A Segurança em Unidades de Saúde: o contributo da APASD Manuel Cardoso de Oliveira Professor Catedrático Escola de Estudos Pós-Graduados e de Investigação – UFP [email protected] Carla Sousa Coordenadora das Bibliotecas – UFP [email protected] Neste início de século o Controlo e a Melhoria da Segurança em Unidades de Saúde tem vindo a merecer crescente atenção, estando estabelecido que necessitamos de uma nova organização. À semelhança do que vai acontecendo em países mais desenvolvidos, a contribuição de grupos multidisciplinares que dediquem à caracterização e à modernização das realidades nacionais interesse específico vai contribuir para que doentes e instituições de Saúde se movimentem mais expeditamente neste campo. A necessidade de pensar diferente num ambiente tão volátil e complexo como o da Saúde torna ainda mais importantes todos os esforços que conduzam à criação dos tais grupos multidisciplinares. Para que se possa avançar com iniciativas consistentes na área da Segurança necessitamos de ultrapassar problemas de taxonomia e de colmatar a falta de um processo sistemático de colheita e análise de dados. Outras grandes questões passam pela planificação de estratégias de desenvolvimento e de investigação, além de um domínio perfeito das metodologias usadas. A Segurança não reside numa pessoa, num equipamento ou num departamento, antes depende do modo como emerge das interacções entre os componentes do sistema. Estando relacionada com a qualidade dos cuidados, os dois conceitos não são sinónimos, considerando-se a Segurança subsidiária da Qualidade Clínica. A Associação Para A Segurança dos Doentes (APASD) nasce da evolução convergente com o Imperativo da Qualidade Clínica e áreas relacionadas, e espera-se que possa dar contributos muito positivos. Englobando profissionais dos mais variados sectores e sendo uma área da Segurança na Saúde especialmente vocacionada para a investigação, deseja-se que os profissionais desenvolvam planos de investigação nos seus locais de trabalho, familiarizando-se com as ferramentas necessárias para uma abordagem científica destes problemas. Construir uma cultura de segurança é um enorme desafio e, como tal, exige que se criem estruturas e capacidade organizativa adequadas, para o que é necessário uma grande determinação. Espera-se, assim, contribuir para que os Hospitais e outras Unidades de Saúde sejam lugares mais seguros e menos frustrantes para os doentes, lugares onde se possa trabalhar com mais gosto e eficiência e ainda que os recursos humanos e materiais neles investidos possam ser um investimento com retorno. A APASD foi constituída em 22 de Março de 2010 por iniciativa de um grupo de vários profissionais ligados à Saúde, na sequência de uma colaboração multidisciplinar em acções de formação nestes últimos anos. É uma Associação de utilidade social sem fins lucrativos com sede na Universidade Fernando Pessoa. Oportunamente serão criados meios de comunicação de modo a facilitar um contacto interactivo alargado entre os interessados. Missão da APASD A Associação Para A Segurança dos Doentes (APASD), ciente da complexidade dos processos na saúde e da dificuldade inerente à identificação dos problemas que lhe estão associados, propõe-se contribuir activamente para a melhoria contínua da segurança do doente na prestação de cuidados de saúde, visando deste modo a promoção de uma cultura de segurança apta a garantir cuidados clínicos de excelência alinhados com as melhores práticas internacionais, que permitam fazer de Portugal uma referência neste domínio. Linhas de actuação A APASD irá intervir a diferentes níveis, tendo em vista o cumprimento da sua missão. 1. Formação dos doentes e profissionais de saúde, centrando-se os conteúdos formativos na reorganização dos processos e da estrutura. A indução de uma cultura de segurança envolve a focalização nas condições em que os incidentes ocorrem, sensibilização e divulgação de ferramentas e processos passíveis de minimizar os danos e disseminar a aprendizagem, estabelecimento de mecanismos de alerta dos profissionais e doentes para os meios necessários que lhes permitam claramente identificar as situações ou procedimentos que possam determinar a ocorrência de um resultado indesejável ou inesperado durante uma estadia numa instituição de saúde. 2. Informação e sensibilização dirigida a todos os doentes e profissionais de saúde, desenvolvendo projectos em áreas consideradas prioritárias, como a medicação, a cirurgia, o internamento hospitalar e a alta. Estamos convictos de que, na medida em que os conceitos subjacentes à segurança do doente amadureçam e se instale um clima de mudança cultural face ao tema, será possível desenvolver uma ampla e coesa estratégia de segurança ao nível das instituições de saúde. Os avanços na tecnologia médica têm-se traduzido em claros benefícios clínicos, comportando no entanto um maior potencial de dano na esfera do doente. Por outro lado, a complexidade dos processos clínicos aumentou, diminuindo paralelamente a margem de erro admissível. Assim, a implementação de processos de melhoria contínua da segurança do doente, consequentes e auto-sustentáveis, constitui pelo seu carácter sistémico uma tarefa delicada e complexa. Face à variedade e complexidade dos mecanismos condicionantes da prática clínica, afigura-se essencial o surgimento de novas estruturas organizativas, dinâmicas e multidisciplinares, envolvendo doentes e profissionais, comprometidos uns e outros na implementação e sustentabilidade de uma cultura de segurança. Na abertura da sessão de apresentação realizada a 19 de Novembro de 2010, o Professor Cardoso de Oliveira, como Presidente da Direcção, introduziu a nova Associação e teceu comentários sobre a sua pertinência e alcance social, tendo destacado a receptividade e visão da Reitoria da UFP e agradecido o apoio da empresa Portoconta. O Senhor Reitor, Professor Salvato Trigo, destacou a importância desta iniciativa na linha de outras que a UFP tem assumido e prometeu todo o apoio necessário para que a APASD possa atingir os objectivos para que foi criada. O Professor Daniel Serrão proferiu com o brilho habitual a alocução inaugural subordinada ao título “Acto Médico: Confiança numa Competência”. Ao longo desta sessão alguns projectos foram apresentados, entre os quais o Centro de Informação e Referência (CIR). De forma sucinta, a missão do CIR é promover o acesso, a disseminação, a produção e a utilização da informação como apoio à prestação de serviços ao doente, actuando como centro de informação e referência na área da segurança do doente. A cerimónia contou ainda com a intervenção de doentes, profissionais e altas autoridades de diversos sectores da saúde, tendo sido encerrada pelo Senhor Secretário de Estado da Saúde, Professor Manuel Pizarro, que teceu os maiores elogios às iniciativas que a UFP tem assumido nos sectores em questão. Revista UFP 2011;12:30-33