HÁ VARIAÇÃO LINGUÍSTICA NAS ESCOLAS PÚBLICAS? Wéllem Aparecida de FREITAS Prof. Joyce Elaine de ALMEIDA BARONAS (Orientadora) RESUMO Nos últimos anos, pesquisadores da área de linguagem vêm desenvolvendo investigações científicas com o intuito de identificar, descrever e analisar fenômenos de variação linguística. É certo que a Língua Portuguesa usada no Brasil não é uniforme, pois é constituída de muitas variedades. Assim, o ensino da variação linguística na escola é importante para que o aluno consiga identificar nas práticas sociais _ afinal a língua é uma instituição social_ as regularidades das diferentes variedades do português, reconhecendo os valores sociais implicados. Em primeiro lugar, é preciso lembrar que, muitas vezes, o ensino de língua materna está associado à concepção de “erro”, o que na verdade deveria ser revisto sob a ótica da adequação às circunstâncias de uso. Tendo isso como base, o presente artigo se inclina sobre o ensino da variação linguística, mais especificamente nas escolas públicas de Londrina-PR. Desse modo, partindo dos pressupostos teóricos de Sociolinguística, pretende-se analisar dados de uma entrevista realizada com professores de escolas públicas, localizadas nas áreas rurais e urbanas, com o objetivo de saber se os professores trabalham com o estudo da variação linguística em sala de aula. Cabe ressaltar que não podemos procurar impedir a variação; pelo contrário, é imprescindível abordar esse assunto em sala e apresentar a ideia da adequação de cada possibilidade linguística a um contexto particular. Palavras-chave: Variação linguística; ensino; sociolinguística. 2112 INTRODUÇÃO Há anos pesquisadores da área de linguagem vêm desenvolvendo pesquisas científicas com o objetivo de identificar, descrever e analisar fenômenos de variação linguística, pois a Língua Portuguesa utilizada no Brasil não é uniforme, pelo contrário é constituída de muitas variedades. Como resultado dessas pesquisas, e porque a língua é uma unidade composta de variedades, já há nos documentos que orientam o Ensino Fundamental (Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quarto ciclos do Ensino Fundamental, doravante PCNs) a indicação explícita para que sejam trabalhadas em sala de aula questões que têm como foco a variação linguística, pois “o aluno, ao entrar na escola, já sabe pelo menos uma dessas variedades – aquela que aprendeu pelo fato de estar inserido em uma comunidade de falantes” (BRASIL, 1998, p. 81), assim também podemos constatar, a partir da citação a seguir, extraída dos PCNs, que a língua muda e que por isso o aluno deve estar preparado para identificar tais mudanças: A variação é constitutiva das línguas humanas, ocorrendo em todos os níveis. Ela sempre existiu e sempre existirá, independente de qualquer ação normativa. Assim, quando se fala em “Língua Portuguesa” está se falando de uma unidade que os constitui de muitas variedades. Embora no Brasil haja relativa unidade linguística e apenas uma língua nacional, notam-se diferenças de pronúncia, de emprego de palavras, de morfologia e de construções sintáticas, as quais não somente identificam os falantes de comunidades linguísticas em diferentes regiões, como ainda se multiplicam em uma mesma comunidade de fala. (BRASIL, 1998, p. 29). Assim, se espera que o aluno “seja capaz de verificar as regularidades das diferentes variedades do português, reconhecendo os 2113 valores sociais nelas implicados” (BRASIL, 1998, p. 52), ou seja, esperase que os alunos não somente conheçam as variedades da língua materna, mas também que combatam o preconceito que existe contra as formas populares em oposição às formas utilizadas por grupos socialmente prestigiados, já que: O preconceito linguístico, como qualquer outro preconceito, resulta de avaliações subjetivas dos grupos sociais e deve ser combatido com vigor e energia. É importante que o aluno, ao aprender novas formas linguísticas, particularmente a escrita e o padrão de oralidade mais formal orientado pela tradição gramatical, entenda que todas as variedades linguísticas são legítimas e próprias da história e da cultura humana. (BRASIL, 1998, p.82). Diante disso, pretendemos investigar como os professores que trabalham em escolas públicas, estão trabalhando não somente as variedades linguísticas de prestígio, mas também as variedades populares, sobretudo as variantes dos alunos, que quase sempre se distanciam da variedade de prestígio no que diz respeito a alguns aspectos formais, além disso, objetivamos verificar se os livros didáticos contemplam este conteúdo. Escolhemos a escola pública, porque é a que mais absorve uma clientela cuja linguagem pode se afastar mais da norma culta, dadas as condições sócio culturais que implicam diferenças também no publico escolar. Em vista disso, a pesquisa foi realizada em seis escolas públicas de Londrina, sendo quatro localizadas na área urbana e duas na área rural, para que fosse verificado se há o ensino da variação linguística nas escolas públicas. Para tanto, tomamos por base estudos fundamentados na sociolinguística, sobretudo, nas pesquisas desenvolvidas por Calvet (2002), Tarallo (2001), Fregonezi (1975), entre outros. 2114 Pretendemos com isso verificar se os professores da escola pública trabalham com questões de variação linguística em sala de aula o que contribui, por um lado para combater o preconceito contra as variedades populares; e por outro, para eliminar a noção de “erro” o que possibilita uma melhora na prática de ensino em relação aos fenômenos de variação linguística. 1. Variação linguística A língua não é usada de modo homogêneo por todos os seus falantes, pois seu uso varia de época para época, de região para região, de classe social para classe social, e assim por diante. Nem individualmente podemos afirmar que o uso seja uniforme, porque dependendo da situação, uma mesma pessoa pode usar diferentes variedades de uma só forma da língua. Travaglia divide as variedades linguísticas em dois tipos: Basicamente podemos ter dois tipos de variedades linguísticas: os dialetos e os registros (estes também chamados de estilos, por muitos estudiosos). Os dialetos são as variedades que ocorrem em função das pessoas que usam a língua, ou como preferem alguns, para empregar uma terminologia derivada da teoria da comunicação, dos emissores. Já os registros são as variedades que ocorrem em função do uso que se faz a língua, ou como preferem alguns, dependem do recebedor, da mensagem ou da situação. (TRAVAGLIA, 2000, p. 42). Já que a Língua Portuguesa é heterogênea foram realizados vários estudos a respeito da variação linguística que registram pelo menos seis dimensões de variação dialetal: a territorial, a social, a de idade, a de sexo, a de geração e a de função. 2115 Para Halliday, McIntosh e Strevens (1974), as variações de registro são classificadas como sendo de três tipos diferentes: de grau de formalismo, entendida como um maior cuidado e apuro (no sentido normativo e estético) no uso dos recursos da língua; de modo, que se refere à oposição entre a língua falada e a língua escrita; e de sintonia, que envolve características próprias que marcam um estilo próprio: De tal modo que alguns autores acham que a dificuldade que os alunos têm para escrever não advém do desconhecimento da norma culta ou padrão, mas antes do desconhecimento dessas características próprias do escrito. A língua escrita e a falada apresentam uma série de diferenças devidas ao meio (visual ou auditivo) em que são produzidas. (TRAVAGLIA, 2000, p. 52). Assim, por causa destas, questões se faz necessário tal abordagem em sala, para que dificuldades como estas sejam evitadas. Fregonezi, referindo-se às variações, afirma: „O contexto social do enunciado específico, a posição social do locutor, sua origem geográfica e sua idade. Cada um destes aspectos proporciona um conjunto útil de generalidades‟. (FREGONEZI, 1975, p. 16) Tendo estas ideias como base, o professor deve proporcionar ao aluno o conhecimento das variedades presentes na língua, porque “é uma instituição social”, portanto não pode ser considerada como forma de domínio e/ou classificada em escala de valores, pois muitas vezes os preconceitos são gerados por causa do desconhecimento da variação linguística. „A capacidade de utilizar corretamente a língua em uma variedade de situações socialmente 2116 determinadas é parte integrante e central da competência linguística tanto quanto a capacidade de produzir orações gramaticalmente bem formadas‟. (FREGONEZI, 1975, p. 5.) Em vista disso, não cabe ao professor ensinar apenas normas gramaticais, mas sim levar o aluno a verificar fatores que estão envolvidos na sociedade para que consiga identificar as variantes da língua e usá-las em suas situações específicas, pois se faz necessário que o contexto social do aluno seja considerado como um fator importante em sala de aula. 2. Breve histórico da sociolinguística Nossa pesquisa tem como foco o ensino da variação linguística em sala de aula, partiremos, portanto, de pressupostos teóricos de sociolinguística uma vez que a língua está e é parte integrante da sociedade. William Labov insistiu na relação entre língua e sociedade. Foi, portanto, William Labov quem, mais veemente, voltou a insistir na relação entre língua e sociedade e na possibilidade, virtual e real, de se sistematizar a variação existente e própria da língua falada. Desde seu primeiro estudo, de 1963, sobre o inglês falado na ilha de Martha‟s Vineyard, no Estado de Massachusetts (Estados Unidos). (TARALLO, 2001, p. 7). Seguiremos estes princípios da sociolinguística, porque é perceptível que o ensino da variação linguística em sala de aula deve ser trabalhado levando em consideração o meio social em que o aluno está inserido, portanto, para nós a língua é entendida como um fato social que só acontece por meio de seus falantes. 2117 3. Variação e ensino O ensino de Língua Portuguesa passou por transformações para que fossem consideradas em sala não só a gramática normativa, mas questões referentes à interação, questões que estão na vivencia dos alunos, que fazem parte de seu repertório e que são vistas como algo a ser usado na sociedade e não apenas para aprender a língua escrita. A disciplina de Língua Portuguesa passou a denominar-se, a partir da Lei 5692/71, no primeiro grau, Comunicação e Expressão (nas quatro primeiras séries) e Comunicação em Língua Portuguesa (nas quatro últimas séries), com base em estudos posteriores a Saussure, em especial nos estudos de Jakobson, referentes à teoria da comunicação. Na década de 70, além disso, outras teorias a respeito da linguagem passaram a ser debatidas, entre elas: a Sociolinguística, que volta-se para as questões de variação linguística; a Análise do Discurso, que reflete sobre a relação sujeitolinguagem-história, relaciona-se à ideologia; a Semântica, que preocupa-se com a natureza, função e uso dos significados; a Linguística Textual, que apresenta como objeto o texto, considerando o sujeito e a situação de interação, estuda os mecanismos de textualização. (PARANÁ, 2008, p. 44) Com base nestas diretrizes, o ensino passa a ser democrático e a visar à interação, as situações de uso social, pois o aluno já faz uso da língua antes de fazer parte do ambiente escolar, portanto temos que levar em conta o seu contexto sociocultural. A acolhida democrática da escola às variações linguísticas toma como ponto de partida os conhecimentos linguísticos dos alunos, para promover situações que os incentivem a falar, ou seja, fazer uso da variedade de linguagem que eles empregam em suas relações sociais, mostrando que as diferenças de registro não 2118 constituem, científica e legalmente, objeto de classificação e que é importante a adequação do registro nas diferentes instâncias discursivas. (PARANÁ, 2008, p. 55) Tendo este estudo por base nas salas de aula, é possível ser mostrado ao aluno que as classificações “boa” e “ruim”, “certo” e “errado” não existem, mas que devemos saber adequar em cada situação uma variante linguística. Com esta perspectiva, o ensino torna-se mais fácil e melhor recebido por parte dos alunos, pois identificarão as relações sociais nos discursos, o que facilitará na hora da comunicação. A Sociolinguística não classifica as diferentes variações linguísticas como boas ou ruins, melhores ou piores, primitivas ou elaboradas, pois constituem sistemas linguísticos eficazes, falares que atendem a diferentes propósitos comunicativos, dadas as práticas sociais e os hábitos culturais das comunidades. (PARANÁ, 2008, p. 56) Antunes afirma que: Existem situações sociais diferentes; logo, deve haver também padrões de uso da língua diferente. A variação, assim, aparece como uma coisa inevitavelmente normal. Ou seja, existem variações linguísticas não porque as pessoas são ignorantes ou indisciplinadas; existem, porque as línguas são fatos sociais, situados num tempo e num espaço concretos, com funções definidas. E, como tais, são condicionados por esses fatores. (PARANÁ, 2008, p. 65) 4. Coleta de dados – pesquisa Com o intuito de verificar questões a respeito do ensino- aprendizagem da variação linguística nas escolas, nos propusemos a 2119 analisar seis escolas públicas da cidade de Londrina, para que pudéssemos constatar se há o ensino da variação linguística. Em vista disso, seguem as análises das entrevistas e posteriormente as considerações finais contendo os resultados por nós alcançados. 4.1 Análise das entrevistas As perguntas aplicadas aos professores foram: 1) Nome (Fictício): ____________________________________________________ 2) Nome da escola: ___________________________________________________ 3) Há quanto tempo ministra aula? _____________ 4) Possui licenciatura na disciplina específica? Sim Não 5) Como você vê o ensino da variação linguística em sala de aula? Considera importante? 6) O livro didático, o qual utiliza em sala, aborda questões de variação linguística? Como aborda tais questões em sala? Utiliza outros exemplos? 7) Você acha que com o ensino da variação linguística em sala os alunos podem deixar de utilizar a norma padrão da língua? Por quê? 8) Como os alunos reagem a tal conteúdo? Apresentam dificuldades, preconceito com outros tipos de variação, etc. 4.1.1 Análise da questão 1 Os professores, para se sentirem mais à vontade, puderam utilizar nomes fictícios. 4.1.2 Análise da questão 2 As entrevistas foram realizadas com professores da escola pública em colégios estaduais e de nível médio. As escolas pesquisadas dividem-se em: 2120 Localizadas na Zona Urbana: Colégio Estadual Professor Vicente Rijo, Colégio Estadual Professora Maria José Balzanelo Aguilera, Colégio Estadual Monsenhor Josemariá Escrivá, Instituto de Educação Estadual de Londrina. Localizadas na Zona rural: Colégio Estadual de Paiquerê e Colégio Estadual de Lerroville. 4.1.3 Análise da questão 3 A prática docente dos professores pesquisados é a mais variada possível, pois há professores recém-formados com a experiência de 2 anos em sala de aula e existem aqueles cuja experiência é maior, pois estão há mais de 15 anos em contato com a sala de aula, vivenciaram até mesmo as mudanças no estudo da Língua Portuguesa e estão se adaptando a alguns fatores por estarem há muito tempo fora da universidade e por não realizarem, com frequência, um estudo continuado na área. Alguns, em conversa, relataram dificuldades com o ensino dos gêneros textuais, conteúdo “novo” que deve ser ensino aos alunos, mas por não terem estudado estas questões acabam tendo dificuldades em sua aplicação. 2121 4.1.4 Análise da questão 4 Todos os professores possuem licenciatura em Letras e atuam na área como professores, dois deles estão fazendo mestrado e doutorado na Universidade Estadual de Londrina. 4.1.5 Análise da questão 5 Ao serem questionados a respeito do ensino da variação linguística, as respostas foram satisfatórias e para que o trabalho contemple todos os resultados obtidos seguem as observações feitas pelos professores. Para não demarcamos a escola em questão nem o professor, utilizaremos siglas para separarmos as respostas: 2122 - Professor A: “É importante para a desconstrução do conceito de “certo” e “errado” com relação à língua e para buscar a eliminação da sensação de inferioridade social por usar uma variante diferente da língua culta. Cabe lembrar que só o conhecimento possibilita essa análise e conclusão.” - Professor B: “É muito importante, pois o contato com diferentes tipos de linguagem naturalmente não substitui a leitura e análise de textos literários, ao contrário soma-se a elas.” - Professor C: “Acredito que o ensino da variação linguística é muito importante no ensino, pois é uma maneira de levar em consideração o contexto no qual o aluno está inserido e reduzir, em parte, os preconceitos linguísticos.” - Professor D: “Acredito que o ensino da variação linguística em sala seja bastante válido, visto que proporciona momentos de significante interação com as várias formas de comunicação. Se um dos importantes traços de identificação de um povo é a sua língua, conhecer e interagir com alguns deles torna-se uma forma de enriquecimento, de interação e de aquisição de conhecimento.” - Professor E: “Este ensino é de suma importância, pois o aluno não pode desconhecer estas variantes já que em meio a sociedade elas estão presentes.” - Professor F: “O ensino da variação linguística na sala de aula se faz importante, uma vez que o aluno já possui uma variação ao entrar na escola, e lidar, descrever, conhecer e identificar outras variantes torna o trabalho da linguagem algo próximo do aluno, o que muitas vezes além de prazeroso mostra-se como um conteúdo que é usado, que não será apenas mais um conteúdo a estudar para prova, pelo contrário é um conteúdo que faz parte de sua vivência.” 4.1.6 Análise da questão 6 2123 Quando questionados se o livro didático, o qual utilizava em sala, abordava questões de variação, a maioria afirmou que sim e relatou que alguns superficialmente; porém, por considerarem este ensino importante, sempre buscavam em outras fontes e levavam materiais extras para que o assunto fosse trabalhado em sala. Uma surpresa foi o relato de que alguns não fazem o uso do livro didático, ou o utilizam pouco, mas todos afirmaram trabalhar com o ensino da variação linguística. Assim, seguem as colocações dos professores. - Professor A: “O livro traz textos e expressões de diversas regiões, da linguagem coloquial e técnica, etc. As atividades pedem para identificar os falantes, relacionar com a língua culta e outros.” - Professor B: “Sim. Aborda de maneira bem objetiva e bem diversificada. Utilizo o pen drive, revistas, jornais.” - Professor C: “Costumo não utilizar o livro didático em sala de aula, costumo levar fotocópias ou utilizar a televisão pen drive. Todo começo de ano uma das primeiras coisas que abordo em sala é sobre a importância da variação linguística. Procuro abordar muito sobre variação social e dar exemplos sobre o modo de falar dos alunos. Procuro mostrar também a diferença entre fala e escrita.” - Professor D: “Sim, o livro utilizado em minha escola, Ensino Médio, aborda questões de variação linguística, apresentando algumas dessas variações, bem como explorando seu uso, identificando essas particularidades de uma forma geralmente enriquecedora e, algumas vezes, lúdica. Além disso, eu trabalho com exemplos encontrados em textos literários e/ou filmes regionais. Isso acontece de forma mais intensa no 1° ano.” - Professor E: “O livro aborda superficialmente, mas as trabalho em sala. Não tanto quanto deveria por causa do tempo que não permite.” - Professor F: “Não utilizo livro didático, mas abordo questões relativas ao ensino da variação linguística através de exemplos impressos ou mencionados que fazem parte do cotidiano do aluno.” 2124 4.1.7 Análise da questão 7 Quando questionados se o ensino da variação linguística pode interferir na utilização da norma padrão, a resposta foi unanime: Não. E defenderam esta afirmação de maneira muito positiva, afirmando que o ensino da variação linguística se faz importante e que não atrapalha no ensino das demais matérias. Seguem tais afirmações: - Professor A: “Não, eu penso exatamente ao contrário dessa afirmação. É pelo conhecimento que pode optar pelo uso de cada variante.” - Professor B: “Não, porque através das atividades de variação linguística os alunos são capazes de ampliar e solidificar os seus conhecimentos. Diante de tanta tecnologia a variação linguística serve como um convite à leitura permitindo também uma ligação de enfoques, intenções e contextos.” - Professor C: “Não, desde que o professor deixe claro a importância da variação linguística e da norma padrão. Quando o aluno entende a importância desses dois últimos, ele consegue mais facilmente interagir com as pessoas nas diferentes situações.” - Professor D: “Não! Tudo depende da forma como isso é passado ao aluno, destacando a importância de cada variação e, também, da norma padrão da língua. Esta não pode ser desconsiderada em detrimento daquela, considerando um discurso de valorização do diferente. A norma padrão deve sim, ser o nosso norte em sala de aula, mas as variações devem ser consideradas e respeitadas.” - Professor E: “Os alunos possuem dificuldade com a norma “padrão”, mas não deixam de usá-la por aprenderem a variação linguística.” - Professor F: “Vai do modo como o professor trabalha em sala com este conteúdo, nunca tive problemas com relação a isso.” 4.1.8 Análise da questão 8 A questão número oito queria saber se os alunos encontram dificuldades em relação ao ensino da variação e como reagem a este conteúdo. Os professores apontaram que, de inicio, os alunos apresentam preconceito, chegam a descrevê-la como “falar errado”, “caipira”, mas 2125 conforme se conduz a aula, estas classificações são alteradas e passam a ser vistas como algo próximo de sua realidade, pois passam a identificar as variações em seu meio, seja ele escolar, na rua, em casa, enfim, percebem que está na sociedade, o que desperta o interesse em querer aprender mais e saber por que é usado em seu contexto. A seguir, apresenta-se como os professores responderam a esta questão. - Professor A: “Eles classificam como “falar errado” ou “caipira”, mas depois, entendem.” - Professor B: “Reagem bem. Uma certa dificuldade no início, mas depois conseguem desenvolver as atividades propostas.” - Professor C: “Não, como disse anteriormente (na questão 7), é preciso que o professor deixa bem claro a importância da variação linguística.” - Professor D: “Até hoje não tive problemas ao trabalhar com as variações linguísticas, pois acredito nessa pluralidade e tento passar essa importância aos meus discentes. Além disso, é sempre muito interessante conhecer e se apropriar do que é diferente. Toda forma de conhecimento é válida, desde que bem trabalhada e considerada em sua totalidade!” - Professor E: “Apresentam curiosidade, é um dos conteúdos que mais gostam porque detectam em seu meio a variação o que os estimulam.” - Professor F: “De início não demonstram interesse, mas quando percebem a proximidade do conteúdo com seu dia-a-dia, começam a identificar as variantes que os colegas possuem ou se conhecem alguém que “fala diferente” logo começam a participar da aula, o que realmente demonstra que o conteúdo a ser ministrado pelo professor deve fazer sentido ao aluno, não só para ele concluir os estudos, mas para que reconheça a importância do que é estudo ao longo da disciplina.” CONSIDERAÇÕES FINAIS Em vista dos fatos acima mencionados, compreendemos que o ensino da variação linguística nas escolas públicas de Londrina segue os PCNs, não deixando de lado o contexto socioeconômico e cultural do aluno. 2126 Por meio da entrevista realizada com seis professores da rede estadual de ensino, verificamos que a maioria declarou que o livro didático aborda questões de variação linguística, alguns superficialmente, porém, segundo os dados das entrevistas, os professores complementam tal conteúdo trazendo materiais extras ou dialogando com o próprio contexto escolar vivenciado pelo aluno. O conteúdo é visto como importante e por causa disso é trabalhado por todos os pesquisados. Relatos comprovam que de início os alunos estranham, alguns até consideram como “errado”, mas posteriormente, e devido à explicação e incentivo dos professores, a ideia de “erro” é deixada de lado e é vista como uma adequação que se faz necessária de acordo com a situação em que o aluno se encontra, como por exemplo, o aluno deve saber que em uma entrevista de emprego ele não pode se comportar da mesma maneira que em sua casa, falando com amigos, contando uma história etc. São estas questões que devem ser trabalhadas em sala, pois o aluno precisa aprender conteúdos que irá utilizar em sua vivência, isso não quer dizer que a gramática normativa deva ser deixada de lado, pelo contrário ela orienta e mostra as regras que são necessárias para a escrita e para as situações formais. A pesquisa também nos mostrou, por um lado, que os conteúdos, não só de variação linguística, como os demais, não são tão explorados, em vista do tempo disponível para trabalhar com tantos assuntos; outro fator importante é que alguns professores encontram-se há muito tempo afastados das salas de aula como alunos, o que muitas vezes atrapalha o ensino de certos conteúdos por não terem domínio do assunto a ser trabalhado, como foi mencionado por um dos professores a respeito do ensino dos gêneros textuais. Portanto, a pesquisa contribuiu para que nosso objetivo fosse alcançado, os dados desta pesquisa apontam que o conteúdo de variação 2127 é abordado e nos permitem compreender como isto ocorre. As escolas, que não possuíam ligação umas com as outras, por causa da distância, nos mostrou que não há diferença em relação ao ensino na zona urbana ou rural, pois é papel do professor selecionar os conteúdos a serem abordados e a maneira como irá conduzi-los. 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