Uma Abordagem Sistêmica da Avicultura de Corte na Economia Brasileira Norberto Martins Vieira Departamento de Economia Rural - DER Universidade Federal de Viçosa - UFV Rua Presidente Médici nº 128/101, Clélia Bernardes; Viçosa - MG [email protected] Roberto Serpa Dias Departamento de Economia - DEE Universidade Federal de Viçosa - UFV Av. P. H. Rolfs nº 425/1001, Centro; Viçosa - MG [email protected] Sistemas Agroalimentares e Cadeias Agroindustriais Apresentação com presidente da sessão e sem a presença de debatedor 1 Uma Abordagem Sistêmica da Avicultura de Corte na Economia Brasileira Resumo O presente trabalho tem como objetivo analisar e avaliar o setor avícola brasileiro. Foram observadas: a sua estrutura, as inter-relações e a conduta das principais empresas e as perspectivas de desenvolvimento do mesmo. A fim de se mensurar o grau de concentração do setor, foram calculados a Razão de Concentração (CRk), o índice de Hirschman-Herfindahl (H), o índice de Rosenbluth (B), e a Entropia (E). A análise de Turnover foi realizada com o intuito de estudar a conduta das firmas, através da mudança de posições em um ranking. A partir dos resultados obtidos, podese observar uma considerável concentração do setor, haja visto que, poucas empresas dominam parcela significativa da produção. A análise do CRk (CR4,CR6, CR8 e CR12) indicou um pequeno aumento da parcela de mercado dominada nos quatro níveis. Os índices H, B e E não sofreram variações consideráveis ao longo do período analisado, indicando que não houve mudança na concentração do setor avícola nacional. Também pode se observar que as posições empresas sofreram poucas alterações no ranking, destacando-se o primeiro grupo, que se manteve constante ao longo de todo o período analisado. PALAVRAS-CHAVE: Economia Brasileira, Avicultura de Corte, Concentração Agroindustrial. 2 UMA ABORDAGEM SISTÊMICA DA AVICULTURA DE CORTE NA ECONOMIA BRASILEIRA 1. INTRODUÇÃO A avicultura, atualmente, é uma atividade econômica internacionalizada e uniforme, sem fronteiras geográficas de tecnologia. Pode ser considerada um complexo industrial que não deve ser analisado apenas sob o aspecto de produção e distribuição, e sim através de uma abordagem sistêmica do setor. Como se sabe, o agronegócio envolve a produção agrícola propriamente dita, ou seja, as atividades ligadas no suporte à produção (ligações para trás) e as relacionadas com o processo agroindustrial e de suporte ao fluxo de produtos até a mesa do consumidor final (ligações para frente). Este conceito de agribusiness tem implicações profundas na organização econômica, pois mostra a dimensão estratégica da agropecuária. Sendo reconhecida como um dos segmentos agrícolas mais importantes, a avicultura revela-se como um exemplo de integração e interdependência econômica. Além disso, hoje em dia, a avicultura é um dos componentes mais importantes do agribusiness nacional e internacional. O desenvolvimento da avicultura pode ser considerado como a síntese e o símbolo do crescimento e modernização do agronegócio no Brasil. Isso porque a atividade avícola reúne em sua estrutura funcional três importantes elementos no cálculo econômico do capitalismo em sua configuração atual: tecnologia de ponta, eficiência na produção e diversificação no consumo (COELHO e BORGES, 2002). Além disso, segundo dados do United States Department of Agriculture (USDA), a produção mundial de carnes passou de aproximadamente 90 milhões de toneladas em 1978 para aproximadamente 198 milhões de toneladas em 2003, graças principalmente ao desempenho apresentado pela produção de carne de frango. Entre 1990 e 2003, a produção mundial de carnes cresceu 34 %, enquanto a carne de frango continuou apresentando o melhor desempenho com 61 % de aumento, seguida da carne suína com 29 %. Nos últimos anos, o setor passou por um processo de integração vertical que consiste numa relação de parceria entre agroindústria (empresas processadoras) e produtor rural, que rendeu bons resultados para a atividade. A avicultura brasileira atingiu produtividade e qualidade comparáveis às obtidas pelos países mais desenvolvidos do mundo, contribuindo, entre outras coisas, para a geração de divisas de exportação (LOPES, 1992). Em conseqüência, o Brasil se firmou como segundo maior exportador mundial, de acordo com as estatísticas do USDA (Tabela 1). Tabela1 - Principais exportadores mundiais de carne de frango no período de 1998 a 2003, em mil toneladas EXPORTAÇÃO 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004(*) TGC (%) Estados Unidos 1.978 2.080 2.231 2.521 2.180 2.230 2.313 2,64 Brasil 594 750 893 1.241 1.600 1.922 2.115 23,57 União Européia 788 764 762 718 840 700 800 0,25 Tailândia 274 288 328 425 465 500 530 11,62 China 323 375 464 489 438 420 440 5,29 Outros países 239 205 190 213 233 234 203 -(2,68) TOTAL 4.196 4.462 4.868 5.067 5.780 5.861 6.192 6,70 Fonte: USDA, onde TGC indica a taxa geométrica de crescimento anual. (*) preliminares. 3 De acordo com os dados da Tabela 1, em 1998 o Brasil foi responsável por 14% das exportações mundiais de carne de frango, e está previsto que em 2004 o setor alcance aproximadamente 34% do total das exportações. Além disso, as exportações do setor avícola brasileiro cresceram a uma taxa média de 23,57% ao ano no período, bem superior à média mundial. Com este avanço, o setor alcançou um espaço bastante significativo entre os que mais contribuem para o superávit da balança comercial brasileira. As características da atividade avícola contribuem para aumentar a geração de emprego e de renda no campo. O sistema de integração, criado e desenvolvido no Brasil, é ideal para pequenas propriedades, muitas delas familiares. Além disso, tem a vantagem de não depender de fatores sazonais e de permitir a exploração simultânea com outras atividades agropecuárias. Segundo as estatísticas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a avicultura em toda sua cadeia representou emprego para cerca de 2,5 milhões de pessoas no ano de 2001. Neste mesmo ano, fortemente alavancada pelo desempenho da avicultura, a agropecuária cresceu 5,11%, contribuindo decisivamente na evolução de 1,51% do PIB brasileiro. Presente às fusões, aquisições e incorporações financeiras, o mercado é dominado por grandes empresas, das quais se destacam: SADIA, PERDIGÃO, SEARA, AVIPAL e FRANGOSUL. Este mercado oligopolizado detém grande responsabilidade social, econômica e ambiental. Sua evolução histórica não só relata o desenvolvimento da atividade, como norteia as novas decisões a serem tomadas, levando em consideração a alta dependência e competitividade entre as empresas. A análise descritiva do setor avícola proporciona um maior conhecimento da estrutura dos mercados, fundamental para a obtenção dos preços e compreensão de sua conduta em relação a gastos com pesquisa e desenvolvimento (P&D), investimentos em marketing, propaganda e etc. Pelo presente trabalho, pretende-se analisar o desempenho e a estrutura do setor avícola nacional e caraterizá-lo no que diz respeito aos seus aspectos institucionais, organizacionais e tecnológicos. Visando, especificamente, avaliar o grau de concentração do setor relativamente ao abate anual de frangos das maiores empresas, calculando os principais índices de concentração industrial e analisar a dinâmica do setor, através da análise de turnover. 1.1. Um Panorama Mundial e Brasileiro da Avicultura de Corte Até o final da década de 1950, a avicultura no Brasil era uma atividade básica de subsistência que dispunha de poucos recursos para seu desenvolvimento, além de não possuir bases empresariais. No início da década de 1960, quando se iniciaram as importações de linhagens híbridas norte-americanas de frangos, mais resistentes e produtivas, os padrões de manejo e alimentação foram se alterando gradativamente. Na década de 1970 a indústria de frangos brasileira cresceu em média 12% ao ano, sendo que os principais investimentos ocorreram na região Sul, uma região de grande produção de milho e de crescente produção de soja. Face à retração do mercado interno, decorrente da recessão generalizada na economia brasileira, a primeira metade dos anos de 1980 foi o único período de baixo crescimento da produção, compensado, entretanto pelo crescimento das exportações. Visando atender às crescentes exigências dos importadores, as empresas exportadoras brasileiras passaram a investir em melhoria na genética, em novas tecnologias e em processos que aumentassem a eficiência de toda a cadeia produtiva. Hoje, grandes quantidades de matrizes de aves estão alojadas nas granjas do país, configurando um segmento dinâmico, altamente competitivo, que engloba desde os insumos até a produção dos animais e o processamento na indústria. 4 O alto nível tecnológico alcançado pela avicultura nacional, notadamente a de corte, colocou a atividade em posição privilegiada em relação a outras atividades pecuárias desenvolvidas no Brasil, com nível de produtividade internacional (Figura 1). Aumentos (%) 250 200 150 100 50 0 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004* Anos Boi Porco Frango Fonte: ABEF, com dados trabalhados pelo autor. (*) preliminar Figura 1 – Aumentos percentuais na produção brasileira de carne de boi, porco e frango no período de 1996 a 2004 (ano base 1996). Analisando a Figura 1, percebe-se que a produção de carne de frango no Brasil apresenta uma trajetória evolutiva ascendente. Em 2003 a produção foi de 7.843 mil toneladas, contra 4.051 mil toneladas em 1996, um significativo aumento de 93,6%. A revolução genética representada na agricultura pelos híbridos permitiu à avicultura se consolidar como líder do setor de carnes. A aplicação dessa tecnologia às aves possibilitou a criação de variedades altamente eficientes na conversão de rações, baixando continuamente tanto o tempo de maturação quanto a quantidade de rações utilizadas, itens que já eram muito favoráveis quando comparados com a bovinocultura. Entre os principais países produtores de frango no mundo, os EUA, a União Européia e o Brasil, em 2003, responderam por cerca de 50% da produção mundial (Tabela 2). Tabela 2 – Produção mundial de carne de frango, principais países de 1999 a 2004, em mil toneladas ANO EUA CHINA BRASIL UE MÉXICO MUNDO 1999 2000 2001 2002 2003 2004* 13.367 13.703 14.033 14.467 14.696 15.226 8.550 9.269 9.278 9.558 10.000 10.000 5.526 5.977 6.736 7.517 7.843 8.235 6.614 6.654 6.822 6.750 4.466 6.695 1.784 1.936 2.067 2.157 2.297 2.460 47.554 50.097 51.765 53.597 53.913 55.622 Fonte: USDA \ ABEF (*) preliminar. A análise da Tabela 2 mostra que todos os países aumentaram sua produção, acompanhando a tendência mundial. Os EUA são os maiores produtores mundiais, seguidos da China que, embora seja grande produtora, destina praticamente toda sua produção ao mercado interno. O Brasil é o terceiro maior produtor, tendo obtido um grande crescimento ao longo dos anos analisados (cerca de 50%). 5 No Brasil, a produção de frango, bem como o abate, está localizada próximo às áreas produtivas, principalmente na região Sul. Destacam-se os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, onde se encontram as empresas líderes: Sadia, Perdigão, Seara, Frangosul e Avipal (Figura 2). Paraná 25% Outros estados 36% Rio Grande do Sul 19% Paraná Santa Catarina Santa Catarina 20% Rio Grande do Sul Outros estados Fonte: ABEF Figura 2 – Produção de carne de frango, participação dos principais estados brasileiros em 2003. A Figura 2 mostra que os estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul foram responsáveis por 64% da produção de carne de frango brasileira em 2003, enquanto os demais estados produziram 36%. Segundo estudo realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (IPARDES) em 2002, a carne de frango já ocupou o lugar da carne bovina como segundo tipo de carne mais consumida mundialmente, atrás somente da carne suína. Este bom desempenho pode ser atribuído a quatro fatores principais: seu baixo preço relativo diante das outras carnes; sua imagem de produto saudável junto ao consumidor; sua aceitação pela maioria das culturas e religiões; e a gama mais variada de produtos à base de frango. Atualmente, os maiores consumidores de frango do mundo são os Emirados Árabes com um consumo per capita de 53,5 kg/hab./ano (Figura 3). MUNDO 8,4 33,3 28,9 HONG KONG 36,6 EUA 43,1 44,8 EMIRADOS ÁRABES 53,5 0 10 20 30 40 50 60 Fonte: ABEF Figura 3 – Consumo per capita de carne de frango dos principais países em 2003, em kg/hab./ano. O Brasil, de acordo com a Figura 3, ocupou a quinta posição em consumo per capita de carne de frango em 2003, ficando atrás da Arábia Saudita, dos EUA, Kuwait e Emirados Árabes. Embora seja um dos maiores mercados consumidores, devido ao 6 tamanho do mercado interno, o Brasil tem um consumo por habitante relativamente baixo, indicando um bom potencial de crescimento para esse mercado. O mercado internacional tem se mostrado um escoadouro de excessos de oferta. Apesar da maioria da produção brasileira ser destinada ao mercado interno, as exportações assumem importância não somente por contribuírem para a melhoria na balança comercial, mas, sobretudo, por induzirem ganhos de produtividade através do acesso da indústria nacional a novas tecnologias e diferentes padrões de consumo. Segundo dados da ABEF, em 2003 o Brasil exportou 1.922.041 toneladas de carne de frango (cerca de 23% de sua produção) gerando uma receita de 1.709.743 mil dólares. Os Estados Unidos são os maiores exportadores mundiais de carne de frango. A maior parte de suas exportações é de cortes de frango, ou seja, o país atua fortemente no mercado de produtos de maior valor agregado, justamente o mercado em que o Brasil busca ampliar sua participação. Em 2003, as exportações norte-americanas atingiram 2,2 milhões de toneladas, volume que significa 15,2% de sua produção e representa um market share de 37%, mais de um terço da exportação mundial (Tabela 3). Tabela 3 – Exportação mundial de carne de frango, principais países de1999 a 2004, em mil toneladas ANO EUA BRASIL UE CHINA TAILÂNDIA MUNDO 2.080 771 776 375 285 4.442 1999 2.231 907 774 464 333 4.856 2000 2.520 1.249 724 489 424 5.589 2001 2.180 1.600 843 438 465 5.769 2002 2.237 1.922 730 388 528 6.075 2003 2.248 2.115 780 310 300 6.046 2004* Fonte: USDA (*) preliminar. Vale ressaltar que houve um crescimento de 149,3% no volume das exportações brasileiras de frango entre os anos de 1999 a 2003. Com esse desempenho, o Brasil mantém a posição de segundo maior exportador mundial de frangos (31,6% do mercado). O país tem procurado atender às exigências dos diferentes mercados compradores, colocando no mercado internacional grande diversidade de tipos de carne de frango. Apesar de ser um produto homogêneo, basicamente uma commodity, o frango inteiro ou em partes pode apresentar diferenciações conforme o mercado a que se destina. As exportações de frangos inteiros são direcionadas principalmente para os países do Oriente Médio, ao passo que as partes de frango têm como principais compradores os países da Europa e da Ásia (Tabela 4). 7 Tabela 4 – Exportações brasileiras de carne de frango por destinos, em 2003, em kg líquido DESTINO INTEIRO CORTES TOTAL América do Sul América Central e Caribe Europa Oriente Médio África Ásia Outros 24.910.375 5.021.051 123.988.986 557.164.780 50.078.785 34.024.147 2.856.340 3.192.951 23.770.654 496.706.626 46.221.367 95.978.860 450.146.368 7.980.814 28.103.326 28.791.705 620.695.612 603.386.147 146.057.645 484.170.515 10.837.154 Total 798.044.464 1.123.997.640 1.922.042.104 Fonte: ABEF. A Tabela 4 mostra que os maiores compradores de carne de frango brasileira em 2003 foram a Europa, o Oriente Médio e a Ásia, respectivamente. Os países europeus e asiáticos têm preferência por carne em cortes, ou seja, que sofreram algum tipo de industrialização. Os europeus importaram 80% de carne em partes, enquanto os asiáticos dedicaram 93% de suas importações de frango brasileiro a este segmento. Contudo, os países do Oriente Médio, que demandaram 31,4% das exportações brasileiras em 2003, possuem preferência relevada pelo frango inteiro. Segundo a ABEF, o Brasil exportou 603.386.147 kg líquidos de carne de frango para estes países em 2003, sendo 92,3% do total de frango in natura (inteiro). 2. METODOLOGIA 2.1. Modelo Teórico 2.1.2. Relações Sistêmicas Segundo FARINA et al. (1997), processos de desregulamentação setorial e de abertura comercial representam mudanças institucionais que aumentam a pressão competitiva, ampliam e alteram as estratégias de concorrência e crescimento, com impactos diretos sobre a organização de sistemas produtivos. Ainda segundo esta autora, as instituições são importantes no sistema econômico, já que existem diferentes níveis de informação sobre incerteza de mercado entre os agentes econômicos e grande número de concorrentes. Aliados a estes elementos, agem os custos de transação, que criam pontos críticos no desempenho econômico. Nesse ambiente turbulento e incerto, é necessário que hajam “regras” que determinem e orientem a direção a ser tomada, para que os problemas relacionados às interações entre os agentes sejam resolvidos e os acordos de troca sejam estabelecidos e cumpridos. A fim de se analisar sistemas agroindustriais, FARINA et al. (1997) propõem o seguinte conjunto de variáveis: Ambiente Institucional, Ambiente Organizacional, Ambiente Tecnológico, Ambiente Competitivo e Estratégias Individuais (Figura 4). 8 A m b ien te O rg a nizaciona l • O rgan izações corporatistas • B u reau s P úblico s e p riva d os • S in d icatos • In stitu tos d e P esq u isa • P olíticas S etoriais Privadas A m bien te In stitucion a l • Sistem a L egal • Tradições e costum es • Sistem a P olítico • Reg u lam en tações P olítica • M acroecon ôm ica • Políticas S etoriais G o vern am en tais A m bien te C om p etitivo • C iclo d e vid a d a In dú stria • E stru tura da in d ú stria • Padrões d e C on corrên cia • C aracterística do C on sum o E stratég ia s In divid ua is • Preço/cu sto • Seg m en tação • D iferen ciação • In ovação • C rescim en to Intern o • C rescim en to por aquisição A m b ien te T ecn ológico • Paradigm a T ecn ológico • Fase da trajetória tecn ológ ica A tributos das tran sações E struturas de G overnan ças R elações S istêm ica s esem pen D esem p e nhhoo (com p etitivid ad e) cia cia •S obrevivên Sobrevivên en to en to •C rescim C rescim Fonte: FARINA et al. (1997). Figura 4 – Relações Sistêmicas dos Ambientes e a Estrutura de Governança. A partir da Figura 4, os autores sugerem que a relação causal principal segue o seguinte padrão: a estrutura de governança é determinada pelos atributos das transações que, por sua vez, decorrem de condicionantes institucionais, organizacionais, tecnológicos e estratégicos. No curto prazo, os ambientes institucional, tecnológico e organizacional condicionam as estruturas de governança e as estratégias individuais que, por sua vez, determinam o desempenho em termos de sobrevivência e crescimento nos mercados. No longo prazo, as estratégias individuais e organizacionais determinam o ambiente competitivo, institucional e tecnológico, alterando as estruturas de governança eficientes. Dentro dessa perspectiva, o problema das políticas públicas setoriais passa a estar centrado na provisão de condições para a obtenção e manutenção da superioridade competitiva dos sistemas. 2.2. Modelo Analítico Em relação ao ambiente competitivo em que se insere o setor em estudo, a estrutura da indústria constitui-se em um de seus aspectos fundamentais determinados, principalmente, pelo seu grau de concentração. 9 2.2.1. Índices de Concentração O cálculo dos índices de concentração foi feito com base na metodologia apresentada por HOFFMAN (1991). Este autor utiliza quatro índices: Razão de Concentração (CRk), o índice de Hirshman-Herfindahl (H), o índice de Rosenbluth (B), e a Entropia (E). O método para o cálculo destes é apresentado a seguir: ♦ Razão de Concentração (CRk) Este índice, representado pela Equação 1, calcula que proporção do valor total é dominada pelas k maiores empresas de um setor. k CRk = ∑ Yi (1) i=1 Onde: K é o número de empresas analisadas; e Yi é a proporção do mercado pertencente a i-ésima empresa. As empresas devem estar coordenadas de maneira que: Y1 ≥Y2 ≥Y3...≥Yn. A parcela de mercado pertencente a cada empresa (Yi) é obtida dividindo-se a produção da empresa pela produção de toda a indústria (Equação 2). Yi = ___Xi___ N (2) ∑ Xi i=1 Onde: Xi é a produção individual de cada empresa; e N é o número de empresas que compõe a indústria. ♦ Índice de Hirschman-Herfindahl (H) O índice de Hirschman-Herfindahl (Equação 3) deve ser analisado ao longo de um período de tempo. N 2 H = ∑ (Yi) (3) i=1 Onde: N é o número de empresas do setor; e Yi é a proporção do mercado pertencente a i-ésima empresa. O valor máximo para H é observado em uma situação de monopólio, nessa situação H = 1. O valor do índice aproxima-se de zero quando a produção setorial está dividida de maneira relativamente igualitária entre um grande número de empresas. Admitindo-se que o mercado seja composto por firmas iguais, o H obtido na Equação 3 seria igual a 1/N. Com isso, no caso de monopólio, o H seria igual a um (H=1), no caso de duas firmas idênticas, o H seria igual a 0,5 (H=0,5) e assim sucessivamente. Pela fórmula matemática da Equação 3, o efeito das firmas muito pequenas é reduzido. Isto possibilita que, em muitos estudos, sejam consideradas apenas as parcelas de mercado das maiores empresas, não ocasionando, entretanto, grandes perdas dos 10 resultados e das características do indicador. Esta característica do índice tem grande importância prática, porque muitas vezes não há disponibilidade de dados de todas as firmas do mercado. Pelos resultados de H pode-se ainda estabelecer uma relação a respeito do número de firmas (N*) que atenderiam ao mercado com parcela idêntica, Equação 4. N* = __1__ (4) H A variação dos resultados de N*, para determinado período de tempo, fornece informações sobre a concentração desse setor. Este índice é uma ferramenta importante, pois, no caso de um H próximo de zero, H = 0,25, por exemplo, pode-se ter a falsa impressão de baixa concentração. Mas analisando o N*, percebe-se que N* = 4, indica que o valor de H corresponde a um setor composto por apenas quatro firmas iguais, caracterizando uma alta concentração. ♦ Índice de Rosenbluth (B) Previamente ao cálculo do índice de Rosenbluth (Equação 5) devem-se organizar as empresas de modo que: Y1≥ Y2≥ Y3... ≥Yn. B = ______1________ (5) n 2 ( ∑ iYi ) – 1 i=1 Onde: n é o número de empresas do setor; e Yi é a proporção do mercado pertencente à iésima empresa. Quando o setor for controlado por apenas uma empresa (monopólio), o índice atinge seu valor máximo, B = 1. E seu valor tende a zero quando houver uma situação de concorrência perfeita. ♦ Entropia (E) O valor da Entropia (Equação 6) cresce à medida que a concentração do setor diminui, por isso esta é considerada uma medida de desconcentração industrial. n E = ∑ Yi log ( 1/Yi ) (6) i=1 Onde: n é o número de empresas do setor; e Yi é a proporção do mercado pertencente à iésima empresa. Como 0 ≤ E ≤ log n, em uma situação de monopólio o valor de E será zero, caracterizando concentração máxima. Quando o setor for constituído por empresas com a mesma produção, E = log n. 2.2.2. Análise de Turnover Para estudar a dinâmica da competição no setor, utilizou-se a análise de turnover. SILVA (2004) adotou o procedimento de JOSCOW (1960) com algumas adaptações, e definiu a análise como a mudança nas posições das empresas em determinado ranking, dentro de um período. 11 A metodologia proposta por JOSCOW (1960) possibilita a identificação de mudanças de posicionamento de determinadas empresas de um ano para outro. De acordo com a disponibilidade de dados no ano inicial escolhido, pode-se agrupá-las de diferentes formas, em grupos de três, cinco, dez ou mais empresas (Tabela 5). Tabela 5 - Exemplo de análise de resultados de turnover por meio do procedimento de JOSCOW (1960) Ano Inicial 1993 Ano final 2003 Grupo Grupo A Grupo B Grupo... Saiu TOTAL Ranking A (1 - 5) 2 1 ... 2 5 B (6 - 10) 1 3 ... 1 5 ... ... ... ... ... ... ... TOTAL 3 4 3 10 Fonte: SILVA (2004). A Tabela 5 descreve o número de empresas que, no ano final do período analisado, permaneceram dentro do mesmo grupo, mudaram de posição entre os grupos, ou ainda, saíram do mercado ou deixaram de ser registradas no ranking por algum motivo. A última coluna deve somar, na horizontal, o tamanho definido para os grupos, e, na forma vertical, o total das firmas do ranking. A primeira linha está mostrando que das cinco empresas que formavam o Grupo A, em 1993, duas permaneceram neste grupo, uma caiu para o Grupo B e duas deixaram de ser registradas (fecharam, ficaram abaixo do grupo incluído no ranking, não divulgaram informações, mudaram de razão social ou foram adquiridas por outras); na segunda linha, nota-se que, das cinco empresas que estavam em 1993 no Grupo B, uma passou para o Grupo A, três permaneceram no mesmo grupo e uma deixou de ser registrada; e assim sucessivamente, até que na última linha tem-se uma informação referente ao número de empresas que se mantiveram no mercado, por grupos, e as que saíram. Neste estudo, a fim de se caracterizar a dinâmica de competição do setor avícola brasileiro, realizou a análise de turnover para as 15 maiores empresas do ano de 1993, avaliando-se as mudanças de posicionamento no período 1993 – 2003. 3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 3.1. Ambientes Organizacional, Institucional, Tecnológico, Competitivo e Estratégias Individuais do Setor A competitividade brasileira no setor resulta, em grande parte, de sua disponibilidade de grãos e de suas condições climáticas. Ademais, o país também tem demonstrado competência, reconhecida internacionalmente, para gerir adequadamente a cadeia produtiva. Para NOGUEIRA (2003), na avicultura brasileira, o arranjo institucional dominante para o suprimento de frangos aos processadores tem sido o contrato de parceria com produtores. Nessa estrutura, os processadores oferecem insumos e assistência técnica para a engorda, tendo exclusividade na aquisição dos frangos em peso de abate. Os produtores são responsáveis pelas instalações e equipamentos das granjas e pelo manejo, comprometendo-se a entregar os frangos para o processador. O pagamento dos lotes é feito de acordo com índices de eficiência do produtor no manejo, como conversão alimentar ou mortalidade. Segundo estudo do IPARDES (2002), a disseminação dos contratos de parceria favoreceu o rápido desenvolvimento tecnológico da produção e industrialização de aves, 12 gerando ganhos expressivos de produtividade, redução de custos, qualidade e padronização. Isso resultou no aumento da competitividade, que geralmente tem início na redução dos preços dos fatores de produção (como o próprio valor do frango inteiro, a ração, etc.), revelando a presença de economias de escala pecuniárias, característica que torna as empresas muito competitivas em termos organizacionais para operarem no comércio internacional. Este fato permite que a cadeia reaja mais rapidamente às mudanças de hábito de consumo. Grande parte das estratégias das empresas líderes consiste em agregar valor ao produto final. Essa agregação de valor pode, no caso mais simples, traduzir-se em cortes diferenciados de frango ou, no caso de estratégias mais sofisticadas de diversificação, em pratos prontos para o consumo à base de frango, que sejam adaptados aos vários países ou regiões aos quais o produto se destina. Assim, os países mais competitivos na etapa de abate e processamento, entre eles o Brasil, têm perseguido estratégias semelhantes (COSTA, 1999). Segundo SIFFERT FILHO, e FAVERET FILHO (1998), as principais empresas líderes do setor avícola possuem fortes semelhanças quanto às suas características nas instâncias organizacionais. Neste caso, a forma organizacional específica guarda baixa tolerância tecnológica, em meio a um ambiente de intensa concorrência. Estas empresas líderes formam um grupo estratégico, uma vez que compartilham dimensões competitivas semelhantes, como preço, marca, lançamento de produtos e marketing. Pode-se constatar a existência de elevadas barreiras à entrada no grupo estratégico onde atuam os grandes frigoríficos. Economias de escala, diferenciação de produto através de marcas fortes, capital necessário e acesso aos principais canais de distribuição (supermercados) são algumas destas barreiras. No entanto, elas não têm impedido a entrada e permanência no setor de pequenos frigoríficos, os quais competem principalmente em mercados que consomem produtos homogêneos (frango inteiro resfriado) em que o critério de compra ligado ao preço é muito importante para o consumidor. Nesse contexto, o futuro dos pequenos empreendimentos está ligado à organização em arranjos verticais e à capacidade de encontrar nichos de mercado, nos quais as escalas de produção sejam os determinantes menos importantes da competitividade do negócio. As empresas que operam no mercado exportador são também aquelas que lideram o processo de introdução de novas tecnologias, de diferenciação e de lançamento de novos produtos no mercado interno. A exportação permite a obtenção de enorme conhecimento em relação às tendências de segmentação dos mercados, posicionamento de concorrência e comportamento do consumidor (JANK, 1997). O setor avícola brasileiro tem sofrido fortes transformações nos últimos anos. Um dos fatos que mais chama atenção na atualidade é o aumento da procura por carne de frango pelo consumidor brasileiro, assim como a maior exigência deste em relação ao produto adquirido, especialmente no que diz respeito à procura por frango em partes e/ou que já sofreu algum tipo de processamento. Este comportamento, decorrente da crescente importância da alimentação fora de casa (fast food, lanchonetes, restaurantes, refeições industriais), aumenta a procura por produtos derivados do frango, que vão dos cortes especiais aos pratos semi-prontos. Dessa forma, a diversificação para produtos adequados a essas tendências e que possibilitem agregar valor torna-se uma importante estratégia para contornar a estagnação do consumo per capita. No Brasil, especificamente, o preço é variável fundamental de decisão de compra por parte do consumidor. Os principais produtos industrializados que possuem maior valor agregado e que são utilizados pelas empresas mais modernas para atender à parcela da população com maior poder aquisitivo são: presuntos, hambúrgueres, pastas, 13 pedaços empanados, salsichas, etc. As grandes empresas estão buscando uma estratégia de segmentação de mercado por parte dos avicultores, aliando a favorável relação custo/benefício do produto para o consumidor aos benefícios nutricionais, conveniência de preparo e preço atraente. Vai-se abandonando o marketing direcionado ao grande público e invocando a individualização da clientela. O resultado é a recuperação do faturamento de muitas firmas e o acesso a novos mercados de maior poder aquisitivo, até então inexplorados (IPARDES, 2002). Vale ainda destacar o processo de internacionalização que alguns grandes grupos estrangeiros estão empreendendo. Segundo PASIN (2004), a ocorrência de fusões e aquisições tem como objetivos principais a busca de mercados mais dinâmicos, o aumento do poder de mercado, redução de custos de marketing, distribuição e qualidade, obtenção de economias de escala e aumento de eficiência e a entrada em mercados regionais/locais. Este autor destaca as principais transações ocorridas nos últimos anos, sendo o caso, por exemplo, da Avipal, que em 1996 comprou por R$ 178 milhões a CGCL/Elegê do sub setor de avicultura e laticínios. Em 1997, o grupo argentino Bunge y Born adquiriu a Ceval Alimentos por US$ 201 milhões, que posteriormente fundiu-se com a Santista Alimentos S/A resultando na Bunge Alimentos. Em 1998, foi o grupo francês Doux que obteve o controle acionário do gaúcho Fragosul. Em 1999, por US$ 213 milhões, os também argentinos Sociedade Macri (Socma) compraram a Chapecó e, neste mesmo ano, a Sadia adquiriu a Granja Resende e a Perdigão comprou o Frigorífico Batávia por US$ 75 milhões e US$ 20 milhões, respectivamente. 3.2. Índices de Concentração do Setor No presente trabalho, utilizaram-se dados relativos ao abate de frangos das principais empresas do setor, entre os anos de 1993 e 2003. A escolha da variável (abate de cabeças por ano) e do período de análise tiveram como principal critério a disponibilidade dos dados. A partir desses dados foram calculados os principais índices de concentração (Tabela 6). Tabela 6 – Principais índices de concentração das empresas abatedoras de carne de frango, Brasil de 1993 a 2003 Ano CR4 CR6 CR8 CR12 H N* B E 1993 0.449 0.546 0.619 0.702 0.077 13.0 0.048 1.39 1994 0.460 0.567 0.653 0.740 0.081 12.4 0.053 1.35 1995 0.446 0.557 0.641 0.721 0.075 13.4 0.050 1.38 1996 0.453 0.574 0.674 0.752 0.077 13.1 0.054 1.35 1997 0.451 0.563 0.646 0.737 0.073 13.8 0.052 1.37 1998 0.440 0.559 0.640 0.717 0.070 14.2 0.050 1.39 1999 0.438 0.553 0.628 0.708 0.068 14.7 0.049 1.40 2000 0.441 0.545 0.621 0.705 0.066 15.1 0.048 1.41 2001 0.456 0.557 0.636 0.715 0.069 14.5 0.049 1.39 2002 0.457 0.559 0.625 0.701 0.068 14.7 0.047 1.40 2003 0.475 0.581 0.636 0.705 0.074 13.6 0.048 1.38 Fonte: dados da pesquisa. 14 Parcela de mercado Os dados da Tabela 6 indicam que houve um pequeno aumento na concentração de mercado nos quatro níveis observados ao longo dos dez anos analisados. A parcela de mercado das quatro maiores empresas passou de aproximadamente 45% em 1993, para 47,5% em 2003. As seis maiores empresas em 1993 detinham 54,6% do mercado, alcançando 58,1% em 2003. Já a conquista percentual no caso das oito principais empresas abatedoras foi de apenas 1,7 pontos percentuais, passando de 61,9% para 63,6%. Enfim, o grupo das doze maiores empresas em 1993 possuíam uma parcela equivalente a 70,2% do mercado e alcançaram 70,5% em 2003. O índice H apresentou comportamento regular ao longo dos anos analisados, indicando que a concentração do setor não sofreu grandes alterações. Isto também pode ser observado pelo número de empresas que atenderiam o mercado com parcelas iguais. Em 1998, seriam necessárias treze empresas, enquanto que, em 2003, 14 firmas comporiam o setor. O índice B sofre um discreto decréscimo a partir de 1996, sugerindo queda na concentração do setor. Porém, pode se observar que ao final do período analisado este atinge o nível inicial, indicando que não houve mudanças na concentração. A Entropia não apresenta variação ao longo do período, significando que a concentração permaneceu constante. Contudo, devemos observar que o abate de frangos no Brasil é realizado por muitas empresas, onde as menores firmas assumem parcelas atômicas desta produção. Por exemplo, quando se considerar o grupo das quinze maiores empresas abatedoras de frango no Brasil, há uma grande diferença quantitativa entre a parcela de mercado dominada pelas cinco maiores, pelas empresas que compõe o grupo da sexta à décima (intermediário) e da décima primeira à décima quinta (Figura 5). 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 Anos 1a5 6 a 10 10 a 15 Fonte: dados da pesquisa Figura 5 – Parcela de mercado das empresas abatedoras de frango no Brasil de 1993 a 2003, em porcentagem. A Figura 5 sugere que o market share do primeiro grupo de firmas, composto pelas cinco maiores, é muito superior aos outros dois grupos, e apresenta uma tendência positiva de crescimento desde 1999. A parcela dominada pelo grupo intermediário apresentou pequena queda e a fração do mercado de posse do último grupo de empresas permaneceu relativamente constante ao longo do tempo. Segundo BÁNKUTI (2003), o mercado brasileiro de carnes é conduzido por uma série de problemas, entre os quais o abate clandestino. Há muita controvérsia sobre estes números; porém, segundo dados da ABEF, em 2003, cerca de 15% dos abates de frangos realizados no brasil não sofreram inspeção federal. Este fato, ligado ao grande número de empresas que compõe o setor, tornam-se obstáculos na classificação do setor como concentrado ou não concentrado. 15 Para SIFFERT FILHO e FAVERET FILHO (1998), há uma aparente hierarquia de graus de concentração entre os vários segmentos da indústria de carnes. Segundo estes autores, o grau de concentração cresce com a complexidade tecnológica e gerencial dos segmentos, ou seja, os segmentos que exigem processos produtivos mais elaborados e intenso esforço de vendas. Gastos com propaganda e gerenciamento da cadeia de frios são acessíveis a poucas empresas, enquanto que o abate e a comercialização de produtos pouco sofisticados ,como frango resfriado ou congelado inteiro e mesmo em cortes, tem baixas barreiras à entrada. 3.3. Análise de Turnover A Tabela 7 dedica-se a apresentar o turnover do período completo entre os anos de 1993 e 2003. Como observado em todas as análises, o grupo A segue constante; no grupo B, quatro empresas permaneceram e uma saiu e no grupo C, onde ocorrem as maiores modificações, uma empresa subiu para o grupo B, três saíram e apenas uma permaneceu neste grupo. Tabela 7 – Análise de Turnover das 15 maiores empresas da indústria avícola no Brasil, entre 1993 e 2003 1993 Empresas por ranking 2003 Saiu ou não foi Grupo Ranking Grupo A Grupo B Grupo C registrada entre as 15 A (1 - 5) 5 0 0 0 B (6 - 10) 0 4 0 1 C (11 - 15) 0 1 1 3 Fonte: dados da pesquisa. Portanto observa-se que houve um turnover relativamente baixo entre as empresas do setor avícola. Nos grupos das maiores empresas, A e B, não ocorreram alternâncias significativas, sendo que no primeiro, em momento algum aconteceram saídas ou entradas de novas empresas. O grupo C sofreu algumas modificações pelo fato das empresas desse grupo possuírem menor parcela de mercado e serem mais sensíveis às mudanças no mercado. 4. CONCLUSÕES A cadeia produtiva da carne de frango é um exemplo de sucesso no complexo agroindustrial brasileiro. Nos últimos anos, sofreu uma estruturação em todos os elos da cadeia: dos insumos agrícolas e pecuários, passando pelo desenvolvimento genético e adequação sanitária, pelo aumento e modernização do abate e da industrialização, até o desenvolvimento da logística de transporte e distribuição. A integração vertical contribuiu para o desenvolvimento da indústria avícola uma vez que induziu à rápida adoção de tecnologia para um melhor controle da matériaprima, economias de escala, redução de custos e diminuição de riscos na atividade, conferindo, assim, maior competitividade ao produto brasileiro. Após fomentar a expansão do mercado interno, o setor iniciou sua incursão no mercado internacional e teve um crescimento que se processou de forma segura, firmando-se como um competidor internacional destacado. Este grande avanço alcançado pelo setor traz consigo questões referentes à participação das empresas nesse mercado. Em particular os resultados obtidos pelo cálculo dos índices de concentração industrial não apontam para um grande aumento na 16 concentração do setor avícola nacional. Contudo, deve-se considerar a grande diferença existente entre as parcelas de mercado dominadas pelas grandes empresas e pelas firmas de pequeno porte. A análise de turnover teve como objetivo avaliar a mudança de posicionamento entre as principais empresas num ranking, que teve 1993 como ano base. Foi possível observar que ocorreram poucas alternâncias de posicionamento. Porém, foram observadas algumas mudanças no grupo C, que é composto por empresas de pequeno porte, e por isso instáveis em relação às mudanças conjunturais. Nenhuma das maiores empresas, que formavam o primeiro grupo perderam posições para as empresas dos outros grupos. A tendência quanto ao futuro da indústria avícola no Brasil será determinada por fatores exógenos e pela condição geral da própria indústria. Os avanços em termos de técnica de produção, conquista do mercado consumidor, adequação do mercado de insumos e, principalmente, avanço no mercado internacional são variáveis fundamentais para o desempenho desse importante setor da economia brasileira. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABEF - Associação Brasileira dos Exportadores de Frango. Relatórios. (http://www.abef.com.br/relatorios/, capturado em 10 de jun. de 2004). BÁNKUTI, F.I. Os Abates Clandestinos sob a Ótica da Nova Economia Institucional (NEI) e da Organização Industrial (OI). (http://www.gepai.dep.ufscar.br/publicacoes.htm, capturado em 17 de nov. de 2003). COELHO, C.N.; BORGES, M. O Complexo Agroindustrial (CAI) da Avicultura. (http://www.agricultura.gov.br, capturado em 27 de nov. de 2002). COSTA, T.V.A.M. Integração Regional e seus Efeitos sobre as Exportações Brasileiras de Carne Avícola. Porto Alegre: UFRGS, 1999. 131 p. Dissertação (Mestrado em Economia Rural) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1999. 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