UERJ CRR FAT Disciplina CIÊNCIA DOS MATERIAIS A. Marinho Jr Tópico 7 D Materiais polifásicos – Transformações eutética e eutetóide Transformação eutética Até aqui, foram discutidas as composições das fases em equilíbrio e não tamanho, forma e distribuição de fases. Como a configuração das fases influi na resistência mecânica, alguns tipos especiais de transformações, que afetam a configuração, devem ser estudadas. O diagrama Ag-Cu visto na figura 07.13 é característico de muitos sistemas binários que exibem uma transformação eutética, onde uma única fase líquida, com 28,1% de cobre e 71,9% de prata, transforma-se, no resfriamento, em um sólido difuso (α + β), a temperatura constante (779º C). Como toda transformação, ocorre a temperatura constante (a temperatura eutética), as duas fases sólidas formadas estão, normalmente, misturadas, em escala microscópica, numa microestrutura característica, chamada de microestrutura eutética. Uma micrografia óptica da microestrutura eutética característica da liga Ag-Cu, obtida pelo resfriamento brusco da fase líquida, é mostrada na figura 07.15 (a). Em contraste, em (b) temos a composição eutética da liga Ag-Cu que foi resfriada sob condições controladas. (a) (b) Figura 07.15 Duas formas da microestrutura eutética do sistema cobre-prata (71,9% de prata), onde a fase escura é β e a clara é α : a) no estado bruto de fusão e (b) resfriada sob condições controladas de solidificação. 1 UERJ CRR FAT Disciplina CIÊNCIA DOS MATERIAIS A. Marinho Jr Transformação eutetóide Uma transformação eutetóide é a transformação no resfriamento de uma monofase sólida, a temperatura constante, em duas novas fases sólidas que se misturam de uma maneira característica. Dessa forma, tudo o que foi dito anteriormente, para uma transformação eutética, aplica-se à transformação eutetóide, exceto que a fase inicial, nesta última, é sólida. A transformação eutetóide ocorre para uma única composição em um dado sistema e a uma única temperatura de equilíbrio. Os métodos para calcular as quantidades e as composições das fases, no eutetóide, são os mesmos para o eutético. O mais importante de todos os sistemas eutetóides é o sistema ferro-carbono, cujo diagrama de equilíbrio está na figura a seguir. As regiões das duas fases “impossíveis” são representadas sombreadas e as fases presentes estão indicadas. A região superior esquerda do diagrama, acima de 1371ºC contem uma transformação peritética (sólida + líquida se transforma durante o resfriamento num sólido diferente), a qual não será mais considerada nessa discussão porque, em muitos casos, transformações posteriores, no resfriamento, anulam qualquer influência do peritético, sobre as prorpiedades mecânicas, a temperatura ambiente. O sistema Fe-C também tem uma transformação eutética para 4,3% de carbono, a 1130ºC. Figura 07.16 Diagrama de equilíbrio ferro-carbono, até 6,7% de carbono. 2 UERJ CRR FAT Disciplina CIÊNCIA DOS MATERIAIS A. Marinho Jr O ferro puro, abaixo de 912ºC é uma estrutura CCC, chamada ferrita (α), que pode reter somente pequenas quantidades de carbono na solução sólida intersticial. Em temperaturas mais elevadas, a estrutura de equilíbrio do carbono intersticial no ferro é uma estrutura CFC, chamada austenita (γ), que pode ter até 2% de carbono em solução sólida (a 1130ºC). O ferro e o carbono podem, também, formar um composto, Fe3C, quando houver suficiente quantidade de carbono. O Fe3C recebe alguns nomes: carbeto de ferro, carbeto e cementita (θ), são os mais comuns. A cementita é ortorrômbica e contem 6,7% de carbono, em peso. A composição eutetóide da liga ferro-carbono é 0,8% de carbono. Quando esta é resfriada lentamente, a 723ºC, a austenita se transforma, a temperatura constante, em ferrita e cementita, os quais crescem simultaneamente durante a transformação na forma de uma estrutura lamelar chamada perlita (porque ela mostra, ao microscópio, alguma semelhança com a madrepérola). A perlita é composta por lamelas alternadas de ferrita e cementita. Micrografias óptica e eletrônica de perlita são mostradas, respectivamente, na figura 07.17 a seguir. Figura 07.17 Micrografias óptica e eletrônica mostrando a perlita em aço com 0,8% de carbono. Revisão 00 março de 2009 3