Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. Contexto mundial e brasileiro da invasão por espécies exóticas SÍLVIA RENATE ZILLER - INSTITUTO HORUS∗ [email protected] Espécies exóticas invasoras são atualmente reconhecidas como a segunda maior causa de perda de biodiversidade em todo o planeta, perdendo apenas para a conversão direta de ambientes. Ainda assim, configuram a primeira causa de perda de biodiversidade em ilhas e em áreas sob proteção legal. Em função da amplitude e da gravidade da problemática, determinouse pela Convenção Internacional sobre Diversidade Biológica (CBD) a criação do Programa Global de Espécies Invasoras (GISP) com vistas a aumentar o grau de conscientização e ação contra espécies exóticas invasoras. O GISP foi fundado em 1997 com sede na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e tem sua sede atual na Cidade do Cabo, na África do Sul, em função da ampla atuação no país para controle de invasões biológicas. Inúmeras publicações encontram-se disponíveis no site do GISP (www.gisp.org), oriundas de esforços de conscientização e workshops regionais realizados em todos os cantos do mundo. O Ministério do Meio Ambiente do Brasil hospedou em Brasília um desses workshops dirigido à América do Sul em 2001, do qual resultou maior reconhecimento do governo federal para com o problema na elaboração da Política Nacional de Biodiversidade (Decreto 4339 de 2002) e na realização, a ser concluída até o final de 2005, de um informe nacional sobre espécies exóticas invasoras. Outro programa vinculado à CBD e criado em 2004 é a Rede Global de Informação sobre Espécies Exóticas Invasoras (GISIN), ainda em formação. Esta Rede tem por missão localizar e tornar disponível ao público usuário da internet os conteúdos de milhares de bancos de dados sobre espécies exóticas invasoras existentes em todo o mundo. Maiores informações estão disponíveis no site do GISIN (www.gisinetwork.org). A União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN) mantém um Grupo Especialista em Espécies Invasoras (ISSG) formado por especialistas em todo o mundo e um banco de dados global sobre espécies invasoras sediado em Auckland, na Nova Zelândia. O site do Grupo (www.issg.org) disponibiliza ampla gama de informações e publicações sobre o assunto. A Rede de Informação sobre Espécies Exóticas Invasoras para a América Latina (I3N) é mantida pela Rede de Informação sobre Biodiversidade ∗ Fundadora e Diretora Executiva, Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental (www.institutohorus.org.br); Coordenadora do Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul da The Nature Conservancy (www.nature.org). [email protected] Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. (IABIN) do Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) e tem contribuído com ferramentas de informação para catalogação e ordenamento de dados de invasões biológicas em diversos países. Um projeto desenvolvido em 2005 em parceria com a I3N, o Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação Ambiental no Brasil, a Universidad del Sur na Argentina e a The Nature Conservancy levaram ao desenvolvimento de uma base de dados para registro de informações sobre espécies exóticas invasoras em três idiomas (português, espanhol e inglês), manuais operativos, ferramenta de exportação de dados em XML e interface para internet. A The Nature Conservancy lançou em janeiro de 2005 o Programa de Espécies Exóticas Invasoras para a América do Sul, que visa aumentar o nível de consciência sobre problemas decorrentes de invasões biológicas e aumentar o nível de prevenção, erradicação, controle e pesquisa nos diversos países sul-americanos. A maior parte destes não têm sequer um levantamento dos problemas existentes, sendo o assunto pouco considerado na formulação de estratégias conservacionistas ou na análise de espécies novas a serem introduzidas aos países. No Brasil, estatísticas realizadas a partir dos dados do informe nacional produzidas pela The Nature Conservancy e pelo Instituto Hórus apontam apenas 13,5% de espécies introduzidas por acidente, contra 86,5% de espécies introduzidas para algum uso econômico. Dentre as categorias de uso, o maior percentual pertence a espécies ornamentais de plantas e animais (pets), seguido de fins alimentares, espécies forrageiras e silvicultura. Os números obtidos são semelhantes às estatísticas disponíveis para a Austrália, a África do Sul e os Estados Unidos, o que vem mostrar uma tendência mundial de repetição de processos sem análise prévia de riscos ambientais existentes. Face à imensidão dos problemas criados, a Nova Zelândia e a Austrália mudaram essa tendência e têm hoje o melhor sistema de prevenção e análise de risco para introdução de novas espécies. A África do Sul segue esses passos e alguns estados dos Estados Unidos, como o Havaí, também estão no mesmo caminho. Na América do Sul, apenas as Ilhas Galápagos e algumas outras ilhas oceânicas têm restrições e inspeções severas com vistas a evitar a formação de novos problemas. No meio tempo, todo o continente apresenta hoje tendências similares. O trânsito de espécies ornamentais é intenso, há fomento para produção de espécies exóticas invasoras forrageiras, arbóreas e aquáticas, são raras as restrições existentes e o argumento econômico tem mais força para o presente do que o da capacidade produtiva dos ecossistemas para o futuro. Resumos do 56º Congresso Nacional de Botânica. Essa tendência precisa de reversão urgente para que não venhamos a equiparar números desastrosos de outros países em mais tempo. No Brasil, a situação preventiva é frágil, pois os processos de análise de risco são dirigidos exclusivamente a potenciais pragas agrícolas, não levando em conta os riscos a ambientes naturais. Num país com 20% da biodiversidade do planeta, há muito mais a perder em todos os sentidos, da biodiversidade à capacidade produtiva dos ecossistemas. Estima-se que o informe nacional vá fechar em torno de 300 espécies de flora e fauna ao final de 2005. Se os programas internacionais e principalmente o governo federal e instituições relacionadas de pesquisa e extensão rural pararem de buscar e fomentar o uso de exóticas invasoras, teremos uma redução considerável no aumento do problema, ainda que tenhamos que resolver problemas que já estão instalados – diversos dos quais são irreversíveis e demandam controle permanente, dado que a erradicação não é viável. Outro grande ganho estaria na adequação de sistemas produtivos calcados no uso de espécies exóticas invasoras. O controle de muitas espécies de valor econômico é viável e precisa ser incorporado ao manejo de cada espécie, compatibilizando a atividade econômica com o conceito de produção limpa e com normas de certificação. A lentidão no reconhecimento desse problema está criando algumas invasões irreversíveis para as gerações futuras e fazendo com que se perca a potencialmente maior facilidade de encontrar soluções no presente.