XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. A GERAÇÃO Y E OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM NA UNIVERSIDADE: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO NO CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA NUMA UNIVERSIDADE DO INTERIOR DE SANTA CATARINA Liandra Pereira (UNIVILLE) [email protected] EDINA ELISANGELA ZELLMER FIETZ TREML (UNIVILLE) [email protected] Sueli Maria Weiss Rank (UNIVILLE) [email protected] O desafio das universidades em trabalhar e conviver com diferentes gerações na atualidade conduz a repensar a forma de ensinar e aprender. A maioria dos acadêmicos presentes nos cursos de engenharia pertence à denominada Geração Y. Esses allunos têm como característica um perfil dinâmico e necessidade de interagir constantemente com a tecnologia. Essa influência os torna extremamente conectados com as mídias e redes sociais, expressando muitas vezes resistência às aulas tradicionais, sendo que valorizam o conhecimento, mas trabalham com ele sob um novo paradigma. Muitas vezes esse movimento emerge em conflitos entre professores e alunos, convidando a refletir sobre as práticas pedagógicas adotadas, tomando por referência a percepção dos alunos envolvidos. Nessa direção a presente pesquisa apresenta dados que expressam a visão de acadêmicos do curso de engenharia mecânica de uma universidade do interior de Santa Catarina, suas relações com o ensino e aprendizagem, assim como uma avaliação do perfil de professores atuantes nos cursos. Os dados obtidos poderão auxiliar aos professores e demais profissionais atuantes nos cursos de graduação na condução de suas aulas, contribuindo para ressignificar práticas adotadas, o que poderá impactar também no relacionamento em sala de aula. Palavras-chaves: Geração Y; processos de aprendizagem; curso de engenharia. XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. 1. Introdução A globalização da economia e as novas tendências produtivas que promoveram transformações significativas no mundo do trabalho e demais segmentos sociais tem desafiado as empresas e as universidades a se remodelarem, para adaptarem-se e crescer em um ambiente altamente competitivo, como também exigido competências mais complexas dos profissionais. Dentre essas competências, recebem especial ênfase as atitudes e habilidades que se referem ao relacionamento interpessoal, a capacidade de lidar com a diferença e conviver com grupos de diferentes faixas etárias e características, estratificadas em diferentes gerações. O novo contexto de diversidade presente nas organizações atuais, no que diz respeito à presença de quatro gerações, em virtude do prolongamento dos anos de trabalho, provoca uma convivência forçada de diferentes gerações de colaboradores (LOMBARDIA, STEIN e PIN, 2008). A administração dessa convivência requer conhecimento acerca das motivações e valores de cada uma dessas gerações, em especial, àquela recém-chegada no mercado de trabalho e nas universidades: a geração Y. Lombardia, Stein e Pin (2008, p. 53) destacam que: “só compreendendo o contexto em que seus membros cresceram, as tendências culturais às quais estiveram expostos e as mudanças políticas e sociais por que passaram será possível compreender o que os motiva e o que são capazes de oferecer”. Essas características se aplicam também às relações e processos de aprendizagem que ocorrem nas universidades, tendo inscrito como protagonistas desse quadro os professores e alunos, que sentem-se desafiados a conviver com novas formas de ensinar e aprender. Nesse sentido, essa pesquisa tem por objetivo identificar e analisar as relações que estabelecem o processo de aprendizagem da geração Y, a partir de um estudo realizado com acadêmicos do curso de engenharia de produção mecânica de uma universidade do interior de Santa Catarina. 2. Geração Y e aprendizagem na universidade As mudanças contínuas enfrentadas pelas empresas solicitam adaptações e superação de desafios por parte dos seus profissionais e principalmente lhes impõe formas diferenciadas de gerir sua carreira, desdobrando em novas culturas, sustentadas por valores e aprendizados que convergem para a formação de identidades profissionais conduzindo a compreensão e apropriação bem distinta da concepção de trabalho e por consequência da interação com ele. É matizado por essa concepção que também precisa ser lastreado o processo de aprendizagem, pois também se constata nas universidades embates entre professores e metodologias incompatíveis com as expectativas das gerações mais jovens, que pelo seu perfil diferenciado e inquieto anseia pelo aprendizado mais vivencial, aplicado e prático balizado pelas pressões próprias do mundo atual. A desconexão entre a forma como os estudantes aprendem e a forma como os professores ensinam é fácil de compreender quando consideramos que o sistema educacional atual foi projetado para um mundo agrário e de manufatura. Entretanto, o mundo mudou e continua a mudar rapidamente. Os alunos multitarefa de hoje estão melhor equipados para esta mudança do que muitos adultos [...] (IAN JUKES AND ANITA DOSAJ, 2003, p.83 apud ). 2 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Na atualidade as mudanças solicitadas nas práticas pedagógicas e metodológicas, consideram que “o conhecimento se renova, ou seja, ao invés de ser visto como algo a ser acumulado e armazenado, ele está mais para um fluxo constante, substituindo velhos saberes por novos com uma velocidade surpreendente”. (KARAWEJCZYK e ESTIVALETE, 2003, p.4) Esses elementos convocam as universidades e os professores que nelas atuam a rever seu papel em relação à formação profissional que oferecem e por meio de que estratégias/metodologias o desenvolvem, em convergência com o perfil dos seus alunos. Para isso, é necessário construir instrumentos capazes de medir os modos como os estudantes vivenciam o ambiente acadêmico e tomam suas decisões. “Essa tarefa diz respeito não apenas à identificação das principais características dos estudantes ou do ambiente institucional, mas também ao estudo do processo de interação desses dois elementos e das mudanças produzidas em ambos.” (VENDRAMINI et al., 2004, p. 260) A necessidade de cada vez mais trabalhar de forma integrada, em sistemas interdependentes e colaborativos exige dos professores estar atentos ao perfil dos estudantes, convivendo em suas atividades laborais com pessoas apresentando características e experiências muito distintas, influenciadas pela formação, valores e até tendências peculiares a gerações. Atualmente, a geração Y vem sendo foco de diversas pesquisas. Isso ocorre, na maioria das vezes, pelo fato de ser a geração mais recente a entrar no mercado de trabalho e nas universidades, bem como por possuir características extremamente diferenciadas das gerações antecessoras. Sendo assim, tem sido um desafio a busca por entendê-la para obter-se subsídios e meios para atraí-la e retê-la nesses ambientes. Lombardia, Stein e Pin (2008) explicam que somente a questão da idade não é suficiente para considerar um grupo parte de uma mesma geração. Para tanto, é necessário que sejam identificados um conjunto de vivências históricas compartilhadas que determinam princípios de visão de vida, contexto e valores comuns. Essa informação vem ao encontro da definição de geração de Kupperschimdt (2000), que afirma que trata-se de um grupo identificável de pessoas nascidas em um mesmo período que compartilha experiências ao longo de suas vidas, influenciando e sendo influenciados por uma variedade de fatores que incluem troca de atitudes da sociedade, mudanças sociais, políticas e econômicas, corrobora com essa informação. Desdobrando essas informações do conceito de geração e correlacionado-as às informações disponíveis na literatura, é possível apresentar um conjunto de características predominantes na geração Y. Em relação ao período de nascimento, Rugimbana (2007) afirma que os membros da geração Y são os nascidos entre 1982 e 2000. Crumpacker e Crumpacker (2007) ressaltam o fato dessa geração possuir a capacidade de realizar várias atividades ao mesmo tempo e de forma natural. Lombardia, Stein e Pin (2008) corroboram com essa característica quando afirmam que eles já se acostumaram ao bombardeio de imagens, à informação imediata e visual e à realidade em 3D. Porém, não desenvolveram a paciência, mas sim, o imediatismo. Não aprenderam a desfrutar um livro, é uma geração de resultados de curto prazo, e não de processos. Compreender as características apresentadas e adequar a prática pedagógica à Geração Y para tornar as aulas mais atrativas é um processo que desafia os professores e as instituições. Muitos professores enfrentam a apatia e a falta de comprometimento dos alunos, gerando conflitos em função da inadequação de suas práticas pedagógicas, do modelo educativo tradicional e excessivamente centrado na exposição do professor. 3 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Alunos com um perfil dinâmico em relação à construção do conhecimento e autodidatas relacionam-se e aprendem não somente ouvindo a exposição do professor. Recorrem a diferentes fontes, acessam as informações e utilizam largamente recursos tecnológicos disponíveis a que necessitam estar constantemente conectados. Expressam muitas vezes impaciência e o imediatismo que permeia suas atividades e questiona as estratégias pedagógicas adotadas por seus professores. Por outro lado, apesar deste perfil e das muitas competências que essa geração desenvolve, muitas vezes seu desempenho expressado no processo de aprendizagem é pouco satisfatório, quando não insuficiente para os padrões esperados e solicitados pelas exigências do mundo do trabalho. O distanciamento entre professor e aluno na universidade se acentua ao se considerar que os professores que hoje atuam no ensino superior aprenderam tomando por referência um paradigma escolar conservador, menos questionador, que colocava o aluno numa posição submissa e com valores muito distintos, numa aula tradicional, extramente organizada e regrada. O descompasso entre as expectativas dos alunos e a atuação docente revela a necessidade dos professores refletirem sobre suas práticas, inovando formas de ensinar e aprender, assim como relacionar-se com seus acadêmicos. Em relação à aprendizagem, de acordo com Shih e Allen (2007), o método mais eficaz para a geração Y é o empírico/experimental, pois esse tipo de educação leva ao entretenimento e transmite entusiasmo ao processo de aprendizagem. Isso ocorre porque essa metodologia está relacionada à predisposição e ao compromisso com o que está acontecendo, o que é inerente à necessidade dessa geração de sentir-se parte do que está sendo realizado/estudado. Ou seja, por meio de atividades interativas, feitas em sala de aula e em equipes, os membros dessa geração conseguem aprender melhor. 3. Método e procedimentos de pesquisa Quanto à tipologia desse estudo quanto aos objetivos, o método utilizado foi a pesquisa exploratória. Silva (2003, p. 65) afirma que esse tipo de pesquisa “é realizada em área na qual há pouco conhecimento acumulado e sistematizado. Tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, para torná-lo mais explícito ou para construir hipóteses”. Sendo assim, esse tipo de pesquisa é utilizado quando o assunto tema da pesquisa é ainda pouco explorado, esclarecido nesse campo do conhecimento. No que diz respeito aos procedimentos, esses se referem à forma pela qual o estudo é conduzido e os dados são obtidos. À esse respeito, Raupp e Beuren (2004, p. 53) afirmam que, nessas tipologias enquadram-se: “o estudo de caso, a pesquisa de levantamento, a pesquisa bibliográfica, a pesquisa documental, a pesquisa participante e a pesquisa experimental”. Essas tipologias podem ser utilizadas, em uma pesquisa, de forma conjunta, observado o objetivo a ser alcançado. Nesse estudo, primeiramente, foi utilizada a pesquisa bibliográfica para elaboração do referencial teórico, e em um segundo momento, a pesquisa de levantamento realizada com universitários da geração Y regularmente matriculados no curso de engenharia de produção mecânica de uma universidade do interior de Santa Catarina. O procedimento utilizado para obtenção dos dados foi o de levantamento. Este método de coleta é conceituado por Martins (2002, p.36) como sendo o levantamento feito junto “às fontes primárias, geralmente através de aplicação de questionários para grande quantidade de pessoas”. Para Gil (1999, p.70) as pesquisas de levantamento caracterizam-se: 4 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se deseja conhecer. Basicamente, procede-se a solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do problema estudado para em seguida, mediante analise quantitativa, obter as conclusões correspondentes aos dados coletados. O instrumento para a coleta de dados utilizado foi o questionário com perguntas abertas e fechadas, divididas em dois blocos, um com perguntas referentes ao processo de aprendizagem e outro direcionado para identificação do perfil dos respondentes. Para Gil (1999, p.128), questionário é “a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo como objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas, etc.”. O questionário elaborado para a pesquisa foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da universidade e após sua aprovação foi aplicado no ano letivo de 2011, sendo que 73% dos acadêmicos regularmente matriculados responderam a pesquisa, visto que estão na faixa etária que corresponde à geração Y. Essa pesquisa possui, ainda, uma abordagem positivista que, segundo Martins (1994) pode ser entendida como um estudo que se fundamenta em dados empíricos, processados quantitativamente, coletados e trabalhados com objetividade e neutralidade, em que, com base em um referencial teórico o pesquisador levanta hipóteses e as testa. Quanto à abordagem do problema, foi utilizada a pesquisa quantitativa. Segundo Boudon (1989, p. 24), “as pesquisas quantitativas podem ser definidas como as que permitem recolher, num conjunto de elementos, informações comparáveis entre um elemento e outro”. Essa comparabilidade das informações é que permite a análise quantitativa dos dados. Portanto, para a aplicação desse método, é imprescindível a existência de um conjunto de elementos mais ou menos comparáveis. Para análise dos dados foi utilizada as abordagem quantitativa. Este método, segundo Raupp e Beuren (2004, p.92), “caracteriza-se pelo emprego de instrumentos estatísticos, tanto na coleta quanto no tratamento dos dados”. Toda pesquisa quantitativa baseia-se nos instrumentos estatísticos para transformar as respostas obtidas. Portanto, o propósito da pesquisa quantitativa é de medir os resultados de forma objetiva. 4. Apresentação e análise dos dados Inicialmente, as questões tinham por objetivo identificar o perfil dos acadêmicos quanto ao gênero, estado civil, ocupação profissional e setor de atuação. Em relação gênero, 93,2% dos respondentes são do sexo masculino e 6,8% do sexo feminino, o que reflete o perfil costumeiro dos cursos de engenharia. Em relação ao estado civil, 84,75% dos acadêmicos são solteiros e 15,25% são casados. Quanto à ocupação profissional, 66,1% são empregados da iniciativa privada, 5,1% proprietários de empresas, 5,1% autônomos, 3,4% funcionários públicos e os demais não informaram. Quanto ao setor de atuação, 71,19% atua na indústria, 6,78% no comércio e 11,86% não informou. As próximas questões apresentadas aos acadêmicos tinham por objetivo verificar questões relativas ao processo de aprendizagem. A primeira questão solicitava aos respondentes que destacassem os fatores que expressam seu processo de aprendizagem, sendo que as respostas são apresentadas na tabela 1. 5 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Assinale as alternativas que expressam o seu processo de aprendizado (assinale, no máximo, 2 alternativas): Obtém êxito quando sabe para que esta aprendendo e onde vai usar o conhecimento Obtém melhor êxito quando realiza atividades complementares/trabalhos fora do horário de aula. Se identifica com aulas que envolvam dinâmicas de grupos e atividades variadas Tem melhor aproveitamento quando trabalha em grupos Obtém melhor desempenho quando pode estudar usando tecnologias As aulas expositivas ainda são as mais adequadas para compreender os conteúdos Gosta de ler e é autodidata Não responderam Total % 29,66% 16,10% 14,41% 13,56% 11,86% 5,93% 4,24% 4,24% 100,00% Tabela 1 – Processo de aprendizado Fonte: Dados da pesquisa realizada com acadêmicos da geração Y do curso de engenharia de produção mecânica Como se pode observar na tabela 1, o público pesquisado relatou que conhecer a importância e a aplicabilidade do conteúdo é imprescindível para dar significado ao aprendizado. Essa prática contribui sobremaneira para o processo de ensino e aprendizagem na percepção dos respondentes. Também com respostas expressivas, a realização de atividades complementares e trabalhos fora do horário de aula contribuem de maneira significativa para o aprendizado dos respondentes. Como terceira opção mais relevante surgem as aulas com dinâmicas de grupos e atividades variadas. O perfil da Geração Y que não gosta de receber ordens, mas de ser convencida também está refletido nessa resposta, pois sem a devida significação o aprendizado é para eles como uma obrigação, mas devidamente contextualizado assume uma importância muito maior, motivando-os a experimentá-lo. Ser irriquietos é outra faceta dos indivíduos dessa geração, por isso a movimentação e a atividade que os trabalhos extra-classe geram se torna interessante pois possibilita o movimento, a vida, a ação, elementos valorizados por eles. Constata-se no cotidiano da sala de aula que os indivíduos dessa geração têm extrema dificuldade em se concentrar e ouvir. Nesse sentido as práticas tradicionais, eminentemente orientadas por aulas expositivas e que colocam os alunos numa condição passiva não se tornam atrativas; por isso que aulas dinâmicas, com atividades variadas despertam interesse dessa geração, pois objetivam a realização de atividades interessantes todo o tempo. Nessa perspectiva é determinante que o currículo dos cursos de graduação, especificamente neste caso os cursos de engenharia, sejam construídos considerando as características e o perfil de seus alunos, assim como os avanços tecnológicos e mudanças sociais/laborais. Conforme Castanha e Castro (2010, p.8) “os alunos que diariamente acessam os espaços escolares, estão conectados ao mundo, à vida; querem descobrir, não lhes interessa qual currículo está sendo utilizado.” Assim, os professores gradativamente precisam atentar a esse movimento, adequando seu modelo pedagógico e desafiar os acadêmicos para envolvêlos mais no processo de aprendizagem. A próxima questão abordada na pesquisa tinha por objetivo verificar o perfil dos acadêmicos quanto à forma de aprender, ou seja, identificar quais métodos são considerados pelos acadêmicos como mais eficazes no seu processo de aprendizagem. 6 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Você aprende mais (assinale, no máximo, 3 alternativas): Utilizando os conhecimentos aprendidos em algum caso prático Respondendo questões mais complexas que exijam reflexão Anotando Interagindo durante as aulas dando contribuições Ouvindo Fazendo exercícios mais simples Vendo Estudando em grupos fora do horário de aula Por meio de dinâmicas Lendo Outra maneira Não responderam Total % 20,34% 9,60% 9,60% 9,04% 9,04% 7,34% 7,34% 6,78% 5,08% 4,52% 1,13% 10,17% 100,00% Tabela 2 – Aprendizado Fonte: Dados da pesquisa realizada com acadêmicos da geração Y do curso de engenharia de produção mecânica Os resultados apresentados na tabela 2 corroboram com as respostas da tabela 1 visto que a aplicabilidade dos conhecimentos tem especial importância na internalização do aprendizado para os respondentes. A experiência advinda desse processo também é igualmente importante, pois auxilia no desenvolvimento de habilidades e das atitudes, além dos conhecimentos. Importante também destacar as respostas que contemplam a necessidade de reflexão e de complexidade o que denota a valorização do desafio, coadunando com o perfil da geração Y que precisa ser constantemente desafiada para dar o melhor de si. Conforme Prensky (2004) a geração Y absorve informação melhor e que toma decisões mais rapidamente, são multitarefa e processam informações em paralelo; uma geração que pensa graficamente ao invés de textualmente, assume a conectividade e está acostumada a ver o mundo através das lentes dos jogos e da diversão. Percebe-se, portanto, uma grande diversidade no que tange às formas pelas quais os acadêmicos afirmam aprender mais eficazmente, o que permite concluir que o ambiente educacional é um espaço que apresenta diferentes perfis de estudantes. Essa questão precisa ser levada em consideração pelo professor nos vários momentos da atividade docente, sendo extremamente importante que os métodos de ensino sejam variados e intercalados procurando atender aos mais variados perfis. Nesse sentido, é extremamente relevante que o professor avalie constantemente sua prática buscando mantê-la atualizada de modo a atender as demandas diferenciadas dessa geração para que as expectativas dos acadêmicos sejam alcançadas e o aprendizado de fato aconteça. Ou seja, é preciso que o professor repense os modelos utilizados frente à nova realidade, buscando adaptar-se às mudanças e inserir-se no novo contexto, considerando os avanços tecnológicos e as mudanças geracionais existentes. Buscando identificar o que essa geração espera, em relação aos docentes, foi-lhes questionado qual o perfil de professores com que mais se identificam no sentido de terem sua aprendizagem favorecida. Os resultados são apresentados na Tabela 3. 7 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Quanto ao perfil dos professores: (assinale, no máximo, 2 alternativas) Não importa a idade, o mais importante é o domínio de conhecimento que revelam Gosto daqueles que conseguem disciplinar a turma e estabelecer um bom clima de aprendizagem Prefiro os professores mais experientes Os melhores são os mais informais Me identifico com os que falam nossa língua e são divertidos Me identifico com os professores mais jovens Outro Não responderam Total % 36,44% 22,88% 12,71% 9,32% 8,47% 1,69% 0,85% 7,63% 100,00% Tabela 3 – Perfil dos professores Fonte: Dados da pesquisa realizada com acadêmicos da geração Y do curso de engenharia de produção mecânica Em se tratando de professores, se percebe duas questões muito relevantes: o que realmente interessa é o conteúdo (conhecimento) mas que o relacionamento e a postura precisam ser muito bem trabalhados pois além de dominar conteúdo o professor precisa disciplinar mas manter um clima de parceria, o que requer uma boa dose de experiência, paciência e jogo de cintura. A necessidade do estabelecimento do vínculo é fundamental. O docente precisa conhecer e fazer uso das ferramentas tecnológicas utilizadas pelos alunos. Essa pode ser uma das estratégias de estabelecer esse vínculo. O professor como articulador e mediador do processo de aprendizagem dos alunos precisa dar ênfase ao conhecimento e às estratégias que adota para trabalhá-lo, mas esse processo não pode ser desvinculado das condições e do aparato que permitem maior aproveitamento da turma em relação às propostas pedagógicas, tornando sua aprendizagem significativa e agregadora a sua formação. Ao serem questionados porque estudar é importante, dentre os itens que obtiveram maior ênfase estão a capacitação profissional (15%), as possibilidades para um futuro profissional melhor (12%), expectativas quanto a maior empregabilidade (16%) e principalmente as oportunidades de adquirir conhecimentos e gerar novos aprendizados (57%). Afirmam que no processo de ensino-aprendizagem na universidade obteriam melhor desempenho se tivessem mais tempo para dedicar-se ao estudo. Esse fator é limitado também pelo fato de 90% desses alunos serem alunos trabalhadores, dedicando às atividades acadêmicas somente o período noturno e os finais de semana. Destacam também a necessidade dos professores articularem mais teoria à prática em suas aulas, para que possam visualizar a aplicabilidade dos conteúdos contemplados. Essa perspectiva legitima seu o perfil imediatista e egocêntrico da Geração Y e corrobora a visão de Castanha e Castro (2010, p. 05) quando argumentam que “somente investimentos em tecnologia não são suficientes para trabalhar com essa geração que vive plugada, que é impaciente e imediatista. É urgente que cada professor reflita sobre sua prática e avalie o quanto ela está atualizada para atender as demandas do alunado.” 5. Considerações Finais As mudanças que se apresentam na sociedade atual ditam novo compasso às relações e por consequência trazem novos ritmos para as relações pedagógicas. As gerações que chegam hoje às universidades trazem consigo expectativas, dificuldades e possibilidades com as quais ainda o professor não consegue trabalhar integralmente, justamente por desafiá-lo a ensinar e aprender num paradigma diferente do anterior, ao qual estavam vinculadas suas certezas. 8 XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012. Cabe no entanto à universidade, aos cursos e suas propostas de formação, desenhadas em seus currículos, promover a gestão destas dificuldades e possibilidades, aproveitando-as como oportunidade de revisão e transformação, fazendo de sua experiência um trampolim para superar as resistências muitas vezes instaladas, as quais rendem mais embates que evolução. Os cursos de engenharia representam o ícone das inovações, das tecnologias e do desenvolvimento social, sendo que reside nos seus colegiados muitas das experiências embrionárias para contribuir com melhorias no processo de formação dos engenheiros, de forma a contribuir mais intensivamente para a formação de profissionais mais aptos a intervir em prol do desenvolvimento industrial, tecnológico, econômico e social. Mais do que entender os acadêmicos que acessam aos cursos, é necessário trabalhar em parceria com eles, desenvolver suas competências por meio de estratégias inovadoras e aulas mais dinâmicas. Os dados coletados expressam o valor que estes estudantes depositam no seu processo de formação, enfatizam a importância do vínculo que estabelecem com seus professores, evidenciam seu estilo de aprendizagem e as buscas que empenham em relação ao seu processo de aprender a aprender. Esses alunos também trabalham com certezas provisórias em relação às suas escolhas e formas de organizar-se como estudante e como profissionais. Se revelam impaciência, desinteresse e imediatismo, estão mediados por elementos que os pressionam nessa direção, lhes trazem dilemas e precisam de desafios que os coloquem no movimento de participar mais, intervir, viver intensamente a experiência universitária e lhes instrumentalizar suficientemente para a atuação profissional. Cabe aos professores como pesquisadores da docência buscar meios de articular estas expectativas com as demandas do campo profissional. Diversificar aulas, repensar currículos, desfragmentar matrizes curriculares, investir em projetos integradores, promover trocas interdisciplinares, estreitar a interação universidade-empresa e buscar em conjunto com pares da profissão possibilidades para superar o atual quadro instalado. Os dados fornecidos pela presente pesquisa permitiram identificar características importantes, as quais precisam ser trabalhadas e desdobradas para mobilizar à tomada de decisão e as mudanças necessárias, partilhando esforços e conjugando competências. 6. Referências BOUDON, R. Os métodos em sociologia. São Paulo: Ática, 1989. CASTANHA, Débora; CASTRO, Maria Bernadete de. A necessidade de refletir sobre as necessidades pedagógicas para atender as necessidades da geração Y. Revista de Educação do COGEIME. Ano 19. Nº 36. Jan./Jun. 2010. CRUMPACKER, Martha; CRUMPACKER, Jill M. 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