MINICURSO DE CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL
PARA ASSISTENTES SOCIAIS E GRADUANDOS
Instrumentalidade, estratégias e táticas
no âmbito do SUAS
Luciana Gonçalves Pereira de Paula
Cuiabá
2015
1
A Descentralização de Políticas Públicas no Brasil e o Sistema Único de
Assistência Social
A Constituição de 1988, conhecida como Constituição Cidadã, fincou
um novo marco na formulação e implementação das políticas públicas, haja
vista que conferiu autonomia político-administrativa aos municípios. Estes
passaram a ser entes da federação e ter capacidade e autonomia em formular
e implementar políticas. Esta situação trouxe consigo o desafio da coordenação
intergovernamental na gestão pública. A descentralização está inserida no
contexto da redemocratização, sendo um processo, sobretudo político, e não
meramente técnico-administrativo.
Uma das soluções propostas para enfrentar o desafio da coordenação,
provindas desta centralização, é a criação de sistemas nacionais de políticas,
tal como foi o caso do SUS, Sistema Único de Saúde, que reúne os três entes
da federação – União, estados e municípios – no financiamento e gestão do
sistema, evitando assim possíveis sobreposições no oferecimento de políticas.
Outras políticas setoriais estão aderindo ao modelo de sistemas, como é o
caso da política de Assistência com a criação, em 2005, do SUAS – Sistema
Único de Assistência Social .
O Sistema Único de Assistência Social é um desenho de política
nacional formulado para garantir que os direitos sociais previstos pela
Constituição sejam garantidos. Este sistema é resultado de quase vinte anos
de debates e operacionaliza elementos postos na Carta Magna de 1988,
integrando definitivamente a Assistência Social, como pilar, juntamente com
saúde e previdência social, da seguridade social. O SUAS consolida a visão de
que a Assistência Social é um direito que deve ser efetivado por meio de
políticas públicas e não uma ação voluntarista do Estado para com os pobres.
Ponto de extrema relevância considerando a problemática da pobreza, herança
histórica que perpassa a construção social do Brasil.
As ações e serviços de Assistência Social são divididos em duas
categorias de atenção ao cidadão: Proteção Social Básica e Proteção Social
Especial de Média e Alta Complexidade. Este modelo foi elaborado e definido
em 2004, na Política Nacional de Assistência Social, que organiza programas,
serviços, projetos e benefícios sócio-assistenciais de acordo com a
complexidade do atendimento.
2

Proteção social básica: ações de caráter preventivo, tendo por objetivo o
fortalecimento dos laços familiares e comunitários.

Proteção social especial de média complexidade: ações destinadas a
situações nas quais os direitos do indivíduo e da família já foram
violados, mas ainda há vinculo familiar e comunitário.

Proteção social especial de alta complexidade: atende casos em que os
direitos do indivíduo ou da família já foram violados, e também quando o
vínculo familiar é rompido. É garantida proteção integral – moradia,
alimentação, trabalho – para quem está em situação de ameaça,
necessitando deixar o núcleo familiar ou comunitário.
O Serviço Social e o Sistema Único de Assistência Social: desafios ao
trabalho profissional
Passada mais de uma década de avanços e retrocessos na política de
assistência social, em um contexto de‚ contra reforma do Estado — onde as
relações estabelecidas pelas políticas econômicas de recorte teórico neoliberal
buscaram a privatização das políticas sociais públicas —, o Brasil constitui um
dos poucos países da América Latina que possui uma Política Nacional de
Assistência Social (PNAS), subsidiada pela Constituição da República
Federativa do Brasil de 1988, pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS),
de 1993. Consubstancialmente, possui uma Norma Operacional Básica do
Sistema Único de Assistência Social (NOB/SUAS), de 2005, que se constitui
por uma gestão amparada por Planos e Fundos de Assistência Social.
Na NOB-RH/SUAS, estão previstas as equipes de referência que são
constituídas por servidores efetivos responsáveis pela organização e pela
oferta de serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e
especial, levando-se, em consideração, o número de famílias e indivíduos
referenciados, o tipo de atendimento e as aquisições que devem ser garantidas
aos usuários.
A Norma prevê a participação de profissionais, que são distribuídos
segundo o porte dos municípios. A composição da equipe de referência dos
Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), no âmbito da Proteção
3
Social Básica nos municípios, a partir do porte, se conforma da seguinte
maneira:

Pequeno Porte I - dois técnicos de nível superior (um profissional
assistente social e outro, preferencialmente, psicólogo);

Pequeno Porte II - três técnicos de nível superior (dois profissionais
assistentes sociais e, preferencialmente, um psicólogo);

Médio, Grande Porte Metrópole e DF - quatro técnicos de nível superior
(dois profissionais assistentes sociais; um psicólogo; e um profissional
que componha o SUAS).
Em âmbito de Proteção Social Especial, a equipe de referência para a
prestação de serviços e de execução das ações, no âmbito da Proteção Social
Especial de Média e Alta Complexidade, alocada nos Centros de Referência
Especializados (CREAS), nos municípios em Gestão Inicial e Básica - um
assistente social; municípios em Gestão Plena e Estados com Serviços
Regionais - dois.
Portanto, abre-se um
espaço profissional importante para os
Assistentes Sociais que devem estar atentos para que seus trabalhos possam
incidir na mudança da cultura tuteladora, tão tradicional na área, e criem
condições objetivas para que esses trabalhos traduzam, não só os princípios
éticos enunciados na NOB/RH/SUAS, como também os que informam a
formação profissional.
Está previsto na NOB-RH, que a Assistência Social deve ofertar seus
serviços com o conhecimento e compromisso ético e político de profissionais
que operam técnicas e procedimentos impulsionadores das potencialidades e
da emancipação de seus usuários. Esse enunciado apresenta-se em
convergência com o projeto ético-político da profissão, e as competências a
serem efetivadas nesse espaço sócio-ocupacional, devem reafirmá-los. É
preciso lembrar que princípios éticos das profissões são considerados ao se
elaborarem, implantarem e implementarem padrões, rotinas e protocolos
específicos, para normatizar e regulamentar a atuação profissional.
Implica em compreender o desafio de desvendar as formas de vida das
populações usuárias, identificando a desigualdade como fenômeno constitutivo
dessa sociedade, assim como suas formas de resistência a tudo que os
aniquila, para construir um trabalho na perspectiva da garantia de uma vida
4
digna, pautada no reconhecimento de seu protagonismo na construção de uma
sociedade mais justa.
O Exercício Profissional do Assistente Social
 O Serviço Social se constitui em uma profissão eminentemente
interventiva e a prática profissional é condição essencial para que o
Serviço Social seja reconhecido enquanto profissão e para que ocupe
um lugar na divisão social e técnica do trabalho.
 É por meio do desvelamento das relações sociais que se pode
desvendar o Serviço Social enquanto atividade socialmente necessária
que possui efeitos na vida social, ao mesmo tempo em que sofre suas
influências. Assim, a prática profissional é mediatizada pela correlação
de forças entre as classes sociais, estabelecendo limites e
possibilidades onde pode se mover o assistente social.
 Essa intervenção profissional do assistente social, enquanto uma prática
socialmente útil que contribui no processo de reprodução social, se
constitui a partir de três dimensões fundamentais: teórico-metodológica
– a justificativa que responde ao “por que fazer” –; ético-política – a
finalidade que se refere ao “para que fazer” –; técnico-operativa –
operacionalidade que remete-se ao “como fazer”. Estas dimensões se
articulam e constituem uma unidade que se expressa no momento da
intervenção profissional.
 Quando o assistente social desempenha qualquer ação profissional,
estão presentes, neste ato, as suas referências teóricas e
metodológicas; os seus valores éticos e a sua concepção política; e todo
o aparato técnico-operativo necessário à realização de tal intervenção.
Não há como separar estes três componentes porque eles encontram-se
absolutamente interligados. No processo de efetivação técnico-operativa
da intervenção profissional estão automaticamente embutidas as
referências, os valores e os objetivos do assistente social – tenha o
profissional consciência ou não desse processo.
A dimensão técnico-operativa no exercício profissional
 O debate sobre a dimensão técnico-operativa da intervenção profissional
do assistente social, muitas vezes desprezado por causa de estigmas
praticistas, acaba relegado a um segundo plano no processo de
formação dos assistentes sociais. Segundo Santos (2007: 82), “(...) a
questão relativa ao ensino dos instrumentos e técnicas ainda se
expressa muito mais pelo ‘receio’ de ser ‘tecnicista’ do que pela ousadia
5
de criar alternativas/experiências explícitas e detalhadas para enfrentar
o desafio de ensinar o ‘como fazer’ sem ser ‘tecnicista’”.
Década de 1980
 Amadurecimento teórico-metodológico.
 Um marco deste debate foi a produção teórica de Marilda Villela
Iamamoto e Raul de Carvalho – Relações Sociais e Serviço Social no
Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica – publicada
em 1982.
 Muitos autores, dentro da literatura especializada, contribuíram com este
debate, publicando elaborações teóricas cujo amadurecimento se
mostra capaz de desvendar elementos extremamente ricos para a
compreensão do Serviço Social.
Década de 1990
 Amadurecimento ético-político.
 Até a década de 1990 a ética permaneceu implícita no debate. Apenas
entre os anos de 1992 e 1993 a questão ética se apresenta como um
tema emergente no debate realizado pela categoria profissional.
 Deste modo, o debate sobre a dimensão ético-política da profissão
ampliou-se no decorrer da década de 1990, expressando-se nos marcos
do novo Código de Ética Profissional – 1993 –, na Lei de
Regulamentação da Profissão – 1993 – e nas Diretrizes Curriculares –
1996.
Década de 2000
 Amadurecimento técnico-operativo.
 Verificamos, nos últimos, anos um aumento na publicação de reflexões
acerca da dimensão técnico-operativa do Serviço Social, mas ainda é
pouca a produção de conhecimento sobre esse tema dentro de uma
perspectiva histórica, crítica e dialética, tendo como referencial teóricometodológico o pensamento marxista.
 Faz-se necessário destacar que, o aumento da produção de
conhecimento sobre a dimensão técnico-operativa do Serviço Social,
tem se realizado com mais intensidade na abordagem da temática dos
instrumentos e técnicas profissionais do assistente social. Não são todos
os elementos constitutivos dessa dimensão que vem sendo devidamente
estudados pela categoria profissional. Com isso, estamos afirmando que
a dimensão técnico-operativa possui como seus elementos os
instrumentos e as técnicas que o assistente social utiliza no momento de
sua intervenção profissional. Mas, essa dimensão não se restringe a
esses dois elementos, ela engloba uma série de outros componentes
que demandam conhecimento específico.
6
 O instrumental não diz nada por si próprio, podendo apenas ser
compreendido como um “aparato em movimento, como o caminho que
cruza a dinâmica das relações entre o que se tem e aonde se quer
chegar”. Desse modo, a dimensão técnico-operativa só se realiza em
articulação com as demais, acionando a dimensão teórico-metodológica,
no momento da análise da situação real para o desvelamento das
demandas e a sua compreensão, e a dimensão ético-política, no
posicionamento do profissional frente às suas escolhas no processo da
sua intervenção.
AÇÕES PROFISSIONAIS:
 As ações profissionais teriam uma abrangência maior e expressariam o
fazer profissional: atender, orientar, encaminhar, avaliar, estudar,
planejar e outras ações previstas como competências e atribuições na
legislação profissional, que é desenvolvido em um serviço prestado pela
instituição que pode ter variadas formas (como o plantão, por exemplo).
 Dessa forma, compõem as ações profissionais as atribuições que
viabilizam as respostas dos profissionais às requisições colocadas pelas
demandas institucionais, como parte da prestação de serviços sociais.
Tais ações materializam o caráter interventivo do Serviço Social, sendo
direcionadas pelas escolhas teórico-metodológicas e ético-políticas dos
profissionais.
 A realização das ações profissionais do assistente social envolve, ainda,
a escolha do tipo de abordagem. Nesse sentido, as possibilidades de
abordagens são essencialmente individuais, grupais e coletivas.
Percebemos, assim, que o exercício profissional do assistente social se
constrói a partir das conformações que vão moldando a sua própria ação
no momento da intervenção profissional.
 É para o desenvolvimento das ações profissionais que o assistente
social lança mão dos instrumentos, escolhendo o que melhor lhe cabe
na ação a ser realizada.
OS INSTRUMENTOS:
 Os instrumentos são, dessa forma, os meios que preenchem a ação
profissional do assistente social. São elementos que contribuem na
passagem do objetivo profissional – a finalidade ideal – para a
materialização da ação – a concretização do real.
 Os instrumentos utilizados pelos assistentes sociais cumprem um papel
de ferramenta, de mediação para “a concretização das ações
profissionais e estão presentes na execução das habilidades chamadas
aqui de procedimentos”. Todos os instrumentos técnico-operativos, no
campo do Serviço Social, são perpassados pela linguagem, seja ela
escrita ou falada.
 O instrumento é considerado um elemento potencializador da ação; ele
consiste no conjunto de recursos ou meios que permitem a
operacionalização da ação profissional. Os instrumentos são elementos
necessários à atuação técnica, através dos quais os assistentes sociais
podem efetivamente objetivar suas finalidades.
7
 Os instrumentos não são elementos estáticos imutáveis, ao contrário
são passíveis de serem criados e recriados pelos profissionais que deles
se utilizam. Existe um conjunto de instrumentos e técnicas histórica e
tradicionalmente utilizados pelo Serviço Social, o que não significa negar
a existência de outros ainda não captados ou que não venham a ser
criados no desenvolvimento do exercício profissional.
 Os instrumentos são meios pelos quais podem se efetivar escolhas
profissionais. E, se os instrumentos são, por natureza, neutros, as
escolhas dos assistentes sociais não são. Os instrumentos são
elementos imprescindíveis à ação dos profissionais e não são em si
conservadores, progressistas ou revolucionários, mas, comportam,
traduzem diferentes e até antagônicos vieses do pensamento e projetos
profissionais.
 Portanto, os instrumentos não carregam em si uma tendência própria a
serem críticos ou conservadores. Quem imprime essa tendência ao
instrumento é a ação profissional, pois essa sim será sempre dotada de
determinada concepção teórico-metodológica e de escolhas éticopolíticas. Com base nisso, o processo de escolha dos instrumentos não
é neutro.
AS TÉCNICAS:
 O assistente social para realizar seu trabalho e para que sua ação seja
efetiva, faz uso de um conjunto articulado de instrumentos e técnicas.
Os instrumentos são compreendidos como mediadores e
potencializadores do trabalho, enquanto as técnicas são as habilidades
para o “trato” dos instrumentos. As técnicas, assim, irão se aprimorar a
partir da utilização dos instrumentos e das finalidades que se pretende
alcançar.
 A técnica está associada à habilidade no uso do instrumento; é como
uma qualidade atribuída aos instrumentos. Os instrumentos não podem
ser tomados isoladamente, eles encontram-se sempre articulados à
técnica – o conhecimento que permite o seu manuseio. Eles são
elementos relacionais: o instrumento está sempre relacionado à técnica
e vice-versa.
 A técnica é um conhecimento empírico, elaborado, desenvolvido pela
capacidade humana como prolongamento de sua racionalidade para
realizar coisas. Por isso, a técnica não é neutra, ela comporta em si
mesma uma intencionalidade, pois ela é a manifestação de um
determinado saber e nenhum saber é neutro.
 O conhecimento técnico é sempre produzido a partir de determinado
processo sócio-histórico que imprime a ele uma direção. Toda técnica é
formulada a partir de determinada concepção de mundo e expressa
intenção sociais. Dessa forma, a técnica não encontra-se isenta das
escolhas políticas, ao contrário, ao escolhermos uma técnica já estamos
exercitando uma certa concepção política.
 A compreensão de técnica é o que vai indicar o tipo de abordagem que
se faz dela, uma vez que ela permite uma pauta de intervenção: pensar
um ‘como?’ a partir de um ‘para que?’, articulando-o com um ‘quando?’ e
com um ‘onde?’. Desse modo, a técnica não pode ser compreendida
8
como uma forma pré-estabelecidas de atuação, ou um modelo
regulatório a ser seguido, indicando previamente uma determinada
forma de agir.
 A um mesmo instrumento podem se associar diferentes técnicas, ou
seja, um mesmo instrumento pode ser utilizado de diferentes formas.
Tomando a entrevista como um instrumento de trabalho do assistente
social, ela pode ser realizada de forma aberta, fechada, semiestruturada etc. A entrevista – bem como qualquer instrumento – pode
ser usada por meio de diferentes técnicas.
 O conhecimento técnico é um componente importante do arsenal de
saberes que o profissional deve acumular em seu constante processo de
formação. Para poder escolher, inclusive, qual a técnica que melhor se
adequa a cada situação. No entanto, apenas o conhecimento da técnica
não garante ao assistente social a realização de procedimentos
qualificados que expressem competência profissional. Ao conhecimento
técnico, necessariamente devem se somar outros tipos de saberes –
essencialmente, o teórico-metodológico e o ético-político.
O Debate das Estratégias e Táticas no Serviço Social
ESTRATÉGIA
Segundo o dicionário da língua portuguesa, a palavra estratégia possui o
seguinte significado: arte de planejar operações de guerra; arte de combinar a
ação das forças militares, políticas, morais, econômicas, implicadas na
condução de uma guerra ou na preparação da defesa de um Estado; arte de
dirigir um conjunto de disposições.
TÁTICA
Revisitando o dicionário em busca do significado da palavra tática
encontramos: arte de combinar a ação de tropas, ou os recursos característicos
das diferentes armas, a fim de obter o máximo de eficácia no combate;
conjunto de meios ou recursos empregados para alcançar um resultado
favorável.
CONCEITOS ORIGINALMENTE MILITARES
 Nesse campo, a tática refere-se à coordenação das forças armadas nos
momentos de batalha e a estratégia à coordenação das batalhas no
processo da guerra.
 A guerra é apresentada como um fenômeno autônomo, muitas vezes,
desvinculado do contexto histórico que a produz. Entretanto, todos os
fenômenos sociais produzidos ao longo da história da humanidade são
inegavelmente históricos. Portanto, cada guerra é uma guerra porque
cada guerra pertence a uma determinada época distinta de uma
sociedade específica.
 Nesse campo, a tática é concebida enquanto forma planejada de
utilização das forças armadas no momento do combate bélico. É,
9
portanto, a tentativa de ordenar e dirigir cada um dos inúmeros choques
que podem ocorrer no decorrer de uma guerra. A estratégia, por sua
vez, diz respeito ao planejamento de todo o processo de combate bélico,
ou seja, é a tentativa de coordenar todos os choques bélicos que
venham a acontecer em função de uma guerra.
NA TRADIÇÃO MARXISTA
 A noção que predomina no senso comum é a de que as estratégias
visam objetivos mais distantes e as táticas os mais imediatos. Nesse
caso, a diferença entre a estratégia e a tática seria uma questão de
distância, ou de tempo. E poderíamos, ainda, concluir que o acúmulo de
táticas bem sucedidas encontra-se automaticamente vinculado a uma
estratégia vitoriosa.
 No campo da tradição marxista, táticas e estratégias só se constroem a
partir de determinados objetivos e devem permanecer a eles vinculados.
Esses objetivos, dentro de uma sociedade classista, estarão sempre
articulados aos interesses de determinadas classes sociais.
 Sendo, portanto, as estratégias os caminhos construídos na tentativa de
alcançar determinados objetivos classistas, as táticas constituem os
procedimentos cotidianos capazes de nos aproximar desses objetivos.
Deste modo, compreendendo as táticas como “métodos diários” que
intencionam modificar ou manter determinadas situações ou
conjunturas, podemos perceber que elas devem estar sempre em
acordo com os objetivos e as estratégias.
 Outra questão importante é perceber que sendo as táticas construções
cotidianas, absolutamente vinculadas a determinadas situações muito
específicas, objetivos e estratégias similares podem exigir a elaboração
de táticas diferenciadas. Portanto, embora as estratégias possam ser
pensadas de maneira mais ampla, englobando diferentes realidades, as
táticas não podem ser automaticamente transplantadas de uma situação
para outra. Elas precisam ser elaboradas em total sintonia com a
realidade onde vão se desenvolver.
 Por isso, os autores do campo marxista nos ajudam a pensar sobre
estratégias e táticas, pois o que eles nos oferecem são leituras e
interpretações acerca da realidade que vivenciaram. Eles elaboram um
conjunto de operações táticas e direcionamentos estratégicos
relacionadas ao seu contexto histórico e, assim, nos ensinam que não
podemos pensar em estratégias e táticas como manuais previamente
elaborados, pois é a conjuntura que vai indicar as estratégias e táticas
cabíveis àquela momento.
ELEMENTOS FUNDAMENTAIS
1) Construção do objetivo;
2) Análise da realidade;
3) Conhecimento teórico.
10
A CONSTRUÇÃO DO OBJETIVO
 Nesse sentido, o primeiro elemento que destacamos refere-se a
necessária articulação entre tática e estratégia com uma finalidade
previamente definida que podemos chamar de objetivo. Com isso,
estamos afirmando que toda estratégia e toda tática devem ser
elaboradas a partir de um objetivo claramente estabelecido. Portanto, a
formulação do objetivo que se quer alcançar precede a construção das
estratégias e das táticas, pois é ele que vai informar a direção a ser
seguida e orientar a própria condução das ações.
 A delimitação de um objetivo é necessariamente um processo que
envolve escolhas éticas e políticas perpassadas por interesses
divergentes que, em nossa sociedade capitalista, configuram-se
enquanto interesses de classe. Assim, objetivos estabelecidos, sejam
profissionais, administrativos, partidários, entre outros, definidos nesse
modelo de sociabilidade, possuem necessariamente um caráter ídeopolítico que vai incidir no próprio processo de elaboração das táticas e
das estratégias.
A ANÁLISE DA REALIDADE
 Um segundo elemento fundamental à elaboração de estratégias e
táticas é a análise objetiva da realidade. Ou seja, identificar as
condições reais – os limites, as dificuldades, as possibilidades, as
potencialidades de determinada realidade – onde serão desenvolvidas
as ações. Pois as condições reais e objetivas do contexto em questão
irão incidir no processo.
 A análise das condições reais pode revelar o momento mais propício
para se avançar e a necessidade de se recuar. Pode, até mesmo, nos
revelar as estratégias e as táticas do “inimigo”, uma vez que permite o
desvelamento das correlações de forças. No entanto, um estudo da
realidade capaz de detectar todos esses elementos e auxiliar
efetivamente na construção das táticas e das estratégias necessita de
suporte teórico-metodológico.
O CONHECIMENTO TEÓRICO
 Entra em cena, nesse momento, um terceiro elemento crucial para a
construção das táticas e das estratégias: o conhecimento teórico. O
estudo, a preparação, a apreensão de conteúdos teóricos, a
investigação da história, podem, e muito, auxiliar na realização de uma
boa análise da realidade e, consequentemente, na construção de táticas
e estratégias mais eficientes.
 Desse modo, partindo-se de um determinado conhecimento teórico, as
táticas e as estratégias precisam ser elaboradas – em articulação com o
objetivo definido e com base na análise da realidade posta – de maneira
específica, a partir das determinadas realidades particulares. Pois cada
11
situação é singular e exige a formulação de estratégias e táticas que
sejam exclusivamente pensadas para ela.
Mas, enfim, o que poderíamos chamar de estratégia? De que forma se
constituem as táticas? E de que maneira esses elementos se articulam?
A estratégia é a responsável pela elaboração de um plano. Deve ser
aquela que, guiada por um objetivo maior, determina uma série de ações
táticas no intuito de alcançar objetivo. Nesse sentido, a estratégia seria a
maneira de combinar os diferentes passos táticos com a finalidade de
alcançar o objetivo.
 As estratégias, portanto, tendo articulação com um objetivo final
claramente definido, podem nos auxiliar na construção de ações
cotidianas que venham possibilitar a condução de um processo que
intencione atingir esse objetivo final. A construção dessas ações
cotidianas, por sua vez, podemos chamar de formulação tática. Portanto,
a tática faz a mediação entre as estratégias elaboradas e o nosso
cotidiano, tornando possível a construção de ações que venham efetivar,
senão completamente, pelo menos em parte as estratégias formuladas
na intenção de se atingir o objetivo final.
 As táticas e as estratégias são mediações que podem permitir uma
maior aproximação com o objetivo intencionado, onde táticas são as
ações imediatas estruturadas em articulação com um plano mais global,
que configura-se na estratégia. No entanto, nem mesmo a formulação
de estratégias e táticas em completo alinhamento com um objetivo préestabelecido garantem a realização desse objetivo. O que elas podem
fazer é melhor direcionar nossas ações rumo ao alcance do objetivo
final. Mas elas não asseguram, de modo algum, a conquista de tal
objetivo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COUTO, B. R. O Serviço Social e o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS): desafios éticos ao trabalho profissional. Disponível em:
http://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/15/17.
Acesso
em:
05/05/2015.
FORTI, V; GUERRA, Y. Serviço Social: temas, textos e contextos. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2010.
GUERRA, Y. A dimensão técnico-operativa do exercício profissional. In:
SANTOS, C. M.; BACKX, S.; GUERRA, Y. (org). A dimensão técnico-operativa
no Serviço Social: desafios contemporâneos. Juiz de Fora: Editora UFJF, 2012.
______. As dimensões da prática profissional e a possibilidade de reconstrução
crítica das demandas contemporâneas. Revista Libertas. Juiz de Fora: Editora
UFJF, 2002.
12
IAMAMOTO, M. V. O debate contemporâneo do Serviço Social e a ética
profissional. In: BONETTI, D. A. (org). Serviço Social e Ética: convite a uma
nova práxis. 4.ed. São Paulo: Cortez, 2001a.
PAULA, L. G. P. de. Dimensão ídeo-política da intervenção profissional do
assistente social: o debate teórico sobre sua conformação. Dissertação de
Mestrado. Faculdade de Serviço Social/UFJF, 2009.
__________. Um debate sobre estratégias e táticas – problematizações no
campo do Serviço Social. Tese de Doutorado. Escola de Serviço Social/UFRJ,
2014.
SANTOS, C. M. Na prática a teoria é outra? Mitos e dilemas na relação entre
teoria, prática, instrumentos e técnicas no Serviço Social. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010.
SANTOS, J. S. Neoconservadorismo pós-moderno e Serviço Social brasileiro.
Coleção questões da nossa época. São Paulo: Cortez, 2007.
SILVEIRA, H. R.; COSTA, R. E.; OLIVEIRA, V. S. A Descentralização de
Políticas Públicas no Brasil e o Sistema Único de Assistência Social. Disponível
em: http://www.cchla.ufrn.br/cnpp/pgs/anais/Artigos. Acesso em: 05/05/2015.
13
Download

Apostila Luciana Gonçalves