Adoção de Inovação em Sistemas de Informações para Apoio ao Ensino: Um Estudo na Área de Saúde Autoria: Gilberto Perez, Ronaldo Zwicker, Reynaldo Cavalheiro Marcondes RESUMO Este trabalho tem por objetivo analisar os principais fatores que afetam a adoção de uma inovação tecnológica em Sistemas de Informações (SI) para o ensino na área de saúde. Avaliam-se também os resultados dessa adoção para os professores envolvidos com essa inovação, qual seja, o Eclass - um tipo de sistema de informações inovador utilizado para auxiliar os professores no ensino na Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. A pesquisa foi realizada junto a docentes dos cursos de medicina, enfermagem e fonoaudiologia, no período de junho a novembro de 2006. Os dados coletados por meio de questionário foram tratados por meio da análise de regressão linear múltipla e da modelagem de equações estruturais. Os resultados da pesquisa indicaram que a adoção do EClass é influenciada por características percebidas pelo uso dessa inovação e acarretam reflexos na percepção de novas possibilidades de inovação no ensino da área de saúde. Dentre outras, as características percebidas que se destacaram na pesquisa foram a Demonstração de Resultado e a Vantagem relativa. 1. INTRODUÇÃO Os Sistemas de Informação apoiados na tecnologia vêm se tornando um componente significativo em quase tudo o que as empresas fazem e a avaliação dos benefícios relacionados aos investimentos em tecnologia é um aspecto cada vez mais importante do processo de adoção destes sistemas (NICKERSON, 2001; TURBAN et al., 2006). No campo do ensino, os sistemas baseados na WEB possibilitam inúmeras aplicações voltadas ao descobrimento, comunicação e colaboração, dentre eles, os sistemas de apoio ao ensino, de ensino a distância e trabalho a distância (TURBAN et al., 2006). A organização inovadora busca na adoção de novas tecnologias e processos a obtenção de diferenciais que permitam obter retornos melhores que seus concorrentes, oferecendo um melhor atendimento a seus clientes, o que levou diversos setores a investirem cifras cada vez maiores em Sistemas de Informações (SI) e, de forma mais abrangente, em Tecnologia de Informação (TI). Esses investimentos contemplam tecnologias que podem ser utilizadas para a coleta, criação, armazenamento, processamento, comunicação e distribuição de dados e informações. Este é o caso de algumas instituições superiores de ensino que passaram a utilizar sistemas inovadores para oferecer uma série de facilidades a seus alunos, com o objetivo de superar a pouca eficiência do processo tradicional de educação. No caso dos SI modernos a sua utilização é cada vez mais descentralizada e tem levado diferentes grupos de trabalho a atuarem de forma colaborativa em prol de um objetivo comum, o que dificilmente era possível de se conseguir com sistemas centralizados (LARSEN e McGUIRE, 1998). Na área de saúde, o investimento em inovação tecnológica constitui a regra. A inovação típica diz respeito a tecnologia de alta complexidade, por exemplo, os equipamentos de tomografia computadorizada, de ressonância magnética e de raios-x digitais. São equipamentos complexos e que necessariamente são operados por profissionais altamente especializados e dedicados ao seu uso. A utilização desses equipamentos constitui a atividade fim destes profissionais, interferindo muito pouco em rotinas organizacionais sendo que as eventuais dificuldades de sua adoção 1 podem ser superadas com o treinamento destes profissionais. Diferentemente dessa situação, a inovação em Sistemas de Informações em geral interpõe dificuldades de diversas naturezas que muitas vezes podem redundar na sua rejeição pelos usuários. No contexto da área da saúde identificou-se como uma oportunidade de pesquisa a adoção da inovação em sistemas de informação ligados ao ensino para a formação de profissionais de diversas especialidades. Dada a multiplicidade de aspectos envolvidos, a inovação propiciada por sistemas de informações para apoio ao ensino, nem sempre é percebida uniformemente. Diante das observações anteriores, definiu-se como objetivo desta pesquisa analisar os principais fatores que afetam a adoção de uma inovação tecnológica em Sistemas de Informações (SI) para o ensino na área de saúde. Doravante, os termos: fatores ou características serão utilizados com o mesmo significado. Para isso, buscou-se obter um melhor entendimento dos aspectos que participam do sucesso ou insucesso da adoção de um sistema utilizado para apoio ao ensino na área de saúde. O texto que segue relata os procedimentos e os resultados de pesquisa realizada no âmbito da adoção do EClass, um sistema de auxílio ao ensino descrito em item mais adiante, por uma grande instituição de saúde situada na cidade de São Paulo, a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, que é referência no ensino e formação de profissionais de medicina, de enfermagem e de fonoaudiologia. A aparente escassez de estudos relacionados à adoção de inovações tecnológicas de SI nessa área, em particular no Brasil, foi a justificativa do presente estudo. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA Os sistemas de informações podem ser classificados de diferentes maneiras. Do ponto de vista organizacional podemos ter sistemas de informações operacionais e sistemas de informações gerenciais. Mas também podemos considerar os SI sob a perspectiva do número de pessoas ou empresas que fazem uso deles. De acordo com essa tipologia, Nickerson (2001) relaciona cinco tipos de sistemas de informações mais comuns: individuais, para grupos de trabalho, organizacionais, inter-organizacionais e globais. No âmbito do tipo de sistema considerado na presente pesquisa, o Prontuário Médico Eletrônico se situa como um sistema de informações para grupos de trabalho e como um sistema de informações organizacionais. O EClass tanto atende a requisitos de grupos de trabalho específicos quanto a requisitos da organização como um todo. 2.1 Sistemas de Informação na Área de Saúde Blois e Shortliffe (1990) citados pela Sociedade Brasileira de Informática em Saúde (SBIS, 2006) definem a Informática Médica ou Informática em Saúde (Medical Informatics) como um campo de rápido desenvolvimento científico que lida com armazenamento, recuperação e uso da informação, dados e conhecimento biomédicos para a resolução de problemas e tomada de decisão. A Saúde é uma das áreas onde a necessidade de informação para a tomada de decisões é exemplar. Para prover estas informações existe a Informática Médica que é o campo científico que lida com recursos, dispositivos e métodos para otimizar o armazenamento, recuperação e gerenciamento de informações biomédicas. O crescimento da Informática Médica como uma disciplina deve-se, em grande parte, aos avanços nas tecnologias de computação e comunicação, à crescente convicção de que o conhecimento médico e as informações sobre os pacientes não são mais gerenciáveis por 2 métodos tradicionais baseados em papel, e a certeza de que os processos de acesso ao conhecimento e tomada de decisão desempenham papel central na medicina moderna. De acordo com Raitoharju e Laine (2006), a aceitação de SI é um dos fatores críticos de sucesso para a obtenção dos benefícios esperados a partir dos investimentos efetuados com esse tipo de tecnologia. Esses autores enfatizam que, apesar dos vários estudos sobre a aceitação de SI, muito pouco se sabe sobre quais fatores afetam o processo de adoção desse tipo de inovação tecnológica pelos profissionais de saúde. A efetiva implementação e utilização desse tipo de tecnologia na área de saúde requerem cooperação entre as pessoas, bem como o envolvimento dos médicos, enfermeiros, assistentes sociais e demais profissionais da área. Para Lee (2004), o uso de computadores no acompanhamento dos cuidados aos pacientes e documentação médica em geral representa uma mudança inovadora e um desafio significativo para as enfermeiras. Esse autor alerta para o fato de que, uma vez que os cursos de enfermagem não apresentam disciplinas envolvendo informática avançada, esses profissionais tomam atitudes negativas com relação ao uso de computadores. Atualmente estes profissionais precisam de suporte e especial atenção ao longo do desenvolvimento de sistemas voltados para o seu uso. Considerando as áreas de interesse do Congresso do Sistema Brasileiro de Informática na Saúde de 2006, algumas aplicações de SI na saúde estão relacionadas a seguir (SBIS, 2006): • Sistemas de apoio à decisão em saúde; • Sistemas de Apoio ao Ensino, Educação à Distância e Aspectos Pedagógicos; • Apoio a educação em medicina por meio da Internet; • Prontuário eletrônico do paciente; • Telediagnóstico por imagem; • Sistemas de informações em saúde; • Sistemas de informações e gestão estratégica em saúde; • Informática em enfermagem; • Sistemas clínicos e sistemas de informação hospitalar; • Tecnologias wireless em saúde; • Redes e a integração da informação em saúde; • Bioinformática. Nesta relação destacam-se os Sistemas de Apoio ao Ensino, Educação à Distância e Aspectos Pedagógicos, dentre os quais, se situa o EClass, a inovação tecnológica objeto da presente pesquisa. 2.2 Conceitos de Inovação O termo inovação vem do Latim – innovare – que significa fazer algo novo. Segundo Tidd et al. (2005) a inovação deve ser entendida como um processo que visa transformar oportunidade em novas idéias e colocá-las amplamente em prática. Ainda para esses autores, a inovação é o ato ou efeito de inovar, isto é, tornar algo novo; renovar; ou introduzir uma novidade. Esse termo, contudo, pode causa confusão, pois alguns entendem a inovação como invenção. Para Pennings (1998) pode-se entender a inovação como a adoção de uma idéia, a qual é tida como nova para o indivíduo ou outra entidade que a adota. Nesse sentido estão inclusos novos produtos ou serviços, novas tecnologias para produzir ou entregar o produto ou serviço, e 3 novos procedimentos, sistemas e arranjos sociais. Dosi (1988) cita o processo de inovação como: busca e descoberta, experimentação, desenvolvimento, imitação e adoção de novos produtos, novos processos de produção e novas formas organizacionais. Tushman e Nadler (1997) consideram que a inovação aplicada a produto, serviço ou processo deve ser encarada como forma de competir em ambientes dinâmicos com contínuas mudanças tecnológicas, os quais levam as empresas a adotarem a inovação no seu dia-a-dia. Schumpeter (1982) alerta para o fato de que a inovação pode assumir várias formas; não sendo necessário que se invente algo novo, podendo mesmo submeter uma idéia já existente a uma nova forma de realizá-la ou uma nova situação. Na ótica do usuário da inovação, Engel et al. (2000) consideram que uma inovação é qualquer idéia ou produto percebido pelo consumidor potencial como sendo algo novo. Para Jelinek (1997) inovação é uma atividade coletiva que ocorre com o passar do tempo e com a revisão contínua dos alicerces cognitivos e compartilhados dos participantes. Para Drucker (2004) a inovação pode ser introduzida por meio de mudanças capazes de criar novas melhorias de desempenho organizacional. A inovação pode ocorrer de forma não homogênea, isto é, pode ser introduzida em graus ou níveis diferentes, desde o nível mais simples, até o mais complexo. Basicamente ela pode ocorrer de duas formas: a inovação na forma de mudanças em produtos e serviços e a inovação na forma como o produto ou serviço passa a ser produzido ou oferecido (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2005; TUSHMAN e NADLER, 1997). Apesar da inovação e da tecnologia caminharem lado a lado, a inovação não implica necessariamente na criação, produção e comercialização apenas dos maiores avanços daquilo que é tido como o estado da arte em tecnologia (inovação radical). Ela também pode incluir mudanças em pequena escala nas tecnologias já utilizadas atualmente, caracterizando uma melhoria, mudança gradativa ou inovação incremental (TIDD, BESSANT e PAVITT, 2005). Entre os dois extremos a literatura apresenta um nível intermediário denominado inovação sintética (FREIRE, 2002). 2.3 Difusão e Adoção da Inovação A difusão de uma inovação é o processo de sua comunicação em determinado contexto social envolvendo indivíduos e grupos, geralmente integrantes de uma organização. Por sua vez, a adoção de uma inovação também é um processo, no qual, os indivíduos e grupos decidem pelo seu uso, como melhor curso de ação disponível. A contrapartida da adoção é a rejeição, ou seja, quando ocorre a decisão pela não adoção. Rogers (2003) define a difusão de uma inovação como um tipo de comunicação social, no qual as mensagens transmitidas estão relacionadas com novas idéias. A difusão é o processo pelo qual uma inovação é comunicada ao longo do tempo, por meio de determinados canais, entre os vários membros de um sistema social. Nas últimas décadas vários autores estudaram as principais características ou atributos percebidos em uma inovação que facilitam a sua adoção, inclusive as inovações em TI (ROGERS, 1983; MOORE e BENBASAT, 1991; KARAHANNA et al., 1999; TENG et al., 2002; AHUJA e THATCHER, 2005). Em princípio a forma pela qual uma inovação é adotada depende diretamente dos atributos percebidos nessa inovação por seus usuários. A identificação de cinco características percebidas da inovação é derivada da pesquisa de Rogers (1983) e da literatura sobre a difusão de inovação. Larsen e McGuire (1998) referem4 se a tais características como sendo universais para estudos de adoção de inovações. O Quadro 1 resume as cinco características referidas. Quadro 1 - As cinco características percebidas em uma inovação Característica Vantagem Relativa Compatibilidade Complexidade Descrição Grau com o qual uma inovação é percebida como sendo melhor que seu precursor. Grau com o qual uma inovação é percebida como sendo consistente com valores existentes, necessidade e experiências passadas dos adotantes potenciais. Grau com o qual uma inovação é percebida como sendo difícil de se usar. Observabilidade Grau com o qual o resultado de uma inovação é observável pela organização. Experimentação Grau com o qual uma inovação pode ser experimentada antes da adoção. Fonte: Rogers (1983) Em complemento a essas características apontadas por Rogers, outras duas adicionais foram identificadas na pesquisa de Moore e Benbasat (1991): a imagem e o uso voluntário, conforme mostra o Quadro 2. Esses últimos autores desenvolveram um instrumento geral para ser utilizado na avaliação das várias percepções que um indivíduo pode ter sobre as características de uso de uma inovação. Tais percepções decorrem do seu envolvimento com o processo de adoção, por exemplo, de uma inovação tecnológica na forma de um novo sistema de informações. Quadro 2 - Características percebidas no uso de uma inovação tecnológica Característica Descrição Autor (es) Vantagem Relativa Grau em que uma inovação é percebida como melhor que seu precursor. Rogers (1983) Compatibilidade Grau em que uma inovação é percebida como consistente com valores, necessidade e experiências dos adotantes potenciais. Rogers (1983) Experimentação Grau em que uma inovação pode ser experimentada antes da adoção. Rogers (1983) Facilidade de Uso Grau em que uma inovação é percebida como fácil de se usar. Imagem Uso Voluntário Visibilidade Demonstração de Resultado Grau em que o uso de uma inovação é percebido para melhorar a imagem de um indivíduo ou status de um sistema social. Grau em que o uso de uma inovação é percebido como voluntário ou espontâneo. Moore e Benbasat (1991) Moore e Benbasat (1991) Moore e Benbasat (1991) Grau em que uma inovação se torna visível para os indivíduos ou grupos de uma organização. Moore e Benbasat (1991) Grau em que os resultados do uso de uma inovação são tangíveis. Moore e Benbasat (1991) Fonte: Adaptado de Moore e Benbasat (1991) 5 Moore e Benbasat (1991) adotaram em seu estudo o termo facilidade de uso em substituição a complexidade identificada por Rogers (1983). Além disso, aqueles autores introduziram duas novas características: a visibilidade que derivou da característica observabilidade e a demonstração de resultado. As características percebidas de uma inovação estudadas por Moore e Benbasat foram utilizadas nos procedimentos metodológicos e serão apresentadas em item mais adiante. 2.4 EClasss - Sistema para Apoio ao Ensino O EClass (@Class) é um sistema de apoio ao ensino que fornece um meio rápido e fácil de inserir informações e materiais utilizados pelos docentes, para que o corpo discente possa acessá-lo de forma igualmente ágil. O sistema (atualmente na versão 1.1) tanto permite aos professores colocarem avisos para seus alunos, como permite aos alunos se comunicarem com seus professores por meio de avisos. Um recurso também disponível nesse sistema é o Fórum, por meio do qual pode ocorrer a comunicação entre o professor e seus alunos, de forma interativa. A instituição pretende, também, colocar no sistema as chamadas aulas magnas, ou palestras de professores e pesquisadores visitantes. O Eclass é um ambiente de aprendizagem e tem relevância na Faculdade por ser uma instituição de ensino. É uma ferramenta adicional oferecida aos alunos e que tem por objetivo a melhoria da qualidade do ensino. Esse ambiente informacional flexibiliza para professores e alunos a disponibilidade de material didático pedagógico. É importante ressaltar que o sistema foi desenvolvido na plataforma PHP com servidor Linux®, portanto, é de fácil acesso. O sistema executa em qualquer tipo de ambiente WEB. Para a instituição é fácil colocar num ambiente Linux, pois tem custos relativamente baixos em termos de servidor e de sistemas operacionais, por ser uma plataforma livre, de ambiente livre e software livre. O uso do Eclass é voluntário e todo professor tem acesso ao ambiente, uma vez que é proporcionado um treinamento para que ele possa utilizá-lo. A estratégia da direção da Faculdade foi adotar o sistema como uma ação institucional, ou seja, como uma inovação da própria instituição como parte de uma política institucional que tem como meta a utilização deste ambiente. Por esse motivo é que se decidiu por não impor a todos os professores a utilização, mas sim, facilitar a criação de uma cultura internamente para a sua utilização. A área de TI da Faculdade realizou vários cursos de capacitação e treinamento aos professores, sobre a disponibilização de conteúdo, a elaboração de fórum e a estatística de acesso dos alunos. Com relação aos alunos, não houve necessidade de treinamento, pois eles entram no sistema e escolhem o professor e, a partir daí, decidem a área que vão acessar. Com relação à, não se fez uma avaliação sobre a percepção dos professores ou alunos. Alguns professores são entusiastas de informática e gostam de trabalhar com esse ambiente e disponibilizam bastante conteúdo na rede. O nível de utilização está maior e a faculdade começa a pensar em verificar o nível de satisfação dos professores e de alunos 2.5 Perfil da Instituição Pesquisada A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo se consolidou durante a década de 1950 pela atividade de profissionais que voluntariamente atendiam os doentes. Documentos dessa época registraram essa iniciativa do corpo clínico, como se percebe em ofício enviado àquela época à mesa administrativa, datado de 20/04/1956 e assinado por representantes do Corpo Clínico da época. Daquela época histórica até os dias de hoje, muito ganhou a Faculdade (FCMSCSP, 2006). 6 Embora de início tivesse de contar com a presença de docentes de outras instituições, como a Faculdade de Medicina da USP, a Escola Paulista de Medicina, o Instituto Oscar Freire, o Hospital AC Camargo, o Hospital Emílio Ribas, o Hospital do Juqueri e o Instituto Butantã, progressivamente seus próprios docentes foram se titulando. Muitos obtiveram a titulação de livres-docentes, outros complementaram seus mestrados e doutorados em outras instituições e a maioria foi, lenta e progressivamente, se titulando na própria Faculdade, após a criação de seus diversos cursos de pós-graduação. Hoje são 410 docentes, dos quais 270 são titulados (FCMSCSP, 2006). A Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo está inserida no Complexo Hospitalar da Irmandade de Misericórdia da Santa Casa de São Paulo. O Hospital Central conta com cerca de 770 leitos, 50 salas cirúrgicas, 5 subdivisões de emergência (Pediatria, Cirurgia, Clínica Médica, Obstetrícia e Ginecologia, Ortopedia e Traumatologia), Unidades de Tratamento Intensivo e toda a infra-estrutura de suporte diagnóstico e procedimentos. Executa todos os tipos de atendimentos, incluindo-se transplantes de órgãos (córnea, rim, coração, medula óssea e fígado) (FCMSCSP, 2006). 3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para se atingir o objetivo geral do trabalho, qual seja analisar os principais fatores que afetam a adoção de uma inovação tecnológica em Sistemas de Informações (SI) para o ensino na área de saúde, estabeleceu-se como objetivos específicos: (a) avaliar o impacto causado pelos diferentes fatores determinantes da adoção da inovação tecnológica; (b) identificar os resultados obtidos pela sua adoção e (c) avaliação do modelo de equações estrutural proposto. A opção foi por uma abordagem metodológica quantitativa, com a intenção de se quantificar a dependência da adoção da inovação das características percebidas pelo uso de uma inovação, segundo os conceitos de Rogers (1983) e Moore e Benbasat (1991). O estudo enfocou os aspectos de adoção, uso da tecnologia e os resultados decorrentes da adoção e uso. Utilizou-se para a coleta das informações um questionário composto por perguntas fechadas que foi respondido pelos diversos usuários do EClass: professores das áreas de medicina, enfermagem e fonoaudiologia. A amostra adotada foi do tipo não probabilístico por conveniência, tendo em vista a sua delimitação a um ambiente específico. Como técnica de análise dos dados obtidos foi utilizada a Modelagem de Equações Estruturais (Structural Equation Modeling - SEM). A SEM não designa uma técnica única, mas uma família de procedimentos relacionados (KLINE, 2005). Para Hair et al. (2005), a SEM engloba uma família inteira de modelos conhecidos por muitos nomes, entre eles a análise de estrutura de covariância, análise de variável latente, análise fatorial confirmatória, ou simplesmente análise LISREL. A Modelagem de Equações Estruturais utiliza uma série de relações de dependência simultaneamente sendo particularmente útil quando uma variável dependente se torna independente em subseqüentes relações de dependência (HAIR et al., 2005). Esse conjunto de relações, cada uma envolvendo variáveis dependentes e independentes, é a base da SEM. Para avaliar a adoção de uma inovação em SI, no âmbito das características percebidas, adoção e resultado do uso, foi utilizada uma adaptação do instrumento desenvolvido por Benbasat e Moore (1991). Um questionário quantitativo com 33 perguntas fechadas foi aplicado junto aos usuários do EClass. 7 O modelo considerado pela modelagem de equações estruturais está representado na Figura 1. Nesse modelo observa-se que o uso de uma inovação tecnológica é determinado pelas características percebidas pelo uso dessa inovação. Esse uso é inferido a partir da declaração pelo usuário sobre o grau de uso da inovação, bem como pela declaração de intensificar o seu uso. Como conseqüência disso se estabelece a percepção de novas alternativas de melhorias em processos e serviços, alternativas de desenvolvimento de novos processos e serviços, e de perspectivas para mais inovações. Figura 1 - Modelo de Equações Estruturais proposto Uma ilustração desse processo pode ser feita, por exemplo, pela adoção de um sistema de apoio ao ensino na área de saúde. A partir do momento em que os professores começam a perceber as características do sistema, ele passa a ser utilizado rotineiramente por esses usuários. Como conseqüência desse uso os profissionais podem executar melhor o seu trabalho, atender seus alunos de forma mais efetiva e criar novas formas de executar suas tarefas. Na medida em que estes resultados são percebidos, novas idéias são formuladas e novas perspectivas de inovação ficam aparentes. A partir do modelo apresentado na Figura 1 foram formuladas as seguintes hipóteses do estudo, com referência às características percebidas pelo uso de uma inovação tecnológica na área de saúde, a serem testadas: H1: A característica Vantagem Relativa afeta significativamente a adoção de uma inovação tecnológica. H2: A característica Uso Voluntário afeta significativamente a adoção de uma inovação tecnológica. 8 H3: A característica Compatibilidade afeta significativamente a adoção de uma inovação tecnológica. H4: A característica Imagem afeta significativamente a adoção de uma inovação tecnológica. H5: A característica Facilidade de Uso afeta significativamente a adoção de uma inovação tecnológica. H6: A característica Demonstração de Resultado afeta significativamente a adoção de uma inovação tecnológica. H7: A característica Visibilidade afeta significativamente a adoção de uma inovação tecnológica. H8: A característica Experimentação afeta significativamente a adoção de uma inovação tecnológica. Com relação aos resultados da adoção de uma inovação, a hipótese formulada foi a que segue: H9: Os processos e serviços são impactados positivamente pela adoção de uma inovação tecnológica. 4. ANÁLISE DOS DADOS A composição mínima da amostra baseou-se em recomendações de Hair et al. (2005), que sugere um número de 5 a 10 questionários (observações) preenchidos por variáveis latentes formativas estudadas (caminhos que recebem seta no modelo estrutural). No caso do presente estudo foram nove (9) variáveis para atender ao modelo proposto. Para o tratamento dos dados foi utilizado o software SmartPLS® Versão 2.0.M3, executado em ambiente Windows XP®, para a validação do modelo estrutural proposto originalmente. Em todas as etapas adotou-se a mesma parametrização indicada por seu fornecedor. Ao se executar o algoritmo de bootstrapping para calcular os valores do teste t utilizou-se o número 500 para o total de simulações aleatórias e n para o tamanho de cada amostra. Segundo Hair et al. (2005), esse procedimento é um tipo de reamostragem aleatória na qual os dados originais são repetidamente processados com substituição para estimação do modelo. As variáveis utilizadas no modelo estrutural proposto foram obtidas pelas assertivas do questionário quantitativo aplicado aos usuários do EClass e estão indicadas no Quadro 3. As variáveis utilizadas para a avaliação do uso de uma inovação foram: P_US1 e P_US2. As assertivas para obtenção das variáveis relativas às características percebidas de uso da inovação tecnológica estudadas (v1 a v27) foram elaboradas com base no instrumento resultante do estudo de Moore e Benbasat (1991). O indicadores do resultado do uso do EClass foram obtidos por meio das variáveis v28 a v33. 9 Quadro 3 - Variáveis utilizadas no modelo estrutural Assertiva Variável Considero-me um usuário intensivo do EClass Assim que possível pretendo utilizar mais intensamente o EClass Meus superiores não me obrigam a utilizar o EClass Usando o EClass posso realizar minhas tarefas mais rapidamente Eu tive várias oportunidades de experimentar aplicações para o EClass As pessoas da minha instituição que usam o EClass têm um perfil diferenciado O uso do EClass torna mais fácil a realização do meu trabalho Acredito que é fácil utilizar o EClass para fazer o que eu preciso fazer Acredito que posso comunicar aos outros as conseqüências do uso do EClass O uso do EClass me possibilita um maior controle do meu trabalho Entendo que o uso do EClass ajusta-se bem à forma que eu gosto de trabalhar O uso do EClass não é percebido em minha instituição As pessoas da minha instituição que usam o EClass têm maior prestígio do que aquelas que não usam Antes de decidir a usar o EClass eu pude experimentá-lo corretamente O uso do EClass melhora a qualidade do meu trabalho Minha interação como o EClass é clara e de fácil compreensão Os resultados do uso do EClass são aparentes para mim É fácil observar outras pessoas utilizando o EClass em minha instituição Não tenho dificuldades para explicar por que o uso do EClass pode ou não ser benéfico Embora seja útil, usar o EClass não é obrigatório em meu trabalho Na minha instituição pode-se encontrar o EClass em vários computadores No geral, acredito que o EClass é fácil de ser utilizado O uso do EClass ajusta-se ao meu estilo de trabalho Aprender a usar o EClass é fácil para mim O uso do EClass é compatível com todos os aspectos do meu trabalho Me foi permitido usar o EClass a título de teste, o tempo suficiente para entender o que poderia fazer O uso do EClass melhora minha efetividade no trabalho Não tive dificuldades para dizer aos outros sobre os resultados do uso do EClass Usar o EClass é um símbolo de status em minha instituição O uso do EClass possibilita a criação de novos serviços ou processos O uso do EClass permite melhorar a forma de realizar serviços ou processos atuais O uso do EClass permite a criação de serviços ou processos diferenciados O uso do EClass possibilita inovar a forma de executar minhas funções administrativas O uso do EClass permite ter acesso a novos conhecimentos O uso do EClass propicia novas alternativas para o método de ensino P_US1 P_US2 V1 V2 V3 V4 V5 V6 V7 V8 V9 V10 V11 V12 V13 V14 V15 V16 V17 V18 V19 V20 V21 V22 V23 V24 V25 V26 V27 V28 V29 V30 V31 V32 V33 Após os trâmites formais e com o aval da direção da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, o questionário foi aplicado aos professores envolvidos com o uso do EClass. O retorno das respostas correspondeu a 44 questionários, os quais foram considerados todos válidos. Em três questionários foram deixadas algumas questões em branco e adotou-se o valor médio para elas, com o intuito de não descartar os questionários por completo. A Tabela 1 sintetiza o perfil da amostra e do universo de respondentes. 10 Tabela 1 - Perfil dos participantes da pesquisa Área no. de usuários % do universo no. de % de respondentes / respondentes respondentes no. de usuários Medicina 62 72,9% 31 70,5% 50,0% Enfermagem 11 12,9% 6 13,6% 54,5% Fonoaudiologia 12 14,1% 7 15,9% 58,3% Total 85 100,0% 44 100,0% 51,8% 4.1 Avaliação do Modelo de Mensuração Os resultados do processamento do modelo estrutural proposto mostraram-se adequados, ou seja, praticamente todas as variáveis observadas (v1 a v33) apresentaram valores de correlação iguais ou superiores a 0,70, conforme recomendação de Tenenhaus et al. (2004). Levanto-se em conta esse limite, retirou-se apenas a variável v19 (valor de correlação 0,61) do construto Visibilidade. Após esse ajuste efetuou-se novo processamento. O resultado da apuração do modelo está apresentado na figura 2. v13 v21 v23 0,909 0,860 v11 -0,030 0,867 0,897 v4 v14 v20 v22 v6 v15 v17 v26 v7 Imagem 0,854 0,867 0,947 0,892 0,800 0,226 0,160 R esultado do Uso 0,820 0,604 0,907 Facilidad e de Uso 0,919 0,801 D emonstração de Resultado 0,962 Visibilidade 0,880 v29 0,891 v30 0,714 v31 0,780 0,769 P_U S2 v32 v33 -0,084 0,809 0,903 0,916 v28 0,672 0,789 0,042 v18 0,769 Uso 0,376 v1 0,828 Uso Voluntário P_U S1 0,859 0,883 v8 Vantag em R elativa 0,017 0,221 v5 0,932 C ompatibilidade 0,768 v27 v25 0,886 0,914 0,961 v9 v2 0,737 v10 0,836 v16 Experimentação 0,856 v12 v24 v3 Figura 2 - Apuração do modelo ajustado As tabelas 2 e 3, a seguir, apresentam os principais indicadores obtidos para o modelo ajustado, sem a variável v19. Na tabela 2 observa-se que os valores obtidos para o Alfa de Cronbach são superiores a 0,60 o que é recomendado pela literatura como valor de corte (HAIR et al., 2005). O mesmo aconteceu com a variância média explicada (VME) e com a com a confiabilidade composta, ambos com valores sempre acima de 0,50 conforme recomendado por Tenenhaus et al. (2004). 11 Tabela 2 - Indicadores da apuração do modelo ajustado Variável Alfa de Cronbach VME Compatibilidade 0,896320 0,829492 0,910765 0,935750 Demonstração de Resultado 0,880505 0,737662 0,858873 0,918072 Experimentação 0,627064 0,722529 0,850017 0,838265 Facilidade de Uso 0,628332 0,560213 0,748474 0,790206 Imagem 0,889063 0,749493 0,865733 0,922873 Uso Voluntário 0,828351 0,715579 0,845919 0,882568 Vantagem Relativa 0,877350 0,620919 0,787984 0,906759 Visibilidade 0,607988 0,670137 0,818619 0,802471 Uso 0,924087 0,772961 0,879182 0,943884 Resultado do Uso 0,874890 0,885539 0,941031 0,939265 √VME Confiabilidade Composta Para melhor compreensão dos resultados obtidos pela modelagem de equações estruturais, colocaram-se na diagonal da Tabela 2 os valores da raiz quadrada da variância média explicada da Tabela 1. Uso Resultado do Uso Uso Voluntário Vantagem Relativa Visibilidade USO Imagem Facilidade de Uso Visibilidade Imagem Vantagem Relativa Facilidade de Uso 0,8500 2 0,5952 9 0,6534 7 0,4655 6 0,8195 9 0,4260 8 0,6733 7 0,3832 6 Uso Voluntário Experimentação 0,8588 7 0,7336 0 0,7833 4 0,7707 0 0,6565 1 0,7052 8 0,3054 1 0,8281 7 0,5561 0 Resultado do Uso Demonstração de Resultado Experimentação Compatibilidade Demonstração de Resultado Compatibilidade Tabela 3 - Correlações entre as variáveis no modelo ajustado 0,7879 8 0,3084 5 0,7043 5 0,4111 7 0,8186 2 0,3290 2 0,1385 3 0,8791 8 0,3447 4 0,9410 3 0,9107 7 0,8002 4 0,6523 6 0,6156 6 0,7586 0 0,5602 8 0,6744 0 0,4041 2 0,7046 8 0,5598 8 0,7484 7 0,7433 7 0,4564 8 0,5600 0 0,3075 6 0,6707 7 0,5646 1 0,8657 3 0,4345 5 0,5603 6 0,3956 4 0,5843 9 0,3987 7 0,8459 2 0,6374 5 0,0688 9 0,6008 1 0,3001 3 Tenenhaus et al. (2004) recomendam que o valor da raiz quadrada deva ser maior que as correlações entre as variáveis em que elas se localizam (valores das linhas e colunas). Tal fato se confirmou, como pode ser verificado nos valores destacados na diagonal da Tabela 3. Este procedimento, denominado validade discriminante, visa testar se as variáveis latentes estudadas deveriam ser agrupadas ou não. Um agrupamento ocorreria caso fosse detectado um valor para a raiz quadrada menor que a correlação entre as variáveis. 12 4.2 Validação do Modelo Estrutural Na Figura 2 podem ser identificados os coeficientes de regressão associados a cada uma das variáveis observadas (Vantagem Relativa, Uso Voluntário, Compatibilidade, Imagem, Facilidade de Uso, Demonstração de Resultado, Visibilidade e Experimentação) e o quanto eles impactam na variável latente Uso, bem como o quanto essa última afeta a variável latente Resultados do Uso. Os coeficientes de regressão padronizados indicam o quanto cada construto afeta as variáveis latentes, quando essas aumentam de uma unidade. A Demonstração de Resultado apresenta o maior coeficiente de regressão (0,376) com a variável Uso, ou seja, quando a variável Uso aumenta em uma unidade, a maior contribuição para essa variação vem da Demonstração de Resultado. Por sua vez, a variável Uso apresenta um coeficiente de regressão igual a 0,820 com relação à variável Resultados do Uso. Na Figura 2 observa-se que os coeficientes de regressão padronizados das variáveis Compatibilidade e Experimentação apresentam valores negativos (-0,030 e -0,084). Apesar de serem valores baixos eles merecem uma análise. Uma explicação para a Compatibilidade pode ser dada pelas experiências passadas dos professores que o adotaram, bem como, o fato do EClass ter afetado muito a sistemática de ensino. Com relação à Experimentação, na realidade, os usuários não puderam utilizar o sistema durante um tempo determinado antes de adotá-lo. As demais variáveis (Vantagem Relativa, Uso Voluntário, Imagem, Facilidade de Uso, Demonstração de Resultado e Visibilidade) afetam positivamente o Uso do EClass. Na figura 2 também se observam os valores dos coeficientes de determinação da variância (R2) das variáveis dependentes Uso e Resultados do Uso. Esses coeficientes indicam o percentual de variância da variável dependente que é explicado pelas variáveis independentes. Os valores de R2 obtidos estão no interior dos círculos que representam essas variáveis. No caso da variável Uso o valor do coeficiente de determinação da variância (R2) obtido foi de 60,4%. Esse resultado está de acordo com a proposição de Rogers (2003), para o qual as cinco características percebidas em uma inovação explicam de 49% a 87% da sua taxa de adoção. No caso da variável Resultado do Uso o valor do coeficientes de determinação da variância (R2) obtido foi de 67,2%. Para a validação do modelo estrutural foi utilizado o algoritmo de bootstrapping (amostragem aleatória) do software SmartPLS com o parâmetro 500 para o número de casos e amostras. Esse procedimento teve como objetivo realizar 500 simulações com o conjunto de dados para a obtenção dos resultados do teste da distribuição t de Student. Os resultados do teste t dependem do número de questionários respondidos. Para uma amostra de 44 respondentes (graus de liberdade) o valor da distribuição t de Student é 2,01, para um intervalo de confiança de 95% e significância 0,05 (BUSSAB; MORETTIN, 2003). O teste t de Student serviu para testar a hipótese de que os coeficientes de correlação/regressão seriam iguais a zero. Caso o resultado do teste t fosse igual ou superior a 2,01 a hipótese seria rejeitada, ou seja, a correlação seria significante. No processamento do algoritmo de bootstrapping observou-se que as variáveis latentes Compatibilidade e Imagem apresentaram, respectivamente, os valores 0,755 e 0,656 para o teste t, os quais são inferiores a 2,01, logo, elas foram excluídas do modelo inicial. No caso da variável Visibilidade, como o resultado do teste t ficou próximo do valor limite (1,683), optou-se por mantê-la no modelo. Um novo processamento sem as variáveis Compatibilidade e Imagem afetou muito pouco (segunda casa decimal) os novos coeficientes calculados. 13 As variáveis constantes do construto Imagem (v4, v11 e v27) dizem respeito ao perfil diferenciado, ao maior prestígio e ao status social do usuário de uma inovação tecnológica. A não aderência da variável Imagem pode ser justificada pela suposição de que os professores que utilizam o EClass, o façam de forma isolada em seus departamentos. Por isso, provavelmente, eles não consigam verificar como o sistema pode melhorar sua imagem em relação a outros professores que não utilizam o sistema . Uma outra possível justificativa para a não aderência da variável Imagem pode ser dada pelo fato de que a maioria dos professores respondentes serem da área de medicina. Isso corrobora os estudos de Raitoharju e Laine (2006) de que diferentes profissionais da área de saúde apresentam diferentes percepções sobre o uso de sistemas de informações. Com relação à Compatibilidade, os professores usuários do EClass não conseguem constatar que o sistema se mostra compatível com necessidades e experiências passadas, uma vez que não puderam utilizar outra ferramenta similar para apoio ao ensino. As demais variáveis (Visibilidade, Demonstração de Resultado, Experimentação, Facilidade de Uso, Uso Voluntário e Vantagem Relativa) validaram o modelo e afetaram diretamente o Uso, com destaque para a Demonstração de Resultado. Pelo que foi visto na teoria, a Demonstração de Resultado diz respeito à tangibilidade dos resultados obtidos pelo uso de uma inovação (MOORE e BENBASAT, 1991). Neste caso, os professores confirmaram que o sistema facilita em muito a sua vida e seu relacionamento com seus alunos. Conforme pode ser visto na Tabela 4, as hipóteses H3 e H4 referentes a Compatibilidade e Imagem foram rejeitadas e as demais hipóteses (H1, H2, H5, H6, H7 e H8) foram verificadas. Tabela 4 - Resultados finais do modelo proposto Coeficiente Padronizado t-value > 1,99 Hipótese Vantagem Relativa→Uso 0,226045 5,607126 H1 Uso Voluntário→Uso 0,180149 6,791151 H2 Compatibilidade→Uso -0,029519 0,755344 Imagem→Uso 0,016606 0,655475 H3 H4 Facilidade de Uso→Uso 0,220906 4,661152 H5 Rejeitada Verificada Demonstração de Resultado→Uso 0,375993 7,240863 H6 Verificada Visibilidade→Uso 0,041921 1,683489* H7 Verificada Experimentação→Uso -0,083567 2,489147 H8 Verificada Uso→Resultado do Uso 0,819589 70,91783 H9 Verificada Relação Estrutural Status da Hipótese Verificada Verificada Rejeitada * Variável mantida por apresentar valor próximo ao de corte (2,01) 5. CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS Por intermédio da abordagem quantitativa desta pesquisa verificou-se que as características percebidas em uma inovação são os fatores determinantes de sua adoção e uso. Estes resultados corroboram as teorias desenvolvidas por (ROGERS, 1983) e Moore e Benbasat (1991). O modelo estrutural de análise utilizado mostrou-se adequado e conduziu a um melhor entendimento da adoção de inovações no âmbito da implantação de novos sistemas de informações. Ficou evidenciado que o uso de sistemas de informações acarreta, por parte de seus usuários, percepções que podem ter importantes reflexos nas tarefas e trabalho da organização. 14 No estudo realizado mereceram destaque as variáveis representadas pelas características percebidas, quais sejam, a Vantagem Relativa e a Demonstração de Resultado. Essas variáveis contribuíram positivamente na adoção do EClass, com coeficientes notadamente superiores aos demais, explicando dessa forma boa parte do modelo proposto inicialmente. As características Compatibilidade e Imagem não foram consideradas como relevantes para adoção pelos usuários e isso se deve, possivelmente, ao fato de que, para estes usuários, o EClass já se constitui uma ferramenta incorporada ao seu dia-a-dia, porém, sem precedentes iniciais que pudessem ser usados para comparação. Também ficou evidenciado que as características percebidas explicam apenas uma parte da adoção de inovações. O grau de explicação obtido confirma em grande parte a teoria, mas também sugere a participação de outros fatores no processo de adoção, o que também é assinalado por Rogers (1983) e Larsen e McGuire (1998). Uma boa parte desses outros fatores eventualmente pode ser atribuída ao contexto social interno, por exemplo, a forma adotada para a comunicação da inovação e os canais de divulgação da inovação, conforme sugere Rogers (2003). Finalmente, também ficou aparente que os resultados decorrentes da adoção da inovação e as melhorias obtidas pela sua introdução não se atém ao fenômeno da adoção. A instituição pesquisada, além de conseguir oferecer melhores condições de atendimento aos seus alunos, também conseguiu melhorar serviços e processos já existentes e fomentar o desenvolvimento de novos processos e serviços. Esta pesquisa teve como foco a inovação tecnológica definida pelo EClass em uma única instituição da área de saúde, portanto, os resultados ficam limitados ao âmbito desta instituição. Porém, os achados aqui relatados podem ser de alguma valia para outras instituições de ensino da área de saúde, para as quais o EClass é pertinente. Os resultados da pesquisa podem ser úteis na decisão, desenvolvimento, implantação e interpretação de resultados de projetos com esse escopo. O estudo relatado também sugere a possível ampliação do conceito de características percebidas, isto é, a incorporação de outros aspectos do contexto organizacional que possivelmente também afetam a adoção. Por fim, recomendase que o modelo estrutural adotado seja aplicado e testado em novos estudos com outras inovações tecnológicas, inclusive aquelas envolvendo novos Sistemas ou Tecnologias da informação. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHUJA, M. K.; THATCHER J. B. Moving beyond intentions and toward the theory of trying: Effects of work environment and gender on post-adoption information technology use. MIS Quarterly vol. 29 - n. 3, pp. 427-459/September, 2005. BUSSAB, W. O.; MORETTIN, P. A. Estatística básica. 5a. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. DOSI, G. et al. Technical change and economic theory. London: Pinter Publishers, 1988. DRUCKER, P. F. Innovation and Entrepreneurship – practice and principles. Elsevier, 2004. ENGEL, J. F.; BLACKWELL, R. D.; MINIARD, Paul W. 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