Poeta, sim, poeta… É o meu nome. Um nome de baptismo Sem padrinhos… O nome do meu próprio nascimento… O nome que ouvi sempre nos caminhos Por onde me levava o sofrimento… Poeta, sem mais nada. Sem nenhum apelido. Um nome temerário, Que enfrenta, solitário, A solidão. Uma estranha mistura De praga e de gemido à mesma altura. O eco de uma surda vibração. Poeta, como santo, ou assassino, ou rei. Condição, Profissão, Identidade, Numa palavra só, velha e sagrada, Pela mão do destino, sem piedade, Na minha própria carne tatuada. Miguel Torga, Câmara Ardente