XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
A GERAÇÃO Y E OS PROCESSOS DE
APRENDIZAGEM NA UNIVERSIDADE:
UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO
CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA
NUMA UNIVERSIDADE DO INTERIOR
DE SANTA CATARINA
Liandra Pereira (UNIVILLE)
[email protected]
EDINA ELISANGELA ZELLMER FIETZ TREML (UNIVILLE)
[email protected]
Sueli Maria Weiss Rank (UNIVILLE)
[email protected]
O desafio das universidades em trabalhar e conviver com diferentes
gerações na atualidade conduz a repensar a forma de ensinar e
aprender. A maioria dos acadêmicos presentes nos cursos de
engenharia pertence à denominada Geração Y. Esses allunos têm como
característica um perfil dinâmico e necessidade de interagir
constantemente com a tecnologia. Essa influência os torna
extremamente conectados com as mídias e redes sociais, expressando
muitas vezes resistência às aulas tradicionais, sendo que valorizam o
conhecimento, mas trabalham com ele sob um novo paradigma. Muitas
vezes esse movimento emerge em conflitos entre professores e alunos,
convidando a refletir sobre as práticas pedagógicas adotadas,
tomando por referência a percepção dos alunos envolvidos. Nessa
direção a presente pesquisa apresenta dados que expressam a visão de
acadêmicos do curso de engenharia mecânica de uma universidade do
interior de Santa Catarina, suas relações com o ensino e
aprendizagem, assim como uma avaliação do perfil de professores
atuantes nos cursos. Os dados obtidos poderão auxiliar aos
professores e demais profissionais atuantes nos cursos de graduação
na condução de suas aulas, contribuindo para ressignificar práticas
adotadas, o que poderá impactar também no relacionamento em sala
de aula.
Palavras-chaves: Geração Y; processos de aprendizagem; curso de
engenharia.
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Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
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1. Introdução
A globalização da economia e as novas tendências produtivas que promoveram
transformações significativas no mundo do trabalho e demais segmentos sociais tem desafiado
as empresas e as universidades a se remodelarem, para adaptarem-se e crescer em um
ambiente altamente competitivo, como também exigido competências mais complexas dos
profissionais.
Dentre essas competências, recebem especial ênfase as atitudes e habilidades que se
referem ao relacionamento interpessoal, a capacidade de lidar com a diferença e conviver com
grupos de diferentes faixas etárias e características, estratificadas em diferentes gerações. O
novo contexto de diversidade presente nas organizações atuais, no que diz respeito à presença
de quatro gerações, em virtude do prolongamento dos anos de trabalho, provoca uma
convivência forçada de diferentes gerações de colaboradores (LOMBARDIA, STEIN e PIN,
2008).
A administração dessa convivência requer conhecimento acerca das motivações e
valores de cada uma dessas gerações, em especial, àquela recém-chegada no mercado de
trabalho e nas universidades: a geração Y. Lombardia, Stein e Pin (2008, p. 53) destacam que:
“só compreendendo o contexto em que seus membros cresceram, as tendências culturais às
quais estiveram expostos e as mudanças políticas e sociais por que passaram será possível
compreender o que os motiva e o que são capazes de oferecer”.
Essas características se aplicam também às relações e processos de aprendizagem que
ocorrem nas universidades, tendo inscrito como protagonistas desse quadro os professores e
alunos, que sentem-se desafiados a conviver com novas formas de ensinar e aprender. Nesse
sentido, essa pesquisa tem por objetivo identificar e analisar as relações que estabelecem o
processo de aprendizagem da geração Y, a partir de um estudo realizado com acadêmicos do
curso de engenharia de produção mecânica de uma universidade do interior de Santa Catarina.
2. Geração Y e aprendizagem na universidade
As mudanças contínuas enfrentadas pelas empresas solicitam adaptações e superação
de desafios por parte dos seus profissionais e principalmente lhes impõe formas diferenciadas
de gerir sua carreira, desdobrando em novas culturas, sustentadas por valores e aprendizados
que convergem para a formação de identidades profissionais conduzindo a compreensão e
apropriação bem distinta da concepção de trabalho e por consequência da interação com ele.
É matizado por essa concepção que também precisa ser lastreado o processo de
aprendizagem, pois também se constata nas universidades embates entre professores e
metodologias incompatíveis com as expectativas das gerações mais jovens, que pelo seu perfil
diferenciado e inquieto anseia pelo aprendizado mais vivencial, aplicado e prático balizado
pelas pressões próprias do mundo atual.
A desconexão entre a forma como os estudantes aprendem e a forma como os
professores ensinam é fácil de compreender quando consideramos que o sistema
educacional atual foi projetado para um mundo agrário e de manufatura. Entretanto,
o mundo mudou e continua a mudar rapidamente. Os alunos multitarefa de hoje
estão melhor equipados para esta mudança do que muitos adultos [...] (IAN JUKES
AND ANITA DOSAJ, 2003, p.83 apud ).
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Na atualidade as mudanças solicitadas nas práticas pedagógicas e metodológicas,
consideram que “o conhecimento se renova, ou seja, ao invés de ser visto como algo a ser
acumulado e armazenado, ele está mais para um fluxo constante, substituindo velhos saberes
por novos com uma velocidade surpreendente”. (KARAWEJCZYK e ESTIVALETE, 2003,
p.4)
Esses elementos convocam as universidades e os professores que nelas atuam a rever
seu papel em relação à formação profissional que oferecem e por meio de que
estratégias/metodologias o desenvolvem, em convergência com o perfil dos seus alunos. Para
isso, é necessário construir instrumentos capazes de medir os modos como os estudantes
vivenciam o ambiente acadêmico e tomam suas decisões. “Essa tarefa diz respeito não apenas
à identificação das principais características dos estudantes ou do ambiente institucional, mas
também ao estudo do processo de interação desses dois elementos e das mudanças produzidas
em ambos.” (VENDRAMINI et al., 2004, p. 260)
A necessidade de cada vez mais trabalhar de forma integrada, em sistemas
interdependentes e colaborativos exige dos professores estar atentos ao perfil dos estudantes,
convivendo em suas atividades laborais com pessoas apresentando características e
experiências muito distintas, influenciadas pela formação, valores e até tendências peculiares
a gerações. Atualmente, a geração Y vem sendo foco de diversas pesquisas. Isso ocorre, na
maioria das vezes, pelo fato de ser a geração mais recente a entrar no mercado de trabalho e
nas universidades, bem como por possuir características extremamente diferenciadas das
gerações antecessoras. Sendo assim, tem sido um desafio a busca por entendê-la para obter-se
subsídios e meios para atraí-la e retê-la nesses ambientes.
Lombardia, Stein e Pin (2008) explicam que somente a questão da idade não é
suficiente para considerar um grupo parte de uma mesma geração. Para tanto, é necessário
que sejam identificados um conjunto de vivências históricas compartilhadas que determinam
princípios de visão de vida, contexto e valores comuns. Essa informação vem ao encontro da
definição de geração de Kupperschimdt (2000), que afirma que trata-se de um grupo
identificável de pessoas nascidas em um mesmo período que compartilha experiências ao
longo de suas vidas, influenciando e sendo influenciados por uma variedade de fatores que
incluem troca de atitudes da sociedade, mudanças sociais, políticas e econômicas, corrobora
com essa informação. Desdobrando essas informações do conceito de geração e
correlacionado-as às informações disponíveis na literatura, é possível apresentar um conjunto
de características predominantes na geração Y. Em relação ao período de nascimento,
Rugimbana (2007) afirma que os membros da geração Y são os nascidos entre 1982 e 2000.
Crumpacker e Crumpacker (2007) ressaltam o fato dessa geração possuir a capacidade
de realizar várias atividades ao mesmo tempo e de forma natural. Lombardia, Stein e Pin
(2008) corroboram com essa característica quando afirmam que eles já se acostumaram ao
bombardeio de imagens, à informação imediata e visual e à realidade em 3D. Porém, não
desenvolveram a paciência, mas sim, o imediatismo. Não aprenderam a desfrutar um livro, é
uma geração de resultados de curto prazo, e não de processos.
Compreender as características apresentadas e adequar a prática pedagógica à Geração
Y para tornar as aulas mais atrativas é um processo que desafia os professores e as
instituições. Muitos professores enfrentam a apatia e a falta de comprometimento dos alunos,
gerando conflitos em função da inadequação de suas práticas pedagógicas, do modelo
educativo tradicional e excessivamente centrado na exposição do professor.
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Alunos com um perfil dinâmico em relação à construção do conhecimento e
autodidatas relacionam-se e aprendem não somente ouvindo a exposição do professor.
Recorrem a diferentes fontes, acessam as informações e utilizam largamente recursos
tecnológicos disponíveis a que necessitam estar constantemente conectados. Expressam
muitas vezes impaciência e o imediatismo que permeia suas atividades e questiona as
estratégias pedagógicas adotadas por seus professores. Por outro lado, apesar deste perfil e das
muitas competências que essa geração desenvolve, muitas vezes seu desempenho expressado
no processo de aprendizagem é pouco satisfatório, quando não insuficiente para os padrões
esperados e solicitados pelas exigências do mundo do trabalho.
O distanciamento entre professor e aluno na universidade se acentua ao se considerar
que os professores que hoje atuam no ensino superior aprenderam tomando por referência um
paradigma escolar conservador, menos questionador, que colocava o aluno numa posição
submissa e com valores muito distintos, numa aula tradicional, extramente organizada e
regrada. O descompasso entre as expectativas dos alunos e a atuação docente revela a
necessidade dos professores refletirem sobre suas práticas, inovando formas de ensinar e
aprender, assim como relacionar-se com seus acadêmicos.
Em relação à aprendizagem, de acordo com Shih e Allen (2007), o método mais eficaz
para a geração Y é o empírico/experimental, pois esse tipo de educação leva ao
entretenimento e transmite entusiasmo ao processo de aprendizagem. Isso ocorre porque essa
metodologia está relacionada à predisposição e ao compromisso com o que está acontecendo,
o que é inerente à necessidade dessa geração de sentir-se parte do que está sendo
realizado/estudado. Ou seja, por meio de atividades interativas, feitas em sala de aula e em
equipes, os membros dessa geração conseguem aprender melhor.
3. Método e procedimentos de pesquisa
Quanto à tipologia desse estudo quanto aos objetivos, o método utilizado foi a
pesquisa exploratória. Silva (2003, p. 65) afirma que esse tipo de pesquisa “é realizada em
área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Tem como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, para torná-lo mais explícito ou para
construir hipóteses”. Sendo assim, esse tipo de pesquisa é utilizado quando o assunto tema da
pesquisa é ainda pouco explorado, esclarecido nesse campo do conhecimento.
No que diz respeito aos procedimentos, esses se referem à forma pela qual o estudo é
conduzido e os dados são obtidos. À esse respeito, Raupp e Beuren (2004, p. 53) afirmam
que, nessas tipologias enquadram-se: “o estudo de caso, a pesquisa de levantamento, a
pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, a pesquisa participante e a pesquisa
experimental”. Essas tipologias podem ser utilizadas, em uma pesquisa, de forma conjunta,
observado o objetivo a ser alcançado. Nesse estudo, primeiramente, foi utilizada a pesquisa
bibliográfica para elaboração do referencial teórico, e em um segundo momento, a pesquisa
de levantamento realizada com universitários da geração Y regularmente matriculados no
curso de engenharia de produção mecânica de uma universidade do interior de Santa Catarina.
O procedimento utilizado para obtenção dos dados foi o de levantamento. Este método
de coleta é conceituado por Martins (2002, p.36) como sendo o levantamento feito junto “às
fontes primárias, geralmente através de aplicação de questionários para grande quantidade de
pessoas”. Para Gil (1999, p.70) as pesquisas de levantamento caracterizam-se:
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pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer.
Basicamente, procede-se a solicitação de informações a um grupo significativo de
pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante analise
quantitativa, obter as conclusões correspondentes aos dados coletados.
O instrumento para a coleta de dados utilizado foi o questionário com perguntas
abertas e fechadas, divididas em dois blocos, um com perguntas referentes ao processo de
aprendizagem e outro direcionado para identificação do perfil dos respondentes. Para Gil
(1999, p.128), questionário é “a técnica de investigação composta por um número mais ou
menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo como objetivo o
conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações
vivenciadas, etc.”.
O questionário elaborado para a pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em
Pesquisa da universidade e após sua aprovação foi aplicado no ano letivo de 2011, sendo que
73% dos acadêmicos regularmente matriculados responderam a pesquisa, visto que estão na
faixa etária que corresponde à geração Y.
Essa pesquisa possui, ainda, uma abordagem positivista que, segundo Martins (1994)
pode ser entendida como um estudo que se fundamenta em dados empíricos, processados
quantitativamente, coletados e trabalhados com objetividade e neutralidade, em que, com base
em um referencial teórico o pesquisador levanta hipóteses e as testa. Quanto à abordagem do
problema, foi utilizada a pesquisa quantitativa. Segundo Boudon (1989, p. 24), “as pesquisas
quantitativas podem ser definidas como as que permitem recolher, num conjunto de
elementos, informações comparáveis entre um elemento e outro”. Essa comparabilidade das
informações é que permite a análise quantitativa dos dados. Portanto, para a aplicação desse
método, é imprescindível a existência de um conjunto de elementos mais ou menos
comparáveis.
Para análise dos dados foi utilizada as abordagem quantitativa. Este método, segundo
Raupp e Beuren (2004, p.92), “caracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto
na coleta quanto no tratamento dos dados”. Toda pesquisa quantitativa baseia-se nos
instrumentos estatísticos para transformar as respostas obtidas. Portanto, o propósito da
pesquisa quantitativa é de medir os resultados de forma objetiva.
4. Apresentação e análise dos dados
Inicialmente, as questões tinham por objetivo identificar o perfil dos acadêmicos
quanto ao gênero, estado civil, ocupação profissional e setor de atuação. Em relação gênero,
93,2% dos respondentes são do sexo masculino e 6,8% do sexo feminino, o que reflete o
perfil costumeiro dos cursos de engenharia. Em relação ao estado civil, 84,75% dos
acadêmicos são solteiros e 15,25% são casados. Quanto à ocupação profissional, 66,1% são
empregados da iniciativa privada, 5,1% proprietários de empresas, 5,1% autônomos, 3,4%
funcionários públicos e os demais não informaram. Quanto ao setor de atuação, 71,19% atua
na indústria, 6,78% no comércio e 11,86% não informou.
As próximas questões apresentadas aos acadêmicos tinham por objetivo verificar
questões relativas ao processo de aprendizagem. A primeira questão solicitava aos
respondentes que destacassem os fatores que expressam seu processo de aprendizagem, sendo
que as respostas são apresentadas na tabela 1.
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Assinale as alternativas que expressam o seu processo de aprendizado (assinale, no máximo, 2 alternativas):
Obtém êxito quando sabe para que esta aprendendo e onde vai usar o conhecimento
Obtém melhor êxito quando realiza atividades complementares/trabalhos fora do horário de aula.
Se identifica com aulas que envolvam dinâmicas de grupos e atividades variadas
Tem melhor aproveitamento quando trabalha em grupos
Obtém melhor desempenho quando pode estudar usando tecnologias
As aulas expositivas ainda são as mais adequadas para compreender os conteúdos
Gosta de ler e é autodidata
Não responderam
Total
%
29,66%
16,10%
14,41%
13,56%
11,86%
5,93%
4,24%
4,24%
100,00%
Tabela 1 – Processo de aprendizado
Fonte: Dados da pesquisa realizada com acadêmicos da geração Y do curso de engenharia de produção mecânica
Como se pode observar na tabela 1, o público pesquisado relatou que conhecer a
importância e a aplicabilidade do conteúdo é imprescindível para dar significado ao
aprendizado. Essa prática contribui sobremaneira para o processo de ensino e aprendizagem
na percepção dos respondentes. Também com respostas expressivas, a realização de
atividades complementares e trabalhos fora do horário de aula contribuem de maneira
significativa para o aprendizado dos respondentes. Como terceira opção mais relevante
surgem as aulas com dinâmicas de grupos e atividades variadas. O perfil da Geração Y que
não gosta de receber ordens, mas de ser convencida também está refletido nessa resposta, pois
sem a devida significação o aprendizado é para eles como uma obrigação, mas devidamente
contextualizado assume uma importância muito maior, motivando-os a experimentá-lo. Ser
irriquietos é outra faceta dos indivíduos dessa geração, por isso a movimentação e a atividade
que os trabalhos extra-classe geram se torna interessante pois possibilita o movimento, a vida,
a ação, elementos valorizados por eles. Constata-se no cotidiano da sala de aula que os
indivíduos dessa geração têm extrema dificuldade em se concentrar e ouvir. Nesse sentido as
práticas tradicionais, eminentemente orientadas por aulas expositivas e que colocam os alunos
numa condição passiva não se tornam atrativas; por isso que aulas dinâmicas, com atividades
variadas despertam interesse dessa geração, pois objetivam a realização de atividades
interessantes todo o tempo.
Nessa perspectiva é determinante que o currículo dos cursos de graduação,
especificamente neste caso os cursos de engenharia, sejam construídos considerando as
características e o perfil de seus alunos, assim como os avanços tecnológicos e mudanças
sociais/laborais. Conforme Castanha e Castro (2010, p.8) “os alunos que diariamente acessam
os espaços escolares, estão conectados ao mundo, à vida; querem descobrir, não lhes interessa
qual currículo está sendo utilizado.” Assim, os professores gradativamente precisam atentar a
esse movimento, adequando seu modelo pedagógico e desafiar os acadêmicos para envolvêlos mais no processo de aprendizagem.
A próxima questão abordada na pesquisa tinha por objetivo verificar o perfil dos
acadêmicos quanto à forma de aprender, ou seja, identificar quais métodos são considerados
pelos acadêmicos como mais eficazes no seu processo de aprendizagem.
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Você aprende mais (assinale, no máximo, 3 alternativas):
Utilizando os conhecimentos aprendidos em algum caso prático
Respondendo questões mais complexas que exijam reflexão
Anotando
Interagindo durante as aulas dando contribuições
Ouvindo
Fazendo exercícios mais simples
Vendo
Estudando em grupos fora do horário de aula
Por meio de dinâmicas
Lendo
Outra maneira
Não responderam
Total
%
20,34%
9,60%
9,60%
9,04%
9,04%
7,34%
7,34%
6,78%
5,08%
4,52%
1,13%
10,17%
100,00%
Tabela 2 – Aprendizado
Fonte: Dados da pesquisa realizada com acadêmicos da geração Y do curso de engenharia de produção mecânica
Os resultados apresentados na tabela 2 corroboram com as respostas da tabela 1 visto
que a aplicabilidade dos conhecimentos tem especial importância na internalização do
aprendizado para os respondentes. A experiência advinda desse processo também é
igualmente importante, pois auxilia no desenvolvimento de habilidades e das atitudes, além
dos conhecimentos. Importante também destacar as respostas que contemplam a necessidade
de reflexão e de complexidade o que denota a valorização do desafio, coadunando com o
perfil da geração Y que precisa ser constantemente desafiada para dar o melhor de si.
Conforme Prensky (2004) a geração Y absorve informação melhor e que toma decisões mais
rapidamente, são multitarefa e processam informações em paralelo; uma geração que pensa
graficamente ao invés de textualmente, assume a conectividade e está acostumada a ver o
mundo através das lentes dos jogos e da diversão.
Percebe-se, portanto, uma grande diversidade no que tange às formas pelas quais os
acadêmicos afirmam aprender mais eficazmente, o que permite concluir que o ambiente
educacional é um espaço que apresenta diferentes perfis de estudantes. Essa questão precisa
ser levada em consideração pelo professor nos vários momentos da atividade docente, sendo
extremamente importante que os métodos de ensino sejam variados e intercalados procurando
atender aos mais variados perfis. Nesse sentido, é extremamente relevante que o professor
avalie constantemente sua prática buscando mantê-la atualizada de modo a atender as
demandas diferenciadas dessa geração para que as expectativas dos acadêmicos sejam
alcançadas e o aprendizado de fato aconteça. Ou seja, é preciso que o professor repense os
modelos utilizados frente à nova realidade, buscando adaptar-se às mudanças e inserir-se no
novo contexto, considerando os avanços tecnológicos e as mudanças geracionais existentes.
Buscando identificar o que essa geração espera, em relação aos docentes, foi-lhes
questionado qual o perfil de professores com que mais se identificam no sentido de terem sua
aprendizagem favorecida. Os resultados são apresentados na Tabela 3.
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Quanto ao perfil dos professores: (assinale, no máximo, 2 alternativas)
Não importa a idade, o mais importante é o domínio de conhecimento que revelam
Gosto daqueles que conseguem disciplinar a turma e estabelecer um bom clima de aprendizagem
Prefiro os professores mais experientes
Os melhores são os mais informais
Me identifico com os que falam nossa língua e são divertidos
Me identifico com os professores mais jovens
Outro
Não responderam
Total
%
36,44%
22,88%
12,71%
9,32%
8,47%
1,69%
0,85%
7,63%
100,00%
Tabela 3 – Perfil dos professores
Fonte: Dados da pesquisa realizada com acadêmicos da geração Y do curso de engenharia de produção mecânica
Em se tratando de professores, se percebe duas questões muito relevantes: o que
realmente interessa é o conteúdo (conhecimento) mas que o relacionamento e a postura
precisam ser muito bem trabalhados pois além de dominar conteúdo o professor precisa
disciplinar mas manter um clima de parceria, o que requer uma boa dose de experiência,
paciência e jogo de cintura.
A necessidade do estabelecimento do vínculo é fundamental. O docente precisa
conhecer e fazer uso das ferramentas tecnológicas utilizadas pelos alunos. Essa pode ser uma
das estratégias de estabelecer esse vínculo.
O professor como articulador e mediador do processo de aprendizagem dos alunos
precisa dar ênfase ao conhecimento e às estratégias que adota para trabalhá-lo, mas esse
processo não pode ser desvinculado das condições e do aparato que permitem maior
aproveitamento da turma em relação às propostas pedagógicas, tornando sua aprendizagem
significativa e agregadora a sua formação.
Ao serem questionados porque estudar é importante, dentre os itens que obtiveram
maior ênfase estão a capacitação profissional (15%), as possibilidades para um futuro
profissional melhor (12%), expectativas quanto a maior empregabilidade (16%) e
principalmente as oportunidades de adquirir conhecimentos e gerar novos aprendizados
(57%). Afirmam que no processo de ensino-aprendizagem na universidade obteriam melhor
desempenho se tivessem mais tempo para dedicar-se ao estudo. Esse fator é limitado também
pelo fato de 90% desses alunos serem alunos trabalhadores, dedicando às atividades
acadêmicas somente o período noturno e os finais de semana. Destacam também a
necessidade dos professores articularem mais teoria à prática em suas aulas, para que possam
visualizar a aplicabilidade dos conteúdos contemplados. Essa perspectiva legitima seu o perfil
imediatista e egocêntrico da Geração Y e corrobora a visão de Castanha e Castro (2010, p. 05)
quando argumentam que “somente investimentos em tecnologia não são suficientes para
trabalhar com essa geração que vive plugada, que é impaciente e imediatista. É urgente que
cada professor reflita sobre sua prática e avalie o quanto ela está atualizada para atender as
demandas do alunado.”
5. Considerações Finais
As mudanças que se apresentam na sociedade atual ditam novo compasso às relações e
por consequência trazem novos ritmos para as relações pedagógicas. As gerações que chegam
hoje às universidades trazem consigo expectativas, dificuldades e possibilidades com as quais
ainda o professor não consegue trabalhar integralmente, justamente por desafiá-lo a ensinar e
aprender num paradigma diferente do anterior, ao qual estavam vinculadas suas certezas.
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Cabe no entanto à universidade, aos cursos e suas propostas de formação, desenhadas
em seus currículos, promover a gestão destas dificuldades e possibilidades, aproveitando-as
como oportunidade de revisão e transformação, fazendo de sua experiência um trampolim
para superar as resistências muitas vezes instaladas, as quais rendem mais embates que
evolução. Os cursos de engenharia representam o ícone das inovações, das tecnologias e do
desenvolvimento social, sendo que reside nos seus colegiados muitas das experiências
embrionárias para contribuir com melhorias no processo de formação dos engenheiros, de
forma a contribuir mais intensivamente para a formação de profissionais mais aptos a intervir
em prol do desenvolvimento industrial, tecnológico, econômico e social. Mais do que
entender os acadêmicos que acessam aos cursos, é necessário trabalhar em parceria com eles,
desenvolver suas competências por meio de estratégias inovadoras e aulas mais dinâmicas. Os
dados coletados expressam o valor que estes estudantes depositam no seu processo de
formação, enfatizam a importância do vínculo que estabelecem com seus professores,
evidenciam seu estilo de aprendizagem e as buscas que empenham em relação ao seu
processo de aprender a aprender. Esses alunos também trabalham com certezas provisórias em
relação às suas escolhas e formas de organizar-se como estudante e como profissionais. Se
revelam impaciência, desinteresse e imediatismo, estão mediados por elementos que os
pressionam nessa direção, lhes trazem dilemas e precisam de desafios que os coloquem no
movimento de participar mais, intervir, viver intensamente a experiência universitária e lhes
instrumentalizar suficientemente para a atuação profissional. Cabe aos professores como
pesquisadores da docência buscar meios de articular estas expectativas com as demandas do
campo profissional. Diversificar aulas, repensar currículos, desfragmentar matrizes
curriculares, investir em projetos integradores, promover trocas interdisciplinares, estreitar a
interação universidade-empresa e buscar em conjunto com pares da profissão possibilidades
para superar o atual quadro instalado. Os dados fornecidos pela presente pesquisa permitiram
identificar características importantes, as quais precisam ser trabalhadas e desdobradas para
mobilizar à tomada de decisão e as mudanças necessárias, partilhando esforços e conjugando
competências.
6. Referências
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