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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
CURSO: PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL
A IMPORTÂNCIA DA LITERARURA NAS SÉRIES INICIAIS
SIRLENE GONÇALVES QUEIROZ SILVA
ORIENTAÇÃO: MS. ELIANA WALKER
ALTA FLORESTA – MT/2010
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AJES – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO VALE DO JURUENA
CURSO: PSICOPEDAGOGIA COM ÊNFASE EM EDUCAÇÃO INFANTIL
A IMPORTÂNCIA DA LITERARURA NAS SÉRIES INICIAIS
Trabalho de conclusão apresentado como
requisito para a obtenção do título de
Pós-Graduação em Psicopedagogia com
ênfase em Educação Infantil,
ALTA FLORESTA – MT/2010
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SUMÁRIO
1.INTRODUÇÃO............................................................................................ 09
2. A LITERATURA INFANTIL NO BRASIL................................................... 11
2.1 HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTIL................................................ 12
3. AS RELAÇÕES LEITOR, TEXTO E MUNDO............................................ 14
4. A LITERATURA NAS SÉRIES INICIAIS.................................................... 16
4.1 A NATUREZA DO TEXTO LITERÁRIO................................................. 16
4.2 A LITERATURA INFANTIL CLÁSSICA: OS CONTOS DE FADA..........17
4.3 A LITERATURA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO........................... 18
5. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA FORMAÇÃO DO SUJEITO..... 20
6. A IMPORTÂNCIA DE OUVIR E CONTAR HISTÓRIAS........................... 23
7. CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE OBRAS LITERÁRIAS..................... 25
8. FOLCLORE: PRIMEIROS PASSOS LITERÁRIOS................................... 26
9.O SER INFANTIL DA LITERATURA.......................................................... 30
9.1 A LITERATURA INFANTIL.................................................................... 31
9.2 E DE QUE SERVE UM LIVRO SEM FIGURAS NEM DIÁLOGOS......... 31
9.3 DISCURSOS E VOZES NARRATIVAS.................................................. 33
10. LITERATURA INFANTIL E IDEOLOGIA................................................ 35
10.1 O CONDICIONAMENTO DA CRIANÇA............................................... 36
10.2 CONSCIÊNCIA E SÍMBOLO................................................................ 37
11. OUVINDO HISTÓRIAS............................................................................ 39
11.1 OLHANDO HISTÓRIAS........................................................................ 40
11.2 O HUMOR NA LITERATURA INFANTIL............................................... 41
11.3 POESIA PARA CRIANÇAS.................................................................. 42
11.4 SE INTEIRANDO DE VERDADE.......................................................... 43
11.5 TRABALHANDO COM A APRECIAÇÃO CRÍTICA............................... 45
11.6 FREQUENTANDO E FORMANDO BIBLIOTECA............................... 46
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................... 47
BIBLIOGRAFIA
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Epígrafes;
“ O importante é a caminhada, a chegada
será conseqüência de seu esforço”.
Guimarães Rosa
“O rio atinge seus objetivos porque aprendeu
contornar obstáculos”.
Quoo Wadis
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Dedicatória,
Aos nossos pais, que muito antes já idealizaram nossa vitória;
Aos nossos esposos, companheiros e compreensivos sempre nos
incentivando a continuar nas horas de desânimo e também aos nossos queridos
filhos com muito amor e carinho.
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Agradecimentos;
Em primeiro lugar agradeço a Deus por sua excelência, amor e bondade sempre guiando
nossos passos para mais uma conquista em nossas vidas e a certeza do sonho realizado;
Aos nossos pais, que muito antes já idealizaram nossas vitórias, a vocês nossa eterna
admiração. E hoje agradecemos a essa vitória.
Aos que amamos esposos, filhos e irmãos. Que abriram mão de convívio, essa vitória
também são suas.
Aos nossos colegas que, de alguma forma contribuíram para essa vitória.
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RESUMO
Quando as crianças chegam à escola passam a conviver com outras que
tem diversas formas de ver o mundo, fruto de sua vivência anterior e sua
compreensão do mundo que a cerca que precisa ser desenvolvida vida, é quando a
literatura infantil se torna instrumento indispensável à práxis do professor. A literatura
infantil nas práticas pedagógicas é um importante instrumento para se obter uma
boa aprendizagem. O professor precisa sensibiliza o aluno para a literatura. Ler é
conhecer, mas também se conhecer, é inteirar e integrar-se em novos universos de
sentidos, é abrir e ampliar as perspectiva e pessoais, é descobrir e utilizar
potencialidades. Este trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica realizada de
Fevereiro a Novembro de 2007. O objetivo, da mesma, foi mostrar a importância da
literatura infantil, conscientiza o professor do enorme compromisso que tem ao
iniciar seus alunos na literatura.
Palavra chave: Literatura Infantil, aprendizagem, potencialidades.
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ABSTRAT
This work treats about a bibliographic research performed between February
and November / 2007. the objective of it was to show the importance of the child
literature, to conscience the teacher about the enormous commitment that they have
when initiating the students in the literature. When the children get to school they
start living with others which have diverse ways of seeing the world, fruit of their
previous living and the comprehension of the world around that needs to be
developed, it is when the child literature becomes into an essential instrument in the
praxis of the teacher. The child literature in the pedagogical practices is an important
instrument for obtaining a good learning. The teacher needs to sensitive the student
for the literature. To read is to know, but too to know oneself, interact and integrate
oneself in new universes of senses, it is to open and expand the personal
perspectives, it is to discover and use potentialities.
Keywords: Child literature. Learning.Potentialities.
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1.INTRODUÇÃO
A principal função da escola hoje é formar leitores. Todas as suas propostas
pedagógicas são unânimes em afirmar que querem uma educação transformadora,
criativa e libertadora.
A formação do leitor é uma das principais tarefas da escola moderna. Em uma
sociedade letrada como esta em que vivemos, a leitura é as condições primeiras,
indispensáveis para o exercício da cidadania, e a literatura infantil é a chave mágica
que abre a porta de entrada principal, dá acesso ao mundo da leitura e tudo o que
ela pode nos proporcionar.
A literatura infantil contribui para o desenvolvimento cognitivo e solução de
problemas pessoais utilizar fatos do cotidiano, é uma forma significativa de trabalhar
a literatura infantil no currículo escolar.
A literatura infantil, por apresentar um caráter lúdico, mágico, é o caminho
natural, a chave mágica que abre caminhos que dão acesso ao mundo da literatura
e tudo que ela pode proporcionar. Portanto, a melhoria na qualidade de ensino só
vai ser alcançada quando a escola formar leitores.
Se o professor da Educação Infantil tiver consciência em iniciar seus alunos
pelos caminhos através da literatura infantil, se esse trabalho tiver continuidade
pelos subseqüentes educadores, a escola brasileira conseguirá dar um grande salto
de qualidade.
Muitas vezes o professor tem consciência disso tudo, mas sente-se
impotente, despreparado, sem recursos para fazer este trabalho. Porém, cabe-lhe
fazer dessas experiências algo realmente prazeroso para as crianças, proporcionar
atividades lúdico-artísticas. A criança na educação infantil vive a fase do
pensamento lúdico e a fase do pensamento mágico.
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Para a criança, a literatura torna-se uma fonte rica de leitura, pois ela é uma
forma bastante especial de brincar. Desde os primeiros meses, é importante colocar
livros, de plástico ou tecido, no meio dos brinquedos do bebê, para que comece a se
familiarizar com estes. Às vezes não percebemos, mas os bebês têm uma
capacidade muito grande de observação do mundo à sua volta, os livros têm a
função de formar o imaginário da criança.
O objetivo desta monografia é mostrar a importância da literatura na
educação infantil, sensibilizar o professor do enorme compromisso que tem ao iniciar
os seus alunos na literatura.
Este trabalho foi desenvolvido por meio de uma pesquisa bibliográfica, o
mesmo busca incentivar
a profissão do educador com dedicação maior para a
literatura nas séries iniciais e foi utilizado o método indutivo de abordagem.
A análise e discussão serão pausadas nas teorias estudadas.
Apresentando o conceito de literatura e sua importância no desenvolvimento
da criança e abordar sugestões para despertar o interesse da mesma pelos livros
literários, enfocando tipologia textual na literária.
Entre
os
capítulos
estudados,
conceituam-se
a
leitura
sobre
duas
abordagens, o processo de alfabetização e o processo de letramento. Concluindo
que ler é atribuir sentido, a leitura do mundo que se faz com a vivência no dia a dia.
A partir da literatura pode-se ampliar e aprofundar os conhecimentos.
A literatura também faz com que o leitor se reconheça e se descubra na
observação de outras vidas e outra realidade, e o interesse pela literatura variam de
acordo com a idade, destacam-se cada uma das fases de cada idade; e o aluno tem
direito de escolha do livro que quer ler, logo, o professor não pode impor sua
vontade ao mesmo.
Relata-se também a magia das cantigas, das primeiras quadrinhas, das
parlendas e das adivinhas. Pode-se constatar a mensagem que os contos de fada
transmitem às crianças de várias formas. O conto de fadas é a cartilha para
“aprender ler a mente”.
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2. A LITERATURA INFANTIL NO BRASIL
Somente no início do Século XX começa a reação a este estado de
dominação cultural (a dominação da educação por estrangeiros, pelos educadores
europeus). E cada vez mais autores passam a se dedicar a literatura infantil, dentre
esses autores consagrados na literatura adulta como José de Alencar e Olavo Bilac.
Este último enfocando principalmente as virtudes cívicas em seu papel de educador.
Suas obras “visavam em primeiro lugar informar, transmitir conhecimentos e
comportamentos exemplares segundo os valores da ideologia dominante”.
(Sandroni, 1987)
De acordo com Ziberman (1985), a primeira manifestação literária infantil no
Brasil surgiu com o educador europeu, Carl Jansen, que atuando como mestre no
colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro, traduziu e adaptou clássicos para a
juventude como: As mil e uma noites, Dom Quixote, Robson Crusoé, entre outros
O fato de a educação ser dominada por estrangeiros contribuiu bastante
para o atraso na produção de livros infantis brasileiros: a principal fonte de demanda,
a educação via-se suprida por livros originários dos países dos mestres.
O maior escritor de Literatura Infantil no Brasil foi Monteiro Lobato
despertando o imaginário infantil com a criação de um mundo de fantasia que
agradava até os adultos. Revoluciona a literatura infantil brasileira, introduzindo uma
série de novos elementos, tanto formal quanto em conteúdo, é o precursor de uma
literatura infantil crítica. Seu melhor trabalho foi no sítio do Pica-pau Amarelo. O
diferencial de Monteiro Lobato foi a forma sutil de trabalhar o certo e o errado, por
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exemplo, a figura da ‘Emília” em Sítio do Pica-pau Amarelo, que desmistifica uma
série de pseudoverdades, se procurando em debater temas públicos, normalmente
circunscritos ao mundo adulto, de forma a serem facilmente apreendidos pelas
crianças, ajudando na formação do caráter, sem deixar de incitar o imaginário, a
curiosidade infantil e a delicadeza do sonho que toda criança adora.
Monteiro Lobato utiliza o humor e também o folclore brasileiro com um
trabalho em cima da relação fantasia e realidade utilizando uma linguagem coloquial
bem característica da infância.
2.1 HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTIL
Ao iniciar o estudo da literatura infantil e sua prática na escola precisamos
buscar no passado subsídios que nos dão o entendimento do presente para
projetarmos o futuro. O que é ser criança hoje é diferente do passado. Tal
compreensão possibilita-nos ver como e pó onde podem ocorrer mudanças
necessárias para o presente. O conceito de infância começa a surgir, na Europa
entre os séculos XVII e XVIII, com ascensão da burguesia quando passa a ver a
criança como o futuro da nação.
Gabriel ( 2003), relata que antes, a criança era ignorada pela sociedade dos
adultos, não havendo nenhuma atenção ou cuidados específicos para com ela, era
visto como um adulto em miniatura, podendo desta maneira participar das atividades
apropriadas aos adultos; eram elas: esportivas ou intelectuais, não existia leitura
destinada somente a criança, já que, esta perante a sociedade não tinha
características próprias da infância, a educação atribuída a criança era a mesma
oferecida ao adulto. A única educação diferenciada, era a educação dos filhos da
nobreza e os filhos da classe desprivilegiada, os pequenos nobres deliciavam-se na
leitura em grande clássicos; já os filhos dos pobres, a esses lhe restavam ouvir
histórias de cavalaria, heróis desconhecidos, lendas ou contos, que eram contadas e
recontadas oralmente pelo povo, essas histórias tinham como características uma
linguagem simples formando assim as primeiras literaturas de Cordel.
Surge então uma nova noção de família, centrada não na relação de
parentesco, mas no núcleo familiar preocupado em manter uma privacidade
impedindo a intervenção de parentes em seu negócio interno e estimula o afeto
entre os seus membros, (ZIBERMAN, 1985)
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Com o declíneo do Feudalismo surgem, na Europa, grandes transformações
sociais e econômicas em que a classe burguesa buscava espaço social e
estabilidade por meio da intelectualizarão. A educação é reorganizada, surge a
concepção de infância baseado na idéia cristã de inocência e a literatura infantil
floresce, igualmente com a dominação do jovem e o controle do que aprender para
formar o adulto que a sociedade almejava, assim a literatura infantil assume um
caratê pedagógico, para transmitir normas que influenciam na formação moral dos
futuros adultos. Com isso a pedagogia assume a criação da literatura infantil, e o
desenvolvimento intelectual da criança e alimenta a ideologia da classe dominante.
“O livro passa a ser o elo da criança com o mundo, um espelho da realidade que não
a reflete direito; antes disso, retrata a realidade de forma obtusa, superficial e
maniqueísta” (GABRIEL, 2003)
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3. AS RELAÇÕES LEITOR, TEXTO E MUNDO
A partir do que ensina Paulo Freire vê-se quê a leitura do mundo se faz na
vivência, no dia a dia. Podemos, porém, viver diferentes experiências sem que
consigamos apreender seus diversos significados a abrangência de suas
implicações, ou seja, sem que se estabeleçam as relações entre as experiências de
vida do leitor e o todo maior de que essas fazem parte. Dessa forma, a leitura de
mundo de que fala Paulo Freire fica prejudicada. A limitação da visão de mundo do
sujeito impede, também, um desempenho mais satisfatório nas suas relações
interpessoais, bem como uma atuação mais significativa na transformação social.
Por outro lado, aprende-se também que a partir da leitura da palavra
podemos ampliar e aprofundar a leitura de mundo..Dentro dessa perspectiva a
leitura assume um papel relevante à medida que pode se tomar a principal intermediária entre o leitor e o mundo.
Todo texto possui uma intenção e através dele o autor “busca atingir
determinados objetivos, sendo esse o instrumento mediante o qual atua sobre a
realidade, criando e modificando situações” (FLORES, 1988).
Ao dizer a sua palavra o escritor escolhe a forma que julga mais adequada
para dizer o que quer e atingir o seu leitor de maneira mais eficaz. "O tipo de
interação estabelecida se traduz na seleção de um registro, com marcas típicas em
todos os níveis estruturais de análise fonética, sintática, semântica e pragmática."
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(FLORES, 1988). Consequentemente, a partir da determinação do seu autor
teremos diferentes tipos de textos, com diferentes intenções, e que precisam ser
conhecidos a fim de que fique mais clara a relação leitor, texto e mundo de que
falamos. Assim, a partir do desvelamento das intenções escondidas (ou manifestas)
nas diferentes formas de texto, estaremos proporcionando ao leitor um instrumento
valioso para ampliar e aprofundar a sua leitura de mundo por meio da leitura da
palavra.
Acredita-se que é muito importante para o aluno a convivência com os mais
variados tipos de texto, pois cada um revelará ao leitor uma faceta diferente da
relação texto - mundo. Entretanto, para o aluno das séries iniciais é a leitura do texto
literário a que deve predominar sobre as demais, por ser esse o texto que maiores
afinidades tem com o leitor infantil, por ser um texto que envolve o leitor por inteiro,
apelando para as suas emoções, a sua fantasia, o seu intelecto, e por apresentar o
mundo a partir de uma perspectiva lúdica estética, aspecto esse que não se pode
desconsiderar, principalmente se tratando do leitor criança.
Isso é possível graças à natureza da literatura e de sua linguagem ambígua,
simbólica, carregada de sentidos, aberta o suficiente para permitir ao seu leitor o
máximo de liberdade para fazer a sua leitura
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4. A LITERATURA NAS SÉRIES INICIAIS
A principal função da escola hoje é formar leitores. Todas as propostas
pedagógicas das escolas são unânimes em afirmar que querem uma educação
transformadora criativa e libertadora. A escola sabe que tipo de educação quer fazer,
mas muitas vezes não sabe como fazer. A melhora na qualidade de ensino que
tanto buscamos só vai ser alcançada quando a escola formar de fato, leitores.
“A literatura infantil é também ludismo, é fantasia, é questionamento, e dessa
forma consegue ajudar a encontrar respostas para as inúmeras indagações do
mundo infantil, enriquecendo no leitor a capacidade de percepção das coisas”.
(FRANTZ, 2001)
O professor deverá ter o cuidado de fazer das experiências de leitura algo
que seja prazeroso para os alunos, gratificante. As crianças das fases iniciais vivem
a fase do pensamento mágico, lúdico. Elas utilizam as brincadeiras, a fantasia para
construir os seus conhecimentos, explorando e conhecendo assim sua realidade
4.1 A Natureza do Texto Literário
A obra literária é um objeto social, o que equivale dizer que sua existência
supõe no mínimo um autor e um leitor, onde o processo de inteiração se constitui o
sentido do texto, onde é de fundamental importância a participação do leitor.
Por sua natureza, é a literatura que tem a mais rica, eficaz e gratificante
contribuição a dar na busca do objetivo da formação do sujeito. Os textos adquirem
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uma função única, aliando-se à informação e ao prazer do jogo, envolvem a razão e
emoções numa atividade integrativa, conquistando o leitor. O campo da literatura é o
mais amplo possível, pois esta voltada para o conhecimento do mundo e do ser, por
meio da ficção e da realidade.
O que pode ser observado é que quanto maior for o valor literário de um
texto, menores serão as delimitações de faixa etária. A literatura infantil é toda a
literatura que pode ser lida também pelo adulto. Não se pode esquecer que, assim
como a criança, a literatura é também um jogo, fantasia, beleza e emoção.
Os interesses de leitura das crianças e dos jovens variam de acordo com a
idade, sexo, escolaridade, elas se encontram em algumas fases: as idades dos livros
de gravuras dos contos de fadas, histórias ambientais, histórias de aventura. O
interesse se modifica.
O que se deve exigir na literatura infantil é que ela seja de fato literatura. Por
ser infantil, não significa que deva ser uma produção menor, de qualidade inferior.
“... os critérios que permitem o discernimento entre o bom e o mal texto
para crianças não destoam daqueles que distinguem a qualidade de
qualquer outra modalidade de criação literária. Seu aspecto inovador
merece destaque, na medida em que é o ponto de partida para a revelação
de uma visão original da realidade, atraindo seu beneficiário para o mundo
com o qual convivia diariamente, mas que desconhecia. Neste sentido, o
índice de renovação de uma obra ficcional esta na ração direta de sua
oferta de conhecimento de uma circunstância da qual de algum modo o
leitor faz parte”. ( FRANTZ, 2001)
A função do educador não é apenas a de ensinar a ler, mas a de dar
condições para o aluno realizar a sua própria aprendizagem, conforme seus
interesses, fantasias e dúvidas. O professor estimula seu aluno através de diversos
recursos ou técnicas.
4.2 A LITERATURA INFANTIL CLÁSSICA: OS CONTOS DE FADA
Os contos não perdem a sua atualidade porque tratam da essência humana,
que é a mesma desde que o homem existe. Falam de coisas profundas, essenciais,
que habitam dentro de cada um de nós, falam de medos, sonhos, desejos,
esperanças, os mesmos sentimentos que inquietam as crianças e os jovens de hoje.
É importante que o professor, ao selecionar esses contos, dê preferência ao texto
integral, traduzido do original, sem adaptações.
“Quando as crianças já tiverem ouvido e lido vários desses contos
tradicionais, o professor selecionará outros contos contemporâneos
baseados naqueles antigos. Como exemplo podemos citar A Verdadeira
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História de Chapeuzinho Vermelho, de Patrícia Gwinner; Chapeuzinho
Amarelo. De Chico Buarque. Depois de ler essas histórias o professor
chamará a atenção das crianças para as semelhanças e diferenças desses
em relação às tradicionais, de maneira a fazê-las perceber que o autor
serviu-se de texto antigo, porém introduzindo elementos novos
característicos de nossa época e que atualizam o significado daqueles
contos ou simplesmente mudam a proposta de leitura original.”
(FRANTZ,2001)
Ele deve estimular as crianças para que busquem e leiam também outros
contos. A literatura infantil de hoje é muito rica, muito variada. A maior preocupação
é no auxílio dos educadores para que saibam se orientar em meio a tantos livros. È
preciso saber avaliar esse material para saber escolher uma boa literatura para
oferecer aos alunos, esse passo é de grande importância para o sucesso do
trabalho com a leitura.
4.3 A LITERATURA INFANTIL DE MONTEIRO LOBATO
Monteiro Lobato foi o pioneiro, o primeiro que escreveu para as crianças
brasileiras histórias com qualidades literárias. Os seus personagens são curiosos,
inquietos, leitores sempre bem informados e cultos. È umas literaturas novas, que
propõe ao seu leitor uma reflexão sobre a realidade que a cerca, a fim de capacitá-lo
a uma ação mais eficaz. Há sempre uma preocupação dos professores em relação
ao que fazer depois de lido o livro. Em primeiro lugar é sempre bom lembra que uma
literatura tem valor em si mesmo.
“Monteiro Lobato (1882-1948) começa escrevendo para adultos. Com Urpês
(livros de contos) é apontado como um dos maiores escritores brasileiros. Em 1921
publica A Menina do Narizinho Arrebitado, obra que inaugura a literatura infantil
brasileira”.
Homem inteligente, dinâmico batalhador, atua em diversas áreas, tendo
sido inclusive adido comercial nos Estados Unidos (1927). Regressa
daquele país cheio de entusiasmo pelo progresso pelo desenvolvimento
americano, mas sente-se incompreendido pela sociedade (foi preso
durante o governo de Vargas) e desilude-se amargamente com o mundo
adulto. Dá-se conta, então, que para transformar a sociedade era preciso
investir na formação da criança e se atira de corpo e alma a essa tarefa.
Começa, assim, a escrever para as crianças e imprime novos rumos à
literatura que era dirigida a elas. (FRANTZ, 2001)
Mais perigoso do que não propor nada é propor atividades maçantes e
repetitivas depois de cada leitura. Mas também é valido ampliarmos o prazer que
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uma leitura nos dá e aprofundar a sua compreensão desenvolvendo atividades que
explorem aqueles aspectos mais marcantes do texto.
Antigamente a poesia que se dava às crianças na escola não fugia à regra
que dominava a literatura feita para elas, era uma visão utilitária da literatura e da
poesia. Assim, toda aquela ludicidade, sonoridade, beleza que caracterizava a
primeira experiência poética trazida de casa era esquecida. O poema se tornava
assunto sem graça e sem poesia.
Hoje esse conceito de poesia está superado para a alegria e felicidade de
todos. A poesia fala de coisas do mundo infantil sem preconceitos, sem querer
nenhuma outra intenção que não seja brincar com as palavras e mostrar o mundo
por meio de uma linguagem lúcida e poética.
Acredita-se que a criança deva começar lendo, vivenciando em grande
número de poemas de diferentes formas e de diferentes autores.
A iniciação poética infantil começa em casa a mãe cantando cantigas de
ninar para o bebê dormir. Depois vêm as parlendas, as quadrilhas, as
cantigas de roda, as adivinhas, os trava-línguas que são passados
oralmente de geração a geração. È por isso que se diz que ‘a poesia é a
linguagem materna da humanidade’ (FRANTZ, 2001)
Muitos são autores que se destacam na poesia infantil e cujo trabalho é muito
reconhecido. A professora poderá escolher poemas e ter a criatividade para
trabalhar com as crianças explorando seus conhecimentos.
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5. A IMPORTÂNCIA DA LITERATURA NA FORMAÇÃO DO SUJEITO
Segundo Bordini (1985), acredita-se que uma educação transformadora e
humanizante passa necessariamente pela prática da leitura e tem nela seu objetivo
maior. Acreditamos ainda que, por sua natureza, é a literatura que tem a mais rica,
eficaz e gratificante contribuição a dar na busca desse objetivo. Os textos literários,
conforme explica Maria da Glória Bordini "adquirem no cenário educacional, uma
função única, singular: aliam à informação o prazer do jogo, envolvem razão e
emoções numa atividade integrativa, conquistando o leitor por inteiro e não apenas
na sua esfera cognitiva"
Para Aguiar (1988), a literatura mostra o mundo por dentro, pois a ela o que
interessa "não é apenas o fato sobre o qual se escreve, mas as formas de o homem
pensar e sentir esse fato que o identifica com outros homens de tempos e lugares
diversos" Em virtude disso podemos afirmar que a literatura como leitura é a mais
rica, a mais completa e a mais gratificante para o seu leitor.
Considerar o leitor infantil, principal objeto de nossa preocupação neste
estudo, veremos então que aqui a literatura desempenha um papel fundamental,
decisivo e intransferível. Considerando que é por meio da fantasia, da imaginação,
da emoção e do ludismo que a criança apreende a sua realidade, atribuindo-lhe um
significado, veremos que o mundo da arte é o que mais se aproxima do universo
infantil, à medida que ambos falam a mesma linguagem simbólica e criativa. O
mundo para ambos é do tamanho da fantasia e alcança até onde vai a imaginação
criadora da criança e do artista.
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A pergunta “O que é literatura?” tem suscitado desde a antigüidade as mais
variadas tentativas de respostas. Essas vão desde uma concepção de literatura
como simples forma de deleite sem maiores conseqüências, até uma concepção de
literatura como documento fiel da realidade. Quando se trata então de respondermos
à mesma pergunta, acrescentando-lhe o adjetivo "infantil", as respostas podem ser
ainda mais controvertidas. Existe uma literatura estritamente infantil? Acreditam
alguns até mesmo que haja uma oposição quase que natural e inconciliável no
binômio literário infantil. Na verdade o que se observa é que quanto maior for o valor
literário de um texto, menores serão as delimitações de faixa etária. Um bom livro
dito para crianças pode ser lido com o mesmo gosto e proveito também por adultos.
Veja-se como exemplo as obras de: Lygia Bojunga Nunes (A Bolsa Amarela),
Bartolomeu Campos Queirós (Onde Tem Bruxa um Fada), Ziraldo (A Bela Borboleta)
e Ruth Rocha (O Que os Olhos Não Vêem), dentre muitos outros. O que há,
portanto, é apenas literatura, isto é, arte literária. Isso nos leva a concluir com Maria
Antonieta Antunes Cunha que literatura infantil é toda a literatura que pode ser lida
também pela criança:
"Na realidade, toda obra literária para crianças pode ser lida (e reconhecida
como obra de arte, embora eventualmente não agrade, como ocorre com qualquer
obra) pelo adulto: ela é também para crianças. A literatura para adultos, ao contrário,
só serve a eles. É, portanto, menos abrangente do que a infantil." (CUNHA, 1985)
Acontece, todavia, que com a autodenominação de literatura para crianças,
muitos livros sem nenhum valor literário têm sido publicados. Estes, no entanto, não
passam de simples "livrinhos de histórias" na maioria das vezes infantilóides, sendo
que o único aspecto que possuem em comum com a literatura é o uso do código
lingüístico (WORNICOV, 1986).
Podemos verificar que sempre, quando o substantivo "literatura" é
subordinado pelo adjetivo "infantil", tem-se cometido, ao longo dos tempos, sérios
equívocos. O maior deles é a sua preocupação pedagógica, que acaba por reduzi-lo
à condição de mero subsidiário da educação formal, relegando-o à simples condição
de livro paradidático. Espera-se, nesse caso, que a criança lendo aprenda a
escrever corretamente, a partir da internalização das estruturas da língua, ao mesmo
tempo em que se aproveita para lhe passar ensinamentos morais de toda ordem.
Outros textos menos pretensiosos pecam pelo lugar comum, pelo linguajar
infantilóide, pelo simplismo, numa total demonstração de descrédito na capacidade
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da criança. Na maioria das vezes esses textos, convencidos de que a criança é um
ser deficiente e que precisa ser introduzido nos valores do mundo adulto, carregam
suas páginas de moralismo, pretendendo indicar à criança a maneira mais correta de
ser. Nesse caso, o que se mostra à criança é um universo fechado, de valores
absolutos e inquestionáveis, em que a submissão, a obediência é a única forma
possível de relacionamento dela com o mundo.
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6. A IMPORTÂNCIA DE OUVIR E CONTAR HISTÓRIAS
As histórias contadas ou ouvidas é uma terapia tanto para quem conta como
para quem ouve. Dizem que contar histórias é um ato de amor... Alimento puro para
nossas almas. Inspiração para nossa criação (Stefani,1997).
Às vezes se tem resultado rápido após contar um conto, através de
comentários. Mas normalmente não se sabe o que acontece com ela depois de
contada, porque cada um fará dela o que quis ás vezes as crianças se recordam de
histórias contadas uma só vez.
A arte de contar história depende de cada contador. Mas algumas técnicas
podem melhorar:
- Usar as ilustrações do próprio livro;
- Alterar o som da voz ao contar;
-Contar histórias que você tenha gostado;
- Histórias diferentes, engraçadas, de aventuras, de fadas.
Através da história estamos desenvolvendo o gosto pela leitura. Quando se
dá continuidade ao trabalho do conto através de dramatizações, desenhos,
construções, escritas a se produzir.
Além de a criança viajar no mundo oferecido pela história, ela poderá elaborar
e expressar sentimentos e pensamentos a partir desse momento. Pode-se
enriquecer muito esse trabalho através da contextualização do conto, mas isso
depende da idade e do interesse despertado na criança através do mesmo.
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Contam-se histórias para os menores para distraí-los, muitas vezes sem
importância. Na verdade essa é uma atividade para a alma, comparável ao oxigênio
para o corpo.
O gosto pela poesia é despertado na criança quando nasce através da
cantiga de ninar que ouve num ato de amor e aconchego. È importante que a escola
dê continuidade a essas descobertas lúdicas com palavras, sons, e ritmos. Um
adulto que lê poemas para criança esta estimulando a gostar de poesias. Os
próprios pais se acreditassem, o quanto é importante contar histórias, dedicaria mais
tempo para isso.
Às vezes um momento desses teria mais valor para as crianças do que certos
tipos de brinquedos.
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7. CRITÉRIOS PARA A SELEÇÃO DE OBRAS LITERÁRIAS
De início devemos nos lembrar de que o aluno tem todo o direito de escolher
as leituras que quer fazer. Ninguém melhor do que ele sabe o que o agrada e o que
mais o interessa. É desnecessário, portanto dizer que o professor é, antes de tudo,
um orientador, aquele que sugere, que apresenta alternativas de leitura, e não
aquele que as impõe. Há, evidentemente, momentos em que o professor também
faz a seleção de uma obra para ler, sugerir, discutir e curtir com os seus alunos, ou
mesmo para fazer a encomenda de livros para a biblioteca. Quais são então os
critérios que deverão orientá-lo?
Comecemos destacando alguns pontos que precisam ser evitados a fim de
que a leitura não seja uma experiência desagradável ou até mesmo negativa para o
leitor.
26
8. FOLCLORE: PRIMEIROS PASSOS LITERÁRIOS
Nosso primeiro contato com a linguagem poética se dá muito cedo, já nos
nossos primeiros dias de vida. Ele acontece suavemente, numa voz afinada ou não,
mas carregada de emoção e carinho: Boi, boi, boi, boi da cara preta E a cantiga de
ninar embalam, acalma e em contato com a mãe o bebê adormece tranqüilo.
O tempo vai passando e então surge o Dedo minguinho, seu vizinho, pai de
todos, fura bolo, mata piolho. E o piolhinho vai por aqui, por aqui,... e enquanto se
brinca com a linguagem as mãos da mãe vão fazendo coceguinha e provocando o
riso gostoso. "Cadê o toucinho daqui? O gato comeu..." E assim, as parlendas, as
mnemônias passam também a integrar o nosso cotidiano.
Logo depois vamos conhecer as primeiras quadrinhas...
Laranjerinha pequeninha
Carregadinha de flor
Eu também sou pequeninha
Carregadinha de amor.
E como é gostoso perceber o ritmo, a melodia, a rima, as imagens singelas
do pequeno poema. E que vitória, que emoção quando se consegue memorizar o
"versinho", como se diz popularmente, e arrancar os aplausos orgulhosos dos
familiares.
E num certo dia, assim de repente, descobrimos com o maior entusiasmo as
primeiras adivinhas: "O que é, o que é que tem bico e não bica, tem asas e não
voa?" São pequenas charadas ou grandes enigmas que nos desafiam e nos
27
deliciam. Jogam com a ambigüidade da linguagem, exigem atenção, raciocínio e
divertem. É um jogo de esconder/camuflar os sentidos para depois descobri-los. E aí
vem a surpresa e com ela a alegria, a beleza, a magia da linguagem.
Depois, é a vez da linguagem se tornar movimento, melodia e mão na mão
girar e cantar: "Ciranda, cirandinha vamos todos cirandar..." Música e movimento
nos dão asas, nos soltam no espaço, no tempo... e no mundo da imaginação: "Se
essa rua, se essa rua fosse minha..."
Aos poucos, essas brincadeiras com a linguagem ficam mais complicadas e,
exigindo um esforço maior, nos desafiam a falar sem enrolar a língua: "Num ninho
de mafagafos há sete mafagafinhos..." A cada desafio vencido, uma nova alegria,
maior confiança e maior intimidade com os sons da nossa língua.
Com o passar do tempo, um conto vai tomando o lugar da cantiga de ninar
para encantar e relaxar a criança na espera do sono. São contos de fadas, contos
maravilhosos, lendas, fábulas, mitos... E, assim, através da voz materna (maioria
das vezes) essa herança cultural vai sendo transmitida de geração a geração. O
contato físico, o carinho, o texto folclórico criam um elo afetivo muito forte entre a
criança e o adulto e isso estará sempre associado a momentos de ludismo, prazer,
emoção e carinho que essas vivências proporcionaram. Esses textos irão se
alternando com outros textos que continuarão alimentando nossa fantasia, mexendo
com nossas emoções e nos mostrando o mundo, a vida de uma forma lúdica,
mágica e emocionada.
Finalmente, tente procurar na sua memória qual foi o primeiro provérbio que
você ouviu. Quando? Quem o proferiu? Impossível dizer. Com certeza, entre uma
brincadeira e outra, na convivência com os adultos os provérbios também se fizeram
presentes. E assim seguimos pela vida afora, carregando sábios ensinamentos que
ouvimos desde o berço:
"Antes tarde do que nunca." "A união faz a força," "Errar é humano.
Permanecer no erro é ignorância," "Quem com ferro fere, com ferro será ferido." ...
Essa vivência do folclore, como dissemos, tem na família, na comunidade,
um espaço privilegiado. É um conhecimento que a criança traz na sua bagagem
cultural quando chega à escola. É a cultura viva do seu grupo social. Cabe à escola
dar continuidade e ampliar essas vivências.
Sabemos que a palavra folclore possui uma ampla abrangência e que
envolve:
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- literatura oral
- brinquedos infantis (sapata, pandorga, ioiô, 5 Marias, bodo que,
- brincadeiras infantis, (passa-anel, esconder, ovo choco, rodas cantadas
- trabalhos artísticos (trabalhos com argila, sementes, sucata, ...
-
festas infantis (São João com suas comidas e trajes, etc.)
A literatura oral, que é a que mais de perto nos interessa aqui, pode ser
assim dividida, de acordo com Paulo Inocente em seu livro Folclore Infantil:
- Adágios (provérbios)
- Adivinhas
- Fórmulas de escolha (ou parlendas de escolha)
- Estórias e contos infantis (contos de fadas, fábulas)
- Mitos e Lendas
- Menemônias
- Parlendas
- Trovas (quadrinhas)
- Trava-línguas
Este riquíssimo material está ao alcance de todos nós e acreditamos que
eles têm uma importante contribuição a dar no processo ensino aprendizagem na
educação infantil e nas séries iniciais, principalmente. Professores e alunos
encontrarão no material folclórico uma fonte riquíssima de conhecimento, de
ludismo, fantasiam, emoção e poesia que oportunizarão uma maior aproximação
com nossas raízes culturais.
Consideremos também que, nas famílias, os pais dispõem cada vez de
menos tempo para transmitirem esta herança cultural aos seus filhos. O novo ritmo
de vida imposta aos pais trabalhadores deixa muito pouco tempo para dedicar a esta
experiência. Os brinquedos eletrônicos prontos nada mais reservam à criança do
que observá-los em funcionamento. As brincadeiras de roda são substituídas por
danças de grupos da moda. À noite; ao invés da história lida na cama, a criança
adormece no sofá em frente à televisão, assistindo à novela. Os próprios pais da
geração mais jovem já pouco sabem do nosso folclore. Em função disso, este
espaço cada vez mais reduzido na família precisa ser compensado com um espaço
cada vez maior na escola, para assegurar a continuidade junto às futuras gerações
de toda essa riqueza que herdamos de nossos antepassados. Isso, com certeza,
ainda é muito válido nos dias de hoje. Especialmente no que se refere à literatura
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esse primeiro contato lúdico, prazeroso, gratuito com a linguagem é fundamental
para iniciar a criança na linguagem lúdica, mágica, poética da Literatura.
Podemos observar ainda como um grande número de autores está
buscando inspiração no texto folclórico e estabelecendo com ele um diálogo muito
interessante e muito criativo. E como é bom, como é divertido ver aquele velho
conhecido se apresentar de cara nova, inserindo-se no contexto atual e nos
surpreender de uma maneira muito gostosa.
É o que faz, por exemplo, José Paulo Paes com o poema Paraíso do seu
belíssimo livro Poemas para Brincar; Patrícia Gwinner com Nessa rua... mora um
anjo e Eduardo Amos em seu Se essa rua fosse minha. Os três retomam a cantiga
de roda folclórica Se essa rua fosse minha e brincam com ela livremente propondo
uma nova leitura. Assim, descobrimos que tudo que aí está pode ser repensado,
recriado e manipulado poeticamente.
Outro exemplo é o poema Cadê? de Maria Dinorah do seu livro Cantiga de
Estrela e o Cadê? de Guto Lins. Ambos também se inspiraram na parlenda Cadê o
toucinho daqui? e o resultado é, com certeza, no mínimo muito interessante. O
poema de Maria Dinorah, a seguir, termina onde começa a parlenda folclórica.
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9.O SER INFANTIL DA LITERATURA
Os temas literatura infantis nos levam a refletir sobre o que seja esse “infantil”,
como especificador de determinada espécie dentro de uma ampla e geral categoria
de fenômenos literários. A arte literária implica no contexto de uma atividade
complexa e não-natural ao universo da infância. Para este nível significa facilitar
estratégias criadas para concretizar ao nível da compreensão infantil.
A pedagogia entra como meio de adequação do literário às fases do
raciocínio infantil, e o livro, como mais um produto através do quais os valores
sociais possam a ser veiculados, de modo a criar para a mente da criança hábitos
que aproximam as situações imaginárias vividas na ficção, os conceitos
comportamentos e crenças desejados na vida prática, com base na semelhança que
o vincula.
A função utilitário-pedagógica é o grande dominante da produção literária
destinada à infância, e isso desde as primeiras obras surgidas entre nós. Atender a
uma exigência da própria estrutura da cultura ocidental em relação a seu tradicional
conceito do ser infantil. O pensamento infantil é apto a responder a motivação do
signo artístico, é uma literatura que se estuda sobre esse modo de ver a criança,
torna-a indivíduo com desejos e pensamentos próprios, agente do seu próprio
aprendizado.
O signo é a coisa de que fala, não há mais vínculo indireto entre eles (tal qual
na construção simbólica), de maneira que, ao invés de representar ele, agora
31
apresenta diretamente o próprio objeto de representação. Aqui e agora
concretamente à nossa frente.
A criança não é um ser dependente, nem um ‘adulto em miniatura”, mas é o
que é, na especificidade de sua linguagem que privilegia o lado espontâneo,
indutivo, analógico e concreto da natureza humana.
9.1 A LITERATURA INFANTIL
A literatura infantil surge como uma forma literária menor, com a função
utilitário-pedagógica que faz mais pedagogia do que literatura. Contar histórias para
crianças sempre foi um ato de representar a linguagem de representação simbólica
do que é real. Este, tratado fisionomicamente sob o modo de ser do adulto, reflete-se
para a produção infantil como um receptor engajado nas propostas da escola e da
sociedade de consumo. Deverá, sobretudo, aprender via texto literário infantil, a
verdade social.
O pensamento infantil é aquele que está sintonizado com o pulsar pelas vias
imaginárias. Os maiores projetos de literatura infantil investem, fazendo com que
enfrentem sua qualidade artística e oferecendo os melhores produtos possíveis em
direção a área infantil.
É preciso investir na inteligência e na sensibilidade da criança, que se torna
sujeito e sua própria aprendizagem e capaz de aprender com o texto. A função
pedagógica implica a ação educativa do livro sobre a criança. Ela cria uma
interferência sobre o universo do usuário através do livro infantil, da ação de sua
linguagem, servindo-se da força material que palavras e imagens possuem como
signos que são, de atuar sobre a mente daquele que as usa, como as crianças.
Para a função utilitário-pedagógica só resta um aminho, que o leva ao
verdadeiro diálogo como o ser literário infantil.
9.2 E DE QUE SERVE UM LIVRO SEM FIGURAS NEM DIÁLOGOS
O livro infantil procura promover formas de diálogos entre a imagem e o texto.
A imagem transforma-se num simples ilustrativo da mensagem lingüística. As
funções pedagógicas, que se utiliza à imagem como uma estratégia para
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materializar, determinar e preencher aquilo que poderia se transformar, pela
imaginação de uma criança.
De que serve um livro sem figuras nem diálogos? Responderia esse conjunto
de textos da literatura infantil pelo uso pedagógico de figuras e de diálogos,
atendendo a uma finalidade educativa de formação de hábitos lingüísticos e
comportamentais
A figura é um tipo de construção cômica, seja ela visual sonora ou verbal,
com estrutura em base de alguma semelhança que une a forma qualitativa do objeto
que representa. O livro infantil é o espaço para a ocorrência desses três tipos, cuja
sintaxe estrutura a informação artística do texto infantil.
As figuras sonoras são um ritmo capaz de criar seu próprio objeto, através das
semelhanças e dos contrastes, ao invés da sucessividade de sons suportes para a
informação lingüística. As figuras visuais têm por objeto a construção de formas
analógicas do contraste entre linhas, figuras, planos, cores e espaços.
A personagem-criança no espaço-tempo de sua consciência se caracteriza
pelo que faz, pelo que imagina, deseja, sonha coisas de seu mundo interior; não é
uma coisa e depois a outra, mas todas as coisas ao mesmo tempo; nas dimensões
de um espaço-tempo relativo e dinâmico. Personagens que não se definem pela
ação, e sim pelos atributos, pelas funções. Destacam-se os atributos, as qualidades,
que funcionam como personagens numa intriga que se refazem em termos de
acontecimentos, sentimentos e idéias.
“É o caso de narrativas como: O Barril (Mirna Pinsky e Rogério Borges) e O
Menino que Espiava pra dentro (Ana Maria Machado e Flavia Savary). Na primeira, o
contexto verbal constrói atributos em oposições paras as personagens André e sua
irmã Júlia, a saber:
... O elemento maravilhoso da magia fabular passa a escrever a história vivida pelas
personagens André/Júlia, indicando para o visual os quadros-cenas dos eventos
heróicos evocados pelo verbal.”
9.3 DISCURSOS E VOZES NARRATIVAS
A forma narrativa é um processo de comunicação mínimo de alguém que
narra algo para alguém. Tudo depende do foco narrativo, do ponto de vista que o
33
narrador assume frente àquilo que narra. Na literatura infantil o foco narrativo
participa de duas naturezas, a verbal e a visual, onde ambas tentam uma
comunicação mais próxima e direta com a criança. O discurso oral cria uma cena
múltipla na qual o que menos conta é o que se diz, já que tudo está no modo como
se diz. É o discurso alegórico que fornece a chave para o modo de como o narrador
articula a narrativa, lançando mão de esquemas de oralidade, sob a forma de
diálogos diretos e indiretos, colocarem em discussão um conceito mais geral e
abstrato.
Outro modo de a escritura da literatura infantil incorporar a matriz de oralidade
na enunciação faz-se na coleção gato e rato. Aí é o ritmo recorrente em enunciados
simples e repetitivos, um dos condutores da mensagem, que visa o escrito, pelo
domínio de estruturas frasais simples e preparatórias da Alfabetização. A função
pedagógica cumprindo seu papel.
A constante tensão gerada pelo discurso do narrador entre ouvir e o pensar
sobre
o
problema,
constrói o
monologa-diálogo,
desenvolvendo
as
duas
modalidades direta e indireta. O riso é uma forma popular de subverter padrões, as
piadas confirmam isso. O vinculo de oralidade que carregam gêneros como a sátira
e a comédia. Diálogo no qual a voz do leitor é essencial para atualizar essa
operação paródia na relação opositiva entre o modelo passado e a nova versão
presente.
Em todas as modalidades de projeção da oralidade sobre a escrita literária
infantil, como aquele que o narrador queria conquistar pela proximidade de sua fala
para a linha dada à estória, seja como aquele de quem era exigida uma atuação
maior em nível de uma voz cuja presença compartilhada, era necessária para a
presentificação da cena narrativa. Essa oralidade subfaz a duração da percepção do
leitor, que projeta cada momento.
Qualquer reflexão sobre a literatura infantil não poderia deixar todo o conjunto
de linguagens técnicas que passam a interferir no colégio literário e novas
transformações.
O videotexto é uma linguagem relativamente nova que se constrói com o
computador, telefone e televisão que transforma sinais acústicos em visuais. Para a
literatura infantil, a oportunidade de criação de programa que integrem a arte da
palavra à do vídeo, transformando conceito habituais de narrativa, ilustração e livro,
34
além de instaurar uma relação comunicativa nova entre emissor – mensagemusuário, pela mediação do aparelho
35
10. LITERATURA INFANTIL E IDEOLOGIA
Antes de a criança entrar para a escola, ela desenvolve uma linguagem de
palavras através das cantigas de rodas que são brinquedos. A criança na se importa
com o sentido, mas desperta o interesse pelo som. A atividade de linguagem permite
ao individuo descobrir a importância do meio, do instrumento da comunicação. A
transformação da linguagem é a transformação da realidade. A construção de um
discurso mágico faz o conhecimento do real.
O sucesso entre os pequenos decorreu sem dúvida de um primeiro e decisivo
fator: a realidade comum e familiar à criança em seu cotidiano, è subitamente
penetrada pelo maravilhoso ou pelo mágico, com a mais absoluta verossimilhança
ou naturalidade.
A crítica tem razão quando denuncia o fato de Monteiro Lobato ter ido às
últimas conseqüências na criação de suas histórias, e que é preciso começar tudo
novamente. O que a história infantil deve fazer é libertar as personagens, para trazêlas ao convívio mais natural das crianças.
Monteiro Lobato conseguiu estruturar a criança sobre dois aspectos
principais, coloca-a em um universo apavorado por ela, e o outro é fazê-la reagir
conforme suas naturais aptidões psicológicas. No primeiro, o processo que foi
empregado pelo escritor consiste nas travessias entre o real e o sonho, o imaginário
e o concreto, sem que haja barreiras entre um e outro.
Com isso o autor faz com que o leitor sinta o mundo da narrativa como seu
próprio mundo, as crianças criam situações mágicas. Surpreendentemente, no
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momento em que o adulto interfere, procura enganar a criança, ela logo diferencia o
real, pois o real da criança não é o real do adulto.
O leitor infantil aborrece-se com livros que buscam mentir, dizendo que é tudo
maravilhoso, cor-de-rosa, ou que tudo é feio. A criança não é imbecil, por exemplo:
as tensões domésticas são logo captadas, fazendo com que as crianças se
posicionem pelos pais. Com o tempo, ela vai se afastando da fantasia e deixando-se
dominar pela percepção lógica e consciente do real e a fantasia. Assim, quando se
fala que o seu real é a fantasia, não se esta baralhando, assim num determinado
momento, um cabo de vassoura é um cavalo, as patas do corcel são as pernas da
criança, um sabugo de milho é um revolver.
Sua fantasia é o real. As crianças inventam suas próprias brincadeiras com os
objetos que lhe são disponíveis. A literatura infantil desempenha um importante
papel no sentido da criança. Aparentemente, as pessoas assistem ao programa de
TV que elas bem querem, ou compram o livro de sua escolha, é o objeto do
processo e não seu sujeito que leva a tomar essas atitudes.
“Louis Altlrusser imaginou dois sistemas a partir dos quais o estado manipula
a ideologia (não esquecer que a burguesia detém o poder e, o estado é o veículo
burguês de dominação e sustentação social e política)...”
10.1 O CONDICIONAMENTO DA CRIANÇA
A estrutura social e econômica do capitalismo entendeu que investir na
criança é garantir a perpetuação do sistema. E vários lugares são utilizados para
isso, como a escola, a família, a indústria. A literatura infantil tem sido elemento
fundamental nessa luta. Com isso, poucos escritores têm proposto à criança uma
crítica aos aparelhos ideológicos de estado.
O escritor consegue descrever os mais graves problemas da sociedade,
sobretudo nos grandes centros urbanos, por falta de bom senso dos homens. O
contato com o real permite ao leitor infantil, assim como o personagem com quem
primeiro se identifica, forma-se já que ele é enganado. A família é uma realidade da
qual a criança não escapa. Ela a vive. A família não funciona nos termos da criança,
prefere atender a outra realidade.
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Depois da família e do convívio com a escola, a criança se relaciona com os
outros setores da sociedade, como a economia e as forças repressoras. A criança
descobre cada vez mais o mundo, propondo nova solução, a vida na realidade
paralela da fantasia, onde pratos são discos coadores e conde cortinas são
bandeiras para levar ao estádio.
O trabalho de ilustração deve comungar com as necessidades de texto,
ampliando-se no sentido do real ou do maravilhoso; com as faixas etárias do leitor,
estimulando o sensível e a ilustração pode tornar-se o regente do consumo do texto,
deve abrir a consciência para perceber diferenciadores entre consumismo e arte. A
ilustração deve ser capaz de conduzir o leitor jovem a assumir o mundo da fantasia,
identificar suas formas e valores.
As palavras abstratas são manifestações que a vida rege. A fábula entende e
reconhece qualquer alegoria que esta sujeita a varias interpretações, por exemplo,
que a visão do monstro dará a medida do esforço a ser desenvolvido, o monstrodragão... Era mais feio que o diabo.
10.2 CONSCIÊNCIA E SÍMBOLO
O livro citado “Literatura Infantil e Ideologia”, chama-se Butizem, 1982,
escrito por Ubiratan de Mattos. Este livro trabalha a linguagem quando deve ser
trabalhada, sabe ser alegre e facecioso (violento) quando preciso, consegue o
mistério e o suspense.
O segmento tem outro detalhe sobre o qual diz respeito a analise, à duração
da narrativa, onde toda a história passa na imaginação do menino. O
amadurecimento da criança é feito através de fantasias. A história é uma descrição
de um rito de passagem que vai de um estágio humano para outro.
Uma das lições a aprender com os autores da literatura brasileira
contemporânea é o novo discurso para a criança. Não é umas formas cristalizadas,
muitas menos o lugar comum como medidor da verdade. O novo discurso tem
peculiaridades e dificuldades, não se defende com a gíria que os autores adotam. É
possível que a criança não chegue ao que foi proposto, mas é o que os artistas têm
oferecido no momento.
Há cem anos, Machado de Assis, já ironizava esse procedimento em várias
histórias. Escrever para criança não é empregar lugares comuns, formas de
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linguagem pobre, o leitor em formação deve ser conquistado e não em uma
linguagem que o faça fugir.
As interpretações da personagem da cantiga, esta é o primeiro contato entre
as crianças e os pais. A criança deve ter contato com histórias, cantigas e
brincadeiras desde pequenas, para que tenham um bom contato e goste de leituras.
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11. OUVINDO HISTÓRIAS
A literatura é muito importante para a formação de qualquer criança. Ouvir
muitas histórias Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ter um
caminho infinito de descoberta e de compreensão do mundo. Os primeiros contatos
da criança com as histórias são através da voz da mãe, do pai, avós, onde contam
as mais variadas histórias.
Ler histórias para criança sempre é sorrir, com as situações vividas pelas
personagens, com a idéia do conto ou com o jeito de escrever do autor, pode ser um
pouco cúmplice desse momento de divertimento. È através de uma história que se
podem descobrir outros lugares, tempos, outros jeitos de agir e de ser; é ficar
sabendo história, geografia, sem pensar sobre o nome disso tudo e muito menos
achar que tem cara de aula; porque deixa de ser literatura, deixa de ser prazer e
passa a ser didática, que é outro departamento. Para contar uma história, seja qual
for, é bom saber como se faz. Nela podem-se descobrir palavras novas entre outras
coisas.
Contar histórias é uma arte, é a simples e harmônica da voz. Quando se vai
ler uma história para criança, não se pode fazer isso de qualquer jeito, utilizando o
primeiro livro que encontrar mostrar que não percebeu o modo como o autor
construiu as frases e ir dando as pausas nos lugares errados. Antes de ser lido para
as crianças o livro precisa ter sido lido pelo narrador.
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O narrador tem que transmitir confiança, motivar a atenção e despertar
admiração. Tem que conduzir a situação como se fosse um virtuoso (um artista) que
sabe seu texto, que o tem memorizado que pode permitir-se o luxo e fazer variações
sobre o tema
Pode-se contar qualquer história à criança, comprida, curta, antigas, atuais,
contos de fadas, poesias, de fantasmas... Qualquer uma, desde que ela seja bem
conhecida do contador, escolhida porque a ache bela, porque seja divertidas ou
inesperadas. O critério de seleção é do narrador, o que pode acontecer depois
depende do quanto ele conhece suas crianças, o momento que estão vivendo e do
quanto saiba aproveitar o texto. E para que isso ocorra, é bom que quem esteja
contando crie todo um clima de envolvimento e encanto. Que saiba dar pausas, criar
os intervalos, respeitar o tempo para o imaginário da criança e outras coisas. O
professor precisa curtir o ritmo que cada narrativa pede e até exigir, deve evitar as
descrições imensas e cheias de detalhes, deixando o campo mais aberto para o
imaginário da criança.
Saber usar as modalidades e possibilidades da voz, sussurrar, falar alto
quando necessário; é bom valorizar o momento em que o conflito está acontecendo
e dar tempo, para que cada criança a vivencie e tomo a sua posição. Mostrar à
criança que o que ela ouviu está impresso num livro, se for o caso, e que ela poderá
voltar a ele quantas vezes quiser.
É de fundamental importância que o professor de pé-escola conte histórias
para seus alunos. Antes de começar é bom pedir que se aproximem que formem
uma roda, para viverem algo especial. Que cada um encontre um jeito gostoso de
ficar, sentado, deitado, cada um a seu gosto. Quando a criança sabe ler é diferente
sua relação com as histórias, porém, continua sentindo enorme prazer em ouví-las.
Ouvir histórias é um momento de gostosura, de prazer, de divertimento dos
melhores. O livro da criança que ainda não lê é a história contada, ela é ampliadora
de referenciais entre outras, e as mil maravilhas que a história provoca.
Quando uma criança escuta a história que se lhe conta, penetra nela
simplesmente como história. Mas existe uma orelha detrás da orelha, conserva a
significação do conto e o revela muito mais tarde
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11.1 OLHANDO HISTÓRIAS
No Brasil, algumas décadas atrás, editoras enveredaram por algumas dessas
possibilidades gráficos, (desenhos, livros e cenários novos, divertidos). Pode-se citar
Ângela Lago, que usou uma atmosfera noturna e requintada, se movimenta no
universo do sonho. Em “Era uma vez”, utilizou páginas duplas como um todo ou
dividindo em três partes, poesia com toda sorte de elementos, entre outros
exemplos.
Além do talento gráfico desses desenhistas, é importante perceber sua
habilidade para construir toda uma narrativa, completa, sem precisar de palavras...
Sua capacidade de contar uma história de modo ágil, viva, de maneiras harmônicas,
bonitas, inteligentes. Esses livros, feitos para crianças pequenas, mas que podem
encantar aos de qualquer idade, são experiências de olhar. É incrível como se
confundem e até se reforçam, nos livros infantis, o texto e o estético.
Invariavelmente a bruxa, o gigante e outras personagens são extremamente
feias, monstruosas ou deformadas, fazendo com que as crianças tenham medo e
saibam que estas são más. A fada, a princesa, a mocinha, são de cabelos longos e
loiros, olhos azuis, sempre com o aspecto de quem acabou de sair do banho.
Quando essas personagens passam a ser pai ou mãe, seguem os mesmos padrões.
Estão sempre em forma, sempre prontos sempre cuidados em ordem. Para as
crianças os pais são sempre heróis.
A tia, a vizinha, a professora, estão agrupadas como se pertencessem à
mesma sociedade. São todos chamados de tias e geralmente são idosas. Não se
trata de analisar a qualidade dos desenhos de nossos livros infantis. Mas temos que
ficar atento aos estreitadores da visão das pessoas e de sua forma de agir e de ser,
ajudar a criança leitora a perceber isso. Preconceitos não se passam apenas através
de palavras, mas também através de imagens. Quem é bonito ou quem é feio, quem
é bom ou mal, é só olhar para o lado e ver que podemos ser um pouco de tudo,
como pessoas contraditórias que somos, conforme a visão que temos de nós
mesmos, do outro e do mundo, a cada etapa de nosso crescimento pessoal, a cada
contato humano, a cada situação vivida ou evitada.
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11.2 O HUMOR NA LITERATURA INFANTIL
Há livros onde o autor parte para uma idéia engraçada, divertida. Exemplo é o
“O homem que soltava pum”, que conta a história de como um cidadão salva a
cidade de um incêndio através de um pum. Há livros que contam histórias alegres
que fazem as crianças sorrirem e gostarem das leituras.
Alguns autores mostram o modo irônico, gozado, quem disse que bruxa não
tem rotina doméstica, que não se cansa ou não se aborrece com os tumultos de um
dia nada favorável. Também mostra a irritação, o mau humor a raiva. Tarus, no livro
Nonsense, (história sem compromisso com o real, com o lógico e, por isso mesmo,
inesperada), que escreveu e ilustrou.
“A criação das criaturas, inventar bichos novos”,
Ao descrever o Borororo, por exemplo, vai falando dos ímpetos assassinos
que alguns seres provocam, pelo tanto que irritam os que com eles tem que
conviver, mesmo que por pouco tempo.”
O Borororo é uma espécie muito mixa, não tem nada, é apenas uma coisinha
redonda e pelada, com dois olhos saltados da testa. Ele é um tipo de desenho
horroroso, o que também faz parte dos livros, mostrar o que é bom, ruim, bonito,
feio, o que é assustador e o que é alegre.
Existem autores com humor na nossa literatura infantil e juvenil, outros
demonstram capacidade de fazer rir, se divertir perante um acontecimento; outros
tem idéias melhores, com mais divertimentos e com coisas mais engraçadas. O
humor não é contar piada, fazer graça ou um comentário boboca, é muito mais que
completa é apaixonante. A expressão mais completa do prazer de viver e a
compreensão mais inteligente do saber viver, para valer realmente a pena.
11.3 POESIA PARA CRIANÇAS
A poesia é um gênero literário que sofre os maiores preconceitos editoriais.
Tem quem ache que a poesia infantil tem que ser moralizada, falar de costumes, de
como organizar o dia-a-dia, descrever bons hábitos; ou tem que ser pequenininha,
bobinha, que deve contar como as plantinhas crescem como a chuvinha. Toda a
poesia tem que ter uma surpresa, se não tiver não é poesia. Há poetas que brincam
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com s palavras de uma maneira que as crianças gostam de ouvir e ler. Um exemplo
de autor é Chico Buarque de Olanda.
“Todo ovo
Que eu bato
Me choca
De novo.
Todo ovo
É a cara
É a clara
Do vovô.” (pg. 68, Brincando com as palavras).
Há também outros, como Cecília Meireles, Elias José. Existem autores que
sabem usar o anagrama (palavra ou frase obtida pela mudança de posição de letras
de outras palavras ou frases), como Bartolomeu Campos de Quieróz.
As rias sãos outros recursos da poesia, são muito gostosas de ler e ouvir
quando bem escolhidas. Não podem ser regras postas sem nenhum critério, pois há
regra dentro da poesia que as definem, podendo ser rimando, a primeira e a
segunda linha, intercaladas, dependendo do tipo de versificação em cada poeta
escolher para utilizar em cada poema que faz. O fato de a rima ser simpática e
lúdica não significa que seja obrigatória e que não existem versos livres. É buscar o
fácil, o rápido, o que resulta numa grande bobagem, sem significado algum. E isso
não é trabalhar com as palavras, não é rabiscar mil vezes até conseguir, a surpresa
nas rimas, o efeito mágico é belo.
O ritmo é outra marca da poesia, é o que possibilita o acompanhamento
musical ao que é lido ou ouvido. Um soneto ou uma trova podem ser tão válidos e
belos quanto um poema concreto. O que vale é a boa escolha para serem lidos. Há
também as poesias narrativas, contadas sob a forma de versos. Há uma variedade
de poesias para adultos, onde se encontram muitos escritos bonitos e estimulantes
que as crianças gostariam de ouvir.
Se a professora for ler um poema para a classe ela deve conhecê-la bem, que
o tenha lido várias vezes antes, que o tenha sentido, percebido, saboreado, para
que passe a emoção verdadeira, o ritmo, que faça pausas para que cada criança
possa descobrir cada estrofe, cada mudança.
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11.4 SE INTEIRANDO DE VERDADE
Querer saber de todo o processo que acontece do nascimento até a morte,
faz parte da curiosidade natural da criança. A criança, dependendo de seu momento,
de sua experiência, de sua vivência, de suas dúvidas, pode estar interessada em ler
sobre qualquer assunto. A questão é saber como o tema é abordado, sem medo,
reservas, sem fugir do assunto, qualquer livro, qualquer assunto pode ter uma
linguagem, um tratamento, um caminho mais envolvente e mais pessoal.
Depende da postura e da crença do autor.
A morte é um tema pouco explorado, como se as pessoas temessem tocar
nele, como se a morte não fizesse pare da vida, como se a criança não se
defrontasse com ela. O que acontece no mundo, ela é informada o tempo todo, de
que há guerras, acidentes, atentados, falecimento de pessoas, até da família. No
entanto, poucos autores em poucas histórias abordam o assunto da morte.
Há tantas verdades para a criança se inteirar de modo bonito, poético crítico,
a questão parece não encobri-las, não disfarça-las ou diminuir sua importância.
Os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, um universo de
fantasia, partindo sempre duma situação real, concreta, lidando com emoções que
qualquer criança já viveu; pois se passam num lugar fora dos limites do tempo e do
espaço, mas onde qualquer um pode caminhar. Os personagens são simples e
colocados em inúmeras situações diferentes, onde tem que buscar e encontrar uma
resposta importante, chamando a criança a percorrer e achar junto uma resposta
para o conflito porque todo esse processo é vivido através da fantasia, do
imaginário, com intervenção de entidades fantásticas (bruxas, fadas, duendes,
animais falantes, plantas sábias). A magia não esta no fato de haver uma fada já
anunciada no título, mas na sua forma de ação, de aparição, de comportamento,
entre outros. Os contos de fadas são tão ricos que tem sido fonte de estudos para
psicanalistas, sociólogos, cada qual dando sua interpretação e se aprofundando no
seu eixo de interesse. Os psicanalistas encontram nos contos de fadas uma fonte
muito rica para estudos e interpretações do comportamento e anseios humanos.
Explicar para uma criança por que um conto de fadas é tão cativante para ela.
As interpretações adultos, por mais corretas, roubem da criança a oportunidade de
sentir que ela, por sua conta própria, enfrentou com êxito uma situação difícil. As
histórias falam de descobertas da própria identidade, o que é fundamental para o
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crescimento. Falam também de abandonos, de esquecimentos, de quem um dia foi
marcante, mas que por várias razões (até mesmo a morte), já não toca ou comove.
Falam de tristezas, de revelações, sexualidade; falam-nos da vida e da morte, de
ciclos que se iniciam e que se fecham nos falam da dificuldade de ser criança ou
jovem, de como é preciso provar a capacidade a cada instante, de como é preciso
se firmar como pessoa; falam de fantasia, do poder de sonhar, desejar, do quere o
próximo.
Pois imaginar é também recriar realidades. É só estar atento ao processo
pessoal, às relações com os outros e com o mundo, à memória e aos projetos, para
compreender que a fantasia é uma das formas de ler, de perceber, de detalhar, de
raciocinar, de sentir o quanto à realidade é um impulsionador para desencadear as
fantasias.
11.5 Trabalhando com a Apreciação Crítica
A literatura infanto-juvenil foi incorporada à escola e, assim, todas as crianças
passaram a ler; até poderia ser verdade, se essa leitura não viesse acompanhada
da noção de dever, de tarefa a ser cumprida, não de descoberta de encantamento.
Nas escolas, onde se dá o direito de escolher entre dois ou três títulos,
existem referências que são exigidas pelo professor, bibliotecas deixa cada aluno
manusear, folhear, buscar, até se decidir qual volume irá escolher. O livro não é
escolhido pelo aluno, é determinado o prazo para que todos os alunos entreguem os
resumos dos livros escolhidos. Ao ler uma história, a criança desenvolve todo o
potencial crítico. A partir daí ela pode pensar, duvidar, se perguntar, e isto não tem
sido feito uma vez ao ano, mas fazendo parte da rotina escolar, sendo sempre
presente, o que não significa trabalhar em cima de um esquema rígido e apenas
repetitivo. Conversar com as crianças sobre o que foi lido é fundamental, é preciso
saber se gostou ou não do que foi contado, se concordou ou não com o que foi lido.
A preocupação básica é formar leitores críticos, capazes de perceber tudo o
que uma boa história traz, ou que saibam por que não usufruíram aquele conto.
Literatura é arte, é prazer. Se ler for mais ao que é lição de casa, cobrança nunca foi
passaporte ou aval para a vontade, descoberta ou para o crescimento de ninguém.
Cada aluno poderá escrever sobre tudo que leu ou ouviu. Se cada livro chamar a
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atenção opor algo de especial, por que não deixar a criança descobrir sozinha o que
sentiu, o que percebeu?
11.6 FREQUENTANDO E FORMANDO BIBLIOTECA
Para se montar uma biblioteca, de qualquer tamanho, é só ir as livrarias onde
se forma uma idéia do que existe, do que acabou de ser lançado, do que está
circulando há tempo. Levar as crianças a livrarias é estimular a formar uma
biblioteca particular, apenas um canto onde cada criança guarde seus livros,
podendo ser num caixote, numa prateleira do guarda-roupa; mas que a esse local só
ela e aqueles a quem ela convidar tenham acesso.
É importante perceber a hora, o momento em que se enfadou daquele livro,
porque era muito infantil, quando for reler percebeu que era chato... é hora de
passar adiante, para outra pessoa o ler.
As escolas têm direito a doações, mas elas não são informadas a respeito;
vale a pena procurar as delegacias de ensino e as secretarias de educação ou
cultura. Quando se fala em montar uma biblioteca, não está se pensando em
receber apenas livros, muito menos em excelentes condições e de impressionante
edição, fazem parte da estante, revistas semanais de informação, gibis,
enciclopédias, Atlas, entre outros. É importante saber jogar o lixo no lixo em vez de
guardá-lo ou deixa-lo por aí, ensinar as crianças a se comportarem dentro de uma
biblioteca.
Há muitas maneiras de a criança ler, de conviver com a literatura de modo
próximo, sem achar que é algo do outro mundo. É uma questão de aproximar a
criança dos livros de modo aberto, seja na livraria ou na biblioteca.
Mais culpados são os adultos que não lhe abrem asas para toda a maravilha
que é a caminhando pelo mundo mágico e encantado das letras, da leitura, do
conhecimento.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A literatura infantil é muito importante nas práticas pedagógicas e um
instrumento valioso para se obter uma boa aprendizagem. O que se propõe é um
trabalho que proporcione aos alunos um momento lúdico, exercitando a imaginação,
a fantasia, a criatividade, e ao mesmo tempo, que se mostre ao aluno a vida de
forma mais poética, com maior liberdade para construir seu conhecimento, pois ela
vem de encontro às novas perspectivas de educação.
Para aprender a ler e a escrever, o aluno precisa aprimorar-se da função
social da leitura e da escrita, deve ser capaz de fazer uso dessas duas práticas no
dia a dia. É o que chamam de formação de leitores, a convivência das pessoas com
narrativas orais e escritas, com o contato com os livros, com a beleza, com a magia,
o prazer, a satisfação que uma boa leitura pode proporcionar ao seu leitor.
Atualmente, ser alfabetizado, isto é, a simples aquisição do código escrito,
tem se revelado insuficiente para responder adequadamente às necessidades do
mundo moderno.
O estudo e a discussão em torno da adequação e da validade da narrativa de
contos de fadas para educação infantil vem sendo discutido por gerações de
professores, psicólogos, orientadores educacionais e pedagogos. E ainda há uma
diversidade de opiniões e divergências.
O papel do professor é assumir o compromisso com o livro, tendo o hábito de
contar histórias, despertando e desafiando os alunos, abrindo as pastas para o
universo da leitura.
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Cabe ao professor a tarefa de utilizar a literatura infantil no seu dia-a-dia,
fazendo com que os alunos possam ter maior interesse e acesso aos livros e
também fazendo com que as crianças venham a ter, futuramente, uma visão mais
crítica.
Por fim, conclui-se que para exercer da cidadania plena, além de aprender a
ler e a escrever, o aluno precisa aprimorar-se da função social da leitura e da escrita,
isto é, deve ser capaz de fazer uso dessas duas práticas no dia a dia, usando como
meio a literatura infantil.
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A IMPORTÂNCIA DA LITERARURA NAS SÉRIES INICIAIS