ENTREVISTA Pedro Simon “Tenho uma sensação enorme de alegria, paz e gratidão por ter feito a minha parte” Ana Teresa Pereira Neto/Acervo PMDB Memória/RS Por que a decisão de não concorrer mais? Se analisar a minha atuação estudantil, desde a participação na União Nacional dos Estudantes (UNE), lá se vão 65 anos de vida pública. E há pouco me dei conta de que no dia 31 de janeiro de 2015, quando eu terminar o meu mandato, também completo 85 anos de vida. É como dizem os árabes: maktub, o que quer dizer, está escrito. Era para ser assim. O que espera do novo senador dos gaúchos? Quando começou o debate sobre quem deveria concorrer, havia um entendimento de que a vaga fosse ocupada por um nome que representasse um avanço na coligação. E eu concordei, embora os companheiros do MDB, com toda a gentileza, insistiam que o candidato fosse eu. Mas o Beto irá nos representar muito bem no Senado e sinto conforto de tê-lo concorrendo em meu lugar. Então segue fazendo política? Sim. Digo que hoje deixo o meu mandato com a sensação de que é muito difícil conseguir avanços pensando apenas nas iniciativas do Congresso. Tenho a plena convicção de que todas as mudanças devem partir do povo, especialmente dos jovens. Eles devem se convencer de que é preciso ir para as ruas mostrar suas ideais e cobrar dos governantes. Muitas lutas travadas ao lado de Ulysses Guimarães, na direção do MDB e do PMDB O que o senhor diz é que as instituições, como o Congresso, precisam estar em sintonia com a sociedade, porém, para isso, a sociedade precisa estar atuante. É isso? Na minha vida, nestes dois últimos anos, vivi as duas Quais os seus grandes vitórias Se Deus planos para de todo o período: quiser e me der 2015? do Mensasaúde, eu pretendo olãocaso Se Deus quie a Lei da Ficha percorrer o Brasil ser e me der saúLimpa. E as duas num intenso de, eu pretendo tiveram como respercorrer o Brasil ponsável a mocidebate de num intenso dedade que cobrou ideias. bate de ideias, e exigiu. No caso me reunindo com da Ficha Limpa a entidades, univermaioria dos senasidades e com os jovens. Mais ou dores era radicalmente contra. menos como fez Teotônio Vilela, Mas no dia seguinte os jovens loque correu por todo o País pedin- taram o Congresso e a Esplanada do anistia e libertação dos presos dos Ministérios, e o resultado foi políticos, e o fruto dessa convo- a aprovação por unanimidade. Eu cação originou o movimento das digo com toda a convicção que Diretas Já. foram os jovens que mudaram o resultado deste projeto. No caso do Mensalão a mesma coisa... Sim, exatamente. E enquanto eu ia para a Tribuna cobrar a prisão dos mensaleiros, a imprensa dizia que isso não ia passar pelo Supremo Tribunal Federal. Fui entrevistado por dezenas de jornalistas e dizia o contrário, que passaria sim. Depois eles publicavam algo do tipo: “o Simon é um bom senador, tem boa vontade, mas está completamente errado”. E o que aconteceu? Os jovens foram para a rua e os líderes do Mensalão foram para a cadeia. Então o caminho são as pessoas? O que defendo é que a sociedade, as universidades e os intelectuais entrem num grande debate. É necessário um novo pacto social. E o melhor exemplo, de novo, é o caso da Ficha Limpa. O Congresso não queria, mas o povo exigiu, e a vontade popular prevaleceu. Eu mesmo, como senador, tinha dois ou três projetos neste sentido, um deles chegou a ser aprovado em comissão, mas parou em uma gaveta do Senado. Assim como eu, outras dezenas tinham projetos semelhantes que nunca andaram. Mas com o povo na rua e 1,7 milhão de assinaturas à emenda popular, e outras 2,5 milhões em apoio, se originou a Lei da Ficha Limpa. Se a gente debater a sociedade brasileira na coletividade, assim como discutimos futebol, o Congresso vai atrás. Mas o Congresso não vai dar o primeiro passo, disso eu tenho certeza. E como ficam os partidos neste debate? Outra tese que defendo e que acho que deve ser a discussão do próximo ano, é sobre a necessidade de uma outra forma de governar. Esse sistema do “toma lá dá cá” não pode continuar. São mais de 30 partidos e 40 ministérios. Quem J U L H O - AG O S TO / 2 0 1 4 governa assim? Estamos vivendo uma anarquia política. O Supremo até determinou que as alianças fossem nacionais, mas os partidos não quiseram, derrubaram a decisão. A maneira disso terminar será por meio de um entendimento entre os partidos. Como fazer? É preciso uma reunião nacional, assim como fez o Itamar Franco quando assumiu à presidência da República no impeachment do presidente Fernando Collor. Reuniu os presidentes de todos os partidos. Dizia o Itamar: “Olha, eu não fui escolhido pelo povo, quem foi eleito pelo povo o Congresso cassou, e eu estou aqui por responsabilidade do Congresso”. Então ele estabeleceu um pacto onde tanto ele quanto os partidos, através de seus líderes, tivessem liberdade de convocar reunião para debater soluções em caso de qualquer tipo de crise que pudesse afetar o País. E o acerto foi feito. Um pouco depois mandamos para o Congresso o projeto de autorização para criar o Plano Real. Apesar da ampla discussão e guerra contra, inclusive com o PT votando contra, o Plano Real foi aprovado sem uma emenda sequer e nenhum favor pessoal. Desafio que alguém diga que ganhou alguma vantagem para votar. E se fosse votar o Plano Real hoje, como seria? Estaríamos com 80 ministérios e a Petrobrás esfacelada completamente. É muito interesse e pouca preocupação com o País. A própria Dilma como atual presidente da República deveria convocar uma reunião de alto nível com dirigentes e candidatos de todos os partidos e, independente de quem ganhar, acabar com a política do trocatroca. É a única maneira que vejo de o Brasil iniciar com o pé direito a nova caminhada. Do contrário o período será insuportável. Aqui no Estado Sartori disputa a eleição com o slogan “Meu partido é o Rio Grande”. Ele defende que a diversidade não pode ser maior do que o interesse coletivo. É possível travar Jornal do 4-5 PERFIL Pedro Jorge Simon, 84 anos, natural de Caxias do Sul, é advogado e foi professor universitário. Formado em Direito pela PUCRS, pós-graduado em Economia Política e especialista em Direito Penal, na sua vida acadêmica também teve passagens pela Sorbonne e pela Faculdade de Direito de Roma. Foi vereador, deputado estadual, governador do Rio Grande do Sul, Ministro e atualmente finaliza o quarto mandato no Senado da República. Em períodos distintos, presidiu o PMDB gaúcho, contabilizando um total de 24 anos no comando. na. Sartori transformou Caxias do esse debate no RS? Em Caxias Sartori deu um Sul porque sabe como fazer. exemplo disso que eu estou propondo para o Brasil, mostrou O senhor citou que a Ficha Limpa que é possível. Governou com e o Mensalão foram os fatos mais 16 partidos, sem criar empregos positivos que vivenciou na sua ou secretarias para acomodações vida pública. E o Pedro Simon, políticas. Fez um governo notá- qual a maior contribuição deixa vel administrando pelo interesse para o RS e para o Brasil? Em nível nacional realizade seu município, sempre com retidão, seriedade e caráter. É im- mos, através do MDB, o que há de mais importante pressionante no que tem na história final do oitavo desse país. Quando ano o prestígio ninguém acreditaque o Sartori adAcreditamos, va na nossa luta, e quiriu, garantinresistimos e fomos riam da gente dido aplausos geà luta. Hoje vivemos zendo que todos neralizados. Ele o maior período estavam do lado fez um governo da ditadura, fomos ex traordinár io, de democracia na para o caminho do com diálogo, dishistória do País. entendimento, concrição e com resTenho orgulho dessa trariando inclusipeito inclusive da batalha. ve os mais radicais oposição. que defendiam uma guerra civil, o que Alguns dizem na nossa opinião que administrar Caxias não é administrar o RS? teria consequências imprevisíO que o senhor pensa sobre veis. Mas acreditamos, resistimos e fomos à luta. Hoje vivemos o isso? Se você olhar para o Rio maior período de democracia na Grande vai encontrar municípios história do Brasil. Tenho orgulho com alta arrecadação e com ad- dessa batalha. ministrações desastrosas, inclusive no campo da moral. Outros, Tiago Simon segue o seu legado? O Tiago poderia ter sido cancom poucos recursos e gestão didato há 20 anos, mas eu não qualificada, que superam dificuldades. A diferença não está no ta- fazia questão, pois sofri tanto e manho do cofre, e sim no cuidado paguei um preço caro na vida facom o que é público. A diferença miliar. Mas por conta própria ele está no caráter, na seriedade e na se preparou e hoje tem condições responsabilidade de quem gover- de ser um grande deputado e qualificará a nominata do MDB. Assim como o PMDB gaúcho, o senhor apoia Eduardo Campos. Se eleito, qual seu conselho para ele? Escolher uma equipe qualificada e governar de forma racional, pensando sempre no coletivo. Dilma não soube administrar ou foi influenciada pela política do toma-lá-dá-cá? Não teve condições de impor sua orientação. Acredito que até tentou, mas se entregou. Qual o principal erro do Governo Dilma? Centralizou tudo e provou que não era aquela “gerentona” que o Lula dizia que era. Mas também lhe faltou um braço direito no Governo. Vale a pena acreditar e fazer parte da política? As vezes a gente se pergunta se vale a pena o sacrifico. Mas digo com alegria que é incalculável a felicidade que tenho por ter contribuído para melhorar o meu País. Tenho uma sensação enorme de alegria, paz e gratidão por ter feito a minha parte. Digo que o Brasil, apesar da gente, vai ser um grande país, pois tem uma terra fértil e uma população guerreira. Hoje com quase 85 anos, tendo muitas vezes abdicado da vida pessoal, digo que sim, vale muito a pena.