Perfil dos Produtores Rurais que Vendem na Feira do Pequeno Produtor de Passo Fundo (RS) Dionise Magna Juchem Professora/Pesquisadora da Faculdade do Sul de Mato Grosso Rua Ceará, 88 Bairro Birigui, Rondonópolis-MT [email protected] Paola Boscarin Bacharel em Administração, Universidade de Passo Fundo Rua Harmonia, 180 Bairro Lucas Araújo Passo Fundo –RS [email protected] Edgardo Alfredo Herrera Céspedes Professor/Pesquisador da Faculdade do Sul de Mato Grosso Rua Ceará, 88 Bairro Birigui, Rondonópolis-MT [email protected] Área Temática: Gestão e Contratos no Sistema Agroindustrial Forma de Apresentação: Apresentação em sessão sem debatedor 2 Perfil dos Produtores Rurais que Vendem na Feira do Pequeno Produtor de Passo Fundo (RS) RESUMO O presente trabalho objetiva conhecer o perfil dos pequenos produtores rurais associados à Feira do Pequeno Produtor de Passo Fundo (RS). Como metodologia se aplicou questionário aos produtores associados à feira, contemplando as características das suas famílias, de suas unidades de produção, o funcionamento e localização, bem como aspectos peculiares de cada família, de como é realizada a administração da propriedade pela família, como é conduzido o trabalho em relação aos filhos, e na terra. Nesse sentido os resultados evidenciam que os pequenos produtores rurais são os próprios fundadores dessas propriedades, e os filhos ainda permanece junto a eles na propriedade. Com relação ao trabalho na terra a mão-de-obra é em quase sua totalidade familiar, a administração das propriedades é realizada pelos pais (marido e esposa), os mesmos misturam questões da propriedade com questões particulares da família e seus filhos vêem a propriedade como um negócio dos seus pais, mas também como futuro negócio para eles. Palavras-chave: Agricultura, Produtor rural, Feira. 3 Perfil dos Produtores Rurais que Vendem na Feira do Pequeno Produtor de Passo Fundo (RS) 1 INTRODUÇÃO Desde a Revolução Industrial tem se observado a movimentação social e econômica do espaço rural para o urbano numa intensidade tal que tem provocado rupturas no processo de evolução econômica do meio rural, bolsões de pobreza no meio urbano e necessidade de consumo pautada em um novo perfil sócio-econômico do país. Porém, mesmo diante da constatação de que rupturas no meio rural têm provocado oscilações no meio urbano, os estudos na área de administração acabam normalmente priorizando o segundo, em detrimento do primeiro. Talvez pelo fato de que discutir a gestão no espaço urbano envolve a “modernidade”, enquanto que no meio rural se mostra “clássico” e ultrapassado. Mas, quando se fala da instituição familiar, as relações tendem a ser as mesmas e estão assentadas pelos mesmos princípios. As relações sociais no seio familiar, nos meios urbano e rural quase não se alteram e se os princípios que norteiam tais relações são semelhantes, se pressupõe que a partilha dos bens pertencentes ao empreendimento rural num processo sucessório deveria ser equivalente ao empreendimento urbano. Será que essa realidade também não se altera na partilha dos bens da família, no empreendimento rural? As disputas e o enfraquecimento do empreendimento se dá na mesma dimensão, tanto no rural, quanto no urbano? O processo sucessório torna-se importante porque envolve um componente-chave patrimônio da família, a continuidade da atividade profissional do pai e a saída da geração mais velha do comando do negócio. Numa perspectiva teórica, sabe-se que tal processo determina a condução da empresa para o sucesso ou para o fracasso, dependendo talvez, apenas da maneira como a sucessão ocorrerá, ou seja, se ela acontecerá de maneira pacífica e organizada ou de maneira turbulenta e desajustada. Considerando que essa afirmativa pode ser questionada no meio rural, pelas especificidades da família e do formato de gerenciamento rural, este trabalho busca conhecer o perfil dos pequenos produtores rurais que vendem na Feira do Pequeno Produtor de Passo Fundo (RS). 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 Conceituando empresa familiar Segundo Ricca (2003), as empresas familiares são a forma predominante de empresa em todo o mundo. Nas economias capitalistas, a maioria das empresas se inicia com as idéias, o empenho e o investimento de indivíduos empreendedores e seus parentes. Fazer com que um empreendimento empresarial tenha sucesso e depois passar para os filhos (e, recentemente filhas) não é apenas um sonho americano. O sucesso e a continuidade das empresas familiares são o sonho dourado para grande parte da população do mundo. Para a maioria das pessoas, as duas coisas mais importantes em suas vidas são a família e o trabalho. É fácil compreender o poder das organizações que combinam ambas as coisas. Fazer parte de uma empresa familiar é algo que afeta todos os participantes. O papel de presidente do conselho é diferente quando a empresa foi fundada pelo seu pai, e sua mãe e irmãos participam das reuniões, assim como se sentam em torno da mesa de jantar. Com isso, para se ter uma melhor definição do que vem a ser uma empresa familiar, Bernhoeft (1989) conceitua dizendo que as empresas familiares são aquelas empresas que têm 4 sua origem e história vinculada a uma mesma família; ou ainda, aquela que mantém membros da família na administração do negócio. Já na visão de Lodi (1993), a definição de empresa familiar surge geralmente com a segunda geração de dirigentes, ou porque o fundador tem a pretensão de dar espaço para eles entre seus antigos colaboradores, ou ainda porque seus futuros sucessores precisam criar uma ideologia a qual justifique a sua sucessão ao poder. Observando a realidade das organizações de base familiar, acredita-se que elas surgiram através do forte espírito e da visão empreendedora de seus fundadores. A realidade que pode ser visualizada nas organizações de base familiar nos parece que esta é considerada por seus fundadores como uma extensão da família, e que esta existe para garantir o futuro da mesma. As empresas possuídas e administradas por famílias constituem umas formas organizacionais peculiar, cujo caráter especial têm conseqüências positivas e negativas. Elas extraem uma força especial de história, identidade e linguagem comuns às famílias. Quando dirigentes-chave são parentes, as tradições, valores e prioridades brotam de uma fonte comum. Mais importante, o empenho, até mesmo a ponto do auto-sacrifício pode ser solicitado em nome do bem-estar geral da família. Entretanto, esta mesma intimidade também pode trabalhar contra o profissionalismo do comportamento empresarial. Ou seja, pode ser mais difícil exercer autoridade com os parentes. Os papéis na família e na empresa podem se tornar confusos. As pressões da empresa podem sobrecarregar e destruir relacionamentos familiares. Quando trabalhando mal, é possível criarem níveis de tensão, raiva, confusão e desespero, que podem destruir, de forma surpreendentemente rápida, boas empresas e famílias sadias, (RICCA, 2003). Frente a isso, se observa que atualmente o mundo passa por mudanças na economia e na política quase que a cada minuto. As rápidas mudanças causadas pela globalização fazem com que as empresas tornem-se cada vez mais competitivas para conseguirem firmar seu lugar no mercado. Nesse contexto, torna-se importante que o empreendedor ou o dono do negócio avalie de um modo geral o ambiente em que a organização está inserida para que possa traçar estratégias que possibilitem a sobrevivência da empresa, ou seja, tomar atitudes que não encaminhem seu empreendimento para um processo de deteriorização, fazendo com que esta não chegue a terceira geração, ou até mesmo não atinja a segunda geração (de pai para filho). Segundo Padula (1999) o nível de participação dos membros da família na gestão da empresa é influenciado pelas motivações que levaram o empreendedor a criar seu próprio negócio. Os empresários com motivações ligadas à realização profissional, ao exercício de poder, tenderão a ser relutantes quanto à profissionalização de gestão da empresa, conseqüentemente, tenderão a manter uma forte participação dos membros da família na condução da empresa, enquanto que os empresários cujas motivações estão ligadas ao desejo de criar e fazer prosperar seu próprio negócio, manifestam-se favorável a um processo de descentralização e profissionalização da gestão empresarial. Mas o que o autor afirma com clareza é que delegando ou não, profissionalizando ou não, crescendo ou não, o que definirá o sucesso ou não da empresa é o processo de sucessão familiar. A questão de sucessão dentro das empresas familiares apresenta-se bastante conflitante, pois existe a resistência por parte dos fundadores em deixar o comando da empresa para o filho ou para aquele que está mais apto a comandar o empreendimento. Talvez seja porque o fundador não perceba que o filho ou a nova geração passou por um processo de ensino no qual aprendeu a base para comandar ou até mesmo a montar a sua própria organização, já que o modo de criação das duas gerações foram totalmente diferentes. O pai teve que dar o sangue para conseguir erguer a empresa e dar continuidade, enquanto que o 5 filho está recebendo-a pronta, não precisando iniciar “do nada” e não tendo que aprender tudo sozinho. Enfim, as empresas familiares são complicadas, mas ao mesmo tempo, decisivas para a saúde da economia e a satisfação de milhões de pessoas. Mas nem sempre os profissionais estão preparados para lidar com a natureza especial deste tipo de empresa, pois a influência das famílias sobre os negócios que elas possuem e dirigem, muitas vezes é invisível para os teóricos e para as escolas de administração, (RICCA, 2003). 2.2 Agricultura familiar Para a EMBRATER (1982), a agricultura é definida como a arte de cultivar a terra, decorrente da ação do homem sobre o processo produtivo à procura de satisfazer suas necessidades básicas. Já o processo produtivo, é definido como o conjunto de eventos e ações através dos quais os fatores de produção se transformam em produtos vegetais e animais. Assim sendo, a propriedade se caracteriza como a intervenção do homem sobre o processo produtivo natural, transformando, manejando ou mesmo criando fatores de produção que caracteriza a agricultura. Já para a EMBRAPA (2003) a agricultura familiar caracteriza uma forma de organização da produção em que os critérios utilizados para orientar as decisões à exploração não são vistos unicamente pelo ângulo da produção/rentabilidade econômica, mas considera também as necessidades e objetivos da família. Ao contrário do modelo patronal, na qual há completa separação entre gestão e trabalho, no modelo familiar estes fatores estão intimamente relacionados. Desse modo, a ação do homem sobre o processo produtivo dá-se diretamente quando ele participa como executor de práticas do cultivo, ou indiretamente, quando atua como gerente, selecionando fatores e decidindo sobre a melhor forma de combiná-los, tendo em vista a obtenção de um determinado produto, na qualidade e quantidade desejada, (EMBRATER, 1982). 2.2.1 A unidade de produção Para EMBRATUR (1982), a unidade de produção é a extensão contínua da terra, onde o homem, isolado ou em grupo, cultiva plantas e cria animais. O seu funcionamento está condicionado à existência de estrutura externa, como: estrada, meios de transporte, comércio de insumos e produtos, rede bancária, serviços de assistência técnica, entre outros. Na unidade de produção, o número e a natureza dos produtos explorados estão condicionados à qualidade dos fatores de produção utilizados, à localização e à estrutura externa existente. Em função dessas características básicas e da forma como são exploradas, EMBRATER, (1982) classifica as unidades de produção em: Pequenas, médias e grandes, dependendo da área explorável; Familiar e patronal, dependendo da natureza do trabalho utilizado na sua exploração; Tradicionais e modernos, dependendo do volume de capital utilizado na exploração, em relação à quantidade de terra ou mão-de-obra; Especializadas ou diversificadas, dependendo do número de produto e importância destes na composição da renda; e De subsistência ou de mercado, dependendo do volume da produção que se destina, respectivamente ao consumo próprio e ao mercado. Na visão de Silva (1999) os tipos de produtores rurais encontrados no Brasil apresentam uma grande diversificação, distinguindo-se em: 6 Os grandes proprietários e capitalistas agrários: as principais características são: a propriedade rural dos meios de produção, uma divisão de trabalho que separa os trabalhadores diretos do responsável pelo empreendimento e a orientação dos investimentos pela taxa de lucro, ou seja, em função das expectativas de lucro, caracterizando assim, uma certa mobilidade do seu capital. As empresas familiares: são unidades que possuem uma série de elementos que definem uma empresa comercial, mas mantém ainda, alguns traços típicos de atividade familiar. Suas principais características são: a) ao longo do processo produtivo participam um número variável de temporários ou pelo menos um assalariado em caráter permanente; o responsável quase não participa das atividades diretas, assim como a ocupação dos membros da família se concentra nas tarefas especializadas, como o manejo de máquinas e animais; b) a taxa de lucro não é a variável-chave no funcionamento dessas empresas, sendo mais importante o nível de rendimento total do proprietário, ou seja, existe um cálculo econômico orientado para maximizar a renda líquida que se pode obter daquela área de terra, que em geral é o meio de produção mais restrito; c) a mobilidade do capital é pequena e, portanto, a busca de alternativas produtivas não orienta os investimentos, senão simplesmente a obtenção de “resultados positivos”; d) o comportamento empresarial do “dono” não é de um “patrão” típico, chegando até mesmo a realizar algumas tarefas lado a lado com seus empregados”, e) na contratação dos empregados, tendem a prevalecer relações não-formalizadas legalmente e o nível de rentabilidade das unidades produtivas não é suficiente para garantir a mão-de-obra remunerada. Os produtores camponeses se distinguem dos anteriores pela posse de pequenas áreas e pelo trabalho basicamente familiar, podendo ou não, ser complementado por assalariados temporários. Nesse grupo, a modalidade do capital é mínima, ou seja, praticamente são “obrigados” a produzir todo ano os mesmos produtos da região, pois não dispõem de alternativas para o uso de seus equipamentos e tampouco podem alcançar outros mercados que os comerciantes locais. Fundamentalmente o que distingue as empresas familiares das unidades camponesas, segundo Silva (1999) é o grau incipiente de divisão do trabalho que implica, tanto a separação pelo menos parcial do responsável (cuida mais da comercialização ou dirige as máquinas), como no emprego do trabalho assalariado de forma constante. ONU/FAO/INCRA (1996) descreve a agricultura familiar com base em três características: a gerência da propriedade rural é feita pela família; o trabalho é desempenhado na sua maior parte pela família; os fatores de produção pertencem à família (exceção, às vezes, à terra) e são passíveis de sucessão, em caso de falecimento ou aposentadoria dos gerentes. Segundo Tedesco (1999, p.33) agricultura familiar é “a diversidade de manifestações e particularidades, a ótica da continuidade – redefinição de formas, valores e tradições; a família como proprietária, trabalhadora e produtora”. Já na visão de Schneider (1999), a agricultura familiar é vista como: os estudos da história rural e da agricultura revelam que o agricultor sempre combinou a cultura da terra e o trato dos animais com outras atividades, tais como a confecção caseira de roupas, utensílios domésticos e de instrumentos de trabalho, bem como a obtenção de novos bens para o consumo a partir dos produtos da terra, dos quais o pão é o mais claro exemplo. Essa combinação, que se realizava no interior do próprio estabelecimento familiar, constituía-se num mecanismo de adaptação das formas tradicionais da agricultura familiar às condições naturais, técnicas e sociais sob as quais a família do agricultor deve prover sua subsistência. Quando se fala em empresas familiares, é comum pensar o meio urbano e naquele empreendimento com seus dias contados em razão das fatalidades da racionalidade, das 7 exigências do mercado globalizado, daquela tão conhecida administração moderna e do temido fim da família, (TEDESCO, 2000). Na visão de Simon (1998), é necessário resgatar o papel da agricultura familiar nos moldes familiares, sendo que a competitividade globalizada impede que a indústria recupere, nas mesmas dimensões as vagas destruídas e o setor de serviço já mostram sinais de esgotamento. Sendo assim, para o autor, a alternativa mais viável seria voltar para o campo, pois a agricultura ainda permite um convívio harmônico entre seu segmento moderno e o seu lado mais tradicional, ou seja, ainda existem terras a cultivar, mercado para a agricultura comercial e milhões de pessoas para alimentar no mercado mundial. No que se refere ao mercado globalizado, a competição comercial afeta, tanto os grandes, como os pequenos produtores e, de acordo com o tamanho e com a escala de produção, assim como, da existência ou não, de disponibilidade de mão-de-obra (como é o caso do produtor familiar), são adotadas estratégias produtivas específicas, e para isso, é preciso produzir não somente aquilo que é mais adequado às condições físicas regionais, mas o que é possível vender em condições mais vantajosas em termos de preço e lucro. Ambas resultam da existência e custo de matéria-prima e das condições de produção, do valor da mão-de-obra, da tecnologia utilizada e das distâncias especiais entre os locais onde se produz e os locais onde estão os consumidores, (BRUNER, 1999). 2.3 Perfil dos proprietários rurais Sua linha de conduta não pode ser ditada do exterior. Só ele pode apreciar as circunstâncias que sua ação deverá levar em conta. Ele deve poder a todo o momento modificar os seus projetos, seu programa de trabalho para enfrentar um fato novo. Ele tem, assim a necessidade de ser plenamente responsável. Enfim, e, sobretudo, ele é o único que pode impor a si mesmo esta terrível disciplina, estes cuidados minuciosos, esta sujeição de todos os instantes. Assim, o individualismo, de que tanto se acusou o camponês artesanal, antes de ser um traço de caráter, era uma necessidade técnica, descreve (GERVAIS apud TEDESCO, 1999). Segundo Bruner (1999), analisando as peculiaridades do produtor familiar como agente econômico, isso quer dizer que, apesar da sua vinculação com o mercado e da preocupação com preços e lucros, o produtor familiar não é, necessariamente, um capitalista, pois é proprietário da terra na qual produz, ou seja, não depende fundamentalmente do trabalho dos outros, é ele e os membros da família que trabalham no próprio estabelecimento agropecuário. Além disso, uma das principais diferenças entre o produtor familiar e o empresário capitalista é que o primeiro precisa produzir, de certa forma, independentemente do mercado, pois ele e sua família vivem dos produtos da terra, enquanto que o segundo pode decidir mais livremente em que e como investir seu capital. Desse modo, enquanto o empresário capitalista pode despedir empregados considerados “excelentes”, numa lógica de racionalização econômica o produtor familiar não pode fazer o mesmo com seus trabalhadores, membros da sua família. A partir dessa lógica se pode considerar que a unidade de produção familiar tem uma visão de longo prazo, ou seja, os investimentos e os recursos aplicados à produção precisam ser transmitidos para as gerações futuras. Para conseguir traçar o perfil dos produtores rurais do Brasil, a Associação Brasileira de Marketing Rural realizou uma pesquisa com 2050 produtores rurais em 10 estados brasileiros na safra de 1998/1999. Foi traçado o perfil do produtor rural no que diz respeito a: sua faixa etária, grau de instrução, ocupação na fazenda, principais características, itens de posse e os seus hábitos de mídia. Desse modo, identificaram que a maioria dos produtores está na faixa dos 50 anos de idade. Em relação ao grau de instrução dos proprietários, 8 verificaram que eles possuem, na sua maioria, o primeiro grau incompleto, que na questão da ocupação da fazenda, os proprietários são os próprios donos das terras. Além disso, relatam que os produtores rurais buscam permanentemente novas tecnologias, assim como, valorizam e utilizam serviços agrônomos/veterinários, tratam a fazenda como uma empresa, preocupam-se com a rentabilidade sobre os investimentos e ainda se preocupam com o seu faturamento (fazenda/sítio). 2.4 Administração: propriedade x família A administração é uma ciência e também uma arte. Ciência porque possui um referencial teórico, possível de ser tratado pelo método científico. E arte, porque inclui, na resolução dos problemas, na condução das organizações, habilidade, sensibilidade e intuição, (SOUZA, 1995). Segundo Patriarca e Francis (2003) ao se analisar as formas de gestão existentes dentro do universo da agricultura familiar verifica-se a presença de algumas questões que influenciam diretamente a maneira como as propriedades são administradas. Entre elas podese destacar a diferença existente, entre a agricultura familiar tradicional, a empresa familiar e a ideologia existente que visa a homogeneização do setor. Uma questão importante segundo os autores trata-se da visão que a propriedade familiar tem com relação ao resultado da produção. Ou seja, o objetivo final da produção familiar não é a taxa de lucro, como ocorre nas empresas agrícolas. Elas, em primeiro lugar, buscam o atendimento dos anseios e necessidades da família, influenciando diretamente nas decisões de investimentos, quanto ao que deve ser produzido, de qual forma e em que quantidade deve-se produzir. Outra ideologia segundo Patriarca e Francis (2003) é a que afirma que o produtor familiar deve se transformar em empresário familiar, abandonando seu conhecimento tradicional, passando a fazer uso das novas formas de produção disponíveis no mercado. Um aspecto que não pode ser negligenciado ao analisar-se o impacto da modernização sobre a agricultura familiar é o ideológico. A modernização não é imposta apenas pelos meios de comunicação, pela ação do extensionismo rural, da propaganda, etc. Esta imposição ideológica da modernização passa pelo convencimento do agricultor no que diz respeito à sua superioridade das formas modernas de produzir, frente às tradicionais, dominadas pelo campesinato, o seu impacto é expressivo, pois além de reforçar a expropriação econômica, representa uma forma de expropriação do saber, pois torna os camponeses dependentes, uma vez que não mais domina as técnicas e os processos produtivos, (ALENTEJANO apud PATRIARCA e FRANCIS, 2003) No meio rural todas as formas de produção, como a propriedade familiar, a empresa familiar ou a empresa capitalista estão sujeitas à vários fatores que têm grande influência no resultado que esta gestão alcançará. E as diferentes maneiras de se lidar com estes fatores, alcançando-se os melhores ou os piores resultados que determinarão a capacidade gerencial ou a capacidade de gerenciamento da propriedade rural. Devido às características diferentes e maneiras diversas de administrar ou gerir cada propriedade, o grau de capacidade de gerenciamento encontrado são diversos. Isto acontece, tanto entre empresas rurais familiares, como entre as propriedades familiares, sendo que o conhecimento desta capacidade é de grande e fundamental importância para que se possa direcionar à administração dos estabelecimentos para um aproveitamento mais racional de seus recursos, além de terem seus potenciais voltados para a busca da obtenção de melhores resultados que beneficiarão a todos, (PATRIARCA e FRANCIS, 2003). 9 Ignorar o conhecimento ‘tradicional’ dos produtores familiares pode ser algo bastante prejudicial. Além da fundamental constatação de que a empresa familiar busca entender a lógica do capital, enquanto a propriedade familiar visa o trabalho-comum. 2.4.1 Relação propriedade x família No Brasil, ao longo da década de 70, as atenções se polarizaram sobre a importância da chamada “pequena produção” e sua participação na produção geral da agricultura do país. Parece evidente que a reprodução da agricultura familiar, sobretudo num país com a história do Brasil, sempre esteve associada às lutas dos próprios agricultores, (LAMARCHE, 1992). Segundo o mesmo autor, todos conhecem estabelecimentos em que a família desempenha um papel fundamental, e em outros, esse papel é limitado, quando não inexistente. Segundo Tedesco, (2001) nas histórias escritas sobre famílias de imigrantes italianos é comum o relato de rituais de iniciação da idade adulta pelo trabalho. Os adolescentes, em nível geral eram influenciados pela força das regras do sistema de trabalho, da participação na, com e para a família. Aprendiam rapidamente a diferenciar funções, a estabelecer hierarquias, deveres e atribuir normas aos princípios do trabalho voluntário em direção a uma razão prática e simbólica com a família. Para os pais, a disposição, a participação e a convivência no e para o trabalho familiar do adolescente e jovem de ambos os sexos se complementavam ou se inseriam em formas de conduta cujo significado é aquele que o próprio trabalho lhe dava. Para o autor, os integrantes da unidade familiar e de convivência no meio rural definiam uma determinada organização de seus processos de trabalho, estabelecendo acordos relacionados com a composição da família, com necessidades econômicas, distribuição da força de trabalho, da quantidade de filhos e da faixa etária dos membros. Isso então implicava perceber, pensar e organizar tarefas. Usar o tempo e os recursos com a intenção de fazer reproduzir o grupo familiar. A partir da década de 1970, a família preocupada em relação à situação atual e às perspectivas futuras, o forte vínculo que existia entre produção, consumo, comercialização, trabalho e família, renda e números de filhos, reorientava-se com as transformações na vida doméstica, com o crescente envolvimento da mulher na força de trabalho, não especificamente agrícola. Ou seja, começava a se intensificar diferenças internas do trabalho na unidade familiar de produção, e em alguns casos, até, com relação a troca e remuneração em dinheiro, entre membros, ou entre pais e filhos, como é o caso do trabalho na terra dos pais por alguns filhos que residem na mesma casa, fazendo acontecer relações capitalistas, de arrendamento e meação entre pais e filhos, (TEDESCO, 2001). Lamarche (1992) afirma, que os projetos que os agricultores acalentam para seus filhos traduzem provavelmente a avaliação que fazem da situação global da sociedade na qual vivem, assim como sua visão das perspectivas do estabelecimento agrícola e do futuro da coletividade onde moram. Basta que um número significativo de produtores se oriente para o exterior da propriedade e que comece a preparar seus filhos para outras profissões e para a emigração, para que o setor agrícola ou o mundo rural atravesse por dificuldades. Após a década de 1980, com o incentivo à escolarização do jovem no meio rural, o estudo passou a ser visto pelos pais como uma possibilidade e uma esperança de uma melhor remuneração da força de trabalho de seus filhos, inclusive com a confiança de que poderiam ser amparados por esses em sua velhice, talvez até na cidade, (TEDESCO, 2001). Para Lamarche (1992), as estratégias de encaminhamento dos filhos são, sem dúvida, o resultado da ação conjunta de diversos fatores como: o tamanho das famílias e sua capacidade financeira, às quais são confrontadas as possibilidades de promoção social e 10 profissional daqueles filhos que devem sair. As oportunidades fornecidas pelo mercado fundiário local podem ser aproveitadas por algumas famílias para disseminar e instalar vários filhos na terra, enquanto os antigos ocupantes perderam qualquer esperança de assegurar a continuidade do patrimônio. Mas existem também situações inversas: um futuro incerto no meio rural pode ser preferido às incertezas ainda mais ameaçadoras do êxodo. A fidelidade obstinada a uma terra e à perenidade do patrimônio pode superar qualquer consideração a respeito de bem-estar dos filhos. De forma geral, objetivos realistas impõem limites às aspirações de ascensão social. No entanto, Tedesco (2001) conclui que é preciso entender que o colono é proprietário, dono dos meios de produção e trabalhador ao mesmo tempo. A família é o personagem principal. Por mais que haja diferenças internas e trajetórias individuais, é, ainda, um trabalhador coletivo. Essas são características da ambigüidade de sua presença no processo social de produção na sociedade capitalista atual. 2.5 Os problemas enfrentados na hora da sucessão familiar “A tarefa de preparar membros da família para a carreira e passar os negócios para eles é difícil e às vezes frustrante”, (LONGENECKER et al., 1997, p.146). Para Bernhoeft (1989), o processo sucessório na empresa familiar é assunto delicado, não podendo ser tratado apenas sob aspectos lógicos da administração, pois envolve pontos afetivos e emocionais relacionados com a própria estrutura familiar. Para ele, existem seis pontos fundamentais que devem ser analisados para que o processo de sucessão não comprometa a sobrevivência da empresa, que são: o sucedido, o sucessor, a organização, a família, o mercado e a comunidade. Na visão de Lessa (2003) a difícil arte de administrar negócios familiares nem sempre é bem sucedida. Por mais habilidosos que sejam os gestores, sempre surgirá no caminho, sentimentos e emoções capazes de desmancharem o mais sólido dos empreendimentos. Para Lodi (1993), o conflito na fase da sucessão é o pior dos conflitos que pode existir dentro das empresas familiares, pois é quase sempre resultado de problemas estruturais da família cujas raízes está há vinte ou trinta anos atrás. Segundo o autor, a sucessão é determinada a longo prazo, a partir do modo como os pais constituíram e educaram a família, preparando-a para o poder e para a riqueza. Assim sendo, durante uma geração o súbito salto de família rica, abala a moral de trabalho, o sentido de missão da empresa e a própria atitude dos jovens. O autor ainda afirma que, a semente da destruição pode estar ligada ao próprio fundador, seja em seu caráter, em sua visão do mundo, na sua forma de perceber e permitir que as diferenças psicológicas entre pai e filho perturbem a mente do sucessor, pois toda a crise sucessória está ligada em um conflito entre pai e filho, onde os problemas de carreira do filho, de planejamento e organização da empresa, discussões de novos produtos e investimentos servem de palco para o drama. Mas o filho deve ter a habilidade para aceitar a rivalidade do pai desenvolvendo a sua própria personalidade, longe ou perto da figura paterna, e o pai precisa ter a consciência do quanto seus problemas existenciais deformam sua visão do filho, de quanto sua necessidade de afirmação pode recrudescer a sua autocracia. A intimidade das relações familiares, segundo Lessa (2003) permite que as diferenças apareçam com maior intensidade, fazendo surgir sentimentos acumulados durante a convivência doméstica. Sentimentos como ciúmes, inveja, amor e ódio são algo não verbalizados no ambiente organizacional, mas que comandam as ações e decidem o destino de muitas empresas. A razão para que a sucessão dentro do empreendimento familiar ganhe maior importância, atualmente, parece clara no momento em que se relacionam com as possibilidades da sua contribuição ao processo de transformação do país, pois, no campo 11 político, deverá haver a participação mais intensa do empresário, através das associações de classe e outros mecanismos de pressão, inerentes aos sistemas democráticos; na perspectiva social, a empresa familiar representa uma das maiores geradoras de emprego e, no lado econômico, recebe dela uma fundamental contribuição, uma vez que se produz aumento do mercado consumidor e melhora na distribuição de renda, (BERNHOEFT, 1989). A sociedade estimula a competição entre seus membros. Mas, no entanto, é na família onde a vaidade e as competições afloram com mais vigor, alimentado pelo cotidiano doméstico. As avós, mães, tias e demais parentes, mesmo sem participarem do negócio, emitem opiniões decisivas nas relações e desviam as empresas do seu eixo. Até mesmo os empregados de confiança aliados a membros da família preenchem a lista dos que interferem, com a vantagem de gerenciarem o dia-a-dia da empresa, freqüentemente tornando-se portavozes e ingressando na disputa e tomando partido entre os familiares. Enfim, são inúmeros os possíveis arranjos de facção nessa disputa. Ou seja, pais que não acreditam na capacitação dos filhos à frente dos negócios, e os filhos ansiosos que sofrem desejarem inconscientemente a morte do pai tão querido. Além disso, irmãos e primos que não perdoam ressentimentos da infância e partem para disputas e outros arranjos pouco favoráveis para a saúde organizacional, (LESSA, 2003). Desse modo, encaminhar a continuidade da empresa pressupõe conseguir estabelecer abordagens adequadas para cada um dos três componentes: Família, Propriedade e Administração. A família deve estar preparada para entender que ela não é uma família comum, mas que juntamente com o prestígio vem à responsabilidade inerente dos efeitos de seus atos. Da mesma maneira que nem todos poderão administrar a empresa, porque isto é impossível, mas também porque as competências não são iguais. Grande parte dos membros da família deveriam iniciar um processo de preparo para a função de acionistas. Profissionalizar os acionistas torna-se tão importante quanto preparar os administradores, (BERNHOEFT, 1989). Longenecker et al. (1997) afirmam que o processo de transferência dos reinos de liderança de uma geração para à outra é dificultado por causa das mudanças na cultura dos negócios familiares e por estar interligado a elas. Assim, a empresa é pressionada a romper com o modelo paternalista que dava prioridade à autoridade familiar e de dar menos atenção a habilidades profissionais. Da mesma forma, a idade avançada do fundador e a suposta maturidade dos filhos tendem a enfraquecer a cultura da família patriarcal com sua fonte dominante de autoridade de que o pai sempre sabe mais que os filhos. A empresa familiar é um negócio – um negócio competitivo. A observância desses preceitos gerenciais e de outros preceitos fundamentais ajudará os negócios a prosperar e permitirá que a empresa funcione como uma família. Desrespeitar tais considerações imporá uma ameaça aos negócios e tensões nas relações familiares, (LONGENECKER et al., 1997). Segundo Lessa (2003) atualmente no Brasil, fecham-se, divide-se ou vende-se a cada ano muitas empresas familiares pela incapacidade de estabelecer relações razoáveis em meio a um emaranhado de emoções. A precoce profissionalização da gestão, a introdução de normas, políticas e contratos são mecanismos que auxiliam a sobrevivência das empresas. Entretanto, sem a conscientização e o firme comprometimento da família, a continuidade dos negócios estará constantemente ameaçada, bastando um pequeno desentendimento para desencadear problemas que comprometem a continuidade e o sucesso da empresa, a preocupação com o futuro das organizações familiares deve começar antes mesmo que os herdeiros e possíveis sucessores estejam à porta da organização. A carreira deve ser programada com antecedência, considerando a vocação e as aspirações dos herdeiros, frente às atividades do negócio. O cuidado em preservar a empresa e os seus negócios deve ser acompanhado da busca da integração e da felicidade dos membros da família, evitando dessa forma a dissolução de ambas – Família e Empresa. 12 2.6 Sucessão familiar na propriedade rural No que diz respeito ao processo sucessório dentro da agricultura familiar, esta, segundo Abramovay (2001) é quase inexistente, surgindo apenas quando a formação de uma nova geração de agricultores perde a naturalidade com que era vivida, até então, pelas famílias envolvidas neste processo. A conseqüência é o desencontro entre a oferta de terras das gerações que envelhecem e a demanda dos jovens que não podem satisfazer suas vocações profissionais na propriedade paterna. Para Tedesco (2002) o processo de modernização/urbanização das sociedades, no Brasil, em especial pós-década de 1960, tem provocado profundas redefinições na organização técnica, econômica e política do processo social, como um todo, o que acarretou implicações no seio da instituição família. Além disso, constatou que ser herdeiro não é mais objeto de grande satisfação, pois, existe a problemática entre interesses coletivos, que são os projetos individuais e que se manifestam, às vezes, conflitante e, em outros casos é motivo de acomodação. Para Ely (2003), o tema sucessão rural ainda não preocupa e passa longe das porteiras rurais do país. Tal fato é verdade que nem as lideranças rurais, empreendedores rurais, sindicatos, associações e governo se debruçaram para analisar o assunto em função das conseqüências que a médio e em longo prazo trará para a continuidade dos negócios e principalmente para a produção de grãos. Tomando como exemplo o que ocorre na indústria, comércio e serviço, onde o tema sucessão tem sido alvo de constantes preocupações dos empresários, na passagem do comando de uma geração para outra, no gerenciamento dos negócios familiares, constata-se que essa situação praticamente é inexistente no meio rural. Também é verdade que o empreendedor rural nunca recebeu informações e capacitação sobre o tema, impedindo-o de dar prioridade ao assunto. Para Ely, (2003), a empresa rural precisa viver, gerar emprego, renda e resultado para que possam ser feitos os investimentos necessários e com isso as futuras gerações continuarão o trabalho. Precisa-se criar a perspectiva de que o jovem tem um negócio na mão e só dependerá do trabalho dele para conseguir o sucesso. Essa motivação precisa acontecer, pois somente assim ele poderá profissionalizar o negócio, buscar parcerias, desenvolver novos produtos, gerando com isso, resultados a todos os envolvidos. Desta forma se estará garantindo a produção de alimentos, caso contrário, irá se encontrar apenas as placas de “vende-se”, nas propriedades. Quem ganha e que perde com isso? Acredita-se que a perda será de toda a sociedade, Com isso, a necessidade de se obter informações a respeito do que realmente está acontecendo na hora em que o filho tem que assumir a propriedade do pai, ou quando se tem que dividi-la entre os irmãos, tornando assim a terra menos produtiva e competitiva no mercado. 2.7 Feira do Pequeno Produtor A Feira do Pequeno Produtor é administrada pelos membros constituintes de sua Diretoria Executiva, do Conselho Fiscal e delegados representantes de bairros, sendo apoiada pela Prefeitura Municipal de Passo Fundo, através da Secretaria Municipal da Agricultura, pela Emater Regional e pelo Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Passo Fundo. São obrigações dos feirantes manter em seu poder crachá de identificação, assim como de seus familiares ou pessoas que atuarem na função de auxiliares, ocupando o mesmo box ou banca; o pagamento da taxa mensal de limpeza, hoje no valor de R$8,00, estabelecida em assembléia geral; o respeito à tabela de preços estabelecida pela Comissão de Tomadas de 13 Preço; a emissão de, no mínimo, uma nota mensal de ICMS, modelo 15, correspondente ao total das mercadorias comercializadas no período de um mês; o cumprimento dos horários de início e fim de expediente da feira; o respeito e o bom trato aos consumidores e aos colegas; os princípios de higiene e boa apresentação dos produtos, conservando seu box limpo e os produtos expostos acondicionados em embalagens apropriadas, não sendo permitido o seu depósito diretamente no chão; o uso de avental e de boné limpo e padronizados e a pesagem dos produtos da feira à vista do consumidor, em balança dentro das normas do Instituto Nacional de Pesos e Medidas (INMETRO). A Feira do Pequeno Produtor, funciona no Parque da Gare às segundas e quartasfeiras, das 15h às 18h30, e, aos sábados, das 7h às 11h. Funciona ainda na vila Luiza e no Bairro São José, às quartas-feiras, no turno da manhã, e nas vilas Vera Cruz, Dona Júlia e Cohab I, às sextas-feiras, também pela manhã, (SILVA, 2003). A Feira do Pequeno Produtor pode ser considerada exemplo bem-sucedido de associativismo envolvendo agricultores familiares, tendo como objetivo básico a viabilização da comercialização da sua produção, os quais, antes da associação à feira, dependiam de atravessadores para escoar sua produção agrícola, ou simplesmente não comercializavam os excedentes produzidos em suas propriedades. Da mesma forma, a feira reflete a importância da diversificação e da expansão da pluratividade na medida em que permite e facilita a incorporação ou o acesso ao mercado de trabalho de uma expressiva massa de trabalhadores, que, sem essa alternativa, não teriam outra forma de obter renda, oriunda da venda de seus produtos agropecuários e artesanais excedentes. A feira representa um nicho de mercado voltado ao mercado consumidor, que além de valorizar produtos naturais e frescos vendidos diretamente pelo produtor, encontra preços mais acessíveis em relação aos oferecidos nos mercados tradicionais. Assim, esses agricultores associados à feira, perceberam a importância de seus produtos e a valorização que o consumidor tem atribuído a eles, (SILVA, 2003). 3 METODOLOGIA As pesquisas sociais possuem especificidades que exigem uma metodologia própria para sua análise, as quais decorrem da realidade de que se tratam. Assim, o pesquisador deve optar, entre as diferentes metodologias, pela mais adequada ao seu objetivo, o qual é chegar a veracidade dos fatos, identificando as técnicas e os procedimentos que possibilitem a concretização desse estudo, (MINAYO, 1994). Esta pesquisa tem como objetivo considerar a realidade de uma comunidade, analisando a mudança qualitativa com base em uma mudança quantitativa dessa realidade e a superação das dificuldades que aparecem no seu cotidiano, no que se refere à unidade de produção. Assim, o método eleito é o quantitativo-descritivo. Para tal, utilizou-se a coleta de dados com a finalidade de analisar o perfil dos pequenos produtores rurais associados à Feira do Pequeno Produtor Rural do Município de Passo Fundo/RS, localizada no Parque da Gare. A técnica de pesquisa utilizada foi a pesquisa de opinião, realizada por meio de um questionário aplicado a cada produtor rural associado à Feira do Pequeno Produtor Rural, bem como levantamento de dados secundários em registros de sindicatos e associações de classes, em órgãos governamentais e na Prefeitura Municipal de Passo Fundo. Da mesma forma, para efeito de técnica de pesquisa, foi utilizada a pesquisa bibliográfica com a finalidade de fundamentar teoricamente o estudo. O universo da pesquisa foi obtido através do presidente da Feira do Pequeno Produtor de Passo Fundo é composta por 77 associados. O questionário foi entregue aos 77 associados, dos quais 34 foram os que responderam, 44,16%. 14 Os dados obtidos foram tabulados e analisados à luz da técnica de análise de conteúdo que, segundo Bardin (1977), envolve: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência, a interpretação e a descrição dos resultados. Os dados quantitativos ou que puderam ser mensurados, e que se tornaram relevantes ao processo de análise, foram tabulados de acordo com a estatística descritiva de (BARDIN,1977). 4 DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS Os agricultores familiares pertencentes a pesquisa são originários de famílias da microrregião de Passo Fundo, sendo, em sua maioria, descendentes de imigrantes italianos e, alguns, de imigrantes alemães. No que se refere à origem da propriedade rural, segundo Silva (2003), é originária de herança, evidenciando ainda que indiretamente, o processo de fracionamento das propriedades com o passar dos anos e a conseqüente necessidade da diversificação de atividades a fim de viabilizá-las. Dos produtores que responderam a pesquisa, 61,77% informaram serem os próprios fundadores da propriedade, seguido dos filhos, com 23,53%, da esposa e dos netos com 11,76% e dos primos, sobrinhos e nora com 2,94%. Identificou-se que 57,4% dos filhos permanecem ainda na propriedade, junto com os pais, seguidos por outros tipos de parentesco (noras, cunhados, primos, etc) com 28,3% e dos netos e avós, correspondendo a 7,15% cada. A pesquisa mostra que 61,76% dos filhos dos produtores ainda encontram-se morando e trabalhando com os pais. Destes, 14,7% são menores de idade e 11,77% são menores e solteiros, e 11,77% não possuem filhos na propriedade. Quanto à presença masculina e feminina no trabalho dentro da propriedade, nota-se que 57,78% são homens e 42,22% são mulheres. Analisando essa questão, identificou-se que 30,56% dos proprietários possuem empregados contratados e 11,11%, contratam ajudantes eventualmente, ou seja, em determinadas épocas do ano ou conforme a produção. Por outro lado, 58,33% dos produtores, contam somente com a ajuda de seus próprios familiares no trabalho em suas propriedades. Questionou-se sobre a forma como são realizadas as discussões a respeito da propriedade famíliar. Revelou que os assuntos da propriedade são discutidos em primeiro lugar com todos os membros da família, seguido por somente o pai e a mãe. No que se refere à administração da propriedade, em 58,82% dos casos o pai e a mãe administram a propriedade juntos, em 26,47% todos os membros da família participam da administração, e em 14,71% apenas o pai realiza a administração da propriedade. A pesquisa investigou se os produtores rurais habitualmente misturam as questões de trabalho da propriedade com as questões pessoais de suas famílias. Afirmaram que não costumam misturar as questões familiares com as questões de trabalho na propriedade, equivalente a 52,94%, mas 47,06% admitem misturarem as questões de trabalho com as da família, alegando que não têm como não discutir, pois são apenas eles que controlam e trabalham na produção da propriedade, ou seja, não existe mais ninguém na propriedade a não ser a família. Com relação as perspectivas futuras do negócio da família, analisou-se a questão dos filhos dos produtores no que se refere as suas visões e desejos/sonhos, como filho e como produtor. Eles vêem a propriedade em 55,88% dos casos, como um negócio da família, em 29,41% como o seu futuro negócio, e em 14,71% como um negócio do pai. Pode-se dizer que boa parte dos filhos sente que este pode ser o seu futuro negócio. Ao investigar a questão dos filhos dos produtores permanecerem ou não dentro da propriedade, se há, por parte dos pais, algum tipo de incentivo para que os seus filhos 15 permaneçam na propriedade para ajudá-los e, quem sabe mais tarde, assumirem tudo sozinhos. Para 47,06% dos pesquisados existe a influência dos pais para que o filho assuma a propriedade como um negócio próprio, mas a maioria, 52,94% dos pais não influenciaram e nem influenciam seus filhos a assumirem a propriedade. Silva, (2003), ressalta o exemplo de um agricultor que, tendo uma propriedade bem diversificada, possui um abatedouro, o qual, embora devidamente licenciado pela inspeção sanitária, encontra-se desativado por falta de mão-de-obra. A falta de mão-de-obra no meio rural é hoje uma realidade pelo fato das famílias serem cada vez menores e de alguns de seus membros (geralmente o filho mais velho) terem migrado para a cidade num passado recente, em busca de estudo e de melhores oportunidades de emprego. Quanto ao questionamento sobre a existência de intenção por parte dos produtores de passar a direção de suas propriedades para seus filhos, 55,88% deles confirmam sua intenção, e 44,12% não demonstram vontade em passar a propriedade para um filho, ou nunca pararam para pensar a respeito do assunto. A maioria dos produtores afirma que seus filhos não têm interesse em dar continuidade ao trabalho na propriedade, e sim, estudarem e trabalharem na cidade. Se os respondentes tivessem que escolher, hoje, um de seus filhos para assumir a propriedade, 35,29% escolheria o filho mais capacitado, ou seja, aquele que demonstra maior vontade de permanecer na propriedade e que gosta do trabalho na terra. Já 26,47% deles não escolheriam nenhum filho, deixando que assumisse aquele que quisesse, e 20,59% escolheriam o filho mais velho, como dados mais expressivos. A maioria dos produtores, 52,94% vem preparando ou, pelo menos, tentando incentivar um filho a assumir a propriedade. Apenas 38,24% dos produtores não vêm preparando nenhum de seus filhos para assumir a administração, e 8,82% deles não manifestaram opinião a respeito do assunto. Segundo pesquisa realizada por Silva (2003) onde procurou saber se os filhos dos atuais responsáveis pela unidade de produção familiar que permanecem trabalhando na atividade rural desenvolveram alguma atividade, ou seja, se eles foram precursores de algum projeto de diversificação hoje implantado nas propriedades familiares. Com relação a esse questionamento, verificou que em 26,9% das propriedades os filhos dos produtores desenvolveram projetos diversificados nas suas unidades de produção. No entanto, esse baixo percentual pode ser explicado pela faixa etária da maioria dos responsáveis pela atividade, que ainda têm filhos muito jovens para se tornarem empreendedores. Existe também a problemática da migração de alguns membros da família para a cidade, em busca de trabalho e de melhores condições de vida. Segundo Silva (2003), 23,9% afirmaram terem familiares que migraram para a cidade pelos motivos elencados, mas ao mesmo tempo, asseguraram terem retornado posteriormente ao meio rural para trabalhar na atividade diversificada, o que confirma o potencial de inversão da migração rural que a diversificação de atividades no meio rural representa. Os produtores, mesmo demonstrando interesse de que seus filhos dêem continuidade à propriedade, responderam que não pretendem se afastar do negócio, após seu filho assumir com 85,3% pois “o que vamos fazer se não mais trabalhar na terra?” Com relação a opinião dos produtores a respeito de quais seriam, na visão deles, os pontos fortes de seus filhos sucessores, ou seja, o filho para continuar a administração da propriedade. Assim, em primeiro lugar afirmaram como ponto forte do seu filho o gosto pelo trabalho na propriedade, seguido pela persistência e esforço do seu filho em relação ao trabalho na propriedade e habilidade para comandar a propriedade. Os produtores apontaram quais seriam os pontos fracos do seu filho sucessor. Em primeiro lugar os pais alegaram a falta de prática do filho, seguido pela falta de interesse do filho pela propriedade, e falta de dinamismo do filho. 16 Para finalizar, questionou-se os produtores sobre a importância que eles davam aos estudos para o(s) filho(s). Em 50% dos casos, os produtores afirmaram ser importante para o filho cursar o ensino superior, e 29,59% considerou necessário. E 20,41% afirmaram não ser importante, pois o filho já sabe o que precisa para conseguir comandar a propriedade. Ao mesmo tempo alegaram a falta de condições financeiras para colocar o filho para cursar uma faculdade. CONCLUSÕES Discutir as questões da propriedade rural atualmente é um tema encantador por desvelar em cada discussão um novo tabu, preconceito ou estímulo. Assim, se verificou através dos dados da pesquisa que o ambiente rural requer cada vez mais relações de integração entre famílias produtoras e instituições de apoio ao pequeno produtor. É o produtor buscando a cada dia o incentivo das instituições para o melhoramento das suas condições de trabalho e incentivo aos filhos para que vejam a importância da terra para a economia/sobrevivência de uma sociedade. Comprovou que os produtores rurais associados à Feira do Pequeno Produtor são em sua maioria os próprios fundadores das propriedades, sendo que os filhos dos mesmos permanecem ainda junto à propriedade e também junto à feira trabalhando. O trabalho na propriedade é realizado pelos próprios familiares, sendo que a contratação de funcionários para a ajuda no trabalho é quase inexistente, ou seja, mão-de-obra familiar. A administração das propriedades é realizada pelos pais (marido e esposa), mas ao mesmo tempo todos os membros da família participam das discussões sobre os assuntos relacionados ao trabalho. A questão de sucessão familiar dentro das propriedades não é assunto discutido entre eles, ou seja, os pais deixam livre escolha para os filhos se querem ou não continuar trabalhando na propriedade. Ao mesmo tempo, os filhos enxergam a propriedade como um negócio dos pais, também vêem a possibilidade de um futuro negócio, ou seja, de permanecerem dentro da propriedade e a desenvolverem. Mas os pais, não vêm incentivando seus filhos para que isso aconteça. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABRAMOVAY, R (Coord.).; SILVETRO,M. L.; MELLO, M.A.; DORIGON, C.; BALDISSERA, I.T. Os impasses sociais da sucessão hereditária na agricultura familiar. Florianópolis: Epagri: Nead/Ministério do Desenvolvimento Agrário, 2001. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Portugal: Edições 70, 1977. BERNHOEFT, R. Empresa familiar: sucessão profissionalizada ou sobrevivência comprometida. São Paulo: Nobel, 1989. BRUNER, Agricultura Familiar: realidades e perspectivas.In: TEDESCO, J.C. (Org). Passo Fundo: EDIUPF, 1999. ELY, E. E. Sucessão Rural: o futuro da propriedade em jogo.Disponível em: <http://www.ruralnews.com.br.> Acesso em: 20. Novembro.2003. EMBRAPA. Dados sobre a Agricultura. Disponível em: <http://www.cria.org.br/gip/gipa/gipaf/itens/prog09/index/html > Acesso em: 20. Novembro.2003. EMBRATER. Administração Rural: um enfoque para extensionistas. 2 ed., Brasília: Incra, 1982 LAMARCHE, H. (Coord). A agricultura familiar: comparação internacional. Trad. Fréderic Brazin. Campinas: Editora da UNICAMP, 1992. 17 LESSA,C. M. Riscos na sucessão em empresas familiares. Disponível em: <http://www.jps.com.br/artigos/familiar_port.pdf.> Acesso em: 08. Outubro.2003. LODI, J.B. A empresa familiar. 4ª ed. São Paulo: Pioneira, 1993. LONGENECKER, J, G; MOORE, C.W; PETTY, J.W. 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