Passagens Sob(re) o Eixão Prioridades Brasília é uma utopia construída que hoje paga seu preço. A lógica modernista que prioriza o transporte automotivo gerou uma cidade que impossibilita o trânsito de pedestres. É tempo de escolher entre continuar perseguindo utopias ou encarar a realidade de maneira objetiva. As recorrentes melhorias nas passagens 1º 2º subterrâneas, embora válidas a curto prazo, são apenas uma solução paliativa. Devemos fazer uma reflexão profunda acerca do real problema. Trata-se da resolução de um problema de arquitetura, a travessia de pedrestres, e não da tentativa de adaptar uma solução que, ao longo dos anos, visivelmente não se adequou ao cotidiano da cidade. A proposta aqui apresentada obedece ao instinto primitivo do ser humano de sempre procurar percorrer a menor distância para atingir o seu objetivo. Através da legitimação da travessia de pedestres sobre a via, substitui-se a solução atual, orientada ao automóvel, pela tendência natural de priorizar o transporte peatonal e ciclístico, mais sustentável e saudável. democratiza-se o acesso aos dois lados do Eixão. Pedestres, cadeirantes e cliclistas podem atravessar sem interrupção e sem troca de nível, reduzindo o tempo de passagem e garantindo a segurança de todos. Proposta Optou-se pela mais simples, barata e natural das formas de travessia peatonal: a faixa de segurança com semáforo. Ao manter a travessia no mesmo nível da calçada, Mobilidade Urbana A proposta busca incentivar o transporte sustentável em todas as suas formas, seja pela ciclovia, localizada no canteiro dos eixinhos, que atravessa sem interrupção toda a extensão das duas asas ou pela facilitação do acesso às paradas de ônibus que se localizam ao lado das travessias, com O chão restituído ao pedestre Sol e Segurança quiosques comerciais sob sua cobertura. Brasília foi projetada objetivando a movimentação ininterrupta de veículos ao longo do Eixão. Levando em conta este aspecto do Plano Piloto, são propostos semáforos sincronizados pelo sistema de onda verde, que permite o tráfego constante. A Cidade Que Queremos Na conclusão de seu relatório, Lúcio Costa discorre sobre como o chão deve ser restituído aos pedestres. Meio século depois de sua inauguração, Brasília mostra claros sinais do desejo dos pedestres em retomar esse chão para si. Nos arredores das paradas de ônibus, existem inúmeros caminhos alternativos traçados pelos pedestres, resultado da busca constante pelo menor percurso. A cidade que propomos liberta o pedestre das amarras dos percursos traçados a priori, garantindo o livre arbítrio e aumentando a segurança de todos. 3º Prioridade nas cidades Tipo ideal de travessia O transporte de pedestres e ciclistas deve ser Pedestres e veículos devem, para a segurança colocado em primeiro lugar, priorizando a de todos, e podem dividir o mesmo espaço. mobilidade urbana sustentável. Ao elevar os Passagens de pedestres em nível distinto, tanto pedestres ao nível da rodovia, se reconhece o elevadas quanto enterradas, apresentam uso das calçadas e do transporte público como obstáculos para a integração dos meios de uma realidade possível e desejável nas transporte e desencorajam o transeunte, cidades e grandes centros urbanos. levando-o a travessias alternativas e, por vezes, inseguras. Priorizar o transporte peatonal significa devolver ao pedestre, como vislumbrado por Lúcio Costa, o que é seu por definição: o nível do chão. Significa, também, dar um novo status ao transporte à pé, hoje considerado a última alternativa de locomoção urbana em Brasília. Túneis são, em sua grande maioria, espaços sombrios. Embora essas passagens possam ser seguras em locais onde o investimento em manutenção e energia não é um problema, elas nunca serão a primeira opção de travessia. A experiência de caminhar ao ar livre, sob a luz do sol, nunca será substituída por corredores subterâneos potencialmente perigosos. Abertura e absorção A possibilidade de incluir o pedestre ao cotidiano da cidade faz com que cresça mutuamente o respeito entre os meios de transporte. Ao liberar apenas o subsolo para o pedestre, reduz-se não só a sua segurança como também a sua dignidade, ignorando o fato de que a cidade deve servir, em primeiro lugar, às pessoas. Ciclovias nos canteiros centrais dos eixinhos proporcionam maior mobilidade urbana.