X Salão de Iniciação Científica PUCRS Justiça Restaurativa: uma forma alternativa de resolver a problemática que envolve os jovens em conflito com a lei. Giovana Palmieri Buonicore, Giovani Agostini Saavedra (orientador) Faculdade de Direito da PUCRS, programa de Pós-Graduação em ciências criminais. Resumo Introdução O presente trabalho é parte integrante de uma pesquisa maior, de natureza interdisciplinar, financiada pela PUCRS e realizada, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais da Faculdade de Direito da Universidade, pelos seguintes grupos de pesquisa registrados no CNPq e certificados pela PUCRS: Violência e Justiça: entre facticidade e validade, cujo líder é o Prof. Dr. Giovani Agostini Saavedra, contando com a colaboração do Prof. Dr. Emil Sobottka, e Avaliação e Intervenção em Saúde Mental, cujo líder é o Prof. Dr. Gabriel José Chittó Gauer. A referida pesquisa tem como objetivo criar uma interlocução acadêmica entre as ciências jurídicas, psicanalíticas e filosóficas de modo a elucidar a complexa problemática do adolescente em conflito com a lei. Lançando-se mão dos conceitos de Donald Winnicott, sobre o substrato ambiental necessário para que os movimentos de maturação próprios do adolescente ocorram de forma saudável, bem como os de Axel Honneth, acerca das esferas de reconhecimento necessárias para formação subjetiva e emancipação do sujeito enquanto individuo, busca-se questionar a legitimidade da forma como as instituições pátrias vêm lidando com o adolescente que entra em conflito com o ordenamento. Diante da problemática que envolve os adolescentes em conflito com a lei cabe se perguntar se formas alternativas à justiça tradicional tais como a justiça restaurativa, seriam eficazes para tratar tal problemática. Justiça restaurativa “é uma aproximação que privilegia toda a forma de ação, individual ou coletiva, visando corrigir as conseqüências vivenciadas por ocasião de uma infração, a resolução de um conflito ou a reconciliação das partes ligadas a este” 1. 1 JACCOUD, Myléne: Princípios, tendências e procedimentos que cercam a Justiça Restaurativa. 2005, p. 169 X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 A título de elucidação de tal conceito cabe dissertar acerca da estrutura da justiça restaurativa, que ocorre por meio de círculos restaurativos se subdividindo em: pré-círculo, como forma de esclarecimento do programa, discorrendo acerca de seus procedimentos; o círculo em si, onde a vítima e o réu conversariam observados por um mediador, o qual ajudaria para a mediação ocorrer da melhor forma possível e por fim o pós-círculo, ocorrendo após a mediação em si, a fim de que seja observado se o entendimento e a reconciliação anteriormente feitos continuam. Enquanto a justiça tradicional se preocupa com a violação da norma, ou seja, uma transgressão penal, a justiça restaurativa valoriza a autonomia dos sujeitos e o diálogo entre eles, criando espaços protegidos para a auto- expressão, uma vez que os protagonistas são cada um dos envolvidos, fazendo com que vitima e réu resolvam suas divergências a fim de restaurar a paz social. Porém a justiça restaurativa se apresenta como forma de completar a justiça tradicional e não substituí-la, ocorrendo de forma totalmente voluntária. O ideal deste programa seria que ele ocorre no início das “más-ações”, possibilitando a reparação dos erros. O objetivo da referente pesquisa é verificar a hipótese de que a justiça restaurativa seria uma solução possível para ser utilizada no que tange jovens em conflito com a lei, principalmente no que toca as primeiras “más ações” no âmbito escolar, uma vez que pode apresentar aos jovens um ambiente propício para a restauração enquanto indivíduo em desenvolvimento, indo ao encontro do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) que apresenta como responsáveis pelas garantias constitucionais dos jovens tanto a família quanto a sociedade. As críticas referentes ao tema escolhido não devem ser ignoradas, devendo ser aprofundadas e estudadas, tais como a privatização do direito penal, a protagonização da vítima, a ofensa a princípios como o da proporcionalidade e da igualdade, se tratando apenas do início de uma pesquisa que visará verificar tais críticas bem como colocar em questão a eficácia da justiça restaurativa no que concernem os jovens. Metodologia O trabalho utilizará como procedimentos revisões bibliográficas acerca da justiça restaurativa bem como sobre os jovens no que toca os aspectos psicológicos, filosóficos e X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009 teóricos, além de debates interdisciplinares sobre o assunto para poder complementar o estudo. Além disso, a pesquisa pretende estudar como a justiça restaurativa vem sendo utilizada no Rio Grande do Sul, no âmbito escolar utilizando como metodologia pesquisa de campo.2 Resultados Os resultados referentes à pesquisa ainda não podem ser comprovados, uma vez que a pesquisa iniciou-se em meados de abril, tratando-se apenas de uma hipótese que visualiza na justiça restaurativa uma possível alternativa para resolver a problemática que envolve os jovens em conflito com a lei. Conclusão A conclusão que pode ser vislumbrada a partir do início da pesquisa, é a de que justiça restaurativa é um tema interessante de vir a ser estudado no que toca a problemática que envolve os jovens em conflito com a lei, uma vez que propícia, ao protagonizar a vítima, o réu e a sociedade, um ambiente favorável para a restauração deste jovem enquanto indivíduo em desenvolvimento, valendo-se de estudos aprofundados para poder verificar a hipótese que enxerga na Justiça Restaurativa uma solução para tal problemática. Porém toda cautela deve ser observada ao se falar em formas alternativas à justiça, se tratando apenas de uma hipótese tendo em vista que a referida pesquisa iniciou - se recentemente. Referências SICA, Leonardo: Justiça Restaurativa e Mediação Penal. O novo modelo de Justiça Criminal e de gestão de Crime. GOMES, Flávio, Luis: Justiça Penal Restaurativa: conciliação, mediação e negociação. AGUINSKY, Beatriz, CAPITÃO, Lúcia: Violência e socioeducação: uma interpelação ética a partir de contribuições da Justiça Restaurativa. LORENZONI, Nelnie: Palestra de sensibilização sobre mediação e justiça restaurativa – novos paradigmas da justiça, 13/10/08. 2 O conceito de campo é utilizado pelo sociólogo Pierre Bourdie como um sistema estruturado de forças objetivas, uma configuração relacional capaz de impor sua lógica a todos os agentes que nela penetre. X Salão de Iniciação Científica – PUCRS, 2009