INSUCESSO ESCOLAR: um estudo de caso em uma escola da rede pública de João Pessoa, PB Adelly de Fátima Nunes da Silva¹, Jonatas Pereira de Lima, Andrielle dos Santos Silva, Eliete Lima de Paula Zárate, Maria de Fátima Camarotti 1. [email protected] Resumo Nas últimas décadas a educação brasileira vem passando por diversas modificações, porém essas transformações não têm sido satisfatórias para colocar o país em uma situação educacional diferenciada. O fracasso, no âmbito escolar, acarreta em evasão, reprovação e baixo rendimento na escola. O insucesso escolar é um dos assuntos da educação mais debatidos e recorrentes nas questões de políticas públicas de vários governos internacionais por fazer parte de um problema social mundial. Com objetivo de entender os fatores que levam os alunos do ensino médio de não alcançarem bons resultados de aprendizagem, foi realizada essa pesquisa, com uma abordagem qualitativa através da Pesquisa Bibliográfica e da Observação Participante. Foram aplicados questionários com 14 turmas das 1ª, 2ª e 3ª séries do ensino médio da Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Padre Hildon Bandeira, localizada na cidade de João Pessoa (PB), totalizando 208 alunos. Através dos resultados obtidos foi constatado que 51% dos alunos já reprovaram durante sua vida escolar. Ao serem questionados se gostam de estudar, 59% dos alunos afirmaram que sim. Além disso, 54% dos alunos informaram que costumam se distrair em sala de aula utilizando aparelhos eletrônicos, como por exemplo, celular, MP3 e jogos eletrônicos. Com relação à quantidade de horas de estudo fora da escola, 42% dos alunos afirmaram não estudar nenhuma hora, 36% estudam menos de uma hora, 18% estudam 1 hora por dia e 4% informaram que estudam mais de 1 hora por dia. Conclui-se, portanto, que o insucesso escolar do aluno não é uma fatalidade e que o conjunto de fatores relacionados com a escola e a família devem apresentar uma relação recíproca de responsabilidades pela aprendizagem do aluno e o seu sucesso enquanto educando. Palavras-chave: Educação brasileira. Insucesso escolar. Rendimento Escolar. Ensino Médio. Abstract In recent decades the Brazilian education has undergone several changes, however these changes were not satisfactory to put the country in a different educational status. The failure, in schools, leads to evasion, failure and low performance in school. Failure at school is one of the most debated issues and applicants in public policy issues in various international governments to be part of a worldwide social problem. In order to understand the factors that lead to high school students do not achieve good learning outcomes, this research was conducted with a qualitative approach through the Library Research and Participant Observation. Questionnaires were administered to 14 classes of 1st, 2nd and 3rd year of Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Padre Hildon Bandeira, located in João Pessoa (PB), totaling 208 students. Through the results it was found that 51% of students have reproached during their school life . When asked if they like to study , 59% of students said yes. In addition, 54% of students reported that they often get distracted in class using electronic devices, such as cell phone, MP3 and games. Regarding the number of hours of study outside of school, 42% of students said they did not study any time, 36 % study less than an hour , 18 % study one hour a day and 4 % reported studying more than 1 hour per day. We conclude, therefore, that school failure is not inevitable and that the set of factors related to the school and the family should have a reciprocal relationship of responsibility for student learning and success while educating. Keywords: Brazilian education. school failure. Educational Achievement. High School. Introdução Nas últimas décadas a educação brasileira vem passando por diversas modificações e como resultado foi possível perceber a ampliação no acesso das pessoas às escolas. Porém essas transformações não têm sido satisfatórias para colocar o país em uma situação educacional privilegiada. Assim sendo Pain (1992), acredita que a educação pode ser aproveitada de forma alienante ou libertadora, do modo como é utilizada. Quando existe a necessidade de aprender espera-se a possibilidade que os objetivos sejam alcançados, porém quando isto não ocorre existe a chance de fracassar. Assim sendo a possibilidade do insucesso faz parte da própria ideia de aprendizagem. Aprender é arriscar e viver uma verdadeira aventura que muitas vezes pode ser psicologicamente perigosa. Desse modo, algumas crianças e jovens se recusam a aprender por medo de fracassar e não conseguir alcançar suas metas (BOIMARE, 1999). No Brasil, de acordo com dados do dados do INEP (UNESCO) 26% dos alunos que começam o Ensino Médio não finalizam os estudos e acabam em média de 4 a 10 anos para concluírem o Ensino Médio. Por outro lado pesquisas recentes feitas pelo IBGE contataram que 32,2% dos jovens e adolescentes não haviam completado o ensino médio. Esses dados mostram o quanto são elevados os números de evasão escolar se comparando com outros países como a Suíça, Polônia, Áustria, Irlanda, Dinamarca e Bélgica onde o abandono escolar não passa de menos de 10%. Assim sendo, com a meta de contribuir para o desenvolvimento dessa temática, o objetivo deste trabalho é entender e buscar debater e desmistificar o insucesso escolar como forma de entender os fatores que levam o aluno do ensino médio de não alcançarem bons resultados de aprendizagem. Referencial Teórico De acordo com Ferreira (1998), fracasso apresenta o significado: “Ação de fracassar; malogro, insucesso.” No âmbito escolar pode ser designado no sentido da não aprendizagem que terminará acarretando em evasão, reprovação e baixo rendimento na escola. O insucesso escolar é um dos assuntos da educação mais debatidos e recorrentes nas questões de politicas públicas de vários governos internacionais por fazer parte de um problema social mundial. Benavente (1998) acredita que o insucesso escolar apresenta um caráter massivo, constante, precoce, seletivo e acumulativo. Seguindo esse pensamento Arroyo (2000), afirma que o insucesso escolar é basicamente como um pesadelo, não existe a possibilidade de fingir que não existem. Pesquisas e dados com altas porcentagens de reprovações, evasões e repetências comprovam mesmo que existem dados que afirmam que essas porcentagens não diminuem. Ao abordar o insucesso escolar percebe-se um grande problema em relação ao sistema educacional, dessa forma para se livrar da responsabilidade do insucesso, geralmente busca-se um culpado, alguém que possa assumir a responsabilidade pela situação educacional. Por outro lado, pesquisadores da área, como Perrenoud (2003) aponta que o sucesso escolar é entendido muitas vezes de duas maneiras: a primeira delas é quando o aluno em desenvolvimento escolar consegue alcançar de maneira satisfatória os objetivos escolares e assim dará prosseguimento ao curso e a segunda forma é quando determinado estabelecimento consegue atingir os objetivos propostos ou então atingir objetivos que o colocam acima de outros. Desse modo um estabelecimento não pode apresentar apenas o número dos bons alunos, devendo retratar a realidade escolar. O desenvolvimento escolar do aluno é um processo que ocorre na escola e com influência da família e não depende exclusivamente da família. A escola tem suas funções específicas que devem ser enfatizadas para que não se perpetue o discurso ideológico de que o desempenho depende da forma da família agir no contexto escolar do filho. No processo de aprendizagem os direitos e responsabilidades são da escola bem como os de planejamento para as necessidades individuais exigidos pela escola, como também para o rendimento escolar do aluno. Para Goddard, Tschannen e Hoy (2001), o sucesso escolar é uma construção social que se constitui, frequentemente, de crenças e concepções compartilhadas por pais e alunos. Dentre vários aspectos da dinâmica desse sucesso, faz-se necessária uma interação dos pais com o cotidiano escolar, incluindo a relação pais-professores, de modo a que ocorra um comprometimento da família com o sistema de ensino. Na construção do desempenho escolar, a qualidade da escola é tão importante quanto a valorização do conhecimento escolar por parte dos pais, pois tanto uma quanto a outra influenciam nas condições de sucesso/insucesso escolar. Sheldon e Hopkins (2002) registram que a maioria das famílias acredita que a reprovação e o insucesso de seus filhos devem-se à própria deficiência do aluno relacionado à causas mentais e motivacionais. Metodologia A realização dessa pesquisa foi pautada em uma abordagem qualitativa através da Pesquisa Bibliográfica e da Observação Participante. Para Goldenberg (1997), na pesquisa qualitativa, o pesquisador desempenha diversas funções ao mesmo tempo, fazendo o papel de sujeito e objeto da pesquisa. A pesquisa qualitativa preocupa-se com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais. Minayo (2006) acredita que a pesquisa qualitativa trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que demostra um espaço mais intenso das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser abreviados à operacionalização de variáveis. O presente trabalho contou com a elaboração e execução de questionários que foram respondidos por alunos de 14 turmas das 1ª, 2ª e 3ª séries do Ensino Médio da rede pública de João Pessoa da escola: EEEFM Padre Hildon Bandeira, localizada no bairro da Torre, tendo como público alvo 208 alunos na faixa etária de 14 a 19 anos. A realização desse trabalho foi dividida em etapas para garantir a qualidade da pesquisa. Etapa 1: Foi usada uma pesquisa bibliográfica a fim de entender a temática, proporcionando assim um levantamento, seleção e informações necessárias para elaboração do projeto. Etapa 2: Os alunos responderam o questionário. Etapa 3: Os resultados dos questionários foram analisados por meio de interpretação das respostas para ter dados suficientes. Resultados Os 208 alunos foram avaliados por meio do questionário e a partir das respostas foi possível diagnosticar o que leva o aluno a não ter um resultado satisfatório na escola. Neste sentido, é importante atribuir à responsabilidade do insucesso escolar não só ao aluno, mas a todo o sistema envolvido. Analisando os resultados obtidos (Tabela 01) foi possível observar nas respostas dos alunos, compreensões a respeito do insucesso escolar, onde uma multiplicidade de olhares se evidencia na prática pedagógica dos docentes em sala de aula e no dia a dia da escola. Um dado interessante é que os alunos em conversas falam da desmotivação, do despreparo dos professores, uma vez que a instituição de ensino enfatiza os conteúdos e métodos como fatores principais no processo pedagógico. Onde foi possível observar que 49% dos alunos, quase metade do número dos alunos que responderam ao questionário, já reprovou alguma vez. Com a reprovação os alunos acabam perdendo a motivação no aprendizado e buscam fora da escola alternativas que tiram o foco da aprendizagem. A ameaça de reprovação é uma motivação negativa que, quando muito, leva o aluno a “livrar-se” da obrigação de estudar. A retenção do aluno não é encarada como um critério positivo ao processo ensinoaprendizagem, por entender que os possíveis “atrasos” ou “defasagens” do aluno possam ser supridos ao longo do ano letivo. Esse não seria empecilho para a reprovação (PARO, 2001). Grande maioria dos alunos respondeu positivamente quanto ao ambiente escolar, dizendo que se sentem bem na escola e que frequentam as aulas todos os dias semanalmente. 80% dos alunos disseram que costumam ficar atentos ao que o professor fala na sala de aula. E é esse trabalho docente que procura investir na compreensão do que realmente é interessante para o aluno, utilizando estratégias para que esses participem no processo ensino aprendizagem e na avaliação do seu rendimento (MARCHESI; PÉREZ, 2004). Mas segundo os resultados 53% dos alunos ainda se distraem facilmente durante a aula e mais de 50% dos alunos só prestam atenção se o assunto, no entendimento deles, for interessante. Demonstrando assim que mesmo frequentando todos os dias as aulas, não é garantida a aprendizagem, já que cerca da metade dos alunos, que participaram da pesquisa, se distraem e não acompanham o professor com interesse. Mais de 50% dos alunos também afirmaram que aguardam ansiosos o término da aula e 42% disseram não estudar em casa (Tabela 02). Tabela 01 – Questionário aplicado nas três séries do Ensino Médio na escola pesquisasa da rede pública de João Pessoa-PB atendida pelo subprojeto PIBID Biologia. Perguntas Sim Não 1. Já reprovou alguma vez? 51% 49% 2. Você se sente bem estudando nessa escola? 76% 24% 3. Você gosta de estudar? 59% 41% 4. Você costuma frequentar todos os dias as aulas semanais? 5. Você costuma ficar atento ao que o professor (a) está falando? 6. Costuma se distrair em sala de aula utilizando celular, MP3 ou jogando games? 73% 27% 81% 19% 54% 46% Fonte: Dados da pesquisa, 2014. Tabela 02 - Questionário aplicado nas três séries do Ensino Médio na escola pesquisada da rede pública de João Pessoa-PB atendida pelo subprojeto PIBID Biologia. Perguntas Respostas Percentual 7. Como se sente em sala de aula? Ansioso para o intervalo 30% Feliz com a aula e não percebe o tempo passar. 14% Algumas vezes não vê a hora da aula acabar e dependendo da aula aproveitam o momento. 8. Após assistir as aulas, você costuma estudar quantas horas por dia em casa? Nenhuma hora Menos de 1 hora 1 hora Mais de 1 hora 55% 42% 36% 18% 3% Fonte: Dados da pesquisa, 2014. A falta de atenção e acompanhamento de parte dos pais junto à trajetória escolar do filho também conta muito com o insucesso escolar, visto que não existe um único responsável, mas são vários fatores, iniciando na própria família, as causas para esse fracasso. Muitas vezes há formação continuada para os professores e por motivos diversos muitas vezes sobrecarregados, desestimulados, despreparados, não conseguindo tornar os conteúdos significativos para os alunos, não participam e há a falta de apoio dos governantes que priorizam muito pouco a educação. Um fator preponderante é o descompromisso dos familiares, pensando que aprender e ensinar são papéis somente da escola. Se numa primeira fase o insucesso era apenas imputado ao aluno, isto é, à sua suposta preguiça, falta de capacidade ou de interesse, logo se tornou um problema de dimensão social, em que o insucesso passou a ser assumido como um fracasso de toda a comunidade escolar, reconhecendo a incapacidade do sistema para motivar os alunos, mantendo-os na escola e promovendo o seu sucesso. As causas do insucesso escolar estão diretamente relacionadas ao nível do desenvolvimento cognitivo do aluno, na instabilidade característica da adolescência, a desinvestir no estudo das matérias e a assumir comportamentos indisciplinados, na clivagem entre a linguagem familiar e escolar, cuja discrepância representa mais uma dificuldade acrescida à compreensão e integração dos discentes, levando-os, consequentemente, a desinteressarem-se pelo seu processo de ensino-aprendizagem, uma vez que, para prosseguirem os estudos se sentem constrangidos a abdicar da sua linguagem. Considerações Finais Ajudar os jovens a criarem uma boa identidade com a escola, a obterem resposta aos seus anseios e impedir o afastamento das famílias com a instituição, serão certamente, meios promotores do sucesso escolar. Os professores e educadores devem caminhar ao encontro das necessidades dos alunos, necessidades estas relacionadas com o seu desenvolvimento não somente cognitivo, mas também afetivo, social e motor. A escola e a família deve ter uma relação recíproca de responsabilidades pela aprendizagem do aluno, pelo seu sucesso enquanto educando. Mas também, sabe-se da importância que tem o aluno em querer aprender, políticas de acesso devem ser criadas para que o aluno permaneça na escola e que esse ambiente seja de qualidade. É muito difícil e complexo explicar as causas do insucesso escolar, uma vez que está em situação de insucesso implica uma enorme variedade de causas, cuja localização pode centrar-se ao nível do aluno e do seu ambiente restrito, ao nível da sociedade e ao nível da própria escola e do sistema educativo. Dessa forma, é importante compreender que o insucesso do aluno não é uma fatalidade e que um adolescente não está predestinado a ser um bom ou mau aluno. 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