Romantismo
O Romantismo é a primeira estética literária a reivindicar uma literatura
autenticamente brasileira e inaugura a Era Nacional da literatura. Tendo como grande
projeto a construção de uma identidade nacional, os autores desse período valorizam
os elementos nacionais para consolidar o sentimento de brasilidade nascido com a
independência política do país em 1822.
Com o que ficar atento?
No Brasil, o Romantismo durou de 1836 a 1881, teve três gerações poéticas e quatro
tendências de prosa ficcional. Também contou com obras de teatro, incluindo a de
Martins Pena, com suas comédias de costume.
POESIA
Primeira geração: marcada por forte sentimento nacionalista e religioso, tem como
principal característica o ufanismo e a exaltação da natureza pátria. Entre seus
principais representantes destacam-se Domingos José Gonçalves de Magalhães (1811 1882) - autor de Suspiros poéticos e saudades, obra que dá início ao Romantismo no
Brasil - e Antônio Gonçalves Dias (1823 - 1864) - autor da Canção do Exílio e de Os
timbiras.
Segunda geração: influenciada por Lorde Byron (1788 - 1824), ícone do romantismo
europeu, notabilizou-se por sua obsessão pela morte e associação ao “mal do século”.
Entre seus principais poetas, encontram-se Álvares de Azevedo (1831 - 1852), autor
da Lira dos vinte anos, Casimiro de Abreu (1837 - 1860), autor do poema Meus oito
anos, e Fagundes Varela (1841 - 1875), conhecido por seu Cântico do calvário, escrito
para
o
filho
falecido
prematuramente.
Terceira geração: fortemente influenciada pelo francês Victor Hugo (1802 - 1885),
tem tendência libertária e engajada, o que se confirma na produção do poeta baiano
Castro Alves (1847 - 1871), conhecido como “poeta dos escravos”. Republicano e
abolicionista, Alves deixou obras primas comoEspumas flutuantes e Navio negreiro.
PROSA
A prosa romântica brasileira nasceu de um ambicioso projeto literário que visava traçar
um panorama da história e da cultura do país. Seu principal expoente é o romancista
cearense José de Alencar (1829 - 1877), autor de romances históricos, indianistas,
regionalistas
e
urbanos,
como
Iracema.
Além de Alencar, destacam-se Joaquim Manoel de Macedo (1820 - 1882), autor de A
Moreninha, com seus romances repletos de estereótipos, e Manuel Antônio de Almeida
(1831 - 1861), autor deMemórias de um Sargento de Milícias, cujas narrativas retratam
os costumes de uma época.
Exercícios
(UEL - PR) Graças a Gonçalves de Magalhães, a majestosa mangueira substituiu os
carvalhos, o sabiá desentronizou o rouxinol da Europa, e algumas das belezas
americanas vieram, por fim, a ser cantadas com a mais pura e autêntica poesia.
Essa "mais pura e autêntica poesia" a que se refere o texto acima é a que está,
também,
a) nos poemas nacionalistas de Gonçalves Dias.
b) na lírica amorosa de Gregório de Matos.
c) nos sermões de Antônio Vieira.
d) nos textos simbolistas de Alphonsus de Guimaraens.
e) no nacionalismo crítico de Oswald de Andrade.
A
Comentário: Antônio Gonçalves Dias é o principal representante da tendência nacionalista da
primeira geração romântica brasileira, que tinha como programa estético o indianismo e a
valorização da natureza pátria.
1. (FUVEST) Poderíamos sintetizar uma das características do Romantismo pela seguinte
aproximação de opostos:
Aparentemente idealista, foi, na realidade, o primeiro momento do Naturalismo
Literário.
Cultivando o passado, procurou formas de compreender e explicar o presente.
Pregando a liberdade formal, manteve-se preso aos modelos legados pelos clássicos.
Embora marcado por tendências liberais, opôs-se ao nacionalismo político.
Voltado para temas nacionalistas, desinteressou-se do elemento exótico, incompatível
com a exaltação da pátria.
Cultivando o passado, procurou formas de compreender e explicar o presente.
Comentário:A liberdade de criação propiciou ao romântico a amplitude temática,
reforçada pela multiplicidade de assuntos que oferecia o mundo da época, com seus
conflitos, transformações e interesses.
2.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda.
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
(Álvares de Azevedo)
A característica do Romantismo mais evidente desta quadra é:
o espiritualismo.
o pessimismo.
a idealização da mulher.
o confessionalismo.
a presença do sonho.
a idealização da mulher.
Comentário:A figura da mulher é quase sempre convertida em anjo, figura poderosa
e inatingível, ou em demônio, capaz de mudar a vida do homem, de levá-lo à morte
e à loucura.
3. Minh’ alma é triste como a rola aflita
Que o bosque acorda desde o albor da aurora,
E em doce arrulo que o soluço imita
O morto esposo gemedora chora.
(Casimiro de Abreu)
A estrofe apresentada revela uma situação caracteristicamente romântica. Aponte-a.
A natureza agride o poeta: neste mundo, não há amparo para os desenganos
amorosos.
A beleza do mundo não é suficiente para mitigar a solidão do poeta.
A morte, impregnando todos os seres e coisas, tira do poeta a alegria de viver.
O poeta recusa valer-se da natureza, que só lhe traz a sensação da morte.
O poeta atribui ao mundo exterior estados de espírito que o envolvem.
O poeta atribui ao mundo exterior estados de espírito que o envolvem.
Comentário:Casimiro de Abreu é quase sempre tido como ingênuo. Poeta de enorme
popularidade, sua obra oferece um acesso fácil, musical, sem complexidade
filosófica ou psicológica, que agrada os leitores menos exigentes.
4. (FUVEST) "O indianismo dos românticos [...] denota tendência para particularizar
os grandes temas, as grandes atitudes de que se nutria a literatura ocidental,
inserindo-as na realidade local, tratando-as como próprias de uma tradição
brasileira."
(Antonio Candido, Formação da Literatura Brasileira)
Considerando-se o texto acima, pode-se dizer que o indianismo, na literatura
romântica brasileira:
procurou ser uma cópia dos modelos europeus.
adaptou a realidade brasileira aos modelos europeus.
ignorou a literatura ocidental para valorizar a tradição brasileira.
deformou a tradição brasileira para adaptá-la à literatura ocidental.
procurou adaptar os modelos europeus à realidade local.
procurou adaptar os modelos europeus à realidade local.
Comentário:A alternativa é explicitada no texto de Antonio Candido, que se refere
à inserção dos temas e atitudes da literatura romântica ocidental na realidade local,
tratando-os como próprios de uma tradição brasileira. Segundo o crítico, a realidade
local foi subordinante e os modelos europeus foram adaptados a ela. A alternativa
B, que pode ter confundido o estudante, inverte a relação entre subordinante e
subordinado, como proposta no fragmento transcrito.
5. TEXTO 1
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam mais de cem mil-réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade.
(Murilo Mendes)
TEXTO 2
lá?
ah
sabiá...
papá...
maná...
sofá...
sinhá...
cá?
bah
(José Paulo Paes)
Os textos acima parodiam importante poema de nossa literatura, cujo autor foi:
Álvares de Azevedo
Gonçalves Dias
Fagundes Varela
Gonçalves de Magalhães
Casimiro de Abreu
Gonçalves Dias
Comentário:Os textos apresentados pertencem à 1ª geração modernista, que tinha
como uma de suas características parodiar as produções literárias dos primeiros
movimentos literários nacionais. Neste caso, o poema "Canção do Exílio", de
Gonçalves Dias.
6. (FUVEST)
Cantei o monge, porque ele é escravo, não da cruz, mas do arbítrio de outro
homem.
Cantei o monge, porque não há ninguém que se ocupe de cantá-lo.
E por isso que cantei o monge, cantei também a morte.
É ela o epílogo mais belo de sua vida: e seu único triunfo.
O autor do trecho acima é um poeta da segunda geração romântica brasileira. Pelo
fato de não utilizar frequentemente um tipo de linguagem própria da geração em que
se encaixa, oscila, muitas vezes, entre a tradição clássica e o pessimismo. Trata-se
de:
Castro Alves.
Junqueira Freire.
Gonçalves Dias.
Casimiro de Abreu.
Gonçalves de Magalhães.
Junqueira Freire.
Comentário:Junqueira Freire, injustamente banido de nossas antologias escolares, é
autor de Inspirações do Claustro e Contradições Poéticas, coletâneas de poemas
românticos da 2ª geração, chamada individualista, mal-do-século, byroniana, gótica,
ultra-romântica. Conhecido como o "poeta-monge", Junqueira Freire tentou, na vida
monástica, a superação das tensões adolescentes, enclausurando-se num mosteiro
sob o nome eclesiástico de Frei Luís da Santa Escolástica. Sem vocação genuinamente
mística e ascética, a solução escapista da vida monacal chocava-se com as pulsões
eróticas e mórbidas da adolescência romântica. Sua poesia, por vezes próxima do
melhor Álvares de Azevedo, é, em grande parte, projeção desse conflito, como
demonstra o texto que encabeça a questão.
7.
Era um sonho dantesco... O tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho,
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar do açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...
(Castro Alves)
Aponte a alternativa que não se aplica ao texto:
O sonho dantesco a que se refere o poeta compõe-se de figuras humanas, os
escravos.
Sonho dantesco remete às cenas horríveis do "Inferno", descritas na Divina
Comédia, de Dante Alighieri.
O sonho dantesco expressa a indignação do eu-lírico diante do desajuste
opressor/oprimido da sociedade brasileira do século XIX.
A expressão sonho dantesco conota a recusa em admitir que o que se via era
real.
O sonho dantesco é o resultado da inadaptação do poeta ao mundo, devido a
seus conflitos exclusivamente interiores.
O sonho dantesco é o resultado da inadaptação do poeta ao mundo, devido a seus
conflitos exclusivamente interiores.
Comentário:A obra de Castro Alves é marcada pela preocupação com questões
cadentes de seu tempo, com o abolicionismo e a expansão do movimento
republicano.
8. Leia atentamente o texto abaixo
Ontem plena liberdade...
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade!
Nem são livres pra... morrer!
Prende-os a mesma corrente
Férrea, lúgubre serpente
Nas roscas da escravidão...
(...)
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus...
Sobre esse texto, não é correto afirmar que:
mostra o traço romântico do inconformismo.
dá tratamento eloquente à linguagem para tratar do tema da escravidão.
pode ser identificado com a poesia abolicionista de Castro Alves.
pelo tema que explora classifica-se na corrente social da poesia romântica.
traduz o pessimismo e o egocentrismo do poeta romântico diante da
impossibilidade de mudar o mundo.
traduz o pessimismo e o egocentrismo do poeta romântico diante da impossibilidade
de mudar o mundo.
Comentário:A alternativa e é equivocada, pois não se verificam no texto
apresentado o pessimismo e o egocentrismo, características da 2ª geração
romântica. O texto em questão corresponde à poesia da 3ª geração romântica, dita
condoreira.
9. (FUVEST)
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe - que faz a palma,
É chuva - que faz o mar.
Vós, que o templo das idéias
Largo - abris às multidões,
P'ra o batismo luminoso
Das grandes revoluções,
Agora que o trem de ferro
Acorda o tigre no cerro
E espanta os caboclos nus,
Fazei desse "rei dos ventos"
— Ginete dos pensamentos,
— Arauto da grande luz!...
(Castro Alves)
O tratamento dado aos temas do livro e do trem de ferro, nesses versos de "O livro e
a América", permite afirmar corretamente que, no contexto de Espumas Flutuantes,
o poeta romântico assume o ideal do progresso, abandonando as preocupações
com a História.
o entusiasmo pelo progresso técnico e cultural determina a superação do
encantamento pela natureza.
o entusiasmo pelo progresso cultural se contrapõe ao temor do progresso
técnico, que agride a natureza.
o poeta romântico se abre ao progresso e à técnica, em que não vê
incompatibilidade com os ciclos naturais
o poeta romântico propõe que literatura e natureza somem forças contra a
invasão do progresso técnico.
o poeta romântico se abre ao progresso e à técnica, em que não vê incompatibilidade
com os ciclos naturais
Comentário:Ao aproximar metaforicamente o livro ao "germe" e à "chuva", na
primeira estrofe, e, ao fazer o trem de ferro acordar o "tigre" e espantar "os
caboclos nus", o poeta relaciona as imagens do progresso e da técnica às sugestões
da natureza e não vê qualquer incompatibilidade entre esses dois universos, que
outros românticos concebiam antagônicos e inconciliáveis.
10. (FUVEST)
LEITO DAS FOLHAS VERDES
Por que tardas, Jatir, que tanto a custo
À voz do meu amor moves teus passos?
Da noite a viração. movendo as folhas,
Já nos cimos do bosque rumoreja.
Eu sob a copa da mangueira altiva
Nosso leito gentil cobri zelosa
Com mimoso tapiz de folhas brandas,
Onde o frouxo luar brinca entre flores.
Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,
Já solta o bogari mais doce aroma!
Como prece de amor, como estas preces,
No silêncio da noite o bosque exala.
Brilha a lua no céu, brilham estrelas,
Correm perfumes no correr da brisa,
A cujo influxo mágico respira-se
Um quebranto de amor, melhor que a vida!
A flor que desabrocha ao romper d'alva
Um só giro do sol, não mais, vegeta:
Eu sou aquela flor que espero ainda
Doce raio do sol que me dê vida.
(Gonçalves Dias)
Assinale a alternativa correta com relação ao texto.
Principalmente pela manifestação de elementos simbólicos, tais como "luar",
"vales", "bosque" e "perfumes", pode-se dizer que o poema muito se aproxima da
estética simbolista.
O poema romântico indianista recupera as antigas cantigas de amigo medievais,
para expressar o amor por meio da espera.
O poema de Gonçalves Dias demonstra profunda influência renascentista,
recebida principalmente de Camões.
Apesar da intensa presença da natureza, o poema em questão já se aproxima do
Parnasianismo, pela presença dos elementos mitológicos.
Mesmo sendo romântico, notam-se ainda no poema os aspectos marcantes do
Arcadismo, principalmente no que diz respeito ao bucolismo.
O poema romântico indianista recupera as antigas cantigas de amigo medievais, para
expressar o amor por meio da espera.
Comentário:A alternativa b é a única que contempla corretamente uma
característica relevante do poema de Gonçalves Dias: a presença de um emissor, de
um eu-lírico feminino, à maneira das cantigas de amigo da tradição medieval lusa,
de cunho provavelmente autóctone, pré-literário, anterior à influência mais
refinada da poesia trovadoresca das Cortes ocitânicas. Mas, contrariamente à
espontaneidade dos cantares de amigo, o poema de Gonçalves Dias resulta de uma
sofisticada elaboração imagética, ocultando sob o ritmo prosaico dos versos brancos
requintados jogos sonoros, que incluem o aproveitamento da sonoridade da língua
indígena: "bagari", "arasóia" etc.
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