Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(1): 21-26. Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(1): 21-26. Artigo de Revisão Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento de ST? Márcio L. Balbinotti1, André L. L. Manica1, Alexandre Quadros1, Rogério Sarmento Leite1 RESUMO SUMMARY As síndromes coronarianas agudas sem supradesnível do segmento ST (SCASSST) são um dos maiores determinantes da alta morbi-mortalidade das doenças cardiovasculares nos dias de hoje. O tratamento preconizado para estes pacientes inclui uma abordagem agressiva com anticoagulantes, antiagregantes plaquetários, beta-bloqueadores, nitratos, inibidores da enzima conversora e estatinas, além de um rigoroso controle dos fatores de risco para a doença arterial coronariana. Têm sido muito discutidos a necessidade e o melhor momento para indicação de um procedimento invasivo nos pacientes com SCASSST. Apesar dos avanços no tratamento clínico e nos procedimentos percutâneos de revascularização do miocárdio, ainda não existe uma definição clara da estratégia a ser adotada nesses pacientes. Recentemente surgiram novas publicações comparando ambas estratégias, motivando uma nova revisão acerca deste tema de suma relevância. Early Intervention or Conservative Treatment for Patients with Acute Coronary Syndrome Without ST Segment Elevation? Acute coronary syndromes without ST segment elevation are a major determinant for morbimortality in cardiovascular diseases in our days. Aggressive treatment with anticoagulants, platelet antiaggregators, betablockers, nitrates, converting enzyme inhibitors, and statins, in addition to strict control of risk factors for coronary artery disease are the indications for those patients. The need and the best point in time for the indication of an invasive procedure in patients with acute coronary syndromes without ST segment elevation have been discussed extensively. Despite advances in clinical treatment and in myocardial percutaneous revascularization procedures, no clear definition has been established yet on the strategy to be adopted for those patients. New publications have been made available recently comparing both strategies and encouraging a new review on such relevant topic. DESCRITORES: Coronariopatia, terapia. Angina instável. Infarto do miocárdio. Angioplastia transluminal percutânea coronária. Revascularização miocárdica. Fibrinolíticos. DESCRIPTORS: Coronary disease, therapy. Angina, unstable. Myocardial infarction. Angioplasty, transluminal, percutaneous, coronary. Myocardial revascularization. Fibrinolytic agents. A principalmente aquelas relacionadas aos procedimentos de revascularização miocárdica2. O tratamento preconizado para estes pacientes inclui uma abordagem agressiva com anticoagulantes, antiagregantes plaquetários (ácido acetilsalicílico, tienopiridínicos e inibidores da glicoproteína IIb/IIIa), beta-bloqueadores, nitratos, inibidores da enzima conversora e estatinas, além de um rigoroso controle dos fatores de risco para a doença arterial coronariana3. Inclui-se também, conforme as recomendações recentes da American College of Cardiology (ACC)/American Heart Association (AHA)4 e Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), a realização de investigação complementar com a cineangiocoronariografia, que define a presença, gravidade e extensão de estenoses nas artérias coronárias, permitindo a avaliação da necessidade de um tratamento invasivo, seja percutâneo ou cirúrgico. s doenças do sistema cardiovascular representam a principal causa de morbi-mortalidade no Brasil, concorrendo por 31,5% do total dos óbitos, conforme os dados do DATASUS de 20021. Compreendidas neste espectro, as síndromes coronarianas agudas sem supradesnível do segmento ST (SCASSST) são um dos maiores determinantes desta alta morbi-mortalidade, sendo responsáveis por 20% do gasto total do Sistema Único de Saúde (SUS) com internações hospitalares, 1 Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul / Fundação Universitária de Cardiologia - Serviço de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista Correspondência: Márcio L. Balbinotti. Av. Princesa Isabel, 395 CEP 90620-001 - Porto Alegre, RS - Brasil. e-mail: [email protected] Recebido em: 09/01/2006 • Aceito em 30/01/2006 21 Sarmento.p65 21 24/2/2006, 11:06 Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(1): 21-26. No entanto, quando analisamos o que ocorre na prática clínica diária, os dados do registro mundial OASIS5 de 1998 demonstram uma taxa variável de indicação da cineangiocoronariografia e de procedimentos de revascularização entre os diversos países avaliados. Um dos principais fatores responsáveis por estas discrepâncias foi a diferença na proporção de hospitais que contavam com laboratório de hemodinâmica, que variou desde 25% dos hospitais na Hungria até aproximadamente 90% dos hospitais no Brasil e nos EUA. Coincidentemente, o porcentual de indicação de cineangiocoronariografias em pacientes com SCASSST foi de 2 a 15%, na Hungria e de 60%, no Brasil e nos EUA. No entanto, mesmo com essas diferenças nas taxas de indicações de procedimentos invasivos, não houve grande diferença na incidência de infarto agudo do miocárdio (IAM) e morte cardiovascular, avaliados precocemente (7 dias) e em 6 meses, variando de 4,7% a 11%, respectivamente. te os pacientes sem doença significativa (até 20% dos casos) e aqueles com doença multiarterial e com disfunção ventricular, que são os que mais se beneficiam dos procedimentos de revascularização6. Nos últimos anos, vários estudos randomizados compararam estas duas estratégias para definir qual a melhor conduta na investigação e tratamento dos pacientes com SCASSST. Para os pacientes que são identificados como sendo de alto risco, conforme TIMI risk score7 (Tabela 1), existe consenso na indicação de cineangiocoronariografia, seguida de revascularização, quando indicada8. Em nosso meio, o escore TIMI foi recentemente validado em uma coorte prospectiva de 400 pacientes com SCASSST, tratados no Instituto de Cardiologia de Porto Alegre 9, demonstrando-se sua eficácia e reprodutibilidade na predição dos eventos. Manenti10 construiu um escore a partir da classificação de Braunwald, que mostrou forte associação com achados angiográficos e desfechos combinados (IAM, morte, necessidade de revascularização). Paradoxalmente porém, o estudo CRUSADE11 analisando 17.926 pacientes com SCASSST em todo o mundo, verificou que a estratégia invasiva não era utilizada na maioria dos pacientes de alto risco, sendo reservada para um perfil de doentes sem comorbidades importantes e com menor risco cardiovascular. Com base nestas e em outras observações, têm sido muito discutidos a necessidade e o melhor momento para indicação de um procedimento invasivo nos pacientes com SCASSST. Apesar dos avanços no tratamento clínico e nos procedimentos percutâneos de revascularização do miocárdio, ainda não existe uma definição clara da estratégia a ser adotada no tratamento desses pacientes, sendo que as duas alternativas sugeridas são a estratégia conservadora e a invasiva precoce. A estratégia conservadora reserva a cineangiocoronariografia para os pacientes que apresentem isquemia recorrente (angina de repouso ou aos mínimos esforços e com alterações dinâmicas do eletrocardiograma) ou teste funcional francamente positivo, apesar da terapêutica clínica otimizada. Já a estratégia invasiva precoce emprega a cineangiocoronariografia rotineiramente, seguida de revascularização, conforme os achados da anatomia coronariana. Com base nestes argumentos, a estratégia conservadora pouparia recursos e diminuiria os riscos associados com os procedimentos invasivos. Por outro lado, a estratégia invasiva estratificaria mais rapidamen- CARDIOLOGIA INVASIVA BASEADA EM EVIDÊNCIAS O TIMI IIIB12 foi o primeiro grande ensaio clínico randomizado que comparou as estratégias conservadora e invasiva precoce, analisando 1.473 pacientes com SCASSST e dor precordial há menos de 24 horas. Não foram observadas diferenças no desfecho combinado de morte e IAM não-fatal em 42 dias (16,2% vs 18,1%; p=0,33). Ao final de um ano, também não houve diferença de morte e reinfarto entre os grupos (10,8% vs 12,2%; p=0,42), mas os pacientes na estratégia invasiva tiveram menos angina e menos hospitalizações por isquemia (26% vs 33%; p<0,001) e necessitaram TABELA 1 Escore de risco de TIMI História / Clínica Pontos Idade ≥ 65 anos ≥ 3 fatores de risco DAC DAC conhecida (estenose > 50%) Uso de AAS nos últimos 7 dias Angina grave recente (≤24 h) Elevação de marcadores cardíacos Infra de ST > 0,5 mm TOTAL (ESCORE) 1 1 1 1 1 1 1 7 Risco de Eventos Cardíacos (%) em 14 Dias Escore Morte ou IAM 0/1 2 3 4 5 6/7 03 03 05 07 12 19 Morte, IAM ou Revascularização urgente 05 08 13 20 26 41 DAC= doença arterial coronária; AAS= ácido acetilsalicílico. 22 Sarmento.p65 22 24/2/2006, 11:06 Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(1): 21-26. menos medicações para o controle dos sintomas13. Os preditores clínicos mais significativos de insucesso e eventos cardiovasculares com a opção da estratégia conservadora foram a depressão do segmento ST na admissão, história familiar precoce de doença arterial coronária (DAC), história prévia de angina, uso de ácido acetilsalicílico e idade avançada14. O estudo MATE15 randomizou 201 pacientes, incluindo alguns com elevação de ST e sem indicação para trombólise, realizando coronariografia em até 24 horas de admissão no braço invasivo. No período hospitalar, o desfecho combinado de morte e isquemia recorrente foi maior no grupo conservador (34% vs 14%; p=0,0002), às custas basicamente dos episódios isquêmicos, uma vez que a mortalidade foi semelhante (1% vs 3%; p=0,3). O seguimento total foi de 21 meses, não havendo diferenças no desfecho combinado de morte e reinfartos nesse período (14% vs 12%; p=0,6). No estudo VANQWISH16, foram analisados 920 pacientes com SCASSST, sendo 98% pacientes do sexo masculino e de alto risco (todos com elevação enzimática). No braço invasivo, o tempo médio para a realização da coronariografia foi de 48 horas. O desfecho primário de morte ou IAM não-fatal foi maior no grupo invasivo precoce na fase intra-hospitalar (7,8% vs 3,3%; p=0,004), em 30 dias (p=0,012), mas sem diferenças ao final do seguimento de 23 meses (32,9% vs 30,3%; p=0,35). Importante considerarmos a elevada mortalidade dos pacientes submetidos à cirurgia de revascularização no período hospitalar (12%), já que esta foi realizada mais freqüentemente nos pacientes do grupo invasivo precoce (44 vs 33%), podendo ter contribuído para o pior desfecho inicial desse grupo. Em 30 dias após o procedimento percutâneo, a mortalidade foi semelhante à do grupo conservador (1,3 vs 1,0%), mesmo sem o uso de stents e inibidores da glicoproteína IIb/IIIa. Dentre os estudos mais recentes que compararam as estratégias de conduta nos pacientes com SCASSST, destaca-se inicialmente o estudo FRISC II17. O estudo avaliou 2.457 pacientes por um período de 12 meses, sendo que a revascularização dentro dos primeiros 30 dias foi realizada em 71% dos pacientes do grupo invasivo (stents usados em 61% dos pacientes) e em apenas 9% dos pacientes do grupo conservador. O desfecho primário combinado de morte e IAM em 12 meses demonstrou claramente a diminuição de eventos clínicos maiores no grupo invasivo (10,4% vs 14,1%; p=0,001), com significativa diminuição de mortalidade absoluta (2,2% vs 3,9%; p=0,016) e da ocorrência de IAM (8,6% vs 11,6%; p=0,015). Também foi significativamente menor o número de reintervenções (7,5% vs 31%; p<0,001) e de reinternações por SCA (37% vs 57%; p<0,001)18. Dentre as possíveis explicações para a superioridade da estratégia invasiva, uma maior utilização de revascularização (percutânea ou cirúrgica), associada às melhorias tecnológicas nesses procedimen- tos e a uma mais baixa mortalidade dos pacientes submetidos à cirurgia, quando comparada à dos outros estudos, seriam as mais aceitas. No estudo TACTICS-TIMI 18 19, foram avaliados 2.220 pacientes com SCASSST tratados com ácido acetilsalicílico, heparina, beta-bloqueadores e tirofiban na admissão, com subseqüente randomização para uma estratégia invasiva precoce (até 48 horas) ou para uma estratégia conservadora. No desfecho primário combinado de morte, IAM ou reinternação por SCA, em 6 meses de seguimento, houve uma redução relativa do risco de 18% no grupo invasivo (15,9% vs 19,4%; p=0,025), com o maior benefício entre os pacientes com troponina positiva. Nos pacientes tratados com a estratégia invasiva precoce, a incidência combinada de morte ou IAM foi menor (7,3% vs 9,5%; p<0,05), devido basicamente à diminuição na incidência de IAM (4,8% vs 6,9%; p< 0,05), uma vez que a taxa de mortalidade não foi diferente (3,3% vs 3,5%; p>0,05). Os pacientes que mais se beneficiaram foram aqueles com escores TIMI intermediário e elevado (3 a 7), ou com troponina elevada (14,3% vs 24,2%; p<0,001). Embora o seguimento total tenha sido de 1 ano, esses benefícios já ficaram evidentes nos primeiros 30 dias de acompanhamento. A análise de custos (Tabela 2) comparando as duas estratégias não demonstrou diferenças estatisticamente significativas em 6 meses. No entanto, devemos ter cautela ao analisar esses dados, já que os custos dos procedimentos e de seguimento clínico nos EUA e na Europa são muito diferentes daqueles no Brasil, e não dispomos de nenhuma análise nacional de custo-efetividade neste cenário. O estudo VINO20 avaliou 131 pacientes com síndrome coronariana aguda por um período de 6 meses. No grupo invasivo, 78% dos pacientes foram revascularizados, enquanto que 39% o foram no grupo da estratégia inicial conservadora. Ao final do seguimento, houve redução significativa no desfecho morte (3,1% vs 13,4%; p<0,05), IAM (3,1% vs 14,9%; p<0,05) e no desfecho combinado morte/IAM (6,3% vs 22,4%; p<0,05), em favor do grupo submetido à estratégia mais agressiva que preconizava a intervenção no primeiro dia (média de 6,2 horas). No estudo RITA 321 e na sua recente publicação de acompanhamento após 5 anos, dados interessantes podem ser analisados. Foram randomizados 1.810 pacientes com SCASSST para uma estratégia invasiva TABELA 2 Custos (TACTICS) Invasivo (US$) Conservador (US$) 14.660 06.063 20.616 12.667 07.203 19.927 Intra-hospitalar Follow-up 6 meses 23 Sarmento.p65 23 24/2/2006, 11:06 Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(1): 21-26. precoce versus conservadora guiada por isquemia ou sintomas recorrentes. Os pacientes no grupo invasivo realizavam coronariografia em 72 horas do episódio de dor torácica, desses 38% realizaram angioplastia e 26% cirurgia de revascularização. Não houve diferenças na incidência de morte ou infarto em 1 ano (3,5% vs 2,3%; p>0,05), embora após a alta hospitalar (30 dias até 1 ano) o grupo invasivo tenha apresentado significativamente menos eventos de morte e IAM (7,4% vs 10,9%; p<0,05), demonstrando que, devido ao fato de a estratégia mais agressiva ter um discreto aumento inicial na taxa de IAM relacionado ao procedimento ainda no período hospitalar, ocorre gradativamente uma diminuição no risco de eventos subseqüentes nesse grupo. Em 4 meses de seguimento, houve uma redução de 34% nos eventos isquêmicos (9,6% vs 14,5%; p=0,001), devido à diminuição principalmente na isquemia refratária (4,4% vs 9,3%; p<0,0001), com taxas similares de IAM e morte. Após 5 anos de acompanhamento, o desfecho primário composto de morte e IAM foi significativamente menor no grupo invasivo (16,6% vs 20%; OR 0,78, 95% IC 0,61-0,99; p=0,044). A mortalidade total não foi significativamente diminuída com a estratégia invasiva (12% vs 15%; p=0,05). Novamente os pacientes mais beneficiados foram os de maior risco cardiovascular (OR 0,44; IC 0,25-0,76; p=0,004) 22. No estudo de Souza et al. 23, avaliando-se 281 pacientes com SCASSST, observou-se uma significativa melhora, após 6 meses, na qualidade de vida dos pacientes que foram submetidos à revascularização (percutânea ou cirúrgica) nos primeiros 30 dias, basicamente às custas de diminuição dos episódios de angina. Em uma recente metanálise24, dados de 7 estudos foram analisados num total de pacientes envolvidos de 10.408 indivíduos, com períodos de acompanhamento que variaram de 6 meses a 5 anos. A idade média dos pacientes incluídos nestes estudos variou entre 59 e 66 anos e as taxas de revascularização foram diferentes nestes artigos, dados esses que podem influenciar diferenças nos desfechos ocorridos. Os resultados dessa metanálise demonstraram que uma estratégia invasiva precoce foi superior à inicialmente conservadora na redução de IAM, angina grave e reinternação durante o seguimento médio (17 meses) – Tabela 3. Por outro lado, o recente estudo ICTUS25 avaliou 1.200 pacientes com SCASSST de alto risco (elevação de troponina ou isquemia no eletrocardiograma), tratados com ácido acetilsalicílico e enoxaparina por 48 horas, e randomizados para tratamento invasivo precoce ou conservador. O uso de clopidogrel e estatinas em dose alta foi fortemente recomendado e abciximab foi usado durante as intervenções. Os pacientes foram intervidos em um tempo médio de 23 horas, no grupo invasivo e 11,8 dias, no grupo inicialmente conservador. O desfecho primário composto (morte, IAM nãofatal, reinternação por angina) foi avaliado em 1 ano, apresentando taxa cumulativa de 22,7% no grupo invasivo e 21,2% no grupo conservador (RR 1,07, IC 0,871,33; p=0,33). A taxa de mortalidade foi a mesma nos dois grupos (2,5%). IAM foi mais freqüente no grupo invasivo precoce (15% vs 10%; p=0,005), devido exclusivamente ao procedimento, não havendo diferenças nas taxas de IAM espontâneo. Porém, a taxa de reinternação por angina recorrente foi significativamente menor no grupo invasivo (7,4% vs 10,9%; p=0,04). Uma possível explicação para essa ausência de um maior benefício, esperado nesses pacientes de alto risco, é da melhora na terapêutica clínica medicamentosa atual, uma vez que a taxa de eventos no grupo conservador foi bem mais baixa do que a estimada, baseada em ensaios anteriores. CONSIDERAÇÕES FINAIS Devido a esses estudos citados demonstrarem, em geral, uma superioridade da estratégia invasiva precoce, os guidelines do American College of Cardiology (ACC) - American Heart Association (AHA) e European Society of Cardiology (ESC) contemplam essa abordagem para o tratamento precoce da SCASSST, especialmente no subgrupo que apresente indicadores de maior risco (angina em repouso, sintomas refratários mesmo em terapia medicamentosa otimizada, troponina elevada, depressão de ST ou instabilidade clínica/he- TABELA 3 Metanálise em SCASSST Estudo Desfecho primário TIMI IIIB MATE VANQWISH FRISC II TACTICS VINO RITA 3 Combinado (Morte, re-IAM, teste isq. positivo) Combinado (Morte, re-IAM, angina recorrente) Combinado (Morte, IAM) Combinado (Morte, IAM) Combinado (Morte, re-IAM, re-hospitalização) Combinado (Morte, IAM) Combinado (Morte, IAM) em 1 ano Combinado (Morte, IAM) em 5 anos Invasivo % 16,2 13 32,9 9,4 15,9 6,3 3,5 16 Conservador % 18,1 34 30,3 12,1 19,4 22,4 2,3 20 24 Sarmento.p65 24 24/2/2006, 11:06 p 0,33 0,0002 0,35 0,031 0,025 <0,05 >0,05 0,004 Balbinotti ML, et al. Intervenção Precoce ou Tratamento Conservador em Pacientes com Síndrome Coronariana Aguda sem Supradesnivelamento de ST? Rev Bras Cardiol Invas 2005; 13(1): 21-26. modinâmica)26,27. A estratégia invasiva precoce como rotina vem demonstrando superioridade em reduzir eventos cardiovasculares maiores, principalmente angina recorrente, rehospitalização, necessidade de revascularização urgente e sobrevida livre de infarto. Com a modernização das técnicas de intervenção e no avanço das medicações adjuntas, o risco inicial de uma terapia mais agressiva propicia um benefício clínico expressivo a longo prazo, principalmente se avaliações forem feitas além de 1 ano de seguimento e se o julgamento clínico individualizado, embasado nas evidências atuais, forem aplicados. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Ministério da Saúde. Fundação Nacional da Saúde. DATASUS. Sistema de informação sobre mortalidade 1979-2002: dados de declaração de óbito. Brasília;2002. 2. Coelho OR, Ueti OM. 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