Uma Introdução ao Estudo de Sistemas Dinâmicos Discretos Pryscilla dos Santos Ferreira Silva1 Resumo Ao estudar fenômenos naturais, nem sempre é necessário trabalhar com continuidade. Podemos lidar com situações cujo interesse consiste em analisar um sistema a cada hora, a cada mês. A composição de funções, base dos Sistemas Dinâmicos Discretos, permite a obtenção de modelos que descrevem bem este tipo de sistema. O termo “Discreto”, retrata com eficiência o que se estuda nesta teoria, já que ela auxilia bastante na descrição dos fenômenos mencionados anteriormente. Neste artigo, apresentamos a parte inicial da teoria dos Sistemas Dinâmicos Discretos, fornecendo a definição de iteração de funções, órbita, dentre outros temas fundamentais para o estudo da mesma. Palavras-chave: Sistemas Dinâmicos Discretos, composição, funções, órbita. Introdução O objetivo deste artigo é fornecer algumas técnicas básicas da teoria dos Sistemas Dinâmicos Discretos em uma dimensão. Para isso, apresentaremos definições com a de conjunto estáveis e instáveis, pontos fixos e periódicos, bem como exemplos, proposições e teoremas. 1 Curso de Licenciatura em Matemática. Universidade Estadual de Feira de Santana. E-mail: [email protected] Trabalho realizado a partir dos estudos desenvolvidos nas disciplinas Orientação à Pesquisa I, II e Projeto I, II sob orientação dos professores Cristhian Bugs e Fabı́ola Pedreira. 1 1 Sistemas Dinâmicos Discretos A função f : R → R dada por f (b) = 2b é uma regra que especifica para cada número b um número duas vezes maior. Este é um modelo matemático simples. Nós podemos imaginar que b representa a população de bactérias em um laboratório de cultura e que f (b) representa a população uma hora depois. Então a regra expressa o fato de que a população dobra a cada hora. Se a cultura tem uma população de 10.000 bactérias, então depois de uma hora existirão f (10.000) = 20.000 bactérias, depois de duas horas existirão f (f (10.000)) = 40.000 bactérias, e assim por diante, note que a população de uma hora depois está diretamente relacionada à população de uma hora antes [1]. Tal situação se encaixa perfeitamente nas caracterı́sticas de um Sistema Dinâmico Discreto. Um Sistema Dinâmico Discreto consiste de um conjunto de estados possı́veis, juntamente com uma regra que determina o estado presente em termos do estado passado, cujo o estado só muda durante os instantes {t0 , t1 , t2 , ...}, ou seja, o sistema faz exame do estado atual com a entrada e atualiza a situação produzindo um estado novo com a saı́da. Da origem do sistema, teremos em vista todas as informações necessárias assim que a regra for aplicada [10]. Fazendo uma comparação da definição anterior com o exemplo das bactérias, podemos notar que: • O objetivo do exemplo é analisar a população de bactérias (um conjunto de estados possı́veis). • A regra utilizada é determinada pela função f (b) = 2b. Além disso para saber qual a população após duas horas foi suficiente a composição f (f (10.000)) = 40.000, ou seja o seu estado atual (40.000) é determinado pelo seu estado inicial (10.000). Logo 2 a regra determina o estado presente em termos do estado passado. • Note que o estado do sistema só muda para os valores {b0 = 10.000, b1 = 20.000, b2 = 40.000, b3 = 80.000, ...}, em que b0 é a população inicial, b1 é a população após uma hora, b2 a população após duas horas e assim por diante. Assim entre os bi , com i = 0, 1, 2, 3, ... , o sistema permanece constante. Deste modo o sistema faz exame do estado atual com a entrada e atualiza a situação produzindo um estado novo com a saı́da. 2 Iteração Para compreender Sistemas Dinâmicos Discretos é necessário ter em mente o conceito de iteração. Iterar significa repetir, em Matemática essa “repetição”consiste em compor uma função com ela mesma várias vezes: f ◦ ... ◦ f ◦ f . Utilizando o nosso primeiro exemplo temos que: • Para a primeira hora teremos uma população b; • Para uma hora depois teremos o dobro da população, ou seja, f (b) = 2b; • Para duas horas depois teremos f (f (b)) = f 2 (b) = 2.2b = 22 b = 4b, e assim sucessivamente para n horas depois teremos f n (b) = 2n .b. Tomando um ponto x0 ∈ R, para facilitar a leitura de uma iteração denotaremos f (x0 ) = x1 , f (x1 ) = x2 , ..., f (xn−1 ) = xn . Assim (f ◦ ... ◦ f )(x0 ) = xn , de forma que estaremos aplicando x0 na composição de f com ela mesma n vezes. Do mesmo modo escrevemos: f 2 (x) = (f ◦ f )(x), 3 f 3 (x) = (f ◦ f ◦ f )(x) ou f 3 (x) = (f ◦ f 2 )(x), generalizando, f n (x) = (f ◦ f n−1 )(x) para n ≥ 1. Nós também escrevemos f 0 (x) para a identidade f 0 (x) = x. Afim de esclarecer o que foi dito, observe os exemplos abaixo, considerando que as funções utilizadas são definidas de R em R . Exemplo 2.1 Se f (x) = x.(1 − x), então f 2 (x) = (f ◦ f )(x) = f (x.(1 − x)) = x.(1 − x).[1 − (x.(1 − x))]. Exemplo 2.2 Dada j(x) = x3 , as composições se comportam da seguinte forma: j 2 (x) = (j ◦ j)(x) = (x3 )3 = x9 , j 3 (x) = (j ◦ j ◦ j)(x) = ((x3 )3 )3 = x27 . Ver mais exemplos. Robinson (1995), nos leva a perceber que sendo f uma função de caráter razoavelmente simples, já se torna complexo definir sua composta e conseqüentemente sua derivada, caso exista, em f 2 (x). Para iteradas cada vez maiores será cada vez mais difı́cil, neste momento a notação anterior é útil, nos permitindo chegar, com o auxı́lio da Regra Cadeia, a seguinte relação : (f n )0 (x0 ) = (f )0 (xn−1 ).....(f )0 (x0 ). Ver demonstração da relação anterior. 4 Exemplo 2.3 Para esclarecer vejamos o que acontece para a função do exemplo 2.1[9]: Tomando f (x) = x(1 − x) e escolhendo o ponto x0 = f (x0 ) = f 1 3 = 1 e n = 3, temos 3 1 1 2 1− = = x1 3 3 9 2 f (x0 ) = f (f (x0 )) = f (x1 ) = f 2 9 = 14 = x2 81 f 0 (x) = 1 − 2x como (f n )0 (x0 ) = (f )0 (xn−1 ).....(f )0 (x0 ), segue (f 3 )0 (x0 ) = (f )0 (x2 ).(f )0 (x1 ).(f )0 (x0 ) e então (f 3 )0 14 2 1 53 5 1 = 1 − 2. . 1 − 2. . 1 − 2. = . . . 3 81 9 3 81 9 3 1 Observe que a praticidade do método consiste em dispensar (para o cálculo da derivada no ponto) o uso excessivo da Regra da Cadeia, desde que f seja diferenciável em {x0 , x1 , ..., xn−1 }. 5 Ver outros exemplos da relação anterior. Considere X, Y ⊂ R e f :X → x Y 7→ f (x) = y uma função inversı́vel e derivável em a ∈ X ∩ X 0 (em que X 0 é o conjunto dos pontos de acumulação de X); f (a) = b com b 6= 0. Então a derivada de (f −1 )0 (f (a)) = 1 f 0 (a) [7]. Sendo f −1 a inversa de f temos que, f −2 (x) = (f 2 )−1 (x) = (f −1 )2 (x) e f −n (x) = (f n )−1 (x) = (f −1 )n (x) para −n < 0. Deste modo, de acordo com Robinson (1995), podemos aplicar o método anterior em compostas de funções inversas , desde que f −1 , assim como f, seja diferenciável em {x0 , x1 , ..., xn−1 } 2 . 3 Pontos Periódicos Afirmamos anteriormente que o conceito de iteração é fundamental para o estudo da teoria dos Sistemas Dinâmicos Discretos. Nada mais natural que nos ocupemos, a partir deste momento, em estudar o comportamento dessas iterações. Considere o exemplo abaixo: Exemplo 3.1 Considere a função j(x) = x3 , calculemos as iteradas para os pontos: x 1 = 8 e x2 = 1 2 • Para x1 = 8: j 0 (8) = 8 j(8) = 512 2 A diferenciabilidade é um fenômeno local, por isso esta observação se faz necessária. 6 j 2 (8) = 134.217.728 j 3 (8) = 2.417.851.639.229.258.349.412.352 ... • Para x2 = 1 2 1 = 0, 5 2 1 j( 21 ) = = 0, 125 8 1 ∼ j 2 ( 21 ) = = 0, 001953125 512 1 ∼ j 3 ( 21 ) = = 0, 000000007450581 134.217.728 j 0 ( 21 ) = ... Analisando o exemplo 3.1, podemos perceber que: para x1 = 8 à medida que ocorrem as iterações os valores aumentam cada vez mais, já para x2 = 1 as iterações 2 parecem se aproximar de zero. Holmgren (1996), sugere utilizarmos o Registro Fase (Phase Portraits), para analisar o comportamento das iterações de uma função. Um Registro Fase consiste de um diagrama que possibilita representar a posição inicial de um ponto no sistema e possui flechas que indicam a variação das posições à medida que ocorre a iteração. O Registro Fase é freqüentemente usado para representar graficamente um sistema dinâmico. Façamos agora a representação do Registro Fase para j(x) = x3 : -1 0 1 Figura 3.1: Registro Fase para valores entre 0 e 1. -1 0 1 Figura 3.2: Registro Fase para valores entre −1 e 1. 7 Podemos verificar intuitivamente que para −1 < x < 1, os valores se aproximam de zero, assim para representar o comportamento destes valores basta colocarmos duas setas em direção ao zero. Analogamente para x > 1 e x < −1 os valores tendem para menos e mais infinito respectivamente. Mais adiante provaremos estas afirmações utilizando alguns recursos da Análise Real. Além disso para 0, 1, −1 colocamos apenas pontos uma vez que f n (0) = 0, f n (1) = 1, f n (−1) = −1. Para observar outros valores basta ligarmos o valor a sua imagem através de uma flecha: -5,832 -1,8 - 1 0 11,5 2 3,75 8 Figura 3.3: Registro Fase para j(x) = x3 . Suponha que agora o nosso interesse esteja em verificar o comportamento de tn (x), com t : R → R uma função, para qualquer x real e para todo n ∈ Z. Qual lim tn ? n→∞ Que propriedades a seqüência {x, t(x), t2 (x), ..., tn (x), ...} tem? Desse momento em diante, é inevitável conhecermos as definições de órbita e pontos periódicos, pois são essenciais na resposta das perguntas anteriores. Para isso, estamos considerando f : I ⊂ R → R, além de f ser C 1 ou C 2 . Definição 3.1 Dado um ponto a e uma função f contı́nua, o conjunto de pontos {a, f (a), f 2 (a), f 3 (a), ...} é denominado a órbita positiva de a e é denotado por ϕ+ (a) = {f k (a); k ≥ 0}. Se f é inversı́vel, o conjunto de pontos {a, f −1 (a), f −2 (a), f −3 (a), ...} é denominado a órbita negativa de a e é denotada por ϕ− (a) = {f k (a); k ≤ 0} [9]. Exemplo 3.2 Seja f (x) = x(1 − x), calculemos a órbita positiva de x = 2: 8 • x=2 • f (2) = 2(1 − 2) = −2 • f 2 (2) = f (f (2)) = −6 • f 3 (2) = f (f (f (2))) = −42 Assim, pela definição anterior teremos que: ϕ+ (2) = {f k (2); k ≥ 0} = {2, f (2), f 2 (2), f 3 (2), ...} = = {2, −2, −6, −42, ...}. Exemplo 3.3 Dada a função j(x) = x3 , a órbita de 8 é o conjunto {8, 512 , 134.217.728, ...} ou seja {8, j(8), j 2 (8), j 3 (8), ...}. A inversa de j é definida por j −1 (x) = negativa de 8 é o conjunto {8, 2, √ 3 √ 3 x, logo a órbita 2, ...} Caso queiramos observar o comportamento das iteradas negativas de um ponto para funções não inversı́veis, Robinson (1995) sugere considerarmos {x−1 , x−2 , ... , x−n }, tal que f (x−n ) = x−n+1 (ou seja um conjunto das imagens inversas de f (x−n ) ). Exemplo 3.4 Dada a função não inversı́vel, f (x) = x2 − 1 temos f (x) = √ 2 2⇒x −1= √ q √ 2⇒x=± 1+ 2 r q q q √ √ √ 2 f (x) = 1 + 2 ⇒ x − 1 = 1 + 2 ⇒ x = ± 1 + 1 + 2 p √ √ 2 ∈ h−1 ( 2) (uma vez que − 1 + 2 também pertence, a escolha q p p p √ √ √ de 1 + 2 é apenas por conveniência), assim como 1 + 1 + 2 ∈ f −1 ( 1 + 2). Logo p 1+ √ 9 Dessa forma, podemos montar uma seqüência com os elementos do domı́nio, a nossa escolha, usados anteriormente : x−1 = √ q 2; x−2 = 1+ √ r 2; x−3 = q 1+ 1+ √ 2 h(x−2 ) = x−2+1 = x−1 donde q q √ √ √ √ h( 1 + 2) = ( 1 + 2)2 − 1 = 1 + 2 − 1 = 2 h(x−3 ) = x−3+1 = x−2 r h( 1 + q 1+ √ r 2) = ( 1 + q 1+ √ q 2 2) − 1 = 1 + 1+ √ q 2−1= 1+ √ 2. Ver outros exemplos de órbitas. Definição 3.2 Dizemos que a é um ponto fixo de uma função f se f (a) = a. Além disso, o ponto a é um ponto periódico de perı́odo n se f n (a) = a para algum n > 0 e f j (a) 6= a, para 0 < j < n, com j, n ∈ N (podemos verificar que n é o menor perı́odo, pois f kn (a) = a ∀ k ≥ 1, com k ∈ N ). Isto é, se a tem perı́odo n, então a é um ponto fixo para a função f n . Além disso a órbita positiva de a, ϕ+ (a), é chamada órbita periódica quando a é um ponto periódico de perı́odo n 3 3 . Esta definição é baseada em Holmgren (1996) e Robinson (1995), entretanto Holmgren faz alguns comentários sobre pontos periódicos de perı́odo primo o que achamos desnecessário, pois a Definição 3.2 serve para qualquer perı́odo. 10 Exemplo 3.5 Para a função m(x) = x2 − x o conjunto dos pontos fixos de f será dado por m(x) = x, ou seja, x2 − x = x ⇒ x2 − 2x = 0 ⇒ x0 = 0 ou x00 = 2 Logo x0 = 0 e x00 = 2 são pontos fixos da função m. Ver mais exemplos de pontos fixos. Exemplo 3.6 A função g(x) = x2 − 2x possui pelo menos um ponto periódico. De fato dada g(x), temos que o ponto √ 1 5 x0 = + 2 2 √ √ 1 1 5 5 é tal que (g ◦ g)(x0 ) = g(g( + )) = g( − ) = x0 . 2 2 2 2 Ver mais exemplos de pontos periódicos. A notação que usamos para todos os pontos fixos por f n é: P er(f, n) = {x; f n (x) = x} e F ix(f ) = P er(f, 1) = {x; f (x) = x} Finalmente, um ponto a é eventualmente periódico de perı́odo n, se existe um m > 0 tal que f m+n (a) = f m (a) ou f j+n (a) = f j (a) para j ≥ m e f m (a) é um ponto periódico, com m, n, e j ∈ N. Exemplo 3.7 Dada v(x) = x3 − x os pontos fixos que satisfazem a equação x3 − x = x, são: √ x3 − 2x = 0 ⇒ x(x2 − 2) = 0 ⇒ x = 0 ou x = ± 2. 11 Além disso, para os pontos x = ±1 temos que v(1) = 1 − 1 = 0 ⇒ v 2 (1) = v(v(1)) = v(0) = 0 v(−1) = −1 + 1 = 0 ⇒ v 2 (−1) = v(v(−1)) = v(0) = 0. Fazendo relação com a definição anterior temos, v(1) = v 1+1 (1) = 0 v(−1) = v 1+1 (−1) = 0 Logo 1 e -1 são eventualmente periódicos de perı́odo um. Ver outro exemplo de ponto eventualmente periódico. 4 Conjuntos Estáveis e Conjuntos Instáveis Definição 4.1 Um ponto q é assintoticamente positivo para p se |f j (q) − f j (p)|, com j ∈ Z+ , vai para zero quando j vai para infinito, ou seja quanto maior for o valor de j, f j (q) aproxima-se de f j (p). Se p é periódico de perı́odo n então q é assintoticamente positivo para p se |f jn (q) − p| vai para zero quando j vai para infinito. O conjunto estável de p é definido como: W s (p) = { q; q é assintoticamente positivo para p }[9] Exemplo 4.1 Considerando a função definida por j(x) = x3 , os pontos fixos desta função são 0, 1, -1. Verifiquemos o comportamento da função para x = 0, 5 e x = −0, 8, valores 12 próximos de zero à direita e à esquerda: j(0, 5) = 0, 125 ⇓ j 2 (0, 5) ∼ = 0, 002 ⇓ j 3 (0, 5) ∼ = 0, 000000008 j(−0, 8) = −0, 512 ⇓ j 2 (−0, 8) ∼ = −0, 134 ⇓ j 3 (−0, 8) ∼ = −0, 002 Quanto maior são as iteradas de 0, 5 e −0, 8, maior é a proximidade das imagens com o zero. Logo é possı́vel que 0,5 e - 0,8 pertençam ao W s (0). Ainda analisando W s (0) podemos observar que para outros pontos pertencentes ao intervalo (0, 1), j(x) < x o que nos leva a crer que suas iteradas comportam-se da seguinte forma: x > j(x) > j 2 (x) ... > j n (x) > 0. Ou seja aproximam - se cada vez mais de zero. Uma análise similar fazemos para pontos pertencentes ao intervalo (−1, 0), uma vez que neste intervalo x < j(x), assim suas iteradas agem deste modo: x < j(x) < ... < j n (x) < 0, ou seja, também 13 aproximam-se cada vez mais de zero. O que nos falta agora, é verificar se de fato as iteradas de todos os valores pertencentes a (−1, 1) convergem para zero. Com efeito, as iteradas da função j(x) = x3 são : {j(x), j 2 (x), j 3 (x), ..., j n (x), ...} n = {x3 , (x3 )3 , ((x3 )3 )3 , ...} = {x3 , x9 , x27 , ..., x3 , ...}. Para −1 < x < 1 temos que n lim x3 = 0, logo as iteradas de x; x ∈ (−1, 1) convergem para zero. n→∞ Analisemos o comportamento das iteradas para x = 1, 2 e x = −1, 5, valores respectivamente à direita de 1 e à esquerda de -1: • Para x = 1, 2 j(1, 2) ∼ = 1, 7 j 2 (1, 2) ∼ = 4, 9 • Para x = −1, 5 j(−1, 5) ∼ = −3, 4 j 2 (−1, 5) ∼ = −39, 3 À medida que as iterações para 1, 2 ocorrem, maior é o valor de suas imagens, assim 1, 2 ∈ / W s (1). De forma análoga conclui-se que −1, 5 ∈ / W s (−1). Observando W s (1) e W s (−1) podemos notar que para outros pontos pertencentes ao intervalo (1, +∞), j(x) > x o que nos leva a crer que suas iteradas comportam-se da seguinte forma: {1 < x < j(x) < j 2 (x) ... < j n (x) ...}, isto é, se distanciam cada vez mais de 1. Analogamente x ∈ (−∞, −1) ⇒ x > j(x) ⇒ {−1 > x > j(x) > ... > j n (x) ... }, ou seja os valores se distanciam cada vez mais de -1. n De fato para x ∈ (−∞, −1), lim x3 = −∞, analogamente para x ∈ (1, +∞), n→∞ lim x n→∞ 3n = +∞. Logo podemos concluir que : 14 • W s (0) = (−1, 1) • W s (1) = {1} • W s (−1) = {−1} O W s (1) = {1} e W s (−1) = {−1} pois os únicos pontos cujas iteradas tendem a 1 e a -1 são eles mesmos [4]. Proposição 4.1 Os conjuntos estáveis de pontos periódicos distintos não se intersectam. Em outras palavras, se p1 e p2 são pontos periódicos e p1 6= p2 então W s (p1 )∩W s (p2 ) = ∅ [4]. Ver demonstração. Exemplo 4.2 Observando o exemplo 4.1 podemos notar que W s (0) ∩ W s (1) = ∅. Definição 4.2 Se f é inversı́vel, então um ponto q é dito assintoticamente negativo para p se |f j (q) − f j (p)| vai para zero quando j vai para menos infinito, caso p seja um ponto periódico, de perı́odo n, então q será assintoticamente negativo para p se |f jn (q) − p| vai para zero quando j vai para menos infinito [9]. O conjunto instável de p é definido como: W u (p) = {q; q é assintoticamente negativo para p }. Exemplo 4.3 Baseado no exemplo anterior, temos que j −1 (x) = Analisemos j −1 (x) = √ 3 x, para: • x = 0, 125 j −1 (0, 125) = 0, 5 j −2 (0, 125) ∼ = 0, 7937 j −3 (0, 125) ∼ = 0, 9259 15 √ 3 x é a inversa de j. • x = −0, 64 j −1 (−0, 064) = −0, 4 j −2 (−0, 064) ∼ = −0, 7368 j −3 (0, 064) ∼ = −0, 9032 • x = 2, 7. j −1 (2, 7) ∼ = 1, 3925 j −2 (2, 7) ∼ = 1, 1167 j −3 (2, 7) ∼ = 1, 0375 • x = −3, 5 j −1 (−3, 5) ∼ = −1, 5183 j −2 (−3, 5) ∼ = −1, 1493 j −3 (−3, 5) ∼ = −1, 0475 √ √ √ Considerando que { 3 x, 9 x, 27 x, ... , √ 3 √ 3n x} são as iteradas da função j −1 (x) = x, os valores acima nos indicam intuitivamente o que pode ser provado através do cálculo de limites, isto é: para x ∈ (0, +∞) ⇒ lim √ 3n n→∞ para x ∈ (−∞, 0) ⇒ lim n→∞ 16 √ 3n x=1 x = −1. Deste modo: W u (1) = (0, +∞) W u (−1) = (−∞, 0) W u (0) = {0} W u (0) = {0} porque único ponto cujas iteradas negativas se aproximam de 0 é o próprio 0 [4]. Ver outro exemplo de Conjunto Estável e de Conjunto Instável. Definição 4.3 Se f não é inversı́vel, então um ponto q é dito ser assintoticamente negativo para p, se existem seqüências p−j e q−j , de modo que |q−j − p−j | vai para zero quando j vai para infinito [9]. Observação 4.1 As seqüências p−j e q−j , seguem o raciocı́nio apresentado para iteradas negativas de funções não inversı́veis, isto é: p0 = p e q0 = q f (p−j ) = p−j+1 , f (q−j ) = q−j+1 . Exemplo 4.4 Usando novamente a função h(x) = x2 − 1. Dados p0 = 1, q0 = −1: • Para p0 = 1, devemos ter p−1 tal que, h(p−1 ) = p0 = 1 ⇒ p−1 = • Para p−1 = √ 2 devemos ter p−2 tal que, h(p−2 ) = p−1 = 17 √ √ 2; 2 ⇒ p−2 = p 1+ √ 2; • Para q0 = −1, devemos ter q−1 tal que, h(q−1 ) = q0 = −1 ⇒ q−1 = 0; • Para q−1 = 0, devemos ter q−2 tal que, h(q−2 ) = q−1 = 0 ⇒ q−2 = 1. Observemos então alguns valores das duas seqüências: p0 = 1 p−1 = √ 2 p−2 = p 1+ √ 2 q0 = −1 q−1 = 0 q−2 = 1 Note que: |q0 − p0 | = | − 1 − 1| = | − 2| = 2 |q−1 − p−1 | = |0 − √ 2| ' | − 1, 4| = 1, 4 q √ |q−2 − p−2 | = |1 − 1 + 2| ' | − 0, 6| = 0, 6 Quanto maior é o valor de j mais os valores se aproximam. Ver demonstração de que lim |q−n − p−n | = 0 n→∞ Definição 4.4 Um ponto p é dito Liapunov - estável (L- estável), {∀ > 0, ∃ δ > 0 \ |x − p| < δ ⇒ |f j (x) − f j (p)| < para todo j ≥ 0} . Deste modo podemos concluir que, quanto mais próximo x estiver de p a órbita positiva de de x estará mais próxima da órbita positiva de p, ou seja, lim f j (x) = f j (p). x→p Afirmação 1 A função real f (x) = 1 1 x é tal que |f j+1 (x)| ≤ |f j (x)| para x ∈ − , . 2 2 2 De fato, temos que |f j+1 1 j (x)| = |f ◦ f (x)| = f (x) ≤ |f j (x)| 2 j 18 Além disso, observe que fixado > 0, ∃ k > 0 tal que k < . 2 De fato, basta tomar k < 2. Exemplo 4.5 Dada a função f (x) = x o ponto x0 = 0 é Liapunov Estável. 2 De fato, mostremos que dado > 0, ∃ δ > 0 tal que |x − p| < δ ⇒ |f j (x) − f j (p)| < Sendo assim, considerando a afirmação anterior, se p=0 então para δ = k tem-se x k |x − 0| < δ ⇒ |f (x) − f (0)| = |f (x)| < |f (x)| = < < 2 2 j j j Para funções simples como j(x) = x3 , é possı́vel analisar W s (p) e W u (p) para um ponto p periódico. No entanto, nem sempre essa análise é tão acessı́vel e para tal podemos utilizar o gráfico da função. Vejamos como proceder utilizando o gráfico de j(x) = x3 : 1. Trace a função identidade, identifique no gráfico os pontos (1,1), (0,0) e (-1,-1) note que estes são os pontos fixos de j ; 19 2 x 3 x 1.5 1 y 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 x Figura 4.1: 2. Escolha abscissas xi em torno dos pontos fixos encontrados; 2 x 3 x 1.5 1 y 0.5 x4 x2 0 x1 x 3 -0.5 -1 -1.5 -2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 x 3. Trace uma perpendicular ao eixo x, para cada abscissa escolhida partindo da mesma e indo em direção ao gráfico. Note que ao fazer isso você encontrará o ponto no 20 gráfico cuja a abscissa havia escolhido ; 2 x 3 x 1.5 1 0.5 x4 x2 y 0 x1 x 3 -0.5 -1 -1.5 -2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 x 4. Ao encontrar o ponto, trace uma outra perpendicular paralela ao eixo x que vá do ponto no gráfico até a identidade; 2 x 3 x 1.5 1 y 0.5 x4 x2 0 x1 x 3 -0.5 -1 -1.5 -2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 x 21 1 1.5 2 5. Do ponto onde esta segunda perpendicular encontrar a identidade, trace uma terceira perpendicular em direção ao eixo das abscissas, este será o valor de f (xi ) = x0i , com i = {1, 2, 3, 4}; 2 x 3 x 1.5 1 0.5 x'4 x4 x2 x'2 y 0 x'1 x 1 x3 x'3 -0.5 -1 -1.5 -2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 x 6. Continuando este processo obtém - se x00i . 2 x x3 1.5 1 y 0.5 x''4 0 x'4 x4 x2 x'2 x''2 x''1 x'1 x 1 x3 x'3 x''3 -0.5 -1 -1.5 -2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 x 22 1 1.5 2 Note que geometricamente você estará fazendo a mesma análise algébrica dos W s (0), W u (0), W s (±1) e W u (±1). Sendo que, para W u (0) e W u (±1) basta fazer o caminho contrário usando a análise feita para o W s (0) e o W s (±1), como por exemplo, pelo caminho inverso você sairá de x001 e chegará a x01 , e assim sucessivamente. É bem verdade que este método só funciona para funções injetoras. Justificativa do método : Sabemos que todos os pontos da identidade são do tipo (x, x), logo todo este processo faz com que você encontre a abscissa cujo o valor seja igual à imagem do ponto anterior. Observando a figura correspondente a primeira etapa e os pontos que escolhemos anteriormente, f (x1 ) = y1 , com o método encontramos um valor na abscissa igual a y1 o qual chamamos de x01 logo f (x1 ) = y1 = x01 , f 2 (x1 ) = f (x01 ) = y10 = x001 e assim sucessivamente. Caso a função não seja injetora ainda será possı́vel determinar o W u (p), com p pertencente ao domı́nio da função, utilizando o gráfico da mesma. Observe que a maior dificuldade de determinar o W u (p) é justamente encontrar as imagens inversas do ponto. O algoritmo a seguir nos fornece uma maneira de resolver este problema: 1. O esboço abaixo corresponde ao gráfico da função não inversı́vel f (x) = −x + x3 e o valor x0 = 0, 231; 23 1 3 x -x x 0.5 y 0 x0 -0.5 -1 -1 -0.5 0 0.5 1 x 2. Trace a identidade e em seguida uma perpendicular ao eixo x que vá de x0 até a identidade; 1 3 x -x x 0.5 y 0 x0 -0.5 -1 -1 -0.5 0 0.5 1 x 3. Trace uma paralela ao eixo x que passe pelo ponto em que a perpendicular interceptou a identidade, note que esta paralela corta o gráfico em três pontos, estes pontos são as imagens inversas de x0 , basta então que você trace uma perpendicular que vá do ponto do gráfico até o eixo x, como mostra a figura abaixo. Assim (1) (2) f −1 (x0 ) = x−1 , f −1 (x0 ) = x−1 . 24 1 3 x -x x 0.5 y x0 0 (1) x -1 x0 (2) x -1 -0.5 -1 -1 -0.5 0 0.5 1 x Justificativa do método: Todos os pontos da identidade são do tipo (x, x), assim com o método adotado anteriormente o que você encontrará é o ponto (x0 , x0 ) e em seguida com o auxı́lio da paralela ao eixo x, os valores do gráfico cuja a imagem é x0 . Deste modo, podemos escolher quais das imagens inversas vamos trabalhar e aplicar este método tantas vezes quantas forem necessárias, para analisar o comportamento de conjuntos instáveis e estáveis de pontos periódicos utilizando o gráfico da função. 5 Um pouco mais sobre pontos fixos e periódicos Existem vários temas discutidos na teoria dos Sistemas Dinâmicos Discretos que podem nos ajudar a verificar as caracterı́sticas de um ponto periódico bem como determinar em qual intervalo do domı́nio de uma função encontramos um ponto fixo. Teorema 5.1 Considere f : R → R uma função C 1 e p um ponto fixo de f com | f 0 (p) |< 1. Então existe uma vizinhança U de p tal que x ∈ U ⇒ lim f n (x) = p. Entretanto, n→∞ se | f 0 (p) |> 1, então existe uma vizinhança U de p tal que x ∈ U e x 6= p ⇒ ∃k > 25 0 tal que f k (x) ∈ / U [3]. Ver demonstração. Vamos discutir o teorema anterior utilizando o exemplo 4.1: i Para a função real j(x) = x3 sabemos que 0 é um ponto fixo. Note que | j 0 (0) |= 0 < 1, logo, de acordo com o teorema anterior, existe uma vizinhança de U de 0 tal n que lim j n (x) = 0, o que realmente ocorre pois para x ∈ (−1, 1) lim x3 = 0; n→∞ ii n→∞ Já os pontos 1 e − 1 são ambos pontos fixos de j com | j 0 (1) |= 3 > 1 e | j 0 (−1) |= 3 > 1. Assim, pelo teorema anterior existe uma vizinhança U de 1 tal que x ∈ U e x 6= p → ∃k > 0 tal que j k (x) ∈ / U (análogo para -1). Por exemplo a 1 vizinhança de 1, ,3 : 4 1 1 j( ) = 2 8 1 1 j 2( ) = 2 512 j(2) = 8 j 2 (2) = 512 1 e x = 8 estão fora da vizinhança ( , 3). De fato pela análise 4 1 n n que fizemos no exemplo 4.1 temos que lim x3 = 0 para < x < 1 e lim x3 = n→∞ n→∞ 4 As iteradas de x = 1 2 +∞ para 1 < x < 3. Definição 5.1 Seja p um ponto periódico de perı́odo n, dizemos que p é um ponto hiperbólico de f se | (f n )0 (p) |6= 1. Se |(f n )0 (p)| = 1 dizemos que p é não-hiperbólico ou neutro [3]. 26 Definição 5.2 Dizemos que o ponto fixo p tal que | f 0 (p) |< 1, é um ponto fixo atrator ou poço [3]. Os diagramas dos exemplos abaixo, demonstram comportamentos que normalmente podemos distinguir nestes dois tipos de pontos fixos atratores [3]: • 0 ≤ f 0 (p) < 1 2 x x3 1.5 1 y 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 x Figura 5.1: f (x) = x3 Como f 0 (0) = 0 temos que zero é um ponto fixo atrator. Neste caso o diagrama se assemelha a uma escada. • −1 < f 0 (p) < 0 27 15 y=x x(n+1) 10 5 3 0 3 r = -x/2 + 9/2 -5 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 x(n) x 9 Figura 5.2: r(x) = − + 2 2 1 Temos que 3 é um ponto fixo atrator, pois r0 (3) = − . Observe que o diagrama 2 parece com uma teia. Definição 5.3 Dizemos que o ponto fixo p tal que | f 0 (p) |> 1, é um ponto fixo repulsor ou fonte [3]. Exemplo 5.1 Considere a função f : [0, +∞) → R, definida por f (x) = x2 , observando o gráfico abaixo podemos notar que f possui dois pontos fixos: 0 e 1, com 0 ponto fixo atrator e 1 ponto fixo repulsor. De fato pelo teorema 5.1, |f 0 (0)| = 0 < 1 e |f 0 (1)| = 2 > 1, logo 0 e 1 é atrator e repulsor respectivamente. 28 2 x2 x 1.5 y 1 0.5 0 0 0.5 1 1.5 2 x Figura 5.3: f (x) = x2 O teorema e as definições anteriores estendem-se para pontos periódicos de perı́odo n 6= 1. Basta notar que se f n (p) = p, então p é um ponto fixo para a função f n . Ao contrário dos pontos fixos hiperbólicos, os pontos fixos não-hiperbólicos ou neutros não apresentam um comportamento determinado por algum fator como acontece com os pontos hiperbólicos, são atratores se o módulo da derivada é menor do que 1 e repulsores se o módulo da derivada é maior que 1. Quando um ponto neutro atrai (ou repele) os pontos a sua volta, dizemos que ele é fracamente atrator ( fracamente repulsor) [3]. Exemplo 5.2 Considere as funções reais abaixo e o comportamento de seus pontos fixos não-hiperbólicos através de seus gráficos: 1. f1 (x) = ex − 1 29 1.5 e x-1 x 1 0.5 y 0 -0.5 -1 -1.5 -1.5 -1 -0.5 0 x 0.5 1 1.5 Figura 5.4: W s (0) = (−∞, 0] • f1 0 (0) = 1 e não é possı́vel determinar uma vizinhança U de 0 tal que para x ∈ U, lim f1n (x) = 0. n→∞ 2. f2 (x) = x − x3 1 3 x-x x y 0.5 0 -0.5 -1 -1 -0.5 0 0.5 x Figura 5.5: (−1, 1) ⊂ W s (0) 30 1 • f2 0 (0) = 1 e é possı́vel determinar uma uma vizinhança U de 0 tal que x ∈ U → lim f2n (x) = 0. Um exemplo disso é o intervalo (−1, 1). n→∞ 3. f3 (x) = x + x3 2 x3+x x 1.5 1 y 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -2 -2 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 1 1.5 2 x Figura 5.6: W s (0) = 0 • f3 0 (0) = 1 e é possı́vel determinar uma vizinhança U de 0 tal que x ∈ U e x 6= p, ∃k > 0 tal que f3k (x) ∈ / U. Zero é ponto fixo das três funções e f10 (0) = f20 (0) = f30 (0) = 1, entretanto ele apresenta um comportamento distinto nos três casos. No primeiro caso ele é fracamente atrator à esquerda e fracamente repulsor à direita, no segundo caso ele é fracamente atrator e no terceiro caso ele é fracamente repulsor. Tal comportamento demonstra a imprevisibilidade de um ponto fixo neutro. Teorema 5.2 Seja I = [a, b] um intervalo fechado e f : I → I uma função contı́nua. Então f tem ao menos um ponto fixo em I. Demonstração 31 Se f (a) = a ou f (b) = b, então um ou outro é o ponto fixo e a prova está finalizada. Suponha f (a) 6= a e f (b) 6= b. Seja g(x) = f (x) − x, contı́nua por ser uma diferença de funções contı́nuas. Como f (a) 6= a e f (a) ∈ [a, b], temos que f (a) > a. Analogamente, por f (b) 6= b, concluimos que f (b) < b. Portanto g(a) = f (a) − a > 0 e g(b) = f (b) − b < 0. Por g ser contı́nua e g(b) < 0 < g(a), podemos aplicar o Teorema do Valor Intermediário, isto é, existe c ∈ [a, b], tal que g(c) = 0. Mas g(c) = f (c) − c = 0, então f (c) = c. Logo f tem ao menos um ponto fixo em I. Teorema 5.3 Seja I um intervalo e f : I → R uma função contı́nua. Se f (I) ⊃ I, então f tem um ponto fixo em I. Demonstração Seja I = [a, b]. Como f (I) ⊃ I existem c e d em I tal que f (c) = a e f (d) = b. Se c = a ou d = b, já encontramos o ponto fixo. Deste modo, suponha c 6= a e d 6= b, logo a < c < b e a < d < b. Definindo a função g(x) = f (x)−x, então g(c) = f (c)−c = a−c < 0 e g(d) = f (d) − d = b − d > 0. Do fato de g ser contı́nua e g(c) < 0 < g(d), temos pelo Teorema do Valor Intermediário que existe h ∈ [a, b] satisfazendo g(h) = 0 ⇔ f (h) = h. Assim, f tem um ponto fixo em I. Teorema 5.4 Dado um intervalo fechado I e f : I → R uma função diferenciável satisfazendo I ⊂ f (I) e | f 0 (x) |< 1 para todo x ∈ I. Então f tem um único ponto fixo em I. Além disso | f (x) − f (y) |<| x − y |, para todo x, y ∈ I com x 6= y. Demonstração Provemos primeiro a segunda parte do teorema. Dado x e y dois pontos em I satisfazendo x 6= y. Sem perda de generalidade, nós assumimos que x < y. Por hipótese f 32 é diferenciável no intervalo [x, y] (em particular em (x, y)), logo f é contı́nua no intervalo [x, y]. Pelo Teorema do Valor Médio existe c ∈ [x, y] tal que |f (x) − f (y)| = |f 0 (c)||x − y| ou |f 0 (c)| = |f (x) − f (y)| |x − y| Como [x, y] ⊂ I, nós sabemos que |f 0 (c)| < 1. Então a equação anterior implica que |f (x) − f (y)| = |f 0 (c)||x − y| < |x − y| ⇒ |f (x) − f (y)| < |x − y|. A hipótese de que f (I) ⊃ I, nos garante a existência de um ponto fixo em I, vamos provar a unicidade. Suponha por absurdo que existam dois pontos fixos distintos p e q. Pela informação demonstrada temos |f (p) − f (q)| < |p − q| ⇒ |p − q| < |p − q| Um absurdo, logo existe um único ponto fixo em f. 6 Conclusão Partindo de algo tão simples como a composição de funções, fornecemos impor- tantes definições relativas à teoria dos Sistemas Dinâmicos Discretos. O comportamento das funções apresentadas nos exemplos nos levam não só a observar aspectos raramente discutidos como a indagar que outras implicações estes aspectos têm para a teoria. 33 7 Apêndice Exemplos de Iteração Exemplo 7.1 Seja g(x) = ex , então x g 2 (x) = (g ◦ g)(x) = ee , ex g 3 (x) = (g ◦ g ◦ g)(x) = ee . Exemplo 7.2 Considere h(x) = sen(x), temos que h2 (x) = (h ◦ h)(x) = sen(sen(x)), h3 (x) = (h ◦ h ◦ h)(x) = sen(sen(sen(x))), h4 (x) = (h ◦ h ◦ h ◦ h)(x) = sen(sen(sen(sen(x)))). Voltar ao texto. Verificando se (f n )0 (x0 ) = (f )0 (xn−1 ). ... .(f )0 (x0 ) 34 Considere a função real f n (x) = (f ◦ f n−1 )(x), e um x0 pertencente ao domı́nio da função, logo f n (x0 ) = (f ◦ f n−1 )(x0 ), calculando a derivada no ponto x0 teremos: (f n )0 (x0 ) = ((f (f n−1 (x0 ))))0 , utilizando a Regra da Cadeia (f n )0 (x0 ) = f 0 (f n−1 (x0 )).(f n−1 (x0 ))0 , baseando-se na composição de funções (f n )0 (x0 ) = f 0 (xn−1 ).(f ◦ f n−2 (x0 ))0 novamente teremos que (f n )0 (x0 ) = f 0 (xn−1 ).f 0 (f n−2 (x0 )).(f n−2 (x0 ))0 pela notação utilizada em iterações (f n )0 (x0 ) = f 0 (xn−1 ).f 0 (xn−2 ).(f n−2 (x0 ))0 . Por recorrência (f n )0 (x0 ) = f 0 (xn−1 ).f 0 (xn−2 ). ... .f 0 (x0 ) Demonstração Provemos por indução sobre n que (f n )0 (x0 ) = (f )0 (xn−1 ).....(f )0 (x0 ). 35 • i Para n = 1 (f 1 )0 (x0 ) = (f )0 (x0 ) • ii Supomos válido para n, provemos para n + 1 • iii Provemos que: (f n+1 )0 (x0 ) = f 0 (xn ).f 0 (xn−1 ).....(f )0 (x0 ). Pela notação de composição temos que: f n+1 (x) = f (f n (x)) Usando a Regra da Cadeia: (f (f n (x)))0 = f 0 (f n (x)).(f n )0 (x) Mas pela notação de composição: (f (f n (x)))0 = f 0 (xn ).(f n )0 (x) Utilizando a hipótese de indução teremos: (f n+1 )0 (x0 ) = f 0 (xn ).f 0 (xn−1 ).....(f )0 (x0 ). Voltar ao texto 36 Diferenciabilidade Definição 7.1 Sejam f : X → R e a ∈ X∩X 0 (em que X 0 é o conjunto dos pontos de acuf (x) − f (a) , x→a x−a mulação de X). A derivada da função f no ponto a é o limite f 0 (a) = lim f (a + h) − f (a) [7]. h→0 h ou considerando x − a = h, f 0 (a) = lim Observe que a existência da derivada está condicionada a existência do limite acima. Se existir, diz-se que f é derivável no ponto a. A definição anterior, deixa bem claro que a diferenciabilidade é um fenômeno local, isto é analisamos a diferenciabilidade em um ponto pertencente a X ∩ X 0 . Entretanto, se existe uma derivada f 0 (x) em todos os pontos x ∈ X ∩ X 0 diz-se que a função f : X → R é derivável no conjunto X e obtém-se uma nova função f : X ∩ X 0 → R, x 7→ f 0 (x), chamada função derivada de f. Voltar ao texto. Voltar para Regra da Cadeia. Pontos de Acumulação Definição 7.2 Diz-se que a ∈ R é ponto de acumulação do conjunto X ⊂ R quando toda vizinhança V de a contém algum ponto de X diferente do próprio a [5]. Ou seja, V ∩(X−{a}) 6= ∅. O que é equivalente dizer que, ∀ > 0 tem−se (a−, a+)∩(X−{a}) 6= ∅. Denotamos por X 0 o conjunto dos pontos de acumulação de X. Se a ∈ X não é ponto de acumulação dizemos que a é um ponto isolado. Isto é, existe > 0 tal que, a é o único ponto de X no intervalo (a − , a + ) [7]. Quando todos os pontos do conjunto são isolados dizemos que o conjunto é discreto. 37 Voltar ao texto. Voltar para Diferenciabilidade. Voltar para Regra da Cadeia. Vizinhança Bola aberta. A bola aberta de centro a e raio r é o conjunto B(a;r) dos pontos de um espaço métrico M cuja a distância ao ponto a é menor do que r [8]. Ou seja, B(a; r) = {x ∈ M ; d(x, a) < r}. Exemplo 7.3 Note que, pela definição de bola e baseado na métrica da reta, teremos que dado r > 0 e a ∈ R, B(a; r) = {x ∈ R; d(x, a) < r}. Mas d(x; a) < r ⇔| x − a |< r ⇔ −r < x − a < r ⇔ a − r < x < r + a Conclusão, todo intervalo aberto (a-r;a+r) é uma bola aberta de centro a e raio r. Ponto interior. Dado um conjunto X. Um ponto a ∈ X diz-se um ponto interior a X quando é centro de uma bola aberta contida em X, ou seja, quando existe > 0 tal que d(x, a) < ⇒ x ∈ X. Exemplo 7.4 O centro de uma bola aberta é sempre um ponto interior, isso decorre da própria definição de bola. 38 Vizinhança. Num espaço métrico, diz-se que o conjunto V é uma vizinhança do ponto a quando a ∈ intV. Exemplo 7.5 O intervalo (−1, 1) é uma vizinhança de zero, basta verificar que B(0; 1) = (−1, 1). Voltar para Pontos de Acumulação. Voltar ao texto. Terminologia sobre Funções Funções Cr No decorrer dos estudos de Sistemas Dinâmicos, usa-se algumas terminologias sobre funções e suas derivadas. Consideremos um intervalo aberto I em R e a função f : I → R. Se f é contı́nua nós dizemos que f é C 0 . Se f é derivável para cada ponto de I e f 0 é contı́nua então dizemos que f é continuamente diferenciável ou uma função C 1 . Dado r ≥ 1, se f juntamente com f (j) (lembre-se que a notação anterior representa a j- ésima derivada da função ) são contı́nuas para 1 ≤ j ≤ r então f é chamada r-vezes continuamente diferenciável ou uma função C r [9]. Exemplo 7.6 Dado f : R → R, f (x) = x4 + 2x3 + x2 + 5x + 10 • f é contı́nua, logo f é C 0 • f 0 (x) = 4x3 + 6x2 + 2x + 5 é contı́nua, f é C 1 • f 00 (x) = 12x2 + 12x + 2 é contı́nua, f é C 2 39 • f (3) = 24x + 12 é contı́nua,é f é C 3 • f (4)(x) = 24 é contı́nua, f é C 4 • f (5) (x) = 0 é contı́nua, f é C 5 , ou cinco vezes continuamente diferenciável. • Como f (n) (x) = 0 para n ≥ 5 temos que f é C ∞ Definição 7.3 Uma função f : X → Y , com X e Y Espaços Métricos quaisquer é denominada homeomorfismo se for i injetora ii sobrejetora iii contı́nua iv Se f −1 : Y → X sua inversa é contı́nua. Definição 7.4 Para um intervalo aberto I de R, a função f : I → K ⊂ R é dita C r difeomorfismo de I para K se: i f é injetora ii f é sobrejetora iii f é contı́nua iv f −1 é contı́nua v f é C r Voltar ao texto. 40 Continuidade Uma função f : X → R, definida no conjunto X ⊂ R, diz-se contı́nua no ponto a ∈ X quando ∀ > 0 ∃ δ > 0; x ∈ X, |x − a| < δ ⇒ |f (x) − f (a)| < . Uma função é descontı́nua no ponto a se não for contı́nua neste ponto. Diz-se que f : X → R é uma função contı́nua se ela for contı́nua em todos os seus pontos [7]. Voltar para Terminologia Sobre Funções. Exemplos de Pontos Periódicos Exemplo 7.7 Considere n ∈ N e g : R∗ → R definida por g(x) = 1 . Afirmação, n é um x ponto periódico de perı́odo 2. De fato, g(n) = 1 1 1 e g 2 (n) = f (f (n)) = g( ) = 1 = n n n n Exemplo 7.8 Considere, f : (−∞, 1) → R, definida por f (x) = 2x − [2x], em que [2x] significa tomar a parte inteira do número 2x [2]. Tomemos o ponto x = 0, 2 e vejamos como ele evolui se o aplicarmos sucessivamente na função f. Para x = 0, 2, f (0, 2) = 2 · (0, 2) − [2 · (0, 2)] = 0, 4 − [0, 4] = 0, 4 − 0 = 0, 4 Para x = 0, 4, isto é f (0, 2), f (0, 4) = 2 · (0, 4) − [2 · (0, 4)] = 0, 8 − [0, 8] = 0, 8 − 0 = 0, 8 Para x = 0, 8, isto é f 2 (0, 2), f (0, 8) = 2 · (0, 8) − [2 · (0, 8)] = 1, 6 − [1, 6] = 1, 6 − 1 = 0, 6 Para x = 0, 6, isto é f 3 (0, 2), f (0, 6) = 2 · (0, 6) − [2 · (0, 6)] = 1, 2 − [1, 2] = 1, 2 − 1 = 0, 2 41 Note que, 2 é um ponto periódico de perı́odo 3, pois f 3 (0, 2) = 0, 2. 0,2 0,4 0,6 0,8 Figura 7.1: Registro Fase de f 3 (0, 2) Voltar ao texto. Exemplos de Pontos Fixos Exemplo 7.9 Considere h : R → R, definida por h(x) = |x|. Se x ≥ 0, temos que x é um ponto fixo de h, pois por definição de módulo |x| = x, para x ≥ 0. Exemplo 7.10 Todo polinômio P (x) possui um ponto fixo, isto é, é sempre possı́vel determinar um valor x tal que P (x) = x. Com efeito tal afirmação é verdadeira pelo Teorema Fundamental da Álgebra, pois P (x) = x equivale a escrever P (x) − x = 0. Voltar ao texto. Teorema Fundamental da Álgebra 42 Toda equação algébrica P (z) = an z n + . . . + a1 z + a0 , com an , . . . , a0 ∈ C, tem pelo menos uma raiz complexa. A demonstração fica como exercı́cio para o leitor, entretanto o link http://www. de.ufpe.br/~toom/articles/portug/index.htm fornece uma análise bem didática do teorema através do artigo Senhora com o Cachorro, bem como indica uma referência para a demonstração do mesmo. Voltar para pontos fixos. Exemplo de Ponto Eventualmente Periódico Exemplo 7.11 Considere, f : (−∞, 1) → R, definida por f (x) = 2x − [2x], em que [2x] significa tomar a parte inteira do número 2x [2]. Dado o ponto x = 0, 11, vejamos como ele evolui se o aplicarmos sucessivamente na função f. Para x = 0, 1, f (0, 1) = 2 · (0, 1) − [2 · (0, 1)] = 0, 2 − [0, 2] = 0, 2 − 0 = 0, 2 Para x = 0, 2, isto é f (0, 1), f (0, 2) = 2 · (0, 2) − [2 · (0, 2)] = 0, 4 − [0, 4] = 0, 4 − 0 = 0, 4 Para x = 0, 4, isto é f 2 (0, 4), f (0, 4) = 2 · (0, 4) − [2 · (0, 4)] = 0, 8 − [0, 8] = 0, 8 − 0 = 0, 8 Para x = 0, 8, isto é f 3 (0, 1), f (0, 8) = 2 · (0, 8) − [2 · (0, 8)] = 1, 6 − [1, 6] = 1, 6 − 1 = 0, 6 Para x = 0, 6, isto é f 4 (0, 1), f (0, 6) = 2 · (0, 6) − [2 · (0, 6)] = 1, 2 − [1, 2] = 1, 2 − 1 = 0, 2 Note que, f 4 (0, 1) = f (0, 1), isto é f 1+3 (0, 1) = f 1 (0, 1), logo 0, 1 é um ponto eventualmente periódico de perı́odo 3. 43 0,1 0,4 0,2 0,6 0,8 Figura 7.2: Registro de Fase de f 4 (0, 1) Voltar ao texto Os conjuntos estáveis de pontos periódicos distintos não se intersectam. Demonstração Sejam p1 e p2 , pontos periódicos distintos de perı́odo k1 e k2 , respectivamente. Suponha por absurdo que W s (p1 ) ∩ W s (p2 ) 6= ∅. Seja x ∈ (W s (p1 ) ∩ W s (p2 )), então para todo > 0 existe n1 e n2 tal que 2 . Considere 2 e |p2 − f nk2 (x)| < . m = max{n1 , n2 }, temos que ∀ n ≥ m ⇒ |p1 − f nk1 (x)| < 2 2 ∀ n ≥ n1 ⇒ |p1 − f nk1 (x)| < e ∀ n ≥ n2 ⇒ |p2 − f nk2 (x)| < Aplicando desigualdade triangular: |p1 − p2 | = |p1 − f nk1 (x) + f nk2 (x) − p2 | ≤ |p1 − f nk1 (x)| + |p2 − f nk2 (x)| < + = 2 2 como a distância entre p1 e p2 é menor do que , para todo > 0, temos que isso só é possı́vel se p1 = p2 , o que é um absurdo. Assim conjuntos estáveis de pontos periódicos de perı́odos distintos não se intersectam [4]. 44 Voltar ao texto. Exemplo de Conjunto Estável e Instável Neste artigo , fizemos uma análise do Conjunto Estável e Instável de todos os pontos fixos de j : R → R, definida por j(x) = x3 . Nos exemplos que seguem, vamos analisar o Conjunto Estável do ponto fixo x = 0 para a função f : [0, 1] → [0, 1] definida por f (x) = xn e o Conjunto Instável do ponto fixo x = 1 de f −1 (x) = √ nk x, com k ∈ N. Exemplo 7.12 Conjunto Estável de x = 0. A órbita positiva de x ∈ [0, 1] é: 2 3 k ϕ+ (x) = {x, xn , xn , xn , . . . , xn , . . .}. k Provemos que se 0 ≤ x < 1, então lim xn = 0 k→∞ k De fato para 0 ≤ x < 1, lim xn = 0, como xn é uma subseqüência de xn , temos n→∞ para 0 ≤ x < 1 lim x k→∞ nk = 0. Ver demonstração de que lim xn = 0. n→∞ Ver demonstração de que se a seqüência converge para um valor L, então todas as suas subseqüências também convergem para L. k Note que se x = 1, xn = 1 ∀k ∈ N. Logo W s (0) = {x ∈ R/0 ≤ x < 1} Exemplo 7.13 Para x > 0, temos que [7]). Além disso, ϕ− (x) : {x, √ n x, √ n2 √ n x → 0, quando n → ∞(ver demosntração em x, . . . , 45 √ nk x, . . .}. Podemos perceber que, √ nk x é uma subseqüência de √ n x e f é definida no intervalo [0, 1], logo lim √ nk k→∞ x = 1. Assim, o W u (1) = (0, 1]. Voltar ao texto. Aplicações da Regra da Cadeia Exemplo 7.14 Seja f : R∗+ → R definida por f (x) = √ x utilizando o método discutido no artigo, calculemos (f 3 )0 (4): f (4) = √ 4=2 √ f 2 (4) = f (2) = 2 1 f 0 (x) = √ 2 x √ 1 1 1 1 1 1 1 (f 3 )0 (4) = f 0 ( 2) · f 0 (2) · f 0 (4) = p√ · √ · √ = √ · √ · = √ . 4 4 2 2 2 2 4 16 23 2 2 2 2 2 4 Exemplo 7.15 Dada g : R → R definida por g(x) = 2x − x2 , calculemos (g 4 )0 g 1 2 =2· 1 2 − 1 2 46 2 =1− 1 3 = 4 4 1 2 : g2 g3 1 1 2 2 =g =g 3 4 15 16 =2· =2· 3 1 2 3 9 15 − = − = 4 2 2 16 16 15 15 2 15 225 255 − − = = 16 16 8 256 256 g 0 (x) = 2 − 2x logo (g 4 )0 1 2 = g0 255 256 · g0 15 16 · g0 3 4 · g0 1 2 = 15 3 1 1 1 1 1 255 · 2−2· · 2−2· · 2−2· = · · = . = 2−2· 256 16 4 2 128 16 2 4.096 Voltar ao texto. Exemplos de Órbitas Exemplo 7.16 Considere x = 0 e a função real f (x) = ex , calculemos a órbita positiva de 0 [4]: 0 e0 ϕ+ (0) = {0, e 0 , e e , e e , e e ee 0 e , ...} = {0, 1, e, e e , e e , ...}. Exemplo 7.17 Baseado no exemplo anterior, temos f −1 (x) = lnx, para x > 0, a órbita 47 negativa de x = ee : ϕ− (ee ) = {ee , ln(ee ), ln(lnee ), ln(ln(lnee ))} = {ee , e, lne, ln1} = {ee , e, 1, 0} Ao contrário do exemplo anterior a órbita acima é finita pois ln 0 não está definido. Voltar ao texto. O lim xn = 0 ? n→∞ Provemos que o lim xn = 0 para 0 ≤ x < 1. Para isso usaremos alguns resultan→∞ dos de séries de números reais, caso o leitor desconheça os resultados utilizados abaixo, recomendamos a leitura do texto representado pelo link a seguir. Ver resultados e definição de Séries de Números Reais. Demonstração 1. Pelo Teste da Razão ∞ X | x |n converge, uma vez que lim n→∞ n=1 | x |n+1 = | x |< 1 pois | x |n −1 < x < 1; 2. Se ∞ X n=1 n | x | converge, então ∞ X xn converge. Logo lim xn = 0. n→∞ n=1 Voltar para Exemplo de Conjunto Estável e Instável. 48 Se a seqüência converge para um valor L, então todas as suas subseqüências também convergem para L. Demonstração Seja (xn1 , xn2 , . . . , xnk ) uma subseqüência de (xn ).Como (xn ) é convergente, dado > 0, ∃ n0 ∈ N; ⇒ |xn − L| < . Sabemos que os ı́ndices da subseqüência formam um subconjunto infinito, assim, existe entre eles ni0 > n0 . Então ni0 > n0 ⇒ ni > n0 ⇒ |xni − L| < . Logo limxni = L [7]. Voltar para “ lim |q−n − p−n | = 0 ? ” n→∞ Voltar para Exemplo de Conjunto Estável e Instável. lim |q−n − p−n| = 0 ? n→∞ Analisemos os valores das duas seqüências: p =1 0 √ = 2 p √ p −2 = 1 + 2 q p √ p −3 = 1 + 1 + 2 r q p √ p −4 = 1 + 1 + 1 + 2 s r q p √ p −5 = 1 + 1 + 1 + 1 + 2 p 0 q −1 =0 q −2 =1 −1 q q −4 −n = √ = −3 = √ q −5 = 2 p √ 1+ 2 q .. . p = −1 q 1+ p 1+ .. . 1 + p−n+1 q 49 −n = √ 1 + q−n+1 √ 2 Note que: q−2 = p0 q−3 = p−1 q−4 = p−2 , isto é, q−n = p−n+2 com n ∈ N e n ≥ 2. Verifiquemos se p−n é convergente, através das afirmações abaixo: i p−n é crescente Provemos que p−n é crescente utilizando a indução: • Para n = 0 temos p−1 > p0 , ou seja √ 2 > 1; • Supomos válido para n, p−(n+1) > p−n • Vamos provar que p−(n+2) > p−(n+1) : Por hipótese de indução, p−(n+1) > p−n ⇒ √ √ 1 + p−n > 1 + p−n ⇒ p 1+ √ 1 + p−n > √ 1 + p−n > p−n ⇒ 1+ 1 + p−n ⇒ p−(n+2) > p−(n+1) . Logo p−n é crescente. ii p−n é limitada, pois p−n < 2, ∀ n Mais uma vez baseando-se na indução, vamos demonstrar que p−n é limitada. • De fato, √ 2 < 2 ⇒ 1+ √ 2 < 1+2 ⇒ modo • Suponha p−n < 2; 50 p 1+ √ 2< √ 3< √ 4 = 2, deste • Vamos provar que p−(n+1) < 2 Por hipótese, p−n < 2 ⇒ 1 + p−n < 1 + 2 ⇒ √ 1 + p−n < √ 3 < 2 . Logo p−n é limitada. Se p−n é crescente e limitada, então ela é convergente. Por definição se lim p n→∞ −n = a, então ∀ > 0 ∃ n0 ∈ N, talque, |p−n − a| < , ∀ n > n0 . Além disso, se p−n converge então p 2 −n+2 converge e para o mesmo limite que p−n . Deste modo por definição: |q−n − p−n | = |p−n+2 − q−n | = |p−n+2 − a + a − p−n |, pela desigualdade triangular , |p−n+2 − a + a − p−n | ≤ |p−n+2 − a| + |p−n − a| < + = 2 2 Logo ∀ > 0∃ n0 ∈ N, tal que|(q−n − p−n ) − 0| < , ∀ n > n0 , ou seja lim |q−n − n→∞ p−n | = 0. Voltar ao texto. Teorema 5.1 Provemos a primeira parte: “Considere f : R → R uma função C 1 e p um ponto fixo de f com | f 0 (p) |< 1. Então existe uma vizinhança U de p tal que x ∈ U ⇒ lim f n (x) = p.” n→∞ Demonstração 51 Afirmação 2 Existe um d > 0 de maneira que 0 < |f 0 (x)| < A < 1 para todo x ∈ (d − p, d + p) = U . Isto acontece porque, sendo f C 1 , temos que f 0 é contı́nua, além disso, | f 0 (p) |< 1. Logo dada uma vizinhança T de f 0 (p) é sempre possı́vel determinar uma vizinhança U de p de modo que todo para todo x ∈ U ⇒ f 0 (x) ∈ T . Em especial isto vale para a vizinhança T = (f 0 (p) − , f 0 (p) + ), de modo que f 0 (x) ∈ T ⇒ |f 0 (x)| < A < 1, vizinhança esta que pode ser determinada porque | f 0 (p) |< 1, como mostra a figura abaixo: 1 f '(p) + E ( A f '(p) - E ( f '(x) ( p-d x ( p +d Figura 7.3: Como f é C 1 temos que f é contı́nua em [x, p] ⊂ U e derivável em (x, p). Assim, pelo Teorema do Valor Médio existe α ∈ [x, p] tal que |f 0 (α)| = temos que |f (x) − f (p)| , como α ∈ U |x − p| |f (x) − f (p)| |f (x) − f (p)| = |f 0 (α)| < A < 1 ⇒ < A < 1 ⇒ |f (x) − f (p)| < |x − p| |x − p| A|x − p| < |x − p| < d, entretanto, p é um ponto fixo: |f (x) − p| < A|x − p|. Deste modo f (x) ∈ U e está mais próximo de p do que x. Utilizando a Regra da Cadeia: |(f 2 )0 (x)| = |f 0 (f (x))| · |f 0 (x)|, 52 como f (x) ∈ U ⇒ |f 0 (f (x))| · |f 0 (x)| < A · A ⇒ |(f 2 )0 (x)| < A2 . Aplicando mais uma vez o Teorema do Valor Médio, teremos |f 2 (x) − p| < A2 · |x − p|, portanto f 2 (x) ∈ U e está mais próximo de p do que f (x). Generalizando, |f n (x) − p| < An |x − p| ⇒ f n (x) → p quando n → ∞. Demonstremos a segunda parte “ Se | f 0 (p) |> 1, então existe uma vizinhança U de p tal que x ∈ U e x 6= p ⇒ ∃k > 0 tal que f k (x) ∈ / U. ” A demonstração da segunda parte é análoga a primeira. Demonstração Sendo f de classe C 1 , existe um d > 0 tal que |f 0 (x)| > A > 1 para x ∈ f '(p) + E ( (d − p, d + p) = U , como mostra a figura abaixo: f '(p) - E ( f '(x) A 1 ( p -d x ( p +d Figura 7.4: Pelo Teorema do Valor Médio, |f (x) − p| = |f (x) − f (p)| > A|x − p|. Daı́ f (x) está mais afastado de p do que x. Generalizando, 53 |f n (x) − p| > An |x − p| Como A > 1, temos que ∃ k ∈ N, tal que |f k (x) − p| > d para x ∈ U [3]. Voltar ao texto. Espaços Métricos Uma das idéias mais importantes da Matemática é a de continuidade. A grosso modo, dada uma aplicação f : X → Y definida em um conjunto X e tomando valores num conjunto Y, diz - se que f é contı́nua no ponto a ∈ X quando é possı́vel tornar f (x) arbitrariamente próximo de f (a), desde que se tome x suficientemente próximo de a. Para que a informação anterior signifique algo, é necessário que nos conjuntos em questão exista alguma estrutura que permita falar em “proximidades”de pontos. Ora a maneira mais natural de verificar qual de dois pontos x, y, pertencentes a um conjunto X, está mais próximo de um ponto a ∈ X é medir as distâncias de x e y ao ponto a. Isto porém só será possı́vel se existir conjuntos onde a noção de distância, for previamente definida no conjunto X. Os conjuntos onde se faz sentido falar na distância entre dois pontos são denominados Espaços Métricos. Para definir Espaços Métricos é necessário definir o que vem a ser uma métrica 4 . Definição 7.5 De acordo com em Lima (2003),uma métrica num conjunto M é uma 4 Todo o trecho é baseado em Lima (1976). 54 função: d:M ×M →R (x, y) 7→ d(x, y) Ou seja uma função que associa cada par ordenado de elementos (x, y) ∈ M a um número real d(x,y), chamado distância de x a y. Além disso, é necessário que sejam satisfeitas as seguintes condições para quaisquer x, y e z ∈ M : d1 d(x, x) = 0; d2 Se x > y, então d(x, y) > 0; d3 d(x, y) = d(y, x); d4 d(x, z) ≤ d(x, y) + d(y, z) (desigualdade triangular). O Espaço Métrico é um par (M,d), onde M é um conjunto e d é uma métrica em M. Exemplo 7.18 A reta d0 : RXR → R (x, y) 7→ |x − y| Verifiquemos se a reta, com a métrica anterior, é de fato um Espaço Métrico: Demonstração 7.1 d1 d0 (x, x) = |x − x| = |0| = 0; d2 Considere x > y, então d0 (x, y) = |x − y| > 0 (por definição de módulo); d3 d0 (x, y) = |x − y| = |y − x| = d0 (y, x) (por definição de módulo); 55 d4 Sabemos que em R: |a + b| ≤ |a| + |b|. Logo pela definição de d0 : |x − z| = |x − y + y − z| ≤ |x − y| + |y − z| ⇒ d0 (x, z) ≤ d0 (x, y) + d0 (y, z). Assim R com a métrica d0 é um Espaço Métrico. Exemplo 7.19 O plano 00 d : R2 XR2 → R (x, y) 7→ p x2 + y 2 Provemos que o plano, com a métrica d00 , é um Espaço Métrico. Demonstração 7.2 Como estamos trabalhando com x, y ∈ R2 podemos escre ver x = (x1 , x2 ) e y = (y1 , y2 ). Assim: d1 d00 (x, x) = p √ (x1 − x1 )2 + (x2 − x2 )2 = 0 + 0 = 0; d2 Considerando x > y, temos d00 (x, y) = p (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 > 0, uma vez que a soma de dois quadrados é sempre positiva; d3 d00 (x, y) = p (x − y1 )2 + (x2 − y2 )2 = | 1 {z p (y1 − x1 )2 + (y2 − x2 )2 = d00 (y, x); } Como os valores estão ao quadrado a igualdade não se altera. d4 Mostremos que d00 (x, z) ≤ d00 (x, y) + d00 (y, z) ⇔ v v v u 2 u 2 u 2 uX uX uX ⇔ t (xi − zi )2 ≤ t (xi − yi )2 + +t (yi − zi )2 i=1 i=1 i=1 Isto é, pondo xi − yi = ai e yi − zi = bi teremos 6 : P2 Note que i=1 (xi − zi )2 ⇔ (x1 − z1 )2 + (x2 − z2 )2 6 Observe que somando as duas equações obtemos xi − zi = ai + bi 5 56 5 . v v v u 2 u 2 u 2 uX uX uX t (a + b )2 ≤ t (a )2 + t (b )2 . i i i i i=1 i=1 i=1 Elevando ambos os membros ao quadrado podemos perceber que de monstrar a desigualdade acima é o mesmo que provar: 2 X (ai )2 + i=1 2 X (bi )2 + 2 i=1 2 X ai .bi ≤ i=1 ⇔2 2 X i=1 2 X v v u 2 u 2 uX uX 2 t 2 t (ai ) . (bi )2 ⇔ (bi ) + 2 i=1 i=1 i=1 v v u 2 u 2 uX uX ai .bi ≤ 2t (ai )2 .t (bi )2 ⇔ i=1 ⇔ (ai )2 + 2 X 2 X i=1 i=1 v v u 2 u 2 uX uX 2 ai .bi ≤ t (ai ) .t (bi )2 . i=1 i=1 i=1 Que é uma conseqüência da desigualdade de Cauchy : " 2 X i=1 #2 ai .bi " ≤ 2 X # " (ai )2 i=1 . 2 X # (bi )2 . i=1 Logo para demonstrarmos que d00 (x, z) ≤ d00 (x, y) + d00 (y, z) devemos mostrar que a desigualdade de Cauchy é verdadeira, para tal vamos analisar a desigualdade observando 2 X os valores (bi )2 . i=1 Note que 2 X (bi )2 é sempre maior ou igual a zero, logo: i=1 57 2 X 1. Se (bi )2 = 0, então bi = 0, i = {1, 2}, portanto: i=1 " 2 X #2 " =0= ai .bi i=1 2 X 2. Se 2 X # " (ai )2 . i=1 # (bi )2 i=1 i=1 2 (bi ) > 0 o trinômio do segundo grau em λ: i=1 2 X 2 X 2 X 2 2 (bi ) λ + 2 i=1 2 (ai ) = 2 X 2 X ai .bi λ + i=1 (ai + λbi )2 ≥ 0 para ∀ λ. Logo o seu discriminante deve ser menor i=1 ou igual a zero, isto é: " 2 X 4 #2 ai .bi " −4 i=1 # " (ai )2 . i=1 " ⇔ 2 X 2 X #2 ai .bi " ≤ i=1 2 X # (bi )2 ≤0⇔ i=1 2 X #" (ai )2 i=1 2 X # (bi )2 . i=1 Logo: d00 (x, z) ≤ d00 (x, y) + d00 (y, z) 7 . Voltar para Vizinhança. Voltarpara Conjunto Limitado. Teorema do Valor Intermediário Seja f : [a, b] → R contı́nua, tal que, f (a) 6= f (b). Para cada número d ∈ R compreendido entre f (a) e f (b), existe c ∈ (a, b) tal que f (c) = d [7]. 7 A demonstração do Exemplo é baseada em Lima (1976). 58 Demonstração Consideremos f (a) < f (b) e tomemos f (a) < d < f (b). Definamos o conjunto A = {x ∈ [a, b]; f (x) < d} Vejamos que: i A 6= ∅, pois a ∈ A. ii Se α ∈ A, existe δ > 0; [α, α + δ] ⊂ A. De fato, seja α ∈ A ⊂ [a, b]. Sendo f contı́nua em [a, b], e em particular contı́nua em α, temos que dado > 0, ∃δ 0 > 0; x ∈ [a, b] e |x − α| < δ 0 ⇒ |f (x) − f (α)| < . Tomemos = d−f (x) > 0. Assim x ∈ [a, b]∩(α−δ 0 , α+δ 0 ) ⇒ f (x) ∈ (2f (x)−d, d). Logo tomando δ < δ 0 , temos x ∈ [α, α + δ] ⇒ x ∈ A. iii A é limitado, pois A ⊂ [a, b]. Por (iii), existe c ∈ [a, b], tal que c = supA. Logo, ∀ > 0 ∃ x ∈ A, tal que c − < x ≤ c < c + , ou seja, (c − , c + ) ∩ A 6= ∅. Assim c ∈ A, isto é, existe uma seqüência xn , xn ∈ A, ∀n ∈ N tal que (xn ) → c. Sendo f contı́nua, temos (f (xn )) → f (c). Como f (xn ) < d, ∀ n ∈ N, temos f (c) ≤ d. Note que, c ∈ / A pois caso contrário, se c ∈ A, terı́amos , por (iii), que existiria δ > 0; [c, c + δ] ⊂ A. Portanto f (c) = d. Voltar para a demonstração do Teorema 5.2 59 Teorema do Valor Médio e o Teorema de Rolle O uso de derivadas em Sistemas Dinâmicos Discretos é fundamental não só em definições como para determinar o comportamento de pontos fixos e periódicos. Neste tópico vamos discutir dois temas diretamente ligados a derivada: o Teorema de Rolle e o teorema do Valor Médio. Observe os gráficos das funções abaixo , bem como de suas derivadas: 2 -1 2 x +1 2x 0 1 Figura 7.5: f (x) = x2 + 1 e f 0 (x) = 2x 60 2 cos(x)+1 sen(x) 1 2 -1 0 1 2 -1 Figura 7.6: g(x) = cosx + 1 e g 0 (x) = senx As funções acima são ambas contı́nuas. Na figura 1, f está definida no intervalo h π πi π [−1, 1] e f (1) = f (−1), na figura 2, g está definida no intervalo − , eg − = 2 2 2 π = 1. Em ambos os casos as derivadas se anulam em um ponto interior ao intervalo g 2 do domı́nio, neste caso o ponto é x = 0. Tal comportamento pode ser generalizado através do Teorema de Rolle. Teorema de Rolle. Seja f : [a, b] → R contı́nua, tal que f (a) = f (b).Se f é derivável em (a, b), então existe um ponto c ∈ (a, b) onde f 0 (c) = 0. [6] Demonstração Por hipótese, f é definida num intervalo fechado e portanto num compacto. Assim, pelo Teorema de Weierstrass f atinge seu valor máximo M e seu valor mı́nimo m em pontos de [a, b]. Se esses pontos forem a e b então M=m e f será constante, daı́ f 0 (x) = 0 qualquer que seja x ∈ (a, b). Caso a e b não sejam valores extremos, sabemos que existe um c ∈ (a, b) de modo que f (c) seja igual a um valor extremo, logo c é um ponto crı́tico 61 e portanto f 0 (c) = 0. Vejamos os gráficos das funções abaixo, bem como os gráficos de suas derivadas: ln(x) 1/x 1 0,55 ,5 0 1 2 1,8 3 l Figura 7.7: f1 (x) = ln x e f10 (x) = 3 1 x 2 x +2 x 2x+2 1 -2 -0.5 0 Figura 7.8: g1 (x) = x2 + 2x e g1 0 (x) = 2x + 2 62 1 As funções representadas pelos gráficos acima são ambas contı́nuas, deriváveis no interior dos seus domı́nios e definidas num intervalo fechado. Fazendo algumas aproxiln 3 − ln 1 f1 (3) − f1 (1) = , analogamente mações o leitor poderá notar que f10 (1, 8) = 3−1 3−1 1 3−0 g1 (1) − g1 (−2) = =1= . podemos verificar que g10 − 2 1 − (−2) 1 − (−2) Tal comportamento pode nos levar a alguma generalização, entretanto antes de fazermos isso vejamos mais alguns gráficos: 3 2 x + 2x x- 0,25 x+2 -0.5 0 -2 1 -3/4 Figura 7.9: g 1 , uma reta secante e uma reta tangente Note que a reta tangente a g 1 no ponto 1 3 − ,− é paralela à reta secante à 2 4 g 1 que passa pelos pontos (−2, 0) e (1, 3), deste modo fica mais fácil determinar a reta tangente. Esta é uma interpretação geométrica do Teorema do Valor Médio. Teorema do Valor Médio. Seja f : [a, b] → R contı́nua. Se f é derivável em (a, b), existe c ∈ (a, b), tal que: f 0 (c) = f (b) − f (a) b−a 63 . [7] Demonstração 7.3 Consideremos a função auxiliar g : [a, b] → R, dada por g(x) = f (x) − dx onde d é escolhido de modo que g(a) = g(b) ou seja g(a) = g(b) = f (a) − da = f (b) − db. Assim se f (a) − da = f (b) − db da − db = f (b) − f (a) d(a − b) = f (b) − f (a) d= f (b) − f (a) a−b Sabe-se que: g 0 (x) = f 0 (x) − d. Pelo teorema de Rolle, existe c ∈ (a, b) tal que g 0 (c) = 0, ou seja: g 0 (c) = 0 = f 0 (c) − d ⇒ f 0 (c) − d = 0 ⇒ f 0 (c) = d. Se isso ocorre podemos concluir que : f 0 (c) = d = f (b) − f (a) , para algum c ∈ b−a (a, b). Voltar a demonstração do Teorema 5.4 Teorema de Weierstrass Considere os exemplos abaixo: 64 3 2.5 2 1.5 2 x -1 1 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 -1 -0.5 0 0.5 x 1 1.5 2 1 1.5 2 Figura 7.10: f (x) = x2 − 1 4 3.5 3 2 x 2.5 2 1.5 1 0.5 0 -1 -0.5 0 0.5 x Figura 7.11: g(x) = 2 x Observe que ambas as funções estão definidas em intervalos fechados, são limitadas e atingem um valor máximo e um valor mı́nimo. Em essência, esta é a idéia do Teorema de Weierstrass. Antes de discutirmos este teorema, vamos definir enunciar e demonstrar alguns resultados. Proposição 7.1 A fim de que a função f : X → R seja contı́nua no ponto a é necessário 65 e suficiente que, para toda seqüência de pontos (xn ) ∈ Xcom lim xn = a, se tenha lim f (xn ) = f (a). A demonstração fica a cargo do leitor, em [7] o leitor encontra uma sugestão de como demonstrar o teorema. Teorema 7.1 Um conjunto X ⊂ R é compacto se, e somente se, toda seqüência de pontos em X possui um subseqüência que converge para um ponto de X [7]. Demonstração 7.4 ⇒] Se X ⊂ R é compacto, toda seqüência de pontos de X é limitada, logo, por Bolzano-Weierstrass, possui uma subseqüência convergente cujo o limite é um ponto de X, pois X é fechado. [⇐ Seja X ⊂ R um conjunto tal que toda seqüência de pontos xn ∈ X possui uma subseqüência convergindo para um ponto de X. Então X é limitado porque do contrário, para cada n ∈ N poderı́amos encontrar xn ∈ X com |xn | > n. A seqüência (xn ), assim obtida, não possuiria subseqüência limitada, logo não seria subseqüência convergente. Além disso, X é fechado pois do contrário existiria um ponto a ∈ / X com a = limxn , onde cada xn ∈ X. Deste modo, qualquer subseqüência de xn terá limite a, um absurdo. Logo x é compacto. Teorema 7.2 Seja f : X → R uma função contı́nua. Se X é compacto então f (X) é compacto [7]. Demonstração 7.5 De acordo com o teorema anterior se provarmos que toda seqüência de pontos yn ∈ f (X) possui uma subseqüência que converge para pontos de f (X) então f (X) é compacto. Para cada n ∈ N temos yn = f (xn ) com xn ∈ X. Como X é compacto, a seqüência (xn ) possui uma subseqüência (xn )n∈N 0 que converge para um ponto a ∈ X. 66 Sendo f contı́nua no ponto a, se lim0 xn então lim0 f (xn ) = f (a) = b; b ∈ f (X). Deste n∈N n∈N modo, lim0 yn = lim0 f (xn ) = f (a) = b, e assim encontramos uma subseqüência de yn n∈N n∈N convergindo para um valor de f (X) e conseqüentemente f (X) é um conjunto compacto. Teorema 7.3 Teorema de Weierstrass- Toda função contı́nua f : X → R definida num compacto X é limitada e atinge seus extremos . Isto é, x1 , x2 , x3 ∈ X tais que f (x1 ) ≤ f (x) ≤ f (x2 ) para todo x ∈ X [6]. Demonstração 7.6 Do teorema anterior podemos concluir que f (X) é um conjunto compacto. Sendo um compacto, f (X) possui um valor máximo e um valor mı́nimo, isto é, existem x0 , x1 ∈ X tais que f (x0 ) ≤ f (x) ≤ f (x1 ) para todo x ∈ X. Voltar para o Teorema de Rolle. Conjunto Compacto Definição 7.6 Conjunto Compacto- Um conjunto é dito compacto quando é limitado e fechado [7]. Voltar para o Teorema de Weierstrass. Seqüências e Subseqüências de Números Reais 67 Definição 7.7 Seqüência- Uma seqüência de números reais é uma função f : N → R que associa a cada número natural n a um número real xn , chamado o n-ésimo termo de seqüencia . Exemplo 7.20 A seqüência xn = 2, 3, 4, 5... , cujo o termo geral é (xn ) = n + 1 Definição 7.8 Subseqüência- Dada uma seqüência (xn )n∈N , uma subseqüência de x é a restrição da função que define a seqüência xn a um subconjunto infinito N0 de N. Escrevemos (xn )n∈N0 para indicar uma subseqüência de (xn ). Definição 7.9 Limite de uma Seqüência- Dizemos que o número real é a é limite de uma seqüência xn lim xn = a , quando para todo > 0, podemos determinar um n→∞ n0 ∈ N tal que para todos os termos xn com ı́ndice n > n0 temos xn ∈ (a − , a + ) [7]. Simbolicamente escrevemos: lim xn = a ⇔ ∀ > 0 ∃ n0 ∈ N; |xn − a| < , ∀ n > n0 n→∞ 1 1 1 1 Exemplo 7.21 Dada a seqüencia 1, , , ..., , ... , lim = 0, logo 0 é o limite desta n→∞ 2 3 n n seqüencia. Uma seqüência que possui limite diz-se convergente. Caso contrário ela será divergente. Voltar ao Teorema de Weierstrass. Voltar ao Teorema de Bolzano -Weierstrass. Voltar para “Se a seqüência converge a subseqüência converge, ambas para o mesmo limite.” Voltar para Conjunto Fechado 68 Conjunto Limitado Definição 7.10 Um subconjunto X de um espaço métrico M chama-se limitado quando existe uma constante c > 0 tal que d(x, y) ≤ c para todo x, y ∈ X [8]. Em especial, no conjunto dos números reais, dizemos que X ⊂ R é limitado se ∀ x ∈ X temos |x| ≤ L, com L ∈ R [7]. Exemplo 7.22 Todo intervalo fechado [a, b] da reta é limitado. De fato para todo x ∈ [a, b], temos |x| ≤ b. Voltar para Conjunto Compacto. Conjunto Fechado Definição 7.11 Ponto Aderente- Um ponto a é dito ponto aderente X ⊂ R quando a é limite de alguma seqüência de pontos xn ∈ X. Decorre imediatamente da definição que todo ponto b ∈ X é aderente a X: basta tomar todos os xn = b Definição 7.12 Fecho- O fecho de um conjunto X ⊂ R é o conjunto de todos os valores de aderência a X. Denotamos o fecho por X. Exemplo 7.23 Seja X = n1 1 1 o 1 , , , ..., n , ... , temos que X = X ∪ {0}. 2 4 8 2 Definição 7.13 Conjunto fechado- Dizemos que X é um conjunto fechado se ele for igual ao seu fecho, isto é, X = X. Voltar para Conjunto Compacto. 69 Teorema de Bolzano-Weierstrass Teorema 7.4 (Bolzano-Weierstrass) - Toda seqüência limitada possui uma subseqüência convergente [7]. Demonstração 7.7 Sendo (an ) limitada, temos que o conjunto imagem A = {a1 , a2 , ..., an , ...} é limitado. Logo existem α e β tais que: α = inf A e β = supA. Definamos o conjunto X = {x ∈ R /existe no máximo um número f inito de índices n ∈ N, tais que an > x}. Note que: i X 6= ∅, pois β ∈ X ii X ⊂ [α, +∞), isto é, λ < α ⇒ λ ∈ X. Como X é limitado inferiormente existe a ∈ R tal que a = inf X. Vejamos que existem infinitos ı́ndices n ∈ N tais que an ∈ (a − 1, a + 1). Caso contrário a − 1 ∈ X, contradizendo a = inf X. Tomemos an1 ∈ (a − 1, a + 1). Da 1 1 . Tomemos mesma forma, existem infinitos ı́ndices n ∈ N tais que an ∈ a − , a + 2 2 1 1 an2 ∈ a− , a+ , com n2 > n1 . Fazendo este mesmo argumento k-vezes, encontramos 2 2 1 1 1 1 ank ∈ a − , a + com n1 < N2 < ... < nk isto é a − < ank < a + , fazendo k k k k k → ∞, teremos ank → a. Voltar para o Teorema de Weierstrass. Supremo e Ínfimo 70 Seja A ⊂ R, dizemos que a ∈ R é cota superior de A quando x ≤ a, ∀ x ∈ A. Um conjunto A é dito limitado superiormente quando possui um cota superior. Considere B ⊂ R, b ∈ R é cota inferior de B quando b ≤ x, ∀ x ∈ B. Um conjunto B é dito limitado inferiormente quando possui uma cota inferior. Decorre das definições acima, que um conjunto é limitado se ele é limitado superiormente e inferiormente. Dizemos que α ∈ A é supremo de A, isto é, α = (supA) quando: i x ≤ α, ∀ x ∈ A ii Se x ≤ c, ∀ x ∈ A ⇒ α ≤ c Ou seja, α é a menor das cotas superiores. Dizemos que β ∈ R é ı́nfimo de B, denotamos por β = (infB), quando: i β ≤ x, ∀ x ∈ B ii d ≤ x, ∀ x ∈ B ⇒ β ≥ d Baseados na definição acima, podemos concluir que β é a maior das cotas inferiores. Voltar ao Teorema de Bolzano-Weierstrass. W s de 0, 1 e -1 n ∗ lim x3 = 0, para x ∈ (−1, 1) n→∞ 71 n Como x3 é uma subseqüência de xn e, para x ∈ (−1, 1), xn → 0 quando n → ∞, n logo lim x3 = 0. n→∞ n n ∗ lim x3 = +∞, para x ∈ (1, +∞) e lim x3 = −∞ para x ∈ (−∞, −1) n→∞ n→∞ n A seqüência x3 não é limitada superiormente para x ∈ (1, +∞) e não é limitada inferiormente para x ∈ (−∞, −1), logo ela vai para +∞, quando x ∈ (1, +∞), e vai para −∞ quando x ∈ (−∞, −1). Voltar ao texto. W u de 0, 1 e -1 Temos que para x > 0, lim n→∞ √ n x = 1 (ver demonstração em [7]). Para x 6= 0, p p √ n |x| é uma subseqüência de n x, portanto, lim 3 |x| = 1. Por definição de módulo, 3n n→∞ |x| = x, para x ≥ 0 e |x| = −x, para x < 0, além disso, 3n é sempre ı́mpar para todo n ∈ N. Logo √ 3n √ √ √ n n n −x = − 3 x ⇒ lim 3 x = −1, para x < 0 e lim 3 x = 1, para x > 0. n→∞ n→∞ Voltar ao texto. Verificando Definição e Resultados de Séries de Números Reais As demonstrações das proposições que seguem, ficam a critério do leitor, estes resultados podem ser enconterados em [7]. 72 Definição 7.14 Dada uma seqüência (an ) de números reais, a soma infinita ∞ X (an ) = a1 + a2 + . . . + an + . . . n=1 é denominada série infinita ou simplesmente série. Sn = a1 + a2 + . . . + an é denominada a n-ésima soma parcial. Dizemos que a ∞ X série converge, se (an ) = lim Sn = L, com L ∈ R. n→∞ n=1 Proposição 7.2 Se ∞ X (an ), converge, então lim an = 0. n→∞ n=1 Definição 7.15 Uma série ∞ X (an ), é dita absolutamente convergente se n=1 ∞ X |(an )| con- n=1 verge. Proposição 7.3 Toda série absolutamente convergente é convergente, isto é, ∞ X |(an )| converge ⇒ ∞ X (an ) converge. n=1 n=1 Voltar para lim xn = 0? n→∞ Regra da Cadeia Um método eficaz para calcularmos a derivada da composição de funções é a Regra da Cadeia. Regra da Cadeia. Sejam f : X → R, g : Y → R, a ∈ X ∩ X 0 , b ∈ Y ∩ Y 0 , f (X) ⊂ Y e f (a) = b com X 0 e Y 0 o conjunto dos pontos de acumulação de X e de Y respectivamente). 73 Se f é derivável no ponto a e g é derivável no ponto b então g ◦ f : X → R é derivável no ponto a, com (g ◦ f )0 (a) = g 0 (f (a)) · f 0 (a) [7]. Voltar ao texto. Referências [1] ALLIGOOD, Rathlee T.; SAUER, Tid D.; YORKE, James A. Chaos: an introduction to Dynamical Systems. New York: Springer, 1996. [2] CARVALHO, Sônia P. KAMPHORSI, Sylvie O. Caos na Base Dois. Revista do Professor de Matemática, São Paulo, v. 36, p. 9-19, 1998. [3] CERQUEIRA, Aline Gomes et al. Atratores estranhos como causadores do caos. Disponı́vel em : http://www.ime.uerj.br/~progerio/iniciacao/2003/ projeto.pdf. Acesso em: 01 de novembro de 2007. [4] HOLMGREN, Richard A. A first course in Discrete Dynamical Systems. 2. ed. New York: Springer, 1996. [5] LIMA, Elon Lages. Elementos de Topologia Geral. 2. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Cientı́ficos S. A., 1976. [6] LIMA, Elon Lages. Curso de Análise. Vol 1. 4. ed. Rio de janeiro: IMPA, 1995. [7] LIMA, Elon Lages . Análise Real.Vol 1. 3. ed. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada, CNPq , 1997. [8] LIMA, Elon Lages. Espaços Métricos. 2. ed. Rio de Janeiro: Instituto de Matemática Pura e Aplicada, 2003. 74 [9] ROBINSON, Clark. Dynamical systems : stability, symbolic dynamic, and chaos. Florida: CRC Press, 1995. [10] VILLATE, Jaime E. Introdução aos sistemas dinâmicos: uma abordagem prática com o Máxima. Disponı́vel em : http://fisica.fe.up.pt/maxima/book/ sistdinam-1_2.pdf. Acesso em : 01 de novembro de 2007. 75