A PRÁTICA DA LEITURA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA COM FINALIDADE POLÍTICA DA AÇÃO EDUCATIVA PAULO EMÍLIO DE ASSIS SANTANA (FECILCAM). Resumo O presente artigo apresenta a questão da leitura como definição para o sentido da prática pedagógica dos educadores na escola. Aborda o fato de que tal prática constitui–se como elemento fundamental para contribuir com o pensamento crítico dos educandos. Discorre também sobre a importância da prática da leitura por parte dos educadores como forma de promover o processo de emancipação política dos educandos. Pretende, ainda, estimular os professores a aplicar a leitura como finalidade política, pois é necessário aprender a ler para aprender a pensar, criticar e entender a realidade circundante. O autor destaca que a ausência de leitura entre as classes menos favorecidas produz a falta de conhecimento e exclusão social, o que torna a sociedade ainda mais excludente, com indivíduos alienados e incapazes de pensar por si sós. Vale destacar que o presente trabalho tem, portanto, uma intenção política definida, que tem como ponto de partida e de chegada a prática social global entendendo a leitura como instrumento basilar à emancipação política dos educandos. Desta maneira, inicialmente, apresenta–se a importância da leitura na sociedade moderna, com a finalidade de fazer que com que as crianças aprendam a pensar verdadeiramente para aprender a interpretar a realidade social em que vivem. Em seguida, busca–se definir a interpretação da realidade como elemento básico fundante para o desenvolvimento tanto acadêmico quanto político dos estudantes. Ao final, o autor enfatiza que o ato de ler deve ser visto como uma proposta política fundamental para os educadores comprometidos com a transformação da sociedade em virtude de ser também uma estratégia de luta vinculada a pratica pedagógica deles próprios. Palavras-chave: leitura, prática pedagógica, política. Introdução O entendimento do processo de escolarização no atual modelo de sociedade não pode ser devidamente viabilizado sem que os educadores tenham uma concepção correta, em termos políticos, da função da escola. Temos a convicção que esta instituição não deve ser encarada como neutra e distanciada da realidade sócioeconômica e política que hoje a circunda. Assim, o processo de ensinoaprendizagem que se realiza na sala de aula não está dissociado dos aspectos políticos e sociais que fazem parte da concretude que social. A prática pedagógica hodierna tem, portanto, encontrado de forma constante um duplo desafio diante de si que, muitas vezes, tem sido relegado: a educação escolar a partir de um sentido político. É nesse contexto que o exercício da leitura, como estratégia de aprendizagem dos alunos, precisa ser encarado como um passo em direção ao processo de emancipação política da criança seja ela das classes populares ou das classes favorecidas economicamente. Assim, educar para a prática da leitura, além de uma ação pedagógica essencial para a formação intelectual do ser humano, caracteriza-se, também, como uma forma de elevar politicamente os alunos diante da sociedade. Portanto, será nessa direção que o presente artigo caminhará: num primeiro momento vamos procurar estabelecer as conexões necessárias entre o processo de escolarização e o atual modelo de sociedade capitalista, com o objetivo de enfatizarmos que a prática da leitura no processo didático-pedagógico dos professores não está dissociada da realidade macro que determina em muitos sentidos aquilo que acontece na sala de aula; num segundo momento vamos estabelecer a necessidade de o professor como figura exemplar ter profundos vínculos com a leitura, para que ele sirva como uma espécie de gatilho que dispare no seu aluno o gosto essencial pela leitura; num terceiro momento discutiremos a escola como lócus fundamental, apesar de não ser o único, para o desenvolvimento da leitura, o que a transforma em um ambiente central para a apropriação do conhecimento científico acumulado historicamente pelo conjunto da humanidade; em quarto lugar tornaremos evidente o quão importante é que a prática da leitura seja incluída nas práticas curriculares como elemento determinante para o processo de ensino-aprendizagem nos dias contemporâneos. 1. O processo de escolarização e sua relação com a sociedade capitalista Não faz parte dos interesses do presente artigo esgotar o tópico acima, entretanto, sabemos que o desenvolvimento da temática que o orienta não será plenamente efetivado sem nos determos, por pouco que seja, no entendimento das relações políticas entre escola e sociedade. É basilar que os professores saibam estabelecer as profundas relações entre escola e sociedade antes de prepararem as suas aulas e de as ministrarem para os seus alunos. Sem essa compreensão seus conteúdos serão vazios de uma formação mais ampla e emancipatória dos seus alunos. Quando nos propomos a participar da educação escolar das próximas gerações uma verdade concreta deve estar presente em nossas mentes: a escola não é uma instituição neutra, uniforme e harmônica. Conforme Rodrigues, "é mesmo indispensável que os educadores e o público em geral percam a ingenuidade de encarar a escola como uma instituição inocente, pairando acima do bem e do mal" (RODRIGUES, 1986: 67). Na concepção desse autor a instituição escolar está permeada de conflitos que se cruzam por meio das dimensões intelectual, ética e profissional, fazendo dela um campo de ação política, onde vários interesses de classe lutam pelo poder hegemônico dela. O entendimento das relações entre processo de escolarização e sociedade não será plenamente compreendido sem a questão histórica relacionada ao déficit educacional presente na atual sociedade. O processo de construção de um modelo de escolarização dualizado encontra sua raiz na história do Brasil a partir da reorganização educacional promovida por Gustavo Capanema em 1942. A institucionalização do ensino industrial em paralelo com o ensino secundário e comercial criou aquilo que os historiadores da educação brasileira costumam chamar de dualismo educacional (GHIRALDELLI JR., 1990). Essa forma de organização do processo educativo característica do Estado Novo, segundo o Saviani (Saviani, 2007): "Tinha caráter centralista, fortemente burocratizado; dualista, separando o ensino secundário, destinado às classes condutoras, do ensino profissional, destinado ao povo conduzido e concedendo apenas ao ramo secundário a prerrogativa de acesso a qualquer carreira de nível superior; corporativista, pois vinculava estreitamente cada ramo ou tipo de ensino às profissões e ofícios requeridos pela organização social "(SAVIANI, 2007, p. 269) Essa estratégia governamental produziu uma defasagem formativa e educacional das classes desfavorecidas, gerando ,igualmente, a defasagem quanto à leitura para os grupos sociais distanciados do poder econômico. A escola que se caracterizou vinculada á estrutura produtiva do capitalismo recente que começava a se instalar no Brasil, na década de 1930, tinha um caráter essencialmente profissionalizante e necessário às classes desfavorecidas. Enquanto que, por outro lado, a escola propedêutica preparada e estimulada pelo Estado às classes favorecidas elevaria tais classes a outros níveis de educação. Assim se constituiu a raiz do dualismo educacional tão característico à formação social brasileira, aspecto que se mantém até os dias atuais como marca das relações entre educação e sociedade. A leitura propedêutica, portanto, nesse contexto, se realizou, pelo menos de maneira, propositiva, como um privilégio, para as crianças das camadas favorecidas da sociedade, deixando para a grande maioria dos filhos das classes trabalhadoras a possibilidade do aprendizado da leitura básica necessária à ascensão social pela via do trabalho profissionalizante. Os aspectos educativos e formativos que se processam no ambiente escolar, como a prática da leitura, devem possibilitar a democratização do saber científico a todas as crianças, colocando em suas mãos as ferramentas culturais necessárias ao seu processo emancipatório. Nessa perspectiva, a prática leitura se insere como fundamento imprescindível para a luta social que visa a transformação das estruturas sociais impostas aos alunos das classes menos favorecidas. A leitura como elemento essencial das práticas curriculares de todas as disciplinas básicas do processo educativo de escolarização possibilitará a apropriação científica de um saber essencial para a atuação dos educandos no ambiente do qual fazem parte. Nesse contexto a escola deve ser percebida pelos educadores como a instância de efetivação específica da ação pedagógica (OLIVEIRA, 1987). Não enxergar esta perspectiva da ação docente é trabalhar dentro da escola apenas na ótica do otimismo pedagógico e, portanto, sem uma concepção política da prática educativa. O domínio da leitura por parte das crianças, especificamente daquelas vinculadas às camadas sociais menos favorecidas, deve ser considerado por parte dos professores como elemento central do saber escolar sistematizado, para que o mesmo seja utilizado na prática social na qual elas estão inseridas. 2. A prática pedagógica da leitura dos professores como ponto de partida para a leitura dos alunos Certamente, não precisaríamos enfatizar a preponderância da figura do professor para a formação intelectual dos seus alunos. A sua postura enquanto docente deve ser o grande diferencial para gestar em seus alunos o desejo pelo saber sistematizado no decorrer do processo de escolarização. A contribuição que cada professor deve e pode dar no sentido de ampliar o gosto pela leitura nos alunos é de suma importância. Entendemos como fundamental que os professores tornemse leitores profícuos para então compartilhar com seus alunos os segredos e frutos que os mesmos podem alcançar por meio da leitura. Talvez, alguns professores não tenham tido oportunidades de se tornar leitores na sua fase de escolarização ou profissionalização. Outros fatores relacionados à contemporaneidade, como, condições salariais ou de trabalho, falta de infraestrutura, pouco ou nenhum tempo para ler enquanto correm atrás das condições materiais para a sua subsistência, contribuem negativamente para a má formação do professor-leitor. Na medida em que os professores vinculam os conhecimentos específicos de suas disciplinas com as finalidades sociais e políticas mais amplas, as contribuições que eles podem dar ao desenvolvimento pleno das capacidades dos seus alunos são de certa forma, imprevisíveis e produtivas. Tais contribuições devem se utilizar da leitura oral por parte dos professores de textos científicos e estratégicos que vinculem os conteúdos formais aos conteúdos políticos e sociais presentes na prática social global dos educandos. Quando uma criança não encontra utilidade na leitura, o professor deve fornecerlhe outros exemplos e possibilidades de leituras. Quando uma criança não se interessa pela leitura, é o professor quem deve criar situações mais envolventes, já que muitas vezes o problema vem de dentro de casa, onde a criança não encontra nos pais exemplos de leitores. Assim, "o próprio interesse e envolvimento do professor com a leitura servem como modelo indispensável: ninguém ensina bem uma criança a ler bem se não se interessa pela leitura" (BARBOSA, 1994: 138). A leitura como elemento central da prática pedagógica tem a finalidade de fazer com que a criança aprenda a pensar verdadeiramente para aprender a interpretar a realidade social em que vive. Ler diariamente para os alunos é uma atividade imprescindível para criar-se o hábito de leitura. A leitura só despertará interesse quando interagir com o leitor, quando fizer sentido e trouxer conceitos que se articule com as informações que já se tem e esta é uma das tarefas primordiais que o professor tem ao preparar suas aulas. É acima de tudo, uma estratégia metodológica com uma política dos educadores que queiram ir para além dos métodos pedagógicos motivacionais. Ao comentar a importância que a leitura tem para promover nos ouvintes reações responsivas de caráter ativo e produtivo Bakhtin (Bakhtin, 2000) afirma: "De fato, o ouvinte que recebe e compreende a significação (lingüística) de um discurso adota simultaneamente, para com esse discurso, uma atitude responsiva ativa, (conquanto o grau dessa atividade seja muito variável); toda compreensão é prenhe de resposta e, de uma forma ou de outra, forçosamente a produz: o ouvinte torna-se locutor". (BAKHTIN, 2000, p. 290) A formação ou educação de professores deve ser percebida como parte de um projeto político fundamental para que todos possam repensar sua própria inserção hoje na escola e na sociedade em que se produz e se reproduz as relações de poder. Portanto, através dessas considerações pode-se entender o pensamento de Giroux que vê os educadores como além de professores de sala de aula e mais como intelectuais críticos. É neste sentido que Giroux (Giroux, 1997) cita Jerome Bruner ao afirmar que: Uma teoria de ensino é uma teoria política no sentido de que é proveniente de um consenso em relação à distribuição de poder dentro da sociedade - quem será educado e para cumprir que papéis? Exatamente no mesmo sentido, a teoria pedagógica deve certamente originar-se de uma concepção de economia, pois onde existe uma divisão do trabalho dentro da sociedade e uma troca de bens e serviços por riqueza e prestígio, a forma como as pessoas são educadas, em que número e com que limitações no uso de recursos são todas relevantes. O psicólogo ou educador que formula uma teoria pedagógica sem considerar o ambiente político, econômico e social do processo educacional corteja a trivialidade e merece ser ignorado na comunidade e na sala de aula. (p. 63). A prática pedagógica da leitura que não estimula a reflexão, a compreensão, tornando passiva a atividade com o texto e que não provoca o aluno com atividades instigantes, deixando de formar nestes uma atitude responsável e ativa, faz do ambiente escolar um lugar de neutralidade e descolado das questões políticas, sociais e econômicas necessárias ao processo formativo dos educandos. É nessa perspectiva que podemos relacionar as palavras de Giroux (Giroux, 1997) sobre a ação dos professores no ambiente escolar. "Um ponto de partida para interrogar-se a função social dos professores enquanto intelectuais é ver as escolas como locais econômicos, culturais e sociais que estão inextricavelmente atrelados às questões de poder e controle. Isto significa que as escolas fazem mais do que repassar de maneira objetiva um conjunto comum de valores e conhecimento. Pelo contrário, as escolas são lugares que representam formas de conhecimento, práticas de linguagem, relações e valores sociais que são seleções e exclusões particulares da cultura mais ampla. Como tal as escolas servem para introduzir e legitimar formas particulares de vida social. Mais do que instituições objetivas, separadas da dinâmica da política e do poder, as escolas são, de fato, esferas controversas que incorporam e expressam uma disputa acerca de que formas de autoridade, tipos de conhecimento, formas de regulação moral e versões do passado e futuro devem ser legitimadas e transmitidas aos estudantes". (GIROUX, 1997, p. 162) A idéia que defendemos no presente artigo é que os professores devem se autoperceber como intelectuais, que, pelo seu trabalho, atuam na transformação das consciências dos seus alunos e em direção as mudanças estruturais mais profundas da sociedade a que pertencem. O trabalho intelectual da leitura com os seus alunos pode fazer com que os professores tragam, por meio do texto lido e interpretado, novos caminhos ainda não percebidos para questões desiguais tão prementes no contexto da prática social global. Esta, certamente, pode ser uma das direções mais corretas para a ação prática e transformadora da ação docente em sala de aula. Conforme Ribeiro (Ribeiro, 1984): "Essa finalidade para vir a ser concretizada exige, como já foi visto, o conhecimento sobre essa realidade; exige ainda que esse conhecimento e essa finalidade venham a ser domínio do conjunto de pessoas que com suas ações efetivas transformarão a realidade objetiva. É necessário, pois o trabalho pedagógico, trabalho este que tem, portanto, o seu lado intelectual (teórico) de transformação de consciências". (p. 51, parênteses do autor). 3. A Importância da escola como local específico de aprendizado da leitura Defender a escola como lugar de excelência do processo formativo e emancipatório das crianças e, especificamente, das crianças pertencentes às camadas populares é fundamental para a luta política mais ampla. Portanto, não devemos perder de vista, enquanto professores, que apesar de a escola pública encontrar-se degradada e, em muitos sentidos, sucateada, ela ainda se constitui num local de crescimento para aqueles que não têm as condições materiais básicas de vida e, portanto, alienados das grandes questões sociais, econômicas, políticas e culturais. Ao fazer uma análise histórica sobre o surgimento da escola, Saviani (2008) vincula tal surgimento com o interesse burguês de superar o antigo regime feudal que aliava os anseios políticos e econômicos da nobreza e da Igreja Católica para manter na ignorância grande parte da população pobre da Europa medieval. Assim baseado nas conquistas políticas da Revolução Francesa, a burguesia propõe a universalização do ensino para retirar os indivíduos da condição inferior de súditos e transformá-los em cidadãos esclarecidos. Afirma Saviani (2006): "Para superar a situação de opressão, própria do "Antigo Regime", e ascender a um tipo de sociedade fundada no contrato social celebrado "livremente" entre os indivíduos, era necessário vencer a barreira da ignorância. Só assim seria possível transformar os súditos em cidadãos, isto é, em indivíduos livres porque esclarecidos, ilustrados". (SAVIANI, 2006, p. 6) Diante disso, surge, a escola "redimindo os homens de seu duplo pecado histórico: a ignorância, miséria moral, e a opressão, miséria política". (Zanotti, apud, Saviani, 2008: 6). A escola, então, seria a cura para essa enfermidade: "A escola surge como um antídoto à ignorância, logo, um instrumento para equacionar o problema da marginalidade.". (Saviani, 2008: 6). A escola, portanto, se constitui nas condições materiais estabelecidos pela cultura moderna como um daqueles instrumentos que possibilitam a apreensão e o exercício mais consciente das decisões e ações do indivíduo na sociedade. Assim, os processos de promoção da aquisição sistemática daqueles conhecimentos necessários ao homem se dão no ambiente escolar. A escola tem, dessa forma, a função de transmitir às novas gerações tais conhecimentos. Ela deve organizar-se de modo a garantir, desde muito cedo, para todos o acesso processual a eles. Ao analisar a especificidade da função escolar, Klein (Klein, 2000) afirma: "Cabe á escola, enquanto instância organizada pela sociedade como especificamente destinada à transmissão do conhecimento científico, responder à essa necessidade. E é fundamental que essa aquisição se realize na idade mais tenra, para que os cidadãos possam usufruir o mais cedo possível das possibilidades que lhes são oferecidas pelo domínio do conhecimento mais amplo". (KLEIN, 2000, p. 17). A educação escolar, portanto, não pode de maneira nenhuma ser relegada a um segundo plano na vida formativa das crianças em idade escolar. Ela deve, pelo contrário, ser considerada como elemento basilar para a compreensão crítica dos aspectos envolvidos e exigidos pela sociedade contemporânea. A prática educativa escolar deve ser concebida, nesse viés como uma atividade mediadora, ou seja, "como um momento mais ou menos longo da vida do indivíduo (seus anos de escolarização) pelo qual passa, a fim de adquirir as ferramentas culturais para sua atuação nomeio social em que vai atuar" (OLIVEIRA, 1987: 7). A leitura, portanto, nesse contexto cumpre uma função política determinante para a prática pedagógica. Na medida em que ela se transforma em uma das estratégias prioritárias dos professores em sala de aula, contribuirá de maneira específica para a ampliação dos horizontes educacionais da própria escola. Os conteúdos assimilados por meio das estratégias de leitura têm a capacidade de dar aos educandos as condições teóricas de compreenderem as situações concretas vivenciadas por eles em sua prática social global. Mais do que mera ‘passagem' ou ‘ponte', o processo de escolarização, tendo a leitura como uma de suas estratégias mais contundentes, terá as condições materiais de influenciar a formação da consciência crítica em relação ao mundo do qual o educado faz parte. É nessa perspectiva que compreendemos Freire (Freire, 1997) ao afirmar que: A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (p. 11). 4. A Inclusão da leitura nas práticas curriculares O conceito de proposta curricular é um construto histórico que reflete as transformações decorrentes da organização econômica, política e legal de uma sociedade em um determinado momento. Ela implica que sua elaboração e prática sejam concretizadas em processos educativos que correspondam às finalidades socioeducativas derivadas da realidade social e do desenvolvimento científicotécnológico. (BRASIL, 1999: 19). Sendo assim, a leitura, como uma finalidade socioeducativa, deveria ser inclusa e praticada nas escolas ou centros educacionais, como meio de favorecer o pensamento crítico e despertar melhoria da civilidade nos educandos. Para facilitar a inclusão da leitura na prática curricular dos educadores, faz-se necessário analisar e definir claramente a ação educativa, percebendo-a como uma ação social, estabelecendo uma proposta curricular que considere as relações escola-comunidade e o retrato cultural, produzindo, assim, uma prática educativa articuladora da teoria com a prática, tendo o educando como sujeito do processo de aprendizagem. A inserção da leitura no processo de desenvolvimento dos educandos como cidadãos, demanda ações educativas considerando que a escolarização constitui instrumento indispensável à construção da sociedade democrática. Nessa direção, a inclusão da leitura nas práticas curriculares deve acontecer, contemplando fatores que impliquem em transformações sociais, qualificando educandos à cidadãos conscientes de seus deveres e direitos, atendendo as expectativas de cada um, tanto quanto aos anseios e carências destes. Compete, então, aos sistemas de ensino, partindo da análise realizada sobre a inclusão da leitura nas práticas curriculares, a elaboração de propostas pedagógicas concretas, fazendo romper, assim, com os limites das práticas convencionais. Considerações Finais O sentido da prática pedagógica dos educadores em sala de aula tem como elemento fundamental contribuir com o pensamento crítico dos educandos e estimular a importância da prática da leitura por parte dos educadores como forma de promover o processo de emancipação política dos educandos. Procuramos discutir no presente artigo a leitura como prática social na vida de crianças, sendo esta efetivada por meio de professores que além de educadores, são essencialmente intelectuais comprometidos com a transformação política. Então, o ato de ler deve ser visto como uma proposta política fundamental para os educadores comprometidos com a transformação da sociedade em virtude de ser também uma estratégia de luta vinculada a prática pedagógica deles próprios. Por isto, fica claro que para situar a criança e a leitura na dimensão da busca de novos caminhos de aprendizagem, o educador deve servir de exemplo, e fazer da sua própria prática individual um modelo pedagógico para os seus alunos. Analisamos que esta é uma das tarefas mais difíceis de todo o processo, já que exige dos educadores uma prática que muitos não têm ou não podem ter em razão das críticas exigências impostas pela luta pela sobrevivência. Fazer da leitura uma ação prática exige tempo e postura formativa, algo que muitas vezes não faz parte do caráter formativo na graduação dos futuros professores. Consideramos, portanto, como elemento político e transformador a leitura em sala de aula dos professores com os alunos e dos alunos entre eles mesmos. Deixamos para futuros estudos a necessidade de aprofundar as idéias deste artigo dando atenção mais estrita a um dos aspectos que julgamos de extrema necessidade para a continuidade do presente trabalho, que é o valor da interpretação textual para a emancipação política dos alunos. Por motivos de espaço não podemos nos deter aqui no detalhamento dessa questão, ficando aberta a mesma para futuros estudos. REFERÊNCIAS BAKHTIN, Mikhail. Fontes, 2000. Estética da criação verbal. 3 ed. São Paulo: Martins BARBOSA, José Juvêncio. Alfabetização e leitura, 2 ed. São Paulo: Cortez, 1994. BENJAMIN, Walter. Origem do drama barroco alemão. São Paulo, Brasiliense, 1984. BRASIL. Ministério da Educação e Desporto. Educação de jovens e adultos. Secretaria da Educação a Distância. Salto Para o Futuro. Brasília, 1999. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler, 33 ed. São Paulo: Cortez, 1997. GIROUX, Henry A. Os Professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia crítica da aprendizagem. 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