UTI Neonatal/HRAS/HMIB/SES/DF Hemorragia intraventricular e neurodesenvolvimento nos recém-nascidos prétermo extremos Intraventricular Hemorrhage and Neurodevelopmental Outcomes in Extreme Preterm Infants Srinivas Bolisetty, Anjali Dhawan, Mohamed Abdel-Latif et al Pediatrics 2014;133:55–62 Apresentação: Joaquim Bezerra, R4 em UTI Pediátrica/HRAS/HMIB/SES/DF Coordenação: Nathália Bardal www.paulomargotto.com.br Brasília, 3 de agosto de 2015 Consultem o Artigo Integral! • Intraventricular hemorrhage and neurodevelopmental outcomes in extreme preterm infants. • Bolisetty S, Dhawan A, Abdel-Latif M, Bajuk B, Stack J, Lui K; New South Wales and Australian Capital Territory Neonatal Intensive Care Units' Data Collection. • Pediatrics. 2014 Jan;133(1):55-62 • Free Article O QUE É CONHECIDO SOBRE ESTE ASSUNTO o ultrassom craniano é rotineiramente utilizado na identificação de anormalidades cerebrais em crianças prematuras. Hemorragia intraventricular Grau III e IV, leucomalácia periventricular cística e ventriculomegalia tardia são todos preditores conhecidos de seqüelas no desenvolvimento neurológico adverso nestas essas crianças. Introdução • Hemorragia Intraventricular (HIV) é a lesão cerebral mais comum evidenciada pelo ultrassom (US) transfontanelar nos recém-nascidos (RN) pré-termos extremos1. • A classificação de Papile2 é usada para graduar a severidade da HIV. • HIV graus III-IV e outras lesões como leucomalácia periventricular, porencefalia e ventriculomegalia estão sabidamente associadas com alterações no neurodesenvolvimento dos RN PT (recém-nascido pré-termo)3-7. Introdução • Entretanto, o verdadeiro impacto das HIV de menor grau no neurodesenvolvimento dos RN PT extremos ainda não foi bem estabelecido. Introdução • A HIV origina na matriz germinativa, que é a fonte das células neuronais e gliais futuras no cérebro imaturo. A matriz germinal que inicialmente envolve todo o sistema ventricular fetal na gestação previável, gradualmente involui, permanecendo sobre o corpo do núcleo caudado entre 24 e 28 semanas de gestação e, a nível da cabeça do núcleo caudado entre 28 e 32 de semanas de gestação Introdução • Portanto é lógico suspeitar que mesmo as menores hemorragias na matriz germinativa germinal pode ter um impacto sobre o futuro da migração das células neuronais e gliais no cérebro imaturo. OBJETIVO • Investigar o impacto da severidade da HIV no neurodesenvolvimento a longo prazo em uma grande coorte de RNPT extremos (10 UTI Neonatais no New South Wales (NSW) e no Australian Capital Territory. HIPÓTESE • RNPT extremo com algum grau de HIV tem pior desfecho no neurodesenvolvimento comparado com aqueles sem HIV Métodos • Coorte retrospectiva utilizando dados coletados prospectivamente. • Banco de dados de 10 UTIN terciárias da Austrália. • Período: Janeiro 1998 a Dezembro 2004. • Critérios de inclusão: - Idade Gestacional (IG): entre 23 e 28semanas e 6 dias • Critérios de exclusão: - Mal formações congênitas - Óbito antes da realização do ultrassom craniano. Métodos • US transfontanelar: realizado nos dias 1 a 4 dias de vida, 10 a 14 dias de vida, de 4 a 8 semanas e de 36 a 40 semanas de pós-concepção. • Realizada por radiologistas e/ou neonatologistas. • Classificação de Papile2 foi utilizada para graduar a severidade da HIV. • Porencefalia encefaloclásticas refere-se ao desenvolvimento tardio da grande ecodensidade e lesões císticas que envolvem a periferia do cérebro. • A confiabilidade interobservador e a acurácia na interpretação do US transfontanelar foi previamente validada e reportada no estudo10 (78-90% de acôrdo). Métodos • Para todo RNPT < 29sem de IG, a rotina das UTI Neonatal da Região é a realização de avaliação do neurodesenvolvimento por uma equipe, até 2 a 3 anos de idade corrigida, incluindo a aplicação de escalas de avaliação mental (GMDS-GQ; BSIDII-MDI). • Os resultados dessas avaliações são incluídos nos bancos de dados das UTI Neonatal de origem. Métodos O desfecho primário medido foi o prejuízo neurosensorial moderado e grave com 2 a 3 anos de idade corrigida. • Prejuízo neurosensorial moderado: atraso no desenvolvimento (GMDS-GQ ou BSIDII-MDI entre 2 e 3 desvios padrões abaixo da média), paralisia cerebral moderada ou surdez. • Prejuízo neurosensorial grave: atraso no desenvolvimento (GMDS-GQ ou BSIDII-MDI ≥ 3 desvios padrões abaixo da média), paralisia cerebral severa ou cegueira bilateral. Métodos • Análise estatística: SPSS 20. • Análise multivariada usando modelos de regressão logística ajustados para as características clínicas que foram determinadas para relação entre os grupos de estudo (sem HIV, HIV graus II-II e III-IV) e desfechos no neurodesenvolvimento. • Estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética. Resultados Durante o período do estudo, 2.701 RNPT extremos (23-28 semanas de gestação) idade) foram registrados no banco de dados da UTI Neonatal, e 133 crianças morreram antes da realização do ultrassom craniano Após as exclusões, a população de estudo consistiu de 2.414 crianças, das quais 819 (33,9%) foram diagnosticados com HIV, 515 (21,3%) com HIV grau II - I e 304 (12,6%) com HIV grau III-IV . Destes, 446 morreram; Lactentes com HIV III-IV teve uma significativa maior taxa de mortalidade (62,2%) em comparação com os com HIV I-II (15,7%) e não-HIV (11%); Dos 1.968 sobreviventes, 1.472 (74,8%) lactentes foram avaliados em 2 a 3 anos de idade corrigida para a prematuridade Figura 1 A Tabela 1 compara lactentes que foram acompanhados com aqueles perdidos no seguimento. As crianças perdidas no seguimento tiveram menor morbidade neonatal em comparação com bebês que foram acompanhados. Resultados • Na Tabela 2, as características perinatais dos grupos com HIV e sem HIV. • Fatores associados com MENOR risco de HIV: doença hipertensiva específica da gravidez, , restrição do crescimento intrauterino, parto cesáreo (com ou sem trabalho de parto) e esteróide antenatal. • Fatores associados com MAIOR risco de HIV graus III-IV: sexo masculino, Apgar baixo, nascimento fora de um centro terciário. • Morbidades importantes (displasia broncopulmonar, persistência do canal arterial, retinopatia da prematuridade, enterocolite necrosante, sepse,) foram mais comuns nos pacientes com HIV. RN com pneumotórax tiveram mais HIV graus III-IV. Resultados • Comparado com os sem HIV, os RNPT com HIV tiveram mais achados anormais no ultrassom transfontanelar de 6 semanas (leucomalácia periventricular, cisto porencefálico e hidrocefalia) e ocorram em 69% dos casos de HIV graus III-IV. Resultados • Altas taxas de alterações neurosensoriais moderadas a graves foram observadas com o aumento do grau da HIV: - 12,1% (1043)sem HIV; - 21,1% (232)HIV grau I; - 24% (140)HIV grau II; - 41% (56)HIV grau III; - 46% (37)HIV grau IV. Resultados • Quando excluídas outras alterações ecográficas (LPV, cisto porencefálico, ventriculomegalia), as taxas de alterações neurosensoriais moderadas a graves ficam: - 17,6% (205)HIV grau I; - 20,9% (91)HIV grau II; - 36,8% (19)HIV grau III; - 40% (10)HIV grau IV. Resultados • RN com HIV grau III-IV tiveram alta taxa de alterações neurosensoriais moderadas a graves (43%).Tabela 3 • RN com HIV grau I-II tiveram 2x mais alterações neurosensoriais moderadas a graves (22%) quando comparados com aqueles sem HIV (12,1%). Resultados • RN com HIV grau I-II tiveram maior taxa de paralisia cerebral do que os sem HIV (10,4% vs 6,5% - OR :1.72 ; IC 1,11-2,67). • RN com HIV tiveram maior incidência de perda auditiva comparada com os sem HIV. Resultados • Analise Multivariada: Tabela 4 - A OR ajustada para alterações moderadas a graves em RN com HIV grau I-II foi de 1,61 (IC 95% 1,14-2,28), quando comparado com os sem HIV, e para os com HIV grau III-IV foi de 3,81 (IC 95% 2,3-6,3). - HIV grau I-II manteve-se como fator de risco independente para alteração neurosensorial moderada a grave (1,45 IC 95% 1.003-2.112, P=0.048). Resultados Resultados • Dos 336 crianças com HIV grau I-II IVH, 40 apresentaram outras anormalidades ultrassom, incluindo leucomalácia periventricular, cisto porencefálico ou dilatação ventricular tardia detectado no ultrassom de 6 semanas. Resultados • A Tabela 5 mostra o resultado do desenvolvimento neurológico de 296 casos de HIV grau I-II estratificada por gestação. • Moderada comprometimento neurossensorial grave foi significativamente maior em HIV I-II isolada em comparação com nenhuma HIV em 23 a 25 semanas de gestação (24,3% vs 18%) e nos grupos de 26 a 28 semanas de gestação (15,5 %vs 10%), representando uma consistente taxa de 5% de deficiência entre os lactente sem HIV e com HIV I-II isolada Resultados Discussão • No presente estudo, com uma amostra de 1472 prematuros sobreviventes, revelou-se que a presença de HIV, mesmo grau I-II, está associado com pior desfechos no neurodesenvolvimento destes. • Alterações neurosensoriais moderadas a graves foram maiores no grupo HIV grau I-II do que no grupo sem HIV (22% vs 12%). Após excluídos outros achados ecográficos a diferença foi de 19% vs 12%, representando uma taxa de diferença de deficiência de 7% entre os lactentes sem HIV e os lactentes com HIV. Discussão • Após ajuste de variáveis confundidoras, HIV grau I-II isolada significa fator de risco independente para piores desfechos (OR ajustada 1,73, IC 95% 1,22-2,46). • Observou-se uma maior incidência de perda auditiva no grupo HIV grau I-II, que poderia contribuir para aumentar os defechos neurosensoriais adversos. Mas quando excluída a perda auditiva isoladamente, a HIV grau I-II manteve-se como fator de risco para piores desfechos neurosensoriais. Discussão • Os resultados do presente estudo somam-se a resultados de outros estudos12-15. • EPIPAGE study13 (France 1997): n =942, IG <32sem; HIV grau III presente em 16% dos RN associou-se com risco de 5,5% para paralisia cerebral aos 2 anos de idade corrigida. • Patra et al14 (EUA 1992-2000): 104 RN com HIV grau I-II tinham um menor MDI-2x mais (mental developmental index) quando comparados com 258 pacientes com ultrassom cranianonormal aos 20 meses de idade corrigida, assim como 2x mais deficiênca neurológica grave e 1,83x mais de deficiência neurocomportamental, mesmo após ajuste para fatores de confusão. Discussão • Vavasseur et al15 (Irlanda): RN com HIV grau III com 24 a 26sem e 27 a 29sem tinham, significativamente, menores escores MDI e PDI, no entanto, os escores foram semelhantes com 30-32 semanas • Klebermass-Schrehof et al16 Áustria)relataram desenvolvimento neurológico anormal até 5,5 anos em lactente prematuros de 32 semanas de gestação com HIV grau I-II. Discussão • Apesar dessas publicações, essas evidencias geralmente são pouco apreciadas entre os médicos. Isto é provavelmente devido a alta incidência de eventos adversos em RNPT extremos mesmo sem HIV, e, isto requer amostras grandes para se identificar um aumento relativamente pequeno nos riscos quando comparado com os sem HIV. Discussão • Alguns estudos relatam associação da HIV com desfechos adversos na idade escolar e além desta. • Victorian Infant Collaboration Study Group18: RNPT, com PN < 1000g;aos 8 anos de idade, a taxa de paralisia cerebral foi de 6,7% nos sem HIV, sem aumento nos com HIV grau I (6,4%), mas com elevação importante para 24% nos com HIV grau II. Discussão • Estudo populacional holandês19 envolvendo RNPTs IG<32sem e/ou PN <1500g, relatou que o risco de cuidados educacionais especiais para adolescentes com HIV I-II foi maior em relação aos sem HIV. Discussão • O mecanismo de lesão cerebral com HIV graus I-II isolada durante a gestação precoce pode resultar em deficiente desenvolvimento cortical. • A matriz germinativa é uma fonte de células precursoras neuronais em entre 10 a 20 semanas de gestação, após a qual ela é uma fonte de células precursoras gliais no processo de migração para as regiões corticais por volta da época em que os recémnascidos de muito baixo peso nascem. Discussão • Estas células produzem a oligodendroglia, a ausência da qual pode afetar a mielinização e células precursoras astrocíticos, necessárias para o desenvolvimento cortical. • Sugere-se que quando ocorre pequena HIV no período relativamente inicial da gestação pode afetar a migração neuronal e resultar em lesão cerebral excessiva2,21. Discussão • HIV graus I-II também pode causar lesões a nível da cabeça do núcleo caudado, bem como destruir células que migrariam migrar para estruturas subcorticais tais como a amígdala e o tálamo. • Portanto, as funções determinadas pelas áreas sub-corticais podem ser negativamente afetadas nos casos de HIV com baixos graus22. Discussão • Estudo de ressonância magnética de 12 lactente com HIV não complicada, 7 de grau I, 4 de grau II e 1 grau III, mostrou que o volume da substância cinzenta cortical cinzenta cortical foi reduzida comparativamente com o 11 RN sem HIV23. • Existem também vários determinantes que não são capacitados pelo ultrassom craniano, como lesão da substância branca, tronco cerebral e lesão hipóxica do hipocampo, assim como a hemorragia ou isquemia Discussão • Limitações: revisão retrospectiva, sendo que os dados foram coletados de banco de dados e não de um protocolo de pesquisa prospectivo. • Os efeitos adversos observados tanto em pacientes com ou sem HIV poderiam ser atribuídos a lesão da substância branca, não identificada pelo ultrassom. Discussão • A natureza retrospectiva pode não nos permitir a determinação da concordância interobservadores e acurácia dos achados ultrassonográficos. • Estudos que avaliam a HIV tem geralmente bons resultados nos diagnósticos de altos graus de HIV ou sua ausência, mas piores quando há graus leves de HIV. 10,24–26 Discussão • 75% dos pacientes foram seguidos. As perdas no seguimento foram de pacientes com menor risco perinatal/morbidades quando comparado com os acompanhados pelo serviço. • ultra-som imaging na nossa UTIN é geralmente restrita a pontos de vista sagital e coronal através da fontanela anterior. Não é uma prática comum entre a UTIN obter vistas mastóide para melhorar a detecção de qualquer cerebelar ou lesões da fossa posterior. Discussão • Paneth e os colegas encontraram lesões do cerebelo em 28% dos recém-nascidos prematuros na autópsia. No entanto, a importância destas lesões permanece incerto. 27 • O follow-up é feita por uma equipe formada por: pediatra, neonatologista e/ou psicólogo certificado para aplicar o Griffiths and Bayley assessment. Conclusão • Baixos graus de HIV podem influenciar negativamente no neurodesenvolvimento a longo prazo de RNPT extremos. • Sendo assim, sugere-se maior precaução no manuseio desses pacientes e se reforça a importância do follow-up a longo prazo e rastreio de alterações no neurodesenvolvimento desses pacientes. O QUE ESTE ESTUDO ACRESCENTA Os presente autores revisaram o desenvolvimento neurológico de 2414 crianças que nasceram prematuras extremas. Crianças com hemorragia intraventricular graus I e II apresentaram aumento das taxas de deficiência neurossensorial, atraso no desenvolvimento, paralisia cerebral e surdez na idade corrigida de 2 a 3 anos. Nota do Editor do site, Dr. Paulo R. Margotto Consultem também Aqui e Agora! Prevenção pós-natal da hemorragia peri/intraventricular do recémnascido pré-termo (Encontro em Fortaleza, 26/3/2015; 22o Congresso Brasileiro de Perinatologia, 19 a 22/11/2014) Autor(es): Paulo R. Margotto HEMORRAGIA INTRAVENTRICULAR NO RN PRÉ-TERMO Prognóstico -A substância branca é o local mais comum do impacto neuropatológico da HIV (: destruição da matriz germinativa deficiente desenvolvimento cortical -10-24 semanas de gestação, a migração neuronal se completou; -a seguir, a matriz germinativa provê precursores gliais que se tornarão oligodentrócitos e astrócitos (estágio tardio da gliogênese) -estes astrócitos migram às camadas superiores (cruciais para o desenv. cortical) os astrócitos migram às camadas corticais através de um campo minado! (Levinton/Gressens, 2007) -Vaseleiadis et al(2004): redução cortical de 16% em HIV não complicada (deficiente desempenho cognitivo) -Patra, 2006: HIV grau I e II em RN de 24-29 sem. Aos 2 anos: 2 x aumento do risco desempenho cognitivo ruim e 2,7 anormalidades motoras, -Bolisetty,2014:2414 RN de 23sem a 28 sem6d Após controle para fatores de confusão na análise multivariada: OR ajustada para disfunção moderada a grave em lactentes com HIV grau I-II: 1,61 (IC de 95% 1,14-2,28) x RN sem HIV -Vohr(2014):adolescentes ex-prematuros com HIV II: maior risco para deficiências neurocognitivas (OR 2.93; CI 1.32–6.53) Hemorragia intraventricular no recém-nascido pré-termo Autor(es): Paulo R. Margotto • • Patra e cl, em RN entre 24-29 semanas de idade gestacional com HIV grau I e II, relataram prognóstico ruim aos 2 anos de idade, após ajuste de variáveis de confusão (2 vezes o aumento do risco de menor desempenho cognitivo e 2.6 vezes o aumento do risco de anormalidades neuromotoras). Estes resultados podem estar relacionados com a destruição da matriz germinativa, ocasionando deficiente desenvolvimento cortical. Entre 10-24 semanas de gestação, a migração neuronal se completou, mas a matriz germinativa provê precursores gliais que se tornarão oligodentrócitos e astrócitos. Neste estágio tardio da gliogênese, os astrócitos migram às camadas superiores corticais e são cruciais para a sobrevivência neuronal e o desenvolvimento do córtex cerebral. Estes achados são consistentes com as publicações na literatura a respeito dos possíveis efeitos da perda astrocítica no desenvolvimento cortical. Esta destruição leva a perda destes percussores gliais necessários para a mielinização e o desenvolvimento cortical.Segundo Leviton e Gresse os astrócitos migram às camadas corticais através de um campo minado. A destruição da matriz germinativa pode ocasionar deficiente desenvolvimento de astrócitos que foram destinados para as camadas supragranulares (superiores). • Assim, mesmo leve HIV sem dilatação ventricular pode resultar em grande lesão cerebral, especialmente neste período precoce da vida. Vasileiadis e cl demonstraram à ressonância magnética uma redução de 16% do volume da substância cinzenta na idade a termo em uma coorte de RN de muito baixo peso com HIV não complicada. A perda da organização cortical pode refletir na perda do volume da substância cinzenta e consequentemente, deficiente desempenho cognitivo. Segundo Inder, a substância branca cerebral é o sítio comum do impacto neuropatológico para a hemorragia intraventricular. Lesão neurológica isquêmica e hemorrágica do prematuro: patogenia, fatores de risco, diagnóstico e tratamento Autor(es): Paulo R. Margotto • • • Leucomalácia periventricular/Infarto hemorrágico periventricular Devido ao aumento da sobrevivência nos recém-nascidos (RN) de peso ao nascer abaixo de 1.500g (taxa de sobrevivência de 73% na América Latina), particularmente os RN < 1.000g, a compreensão da lesão cerebral nestes RN, principalmente a sua prevenção, é de alta relevância no moderno cuidado intensivo neonatal. No Hospital Regional da Asa Sul (SES/DF), as taxas de sobrevivência, no ano 2000, de RN abaixo de 1.000g com idade gestacional de 26 semanas, 27 semanas, 28 semanas, 29 semanas foram, respectivamente, 50%, 77,77%, 66,66% e 100%. Analisando por faixa ponderal, as taxas de sobrevivência foram de 60% e 83,87% para os RN de 800g – 899g e 900g-999g. Assim, definimos o nosso limite de viabilidade (taxa de sobrevivência maior que a mortalidade) como sendo 26 semanas e 800g. A presença de cistos na substância branca invariavelmente está associada à significativa morbidade a longo prazo. A identificação precoce dos RN pré-termos de maior risco para o desenvolvimento destas lesões é fundamental, pois pode facilitar futuras estratégias preventivas. Prognóstico neurológico da ultrassonografia em prematuros extremos (XX Congresso Brasileiro de Perinatologia, Rio de Janeiro, 21-24/11/2010) Autor(es): Michael O´Shea (EUA). Realizado por Paulo R. Margotto O Dr. Volpe chama a nossa atenção para duas lesões importantes no cérebro, sendo importantes antecedentes para disfunção mental posterior: • -o infarto hemorrágico periventricular (IHP) que é uma lesão que se apresenta no US em forma de ventarola; 1 mês depois, ocorre a formação de um grande cisto • -hemorragia intraventricular (HIV) • -ventriculomegalia • Outra coisa importante é a leucomalácia periventricular (LPV) musticística detectada no US. • O que é importante paras as lesões na área da substância branca: • -hipercogenicidade periventricular, • -IHP • -ecolucência periventricular A LESÃO NEURONAL ACOMPANHA A LESÃO DA SUBSTÂNCIA BRANCA PERINATAL Neuronal damage accompanies perinatal White-matter damage Alan Leviton, Pierre Gressens Trends in Neurosciences 2007;30:473-478 (resumido por Paulo R. Margotto) • • • • • • Não está ainda claro quando o ocorre a perda neuronal na lesão da substância branca. Leviton e Gressens defendem a hipótese que a lesão oligodendrócita e neuronal têm semelhante padrão temporal e geográfico. Talvez o processo que leva a lesão da substância branca também lesa os neurônios que migram através da substância branca que está sendo lesada. O suporte para isto vem de modelos animais que demonstraram lesão tanto da substância branca como da subplaca. O termo corticoneurogênese compreende o processo de produção, alocação, migração e estabelecimento dos neurônios em localizações próprias dentro da placa com conecções próprias. Segundo Vasileiadis et al (Vasileiadis GT, et al. Uncomplicated intraventricular hemorrhage is followed by reduced cortical volume at near-term age. Pediatrics 2004;114:e367-e372), a matriz germinativa representa o remanescente da zona germinativa; entre 10-24 semanas de gestação, esta região celular é a fonte de precursores neuronais; após 24 semanas de gestação, a migração neuronal se completou, mas a matriz germinativa provê precursores gliais que se tornarão oligodendrócitos e astrócitos. Neste estágio tardio da gliogênese, os astrócitos migram às camadas superiores corticais e são cruciais para a sobrevivência neuronal e o desenvolvimento normal do córtex cerebral. Nos humanos, os neurônios neocorticais derivados da neuroepitélio germinativo (zona ventricular e eminência ganglionar) migram para as suas posições adequadas no manto cerebral principalmente durante o segundo trimestre. Os primeiros neurônios pós-mitóticos produzidos no neuroepitélio germinativo migram para formar a pré-placa subpial ou zona plexiforme primitiva. Os neurônios produzidos subseqüentemente, que formam a placa cortical, migram para a préplaca, dividido-a em camada molecular superficial e a subplaca profunda. A região da subplaca alcança a espessura máxima, quando se torna 3 vezes mais espessa que a placa cortical, entre 22 e 36 semanas de idade gestacional. Ao termo, os neurônios da subplaca não são mais evidentes. Os neurônios da suplaca expressam uma variedade de neurotransmissores, neuropeptídeos e fatores de crescimento, recebem sinapses e fazem conexões com as estruturas corticais e subcorticais. Alguns dos sintomas clínicos associados com a lesão da substância branca têm sido atribuído à perda de neurônio da subplaca. Leviton e Gressens levantam a possibilidade de que os neurônios destinados a subplaca podem ser lesados em algum lugar entre a as zonas germinativas e o córtex (os neurônios migram através de campo minado perigoso da substância branca que está sendo lesada). Muitas das células apoptóticas vistas na substância branca dos cérebros com lesão na substância branca têm características de neurônios. Os estudos mostram que a perda neuronal e o deficiente guia neuronal acompanham a lesão da substância branca neonatal. Isto dá suporte ao ponto de vista de que algumas das disfunções vistas nos recém-nascidos pré-termos refletem reduzida conectividade entre áreas do cérebro necessárias para a integração da informação. Vejam a Migração dos neurônios da zona germinativa ao córtex sob condições normais (à esquerda) e sob inflamação e/ou condições excitotóxicas (à direita) Alan Leviton, Pierre Gressens Migram em um campo minado! MEMÓRIA:(há 31 anos): Hemorragia periventricular/hemorragia intraventricular no recém-nascido pré-termo Autor(es): Paulo R. Margotto • Confrontando o que escrevemos há 31 anos (época em que a sobrevivência de recém-nascidos abaixo de 1500g era insignificante no nosso meio e nem conhecíamos o ultrassom craniano), com a época atual, podemos constatar que muito do que se propunha a fazer em termos de fisiopatologia e conduta na hemorragia intraventricular do recém-nascido pré-termo, continua atual no presente momento. Entre as propostas estão a origem do sangramento, os fatores implicados, as complicações e prevenção. O objetivo que nos guiou nesta revisão de 1982 continua presente até hoje, que é a conscientização. Sempre acreditamos que sem o conhecimento, as estratégias podem ser transformar em tragédias. 1982 2013 OBRIGADO! Dr. Joaquim