Matematicamente pensando: Casas e famílias
Carlos Morais
Ter uma casa para viver é uma meta para cada núcleo familiar,
independentemente do número de pessoas que o constitui. Considerando “casa” como
qualquer edifício destinado à habitação, o bem-estar de cada pessoa é influenciado pelas
caraterísticas da casa que habita. No entanto, o equilíbrio entre as casas necessárias para
uma certa comunidade e aquelas que existem disponíveis constitui uma equação de
difícil resolução. Difícil porque há casas prontas a habitar e não há quem as alugue ou
compre e, por outro lado, há famílias com necessidades extremas de casa que não têm
condições (económicas) para as poderem adquirir.
A aparente contradição entre o número de casas não habitadas e o número de
casas necessárias, em Portugal, está bem patente nas duas frases seguintes, extraídas do
jornal DN de 26-11-2012: “735 128. É o número de casas vazias que existe em
Portugal. Os números fazem parte dos Censos 2011” (p. 5); “Em Portugal, há 450 mil
famílias a viver em casas sobrelotadas (…)” (p. 4). É evidente que 735 mil casas vazias
é um número muito superior ao de 450 mil casas necessárias.
Um dos desafios de cada Governo é contribuir para que exista algum equilíbrio
entre os investimentos realizados e a sua utilidade. Acredito que a maior dificuldade dos
Governos tem sido conjugar a verdade dos números com as respostas aparentes a
dificuldades momentâneas. Mas, trabalhar sem números e sem estimativas
fundamentadas é trabalhar com palpites, abrindo caminho à injustiça e à
imprevisibilidade.
Depois dos problemas surgirem não adianta encontrar culpados, mas é essencial
encontrar soluções. É urgente solucionar os problemas das várias empresas que
investiram na construção de casas e hoje têm casas que ninguém compra ou aluga, ao
mesmo tempo que se veem sufocadas com encargos financeiros e com a
impossibilidade de manterem os trabalhadores, assim como proporcionar condições
dignas às famílias que delas necessitem.
As casas sobrelotadas traduzem um conjunto de problemas sem fim à vista. O
bem-estar da sociedade começa no bem-estar individual. Viver em condições precárias é
um primeiro passo para a insegurança e para a incerteza.
Tem sido opção dos vários governos retirarem dinheiro onde pensam que ainda
existe, sem olhar com profundidade para as consequências. Concordo com a ideia que
se lute por igualdade de oportunidades. Mas a igualdade de oportunidade à partida não
conduz, necessariamente, à igualdade à chegada.
Se continuarmos a retirar o máximo a todos os que conseguiram acumular
riqueza, ter uma reforma aceitável, um vencimento acima da média ou lucros elevados
nas empresas, como será possível ter força e motivação para poupar, estudar mais,
trabalhar mais ou investir mais?
Se os vencimentos não tivessem tido os cortes que tiveram, as empresas não
tivessem sido tão sobrecarregadas com juros e impostos, o desequilíbrio entre o número
de casas vazias e o número de casas necessárias seria tão grande?
Parece ser simples de aceitar que vender muitos produtos e ganhar pouco em
cada um pode ser equivalente, em termos de ganhos, a vender poucos e ganhar muito
em cada um. O mesmo se passa com os impostos, retirar muito sempre aos mesmos
pode ser equivalente a retirar menos a maior número de pessoas. A possibilidade de
todos ficarmos pobres, não só prejudica os que ainda têm uma vida equilibrada como
torna ainda mais pobres aqueles que, infelizmente, já vivem em situação de pobreza.
Morais, C. (2012). Matematicamente pensando: Casas e famílias. Mensageiro de Bragança, 13 de
dezembro de 2012, p. 7.
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