other parts of the world, conforming the most [more] lucid international legal doctrine on the matter”43. Those convergences44 were, not surprisingly, further reflected in the 2004 Mexico Declaration and Plan of Action to Strengthen the International Protection of Refugees in Latin America itself. Thus, as the rapporteur of the Committee of Legal Experts of the UNHCR at last warned at the Mexico Colloquy of November 2004, “there is no place for the vacatio legis, there is no legal vacuum, and all (...) persons are under the protection of the Law, in all and any circumstances (also in face of security 45 measures)” . These developments are significant for addressing the issue of forced internal displacement, and the guarantee of voluntary and safe return. Yet, the problem of forced migrations has a wider dimension, and presents a considerable challenge nowadays to the international community as a whole. Only along the nineties the larger problem of the fluxes of forced migrations was identified and began to be dealt with as such, in a systematized way. IV V.. BASIC PRINCIPLES ON MIGRA TIONS MIGRATIONS By then, while the refugee population surpassed 18 million persons, and the displaced population surpassed that total in seven more million people (totalling 25 million persons)46, the migrants in search of better living and working conditions, in turn, totalled 80 million human beings by the end of the XXth. century47, and according to IOM recent data - reach nowadays roughly 100 to 120 million migrants all over the work48.Yet, the suffering of migrants has been known for many years49. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 233 Antônio Augusto Cançado Trindade The causes of forced migrations are not fundamentally distinct from those of populational forced displacement: natural disasters, chronic poverty, armed conflicts, generalized violence, systematic violations of human rights50. In the former U.N. Commission on Human Rights, it was pointed out that, in the mid-nineties, the challenge presented by this new phenomenon should be examined in the context of the reality of the postcold war world, as a result of the multiple internal conflicts, of ethnic and religious character, repressed in the past but irrupted in recent years precisely with the end of the cold war51. To these latter is added the growth of chronic poverty52. To face this new phenomenon of forced migrations, the U.N. General Assembly approved, on 18.12.1990, the International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers and Members of their Families. Such important Convention, which at last entered into force on 01.07.2003, has, however, received very few ratifications, - 36 so far (beginning of April 2007), and has not yet been sufficiently dwelt upon by contemporary doctrine, despite its considerable significance. The 1990 Convention established the Committee on the Protection of the Rights of All Migrant Workers and Members of Their Families as its supervisory organ (Article 72), entrusted with the examination of State reports (Articles 73-74) as well as inter-State and individual communications or complaints (Articles 76-77). In the mid-nineties, the then U.N. Centre for Human Rights identified the caused of contemporary fluxes of migrant workers in extreme poverty (below subsistence level), search for work, armed conflicts, personal insecurity or persecution derived from discrimination (on the ground of race, ethnic origin, colour, religion, language or political opinions) 53 . The basic idea underlying the International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers and Members of their Families is that all migrant workers - thus qualified thereunder - ought to enjoy their human rights irrespective of their legal situation54. Hence the central position occupied, also in this context, by the principle of non-discrimination (as set forth in its Article 7). Not surprisingly, the list of protected rights follows a necessarily holistic or integral vision of human rights (comprising civil, political, economic, social and cultural rights). The Convention took into account both the international labour standards (derived from the experience of the ILO - cf. infra), as well as those of the U.N. Conventions against discrimination55. 234 The protected rights are enunciated in three of the nine parts which conform the Convention: Part III (Articles 8-35) lists the human rights of all migrant workers and the members of their families (including the undocumented ones); Part IV (Articles 36-56) covers other rights of migrant workers and members of their families “who are documented or in a regular situation”; and Part V (Articles 57-63) contains provisions applicable to “particular categories” of migrant workers and members of their families56. The basic principle of non-discrimination, which has a rather long history and to which so much importance was ascribed in the drafing process of of the 1948 Universal Declaration of Human Rights57, and which subsequently became the main object of two important Conventions of the United Nations (CERD, 1966, and CEDAW, 1979), - which cover only some of its aspects, - has, only in recent years, been dwelt upon to a greater depth in its wide potential of application, as in the Advisory Opinions ns. 16 and 18 of the Inter-American Court of Human Rights, on The Right to Information on Consular Assistance in the Framework of the Guarantees of the Due Process of Law (1999), and on The Juridical Condition and Rights of the Undocumented Migrants (2003), respectively. As, in the view of States, there is no human right to immigrate, the control of migratory entries is made subject to their own “sovereign” criteria, also to “protect” their internal markets 58 . Furthermore, instead of devising and applying true population policies bearing in mind human rights, most States have been exerting the strictly police function of “protecting” their own frontiers and controlling migratory fluxes, and sanctioning the so-called “illegal” migrants. The whole issue has been unduly and unnecessarily “criminalized”. It is thus not surprising that inconsistencies and arbitrarinesses ensue therefrom. These latter are manifested in “democratic regimes”, the administration de justice of which, nevertheless, does not achieve to free itself from old prejudices against immigrants, even more so when they are undocumented and poor. The programs of “modernization” of justice, with international financing, do not dwell upon this aspect, as their main motivation is to ensure the security of investments (capitals and goods). This provides a revealing picture of the (reduced) dimension which public authorities have conferred upon human beings at this beginning of the XXIst century, placed in a scale of priority inferior to that attributed to capitals and goods, - in spite ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights of all the struggles of the past, and all the sufferings of previous generations. The area in which most incongruencies appear manifest nowadays is in effect the one pertaining to the guarantees of the due process of law. Yet, the reaction of Law has become prompt and manifest in our days, as demonstrated, for example, by the pioneering Advisory Opinions ns. 16 and 18 of the Inter-American Court of Human Rights, on The Right to Information on Consular Assistance in the Framework of the Guarantees of the Due Process of Law (1999), and on The Juridical Condition and Rights of the Undocumented Migrants (2003), respectively. The Advisory Opinion n. 16 has placed the right to consular notification, set forth in Article 36(1)(b) of the 1963 Vienna Convention on Consular Relations in the conceptual universal of International Human Rights Law. It has indeed conferred a human rights dimension to some postulates of classic consular law, as I pointed out in my Concurring Opinion (pars. 1-35)59 in the Court’s aforementioned 16th. Advisory Opinion. Since it was issued by the Court, the 16th. Advisory Opinion, besides inspiring the international case-law in statu nascendi, has had a considerable impact on international practice in the American continent (more particularly, in Latin America60.Yet, there is much need of greater and genuine international cooperation to secure assistance to, and protection of, all migrants and members of their families. Legal norms can hardly be effective without the corresponding and underlying values, and, in the present domain, the application of the relevant norms of protection does require a fundamental change of mentality. In relation to the subject at issue, the norms already exist, but the proper acknowledgment of values seem to be still lacking, as well as a new mentality. It is not mere casuality that the International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers and Members of their Families, despite having entered into force on 01.07.2003, as already pointed out, has not many ratifying States so far61 (cf. supra). Despite the identity of the basic principles and of the applicable law in distinct situations, the protection of migrants requires, nevertheless, a special emphasis on one and the other aspect in particular. The starting-point seems to lie on the recognition that every migrant has the right to enjoy all the fundamental human rights, as well as the rights derived from the employments occupied in the past, irrespective of his juridical situation (whether irregular or not). Here, once again, a necessarily holistic or integral vision of all human rights (civil, political, economic, social and cultural) applies. Just as the principle of non-refoulement constitutes the cornerstone of the protection of refugees (as a principle of customary law and, furthermore, of jus cogens), applicable in other situations as well, in the matter of migrants (mainly the undocumented ones) it assumes special importance, beside the due process of law (supra); thus, the fundamental human rights and the dignity of irregular or undocumented migrants ought to be preserved also in face of threats of deportation and/or expulsion62. Every person in such a situation has the right to be heard by a judge and not to be detained ilegally or arbitrarily63. The International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers and Members of their Families prohibits measures of collective expulsion, and determines that each case of expulsion ought to be “examined and decided individually” (Article 22(1)), in accordance with the law. Given the great vulnerability which accompanies the migrants in situation of irregularity, the countries of both origin and admission should take positive measures to ensure that all migrations take place in a regular way64. This is a challenge to all countries, and even more forcefully to those which purport to be “democratic”. Last but not least, the 1990 Convention ought to be properly appreciated in conjunction with the 1966 U.N. Covenant on Civil and Political Rights, as well the relevant I.L.O. Conventions on the matter65. V. THE PROTECTION OF MIGRANTS IN INTERNA TIONAL CASE-LA W INTERNATIONAL CASE-LAW 1. European Human Rights System The theme of aliens or migrants has marked its presence in the normative and operational levels of the European system of human rights protection. Thus, Protocol n. 4 (of 1963) to the European Convention on Human Rights effectively prohibits the collective expulsion of foreigners (Article 4). And even in individual cases, if the expulsion of a foreigner generates a separation of the members of the family unit, it brings about a violation of Article 8 of the European Convention of Human Rights; accordingly, the States Parties to this latter no longer have total discretionality to expell from their territory foreigners who already have established a “genuine link” with them66. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 235 Antônio Augusto Cançado Trindade The limits of State discretionality as the treatment of any persons under the jurisdiction of the States Parties to human rights treaties were stressed, e.g., in the well-known early cases of the East African Asians. In those cases, the old European Commission of Human Rights concluded that 25 of the complainants (who had retained their status of British citizens after the independence of Kenya and Uganda to see themselves free from migratory controls) had been victimized by a new British law which put an end to the right of entry of British citizens who did not have ancestral links with the United Kingdom. In the understanding of the old European Commission (Report of 1973), this law constituted an act of racial discrimination which characterized a “degrading treatment” in the terms of Article 3 of the European Convention of Human Rights67. Years later, the same European Commission confirmed its position on the matter, in the case Abdulaziz, Cabales and Balkandali versus United Kingdom (1983), wherein it warned the State discretionality in the matter if immigration has its limits, as a State cannot, e.g., implement policies based upon racial discrimination68. The case was referred to the European Court by the Commission, as the three applicants (Mrs. Abdulaziz, Mrs. Cabales and Mrs. Balkandali, lawfully and permanently settled in the United Kingdom, had been refused to join their husbands in that country). On its turn, the European Court, in its Judgment (1985) found a violation, not of Article 8 per se, but of Article 8 (respect for private and family life) together with Article 14 (prohibition of discrimination), by reason of discrimination on the ground of sex69. In addition, in the case Abdulaziz, Cabales and Balkandali, the Court further established a violation of 13 of the Convention, for lack of access to justice; the Court pondered that “the discrimination on the ground of sex of which Mrs. Abdulaziz, Mrs. Cabales and Mrs. Balkandali were victims was the result of norms that were in this respect incompatible with the Convention. In this regard, since the United Kingdom has not incorporated the Convention into its domestic law, there could be no 70 `effective remedy’ as required by Article 13" . In his Concurring Opinion in the Abdulaziz, Cabales and Balkandali case, Judge R. Bernhardt aptly argued that “Article 13 must, in my view, be given a meaning which is independent of the question whether any other provision of the 236 Convention is in fact violated. Whenever a person complains that one of the provisions of the Convention itself or any similar guarantee or principle contained in the national legal system is violated by a national (administrative or executive) authority, Article 13 is in my view applicable and some remedy 71 must be available” . In spite of the fact that the European Convention itself did not contemplate the right not to be expelled from on the the States Parties, very soon in the operation of the European Convention it was accepted that there were limits to the faculty of the States Parties to control the entry and departure of foreigners, vy virtue of the obligations contracted under the Convention itself, as illustrated, e.g., by those pertaining to Article 8 (on the right to respect for private and family life). Thus, although there does not exist a general definition of “family life”, very soon a protecting case-law was developed in this respect, in the light of the circumstances of each concrete case. Such case-law, bearing in mind, inter alia, the principle of proportionality, has stipulated restrictively the conditions of expulsion72. A study of the protection of migrant workers in the International Law of Human Rights has recalled that, on several occasions, the European Court found “an infringement of the right to respect for family life in cases involving second-generation migrants, who had either been expelled, or were under threat of expulsion, because they had been convicted of criminal offences in their country of residence”73. Although in each case the expulsions, or threatened expulsions, aimed at preventing disorder or crime, they constituted - the study went on, recalling inter alia the Court’s Judgments in the cases of Beldjoudi versus France (of 26.03.1992) and Moustaquim versus Belgium (of 18.02.1991), “a disproportionate means of achieving this aim given that the affected individuals had spent most of their lives, together with their immediate families, in the countries concerned and had little or no ties with their country or origin”74. The Beldjoudi and the Moustaquim cases, together with the Lamguindaz versus United Kingdom case (1992), are nowadays regarded as leading cases in this particular respect. As forcefully argued in another study on the matter, given the links (such as family and social ties, schooling, understanding of culture and language) between second-generation migrants and their (new) country of residence, they are de facto citizens, and their deportation or expulsion would amount to a violation of their right to private and family life ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights (Article 8 of the European Convention)75. The protection of the human rights of migrants, under given circumstances, has thus found judicial recognition in the European human rights system. It has done so also in the inter-American human rights system, which has gone even further than the European one in this respect, as it will be indicated next. 2. Inter-American Human Rights System The protection of or migrants has likewise marked its presence in the normative and operational levels of the Inter-American system of human rights protection. It has, in fact, been remarkably present in the case-law of the InterAmerican Court of Human Rights in recent years. I have already referred to the Court’s Judgment (of 15.06.2005) on the case of the Moiwana Community versus Suriname, as well as the Court’s Order of Provisional Measures of Protection (of 18.08.2000) in the case of the Haitians and Dominicans of Haitian Origin in the Dominican Republic. In this latter, in my Concurring Opinion, I saw it fit to warn as to the pressing need to face the contemporary tragedy of uprootedness, and I further argued that “the principle of non-refoulement, cornerstone of the protection of refugees (as a principle of customary law and also of jus cogens), can be invoked even in distinct contexts, such as that of the collective expulsion of (...) migrants or of other groups. Such principle has been set forth also in human rights treaties, as illustrated by Article 22(8) of the American Convention on Human 76 Rights” . The relevance of this approach to the point at issue, in relation to the Court’s Order of Provisional Measures of Protection in the aforementioned case of the Haitians and Dominicans of Haitian Origin in the Dominican Republic, has been promptly acknowledged in expert writing77. As for the already mentioned Judgment of the Inter-American Court, of 15.06.2005, on the case of the Moiwana Community versus Suriname, it was followed by an Interpretation of Sentence (of 08.02.2006), to which I appended a Separate Opinion, wherein I dwelt upon the following points: a) the delimitation, demarcation and titling and return of land (to the surviving members of the Moiwana Community and their relatives) as a form of reparation); b) the State’s duty of guarantee of voluntary and sustainable return; and c) the need of reconstruction and preservation of the cultural identity of the members of the Moiwana Community78. Furthermore, the great adversity undergone by migrants was properly addressed, and duly emphasized, in the course of whole advisory proceedings before the Inter-American Court of Human Rights conducive to the adoption of its historical 16th. and 18th. Advisory Opinions, of 1999 and 2003, respectively. Both Opinions were pioneering in contemporary international case-law (infra), and represent the reaction of Law to situations of violations of human rights in large scale, of persons who at times find themselves in total defencelessness. It is thus proper to review, at this stage, the contribution of those two remarkable Advisory Opinions to the safeguard of the human rights of undocumented migrants. a) The A dvisor Advisor dvisoryy Opinion on the Right to Information on Consular Assistance in the FFramework ramework of the Due Process of Law (1999). The Inter-American Court delivered, on 01.10.1999, the sixteenth Advisory Opinion of its history, on the Right to Information on Consular Assistance in the Framework of the Due Process of Law. In that sixteenth Advisory Opinion, of transcendental importance, the Court held that Article 36 of the 1963 Vienna Convention on Consular Relations recognizes to the foreigner under detention individual rights, - among which the right to information on consular assistance, - to which correspond duties incumbent upon the receiving State (irrespective of its federal or unitary structure) (pars. 84 and 140). The Inter-American Court pointed out that the evolutive interpretation and application of the corpus juris of the International Law of Human Rights have had “a positive impact on International Law in affirming and developing the aptitude of this latter to regulate the relations between States and human beings under their respective jurisdictions”. The Court thus adopted the “proper approach” in considering the matter submitted to it in the framework of “the evolution of the fundamental rights of the human person in contemporary International Law” (pars. 114-115). The Court stated that “human rights treaties are living instruments, whose interpretation ought to follow the evolution of times and the current conditions of life” (par. 114). The Court made it clear that, in its interpretation of the norms of the American Convention on Human Rights, it should aim at ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 237 Antônio Augusto Cançado Trindade extending protection in new situations on the basis of preexisting rights. The Court expressed the view that, for the due process of law to be preserved, “a defendant must be able to exercise his rights and defend his interests effectively and in full procedural equality with other defendants” (par. 117). In order to attain its objectives, “the judicial process ought to recognize and correct the factors of real unequality” of those taken to justice (par. 119); thus, the notification, to persons deprived of their liberty abroad, of their right to communicate with their consul, contributes to safeguard their defence and the respect for their procedural rights (pars. 121122). The individual right to information under Article 36(1)(b) of the Vienna Convention on Consular Relations thus renders effective the right to the due process of law (par. 124). The non-observance or obstruction of the exercise of this right affects the judicial guarantees (par. 129). The Court in this way linked the right at issue to the evolving guarantees of due process of law, and added that its non-observance in cases of imposition and execution of death penalty amounts to an arbitrary deprivation of the right to life itself (in the terms of Article 4 of the American Convention on Human Rights and Article 6 of the International Covenant on Civil and Political Rights), with all the juridical consequences inherent to a violation of the kind, that is, those pertaining to the international responsibility of the State and to the duty of reparation (par. 137)79. This 16th. Advisory Opinion of the Court, truly pioneering, has served as inspiration for the emerging international case-law, in statu nascendi, on the matter80, and is having a sensible impact on the practice of the States of the region on the issue81. Its advisory proceedings counted on a considerable mobilization (with 8 intervening States, besides several non-governmental organizations and individuals)82. This historical Advisory Opinion n. 16, furthermore, reveals the impact of the International Law of Human Rights in the evolution of Public International Law itself, specifically for having the Inter-American Court been the first international tribunal to warn that, if noncompliance with Article 36(1)(b) of the Vienna Convention on Consular Relations of 1963 takes place, it occurs to the detriment not only of a State Party but also of the human beings at issue83. In the same line of thinking, Advisory Opinion n. 18 opens new ground for the protection of migrants, in acknowledging the character of jus cogens of the basic principle of equality and non- 238 discrimination, and the prevalence of the rights inherent to human beings, irrespective of their migratory States. Its advisory proceedings counted on an even greater mobilization (with 12 accredited States, in addition to the UNHCR, several nongovernmental organizations, academic institutions and individuals), the greatest in the whole history of the Court to date. This more recent Opinion n. 18 is likewise having an impact on the theory and practice of International Law in the present domain of protection of the human rights of migrants84. b) The A dvisor Advisor dvisoryy Opinion on the Juridical Condition and Rights of Undocumented Migrants (2003) On 10 May 2002 Mexico requested the InterAmerican Court of Human Rights its 18th Advisory Opinion, on the juridical condition and rights of undocumented migrants. In the course of the corresponding advisory proceedings, which counted on the greatest public participation in the whole history of the Court, the Court celebrated two public hearings, the first in its headquarters in San José of Costa Rica, in February 2003, and the second outside its headquarters (for the first time in its history), in Santiago of Chile, in June 2003. The advisory procedure counted with the participation of twelve accredited States (among which five States intervening in the hearings), the Inter-American Commission on Human Righs, one agency of the United Nations (the U.N. High Commission for Refugees - UNHCR), and nine entities of the civil society and academic circles of several countries of the region, besides the Central American Council of Human Rights Ombudsmen [Attorneys-General]. On 17 September 2003 the Inter-American Court of Human Rights delivered its 18th Advisory Opinion (requested by Mexico), on the Juridical Condition and Rights of Undocumented Migrants, wherein it held that States ought to respect and ensure respect of human rights in the light of the general and basic principle of equality and nondiscrimination, and that any discriminatory treatment with regard to the protection and exercise of human rights generates the international responsibility of the States. In the view of the Court, the fundamental principle of equality and non-discrimination has entered into the domain of jus cogens. The Court added that States cannot discriminate or tolerate discriminatory situations to the detriment of migrants, and ought to guaranteee the due process of law to any person, irrespective of her migratory status. This latter ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights cannot be a justification for depriving a person of the enjoyment and exercise of her human rights, including labour rights. Undocumented migrant workers have the same labour rights as the other workers of the State of employment, and this latter ought to ensure respect for those rights in practice. States cannot subordinate or condition the observance of the principle of equality before the law and non-discrimination to the aims of their migratory or other policies. In addition, Individual Opinions were presented by four Judges, all of them being, significantly, Concurring Opinions. In his extensive Concurring Opinion, the President of the Court, Judge A.A. Cançado Trindade, dwelt upon nine points, namely: a) the civitas maxima gentium and the universality of the human kind; b) the disparities of the contemporary world and the vulnerability of the migrants; c) the reaction of the universal juridical conscience; d) the construction of the individual subjective right of asylum; e) the position and the role of the general principles of Law; f) the fundamental principles as substratum of the legal order itself; g) the principle of equality and nondiscrimination in the International Law of Human Rights; h) the emergence, the content and the scope of the jus cogens; and i) the emergence and the scope of the obligations erga omnes of protection (their horizontal and vertical dimensions). The 18th. Advisory Opinion of the InterAmerican Court, on the Juridical Condition and Rights of Undocumented Migrants, has already had, for all its implications, a considerable impact in the American continent, and its influence is bound to irradiate elsewhere as well, given the importance of the matter. It propounds the same the dynamic or evolutive interpretation of International Human Rights Law heralded by the Inter-American Court, four years ago, in its historical 16th. Advisory Opinion, on The Right to Information on Consular Assistance in the Framework of the Guarantees of the Due Process of Law (1999). The 18th Advisory Opinion of the InterAmerican Court, on the Juridical Condition and Rights of Undocumented Migrants, has already had, for all its implications, a considerable impact in the American continent, and its influence is bound to irradiate elsewhere as well, given the importance of the matter. It propounds the same the dynamic or evolutive interpretation of International Human Rights Law heralded by the Inter-American Court, four years ago, in its pioneering 16th Advisory Opinion, on The Right to Information on Consular Assistance in the Framework of the Guarantees of the Due Process of Law (1999)85, which has ever since been a source of inspiration for the international case-law in statu nascendi on the matter. In 2003, the Inter-American Court has reiterated and expanded on in its forward-looking outlook, in its 18th Advisory Opinion, on the Juridical Condition and Rights of Undocumented Migrants, constructed upon the evolving concepts of jus cogens and of obligations erga omnes of protection. VI. THE PROTECTION OF MIGRANTS IN RAPPORTEUR SYSTEMS The protection of the human rights of migrants has indeed become a key issue in the international human rights agenda of this first decade of the XXIst. century. This is hardly surprising, given the growing awareness of the relationships between the intensification of migratory fluxes (from the late eighties onwards), the speedy internationalization of capitalism, and the growing labour exploitation (generated by the “requirements of capital”, and with the high human costs of unemployment and underemployment, “informality” in labour relations, search for cheap manpower, impoverishment of livig conditions of large segments of the population, and concentration of wealth and income in world scale)86. It was all too expected that, in the nineties, the theme was to become object of increased attention on the part of international organizations at both universal (United Nations) and regional (Organization of American States) levels. At global level, lucid voices from within the Office of the U.N. High Commissioner for Refugees (UNHCR) warned that the UNHCR could no longer work for the protection only of refugees, but should also take into account the denial of human rights of internally displaced persons as well as migrants, and work for their protection, together with that of refugees87. In this connecion, it should not pass unnoticed that the UNHCR actually intervened in the oral hearings before the Inter-American Court of Human Rights, in the advisory proceedings that led to the adoption by the Inter-American Court of its Advisory Opinion n. 18 on The Juridical Condition and Rights of the Undocumented Migrants (of 17.09.2003)88. Moreover, international organizations, prompted by the new phenomenon of the intensification of fluxes of forced migrations, have decided - both the United Nations and the Organization of American States - to insert it into the scheme of work of their respective rapporteur ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 239 Antônio Augusto Cançado Trindade systems. The mandate of the U.N. Special Rapporteur on the Human Rights of Migrants was created in 1999, by resolution 1999/44 of the former U.N. Commission on Human Rights (par. 3). The resolution entrusted the Special Rapporteur with the tasks of elaboration of reports and undertaking of country visits, and further requested the Special Rapporteur to examine “ways and means to overcome the obstacles existing to the full and effective protection of the human rights of migrants”89. Resolution 1999/44 drew attention to the “large and increasing number of migrants in the world” in a “situation of vulnerability”, and stressed “the need for a focused and consistent approach towards migrants as a specific vulnerable group”90. In pursuance of that mandate, a series of reports have been prepared and presented by the Special Rapporteur, who, in the period 2000-2005, has also undertaken country visits to Canada, Ecuador, Philippines, border Mexico/United States, Mexico, Spain, Morocco, Iran, Italy, Peru and Burkina Faso. In 2005, the then U.N. Commission on Human Rights enlarged the mandate of the Special Rapporteur, foreseeing the adoption of appropriate policies on migrants, - having as a priority the protection of the human rights of migrants, stressing the duty of States to prevent and sanction acts of private individuals attempting against the life and personal integrity of migrants, and securing the recognition by the international community of the situation of vulnerability faced by migrants91. This is an important aspect of the matter at issue; in fact, recent and substantial studies on migrations have focused on the framework of legislative initiatives on a comparative law basis92, or in a regional ambit (e.g., that the European Union)93, focusing on the regulatory or normative structure, but without portraying sufficiently the dramatic situation of vulnerability of migrants (whether documented or undocumented), all in pressing need of protection. In fact, still at global (U.N.) level, resolution 2005/47 of the former U.N. Commission on Human Rights, adopted on 19.04.2005, expressed concern, in its preamble, at “the increasing number of migrants worldwide”, a worrisome phenomenon with a “global character” (par. 6), and called upon States to revise their immigration policies with a view to eliminate all discriminatory practices against migrants and their families (par. 4). It urged States to put an end to arbitrary arrests and deprivation of liberty of migrants (par. 15), to prevent the violation of the human rights of migrants while in transit (par. 18), and to combat and prosecute international trafficking and smuggling of migrants (endangering 240 their lives and entailing “different forms of servitude or exploitation” - par. 19)94. Resolution 2005/47, recalled, in its preamble, the contributions of the pioneering Advisory Opinions ns. 16 and 18 of the Inter-American Court of Human Rights, on The Right to Information on Consular Assistance in the Framework of the Guarantees of the Due Process of Law (1999), and on The Juridical Condition and Rights of the Undocumented Migrants (2003), as well as the Judgments of the International Court of Justice in the LaGrand (2001) and the Avena and Other Mexican Nationals (2004) cases95. At regional level, the Inter-American Commission on Human Rights (IAComHR), pursuant to a request of the General Assembly of the Organization of American States (OAS)96, established the mandate of its Special Rapporteur on Migrant Workers and their Families in 1997, with due emphasis on their situation of “special vulnerabilities”. From 1997 onwards, the Special Rapporteur has been engaged on the work of monitoring of the situation of migrants and their families in the region, so as to “general awareness” of the States’ duty to protect them and “to act promptly” on petitions or communications on their part. The Special Rapporteur has issued recommendations to States, has prepared reports and special studies, and has carried out visits to countries of the region, including the United States, Mexico, Guatemala and Costa Rica. The research topics examined so far, in order “to enhance the awareness” of the adversities faced by migrant workers and their families, include discrimination in general, racism and xenophobia, due process of law, detention conditions, smuggling of migrants and trafficking in persons, migratory practices and their economic consequences97. VII. SOCIAL JUSTICE AND THE PREVENTION OF FORCED MIGRA TIONS: THE LEGACY OF MIGRATIONS: UNITED NA TIONS WORLD NATIONS CONFERENCES A trend of contemporary European legal writing has invoked the doctrine of the international responsibility of the State in order to declare the State practice generating refugees - and displace persons - as constituting a internationally wrongful act (mainly in the presence of the element of culpa lata)98. The conceptual basis for this doctrinal construction can be found in the work of the U.N. International Law Commission on the theme of State responsibility 99. A justification for this ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights doctrinal elaboration lies in the fact that the international intruments of protection of refugees have limited the provision of obligations only on the part of receiving States, but not in relation to States of origin, of refugees; as from this finding, a customary norm of Humanitarian Law prohibiting the generation of fluxes of refugees is invoked100. Therefrom the consequences are established of the internationally wrongful act of generating fluxes of refugees - which would apply a fortiori to sudden migratory fluxes, - also for the effects of reparations. Such doctrinal endeavours disclose, in my view, both positive and negative aspects. On the one hand, the enlarge the horizon for the examination of the matter, comprising at a time both the receiving State as well as that of origin, and seeking protection of human rights in both. On the other hand, they move on to the ambit of reparations with a private law approach, attempting to justify sanctions to States that are not the only responsible for forced migratory fluxes. In a “globalized” world such as that of our days, full of profound iniquities among and within States, how to identify the origin of so much socioeconomic cruelty, how to draw the dividing line, how to single out States (precisely the poorer) responsible for forced migrations, so as to justify sanctions or reprisals? This, in my understanding, does not appear to be the path to follow. The problem of forced population fluxes ought to be treated as a truly global issue, concerning the international community as a whole. It cannot be properly approached from an outdated and strict bilateral outlook (focusing only on the receiving State and the State of origin) or a merely inter-State perspective. Being a global issue, it brings to the fore the obligations erga omnes of protection of the victimized migrants. The conceptual development of such obligations - and of the juridical consequences of their breach - remains a high priority of contemporary legal science. Is has been argued that, in face of the contemporary phenomenon of forced migrations, the responsibility of individual States cannot be dissociated from the (subsidiary) responsibility of the international community of States as a whole101. As the causes of such forced migrations may, in certain circumstances, amount to gross and massive violations of human rights, a reassessment of te conceptual basis of refuge may lead to a needed and gradual configuration of the right to survival of the affected or endangered segments of the population102. More than survival only, what is here at issue is the right to live with dignity103. The whole issue brings to the fore the imperatives of social justice, at universal level. And a special emphasis ought to fall upon the prevention of forced migrations. In this connection, at United Nations level, the system of early warning may be recalled: it was born out of a proposal, in the early eighties, by the Special Rapporteur on the question of human rights mass exoduses. Subsequently the theme was related to that of internally displaced persons104. In 1997, the U.N. High-Commissioner for Human Rights observed that, in the context of mass exoduses and human rights, “the term `prevention’ is not to be interpreted in the sence of impeding that persons abandon a zone or a country but rather in the sense of impeding that the situation of human rights deteriorates itself to such a point that the abandonment is the only option and also of impeding (...) the deliberate adoption of measures to displace by force great numbers of persons, such as mass expulsions en mass, internal displacements and house eviction, 105 forced resettlement or repatriation” . Furthermore, the final documents of the recent cycle of World Conferences of the United Nations of the nineties contain additional elements which allow us to approach adequately the issue of population fluxes as a truly global issue, situated in the conceptual universe of human rights106. Thus, e.g., the 1993 Vienna Declaration and Programme of Action, adopted by the II World Conference of Human Rights, urged all States to guarantee the protection of human rights of all migrant workers and members of their families (part II, par. 33). The final document of the Vienna Conference further asserted the importance to create conditions that promote greater harmony and tolerance among migrant workers and the rest of the society of the receiving State (par. 34). At last, it urged States to ratify as soon as possible the International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers and Members of their Families (par. 35). The International Conference on Population and Development (Cairo, 1994) approached of course the matter at issue, having called for a global approach to the migratory phenomenon at world level (chapter X of the 1994 Cairo Programme of Action). The Cairo Conference examined the causes of migrations, and urged the adoption of provisions relating to documented and undocumented migrant workers107. One year later, the 1995 Programme of Action of Copenhagen, adopted by the World Summit on Social Development, in approaching the creation ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 241 Antônio Augusto Cançado Trindade of productive employment and reduction of unemployment, warned as to the need of greater attention at national level to the situation of migratory workers and members of their families (chapter III). In approaching the issue of social integration social, it urged the fostering of equality and social justice, widening inter alia basic education, - encompassing also of the children of migrant parents, - and promoviendo the equitable treatment and integration of documented migratory workers and the members of their families (chapter IV). The Copenhagen World Summit, moreover, urged States to cooperate “to reduce the causes of undocumented migration” and to safeguard “the fundamental human rights of undocumented migrants, impeding their exploitation” and providing them domestic remedies108. It urged, at last, the States to ratify and apply the international instruments concerning migrant workers and the members of their families109. The particular situation of women migrant workers (victimized by violence on the basis of sex) was object of considerable attention of the Part of the IV World Conference on Women (Beijing, 1995). The 1995 Beijing Platform of Action, adopted by the Conference, called upon States to recognize the vulnerability in face of violence and other forms of ill treatment of migrant women, including women migrant workers (chapter IV.D)110. On its turn, the II World Conference on Human Settlements (Habitat-II, Istambul, 1996) pointed out the relevant role of human settlements in the realization of human rights, in particular, inter alia, the human right to adequate housing and the right to development. In this respect, the 1996 Habitat-II Programme formulated recomendations pertaining to “the legal security of tenancy, the prevention of expulsions, the fostering of refuge centres and of support rendered to basic services and to the units education and health in favour of displaced persons, among other vulnerable groups”111. Last but not least, the U.N. World Conference against Racism, Racial Discrimination, Xenophobia and Related Intolerance (Dunbar, 2001) also devoted special attention to migrant workers, in particular to the discrimination they suffer. The 2001 Declaration and Programme of Action adopted by the Dunbar Conference urged States to fight against manifestations of generalized marginalization of migrants, of xenophobia and racist prejudices, thus abiding by their obligations pursuant to international instruments of human rights, 242 irrespective of the situation in which migrants find themselves (pars. 24 and 26). Recently, the aforementioned resolution 2005/ 47 (of 19.04.2005) of the former U.N. Commission on Human Rights reaffirmed the provisions concerning the protection of the rights of migrants and their families enshrined into the final documents adopted by the U.N. World Conferences on Human Rights (1993), on Population and Development (1994), on Social Development (1995), on Women (1995), and against Racism, Racial Discrimination, Xenophobia and Related Intolerance (2001)112. The Office of the U.N. High Commissioner for Human Rights has also been attentive to some of the aspects of the adversities undergone by migrants and their pressing need of protection113. On its part, the U.N. Committee on the Elimination of Racial Discrimination (CERD), supervisory organ of the U.N. Convention on the Elimination of All Forms of Racial Discrimination, - in its general recommendation n. 30, of 2005, warned that “under the Convention, differential treatment based on citizenship or immigration status will constitute discrimination if the criteria for such differentiation, judged in the light of the objectives and purposes of the Convention, are not applied pursuant to a legitimate aim, and are not proportional to the achievement of this aim” (par. 4). The recommendation devotes a whole section (IV) to “access to citizenship” (pars. 13-17), and further addresses the issues of prevention and redress of problems faced by “non-citizen workers” (par. 34), as well as of ensuring “the access of victims to effective legal remedies” and their “right to seek just and adequate reparation” for the wrongs suffered (par. 18). VIII. FINAL REFLECTIONS ON THE MA T TER MAT As a true global issue, the phenomenon of forced migrations requires greater concertation at universal level to secure the prevalence of the rights of migrants and their families. A relevant role is reserved to public policies, as well as to mobilization of entities of the civil society to mitigate their sufferings and improve their conditions of day-today life. Such entities can, at first, help the organs of assistance and protection in the identification itself of the distinct characteristics assumed by the migratory phenomenon in different countries114. Secondly, they can denounce situations of flagrant violations of the human rights of migrants115. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights Thirdly, they can assist in emergency action. Fourthly, they can help to foster the institutional strengthening to face the migratory phenomenon, and to empower the persons affected116. And fifthly, by means of the education in human rights, they can help to erradicate xenophobia and other existing prejudices in national societies. Advances in this domain will be achieved, as already pointed out, in an atmosphere of human solidarity. Under this perspective, recent “constructions” of the type of “irregular” - or, worse still, “illegal” - migrants are quite negative117, and do not assist at all in seeking durable solutions to the problems faced by migrants worldwide. Human beings are not deprived of the rights inherent to them as such, as a result of their migratory status or any other circumstance; one can envisage the human rights of the uprooted, and, - contrary to what some would appear to try to make one believe nowadays, - the principle of nonrefoulement belongs to the domain of jus cogens118. The discretionality of States has its limits, and their policies on deportation and expulsion ought to abide by the imperative norms of international law. On the positive side, there is nowadays a greater consciousness of the pressing needs of protection of migrants worldwide. The United Nations World Conferences along the nineties and in the passage of the century have contributed decisively to create this new awareness. They have placed due emphasis on the needs of protection of persons and segments of the population in situations of vulnerability. Nowadays, seminars and meetings of nongovernmental and governmental experts are convened more and more often, in the search for solutions bearing in mind the imperatives of protection of migrants119. Yet, greater concertation at universal level is much needed, as the protection of migrants, in increasing numbers from distinct parts of the world, has become a legitimate concern of the international community as a whole. It is reassuring that the 2000 United Nations Millenium Declaration was attentive enought to include (par. 25) a call “to take measures to ensure respect for and protection of the human rights of migrants, migrant workers and their families, to eliminate the increasing acts of racism and xenophobia in many societies and to promote greater harmony and tolerance in all societies”. Half a decade later, in September 2005, the U.N. document 2005 World Summit Outcome, also in a reassuring way, enlarged the express reference to the issue of migrations (pars. 61-63), relating migration to development (par. 61), and reaffirming “our resolve to take measures to ensure respect for and protection of the human rights of migrants, migrant workers and members of their families” (par. 62). Advances in this domain, however, will only be achieved amidst a radical change of mentality, and a greater consciousness of the pressing needs to protect the basic rights of migrants. In any scale of values, considerations of a humanitarian order ought to prevail over those of an economic or financial order, over the alleged “protectionism” of the “work market”, over group rivalries. There is, definitively, a pressing need to situate the human beings in the place that corresponds to him, certainly above capitals, goods and services. This is one of the major challenges of the “globalized” world wherein we live, from the perspective of human rights. May I conclude this inaugural lecture here at the International Institute of Human Rights in Strasbourg by reasserting what I have sustained, two years ago, in my General Course on Public International Law, delivered at the Hague Academy of International Law, to the effect that, in my understanding, advances in Law are ultimately due to human conscience, the ultimate material source of all Law120. It took many centuries for human beings to become aware of the problem of time, for them to acquire a “historical conscience”121. And, since the heroic times of The Iliad of Homer in ancient Greece, it took a few more centuries for human beings to acquire an “ethical conscience”, that is, to realize that they were responsible for their own conduct (each one being the inner “judge” of his own conduct) and for the way they treated others, their fellow human beings. In this connection, in the XXVIII Immanuel Kant used to conceptualize “conscience” as the “internal tribunalal” of each person as a “moral being” 122. Centuries earlier, The emergence of human conscience helped to face with some reason the so-called “struggle for existence”123, the old struggle for survival. The recta ratio present in the writings of the so-called “founding fathers” of the Law of Nations in the XVI and XVII centuries (such as F. de Vitoria, F. Suárez, H. Grotius, among others), in envisaging the civitas maxima gentium, in supporting the jus communications worldwide, and in propounding the essential unity of the humankind, - such recta ratio of scholastic thinking and writing, had its roots going back to the ancient Greeks (Plato and Aristotle), corresponding to their orthos logos124. It is human conscience which best governs the relations among human beings, whether interindividually or in groups. It is the universal juridical ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 243 Antônio Augusto Cançado Trindade conscience that guides universal international law, as its ultimate material source125, that moves it forward, to respond to changing needs of protection of the human person and to fulfil the basic aim of the realization of justice. I am confident that this 244 2007 Annual Study Session of the beloved International Institute of Human Rights here in Strasbourg will contribute to the prise de conscience to fulfil the pressing need of securing the human rights of migrants worldwide. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights NOTES 1. A.A. Cançado Trindade, Elementos para un Enfoque de Derechos Humanos del Fenómeno de los Flujos Migratorios Forzados (Study of July 1998 prepared for the IIHR), Guatemala City, OIM/IIDH, Sept. 2001, pp. 1-57. 2. Ibid., p. 26. 6. On the need of “revaluing” what is human and humanitarian nowadays, cf. J.A. Carrillo Salcedo, “El Derecho Internacional ante un Nuevo Siglo”, 48 Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (19992000) p. 257, and cf. p. 260. 3. J. Maritain, Los Derechos del Hombre y la Ley Natural, Buenos Aires, Ed. Leviatán, 1982 (reimpr.), pp. 12, 18, 38, 43, 50, 94-96 and 105108. To J. Maritain, “the human person transcends the State”, for having “a destiny superior to time”; ibid., pp. 81-82. On the “human ends of power”, cf. Ch. de Visscher, Théories et réalités en Droit international public, 4th. rev. ed., Paris, Pédone, 1970, pp. 18-32 et seq.. 7. M. Lengellé-Tardy, L’esclavage moderne, Paris, PUF, 1999, pp. 26, 77 and 116, and cf. pp. 97-98. 4. By State it is here meant the State in a democratic society, that is, the State which respects and ensures respect for human rights, is turned to the common good, and the public powers of which, separated, abide by the Constitution and the rule of law, with effective procedural guarantees of human rights and fundamental freedoms. 10. N. Van Hear, New Diasporas - The Mass Exodus, Dispersal and Regrouping of Migrant Communities, London, UCL Press, 1998, pp. 19-20, 29, 109-110, 141, 143 and 151; F.M. Deng, Protecting the Dispossessed - A Challenge for the International Community, Washington D.C., Brookings Institution, 1993, pp. 3-20. And cf. also, e.g., H. Domenach and M. Picouet, Les migrations, Paris, PUF, 1995, pp. 42-126. 5. S. Ogata, Challenges of Refugee Protection (Statement at the University of Havana, 11.05.2000), Havana/Cuba, UNHCR, 2000, pp. 7-9 (internal circulation); S. Ogata, Los Retos de la Protección de los Refugiados (Statement at the Ministry of External Relations of Mexico, 29.07.1999), Mexico City, UNHCR, 1999, p. 11 (internal circulation). - It has recently been pointed out that early warning systems (originally devised and used in the domain of International Refugee Law) has disclosed some shortcomings, used at times as they have been, simply to coerce people under stress not to migrate; S. Schmeidl, “The Early Warning of Forced Migration: State or Human Security?”, in Refugees and Forced Displacement International Security, Human Vulnerability, and the State (eds. E. Newman and J. van Selm), Tokyo, United Nations University, 2003, pp. 140, 145 and 149-151. From the perspective of the international civil society as a whole, the argument has been propounded in favour of securing full and effective citizenship to lawabiding migrants; M. Frost, “Thinking Ethically about Refugees: A Case for the Transformation of Global Governance”, in ibid., pp. 128-129. 8. Ph. Ségur, La crise du droit d’asile, Paris, PUF, 1998, pp. 110-114, 117, 140 and 155; F. Crépeau, Droit d’asile - De l’hospitalité aux contrôles migratoires, Bruxelles, Bruylant/Éd. Université de Bruxelles, 1995, pp. 306-313 and 337-339. 9. Cf. UNHCR, The State of the World’s Refugees - Fifty Years of Humanitarian Action, Oxford, UNHCR/Oxford University Press, 2000, p. 9. 11. N. Van Hear, op. cit. supra n. (10), pp. 251-252. As it has been pointed out, “the ubiquity of migration is a result of the success of capitalism in fostering the penetration of commoditization into far-flung peripheral societies and undermining the capacity of these societies to sustain themselves. Insofar as this `success’ will continue, so too will migrants continue to wash up on the shores of capitalism’s core”; ibid., p. 260. Cf. also R. Bergalli (coord.), Flujos Migratorios y Su (Des)control, Barcelona, OSPDH/Anthropos Edit., 2006, pp. 138, 152 and 244-248. - For a study of cased, cf., e.g., M. Greenwood Arroyo and R. Ruiz Oporta, Migrantes Irregulares, Estrategias de Sobrevivencia y Derechos Humanos: Un Estudio de Casos, San José of Costa Rica, IIHR, 1995, pp. 9-159. 12. Ibid., p. 152. 13. Simone Weil, The Need for Roots, London/N.Y., Routledge, 1952 (reprint 1995), p. 41. - On the contemporary drama of uprootedness, cf. A.A. Cançado Trindade, “Reflexiones sobre el Desarraigo como Problema de Derechos Humanos Frente a la Conciencia Jurídica Universal”, in La Nueva Dimensión de las ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 245 Antônio Augusto Cançado Trindade Necesidades de Protección del Ser Humano en el Inicio del Siglo XXI (eds. A.A. Cançado Trindade and J. Ruiz de Santiago), 4th. rev. ed., San José of Costa Rica, UNHCR, 2006, pp. 33-92. 14. Hannah Arendt, La tradition cachée, Paris, Ch. Bourgois Ed., 1987 (orig. ed. 1946), pp. 58-59 and 125-127. And cf. also, on the matter, e.g., C. Bordes-Benayoun and D. Schnapper, Diasporas et nations, Paris, O. Jacob Ed., 2006, pp. 7, 1112, 45-46, 63-65, 68-69, 129 and 216-219. 15. J.-M. Domenach, Le retour du tragique, Paris, Éd. Seuil, 1967, p. 285. 16. Nobel Peace Prize in 1986, who himself suffered the drama of uprootedness. 17. E. Wiesel, O Tempo dos Desenraizados (Le temps des déracinés, 2003), Rio de Janeiro, Edit. Record, 2004, pp. 18-19. 18. Ibid., pp. 21, 32, 181 and 197. 19. Ibid., pp. 212, 235, 266 and 278. On his concern with the need of preservation of memory, cf. also Elie Wiesel, L’oublié, Paris, Éd. Seuil, 1989, pp. 29, 63, 74-77, 109, 269, 278 and 336. Iglesia, Mexico, Instituto Mexicano de Doctrina Social Cristiana, 2004, pp. 9-82. 24. Cf., e.g., A.A. Cançado Trindade, “Human Development and Human Rights in the International Agenda of the XXIst Century”, in Human Development and Human Rights Forum (August 2000), San José of Costa Rica, UNDP, 2001, pp. 23-38; cf. also, e.g., L. Lippolis, Dai Diritti dell’Uomo ai Diritti dell’Umanità, Milano, Giuffrè, 2002, pp. 21-23 and 154-155. 25. On the meaning of this latter, cf., in general, L. de Sebastián, La Solidaridad, Barcelona, Ed. Ariel, 1996, pp. 12-196; J. de Lucas, El Concepto de Solidaridad, 2nd. ed., Mexico, Fontamara, 1998, pp. 13-109; among others. 26. Those reports stressed the importance of prevention (e.g., reinforcing the protection of the rights to life and personal integrity, as well as the rights to property of lands and goods); cf. F.M. Deng, Internally Displaced Persons (Interim Report), N.Y., RPG/DHA, 1994, p. 21; and cf. U.N., doc. E/CN.4/1995/50/Add.1, of 03.10.1994, p. 34. 20. For the full text of my Separate Opinion in the case of the Moiwana Community versus Suriname, cf. A.A. Cançado Trindade, Derecho Internacional de los Derechos Humanos Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 19912006), Mexico, Edit. Porrúa/Universidad Iberoamericana, 2007, pp. 539-567. 27. For comments, cf. W. Kälin, Guiding Principles on Internal Displacement - Annotations, Washington D.C., ASIL/Brookings Institution, 2000, pp. 1-276. 21. For the full text of my aforementioned Concurring and Separate Opinions, cf. ibid., pp. 876-883 and 321-330, respectively. 30. Principles 8 and following. 22. It is significant that, in its Judgment on the case of the Moiwana Community versus Suriname, the Inter-American Court, on the basis of the American Convention and in the light of the principle jura novit curia, devoted a whole section of the present Judgment to forced displacement - a malaise of our times - and established a violation by the respondent State of Article 22 of the American Convention (on freedom of movement and residence) in combination with the general duty of Article 1(1) of the Convention (pars. 101-119). 23. Jaime Ruiz de Santiago, “Derechos Humanos, Migraciones y Refugiados: Desafios en los Inicios del Nuevo Milenio”, in III Encuentro de Movilidad Humana: Migrante y Refugiado Memoria (September 2000), San José of Costa Rica, UNHCR/IIHR, 2001, pp. 37-72; and cf. Jaime Ruiz de Santiago, Migraciones Forzadas Derecho Internacional y Doctrina Social de la 246 28. Principles 1(1), 4(1), 22, 24(1). 29. It affirms, moreover, the prohibition of the “arbitrary displacement” (Principle 6). 31. Principles 17, 18, 20 and 23, respectively. 32. On a “comprehensive approach” to displacement so as to address as well the problem of forced migration as a whole, bearing in mind the U.N. Guiding Principles on Internal Displacement, cf. C. Phuong, The International Protection of Internally Displaced Persons, Cambridge, University Press, 2004, pp. 54-55 and 237. 33. 2nd. preambular paragraph. 34. 7th preambular paragraph. 35. 5th. preambular paragraph. 36. 12th. preambular paragraph. 37. Paragraph 3 (emphasis added). 38. Instead of subjective categorizations of persons (in accordance with the reasons which led them to abandon their homes), proper of the past, nowadays the objective criterion of the needs of protection came to be adopted, encompassing thereby a considerably greater number of ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights persons (including the internally displaced persons) so vulnerable as the refugees, or even more than these latter. 39. Ibid., pp. 14-15. 40. Ibid., pp. 431-432. 41. Cf. text reproduced in: UNHCR, Memoria del Vigésimo Aniversario de la Declaración de Cartagena sobre los Refugiados (1984-2004), Mexico City/San José of Costa Rica, UNHCR, 2005, pp. 385-398. 42. Cf. “Presentación por el Dr. A.A. Cançado Trindade del Comité de Consultores Jurídicos del ACNUR” (Mexico City, 15.11.2004), in UNHCR, Memoria del Vigésimo Aniversario de la Declaración de Cartagena..., op. cit. supra n. (41), pp. 368-369. 43. Ibid., p. 369. 44. Cf. A.A. Cançado Trindade, “Derecho Internacional de los Derechos Humanos, Derecho Internacional de los Refugiados y Derecho Internacional Humanitario: Aproximaciones y Convergencias”, in 10 Años de la Declaración de Cartagena sobre Refugiados - Memoria del Coloquio Internacional (San José of Costa Rica, Dec. 1994), San José of Costa Rica, IIDH/UNHCR, 1995, pp. 77-168; A.A. Cançado Trindade, “Aproximaciones y Convergencias Revisitadas: Diez Años de Interacción entre el Derecho Internacional de los Derechos Humanos, el Derecho Internacional de los Refugiados, y el Derecho Internacional Humanitario (De Cartagena/1984 a San José/1994 y México/ 2004)”, in Memoria del Vigésimo Aniversario de la Declaración de Cartagena sobre Refugiados (1984-2004), San José of Costa Rica, UNHCR, 2005, pp. 139-191. 45. Ibid., p. 369. 46. F.M. Deng, Protecting the Dispossessed..., op. cit. supra n. (10), pp. 1 and 133. 47. A.A. Cançado Trindade, “Preface” to: V.O. Batista, União Européia: Livre Circulação de Pessoas e Direito de Asilo, Belo Horizonte/ Brazil, Edit. Del Rey, 1998, p. 9. 48. Jaime Ruiz de Santiago, El Problema de las Migraciones Forzosas en Nuestro Tiempo, Mexico, IMDSC, 2003, p. 10; and cf. projections in: S. Hune and J. Niessen, “Ratifying the U.N. Migrant Workers Convention: Current Difficulties and Prospects”, 12 Netherlands Quarterly of Human Rights (1994) p. 393. 49. On the adversities suffered by (foreign) migrant workers (e.g., discrimination on the basis of race, nationality, among others), cf., inter alia, S. Castles and G. Kosack, Los Trabajadores Inmigrantes y la Estructura de Clases en Europa Occidental, Mexico, FCE, 1984, pp. 11-565. 50. Cit. in F.M. Deng, Protecting the Dispossessed..., op. cit. supra n. (10), p. 3. 51. Ibid., p. 4. - It has been warned that, in relation to migrants, the receiving State is always keen to display its power, and the distinct attitudes of Western European countries, of assimilation or else segregation of migrants, have had conflictive implications; E. Todd, El Destino de los Inmigrantes - Asimilación y Segregación en las Democracias Occidentales (transl. of Le destin des immigrés - Assimilation et ségrégation dans les démocraties occidentales), Barcelona, Tusquet Edit., 1996, pp. 147, 347, 351 and 353. The drama of migrants - their longing for roots and their own cultural identity - has thus persisted. 52. Which, in accordance with figures of the U.N. Development Programme (UNDP), only in Latin America victimizes today more than 270 million persons (compared to the 250 million of the eighties), who could soon get close to some 300 million people. 53. U.N./Centre for Human Rights, Los Derechos de los Trabajadores Migratorios (Foll. Inf. n. 24), Geneva, U.N., 1996, p. 4. 54. Ibid., pp. 15-16. 55. Cf. ibid., p. 16. 56. That is, frontier workers, seasonal workers, itinerant workers, project-tied workers, with concrete employment, on their own, - in the terms of the definitions of Article 2(2) of the 1990 Convention. Article 2(1) defines “migrant worker” as “a person who is to be engaged, is engaged or has been engaged in a remunerated activity in a State of which he or she is not a national”. 57. Cf. A. Eide et alii, The Universal Declaration of Human Rights - A Commentary, Oslo, Scandinavian University Press, 1992, p. 6. 58. M. Weiner, “Ethics, National Sovereignty and the Control of Immigration”, 30 International Migration Review (1996) pp. 171-195. 59. Cf. text in: A.A. Cançado Trindade, Derecho Internacional de los Derechos Humanos Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 1991- ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 247 Antônio Augusto Cançado Trindade 2006), Mexico, Edit. Porrúa/Universidad Iberoamericana, 2007, pp. 15-27. International and Comparative Law Quarterly (1999) pp. 515-518. 60. Cf. A.A. Cançado Trindade, “The Humanization of Consular Law: The Impact of Advisory Opinion n. 16 (1999) of the Inter-American of Human Rights on International Case-Law and Practice”, 4 Chinese Journal of International Law (2007) pp. 1-16. 63. Resettlement, within a reasonable time, in a third country, should also be considered; cf. “Los Derechos y las Obligaciones de los Migrantes Indocumentados en los Países de Acogida / Protección de los Derechos Fundamentales de los Migrantes Indocumentados”, 21 International Migration / Migraciones Internacionales (1983) pp. 135-136. 61. In some cases, the insufficiencies of the instruments of protection result from the very formulation of some of their norms. For example, in so far as the protection of statesless persons is concerned, the 1954 Convention Relating to the Status of Stateless Persons (and, implicitly, also the 1961 Convention of the Reduction of Statelessness) only refers to stateless persons de jure, so as to avoid statelessness as of birth, but failing to prohibit - what would perhaps be more relevant - the revocation or loss of nationality in given circumstances; C.A. Batchelor, “Stateless Persons: Some Gaps in International Protection”, 7 International Journal of Refugee Law (1995) pp. 232-255. 62. For a compelling argument against arbitrariness in the deportation of migrants, and in support of treating all migrants (including the undocumented ones) with fairness, and a sense of worth and humanity, cf. B.O. Hing, Deporting Our Souls - Values, Morality and Immigrantion Policy, Cambridge, University Press, 2006, pp. 1-215. On the provisions of the International Convention on the Protection of the Rights of All Migrant Workers and Members of their Families against unfair and arbitrary expulsion of migrants, pursuant to humanitarian considerations, cf. R. Cholewinski, Migrant Workers in International Human Rights Law Their Protection in Countries of Employment, Oxford, Clarendon Press, 1997, pp. 182-184. And, on the prohibition of massive expulsion of foreigners, cf. A.A. Cançado Trindade, “El Desarraigo como Problema de Derechos Humanos frente a la Conciencia Jurídica Universal”, in Movimientos de Personas e Ideas y Multiculturalidad (Forum Deusto), vol. I, Bilbao, University of Deusto, 2003, pp. 82-84; H.G. Schermers, “The Bond between Man and State”, Recht zwischen Umbruch und Bewahrung - Festschrift für R. Bernhardt (eds. U. Beyerlin et alii), Berlin, Springer-Verlag, 1995, pp. 192-194; H. Lambert, “Protection against Refoulement from Europe: Human Rights Law Comes to the Rescue”, 48 248 64. Cf. ibid., p. 136. 65. Namely, the 1949 Migration (n. 97) for Employment Convention (Revised), and the 1975 Convention (n. 143) concerning Migrant Workers, as well as Recommendation n. 151 concerning Migrant Workers (of 1975). For a contextual discussion, cf., e.g., B. BoutrosGhali, “The U.N. and the I.L.O.: Meeting the Challenge of Social Development”, in Visions of the Future of Social Justice - Essays on the Occasion of the I.L.O.’s 75th Anniversary, Geneva, I.L.O., 1994, pp. 51-53. 66. H.G. Schermers, “The Bond between Man and State”, Recht zwischen Umbruch und Bewahrung..., op. cit. supra n. (62), pp. 192194. 67. Despite the fact that the case was never lodged with the European Court of Human Rights, and that the Committee of Ministers did not pronounce on such violation of the European Convention, it awaited until all the complainants were admitted to the United Kingdom to conclude that if was no longer necessary to take any other measure. D.J. Harris, M. O’Boyle and C. Warbrick, Law of the European Convention on Human Rights, London, Butterworths, 1995, pp. 81-82 and 695. 68. Cit. in ibid., p. 82. - The old European Commission cared to characterize the “collective expulsion of foreigners”, for the purpose of application of the prohibition contained in Article 4 of Protocol n. 4 to the European Convention, as illustrated, e.g., by its considerations in the case A. et alii versus The Netherlands (1988), interposed by 23 applicants of Surinamese nationality; cf. European Commission of Human Rights, application n. 14209/88 (decision of 16.12.1988), in Decisions and Reports, vol. 59, Strasbourg, C.E., 1989, pp. 274-280. 69. Paragraphs 83 and 86, and resolutory point n. 3. 70. Paragraph 93, and resolutory point n. 6. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights 71. ECtHR, case of Abdulaziz, Cabales and Balkandali, Judgment (28.05.1985), Strasbourg, C.E., 1985, Concurring Opinion of Judge R. Bernhardt, p. 41. 79. And cf. Concurring Opinions of Judges A.A. Cançado Trindade and S. García Ramírez, and Partially Dissenting Opinion of Judge O. Jackman. 72. Bearing in mind the provision of Article 8 of the European Convention; cf. M.E. Villiger, “Expulsion and the Right to Respect for Private and Family Life (Article 8 of the Convention) An Introduction to the Commission’s CaseLaw ”, in Protecting Human Rights: The European Dimension - Studies in Honour of G.J. Wiarda / Protection des droits de l’homme: La dimension européenne - Mélanges en l’honneur de G.J. Wiarda (eds. F. Matscher and H. Petzold), Köln/Berlin, C. Heymanns Verlag, 1988, pp. 657-658 and 662. 80. As promptly acknowledged by expert writing; cf., e.g., G. Cohen-Jonathan, “Cour Européenne des Droits de l’Homme et droit international général (2000)”, 46 Annuaire français de Droit international (2000) p. 642; M. Mennecke, “Towards the Humanization of the Vienna Convention of Consular Rights - The LaGrand Case before the International Court of Justice”, 44 German Yearbook of International Law/ Jahrbuch für internationales Recht (2001) pp. 430-432, 453-455, 459-460 and 467-468; L. Ortiz Ahlf, De los Migrantes - Los Derechos Humanos de los Refugiados, Asilados, Desplazados e Inmigrantes Irregulares, Mexico, Ed. Porrúa/ Univ. Iberoamericana, 2004, pp. 1-68; Ph. Weckel, M.S.E. Helali and M. Sastre, “Chronique de jurisprudence internationale”, 104 Revue générale de Droit international public (2000) pp. 794 and 791; Ph. Weckel, “Chronique de jurisprudence internationale”, 105 Revue générale de Droit international public (2001) pp. 764-765 and 770. 73. R . Cholewinski, Migrant Workers in International Human Rights Law - Their Protection in Countries of Employment, Oxford, Clarendon Press, 1997, p. 341. 74. Ibid., pp. 341-342. 75. R. Cholewinski, “Strasbourg’s `Hidden Agenda’?: The Protection of Second-Generation Migrants from Expulsion under Article 8 of the European Convention of Human Rights”, 12 Netherlands Quarterly of Human Rights (1994) pp. 287-306. - For the obiter dicta of the European Court of Human Rights on the question of “long-term immigrants”, despite the fact that it found no violation of Article 8 of the European Convention in the cas d’espèce, cf. ECtHR, case of Uner versus Netherlands, Judgment of 18.10.2006, pars. 55-60. 76. Paragraph 7 n. 5 of my Concurring Opinion (my own translation), text in: A.A. Cançado Trindade, Derecho Internacional de los Derechos Humanos - Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 1991-2006), Mexico, Edit. Porrúa/ Universidad Iberoamericana, 2007, p. 878. 77. Cf. Jaime Ruiz de Santiago, El Problema de las Migraciones Forzosas en Nuestro Tiempo, Mexico, Instituto Mexicano de Doctrina Social Cristiana, 2003, pp. 27-30. 78. For the full text of my Separate Opinion in the case of the Moiwana Community versus Suriname (Interpretation of Sentence, of 08.02.2006), cf. A.A. Cançado Trindade, Derecho Internacional de los Derechos Humanos - Esencia y Trascendencia (Votos en la Corte Interamericana de Derechos Humanos, 1991-2006), Mexico, Edit. Porrúa/Universidad Iberoamericana, 2007, pp. 683-693. 81. Cf. A.A. Cançado Trindade, “The Humanization of Consular Law: The Impact of Advisory Opinion n. 16 (1999) of the Inter-American of Human Rights on International Case-Law and Practice”, 4 Chinese Journal of International Law (2007) pp. 1-16. 82. In the public hearings (on this 16th. Advisory Opinion) before the Court, apart from the 8 intervening States, several individuals took the floor, namely: 7 individuals representatives of 4 national and international non-governmental organizations (active in the field of human rights), 2 individuals of a non-governmental organization working for the abolition of the death penalty, 2 representatives of a (national) entity of lawyers, 4 University Professors in their individual capacity, and 3 individuals in representation of a person condemned to death. 83. As the ICJ has subsequently also admitted, in the LaGrand case. 84. As also promptly acknowledged by expert writing; cf., e.g., L. Hennebel, “L’`humanisation’ du Droit international des droits de l’homme Commentaire sur l’Avis Consultatif n. 18 de la Cour Interaméricaine relatif aux droits des travailleurs migrants”, 15 Revue trimestrielle des droits de l’homme (2004) n. 59, pp. 747756; S.H. Cleveland, “Legal Status and Rights ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 249 Antônio Augusto Cançado Trindade of Undocumented Migrants - Advisory Opinion OC-18/03 [of the] Inter-American Court of Human Rights”, 99 American Journal of International Law (2005) pp. 460-465; C. LalyChevalier, F. da Poïan and H. Tigroudja, “Chronique de la jurisprudence de la Cour Interaméricaine des Droits de l’Homme (20022004)”, 16 Revue trimestrielle des droits de l’homme (2005) n. 62, pp. 459-498. And cf. also, on the impact of the Advisory Opinion n. 18 of the IACtHR in the United States, R. Smith, “Derechos Laborales y Derechos Humanos de los Migrantes en Estatus Irregular en Estados Unidos”, in Memorias del Seminario Internacional `Los Derechos Humanos de los Migrantes’ (Mexico, June 2005), Mexico, Secretaría de Relaciones Exteriores, 2005, pp. 299-301. 85. In that 16th and pioneering Advisory Opinion, of major importance, the Inter-American Court clarified that, in its interpretation of the norms of the American Convention, it should extend protection in new situations (such as that concerning the observance of the right to information on consular assistance) on the basis of preexisting rights (supra). 86. Cf., e.g., A.M. Aragonés Castañer, Migración Internacional de Trabajadores - Una Perspectiva Histórica, Mexico, Edit. Plaza y Valdés, 2004 [reimpr.], pp. 21, 23, 54, 62, 71-73, 115-120, 125126, 148 and 154-157. 87. Jaime Ruiz de Santiago, “El Impacto en el Refugio de la Nueva Dinámica Migratoria en la Región Retos para Asegurar la Protección de Refugiados”, in IIHR, Primer Curso de Capacitación para Organizaciones de la Sociedad Civil sobre Protección de Poblaciones Migrantes (June 1999), Mexico/San José of Costa Rica, UNHCR/Universidad Iberoamericana/IIHR, 2002, p. 43; Juan Carlos Murillo, “La Declaración de Cartagena, el Alto Comisionado de Naciones Unidas para los Refugiados y las Migraciones Mixtas”, in Migraciones y Derechos Humanos (August 2004), San José of Costa Rica, IIHR/ PRODECA, 2004, pp. 174-176. 88. For the pleadings of the UNHCR before the Inter-American Court, cf. IACtHR, Series B (Pleadings, Oral Arguments and Documents), n. 18 (2003), pp. 211-223 (oral argument of 04.06.2003). 89. U.N., Special Rapporteur of the [U.N.] Commission on Human Rights on the Human Rights of Migrants, doc. www.ohchr.org, 2nd. paragraph. 250 90. 4th., 6th. and 7th. preambular paragraphs. 91. Cf. comments in: E.D. Estrada Tanck, “Legislación y Políticas Públicas Mexicanas: Armonización con el Régimen Jurídico Internacional sobre Derechos Humanos de los Migrantes”, in Memorias del Seminario Internacional `Los Derechos Humanos de los Migrantes’, (Mexico, June 2005), Mexico, Secretaría de Relaciones Exteriores, 2005, pp. 330-331; C. Villán Durán, “Los Derechos Humanos y la Inmigración en el Marco de las Naciones Unidas”, in ibid., pp. 95-98. 92. Cf., inter alia, Federación Iberoamericana de Ombudsman, I Informe sobre Derechos Humanos - Migraciones (coord. G. Escobar), Madrid, Ed. Dykinson/Depalma, 2003, pp. 47-420. 93. Cf., e.g., P.A. Fernández Sánchez, Derecho Comunitario de la Inmigración, Barcelona, Atelier, 2006, pp. 15-325. 94. The resolution further encouraged States Parties to implement fully the U.N. Convention against Transnational Organized Crime and the two Additional Protocols thereto, namely, the Protocol against the Smuggling of Migrants by Land, Sea and Air, and the Protocol to Prevent, Suppress and Punish Trafficking in Persons, Especially Women and Children, and urged States that had not done so to ratify them (par. 33). 95. 6th. preambular paragraph. 96. OAS, G.A. resolutions AG/RES.1404/XXVI-O/ 96 (of 1996) and AG/RES.1480/XXVII-0/97 (of 1997). 97. OAS, Special Rapporteurship on Migrant Workers and Their Families, Washington D.C., IAComHR, document www.cidh.oas.org/ migrants, 2007, pp. 1-10. 98. P. Akhavan and M. Bergsmo, “The Application of the Doctrine of State Responsibility to Refugee Creating States”, 58 Nordic Journal of International Law - Acta Scandinavica Juris Gentium (1989) pp. 243-256. 99. Cf. R. Hofmann, “Refugee-Generating Policies and the Law of State Responsibility”, 45 Zeitschrift für ausländisches öffentliches Recht und Völkerrecht (1985) pp. 694-713. 100. W. Czapli_ski and P. Sturma, “La responsabilité des États pour les flux de réfugiés provoqués par eux”, 40 Annuaire français de Droit international (1994) pp. 156-169. 101. L. Peral Fernández, Éxodos Masivos, Supervivencia y Mantenimiento de la Paz, Madrid, Ed. Trotta, 2001, pp. 208. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights 102. Ibid., pp. 72 and 79-81. 103. For general studies, cf. J.G.C. van Aggelen, Le rôle des organisations internationales dans la protection du droit à la vie, Bruxelles, E. StoryScientia, 1986, pp. 1-89; D. Prémont et alii (eds.), Le droit à la vie quarante ans après l’adoption de la Déclaration Universelle des Droits de l’Homme: Évolution conceptuelle, normative et jurisprudentielle, Genève, CID, 1992, pp. 5-91. 104. Cf. U.N., document E/CN.4/1995/CRP.1, of 30.01.1995, pp. 1-119. 105. U.N., Derechos Humanos y Éxodos en Masa Informe del Alto Comisionado para los Derechos Humanos, document E/CN.4/1997/ 42, of 14.01.1997, p. 4, par. 8, and cf. pp. 4-5, pars. 9-10. 106. For a general account, cf. A.A. Cançado Trindade, “Relations between Sustainable Development and Economic, Social and Cultural Rights: Recent Developments”, in International Legal Issues Arising under the United Nations Decade of International Law (eds. N. Al-Nauimi and R. Meese), Deventer, Kluwer, 1995, pp. 1051-1077; A.A. Cançado Trindade, “The Contribution of Recent World Conferences of the United Nations to the Relations between Sustainable Development and Economic, Social and Cultural Rights”, in Les hommes et l’environnement: Quels droits pour le vingt-et-unième siècle? - Études en hommage à Alexandre Kiss (eds. M. Prieur and C. Lambrechts), Paris, Éd. Frison-Roche, 1998, pp. 119-146; A.A. Cançado Trindade, “Sustainable Human Development and Conditions of Life as a Matter of Legitimate International Concern: The Legacy of the U.N. World Conferences”, in Japan and International Law - Past, Present and Future (International Symposium to Mark the Centennial of the Japanese Association of International Law), The Hague, Kluwer, 1999, pp. 285-309; A.A. Cançado Trindade, Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos, vol. III, Porto Alegre/Brazil, S.A. Fabris Ed., 2003, pp. 235-299; M.G. Schechter, United Nations Global Conferences, London, Routledge, 2005, pp. 95-100 and 134-139. 107. For an assessment of the work of the 1994 Cairo Conference on the issue of international migrations, cf., e.g., S. Johnson, The Politics of Population - The International Conference on Population and Development, Cairo 1994, London, Earthscan, 1995, pp. 165-174. 108. U.N./Centre for Human Rights, Los Derechos de los Trabajadores Migratorios (Foll. Inf. n. 24), Geneva, U.N., 1996, pp. 19-20. 109. Ibid., p. 19. 110. Cf. ibid., p. 20. 111. U.N., Derechos Humanos y Éxodos en Masa..., op. cit. supra n. (105), p. 21, par. 61. 112. 4th. preambular paragraph. 113. Cf. U.N., Recommended Principles and Guidelines on Human Rights and Human Trafficking - Report of the U.N. High Commissioner for Human Rights to the Economic and Social Council, U.N document E/2002/68/Add.1, of 20.05.2002, pp. 3-16. 114. On such distinct characteristics, e.g., in some Latin American countries, cf. IIHR, Balance y Perspectivas del Fenómeno Migratorio en América Latina: Punto de Aproximación desde la Perspectiva de la Protección de los Derechos Humanos, San José of Costa Rica, IIHR, 1998, p. 2 (restricted circulation). 115. Cf., e.g., J.E. Méndez, A Proposal for Action on Sudden Forced Migrations, San José of Costa Rica, IIHR, 1997, p. 10 (restricted circulation). 116. Cf. IIHR, Papel Actual de las Organizaciones de la Sociedad Civil en Su Trabajo con las Poblaciones Migrantes en el Continente, San José of Costa Rica, IIHR, 1998, pp. 1-14 (restricted circulation). 117. L. Ortiz Ahlf, “Derechos Humanos de los Migrantes”, 35 Jurídica - Anuario del Departamento de Derecho de la Universidad Iberoamericana (2005) pp. 14, 19, 23 and 26-29. 118. A.A. Cançado Trindade, “El Desarraigo como Problema de Derechos Humanos frente a la Conciencia Jurídica Universal”, in Movimientos de Personas e Ideas y Multiculturalidad (Forum Deusto), vol. I, Bilbao, University of Deusto, 2003, pp. 87-103. 119. Cf., e.g., among many other initiatives: International Institute of Humanitarian Law (IIHL), Conflict Prevention - The Humanitarian Perspective (Proceedings, August/September 1994), San Remo, IIHL, 1994, pp. 7-185; Universidad de Sevilla, La Asistencia Humanitaria en el Derecho Internacional Contemporáneo, Sevilla, Univ. de Sevilla, 1997, pp. 1-74 (internal circulation); XVI Cumbre Iberoamericana, Compromiso de Montevideo sobre Migraciones y Desarrollo, of 05.11.2006, pp. 1-10 (internal circulation). ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 251 Antônio Augusto Cançado Trindade 120. A.A. Cançado Trindade, “International Law for Humankind: Towards a New Jus Gentium General Course on Public International Law Part I”, 316 Recueil des Cours de l’Académie de Droit International de la Haye (2005) pp. 177-202. 121. Ernst Cassirer, Essai sur l’homme, Paris, Éd. de Minuit, 1975, pp. 243-244. 122. Particularly in his Fondements de la métaphysique des moeurs (1785); an cf. I. Kant, 252 [Critique de] la raison pratique, Paris, PUF, 1963 [reed.], p. 201. 123. Karl Popper, In Search of a Better World, London, Routledge, 2000 [reprint], p. 28. 124. A.A. Cançado Trindade, “International Law for Humankind: Towards a New Jus Gentium...”, op. cit. supra n. (120), Part I, pp. 40-42 and 179-184. 125. Ibid., pp. 177-202. ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ Uprootedness and the Protection of Migrants in the International Law of Human Rights LE PORT DU VOILE À L’UNIVERSITÉ. LIBRES PROPOS SUR L’ARRÊT DE LA GRANDE CHAMBRE LEYLA SAHIN C. TURQUIE DU 10 NOVEMBRE 2005 ••••••••••••••••••••••••••• LAURENCE BURGORGUE-LARSEN Professeur à l’Université Paris I Panthéon Sorbonne EDOUARD DUBOUT Maître de Conférences à l’Université Paris XII; Membre du Cerco-Cde Une confirmation discutée. Voilà présentée, sous le mode lapidaire, la solution de l’arrêt du 10 novembre 2005 dans l’importante affaire Leyla Sahin1. La Grande Chambre décida – ‘pour une fois’ serait-on tenté d’affirmer – de ne pas endosser «le rôle du rabat-joie»2, contrairement à ce qu’elle fit dans l’affaire Hatton où elle infirma avec éclat la solution rendue par les premiers juges au grand dam des défenseurs d’une approche environnementaliste de la Convention 3. En l’espèce, elle jugea opportun de ne pas désavouer la quatrième Section qui s’était prononcée sur l’affaire le 29 juin 20044: les juges de Strasbourg confirment donc que l’exclusion d’une étudiante en médecine de l’Université d’Istanbul – qui avait refusé de retirer son voile pour passer des examens comme pour suivre des cours – n’est pas contraire à l’article 9 de la Convention consacrant la liberté de pensée, de conscience et de religion. Le Conseil constitutionnel français doit se sentir plus à son aise lui qui, préjugeant de la solution définitive de la Cour européenne, avait commis l’imprudence de citer l’arrêt de la Chambre du 29 juin 2004 dans les visas de son importante décision relative au Traité établissant une Constitution pour l’Europe5. Alors qu’il décidait de manifester, expressément pour une fois, son ouverture au «droit venu d’ailleurs» – longtemps décrié par les plus illustres des juristes 6 –, il le faisait maladroitement au point d’entraîner une kyrielle de critiques doctrinales7, dont il reste à espérer qu’elles ne réfréneront pas son appétence européenne, mais qu’elles le rendront uniquement plus attentif aux subtilités procédurales européennes, en l’occurrence celles de la procédure de renvoi de l’article 43… La confirmation ne prend pas les allures toutefois d’un arrêt qui se présenterait comme le «clone judiciaire» de celui délivré le 29 juin 2004. Tout d’abord, l’unisson n’est point au rendez-vous. Une opinion séparée rompt l’apparente harmonie analytique. Le juge belge Françoise Tulkens est en effet entré en dissidence conformément à la possibilité offerte par l’article 45 §2 de la Convention8. Et de développer une critique forte et argumentée tant de la motivation que de la solution délivrée par ses homologues au point de redonner tout son sel, voire tout son sens, à la pratique des opinions séparées dont la littérature juridique française a découvert ces derniers temps tout l’intérêt9. Ensuite, le droit de manifester sa religion n’est plus le seul en cause, le droit à l’instruction faisant une entrée remarquée dans l’argumentation de la Cour. Alors que la Chambre avait considéré que «nulle question distincte ne se posait sous l’angle des articles 8, 10, 14 et de l’article 2 du protocole n°1», la Grande Chambre dévoile une fois de plus toutes les potentialités que recèle son contrôle de pleine juridiction en rappelant que «l’affaire» renvoyée devant elle «englobe nécessairement tous les aspects de la requête de la Chambre» (§128). Elle applique ce faisant la jurisprudence qu’elle avait dégagé dans l’affaire Göc c/ Turquie du 11 juillet 200210 en affirmant que «le grief tiré de la première phrase de l’article 2 du Protocole n°1 peut être considéré comme distinct de celui tiré de l’article 9 de la Convention, compte tenu des circonstances propres à l’affaire et de la nature fondamentale du droit à l’instruction ainsi que de la position des parties» (§129). La judicieuse réorientation, par la requérante, de son argumentation sur le terrain du droit à l’instruction dans le cadre de la procédure de renvoi (§125), fut sans conteste un aiguillon qui ne ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ 253 Laurence BURGORGUE-LARSEN e Edouard DUBOUT manqua pas de finir de convaincre la Grande Chambre d’examiner séparément ce grief, et ce, même si les juges grec (M. Rozakis) et croate (M. Vajic) considérèrent une telle démarche comme peu opportune11. Mais au-delà de ce double apport de l’arrêt de Grande Chambre, quant à la forme et quant au fond de la solution, les enjeux étaient évidemment identiques. Comment concilier le port d’un signe religieux avec d’autres exigences démocratiques contradictoires? Comme souvent, cette question de la conciliation entre différents intérêts, ceux de la requérante et ceux d’autrui, est particulièrement épineuse. Le primat accordé à la laïcité au dépend non seulement de la liberté de manifester sa religion mais aussi du droit à l’instruction et à la nondiscrimination n’en est que plus remarquable. Plus que de coutume, l’arrêt du 10 novembre 2005 retient l’attention en ce qu’il revêt une importance toute particulière pour les pays qui, comme la France, connaissent des difficultés similaires de réglementation de la question du port du voile en milieu scolaire12. C’était en effet la survie même du principe de laïcité en Europe qui était en jeu. Mais en se prononçant sur la légitimité du recours au concept de laïcité pour résoudre ces questions, le juge conventionnel s’est nécessairement avancé sur le bien-fondé de la conception de la laïcité retenue pour y parvenir. Or, si la réception conventionnelle du principe de laïcité apparaissait souhaitable, son application au cas d’espèce est plus discutable. Le paradoxe tient à ce