2 ção ivulga Fotos: D 1 3 Dentre os produtos mais recentes e dos quais Fernando Jaeger gosta muito estão a Cadeira Deliciosa (1), inspirada na planta costela-de-adão, uma folhagem de desenho peculiar da Mata Atlântica, a Mesa Saturno Oval (2), na qual a base lembra os anéis do planeta que deu nome à peça, e a Poltrona e Puff Theo (3), premiada no Planeta Casa 2008 Divulgação o Decore E a questão do preço justo? Jaeger É muito gratificante. O melhor feedback é ver que muitas pessoas têm meus móveis em casa, além de muitos restaurantes e empresas. Eu sou uma parte do processo, da cadeia. Por um lado tenho clientes de classe média, que têm acesso ao meu produto porque ele é viável. Por outro lado, tenho fornecedores e parceiros: essa coisa de fazer poucas Divulgaçã Decore E você iniciou sua trajetória profissional desenhando para a indústria moveleira com o objetivo, que mantém até hoje, de desenvolver produtos contemporâneos e funcionais, produzidos em escala industrial e, por consequência, a preços mais justos. Como e por que adotou este diferencial? Jaeger A vivência dentro de uma fábrica, de acompanhar as necessidades – não só projetei a linha de móveis, mas também ajudei a formatar o layout da indústria, além de uma série de procedimentos – foi muito importante para entender o processo produtivo: quais as necessidades e, principalmente, as condicionantes que você tem de trabalhar. E na faculdade também tive uma visão: de que o designer tem que ter uma função social e não elitista. Na época era absolutamente elitista: peças assinadas custando muito caro. Tem muito mobiliário que está no limite das artes plásticas. Eu sou (seguidor) da escola Bauhaus: (que valorizava) a forma e a função do design. Você procura conhecer o material que trabalha, fazer uma peça que saia do lugar comum e que cumpra bem a função dela. Se é uma cadeira, a ergonomia tem que estar perfeita, tem que ser resistente e confortável. Pode ser usada em uma casa, em um restaurante. Não é uma cadeira para ficar no canto como uma peça ‘escultória’ e se você sentar ela é desconfortável. Não desmereço quem faz isso, mas a minha praia não é essa. Exportado para os Estados Unidos, o Banco Bienal aparece em uma cena do filme “Marley e Eu” peças, quase que exclusivas, não movimenta uma fábrica. Decore De maneira geral, quais as principais tendências no mercado de móveis mundial? Jaeger A palavra tendência é meio capciosa. Não gosto de mirar muito em cima disso, porque para mim isso cheira a modismo. Claro que existem ideias que prevalecem, dão a volta, somem e com o tempo voltam. Isso é inegável. Mas eu critico porque é uma certa passividade você ter que olhar algo lá fora para seguir. Claro que a gente tem acesso às informações, mas é preciso digerir esta informação e transformá-la. Afinal, somos brasileiros, estamos no Brasil. Finalmente, temos um mercado. E todo mundo lá fora está olhando pra gente. Saímos da marginalidade mundial. No mercado global, somos um dos objetivos dos países que precisam exportar. Isso é complicado no mercado de móveis brasileiro, porque o pessoal é muito passivo: ou vão copiar ou, se tiver condições, vão contratar estrangeiros. É bom as indústrias começarem a abrir os olhos. Porque se você mostra trabalhos de designers brasileiros lá fora, nos Estados Unidos e Canadá, por exemplo, eles são muito valorizados. Mas as indústrias brasileiras não dão valor. Decore Qual o seu objetivo ao desenhar um móvel? Você pensa A cadeira Ox ganhou o Prêmio Movesp/Ibama em 1992, eleita o melhor produto com madeiras alternativas no consumidor, no que ele vai pensar? Jaeger Muitas vezes um produto não surge do nada, mas de uma necessidade. Claro que, a partir disso, entra o designer em ação: a cabeça já pensa no produto, quais os fornecedores e mais ou menos quanto ele vai custar. E claro, às vezes estou vendo uma obra de arte, um prédio arquitetônico, e surge uma ideia. Uma revista, um livro. Às vezes vejo uma coisa que não tem nada a ver e penso outra coisa. Ideias que ficam, que eu registro e depois vou retrabalhando. Decore Quais evoluções você percebe nas suas peças, desde o começo até hoje? Há um amadurecimento, não só nos produtos, mas seu como profissional? Jaeger Diria que até olho para os projetos mais antigos e continuo gostando deles. Penso: “até que mandava bem”. O que melhorou, na verdade, foi a qualidade, o aprimoramento. Consigo fazer produtos mais complexos hoje. No início não tinha acesso à tecnologia. Não se compara ao que a gente vê lá fora, mas ajuda a melhorar a qualidade. Entretanto, design não é só tecnologia: é criatividade, é o poder da ideia. Assim, o fato de ter poucas condições e pouca tecnologia exige que a gente seja mais criativo. JANEIRO/FEVEREIRO 2012 MÓBILE DECORE 21